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LIVRO - Vozes-da-Educação- Volume-I - Contendo artigo do Prof. Ms. Edinei Messias Alecrim Pedagogia Faculdade do Sertão (UESSBA) 321 pag. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 0 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 1 VOZES DA EDUCAÇÃO Volume I Ivanio Dickmann (organizador) Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 2 CONSELHO EDITORIAL Ivanio Dickmann - Editor Chefe - Brasil Aline Mendonça dos Santos - Brasil Fausto Franco Martinez - Espanha Jorge Alejandro Santos - Argentina Miguel Escobar Guerrero - México Carla Luciane Blum Vestena - Brasil Ivo Dickmann - Brasil José Eustáquio Romão - Brasil Enise Barth Teixeira - Brasil FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________ D553v Dickmann, Ivanio v.1 Vozes da educação, volume I / Ivanio Dickmann (org). – São Paulo: Dialogar, 2018. (Coleção Vozes da Educação, 1) 8 volumes. ISBN 9788593711138 1. Educação. 2. Metodologias da educação. 3. Teorias da educação. I. Título. CDD 370.1 ________________________________________________________ Ficha catalográfica elaborada por Karina Ramos – CRB 14/1056 EDITORA DIALOGAR dialogar.contato@gmail.com Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 3 Ivanio Dickmann [organizador] VOZES DA EDUCAÇÃO Volume I Dialogar São Paulo – SP 2018 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 4 ÍNDICE APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 7 REFLEXÕES SOBRE SOCIODIVERSIDADE, MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO A PARTIR DE GRIGNON, SANTOMÉ E SANTOS & NUNES Adan Renê Pereira da Silva, Suely Aparecida do Nascimento Mascarenhas, Valéria Augusta Cerqueira de Medeiros Weigel ............................................................... 9 A NEGAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO, SAÚDE, SEGURANÇA E LAZER, PREVISTOS NO CAPUT DO ARTIGO 227, DA CF/1988 E SEUS IMPACTOS NA PRIVAÇÃO DE LIBERDADE Adão Aparecido Xavier, Rosa Elena Bueno, Araci Assinelli da Luz ............... 24 CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: DESAFIOS, CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVAS Adelson da Cruz, Maria Romana Gonçalves Reis, Georgina Negrão Kalife Cordeiro ............................................................................................................. 40 APRENDIZAGEM ESCOLAR: CAMINHOS POSSÍVEIS PARA REVERTER O PROCESSO DE FRACASSO Adriana da Silva Lopes ................................................................................... 57 TECNOLOGIAS DIGITAIS E INOVAÇÃO NO ENSINO DE MATEMÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA A PARTIR DO PIBID/PEDAGOGIA/UECE. Alane de Morais dos Santos, Josivando Ferreira da Cruz , Ivanildo Costa dos Santos, Tainá Salmito Cruz de Lima, Tânia Serra Azul Machado Bezerra ................... 71 O NEURÓTICO E O CANALHA COMO PERSONAGENS NO MOVIMENTO ESCOLA SEM: NEGAÇÕES, GENERALIZAÇÕES E ESQUECIMENTOS? Alexandre Luiz Polizel, Moises Alves de Oliveira .............................................. 82 GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA COMO POLÍTICA PÚBLICA: CONCEITOS E LEGISLAÇÕES Aline da Silva Serpa, Oto João Petry ............................................................... 100 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 5 DANÇA COMO ÁREA DE CONHECIMENTO: DOS PCNs A SUA IMPLEMENTAÇÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL MUNICIPAL DE MANAUS Amanda da Silva Pinto .................................................................................. 116 PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA (PNAIC): O PAPEL DO PROFESSOR ALFABETIZADOR NA GARANTIA DOS DIREITOS DE APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Ana Paula da Silva Santos ............................................................................ 138 CURRÍCULO OCULTO: UMA ABORDAGEM DISCIPLINAR DO ENSINO FUNDAMENTAL II Ana Paula do Nascimento Rodrigues .............................................................. 151 EDUCAÇÃO E EQUIDADE: QUESTÕES DE GÊNERO E RAÇA Ana Quesado Sombra .................................................................................... 167 A DOCÊNCIA E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA ENQUANTO BASE TEÓRICA NA FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS Ana Sara Castaman, Mario Luiz Junges Junior .............................................. 182 AVALIAÇÃO ESCOLAR: UMA DISCUSSÃO SOBRE O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM Andréia Cadorin Schiavini, Luciana Rita Bellincanta Salvi, Marilane Maria Wolff Paim ............................................................................................................ 199 DA ALFABETIZAÇÃO AO LETRAMENTO AMBIENTAL: UM CAMINHO POSSÍVEL? Andressa Queiroz Souza ................................................................................ 217 DA LEI DA LIBRAS À PRÁTICA: DIREITOS DOS SURDOS E DEFICIENTES AUDITIVOS NO ENSINO EDUCACIONAL – UMA PROPOSTA EFICAZ DE INCLUSÃO Antônio Eugenio Ramos da Silva, Francisca Mayra da Silva Pereira, Francisca Gizeli Santos da Silva .................................................................................... 231 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 6 TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: CONCEITOS NEUROBIOLÓGICOS E POSSÍVEIS MANEJOS EM SALA DE AULA PARA DESENVOLVER A APRENDIZAGEM Ariana Barbosa Viana .................................................................................. 248 FORMAÇÃO DO (A) PROFESOR (A) PARA USO DA TECNOLOGIA DIGITAL NUMA PERSPECTIVA CURRICULAR MULTIRREFERENCIAL NA CONTEMPORANEIDADE Gelton Santos da Cruz, Jonilson Lima da Silva Albino, Naiara Santana Souza ..................................................................................................................... 271 SER PROFESSOR, PARA IR ALÉM DO QUE ESTÁ POSTO Edinei Messias Alecrim ................................................................................. 285 LITERATURA INFANTIL NO COMBATE AO BULLYING ESCOLAR: UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL I – SÉRIES INICIAIS Eduardo Dias da Silva .................................................................................. 299 PROMETEMOS NÃO CHORAR: A INTERTEXTUALIDADE APRESENTADA NA LINGUAGEM TEATRAL Wellington Costa da Cruz .............................................................................. 309 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 7 APRESENTAÇÃO Dar voz a educadores e educadoras de todo o Brasil que se dedicam a produzir reflexões sobre seus espaços pedagógicos, sejam eles formais ou informais: este é o objetivo desta coleção de livros que acolhe a escrita dehomens e mulheres comprometidos e comprometidas com a educação. Uma coletânea que abre espaço para quem escreve materializar e compartilhar seus saberes. Nossa editora tem como missão criar um caminho para este grupo de pesquisadores e estudantes que fazem o esforço de colocar em palavras suas análises sobre os mais diversos campos da educação e desejam dialogar com seus leitores e leitoras sobre suas palavras. Suas palavras que estão abertas a crítica para avançar, que querem contribuir para uma visão madura dos espaços educativos, dos métodos pedagógicos e, assim, construir uma comunidade que debate dia a dia o fazer dos educadores e educadoras. Quando iniciamos a mobilização para esta coletânea imaginávamos que iríamos receber alguns textos, e que, da união deles faríamos um livro para compartilhar. Para nossa surpresa a adesão dos interessados foi tanta que resultaram oito livros e isso demonstrou como ainda faltam espaços acessíveis para a publicação da produção acadêmica no nosso país. Esperamos que nossos livros sejam uma luz para mais pessoas produzirem seus textos e imprimirem de forma coletiva suas obras. Recebemos textos de todas as regiões do Brasil. Então, o que você tem nas mãos reflete também a diversidade cultural e regional do nosso amado país e as lutas dos educadores e educadoras para transformar e dinamizar os espaços pedagógicos de norte a sul, de leste a oeste. E isso enriquece esta coletânea, pois, pluralizamos as visões da forma de educar em diferentes culturas e em diferentes condições sociais e econômicas. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 8 Temos textos sobre a educação indígena, educação em sala de aula, fora da sala de aula, enfim, uma pluralidade que pode ajudar a dar uma nova dinâmica no jeito de educar de cada um que tiver contato com estes artigos que compõe estes livros. É importante ressaltar que a educação tem esta multiplicidade de lugares, de jeitos e, de certa forma, nossa coleção contempla este elemento. Oxalá possamos exercitar os ensinamentos compartilhados e tornar mais dinâmicos nossos espaços pedagógicos. A distribuição gratuita dos e-books desta coletânea visa dar visibilidade a cada autor e autora destes artigos e, também, disseminar o conhecimento partilhado em cada obra. A autoridade de cada escritor e escritora aumenta a cada publicação e, desta forma, nossa editora se sente orgulhosa de contribuir com a melhoria contínua dos currículos de cada uma e cada um dos participantes destes livros que preparamos com tanto cuidado e carinho para que seja utilizado em seleções de Mestrado e Doutorado, na participação em eventos ou, até mesmo, em seleções de trabalho. Um livro faz a diferença! A cópia impressa desta coletânea pode ser adquirida junto a nossa editora e com os autores e autoras. Para mais informações sobre como adquirir seu exemplar impresso de um dos livros ou de toda a coleção basta entrar em contato conosco através dos telefones e e-mails na orelha deste livro. Bem-vindos e bem-vindas a coletânea VOZES DA EDUCAÇÃO! Desejamos a todos e todas bons estudos e boa leitura! Com carinho. Ivanio Dickmann Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 9 REFLEXÕES SOBRE SOCIODIVERSIDADE, MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO A PARTIR DE GRIGNON, SANTOMÉ E SANTOS & NUNES Adan Renê Pereira da Silva1 Suely Aparecida do Nascimento Mascarenhas2 Valéria Augusta Cerqueira de Medeiros Weigel3 RESUMO O capítulo trata de discutir relações entre sociodiversidade, multiculturalismo e educação a partir de três fundamentações - Grignon, Santomé, Santos & Nunes -, com ênfase nas contribuições para formação e trabalho docente, objetivo da linha de pesquisa “Formação e Práxis do Educador”, a que estão vinculados os pesquisadores, objetivando-se articulá-los ao contexto amazônico pela práxis. Pode-se dizer que os autores contribuíram para repensar a educação local, por intermédio de uma reflexão teórico-prática articulada ao contexto supracitado. Palavras-chave:Educação; Sociodiversidade; Multiculturalismo; Amazônia. ABSTRACT The chapter tries to discuss relations between sociodiversity, multiculturalism and education from three foundations - Grignon, Santomé, Santos & Nunes -, with emphasis on contributions to training and teaching work, the objective of the research line "Educator Training and Praxis", to which researchers are linked, aiming to articulate them to the Amazonian context by praxis. It can be said that the authors contributed to rethinking local education, through a theoretical-practical reflection articulated to the aforementioned context. Keywords: Education; Sociodiversity; Multiculturalism; Amazon. 1Psicólogo. Mestre em Psicologia. Doutorando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas. 2Graduada em Pedagogia - Supervisão escolar e magistério; Doutora em Diagnóstico e avaliação educativa- psicopedagogia. Pós-doutora; Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas. 3Possui graduação em Letras e Artes, mestre em Educação e doutora em Ciências Sociais (Antropologia); Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 10 A presente discussão foi escrita a partir das reflexões geradas por uma disciplina do doutorado4 acerca de possíveis debates em torno do eixo “sociodiversidade, multiculturalismo e educação”, no que tange ao auxílio da formação e trabalho docente. Trata-se de uma produção de caráter bibliográfico, de natureza propedêutica, em que se intenta investigar as contribuições de autores que trataram desse tema, quais sejam, Grignon, Santomé e Santos & Nunes. Assim, focalizam-se aqui as contribuições dos autores em uma perspectiva macro, para, a partir de um trabalho de práxis, aplicá-las ao contexto amazônico. Enfatizando pontos diferentes e que, ao mesmo tempo dialogam, os autores ajudam-nos a pensar algumas das principais questões que permeiam a questão educativa no atual contexto capitalista. Minorias, conceitos, formato da escola em uma leitura crítica, termos que necessitam ser “repisados”, porque sempre moldando-se aos diferentes contextos históricos em que se apresentam e em diferentes ideologias. É necessário um processo dialógico e dialético entre os diferentes atores que encenam a prática: professores, alunos, família e comunidade. Nesse sentido, além de atual, a temática pode ser repensada a partir das propostas desses eminentes autores. Dessarte, o estudo aqui empreendido objetiva pensar as contribuições desses autores para repensarmos práticas, valores e objetivos educativos, com foco na formação e práxis do educador. Para tanto, propõe-se dois movimentos: um primeiro, em que se apresenta um panorama do pensamento dos autores em conformidade com os textos analisados e, um segundo, onde se apresenta uma reflexão desses pensamentos no recorte amazônico. Grignon, Santomé e Boaventura & Santos e a sociodiversidade, o multiculturalismo e a educação Iniciamos nosso trajeto com Grignon (1995), em capítulo intitulado “Cultura dominante, cultura escolar e multiculturalismo popular”. Contrapondo cultura popular à cultura dominante, o autor salienta que a diversidade é uma das características essenciais das culturas4A disciplina em questão denomina-se Educação, Culturas e Desafios Amazônicos, ministrada pela professora Valéria Augusta Cerqueira de Medeiros Weigel, do Programa de Doutorado em Educação da Universidade Federal do Amazonas. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 11 populares. Porém, com casos particulares oferecendo contraexemplos, a diversidade tende a ficar escamoteada, sendo uma realidade histórica. Entretanto, a escola acaba por reduzir, em parte, essa diversidade, mas não o suficiente para apagá-la dentro do ambiente escolar. Para defender esse pensamento, o autor recorre a Max Weber, clássico da sociologia, para quem as culturas dominantes se caracterizam, na realidade, por uma tendência profunda à uniformização da vida, que em nossos dias se manifestaria através do interesse do capitalismo pela padronização da produção. Percebe-se o interesse ideológico da referida “cultura dominante” em manter seu status quo no ambiente escolar. Oferecendo um quadro comparativo entre culturas populares e culturas dominantes, Grignon nos mostra a discrepância entre elas e a opção feita pela escola: conduzir ao monoculturalismo, contribuindo diretamente para o reforço das características uniformes e uniformizantes da cultura dominante e ao enfraquecimento correlativo dos princípios de diversificação das culturas populares. Para ratificar seu pensamento, apresentam-se dois argumentos para pensarmos a escola como o local que: 1. Populariza o escrito e consagra sua supremacia sobre as culturas locais; 2. Ensina a leitura e as letras inseparavelmente da imposição de regras em matéria de gramática, de léxico, de ortografia, de pronúncia, de estilo, a partir de uma perspectiva legitimista (ou seja, “esse é o modo certo”); Assim, a escolarização obrigatória no âmbito do ensino primário tem sido, conforme o autor, o principal agente da imposição da língua nacional e do desaparecimento das línguas regionais e dos dialetos locais. Também o ensino elementar do cálculo, da matemática, das ciências e das técnicas faz, sem dúvida, parte dos instrumentos privilegiados da função de integração lógica desempenhada pela escola; tais instrumentos acabam por levar a uma interiorização da ideia de superioridades dos saberes gerais/universais sobre os particulares, da teoria sobre a cultura prática, do pensamento abstrato sobre a experiência concreta. A própria noção do tempo é vista como a comum às elites, através de seus horários estritos, de sanções que penalizam os alunos Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 12 irregulares (atrasados, ausentes). Isso tudo nos leva a pensar a redução da autonomia das culturas populares e na conversão da cultura dominante em referência, em cultura padrão. Para o autor, a questão estaria em saber em que medida se pode contrariar essa tendência espontânea e reconverter a escola, se não ao multiculturalismo, ao menos ao relativismo cultural. Esse projeto seria obstaculizado por excelência, apresentando contradições e riscos de desvio que comprometeriam sua realização e sobre os quais Grignon passa a debruçar-se. Refletindo sobre a autonomia intelectual das classes dominadas enquanto nicho de convivialidade ou gueto, o autor percebe que as culturas populares têm autonomia simbólica, isto é, capacidade para engendrar seus próprios sistemas de significações. Entretanto, para aqueles que provêm das classes dominadas, a diversidade é, com frequência, o que Grignon chama de “handicap”, uma deficiência. Sua experiência, seus saberes, sua “cultura” têm uma amplitude limitada, um valor local; não são reconhecidos ou o são em pequena medida fora de seu meio social profissional e geográfico de origem. Assim, parafraseando Richard Hoggart, Grignon conclui que nicho de convivialidade, nesse contexto, seria também um gueto. Além disso, nas relações entre cultura culta e cultura dominante, haveria outra ambivalência. Essa ambivalência será evidenciada a partir de algumas reflexões e contrapontos, como a da sociologia crítica que tem como uma de suas principais conquistas no campo da educação ter mostrado que a transmissão dos saberes não se realiza nunca em estado bruto, de forma independente daquilo ao qual estes atos estão associados, do que veiculam, do que se passa na forma como são transmitidos e o contexto em que se dá tal transmissão. Há um conteúdo explícito (como no caso das línguas) e um conteúdo implícito (como no caso dos chamados saberes técnicos e científicos). No caso dessas últimas, há uma aculturação lógica acompanhada da interiorização das hierarquias escolares, das hierarquias intelectuais e das hierarquias sociais, a aprendizagem da matemática, da física ou do desenho industrial é inseparável da hierarquia escolar, dos níveis de ensino, das disciplinas, dos títulos e das aptidões intelectuais. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 13 Para o autor, é preciso trabalhar para ressaltar e reforçar as especificidades, a autonomia da cultura em relação à ideologia e à cultura dominante. Sua proposta é de que “a cultura culta poderia possivelmente, então, ser apropriada pelas crianças procedentes das classes dominadas sem que essa apropriação as exigisse ou implicasse delas, automaticamente, uma ruptura com sua cultura de origem e uma conversão à cultura dominante” (p. 186). Como conclusão, deve-se perceber a necessidade de uma pedagogia relativista, sem incorrer nos desvios populistas. É necessário admitir e reconhecer o multiculturalismo, isto é, a existência de culturas diferentes da cultura culta, legítima ou dominante. Isso porque, ao negar as culturas populares, a chamada “escola meritocrática-legalista” se mostra exigente e injusta para com as crianças oriundas das classes populares, desclassifica-as e não as compreende. Há etnocentrismo dentro da escola, conduzindo ao fracasso escolar as crianças oriundas das classes dominadas. No que tange ao perigo do desvio populista, este ameaça as pedagogias relativistas, porquanto, sob o pretexto de reconhecer a alteridade cultural, o direito à diferença das crianças provenientes das classes populares e das “minorias”, esquece-se ou nega a existência da hierarquia social (e da hierarquia escolar) existente entre as culturas, o que leva a certo utopismo. Uma pedagogia populista também corre o risco de encerrar as crianças provenientes das classes dominadas em sua classe de origem, em sua “identidade”, em suas “raízes”, e negar-lhes o acesso à cultura culta, à cultura teórica, aos saberes de alcance geral e universal. O autor acautela-nos de que acondicionar nichos culturais de convivialidade separados, os quais têm muita possibilidade de desempenhar uma função de gueto, pode ser uma maneira de segregar e excluir as novas “classes perigosas” da sociedade e da civilização. Por sua vez, Santomé (1995), analisando o contexto escolar, diz- nos que uma das finalidades fundamentais de toda intervenção curricular é preparar os alunos para serem cidadãos críticos e ativos, membros solidários e democráticos de uma sociedade solidária e democrática. Uma meta desse tipo exige, para o autor, que a seleção dos conteúdos do currículo, os recursos e as experiências cotidianas do ensino e da Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 14 aprendizagem que caracterizam a vida nas salas de aula,as formas de avaliação e os modelos organizativos promovam a construção dos conhecimentos, destrezas, atitudes, normas e valores necessários para ser bom cidadão. Os alunos devem ter capacidade de participar das ações da sociedade, por meio de um pensamento crítico. Assim, o planejamento do currículo deveria passar longe do modelo fordista, deixando de ser acumulativo, bancário, de conteúdos para serem adquiridos pelos estudantes, como se esses fossem gravadores de som. Afinal, no trabalho de formação de pessoas críticas, ativas e solidárias e de ajuda na reconstrução da realidade, é imprescindível prestar uma atenção prioritária aos conteúdos culturais, assim como, naturalmente, às estratégias de ensino e aprendizagem e avaliação para levar a cabo tal missão. Entretanto, alguns pontos merecem maior atenção para o autor. Um deles é o de que o professorado atual é fruto de modelos de socialização profissional que não considerava objeto de sua incumbência a seleção explícita de conteúdos culturais, dando seu papel aos livros didáticos. Também deve ser um ponto de atenção as vozes ausentes na seleção da cultura escolar: há uma arrasadora presença das culturas chamadas de hegemônicas nas propostas curriculares, sendo as demais silenciadas. Entre as culturas ausentes, o autor destaca: as culturas da nação do Estado espanhol, as culturas infantis, juvenis e de terceira idade, as etnias minoritárias ou sem poder, o mundo feminino, as sexualidades lésbica e homossexual, a classe trabalhadora e mundo das pessoas pobres, o mundo rural e litorâneo, as pessoas com deficiências físicas e/ou psíquicas e as vozes do Terceiro Mundo. O autor discorre sobre algumas delas: As culturas das nações do Estado espanhol: ligado ao período ditatorial com o intuito de “reconstruir” o conceito de nação espanhola acabou trazendo posturas racistas, por negar o espaço onde se forja a identidade social dos diferentes grupos humanos; As culturas infantis, juvenis e da terceira idade: o adultocentrismo da cultura leva a uma ignorância realmente grande acerca do mundo Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 15 idiossincrático da infância e da juventude. A adoção da filosofia da “infância ingênua” silencia outras mais reais; As etnias minoritárias ou sem poder: é necessário refletir sobre o verdadeiro significado das diferentes culturas das raças ou etnias, sendo esta uma das principais lacunas que ainda existem. As crenças etnocêntricas são reproduzidas durante a socialização das crianças, sob o pretenso manto de uma postura neutra do educador; No que tange ao mundo feminino, a presença, embora com avanços significativos, deve prosseguir de maneira especial se tivermos presente que está ocorrendo uma forte “remasculinização” da sociedade, para o autor. Isso traz estigmas femininos, como a mulher romantizada em busca de um homem de determinadas obras. O sistema educacional deveria contribuir para situar a mulher no mundo, o que implicaria redescobrir sua História e recuperar sua voz perdida. Como respostas curriculares diante da diversidade e da marginalização, o autor diz-nos que a contraproposta seria a de um currículo que todos os dias do ano letivo, em todas as tarefas acadêmicas e em todos os recursos didáticos, torne presentes as culturas silenciadas aqui expostas. O que ocorre é que geralmente essas culturas passam a ser “contempladas”, caindo-se no que o autor chama de “currículo turístico”. Para efetivar o explicado, geralmente a “contemplação” dá-se mediante as seguintes estratégias: 1. Trivialização: estudo feito sobre tais culturas com grande superficialidade/banalidade; 2. Souvenir: apresentação das culturas silenciadas por meio de uma viagem turística, exótica, com presença quantitativa inexpressiva; 3. Desconexão: desconectam-se tais culturas de situações diversas no cotidiano das salas de aula; 4. Estereotipagem: apresentam-se imagens estereotipadas das pessoas e situações pertencentes a esses coletivos diferentes; 5. Tergiversação: aparece como estratégia de deformar e/ou ocultar a história e as origens dessas comunidades objeto de marginalização e/ou xenofobia (uma das estratégias para obter a tergiversação é a chamada psicologização dos problemas raciais e sociais, ou seja, ao invés de uma análise da conjuntura social e histórica, as Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 16 explicações recaem em comportamentos individuais, explicados por uma subjetivação dos problemas). Para o autor, essas modalidades de currículo turístico reproduzem a marginalização e negam a existência de outras culturas. Hoje são numerosas as pessoas que deixaram de ver as instituições escolares como lugares para compensar a desigualdade, que perdem sua confiança nas possibilidades da educação como instrumento de democratização. As mulheres, as minorias étnicas, os grupos de lésbicas e gays, a juventude denunciam constantemente como sua realidade continua sendo negada e/ou desvirtuada. Portanto, é preciso construir de maneira coletiva, com a participação de toda a comunidade educacional e, claro, dos grupos sociais desfavorecidos e marginalizados, por meio de uma pedagogia crítica e libertadora. As instituições escolares são lugares de luta e a pedagogia pode e tem que ser uma forma de luta político-cultural. As escolas como instituições de socialização têm como missão expandir as capacidades humanas, favorecer análises e processos de reflexão em comum da realidade, desenvolver nas alunas e nos alunos os procedimentos e destrezas imprescindíveis para sua atuação responsável, crítica, democrática e solidária na sociedade. A educação obrigatória deve recuperar uma de suas razões centrais: a de ser um espaço onde as novas gerações se capacitem para adquirir e analisar criticamente o legado cultural da sociedade. As salas de aula não podem continuar sendo um lugar para a memorização de informações descontextualizada. É preciso que o alunado possa compreender bem quais são as diferentes concepções do mundo que se ocultam sob cada uma delas e os principais problemas da sociedade a que pertencem. É preciso, concluindo com o autor, chegar a níveis maiores de reflexão em torno dos pressupostos das normas e dos procedimentos que subjazem às práticas e conteúdos escolares. Finalmente, Santos & Nunes (2003), em “Para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade”, apresentam-nos termos como multiculturalismo, justiça multicultural, direitos coletivos e cidadanias plurais no contexto de jogo com as tensões entre a diferença e Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 17 a igualdade, entre a exigência de reconhecimento da diferença e de redistribuição que permita a realização da igualdade. Para tanto, recorrem a uma “sociologia das ausências”, capaz de identificar os silêncios e as ignorâncias que definem as incompletudes das culturas, das experiências e dos saberes e de uma “teoria da tradução”, que permita criar inteligibilidades mútuas e articular diferenças e equivalências entre experiências, culturas, formas de opressão e de resistência. Os autores começam apresentando um conceito mais clássico do multiculturalismo: a coexistência de formas culturais ou de grupos caracterizados por culturas diferentes no seio de sociedades “modernas”. Há muitos sentidos para o termo. Ele é descrição (múltiplas culturas coexistindo e que se interfluenciam) e um projeto (um deles no sentido emancipatório) e desemboca em uma série dereflexões e críticas. Essas reflexões e críticas nos ensinam que a expressão pode continuar a ser associada a conteúdos e projetos emancipatórios e contra- hegemônicos ou a modos de regulação das diferenças no quadro do exercício da hegemonia nos Estados-nação ou em escala global. As versões emancipatórias do multiculturalismo baseiam-se no reconhecimento da diferença e do direito à diferença e da coexistência ou construção de uma vida em comum além das diferenças de vários tipos. Os autores visam debater a ideia de uma cidadania cosmopolita baseada no reconhecimento da diferença e na criação de políticas sociais voltadas para a redução das desigualdades, à redistribuição de recursos e à inclusão. Assim, entra-se no sentido de projeto emancipatório proposto pelos autores para o multiculturalismo. Torna-se importante identificar configurações históricas particulares em cada contexto, que podem não necessariamente obedecer a diferenciações clássicas, mas apresentar outras formas de diferenciação associadas a modos de dominação e resistências específicos. É o reconhecimento dessa diversidade que permite a emergência de novos espaços de resistência e de luta e de novas políticas públicas. Os processos culturais são constitutivos de dinâmicas que, implícita ou explicitamente, redefinem formas de poder social. Desta forma, o processo contribui para a transformação das culturas políticas e das definições daquilo que, em um dado contexto, conta como “político”. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 18 Assim, são concebíveis propostas de “política multicultural”. Elas abrangem o conjunto de iniciativas e formas de mobilização e de luta que ocupam o espaço “entre a resistência e a mobilização”. Tanto a sociologia das ausências quanto a teoria da tradução são recursos essenciais para evitar que a reconstrução de discursos e práticas emancipatórias caia na armadilha de reproduzir, de forma ampliada, concepções e preocupações eurocêntricas, abarcando a ideia de “cidadania multicultural” como espaço privilegiado de luta pela articulação e potencialização mútuas do reconhecimento e da redistribuição. Outro ponto de destaque debatido pelos autores é sobre as cinco teses acerca do multiculturalismo emancipatório e escalas de luta contra a dominação. Para eles, os estudos de caso reunidos na obra em análise permitiram contribuir para mais discussões, a partir do conjunto dessas cinco teses. São elas: 1. Diferentes coletivos humanos produzem formas diversas de ver e dividir o mundo, que não obedecem necessariamente às diferenciações eurocêntricas; 2. Diferentes formas de opressão ou de dominação geram formas de resistência, de mobilização, de subjetividade e de identidades coletivas também distintas, que invocam noções de justiça diferentes. Nessas resistências e em suas articulações locais/globais reside o impulso da globalização contra-hegemônica; 3. A incompletude das culturas e das concepções da dignidade humana, do direito e da justiça exige o desenvolvimento de formas de diálogo que promovam a ampliação dos círculos de reciprocidade; 4. As políticas emancipatórias e a invenção de novas cidadanias jogam-se no terreno da tensão entre igualdade e diferença, entre a exigência de reconhecimento e o imperativo de redistribuição; 5. O sucesso das lutas emancipatórias depende das alianças que os seus protagonistas são capazes de forjar. No início do século XXI, essas alianças têm de percorrer uma multiplicidade de escalas locais, nacionais e globais e têm de abranger movimentos e lutas contra diferentes formas de opressão. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 19 Aplicabilidade teórica em contexto amazônico: um exercício de práxis. Entendendo-se práxis em um sentido marxista, como prática refletida, no sentido de alteração da natureza por meio da conduta e enquanto repensar da teoria, pretende-se tecer algumas implicações práticas do acima discutido no com foco no espaço amazônico. O viés principal para traçar esse percurso é o multiculturalismo, uma vez que esse conceito destaca-se no contexto amazônico, onde se consegue perceber grande miscigenação étnica e cultural e as decorrências de tal miscigenação, além de minorias (enquanto conceito sociológico), presentes na região e também invisibilizadas. Assim, concordando com Grignon (1995), percebe-se a sobreposição da cultura dominante sobre a cultura popular. Falta muito para o currículo escolar abranger questões pertinentes de nossa realidade, como as especificidades das populações ribeirinhas, dos caboclos, dos indígenas, dos quilombolas, das relações entre local e global e da diversidade sexual. Também na realidade amazônica a escola continua conduzindo ao monoculturalismo, para o reforço das características uniformes e uniformizantes da cultura dominante e ao enfraquecimento correlativo dos princípios de diversificação das culturas populares. Recentemente sancionada na Câmara Municipal de Manaus, o debate sobre gênero foi proibido nas escolas municipais, com direito a postagem do vereador, orgulhando-se de ser pai de família e reduzindo a questão de gênero a meros cromossomos. Também o uso de livros didáticos que generalizam o conhecimento e a busca por preparar os alunos para grandes exames nacionais como o ENEM tornam o conhecimento generalista e acrítico. Os livros de educação infantil trazem figuras de leões, zebras, pinheiros, por exemplo, para explicar fauna e flora, animais que crianças amazônidas pouco têm contato, a não ser pela mídia. Faltam o boto, a onça-pintada, faltam nossos mitos e lendas, do Mapinguari, do Curupira, para falarmos a partir de nossas realidades sobre produção de conhecimento. Também concordamos com Grignon (1995) quando se diz que o ensino do cálculo, da matemática, da leitura, das letras encontram-se em uma “perspectiva legitimista”, sendo apenas reproduzidos a partir de sua internalização acrítica. Torna-se complicado formar cidadãos para pensar Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 20 democraticamente em uma sociedade também democrática, já que não há troca de idéias: como também salientado pelo autor, o que deveria se tornar um nicho de convivialidade torna-se gueto. Forçoso concluir a necessidade da citada “pedagogia relativista” proposta pelo teórico, já que imprescindível reconhecer o multiculturalismo, a existência de culturas diferentes da cultura culta, legítima ou dominante. A escola, enquanto arena também política, precisa ser inclusiva. Afinal, concordando com Santomé (1995), os alunos devem ter capacidade de participar da sociedade, por meio de um pensamento crítico. Como fazê-lo a partir da invisibilização e/ou negação de quilombolas, dos ribeirinhos, dos indígenas, da diversidade sexual que também constituem nossa realidade local? Santomé (1995) também nos aponta possíveis entraves nesse percurso inclusivo. O que mais chama a atenção é exatamente o fato de vivenciarmos o modelo fordista dentro da escola: o conhecimento torna- se acumulativo, bancário, de conteúdos para serem adquiridos pelos estudantes, como gravadores de som. Assim, não há tempo para pensar conteúdos culturais, porque os estudantes, dentro dessa acriticidade, percebem na escola apenas essa função e nem notam a necessidade de formar/pensar dialeticamente a realidade circundante. Ainda seguindo Santomé, poderíamos atualizar sua lista de culturas negadas e silenciadas. No contexto local, faltam discussões sobre culturabrasileira e, principalmente, cultura amazônica, também as culturas infantis, juvenis e da terceira idade são julgadas a partir da ótica “adultocêntrica”, as etnias minoritárias ou sem poder seguem estigmatizadas, em nosso caso, índios, quilombolas, caboclos e comunidade LGBT. Índios continuam sendo julgados como “preguiçosos” e, no Amazonas, ser chamado assim é considerado ofensa para muitas pessoas, quilombolas são negados, mesmo tendo havido fenômenos históricos como a Cabanagem que evidenciaram o protagonismo negro na realidade amazônica e havendo presença desse grupo em todo o estado, caboclos são ligados ao matuto, a um estilo de vida pejorativo de quem não alcançou o saber e a comunidade LGBT continua sendo marginalizada, por ter sua existência negada no ambiente escolar. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 21 O mundo feminino, a classe trabalhadora e o mundo das pessoas pobres, o mundo fora da cidade, as pessoas com deficiências físicas e/ou problemas psíquicos seguem a marcha atual: todos sofrem posturas de silenciamento. E, assim como trabalha teoricamente o autor, pode-se perceber que a trivialização, o souvenir, o desconectar, a estereotipagem e a tergiversação seguem, de mãos dadas e imbricadamente, trabalhando para a morte simbólica (e real, muitas vezes) do “diferente”. Precisamos entender a conclusão de Santomé e executá-la: a educação obrigatória tem que recuperar uma de suas razões de ser – um espaço onde as novas gerações se capacitem para adquirir e analisar criticamente o legado cultural da sociedade. As salas de aula não podem continuar sendo locais de informações fora de contexto. O alunado precisa saber bem quais são as diferentes concepções do mundo que se ocultam sob cada uma delas e os principais problemas da sociedade a que pertencem. É preciso também, acompanhando agora Santos & Nunes (2003), pensar termos como “multiculturalismo”, “direitos coletivos”, “cidadanias plurais” como um jogo com as tensões entre a diferença e a igualdade, entre a exigência de reconhecimento da diferença e de redistribuição que permita a realização da igualdade. Pensar multiculturalismo enquanto projeto emancipatório é uma das saídas que temos para conquistar a equidade, um campo material de relações sociais mais isonômicas, efetivando o projeto de sociedade democrática previsto legalmente. As cinco teses sobre multiculturalismo trabalhadas pelos autores ajudam a pensar a tensão existente entre o local amazônico e o global capitalista, oferecendo-nos instrumentos para trabalhar a realidade longe da ideológica ideia de “neutralidade”, conforme, especialmente, a quarta tese, a qual nos relata que as políticas emancipatórias e a invenção de novas cidadanias jogam-se no terreno da tensão entre igualdade e diferença, entre a exigência de reconhecimento e o imperativo da redistribuição. Considerações finais Este texto propôs-se refletir sobre sociodiversidade, multiculturalismo e educação com foco em trabalhos de Grignos, Santomé Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 22 e Santos & Nunes, com ênfase nas contribuições para formação e trabalho docente, objetivo da linha de pesquisa “Formação e Práxis do Educador”, a que estão vinculados os pesquisadores. Objetivou-se articular a discussão ao contexto amazônico por intermédio do exercício da práxis. Após a leitura e exposição aqui empreendidas, percebeu-se que só houve possibilidade de exercitar a práxis por nos propormos seguir a postura de criticidade trazida à tona pelos autores de referência, além da própria vivência no contexto amazônico, no modo como a educação é efetivada e ofertada ao alunado. A partir do objetivo inicial pensado, notou-se que a prática educativa no contexto amazônico precisa ser repensada a partir de uma leitura aprofundada de nossa realidade. Ao reproduzir exclusão, invisibilização do “diferente”, estigmatiza-se esse “diferente” ainda mais, retirando-o do ambiente escolar, simbólica e/ou fisicamente. A escola precisa ser reconhecida enquanto arena política, de múltiplas vozes, saindo do modelo fordista e adquirindo, verdadeiramente, uma pedagogia crítica, bastante apregoada e pouco vivida. Dessarte, os termos discutidos – multiculturalismo, sociodiversidade e educação – levaram-nos a ressignificar como estão ligados e quais as consequências de tal ligação, principalmente a partir do aprofundamento teórico dos autores. Ficou patente a necessidade de sairmos apenas do campo conceitual do multiculturalismo e efetivá-lo enquanto projeto emancipatório, também patente ficou a necessidade de evidenciarmos a sociodiversidade para dar a ela vez e voz e reconheceu-se o campo educativo como lócus privilegiado para esse debate/prática, tendo em vista que a escola deve ser compreendida em seu papel de agente socializador. O acima relatado é um desafio, especialmente quando se pensa na incipiência dessa discussão no contexto amazônico aqui afunilado. É preciso sair apenas do discurso da necessidade de envolvimento de estudantes, professores, família e comunidade. Essa questão parece ser “chão repisado”. É necessário dar os primeiros passos em busca da efetividade do discurso. Por fim, concluiu-se que o objetivo proposto neste capítulo foi alcançado, mas deixa-se a sugestão, para futuras pesquisas, de maior aprofundamento nas discussões, para que outras realidades também Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 23 possam ser contextualizadas e pesquisas empíricas sejam realizadas nas inúmeras instituições de ensino espalhadas pelo país, em suas diferentes regiões, com suas especificidades culturais, para que haja maior conexão entre teoria e prática de uma perspectiva crítica e problematizadora. Referências Bibliográficas GRIGNON, C. Cultura dominante, cultura escolar e multiculturalismo popular. In: SILVA, T. T. da (Org.). Alienígenas em sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. SANTOMÉ, J.T. As culturas negadas e silenciadas no currículo. In: SILVA, T. T. da (Org.). Alienígenas em sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. SANTOS, B. de S; NUNES, J. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade. In: SANTOS, Boaventura de S (Org.). Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 24 A NEGAÇÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO, SAÚDE, SEGURANÇA E LAZER, PREVISTOS NO CAPUT DO ARTIGO 227, DA CF/1988 E SEUS IMPACTOS NA PRIVAÇÃO DE LIBERDADE. Adão Aparecido Xavier.5 Rosa Elena Bueno6 Araci Assinelli da Luz7 Dedicado a todos/as que lutam a favor da vida e liberdade dos nossos/as alunos/as das periferias. RESUMO Este artigo busca promover reflexões sobre em que me medida o não cumprimento do Caput do artigo 227, da CF/1988 afeta a construção histórica, sociocultural e afetiva dos sujeitos que cumprem penas de privação de liberdade, em uma delegacia situada na Região Metropolitana de Curitiba. Para tanto, foi elaborado um questionário, contendo algumas questões, dentre estas, referentes a artigos infringidos, locais onde moravam antes da prisão, se havia área de lazer nas proximidades do local de residência, como ocorreuo processo de escolarização, renda per capta familiar, qualidade das interações entre os entes parentais. Após investigações, é possível inferir que o projeto de educação em período integral, o direito à convivência familiar, à moradia, lazer, alimentação, saúde, higiene e educação básica, creche em período integral, conjugados, estes componentes refletem na redução de atos infracionais. Em se tratando das experiências na educação formal, propõe-se que os profissionais da educação e demais áreas atuantes na formação humana, aprofundem o debate sobre violação de direitos e as implicações no desenvolvimento do organismo individual e social. Palavras chave: Art. 227 CF/1988; Violações e Violências; Educação e Constructo Humano; Privação de Liberdade. 5Adão Aparecido Xavier é formado em Filosofia, especialista em Filosofia Política (UFPR); mestre em Educação Profissional (UFPR). Professor PDE 2008.SEED. Atualmente é diretor Col. Est. Helena Kolody – JD Monza – Colombo /PR. adaoaxavier@gmail.com 6Doutoranda em Cognição e Aprendizagem pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Paraná, Brasil. É professora de Língua Portuguesa e Inglês na rede pública do Estado do Paraná, no Colégio Estadual Helena Kolody, JD Monza – Colombo/PR. E- mail: rosaelbueno@yahoo.com.br 7 Doutora em Educação, mestra em educação, Graduada em História natural, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (acadêmico e Profissional) da Universidade Federal do Paraná. Membro do NEPS, NIED e NEAS da UFPR. Vice coordenadora da Linha Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. araciasinelli@hotmail.com Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) mailto:adaoaxavier@gmial.com mailto:rosaelbueno@yahoo.com.br https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 25 ABSTRACT This article seeks to promote reflections on the extent to which the non- compliance with the Caput of article 227 of CF / 1988 affects the historical, sociocultural and affective construction of the subjects who are serving prison sentences at a police station located in the Metropolitan Region of Curitiba . For this purpose, a questionnaire was prepared, containing some questions, among them, concerning articles that were infringed, places where they lived before the arrest, whether there was a leisure area near the place of residence, such as the schooling process, per capita family income , quality of interactions among parental entities. After investigations, it is possible to infer that the project of full- time education, the right to family coexistence, housing, leisure, food, health, hygiene and basic education, full-time nursery, conjugated, these components reflect in the reduction of infractions . In the case of experiences in formal education, it is proposed that educational professionals and other areas active in human formation, deepen the debate about violation of rights and implications in the development of individual and social organism. Keywords: Art. 227 CF / 1988; Violations and Violations; Education and Human Construct; Deprivation of Liberty. Introdução Como pode ser verificado em reuniões pedagógicas, cursos de formação continuada, realizados nas escolas da rede de educação básica, há uma necessidade de aprofundar-se o debate a respeito das legislações que norteiam o trabalho educativo. É perceptível a carência de fundamentos da educação, especialmente quando se percebe equívocos epistemológicos básicos, com relação ao significado de indisciplina e ao que se configuraria ato infracional. É comum relato de professores, pedagogos e diretores, quando expressam uma certa indecisão sobre o que fazer quando ocorrem conflitos cotidianos no chão da escola. Desde agressões verbais, gestuais, a ameaças de agressões físicas, e até mesmo à concretização destas, fica nítida a falta de subsídios teóricos, metodológicos que instrumentalizem-nos para uma prática assertiva e efetiva, na qual se respeite os direitos fundamentais à educação de qualidade, enquanto possibilidade de transformação da sociedade que todos e todas queremos. A forma como a situação conflituosa pode ser abordada é de crucial importância para que a repercussão do encaminhamento orientado pela equipe de profissionais da educação seja avassaladora ou acolhedora. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 26 Como produto das ações engendradas, pode-se contribuir para que se torne o conflito em mais um ponto de partida rumo à uma prática significativamente educativa e pacificadora, ou para acentuar o fenômeno da violência, da exclusão, da discriminação e da evasão escolar. Assim, cabe propor que sejam ressignificadas as considerações sobre o que seria de fato um ato de infração, para cujo tratamento se faça realmente necessário recorrer a outras instâncias extra-escolares como conselho tutelar, polícia militar, DA (delegacia do adolescente) ou outra instituição. Propõe-se uma análise com prudência e cautela sobre as relações construídas no ambiente educativo, no qual muitas situações adversas oriundas das interações poderiam receber um tratamento do ponto de vista disciplinar, pois dependendo da situação, em que medida não seria eticamente formativo encarar a materialidade do ato conflituoso enquanto passível de solução no ambiente interno da instituição, para cuja solução pedagógica seria aconselhável buscar o apoio da equipe pedagógica e diretiva, de outros colegas professores, e, especialmente, da família. Ressalte-se que o conceito de família utilizado neste artigo prima por uma conotação semântica na qual se reconsidere a estrutura familiar que se constitui no século XXI, na qual o modelo tradicional nuclear de pai, mãe e filhos já não são tão recorrentes nas sociedades pós- contemporâneas, pois há de se reinterpretar os conceitos de gênero e diversidade, bem como o livre arbítrio dos sujeitos para a busca de realizações existenciais, considerada a efemeridade e a transitoriedade da vida e dos fenômenos dela provenientes. Isto posto, convém considerar o contexto bioecológico de desenvolvimento humano, o quanto as macroestruturas políticas, econômica, geográficas e socioculturais afetam e são interdependentes das inter-relações pessoais nas quais se constroem as subjetividades. Nas palavras do professor Adão Aparecido Xavier e Wanirley Pedroso Guelfi, no artigo “Violência versus Rendimento Escolar”: Conhecer a legislação e estratégias pedagógicas e didáticas mais eficazes é uma das condições para uma boa prática e em consequência estratégia de combate à indisciplina e à violência que afeta o âmbito escolar; diferenciando violência no crivo da sociologia que trabalha com seus aspectos de causas e efeito nas sociedades urbanas e outras. Entender no aspecto antropológico a manifestação e os ritos com aspectos da violência encontrados nas diversas Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 27 comunidades humanas em todos os tempos e lugares. (XAVIER; GUELFI, 2008) Diante do exposto, este artigo pretende demonstrar os efeitos do não cumprimento do artigo supra citado nos atos de infrações cometidos pelo jovens, considerando-se as implicações da vida escolar, das inúmeras ações de violação de direitos e do abandono gerado pela falta de tolerância e compreensão dos fenômenos macros que interferem nas microrrelações e são determinantes das trajetórias a serem percorridas por crianças e adolescentes até culminarem na privação total e/ou parcialda liberdade. As implicações da implementação do Artigo 227 da CF/1988 no cerceamento da liberdade do indivíduo Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) A partir de uma leitura mais atenta dos elementos presentes neste artigo, cabe indagações sobre o que realmente tem sido feito para sua implementação, qual seria a responsabilidade de cada segmento social e por que após vinte e três anos de sua publicação se faz necessário rediscuti- lo. Quantas áreas de lazer para crianças, adolescentes e jovens têm sido construídas nas periferias e nos centros rurais e urbanos? Os detentos, na pesquisa feita, na quase totalidade, informaram não ter tido acesso ao lazer. Nas ciências que tratam sobre o desenvolvimento humano, é recorrente a defesa da importância do lúdico para um desenvolvimento saudável. Dessa forma, uma das questões constantes no questionário da pesquisa se refere a quais atividades de lazer eram oportunizadas na infância. Nas respostas elaboradas por eles, cabe ressaltar que a maioria não menciona a existência de parques, pistas de skates, quadras poliesportivas, para não falar em acesso a cinema, teatro, outras atividades culturais. Cultura aqui utilizada a partir de seu sentido etmológico de cultivar, semear para um crescimento qualitativamente produtivo e saudável. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 28 Quando em um dos relatos da pesquisa, o informante ao relembrar sua infância, narra que brincava de roubar e matar, como recentemente apareceu num jornal da RPC uma reportagem na qual o irmão de aproximadamente 15 anos, juntamente com um colega, brinca de assaltar, e coloca na mão do irmãozinho de 11 meses o revólver calibre 38, dizendo: “Pega aí o ferro”...”Na boca não!”. Isso causa estranheza e inquietação, especialmente quando se pensa na proposta piagetiana dos esquemas representacionais mentais que o indivíduo cognoscente vai construindo no aparato cognitivo. Embora ao ver a reportagem, seja emergente um choque de valores, não se percebe o mesmo efeito quando se estruturam em grandes Shoping Centers áreas de jogos digitais construídas com pseudoarmas nas quais os jogadores literalmente empunham a arma apontada para uma tela virtual e desfere tiros visando a um algo que é outro humano. Outro exemplo significativo que contribui no constructo das representações assimiláveis pelo indivíduo se refere ao “Painting Ball” – no qual ocorre uma simulação de verdadeiros campos de batalha, os integrantes da equipe se vestem com estilizadas e, de posse de uma arma cuja munição são bolas com tintas, vence o grupo que comete um número maior de “homicídios”. E quais efeitos devastadores são desencadeados por períodos de quatro a oito horas diárias de jogos virtuais? Retornando ao início da discussão proposta no parágrafo anterior, ao analisar a resposta constante no questionário onde o detento relata as brincadeiras de assalto quando criança, ocorreu, num primeiro momento, a possibilidade da falta de honestidade na resposta, por ironia, sarcasmo, revolta, enfim.... Nas palavras do próprio pesquisado á seguinte questão: Onde você cresceu existia lugar para brincar (área de lazer)? Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 29 Embora se questione a veracidade da resposta, após as reflexões supra mencionadas, percebe-se que é possível verificar em várias esferas de lazer situações similares e institucionalizadas como “normais”. A importância de se pensar em uma formação saudável perpassa pela infraestrutura possível para que a qualidade bioecológica da construção da vida se efetive com dignidade. Dessa forma, há de se refletir sobre programas de governo como “Minha casa, minha vida”, na medida em que viabiliza, ainda que a passos lentos, a concretização de um dos elementos previstos no Caput do artigo 227. Além da privacidade necessária, é de mister importância espaços destinados a momentos de convivência familiar, pois a interação inter- psíquica que ocorre nas trocas inter-subjetivas é o passo inicial para que o indivíduo internalize princípios e valores construídos historicamente pelos seus antepassados. As relações sociointeracionistas permitem que o plano de representações externas ao sujeito seja captado pelos sentidos, a partir dos quais os indivíduos passam a re/constituir os recursos internos, o plano intrapsíquico, reflexão muito bem pontuada por Vygotsky em suas concepções sobre os processo de internalização dos saberes. A moradia como elemento contemplado no artigo 227/CF/1988, remete a espaços residências, no qual o direito à interação parental deveria ser concretizado. Dessa forma, o lar seria construído por, além de quartos separados por gênero, ressalvadas as considerações sobre a diversidade, do quarto privativo do casal. É de mister importância uma sala ambiente que propicie momentos de convivência familiar, para além dos horários que deveriam existir cronometrados para as refeições nas quais toda a família se reunisse, pelo menos em uma das refeições diárias, não somente para saciar a fome, mas para que valores sejam construídos nas trocas existenciais. A proposta de fortalecer os laços dentro do lar é imprescindível para que os membros de uma família possam se conhecer mutuamente, compreender as singularidades do outro, estabelecer relações empáticas, na medida em que desenvolvam a habilidade altruísta de mergulhar no universo psicológico do “não-eu” e buscar compreender-lhes as angústias, os êxitos, as necessidades. Esta convivência saudável refletirá, de forma significativa, na vida da pessoa em todos os momentos de sua existência. Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 30 Sabemos que há todo um jogo de manipulação psicológica nas relações humanas e numa pesquisa tais elementos precisam ser levados em conta. Desta forma, dentre os 51 questionários respondidos, a importância da família se reflete em alguns discursos carregados de arrependimento e desejo de mudanças, como é o exemplo abaixo na resposta dada á questão sobre as expectativas de vida ao término de cumprimento da pena: Ressalvadas as dissimulações possíveis encontradas nas respostas a esta questão, no sentido do inter-locutor se valer da retórica aristotélica, ou seja, de dizer ao outro o que acredita atender-lhe a expectativa, verifica- se alguns elementos que mostram como o recluso acima sente a fragilidade familiar ao considerar que se tivesse a presença do pai, de um convivência familiar parceira na sua edificação, sua “sorte” poderia ter sido outra. Isso fica claro no seguinte enunciado: “Tudo começou a partir disso” – da ausência de uma figura parental que lhe conduzisse numa vida justa, que Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermarkVolume I 31 lhe pusesse limites e o preparasse para uma vida saudável. Fica perceptível o reconhecimento da construção da identidade infratora a partir da ausência de relações familiares interventivas, e a consciência por parte do pesquisado de que não quer reproduzir a mesma formação adversa em seu filho. Perfil do prisioneiro da delegacia pesquisada versus o perfil dos detentos brasileiros: violações e violências! “É possível julgar o grau de civilização de uma sociedade visitando suas prisões”. Dostoievski, Livro: "Crime e castigo" Verificando in loco a situação carcerária numa pesquisa, não há como se manter na indiferença e não tentar, pelo menos, buscar elementos Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 32 que provoquem reflexões e possibilidades de mudanças nesta realidade. Respeitado o direito de veiculação de imagens, apenas são mostrados dois detalhes fotográficos acima como ilustração ratificadora da pesquisa. Nelas é possível que o leitor se atente para o aspecto sombrio e horrendo que se constrói no ambiente carcerário, cujas nuances físicas estruturais não deixam margem para dúvidas do quanto o espaço por eles ocupado afeta e angustia a sensibilidade humana. Trata-se de um lócus cultural horripilante, pela falta de manutenção da pintura, de iluminação, pela falta de janelas, ainda que com grades, pela falta de ventilação, dentre outros aspectos adversos à edificação humana. As celas medindo aproximadamente 3X2, contendo dez indivíduos cada uma, um corredor cujo cumprimento e largura permite o uso estreito de uma colchonete, constitui-se num espaço que divide quatro camas em cada lado, enfileiradas em formato de beliche. A altura que separa uma cama e outra não permite àqueles com 1,70m sentar-se com a coluna reta. O excesso de pessoas provoca um clima ainda mais quente e abafado. Ao se entrar no corredor que divide as celas, chamadas de “X”, é impossível não experimentar no olfato o cheiro pérfido e misto de alimento azedo, urina, fezes, dentre outros odores presentificados pela carência de higiene. Esta descrição se refere à ambientação na qual se desenvolvem seres encarcerados e em constante processo de aquisição cognitiva, dado o incessante devir existencial e a re/construção subjetiva que ocorre a cada interação com o meio físico e social. O filósofo Michel Foucault, em seu livro “Vigiar e Punir” suscita a seguinte reflexão: Para que serve o fracasso da prisão; qual é a utilidade desses diversos fenômenos que a crítica continuamente denuncia? Serve para a delinquência, indução em reincidência, transformação do infrator ocasional em delinquente habitual, organização de um meio fechado de delinquência. (Focault, 2006, p76 ) Ao se refletir sobre estas palavras que traduzem há décadas o funcionamento do sistema prisional, emerge então a necessidade de propor alternativas, estratégias que possibilitem uma amenização mínima das adversidades constantes no sistema educacional e prisional. Trata-se de um desafio árduo e trabalhoso, que requer atitude altruísta, empática e de reconhecimento da alteridade e seus multicondicionantes. O que já foi apontado no século passado pelo filósofo Foucault no Vigiar e Punir entre outras obras, continua inspirando pesquisas Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 33 acadêmicas, porém as mudanças são ainda bem insipientes. No artigo “Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo”, publicado no site do CNJ, Terça, 28 de Setembro de 2010 é estarrecedor, pois naquele ano a população carcerária chegava a 494.598 presos, desta forma o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, menor apenas da dos Estados Unidos e da China. Estes dados foram apresentados pelo juiz Luciano Losekann8 no dia 23/09/2010, no Seminário Justiça em Números. A postura do juiz Losekann é de crítica em relação à Justiça Criminal e sua atuação dentro do Judiciário brasileiro, afirma: “(Justiça Criminal) é como o primo pobre da jurisdição”. “É uma área negligenciada, sobretudo pela Justiça Estadual. Os tribunais precisam planejar de forma mais efetiva o funcionamento da Justiça Criminal”. Na pesquisa realizada numa delegacia da Região Metropolitana de Curitiba, verificamos uma realidade semelhante à apresentada por Losekann no Seminário de 2010, supra citado. No mesmo o juiz afirmou que 57.195 pessoas estavam cumprindo pena em delegacias, que não contam com infraestrutura adequada. Na nossa pesquisa in loco, só constatamos no micro universo de nossa atuação um recorte da macro realidade nacional: superlotação, doenças, condições sub-humanas de vida, alimentação precária, morosidade nos julgamentos, detentos cumprindo penas há quase três anos na delegacia, por falta de vagas nas penitenciárias, etc. Ao traçar o perfil dos detentos brasileiros, Losekann destacou que o tráfico de drogas, artigo 33 do Código Penal, responde por 22% dos crimes cometidos pelos presidiários, na nossa pesquisa o índice foi de 24%, e o artigo mais citado foi o 157 – roubo – com 26%, seguido pelo artigo 121 ( homicídio), com 14%. Foram citados outros artigos (171, 289, 155, 129,14, 250, 16, 312, 159, 124, etc). A questão material, como se percebe em números de infrações é bem relevante, tanto no nível macro, como no micro, foco da nossa pesquisa. O argumento de Foucault, já citado: “(...) transformação do infrator ocasional em delinquente habitual, organização de um meio fechado de delinquência”. (FOUCAULT, 2006 8Juiz (naquele ano) coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (DMF) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 34 p. 76) confirma em nossa pesquisa, pois o número de reincidentes nos mesmos artigos em novos foi grande. Repensar o sistema prisional é uma proposta antiga e não só em nosso país, mas não bastam discursos, pois a mudança não é somente neste sistema, mas dada a magnitude de sua repercussão, constitui-se um fenômeno a ser estudado numa perspectiva multidimensional, na distribuição de renda, na educação, no campo das políticas públicas de modo especial. Na questão sobre quais as expectativas ao sair da prisão, a maioria demonstrou sensibilidade cristã e religiosa, seguida de arrependimento e desejo de mudança para uma vida justa, honesta e ética. No entanto, chama a atenção o texto escrito por um dos detentos abaixo escaneado, pois revela o quanto sua indignação para com a vida fora e dentro da prisão é substanciada com o sentimento de revolta e desejo de vingança, o que remete ao ser instintivo do id, quando o sujeito deixa se sobrepor em sua racionalidade, seu superego, a configuração de uma obsessão que se constitui no uso de estruturas cerebrais primitivas e irracionais: Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 35 Skinner propõe uma reflexão sobre o Reforçamento do Condicionamento Operante Positivo. As propostas do behaviourista para se pensar como repertórios comportamentais são reforçados, permitem inferir que, pelo relato do detento, S. que foi citado acima, ratifica-se as concepções apresentadas por Skinner, quando este reconhece suaidentidade infratora a partir dos bens e do olhar de admiração conquistado por meio de ações criminosas, consideradas por ele como imprescindíveis para a concretização de seus sonhos. Curioso também é o fato do apenado expressar sua expectativa com relação ao que pretende fazer quando pagar sua dívida com a sociedade, ao se mostrar consciente da necessidade de continuar no mundo do crime para ter o financiamento de seus desejos de realização, ainda que o preço para tanto seja a liberdade. A vingança também aparece nitidamente expressa, pois como primeiro objetivo S. revela a intenção de, quando liberto, matar aqueles que o fizeram mal, que contribuíram para que estivesse na prisão. É possível, na escola e na sociedade, promover nos educandos o desenvolvimento da construção do sujeito autônomo e emancipado. No entanto, para que se atinja a este patamar de emancipação, há de se auto-questionar quais podem ser os reflexões de atitudes desrespeitosas como berros constantes nos corredores das escolas e presentes nas ações parentais e familiares no lar dos sujeitos. O despertar na crença do poder de transformação de atitudes requer primeiramente que os educadores revejam suas práticas e condutas violentas. Considere-se neste contexto educadores todos os adultos que servem como modelos reflexos aos comportamentos dos mais jovens. Assim esta reflexão é proposta a pais, mães, tios e tias, avôs e avós, professores e professoras, policiais, e a todos os atores que atuam cotidianamente na modelagem de repertórios comportamentais humanos. Refletir sobre estas questões podem contribuir par que se evite o surgimento de outros indivíduos edificados em contingentes circunstanciais similares ao do recluso citado anteriormente, cujo codinome optou-se por ser identificado apenas pela inicial “S” neste trabalho. O Caput do artigo 227 CF/1988 é enfático na defesa dos direitos à saúde, educação, segurança, lazer, entre outros e na nossa pesquisa entre Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 36 as 51 respostas, menos de 10 disseram ter tido alguma área de lazer e quando tinha era apenas uma pequena cancha de areia que é de uso compartilhado com adultos. O autor de texto acima no quesito área de lazer afirma que brincava de roubar, bater, usar drogas e matar. Violências e violações de direitos estão correlacionados. Como tem-se tentado demonstrar ao longo deste artigo. As falhas nas macroestruturas políticas e econômicas interferem diretamente no microcosmo de relações nas quais os sujeitos se desenvolvem. Desta forma, as violações de inúmeros direitos fundamentais para o desenvolvimento humano potencializam a reincidência das múltiplas violências que se autoamplificam por meio de ações muitas vezes inconsequentes, de protesto e/ou rebeldia, ou até mesmo como uma possibilidade de sobrevivência. O estímulo ao consumo exagerado é pernicioso. Afeta com maior intensidade as crianças e os adolescentes, pois ainda não estão preparados para ter uma postura reflexiva com maior criticidade a respeito de suas reais necessidades, assim como muitos adultos que se entregam aos apelos do consumismo manipulado pelas mídias a serviço dos ideais presentes no Capitalismo. O impulso consumista se intensifica nesta fase de formação da subjetividade. As condições materiais que possibilitam a sensação ilusória e momentânea de realização e da conquista faz com que acabem buscando a promessa de felicidade no produto obtido por meio de alternativas muitas vezes ilegais. Daí emerge a necessidade de se engajar em grupos para se fortalecerem mutuamente em planos de assalto, roubo, tráfico, etc. A pesquisa mostrou esta realidade, pois o maior percentual de crimes está relacionado a infrações tipificadas nos artigos 33 e 157 do Código Penal, que se referem respectivamente a tráfico de entorpencentes e roubos. As penalidades aplicadas em consonância ao atual aparato jurídico, tais como os atos de aprisionar, matar, torturar para, na sequência, devolver estes sujeito apenados com vistas à tentativa de ressocializá-los, tem minimizado o problema da violência? A pesquisa revela que a maioria dos reclusos são reincidentes. Como acreditar na readaptação social e na possibilidade de estes sujeitos virem a praticar interações sociais voltadas para o constructo de uma sociedade de paz, no contexto interativo propiciado pelos sistemas prisionais que estão colocados hoje na realidade brutal e concreta? Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Volume I 37 Uma das indagações que devem se presentificar constantemente no discurso educativo se refere à reflexão suscitada a partir de se questionar como o papel ativo de cada educador tem afetado a edificação de crianças, adolescentes e jovens. Os sociointeracionistas defendem que ninguém nasce com um gene da violência como parte constituinte de seu DNA. Padrões comportamentais de repostas aos estímulos do meio são construídos por meio do observar como estas relações se estabelecem no meio social. O controle da impulsividade reptiliana precisa ser trabalhado para que os sujeitos aprendam a lidar de forma resiliente com as adversidades. A construção de limites requer ações planejadas por parte de pais e educadores, que precisam primeiramente aprender a disciplinarizar-se no exercício constante de reflexão e ação interventiva, sem excessos de permissividade, para que não confundam agir democraticamente como sinônimo de atitude anárquica de libertinagem. O ato de construir valores é uma tarefa difícil e exigente e constante e se temos uma sociedade com uma enorme crise de valores essenciais a uma boa convivência humana entre os adultos, as consequências não poderiam ser outras entre os jovens e adolescentes. A ausência de referenciais responsáveis, com condições de oferecer uma educação ética e justa, não pode ser compensada com uma licenciosidade descomedida onde se pode tudo. Pontua o educador Paulo Freire: “A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a “tirania da liberdade” em que crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade.”9 (FREIRE, 1997, p. 29) A construção de limites não é uma tarefa fácil e não há como delegá-la somente à escola, cada segmento deve assumir a sua responsabilidade e, quando não o faz, incorre na possibilidade de arcar com consequências por vezes irreversíveis. Os adolescentes quando infringem as leis e normas podem ser penalizados, caso haja representação de queixa-crime, a ser registrada na delegacia local, por parte da(s) vítima(s). Para cada ato considerado infracional, está prevista uma medida sócio educativa no ECA. Art. 115 9 FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação. Editora UNESP. São Paulo. 2000 Document shared on www.docsity.com Downloaded by: geremias (vendas.simbelle@gmail.com) https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark Vozes da Educação 38 Da advertência; Art. 116 Da Obrigação de Reparar o Dano; Art. 117 Da Prestação de Serviços à Comunidade; Art. 118 Da Liberdade Assistida. Estes artigos estão no capítulo IV do ECA, com o título Das Medidas Socioeducativas. E sua devida aplicação precisa contar com uma promotoria consciente e atuante, um Conselho Tutelar bem instrumentalizado e uma escola que conheça bem o ECA e outras legislações pertinentes à educação. Considerações finais Nas famílias, nas escolas e em todos os outros ambientes de convivência humana as diversas
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