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Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità Discriminação do trabalho da mulher no Brasil Analise histórica da mulher no ambiente do trabalho e garantias conquistadas Alunos de direito, sétimo semestre da Faculdade de Unità: Fernanda Tavares Isabelle Curcio Romério Moura Susy Vianna Tereza Penteado Resumo: O presente artigo tem o propósito de evidenciar fato existente e pouco discutido, que é a Discriminação do trabalho da mulher no Brasil. Reunindo informações importantes, através das inúmeras pesquisas realizadas pelos alunos da matéria de Direito do trabalho da Faculdade Unità, o texto apontará a discriminação real existente no Brasil, resgatando toda a evolução histórica da mulher no mercado de trabalho, as diversas formas com que a discriminação se manifesta, através da diferença no ganho salarial comparado ao dos homens em funções semelhantes; a extensa dificuldade de admissão em algumas áreas do mercado no qual o homem é considerado apto pelo seu estereótipo, ou seja, por questões biológicas de força. A fim de possibilitar uma leitura que retrate a real prática nos ambientes de trabalho, imergiremos nas garantias já existentes do Direito brasileiro contra possíveis discriminações, não se limitando apenas em leis brasileiras, mas também na adesão de Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità nossa Federação a tratados internacionais que versam medidas contra o assédio e a discriminação para com a mulher. Tratados de Direitos Humanos que buscam resguardar a mulher no ambiente laboral, demonstrando que essa realidade transcende nossa nação, trata-se de um mal mundial, no qual deve ser dada a necessária observância para evitar ou reduzir tal ofensa ao direito da mulher. Sabe-se que os as leis de proteções expressas e as condutas moralmente esperadas os membros da sociedade em suas condutas não são facilmente aderidas ou respeitadas por todos, veremos cases reais de atos discriminatórios e assédios contra a mulher no ambiente do trabalho, conhecendo dados no qual demonstram que o Brasil e o mundo ainda estão longe de conseguir garantir de forma eficiente o direito da mulher no mercado de trabalho. Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità Análise histórica na mulher no ambiente do trabalho As diferenças biologicas entre homem e mulher, desde que o mundo é mundo, sempre trouxeram distinções no direito ao trabalho, assim como nas relações trabalhistas. O avanço significativo da inserção das mulheres no mercado de trabalho tem trazido à tona questões importantes, especialmente nos âmbitos social, político e economico. Nesse contexto, há dificuldades expressivas enfrentadas pelas mulheres trabalhadoras, essencialmente caracterizadas por situações de preconceito, discriminação e estereótipos. Essa inserção sempre foi uma tarefa difícil, pois a sociedade impunha que o sustento da família deveria ser feito pelo marido, e, as mulheres viúvas ou solteiras deveriam exercer apenas atividades artesanais, desde que no âmbito doméstico. Porém, com a evolução do sistema capitalista, as mulheres foram ganhando espaço, e, durante a revolução industrial, no século XVIII, as mesmas começaram a trabalhar nas fábricas passando a competir no mercado de trabalho juntamente com os homens, contudo, sua mão de obra continuava desvalorizada, sem contar que a carga horária de trabalho era excessiva e as condições de trabalho precárias. Dentre os diferentes direitos sociais previstos constitucionalmente, o trabalho ocupa, sem dúvida, uma posição de expressiva relevância no cenário sociopolítico e econômico. A partir do exercício laboral, grupos sociais diversos encontraram oportunidades para o alcance da participação e inclusão social, bem como para o enfrentamento da pobreza. As normas de proteção ao trabalho da mulher foram introduzidas em nosso ordenamento jurídico, de início, basicamente, devido a exploração dessa mão de obra. Porém, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, que introduziu em seu artigo 5°, inciso I, o Principio da Igualdade entre homem e mulher, a mesma trouxe discussões sobre a compatibilidade do novo ordenamento com as normas de proteção exclusivas ao trabalho da mulher (questão essa, que gera Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità polêmicas em um número expressivo de julgados). Inicialmente, verificou-se que na época colonial brasileira, a mulher exercia uma função principal matrimonial e materna, restringindo-se aos serviços domésticos e na assistência a educação de seus filhos. Dependendo da classe social da mulher, além dos serviços domésticos e criação de filhos, a mulher também se dedicava ao artesanato e ao cultivo da terra. Naquela época, a mulher não podia ocupar nenhum trabalho ou cargo de destaque, afinal a discriminação entre os sexos era absoluta. No período do Império, a discriminação contra a mulher mantinha-se, afinal, ainda sem muitos direitos civis, a maioria era analfabeta, não tinha direito ao voto, não participava da constituição politica a e era abandonada pelo Estado. Contudo, mesmo sendo a discriminação contra o trabalho da mulher muito intensa, no período imperial as mulheres começaram a ocupar funções no comércio, no campo e na confecção de produtos artesanais. Porém, naquele período não era possível se falar em preservação dos direitos da mulher por meio de uma regulamentação legislativa. Apenas no final do século XVIII, já na idade Moderna, devido a mudanças sociais e a manufatura fabril em grande desenvolvimento, o trabalho da mulher que era restrito a algumas atividades foi fortemente utilizado pelas indústrias. Pela primeira vez, o trabalho da mulher começou a ser competitivo com o trabalho do homem, pois como o trabalho da mulher era uma mão de obra muito mais barata, muitas mulheres passaram a ocupar funções que antes eram exercidas apenas por homens, como o trabalho em fábricas. Todavia, as mulheres contratadas para trabalharem nas fábricas eram submetidas a jornadas exaustivas, em condições prejudiciais à saúde, e a remuneração paga a elas era muito inferior à mesma remuneração paga aos homens. A contratação de mulheres pelas indústrias daquela época representava para os empregadores uma redução do custo de produção, sendo este o meio encontrado pelos empregadores para enfrentar a concorrência. Apesar da realidade de trabalho desumano enfrentado pelas mulheres, essas, necessitando trabalhar para a subsistência própria e de sua família, acabavam se sujeitando a tal exploração. As primeiras normas de proteção à mulher surgiram devido há exploração Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità desta mão de obra, com o objetivo de limitar o poder dos industriais que estavam preocupados apenas com o lucro sem limites. A primeira lei de proteção à mulher nas indústrias no Brasil foi instituída no estado de São Paulo, pela Lei n. 1.596 de 29 de dezembro de 1917, quando foi reorganizado o Serviço Sanitário do Estado beneficiando, de certa forma, as mulheres, conforme o artigo 94 § 5º: “ Os menores até a idade de 18 anos e as mulheres não poderão, em caso algum, executar nas fábricas serviços noturnos.” Como também, pelo artigo 95, “As mulheres, durante o último mês de gravidez e o primeiro do puerpério, não poderão trabalhar em quaisquer estabelecimentos industriais”. No ano de 1919 foi criada Organização Internacional do Trabalho, a OIT, com a justiça social sendo seu principal objetivo. A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho, convenções e Recomendações. As Convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam afazer parte de seu ordenamento jurídico. O Brasil está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional de trabalho desde sua primeira reunião. As primeiras convenções relativas aos direitos das mulheres, ocorreram no ano de sua criação, em 1919, e são elas as convenções de números 3 e 4: “Convenção relativa ao Emprego das Mulheres antes e depois do parto ” e“Convenção relativa ao Trabalho Noturno das Mulheres”. No Brasil, com a Revolução de 1930, a era dos direitos trabalhistas começou com o então presidente, Getúlio Vargas, quando foi expedido o Decreto n. 24.417-A de 17 de maio de 1932. Esse decreto versou sobre a situação da mulher trabalhadora, protegendo-a contra a exploração social, assim como regulando as condições de trabalho destas nos estabelecimentos industriais e comerciais. Neste decreto, por exemplo, já existia a referência da obrigação da equiparação salarial entre homens e mulheres, quando da mesma função de trabalho. Na legislação brasileira, o Decreto 21.417 de 17 de maio de 1932, trouxe a regulamentação das condições do trabalho da mulher nos estabelecimentos industriais Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità e comerciais. Dentre os direitos garantidos às mulheres no Decreto 21.417/32 destacaram-se a igualdade de trabalho entre os sexos, vedação de trabalho nas indústrias e comércio das 22 horas às 5 horas, remoção de materiais de pesos superiores aos estabelecidos nos regulamentos elaborados pela autoridade publica, proibição de trabalho de mulher em minerações, Serviços perigosos e insalubres e proteção a maternidade. Nas Constituições Federais também tivemos normas que regulamentaram os direitos do trabalho da mulher. Inicialmente, a primeira Constituição brasileira que incluiu uma norma regulamentadora de proteção ao trabalho da mulher foi a de 1934, que previu em seu artigo 121 proibição de diferença de salário por motivo de sexo, assim como, proibição de trabalho em industrias insalubres e garantiu assistência médica e sanitária à gestante, e a instituição de previdência a favor da maternidade. Na Constituição de 1937, foram previstos os mesmos direitos ao trabalho da mulher, todavia, tais direitos foram suspensos em 1942 pelo decreto 10.358. Já na Constituição Federal de 1946, foram mantidos todos os direitos previstos na constituição de 1934 com relação às normas de proteção aos direitos do trabalho da mulher. A constituição Federal de 1967 inovou assegurando a proibição de critérios de admissão diferentes por motivo de sexo, cor ou estado civil, além de assegurar à mulher a aposentadoria com salário integral após 30 anos de trabalho. Já a Constituição Federal de 1988 inovou quanto à proteção ao trabalho da mulher, pois introduziu a licença maternidade de 120 dias, que garante sem prejuízo do emprego ou salário a vedação de dispensa arbitrária ou sem justa causa da gestante, assim como garantiu a proteção ao mercado de trabalho da mulher. Mas a principal mudança trazida pela Constituição Federal de 1988 foi a igualdade perante a lei de direitos e obrigações entre homens e mulheres, cabível a desigualdade apenas onde couber a exemplo dos direitos à maternidade. Na Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, tivemos a edição de normas destinadas exclusivamente à proteção ao trabalho da mulher. No Título III, capítulo III, da CLT, estão disciplinadas normas que tratam de proteção ao trabalho da mulher e Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità regulamentam a duração e condições do trabalho, a discriminação contra a mulher, o trabalho noturno, o período de descanso, métodos e locais de trabalho, proteção a maternidade, assim como as penalidades ao empregador que cometer infração às normas ali estabelecidas. Apesar do reconhecimento de igualdade de direitos e obrigações entre homem e mulher, na Consolidação das Leis do Trabalho, algumas normas exclusivas à proteção ao trabalho da mulher foram mantidas. Em âmbito federal foi aprovado o Decreto n. 16.300, de 21 de dezembro de 1923, que facultava às mulheres, empregadas em indústrias e comércios, descanso de trinta dias antes e outros trinta dias mais após o parto. Infelizmente, não há como comprovar que essas medidas previstas no decreto n. 16.300 foram cumpridas pelas empresas, e pela época, leva-se a crer que em sua maioria não foram respeitadas. Deste modo, tanto em âmbito nacional, como mundial, havia já a preocupação de legislar para atenuar algumas desigualdades e satisfazer movimentos sociais que reivindicavam direitos, pelo menos relativos à maternidade, porém, efetivamente, ainda era muito pouco para tantos anos de injustiça para com o gênero feminino. No Brasil as normas protetoras ao trabalho da mulher, muitas das quais introduzidas pela Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, vieram para equilibrar a relação desproporcional existente entre os trabalhos masculinos e femininos, e teve como objetivo trazer paridade na relação entre os sexos no direito trabalhista brasileiro. As Constituições brasileiras também tiveram um papel importante para a proteção do trabalho da mulher, pois cada uma delas contribuiu para o reconhecimento dos direitos e garantias trabalhistas das mulheres. A Constituição Federal brasileira de 1988 introduziu no seu artigo 5°, inciso I, a garantia do direito de igualdade entre homem e mulher, como já referido acima. Também houve o advento da Convenção da ONU sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, que foi ratificada pelo Brasil e assegurou a não-discriminação da mulher quanto à emprego e profissão. Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità Garantias existentes O Princípio da Igualdade. Desde o início, não muito tempo atrás, legalmente falando, diferentes tipos de pessoas não eram tratados igualmente. Como resultado, há grandes desigualdades entre fé, etnia, raça e até gênero em diferentes níveis da sociedade, pois as mulheres são sempre vistas como inferiores aos homens em muitos aspectos. Um dos principais princípios das boas relações sociais entre todas as pessoas em nosso ordenamento jurídico nacional é o princípio da igualdade, também conhecido como princípio da equivalência. Esse princípio está consagrado no artigo 5º da Constituição Federal, que basicamente estabelece que todas as pessoas são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer espécie, garantindo a inviolabilidade do direito de todos ao gozo de certos privilégios fundamentais, como o direito à vida, liberdade, segurança e direitos de propriedade. O princípio da igualdade é historicamente definido também como tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual, na proporção das suas desigualdades. Por considerar que a mulher e o homens são desiguais em diversos pontos é que há essa diferenciação feita pelo legislador nas leis trabalhistas que determinam as condições de trabalho da mulher. Para muitos, e aqui não me refiro a apenas doutrinadores do direito e sim a população como um todo, as prerrogativas exclusivas à mulher no que tangem as alterações legais em benefício das mesmas nada mais é do que um excesso de privilégios. Depois de todo o contexto histórico apresentado, podemos dizer que nos dias de hoje o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo. Homens e mulheres tentam a muito custo conseguir o seu lugar, buscam um emprego melhor, um salário melhor e uma condição melhor para que possam dar segurança e conforto a sua família. Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità Na maioria das vezes, homens e mulheres exercem funções semelhantes, felizmente, o preconceito contraisso está diminuindo a cada dia, não é incomum que os melhores chefs do mundo sejam homens, e a culinária até pouco tempo foi considerada uma profissão feminina. Além disso, houve um aumento significativo de mulheres dirigindo, não só isso, mas também passando cada vez mais tempo ao volante, atividade que até recentemente era quase exclusivamente masculina. Legislação Trabalhista Para a Mulher no Brasil. Em 1º de maio de 1943, a Lei Uniforme do Trabalho (CLT) foi ratificada em nosso ordenamento jurídico. Oficialmente, trata-se do Decreto nº 5.452/43, no qual os legisladores trouxeram alguns benefícios ao desenvolvimento do trabalho feminino, sabendo que as mulheres são física e psicologicamente mais vulneráveis que os homens e, portanto, têm direito a serem efetivas no desempenho de seu trabalho. O Capítulo III do dispositivo legal supracitado trata da proteção ao trabalho da mulher e está dividido em seis partes, que explicaremos mais adiante, tendo em vista que por se tratar de uma norma anterior à Constituição Federal de 1988, alguns dispositivos foram recebidos pela Magna Carta e outros não. Na primeira seção, os legisladores inseriram regras sobre duração, condições de trabalho e discriminação contra as mulheres. Vários artigos contidos nesta seção foram expressamente revogados, como os artigos 374, 375, 376 e 378. O Parágrafo Único do artigo 372 que tratava do trabalho da mulher em oficina familiar sob direção de outro familiar (esposo, pai, mãe tutor ou filho), foi tacitamente revogado, pois não foi recepcionado pela CF/88. Além disso, o artigo 373-A, inserido na nossa CLT pela Lei 9799/99, trata de normas que visam objetivamente a redução da discriminação da mulher no mercado de trabalho, senão vejamos: Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità Art. 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado: I - Publicar ou fazer publicar anúncio de emprego no qual haja referência ao sexo, à idade, à cor ou situação familiar, salvo quando a natureza da atividade a ser exercida, pública e notoriamente, assim o exigir; II - Recusar emprego, promoção ou motivar a dispensa do trabalho em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez, salvo quando a natureza da atividade seja notória e publicamente incompatível; III - considerar o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável determinante para fins de remuneração, formação profissional e oportunidades de ascensão profissional; IV - Exigir atestado ou exame, de qualquer natureza, para comprovação de esterilidade ou gravidez, na admissão ou permanência no emprego; V - Impedir o acesso ou adotar critérios subjetivos para deferimento de inscrição ou aprovação em concursos, em empresas privadas, em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez; VI - Proceder o empregador ou preposto a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias. Ao incorporar o dispositivo ao ordenamento jurídico nacional, os empregadores ficam teoricamente impedidos de praticar a conduta descrita neste artigo. Nenhum desses programas resultou em muito alarde para a inovação, porque a maioria dos empregadores não vê mais essa disparidade na contratação e não usa esses critérios discriminatórios ao selecionar novos funcionários. Vale ressaltar a Inciso IV proíbe a exigência de comprovação de infertilidade ou gravidez por meio de exame para ingresso ou emprego permanente. Hoje em dia, parece difícil acreditar que alguém possa exigir que seu funcionário, ou pelo menos um funcionário em potencial, forneça uma maneira de provar que ela não está ou não estará grávida, tirando assim seu direito de manter essa informação privada. O simples fato de não poder contar com uma funcionária durante a licença, esquecendo-se de seu bem-estar e pensando apenas em seus Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità interesses lucrativos. Ocorre que hoje ainda existe esse tipo de situação, mesmo com o advento da norma, o que nos leva a crer que na época da publicação da Lei, em 1999, era uma situação recorrente no âmbito trabalhista. Na Seção II, trata sobre o trabalho noturno da mulher. Com a revogação dos artigos 379 e 380, está em vigor apenas o artigo 381, que legisla apenas a regra geral para o trabalho noturno, seja ele para homem ou mulher, afirmando que o trabalho noturno terá remuneração maior que o diurno, sendo esse acréscimo de no mínimo 20% (vinte por cento), e citando também que a hora noturna terá duração de 52 minutos e 30 segundos, diferente da hora normal, que como sabemos, dura 60 minutos. O que se refere os períodos de descanso da mulher no ambiente de trabalho está na Seção III, entre os artigos 382 a 386 e não traz muitas alterações sobre o que já dispõe as normas gerais do trabalho, tanto para o sexo feminino quanto para o masculino. A principal benesse recebida pelas mulheres está contida no artigo 384, dizendo que “em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um descanso de 15 (quinze) minutos no mínimo, antes do início do período extraordinário do trabalho”. Não há nenhuma outra disposição de que também se aplica aos homens, então legalmente continua sendo um benefício exclusivo para mulheres. Pode parecer pouco, mas depois de toda uma jornada de serviço e antes de um novo período extraordinário, essa pausa pode fazer toda a diferença. Note-se que um mínimo de 15 minutos não impede os empregadores de dar mais tempo do que o permitido pelo diploma legal. A seção IV deste capítulo temático nos apresenta a metodologia e o local de trabalho. Aqui, no artigo 389, os legisladores determinam que as empresas são obrigadas a garantir boas condições de trabalho às mulheres, faça os ajustes necessários para isso, senão vejamos: Art. 389 - Toda empresa é obrigada: I - a prover os estabelecimentos de medidas concernentes à higienização dos métodos e locais de trabalho, tais como ventilação e iluminação e outros que se fizerem necessários à segurança e ao conforto das mulheres, a critério da autoridade competente; Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità II - a instalar bebedouros, lavatórios, aparelhos sanitários; dispor de cadeiras ou bancos, em número suficiente, que permitam às mulheres trabalhar sem grande esgotamento físico; III - a instalar vestiários com armários individuais privativos das mulheres, exceto os estabelecimentos comerciais, escritórios, bancos e atividades afins, em que não seja exigida a troca de roupa e outros, a critério da autoridade competente em matéria de segurança e higiene do trabalho, admitindo-se como suficientes as gavetas ou escaninhos, onde possam as empregadas guardar seus pertences; IV - a fornecer, gratuitamente, a juízo da autoridade competente, os recursos de proteção individual, tais como óculos, máscaras, luvas e roupas especiais, para a defesa dos olhos, do aparelho respiratório e da pele, de acordo com a natureza do trabalho. § 1º - Os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezesseis) anos de idade terão local apropriado onde seja permitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência os seus filhos no período da amamentação. § 2º - A exigência do § 1º poderá ser suprida por meio de creches distritais mantidas, diretamente ou mediante convênios, com outras entidades públicas ou privadas, pelas próprias empresas, em regime comunitário, ou a cargo do SESI, do SESC, da LBA ou de entidades sindicais. Desta feita, percebe-se que o legislador teve um cuidado específico no que diz respeito a rotina da mulher dentro do ambiente de trabalho, fazendo o possível para queessas tenham uma melhor condição para desenvolver o seu trabalho. Um dos grandes diferenciais nas regras para o trabalho da mulher está no artigo 390, designando que “ao empregador, é vedado empregar a mulher em serviço que demande o emprego de força muscular superior a 20 (vinte) quilos para o trabalho contínuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos para o trabalho ocasional”. Essa definição é suma importância pois o corpo da mulher é fisicamente mais frágil, nesse ponto inferior ao Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità corpo masculino, onde a redução do peso no esforço muscular se faz necessária para a não ocorrência de graves acidentes de trabalho. Vale lembrar, só para fins comparativos, que o limite de peso estipulado pela CLT para os que os demais empregados possam remover individualmente é de 60 (sessenta) quilos, incluso no artigo 198, já trazendo no seu bojo a ressalva não só das disposições especiais quanto ao trabalho da mulher, como também relativas ao trabalho do menor. A proteção da maternidade, onde se encontram os maiores e mais necessários benefícios à mulher na relação de trabalho, estão na Seção V, entre os artigos 391 e 401. Nesse primeiro artigo citado, por exemplo, o legislador deixa claro que nem o fato de contrair matrimônio, nem se encontrar em estado de gestação, são motivos para a rescisão contratual por justa causa. O artigo 391-A, incluído na CLT pela Lei 12812/13, trouxe uma inovação considerável, legislando que a mulher tem estabilidade no trabalho quando é confirmado o estado de gravidez, mesmo que esteja no período de aviso-prévio. A estabilidade já existia quando se travava do assunto, no entanto, a novidade foi adquiri- la também no aviso-prévio, o que dá uma segurança maior para a mulher planejar com calma os primeiros passos da sua prole. Por inteligência do artigo 392, a mulher tem direito de se afastar do trabalho, em virtude da licença maternidade, pelo período de até 120 dias, com percepção integral do salário, e sem prejuízo do emprego. Além disso, nesse mesmo artigo há outras peculiaridades referentes ao tema, senão vejamos: Art. 392. A empregada gestante tem direito à licença- maternidade de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo do emprego e do salário. § 1o A empregada deve, mediante atestado médico, notificar o seu empregador da data do início do afastamento do emprego, que poderá ocorrer entre o 28º (vigésimo oitavo) dia antes do parto e ocorrência deste. § 2o Os períodos de repouso, antes e depois do parto, poderão ser aumentados de 2 (duas) semanas cada um, mediante atestado médico. Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità § 3o Em caso de parto antecipado, a mulher terá direito aos 120 (cento e vinte) dias previstos neste artigo. § 4o É garantido à empregada, durante a gravidez, sem prejuízo do salário e demais direitos: I - Transferência de função, quando as condições de saúde o exigirem, assegurada a retomada da função anteriormente exercida, logo após o retorno ao trabalho; II - Dispensa do horário de trabalho pelo tempo necessário para a realização de, no mínimo, seis consultas médicas e demais exames complementares. Inclusive, é de grande valia o disposto nos incisos I e II do artigo supracitado. A transferência de função é tranquilamente aceitável pois durante a gestação o corpo da mulher pode realmente não aguentar a mesma rotina de trabalho de sempre, principalmente nos últimos meses, antes do parto, momento em que o cansaço e dificuldades por conta do peso e tamanho do ventre. Por sabermos que o acompanhamento médico durante o desenvolvimento da criança é fundamental, a dispensa para a realização das consultas médicas se faz tão importante, inclusos no texto legal até mesmo os exames complementares. Vale ressaltar que antes da Constituição de 1988 a licença não era de 120 dias, e sim de 12 semanas, ou 84 dias. No que se refere a esse ponto, o ilustre doutrinador Valentin Carrion, na sua obra Comentários a Consolidação das Leis do Trabalho (2010, p.295), afirma que houve uma evolução do instituto, conforme podemos acompanhar a seguir: Houve evolução do instituto, deixando de ser encargo direto do empregador que contratou a gestante para ser suportado pelo empresariado como um todo, transformando-se em um instituto previdenciário, com vantagens para a empresa e principalmente para a própria mulher, que terá menos razões para ser discriminada na contratação. Por isso, por essa evolução do instituto, deve-se considerar que o acréscimo constitucional (12 semanas ou 84 dias para 120 dias, pela Constituição Federal de 1988), é um direito previdenciário, que não obriga ao pagamento pelo Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità empregador, mas apenas a permitir a ausência da gestante nesses dias todos, com licença remunerada pelo INSS. Esse acréscimo veio inserido no artigo 7º da CF/88, inciso XVIII, e até hoje perdura no nosso ordenamento jurídico. A Lei 12873/13 alterou o que estava disposto no artigo 392-A, deixando certo que a empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança, será concedida licença maternidade também de 120 dias, nos mesmos termos do artigo 392, lembrando que para isso é obrigatória a apresentação do termo judicial de guarda, e não pode ser concedida aos dois adotantes empregados quando a guarda for conjunta, sendo direito de apenas um deles. Na hipótese de falecimento da genitora, por força do artigo 392-B, fica assegurado ao companheiro ou cônjuge o direito ao gozo de todo o período de licença maternidade, ou pelo tempo restante que teria direito a mãe, com a exceção do abandono por parte do responsável e pela morte do próprio filho. Munida de atestado médico, a mulher pode romper qualquer compromisso resultante de contrato de trabalho, desde que este seja prejudicial a gestação, e, no caso de aborto não criminoso, a mulher terá o direito de ficar em repouso remunerado por duas semanas, desde que também seja comprovado por atestado médico, assegurado o retorno na função que exercia antes do afastamento, por disposição dos artigos 394 e 395 da CLT. O último ponto relevante da proteção a maternidade é o de que a mulher terá direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, na sua jornada de trabalho, para amamentar o próprio filho até que esse complete seis meses de idade, podendo esse limite ser dilatado quando a saúde da criança exigir, a critério da autoridade competente, conforme artigo 396 e seu Parágrafo Único. A Seção VI trata das penalidades que podem ser impostas ao empregador no caso de não cumprimento das disposições contidas nesse capítulo. As penalidades descritas, bem como as nomenclaturas existentes no único artigo da seção, o 401, ainda Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità não foram expressamente revogadas, no entanto estão em desuso, até mesmo porque estamos falando de um diploma legal que foi instituído no direito brasileiro em 1943, e de lá pra cá muitas coisas já foram alteradas nesse sentido. Atualmente, quando descumpridos os direitos da mulher expostos no capítulo, o magistrado tem a prerrogativa de, dependendo de alguns pontos (caso concreto, proporcionalidade, reincidência), estipular qual a pena melhor se encaixa na situação, na tentativa de atribuir uma compensação favorável a quem foi prejudicada, quase sempre a empregadora; e uma pena desestimulante ao infrator, nesse caso, quase sempre o empregador. Discriminação e assédio Diariamente são presenciadas as dificuldades que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho em relação à convivência com os trabalhadores homens, sendo discriminadas e muitas vezes marginalizadas ou laborando em péssimas condições de trabalho, além de sofrer assédio morale sexual, sem a devida atenção dos poderes públicos, onde as pesquisas apontam que 76% das mulheres no Brasil já sofreram por discriminação. Somente a partir do final do século XIX e início do século XX, é que de fato começou a se desenvolver um sistema normativo de proteção à mulher. A ONU, por exemplo, que desde seu surgimento sempre deu grande importância à igualdade da mulher, criou a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher em 1979. De acordo com Olga Espinoza (2007, p. 45), a Convenção define discriminação contra a mulher como “qualquer distinção, limitação ou exclusão estabelecida devido ao gênero, que tenha como resultado ou objetivo que o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres, o gozo ou o exercício dos direitos humanos e liberdades fundamentais por mulheres, nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil, ou qualquer outro, seja frustrado ou prejudicado.” Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità Por sua vez, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a partir de sua criação em 1919, instituiu normas de proteção especial às mulheres, visando a dar efetividade aos direitos das trabalhadoras nos ordenamentos jurídicos internos dos Estados- membros. Assim, várias Convenções e Recomendações da OIT englobam diversas regras de proteção ao gênero feminino, como, por exemplo, as normas que determinam a inserção feminina no mercado laboral e que proíbem discriminação de gênero no ambiente de trabalho, as garantias voltadas à proteção da gestação e da maternidade, o respeito às características físicas da mulher, dentre várias outras normas jurídicas que visam uma igualdade material de gêneros. Apesar das significativas mudanças legislativas pelas quais passaram as mulheres nos últimos tempos com a aquisição de novos direitos, sua condição continua sendo de inferioridade em relação aos trabalhadores homens, seja pela falta de regulamentação de normas trabalhistas que lhe foram outorgadas, seja pela ausência de fiscalização no cumprimento dessas mesmas leis trabalhistas. No Brasil, dentre os princípios fundamentais de nosso Ordenamento Jurídico, destaca-se o da igualdade, e, nesse sentido, cabe destacar que o art. 3º, IV, de nossa Constituição Federal rechaça qualquer espécie de discriminação ao afirmar que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Como vimos, o mercado de trabalho para as mulheres é mais difícil. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os salários das mulheres são em média 24% inferiores aos dos homens que ocupam a mesma posição. Entretanto, o problema também está no nível de ocupação. Segundo um levantamento realizado pelo IBGE, o grupo feminino responde a somente 45,6% dos cargos, mesmo representando 52,4% da população em idade de trabalhar no país. Isso ocorre principalmente por causa das crenças culturais que não se modificaram na sociedade. Ainda há o preconceito quanto a gravidez, a jornada dupla Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità de trabalho, a ausência por se preocupar mais com a família do que com o emprego e as demais “mazelas” femininas. No Brasil, as mulheres se dedicam mais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas. De acordo com um dado de 2016 do IBGE, elas trabalharam cerca de 73% a mais de horas nessas atividades do que os homens (18,1 horas contra 10,5 horas). Esse comportamento cultural se reflete na evolução da mulher no mercado de trabalho. Elas precisam conciliar o trabalho remunerado com essas atividades, o que, em muitos casos, resultam em trabalhos com carga horária reduzida. Os cargos mais comuns ocupados por mulheres são os de secretária, recepcionista, diarista, sendo incomum encontrar uma mulher em cargos mais elevados como na gerencia ou em cargos de poder público, e um dos motivos apontados ao questionar empregadores é em razão da mulher estar sujeita a possível gestação, condição fisiológica da mulher. Em particular, podemos abordar a triste realidade do assédio sexual no trabalho, pelo menos 84% do qual é perpetrado pelo superior imediato da vítima. É ilegal em face do abuso processual restringir outros para obter lucro. Em 2002, Hirigoyen compreendeu as complexidades do assédio sexual no local de trabalho: através do assédio no local de trabalho, devemos entender todo e qualquer abuso, primeiro manifestado por meio de comportamento potencialmente prejudicial, palavras, movimentos, gestos, escrita. Personalidade, dignidade ou integridade física ou psíquica, colocando em risco seu emprego ou condições degradantes de trabalho. (HIRIGOYEN, 2002, p. 65). Qualquer pessoa pode cometer assédio sexual sem distinção. Quando paramos para fazer mais análises sobre o tema, nos deparamos com que o assédio sexual era cada vez mais relevante para a moral, a dignidade e os bons hábitos de todos. Pois um homem que respeita seus princípios e bons costumes dificilmente fará algo para envergonhar seus vizinhos. Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità O que divide o tema, porém, é a caracterização do assédio sexual, quando para uma pessoa o assédio é qualitativo, enquanto para outra é apenas um comportamento “normal”. Portanto, devemos estar atentos a certas características do assédio sexual que podem ser comparadas a uma doença social muito antiga, porém, na sociedade contemporânea, essa doença surgiu em novas formas. Era a expressão de Michael Rubinstein, lembra Pinha Pedreira, “um novo termo para descrever um velho problema”. Na maioria das vezes usamos a mulher na pessoa assediada como exemplo porque infelizmente muitos recebem uma visão machista onde a mulher é submissa, vulnerável e obrigada a se submeter à situação. Embora a figura da mulher tenha aceitado longo silêncio diante da situação, hoje ela foi respaldada por medidas judiciais. O assediador ou o assediado será punido e indenizado na mesma medida sem distinção de gênero. De acordo com a Unidade de Gênero Pessoal da OIT, a prática de assédio sexual tem um impacto negativo nas relações de trabalho porque, em última análise, viola os direitos trabalhistas, incluindo os direitos à segurança, igualdade de oportunidades e saúde mental dos trabalhadores individuais. Apesar de ser um crime relacionado ao gênero, uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho concluiu que 52% das mulheres brasileiras já foram vítimas de assédio sexual no local de trabalho. Recentemente um caso que chocou o país foi a denúncia vinda de uma figurinista de uma rede de televisão onde um ator, antigo da casa, cometeu o crime do art. 216-A ao assediá-la dentro do ambiente de trabalho de ambos. Sueli Tonani, a figurinista assediada, vítima do assédio sexual dentro do seu próprio ambiente de trabalho, realizou a denúncia contra o ator José Mayer Drumond, onde relatou o ocorrido. Por fim, vemos que o assédio sexual nas relações de trabalho é mais prevalente do que pensávamos, e pode acontecer em qualquer local de trabalho, do mais simples ao mais extravagante, desde que alguém não respeite os princípios básicos do outro o assédio existirá. Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità Medidas Internacionais A dimensão internacional dos direitos humanos revela-se como fenômeno bastante recente na história mundial, consolidando-se a partir da Segunda Grande Guerra. Na realidade, os primeiros passos em direção ao processo de sua internacionalização já haviam sido dados anteriormente com o advento da Organização Internacional do Trabalho, da Liga das Nações e do Direito Humanitário, institutos que já pretendiam romper com a tradiçãodo Direito Internacional apenas como a lei da comunidade dos Estados e que já começavam a flexibilizar a noção de soberania nacional admitindo intervenções em prol da proteção dos direitos humanos. É verdade que os principais documentos internacionais de tutela dos direitos humanos de há muito proclamam a igualdade de todos. Não obstante, tal igualdade tem permanecido meramente formal, sendo árdua a tarefa de transformá-la em igualdade real entre mulheres e homens, principalmente quando se constata que a construção histórica dos direitos humanos sempre ocorreu com a exclusão da mulher e o reforço de ideologias patriarcais. A partir da Declaração Universal de 1948, o Direito Internacional dos Direitos Humanos passa a se desenvolver cada vez com maior intensidade, implicando na adoção de inúmeros tratados internacionais voltados à tutela de direitos fundamentais. Consolida-se, assim, um sistema normativo global de proteção internacional dos direitos humanos no âmbito das Nações Unidas. O principal documento internacional de proteção aos direitos da mulher hoje existente é a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, adotada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 1979. Tal Convenção foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro através de sua aprovação pelo Decreto Legislativo n.º 93, de 14 de novembro de 1983, e promulgação pelo Decreto n.º 89.406, de 1º de fevereiro de 1984 - revogado pelo Decreto nº Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità 4.377/2002. Como se percebe, percorreu todos os trâmites exigidos para que vincule o país signatário não só perante a comunidade internacional, como também internamente. Ao ratificar a Convenção, o Brasil assumiu o compromisso de adotar medidas para a eliminação da discriminação de gênero não somente no espaço público, mas também na esfera privada. Assim, o Estado comprometeu-se a não praticar qualquer ato que importe em discriminação contra a mulher, bem como a tomar medidas apropriadas para eliminar a discriminação praticada por qualquer pessoa, organização ou empresa. Seguindo, ainda que tardiamente, o compromisso firmado junto à comunidade internacional no sentido de implementar programas de discriminação inversa em prol das mulheres, editou-se no Brasil a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, que, ao estabelecer normas para as eleições políticas, reservou o mínimo de trinta por cento das vagas de cada partido ou coligação para candidaturas de mulheres14. Igualmente, a recente Lei nº 9.799, de 26 de maio de 1999, ao dispor sobre o acesso da mulher ao mercado de trabalho e apresentar uma série de vedações a práticas discriminatórias, permite expressamente a adoção de medidas com caráter de discriminação positiva. Nesse sentido, o parágrafo único do art. 373 A da Consolidação das Leis do Trabalho, acrescentado pela referida Lei nº 9.799/99, apresenta a seguinte redação: “O disposto neste artigo não obsta a adoção de medidas temporárias que visem ao estabelecimento das políticas de igualdade entre homens e mulheres, em particular as que se destinam a corrigir as distorções que afetam a formação profissional, o acesso ao emprego e as condições gerais de trabalho da mulher”. As leis em vigor em nosso país oferecem proteção jurídica às mulheres vítimas de discriminação ou qualquer outra forma de violência. O que nos falta, todavia, é conseguir dotar tais previsões legais de efetividade, fazendo com que sejam cumpridas a despeito da cultura patriarcal ainda dominante na maior parte do território nacional. Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità A conclusão a que se pode chegar é que a efetividade dos direitos humanos da mulher no Brasil apenas será factível quando a sociedade brasileira conseguir superar dogmas e preconceitos seculares. Conclusão O tema deste artigo “Discriminação do trabalho da mulher no Brasil”, possibilitou identificar, analisar e concluir que a preocupação com as mulheres no ambiente laboral não é recente, tão pouco uma preocupação apenas brasileira; as mulheres são discriminadas e assediadas no mercado de trabalho, tratando-se de um problema secular no cenário mundial. Embora podemos dizer que a mulher deixou de ser vista apenas como uma figura doméstica teve o reconhecimento de seus direitos um deles a obtenção de espaço no mercado de trabalho, estamos longe de vermos a aplicação fidedigna do Princípio a da Igualdade nessa relação, por exemplo, quando em obste é feita a comparação da mulher com um homem na mesma atividade profissional. As mulheres estão conquistando seus lugares de destaque no mercado, mas ainda sofrem diversas formas de discriminação e assédio, pelas organizações, através de seus superiores e pares, companheiros de trabalho na mesma função. Arrazoemos que a oportunidade da mulher em se inserir no mercado de trabalho sobreveio por ser uma mão de obra muito mais barata, possibilitando com seu ingresso uma enorme e cruel forma de exploração da mulher, no qual perpetua-se até nos dias de hoje, pois ainda encontramos empresas com diferenças salarias entre homens e mulher que ocupam a mesma função. Baseando-se nas referências pesquisadas, nota-se que a mulher superou a discriminação absoluta que sofria no passado, a discriminação está mitigada; outrora, a mulher era excluída da educação, não tinha direito de votar e tão pouco era contratada para exercer alguma função em organizações privadas ou públicas. Essas barreiras se Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità tornaram componente no desenvolvimento da estrutura da sociedade, consolidando como elemento a perspectiva que a mulher nunca seria equivalente ao homem, formando uma cultura discriminatória sobre o papel da mulher no mercado de trabalho, no qual é existente até os dias atuais. Podemos dizer trata-se de uma discriminação estrutural. O Brasil já possuí leis que buscam proteger a mulher no ambiente de trabalho, leis essas de origem nacional e outras criadas em atendimento a medidas de tratados internacionais de Direitos Humanos que aderiu, entretanto, todo o esforço legislativo ainda não foi suficiente. Se faz cabível a adoção de outras práticas que visem motivar as empresas nas contratações das mulheres e na criação de regulamentos internos que orientem seus colaboradores sobre esse tema tão importante, para que realmente ocorra uma eliminação de situações corriqueiras e assim haja punição dos colaboradores assediadores, uma política que deve ser estabelecida desde a pirâmide hierárquica até o operacional, e em todos os departamentos da organização. Além de políticas organizacionais, o Estado é a figura mais importante para que a mulher tenha seus direitos garantidos, se faz necessário um conjunto de mecanismos que vão desde fiscalização nas institucionais para identificar o comportamento das organizações, como por exemplo, a existência de diferenças salariais ou se a empresa busca a abrir oportunidades a mulheres em suas contratações. Criar canais de denúncias para as trabalhadoras, onde não exista a necessidade de reclamação trabalhista, mas que possam através de órgãos específicos com autoridades que visem estabelecer inquérito e investiguem possíveis crimes organizacionais, tendo assim uma forma de punições pecuniárias as empresas e a condenados nessa investigação administrativa de discriminação e assédio; é necessário a vedação de tais atos! Todavia, acreditamos que não é impossível a redução do preconceito com a mulher no ambiente de trabalho alcance o nível zero, mas para que ocorra essa eliminação, para que o caminho ao alcance da dignidade da pessoa humana e nesse caso em especifico da mulher, necessita-se de atuação em caráter dúplice, um conjunto de Direitodo Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità ações do Estado e das Organizações devem ser realizados em combinação, todos envolvidos na difusão e modificação das práticas discriminatórias existentes, em busca de encontrar a devida ressonância dos direitos sociais e nos valores sociais do trabalho. Desenvolvimento Fernanda Tavares - (Garantias existentes); Isabelle Curcio – (Discriminação e Assédio); Romério Moura – (Resumo/Conclusão); Susy Vianna – (Análise histórica na mulher no ambiente do trabalho); Tereza Penteado – (Medidas Internacionais); Referências Bibliográficas MARQUES, Fabíola. Direito do Trabalho e Mulher Empregada – Conquistas e Desafios no Brasil do Século XXI. 2018; MONTEBELLO, Mariana. A PROTEÇÃO INTERNACIONAL AOS DIREITOS DA MULHER. Revista da EMERJ, V.3, N.11,2.000; SILVA, Thais Corrêa. A mulher no mercado de trabalho: Uma introdução ao estudo sobre a desigualdade salarial entre gêneros nos setores da economia. Junho 2019; TEZZA, Luana; PERUSSELLO, Bruna; SOBOLL, Lis. DISCRIMINAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO. Disponível em:< http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/ conteudo/pdf/trab_completo_191.pdf#:~:text=A%20discrimina%C3%A7%C3%A3o%20da%20 mulher%20no%20mercado%20de%20trabalho,entre%20outros%2C%20tanto%20no%20Brasil %20como%20no%20exterior.>, Acesso em 18 de maio de 2.022; Direito do Trabalho Professor: Tiago Sacilotto Faculdade: Unità DIREITO NET. A efetividade do princípio da dignidade da pessoa humana nas relações de trabalho. Disponível em:< https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7368/A-efetividade- do-principio-da-dignidade-da-pessoa-humana-nas-relacoes-de-trabalho > Acesso em 10 de maio de 2.022; UNIDOS PELOS DIREITO HUMANOS. Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em:< https://www.unidosparaosdireitoshumanos.com.pt/course/lesson/articles-19- 25/read-article- 23.html > Acesso em 12 de maio de 2.022; CARMO, Jacqueline. Mulheres no mercado de trabalho: panorama da década. 2020. Disponível em:<https://www.catho.com.br/carreira-sucesso/carreira/o-mercado-de-trabalho/mulheres- no-mercado-de- trabalho-panorama-da-decada/> Acesso em 09 e maio de 2.022; Preconceitos enfrentados pelas mulheres na relação de trabalho. Disponível em: https://exame.com/carreira/4-tipos-de-preconceito-que-mulheres-enfrentam-no-trabalho-e- como-vence-los/ Acesso em 12 de maio de 2.022; JUSBRASIL.NET. Direitos humanos: discriminação da mulher no mercado de trabalho. 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