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CE - DIREITOS HUMANOS docx 1-9

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Prévia do material em texto

Governador do Estado de Minas Gerais
Romeu Zema Neto
Secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública
Rogério Greco
Subsecretário de Inteligência e Atuação Integrada
Christian Vianna de Azevedo
Superintendente Educacional de Segurança Pública
Roberta Corrêa Lima Ignácio da Silva
Diretora Pedagógica
Lilian Regina Gomes Guerra Lemos
Conteúdo
Eduardo Lopes Salatiel1
Vanessa Rodrigues Rabelo2
Coordenação Pedagógica
Vanessa Rodrigues Rabelo
Fabiana Gomes Prais
Belo Horizonte, MG
2022
2 Especialista em História da Arte e graduada em Letras/Português. Como servidora da Escola Integrada
de Segurança Pública, coordenou o Curso de Direitos Humanos para servidores do CIAD. É graduada
também em Pedagogia pela Uninter.
1 Mestre em Educação e Especialista em Direitos Humanos e Cidadania. Graduado em Filosofia e
Letras/Português. Foi professor em escolas públicas de Belo Horizonte e Região Metropolitana, além de
Educador do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte de Minas Gerais
(PPCAAM/MG).
SUMÁRIO
ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS 4
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS 11
ÉTICA, MORAL E ATUAÇÃO PROFISSIONAL 13
DOCUMENTOS E LEGISLAÇÕES 16
GRUPOS VULNERÁVEIS 22
REFERÊNCIAS 43
Seja bem-vindo(a) à Disciplina de Direitos Humanos!
ANTECEDENTES HISTÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS
O que hoje entendemos por direitos humanos é fruto de um longo
processo, no decorrer do qual foram sendo gestados aqueles princípios que
prepararam o terreno em que foi possível florescer a convicção expressa no
Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a saber, que:
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade.
A evolução dos direitos humanos está intimamente ligada com as lutas
contra as mais variadas formas de opressão e exploração que tiveram lugar ao
longo da história da humanidade, praticadas por grupos politicamente
dominantes e pelo próprio Estado. Nesse sentido, é importante a afirmação de
Norberto Bobbio, segundo o qual:
Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos
históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por
lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de
modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas (BOBBIO,
2004, p. 9).
No panorama da evolução histórica dos direitos humanos, tem sido
usual apontar o Código de Hamurabi (Séc. XVIII a.C.) como uma das primeiras
expressões desse processo. No entanto, o Cilindro de Ciro (Séc. VI a.C.) é
interpretado como expressão de um processo muito mais avançado, na medida
em que consolidou, por exemplo, a libertação de escravos, a possibilidade de
estrangeiros cativos retornarem a seus territórios e a liberdade de culto
religioso.
É precisamente nesse período, que compreende os séculos VIII e II a.C,
que o jurista Fábio Comparato aponta o surgimento do conceito de igualdade,
4
para o que contribuíram pensadores da Pérsia, Índia, China e Grécia, dentre
outras nações. Esse processo culminará, nos séculos seguintes, no advento do
conceito de pessoa humana, na Idade Média, e da ideia da pessoa como sujeito
de direitos, na Idade Moderna.
O processo de formação dos direitos humanos é atravessado por
influências das mais diversas áreas do conhecimento humano: filosofia, religião,
artes, etc. Mas, como apontamos inicialmente, determinados processos
políticos, como as lutas contra as opressões e poderes constituídos, se
constituíram como importantes momentos de afirmação desse ideário.
Destacam, nessa direção, as Declarações de Direitos da Virgínia e de
Independência dos Estados Unidos (1776), ambas no âmbito da luta pela
Independência, assim como a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão,
no marco da Revolução Francesa (1789).
Já no século XX, destacam-se a Constituição Mexicana de 1917, fruto
também de um processo revolucionário e a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH) de 1948, que representou um avanço significativo nesse
processo. Afinal, um dos seus pontos de partida é a triste constatação de que os
seres humanos podem construir o caminho de sua própria destruição.
Nesse sentido, a Declaração remete-nos aos estarrecedores
acontecimentos da II Guerra Mundial, em que milhões de pessoas perderam a
vida e outras milhões foram drasticamente afetadas. Como esforço de produzir
parâmetros que pudessem conduzir-nos a um mundo melhor, a Assembleia
Geral das Nações Unidas em Paris proclamou, no dia 10 de dezembro de 1948, a
DUDH, composta por 30 artigos e traduzida, desde então, para mais de 500
idiomas.
A seguir, você encontra o texto na íntegra da Declaração. Leia-a! Os
direitos dispostos aí dizem respeito, também, a você.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
5
PREÂMBULO
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e
que o advento de um mundo em que todos gozem de liberdade de palavra,
de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi
proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo
império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último
recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações
amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da
ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do
ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que
decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em
uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em
cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos
humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e
liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é
da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,
Pelo presente,
A Assembleia Geral,
Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o
ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o
objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por
promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu
reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos
dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob
sua jurisdição.
Artigo 1.
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade.
Artigo 2.
Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
6
raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política,
jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa,
quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo
próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo 3.
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4.
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico
de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo 5.
Ninguémserá submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante.
Artigo 6.
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido
como pessoa perante a lei.
Artigo 7.
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.
Artigo 8.
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe
sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo 9.
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10.
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e
pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir
sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação
criminal contra ele.
Artigo 11.
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser
presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de
acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no
momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou
internacional. Também não será imposta pena mais forte do que
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo 12.
Ninguém será sujeito a interferências em sua vida privada, em sua família,
em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataques à sua honra e
7
reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais
interferências ou ataques.
Artigo 13.
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência
dentro das fronteiras de cada Estado.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o
próprio, e a este regressar.
Artigo 14.
1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de
gozar asilo em outros países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos
contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 15.
1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do
direito de mudar de nacionalidade.
Artigo 16.
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e
fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento,
sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento
dos nubentes.
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à
proteção da sociedade e do Estado.
Artigo 17.
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com
outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo 18.
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e
religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a
liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática,
pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em
particular.
Artigo 19.
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente
de fronteiras.
Artigo 20.
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação
pacífica.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21.
8
1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país
diretamente ou por intermédio de representantes livremente
escolhidos.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu
país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade
será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal,
por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de
voto.
Artigo 22.
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança
social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e
de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo 23.
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a
condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual
remuneração por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência
compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se
necessário, outros meios de proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar
para proteção de seus interesses.
Artigo 24.
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável
das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.
Artigo 25.
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a
si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário,
habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e
direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez,
velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu
controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência
especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio,
gozarão da mesma proteção social.
Artigo 26.
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita,
pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução
elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será
acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no
mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos
humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a
9
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos
raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em
prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução
que será ministrada a seus filhos.
Artigo 27.
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural
da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e
de seus benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e
materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou
artística da qual seja autor.
Artigo 28.
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os
direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser
plenamente realizados.
Artigo 29.
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre
e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará
sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com
o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e
liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da
ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser
exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo 30.
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer
qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de
quaisquer dos direitos e liberdadesaqui estabelecidos.
Após essa leitura, você consegue perceber a importância dos direitos
humanos? Percebe como eles contribuem para salvaguardar direitos de
indivíduos e grupos historicamente oprimidos e marginalizados?
Por exemplo: a afirmação do direito à liberdade, a todos e todas,
representou um importante mecanismo de luta contra a escravidão. A
perspectiva de que somos iguais, independente do gênero, contribuiu para que
as mulheres pudessem votar e mesmo ocupar os mais diferentes postos de
trabalho.
10
Na mesma direção, poderíamos citar as lutas contra segregação racial e
contra a discriminação baseada nos mais diferentes fatores, como orientação
sexual e religiosa.
Mas, afinal, por que apesar de uma história marcada profundamente
pelas lutas em torno da afirmação desses direitos, ainda insistimos em falar de
“direitos dos manos” e “direitos de bandidos”?
Por que, muitas vezes, contribuímos na propagação de jargões
alimentados, sobretudo, por apresentadores de telejornais, cujo objetivo parece
ser, tão somente, a espetacularização da violência?
Por que, apesar de nos julgarmos competentes para propagar essas
“ideias”, muito provavelmente tenhamos dificuldade para responder a esta
simples pergunta: o que são os direitos humanos?
Por que temos tanta dificuldade em citar alguns dos direitos humanos
listados na mencionada Declaração Universal?
Bom! Após tantos questionamentos, façamos uma pausa para reflexão.
Abaixo, você encontrará um link para um vídeo curto que contribuirá para fixar
as informações apresentadas até aqui. Não deixe de assisti-lo!
O que são Direitos Humanos? (9m30s)
www.youtube.com/watch?v=uCnIKEOtbfc
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS
A seguir, apresentamos algumas características dos diretos humanos. O
conhecimento delas é de extrema importância para termos ideia do alcance e
dos limites colocados em relação à temática.
Historicidade: como apontamos no início, os direitos humanos são fruto
de um longo processo. Não se constituíram em um único momento, nem todos
de uma única vez.
11
https://www.youtube.com/watch?v=uCnIKEOtbfc
Universalidade: a aplicação dos direitos humanos alcança todas as
pessoas, independentemente de qualquer particularidade, tais como,
nacionalidade, gênero e orientação religiosa. Nesse sentido, toda e qualquer
pessoa tem assegurado os direitos constantes nas declarações, tratados ou
legislações pertinentes.
Essencialidade: essa característica reveste os direitos humanos de
importância tanto material, no sentido de que representa a dignidade e os
valores supremos da humanidade, quanto formal, pela posição de destaque
normativo. Observe, por exemplo, o disposto no § 3º do Art. 5º da Constituição
Federal de 1988:
Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.
Inalienabilidade: os direitos humanos não podem ser objeto de
transações típicas do âmbito econômico-patrimonial e, nesse sentido, são
inalienáveis, intransferíveis. Essa característica coaduna com a seguinte.
Irrenunciabilidade: não é possível renunciar aos direitos humanos.
Nenhuma pessoa pode, sob qualquer pretexto, abrir mão de um direito
humano, na medida em que eles são constitutivos da condição e da dignidade
humana. Um exemplo desse aspecto pode ser visualizado a partir do link a
seguir.
O caso das Competições de Arremesso de Anões
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arremesso_de_anão
Inviolabilidade: os direitos humanos não podem ser violados, sob
qualquer pretexto, mesmo em decorrência de legislações infraconstitucionais ou
determinações/atos de agentes públicos. Diante da violação, inclusive, o Estado
deve agir imediatamente na direção de obstar o ato e reparar os efeitos
12
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arremesso_de_an%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arremesso_de_an%C3%A3o
produzidos. Caso não o faça, os envolvidos podem ser responsabilizados
administrativa, cível e criminalmente.
Interdependência: essa característica aponta para a indivisibilidade e
inter-relação dos direitos humanos. Se por um lado, eles são autônomos, por
outro, é preciso reconhecer que a violação de um deles acarreta, via de regra, a
violação de outro(s).
Limitabilidade: contrariamente ao que podemos acreditar, os direitos
humanos não são ilimitados. É perfeitamente possível pensar na restrição de
direitos, desde que respeitados limites colocados pelas legislações nacionais e
internacionais, bem como os próprios princípios dos direitos humanos.
O direito à liberdade, nesse sentido, não impede o cumprimento da pena
de privação de liberdade. No entanto, esse processo deve observar o disposto
na Lei, constituindo crime, por exemplo, submeter o preso a tratamentos cruéis
ou degradantes, como é o caso da tortura, ou privá-lo do direito à educação,
dentre outros.
Efetividade: faz-se necessário que os direitos humanos não se constituam
como letra morta, mas sejam efetivamente garantidos. Nesse processo,
destacam-se o dever do Poder Público e a atuação dos seus agentes, a quem
não apenas se veda determinados comportamentos, mas, sobretudo, impõe-se
o dever de agir em sintonia com os princípios éticos e legais.
Você quer saber mais sobre essas e outras características dos direitos
humanos? Então, não deixe de assistir ao vídeo “Características dos Direitos
Humanos”, através do link a seguir.
Características dos Direitos Humanos
www.youtube.com/watch?v=pZFuwKbUMeg
13
https://www.youtube.com/watch?v=pZFuwKbUMeg
ÉTICA, MORAL E ATUAÇÃO PROFISSIONAL
“Você já sabe, mas não custa lembrar”, aos servidores públicos é vedado
uma série de condutas. Espera-se dele, ainda, uma atuação que coadune regras
morais e princípios éticos.
Muito provavelmente, você já assistiu a alguma aula ou leu alguma
explicação dando conta da diferença entre ética e moral. Não nos deteremos,
dessa forma, nessa seara, mas julgamos importante partir da diferenciação
proposta pela professora Ana Paula Pedro (2014, p. 486, adaptado):
A moral se refere a um conjunto de normas, valores (ex: bem, mal),
princípios de comportamento e costumes específicos de uma determinada
sociedade ou cultura, a ética tem por objeto de análise e de investigação a
natureza dos princípios que subjazem a essas normas, questionando-se
acerca do seu sentido, bem como da estrutura das distintas teorias morais e
da argumentação utilizada para dever manter, ou não, no seu seio
determinados traços culturais; enquanto a moral procura responder à
pergunta: como havemos de viver?, a ética defronta-se com a questão:
porque havemos de viver segundo x ou y modo de viver?
(...) a ética não é um conjunto de proibições nem a moral algo definível
somente num contexto de ordem religiosa.
Nesse contexto, podemos afirmar que, de um lado, a lei nos coloca
limites que, se ultrapassados, abre a possibilidade de nos convertermos em
criminosos. De outro, no entanto, há situações em que a lei não é explícita e
demanda do servidor um comprometimento com o que estamos chamando de
princípios éticos. Ou seja, espera-se que ele seja capaz de agir mediante um
processo reflexivo orientado pelo objetivo de construirmos uma sociedade justa.
Para citarmos nosso cotidiano de trabalho, sabemos que muitos
defendem que o preso ou o adolescente acautelado, por ter cometido um crime
ou ato infracional, pode/deve ser privado de outros direitos, justificando, nessa
direção, o uso da violência, por exemplo.
Nesse contexto, é preciso afirmar que agir à margem da lei não nos
converte em justiceiros, mas em criminosos. Sendo assim, é imperioso que,
enquanto servidores públicos, tenhamos consciência do dever de agir sempre
em consonância com a lei, a moral e os princípios éticos. Vale a pena, para tanto,
14
conhecer o Código de Conduta Ética do Agente Público e da Alta Administração
Estadual (Decreto nº 46.644/2014), disponívelno link a seguir.
Aproveite para pensar sobre o uso da expressão “Código de Ética”:
seguindo a diferenciação apresentada anteriormente, ela seria adequada?
Código de Ética
https://www.conselhodeetica.mg.gov.br/o-codigo-de-etica/codigo-de-conduta-e
tica-do-agente-publico-e-da-alta-administracao-estadual
Buscando aprofundar a reflexão a respeito da atuação dos agentes
públicos, convidamos você a ler o texto abaixo, escrito pelo delegado David
Queiroz3.
Não fiz concurso para Batman!
(David Queiroz)
Não costumo comentar sobre as ocorrências policias que participo, mas
acredito que a de hoje mereça discussão.
Um cidadão foi apresentado na delegacia de polícia acusado de ter sido
flagrado tentado deixar um mercado com 14 peças de picanha. Iniciado o
interrogatório do conduzido, cientifiquei-o do direito de permanecer calado
e da acusação que pesava em seu desfavor. O conduzido, então, usuário de
drogas, confessou a tentativa de furto, contudo aduziu que havia tentado
furtar 04 peças de carne e não 14, como afirmado pelo gerente do
estabelecimento comercial. Dirigi-me ao gerente do local e indaguei-lhe
sobre a alegação do preso. Surpreendentemente, ele respondeu que havia
implantado as outras 10 peças de carne junto ao preso porque sabia que
somente com as 04 peças realmente subtraídas ele seria solto ainda na
delegacia de polícia, tendo em vista a aplicação do princípio da
insignificância! Respirei fundo e confesso que por um instante pensei em
simplesmente ignorar a confissão que estava fazendo. Acredito que ele
também imaginou que eu apoiaria sua atitude, motivo pelo qual confessou.
Todavia, a vontade de “fazer a coisa certa” falou mais alto. Assim,
constrangido, e após até mesmo pedir desculpas ao gerente, dei-lhe voz de
prisão em flagrante pelo crime de fraude processual (art. 347 do CP).
Tudo estaria perfeito se a história parasse por aqui. Contudo, minha atitude,
respeitosa à lei, gerou indignação de muitos e severas críticas, como, por
exemplo: É um absurdo soltar o “vagabundo” e prender a “vitima”? Que
falta de bom senso desse delegado, poderia ter dado um “jeitinho”, bastava
ignorar a afirmação do preso; Se ele quer proteger o preso, vira defensor; É
3 O próprio delegado comenta o fato em vídeo publicado no YouTube. Para conferir, acesse:
www.youtube.com/watch?v=fUCkm_1xNKM
15
https://www.youtube.com/watch?v=fUCkm_1xNKM
por isso que o país não vai para frente, somente os “vagabundos” tem
direitos.
Confesso que em nada me agrada ouvir essas afirmações. Enfatizo que não
senti nenhum prazer em dar voz de prisão àquele homem. Mas gostaria de
deixar bem claro uma coisa: eu não fiz concurso para Batman! Não é função
do delegado de polícia ser “justiceiro” e tentar solucionar o problema da
criminalidade com as próprias mãos. Orgulho-me de dizer que delegado de
polícia é o primeiro garantidor dos direitos individuais e isso não pode ser
mera retórica. O delegado de polícia deve buscar a imparcialidade e deixar
de lado o maniqueísmo contaminante que cega qualquer raciocínio jurídico
sensato.
Seria muito fácil me omitir diante da afirmação daquele “infeliz” que foi
conduzido pelo furto de picanhas. Seria muito fácil simplesmente manda-lo
para o presídio, afinal, “é só mais um viciado”. Mas eu não conseguiria
dormir tranquilo diante de tamanha injustiça.
Resta-me agora tentar convencer os “especialistas em segurança pública”
que minha atitude não é de um fomentador de criminalidade, mas a
demonstração de que a delegacia de polícia é um lugar onde a lei é
cumprida.
Resta-me, também, a difícil tarefa de me sentir menos constrangido diante
da voz de prisão e das consequentes críticas.
Vou me socorrer em Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de
tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Certamente, esse texto ensejaria boas discussões e é possível que
alguém, após lê-lo, julgue a atitude do delegado como inadequada. Nesse caso,
devemos afirmar que, enquanto agentes públicos e mesmo como cidadãos, é
exatamente atitudes como a que ele tomou que devemos ter e fomentar.
Conhecedor das leis, o delegado não pode se curvar diante de
“costumes” que, sabidamente, contrariam o estado de direito. Nesse sentido,
inclusive, é importante conhecer as regras e normas que orientam nosso
trabalho, enquanto servidores públicos, em especial dos sistemas prisional e
socioeducativo.
DOCUMENTOS E LEGISLAÇÕES
16
A Constituição Federal de 1988 estabelece princípios, muitos deles
assimilados da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e de outros
tratados internacionais de direitos humanos, a partir dos quais deve se dar a
organização do Estado brasileiro.
Frente ao crescimento da população carcerária e do número de
adolescente acautelados, é importante destacar alguns elementos que, desde
esse documento, servem de fundamento à normatização do cumprimento das
penas e mesmo das medidas socioeducativas.
No que diz respeito à punição pelo cometimento de crimes, devemos
observar, com especial atenção, o Artigo 5º, que compõe o rol “Dos direitos e
Garantias Fundamentais”. Vejamos:
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com
a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer
com seus filhos durante o período de amamentação;
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
Sabemos dos desafios colocados à efetivação desses direitos. Eles
apontam para diversos aspectos, um deles: a falta de infraestrutura adequada
aos estabelecimentos penais, o que desconsidera, muitas vezes, a própria
segurança dos servidores. Por outro lado, apontam, também, para um ideário,
ainda presente em nossa cultura, de que, para punir um criminoso, se justifica,
inclusive, o cometimento de outro crime.
Nesse contexto, a existência de regras e normas, que orientem o
funcionamento das instituições e a conduta dos seus agentes, é de fundamental
importância. Com isso, objetiva-se que a responsabilização pelo cometimento
17
de crimes e o cumprimento das penas atendam aos imperativos da justiça e não
da vingança.
No âmbito nacional, além da Constituição de 1988, devemos nos
atentar, principalmente, a dois textos legais, quais sejam: a Lei nº 7.210, de 11
de julho de 1984, que institui a Lei de Execução Penal e a Lei Estadual nº 11.404,
de 25 de janeiro de 1994, que contém normas de execução penal.
Ainda no contexto de Minas Gerais, a Resolução SEDS nº 1.618, de 7 de
julho de 2016, em seu Capítulo IV, apresenta uma série de documentos
nacionais e estaduais que servem de “parâmetros e fundamentos da
Normatização do Sistema de Gestão da Qualidade Prisional”. Vale a pena uma
leitura!
No âmbito internacional, destacam-se os documentos apresentados a
seguir. Neles, são traçados parâmetros que devem ser observados relativamente
ao trabalho realizado nos estabelecimentos de restrição e privação de liberdade,
impondo obrigações ao Brasil, enquanto Estado Parte, e vinculando nossa
atuação enquanto servidores públicos.
Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos:
conhecidas como Regras de Mandela, foram aprovadas pela Assembleia Geral
da ONU no ano de 2015. Constituem-se como uma atualização das Regras
criadas em 1955 que, frente ao crescente número de pessoas encarceradas e a
precarização das condições de cumprimento das penas, mostraram-se
ultrapassadas.
Nesse contexto, em que cresce certo clamor popular por um
encarceramento cada vez maior, sem dúvida alimentado por programas
jornalísticos policialescos, é importante observamos o conteúdo da Regra 4:
Os objetivos de uma sentença de encarceramentoou de medida similar
restritiva de liberdade são, prioritariamente, de proteger a sociedade contra
a criminalidade e de reduzir a reincidência. Tais propósitos só podem ser
alcançados se o período de encarceramento for utilizado para assegurar, na
medida do possível, a reintegração de tais indivíduos à sociedade após sua
soltura, para que possam levar uma vida autossuficiente, com respeito às
leis.
18
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm
https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa-nova-min.html?tipo=LEI&num=11404&ano=1994
http://jornal.iof.mg.gov.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/167310/caderno1_2016-07-07%2038.pdf?sequence=1
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/05/39ae8bd2085fdbc4a1b02fa6e3944ba2.pdf
O texto apresenta 122 regras, organizadas em dois grandes blocos: I)
Regras de Aplicação Geral e II) Regras Aplicáveis a Categorias Especiais. Elas
tratam de diferentes aspectos da organização e funcionamento das unidades de
privação de liberdade. Estabelecem, nessa direção, critérios para o tratamento
dos presos que vão desde as características das acomodações à revista íntima,
da retenção de pertences às inspeções internas e externas. O segundo bloco, em
especial, estabelece critérios para diferentes categorias de presos: sentenciados,
com transtornos mentais ou problemas de saúde, sob custódia ou aguardando
julgamento, presos civis e pessoas presas ou detidas sem acusação.
Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e
Medidas não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras: conhecidas
como Regras de Bangkok, surgem como uma maneira de adequar as
especificidades acerca da realidade das mulheres privadas de liberdade, tendo
em vista que as Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos, publicadas em
1955, não contemplavam as especificidades de tal grupo. As Regras de Bangkok
são divididas em quatro seções e conta com 70 artigos que contemplam desde o
atendimento geral às mulheres até as especificidades das adolescentes, das
gestantes e das mulheres oriundas de povos originários.
Ao ingressar no sistema prisional, de acordo com as Regras de Bangkok, a
mulher tem a garantia, quando for responsável pela guarda de crianças, de ter
acessos necessários para decidir o melhor caminho a ser destinado ao menor.
Além disso, quando a mulher estiver no período do parto e imediatamente após,
em nenhuma hipótese devem-se utilizar instrumentos de contenção. Para as
adolescentes, é assegurado o direito à escolarização.
Percebemos, logo, que existem especificidades no atendimento às
mulheres. Como abordamos anteriormente, as Regras de Bangkok foram criadas
especialmente porque as mulheres possuem especificações e vulnerabilidades
em relação aos demais.
19
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/03/a858777191da58180724ad5caafa6086.pdf
Proposição de atividade
Observe a disposição da regra n. 28:
Visitas que envolvam crianças devem ser realizadas em um ambiente
propício a uma experiência positiva, incluindo no que se refere ao
comportamento dos funcionários/as, e deverá permitir o contato direto entre
mães e filhos/as. Onde possível, deverão ser incentivadas visitas que
permitam uma permanência prolongada dos/as filhos/as.
Pensando na realidade de uma unidade prisional ou socioeducativa, reflita: o
que você, enquanto gestor/gestora, pode propiciar para que o ambiente de
visita entre mães e crianças permita uma experiência conforme a descrita na
regra n. 28?
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da
Infância e da Juventude: conhecidas como Regras de Pequim (ou Beijing), foram
adotadas pela Assembleia Geral da ONU em 1985. O documento é divido em
seis partes que tratam dos seguintes temas: I) princípios gerais; II) investigação e
procedimento; III) julgamento e decisão; IV) tratamento em meio aberto; V)
tratamento institucional e VI) pesquisa, planejamento e formulação de políticas
e avaliação.
Grande parte do seu conteúdo foi assimilada pelas Regras de Mandela e,
de sua leitura, podemos observar que a legislação brasileira, relativa ao tema,
está em sintonia com o documento. Ao lê-lo, você perceberá que diversos
conceitos e orientações, aí presentes, estão contemplados, por exemplo, no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Da mesma forma, poderá evidenciar
algumas influências dessas Regras no funcionamento, sobretudo, das Unidades
Socioeducativas e outros órgãos de administração da justiça juvenil.
Regras Internacionais para o Enfrentamento da Tortura e Maus-tratos.
No esforço de combate à tortura, diversos documentos foram elaborados no
âmbito internacional, desde a DUDH que, em seu artigo 5º, estabeleceu que
“ninguém será submetido a tortura, nem a penas ou tratamento cruéis,
desumanos ou degradantes”. Proibição esta que está presente, também, no
artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Nesse passo, o Estado brasileiro vem
20
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/lex47.htm
se comprometendo com a temática, o que o levou a ratificar as convenções e o
protocolo, a seguir mencionados:
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura: ratificada pelo
Decreto nº 98.386, de 9 de dezembro de 1989. O documento, composto de 24
artigos, estabelece uma série de medidas a serem tomadas, pelos Estados Parte,
no sentido de prevenir e punir a tortura.
Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes das Nações Unidas: ratificada pelo Decreto nº 40,
de 15 de fevereiro de 1991. Composto por 33 artigos, o texto estabelece
compromissos que devem ser cumpridos pelos Estados Partes, dentre eles, por
exemplo, o de fazer figurar como crime, nas respectivas legislações penais, a
prática da tortura.
Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos
ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes: ratificado pelo Decreto nº 6.085,
de 19 de abril de 2007. Organizado em 37 artigos, o Protocolo estabelece
medidas adicionais àquelas constantes da Convenção contra a Tortura, com
especial atenção à prevenção. Seu objetivo é assim estabelecido no Artigo 1º:
Estabelecer um sistema de visitas regulares efetuadas por
órgãos nacionais e internacionais independentes a lugares
onde pessoas são privadas de sua liberdade, com a
intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Esses compromissos assumidos, inclusive, levaram o Brasil a aprovar a Lei
nº 12.847, de 2 de agosto de 2013, que criou o Sistema Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura.
Princípios e boas práticas para a proteção das pessoas privadas de
liberdade nas Américas (Resolução CIDH 01/08): elaborados pela Comissão
Interamericana De Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos
(OEA), surgiram como forma de garantia à proteção da dignidade de adultos e
adolescentes em privação de liberdade. Ao todo, o texto contempla 25
21
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12847.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12847.htm
princípios que elencam os teores básicos para a garantia de tais boas práticas
desde a averiguação de fatos até a permanência da pessoa privada de liberdade
sob a custódia do Estado.
Os Princípios, por exemplo, estipulam que as pessoas privadas de
liberdade possuem o direito à educação. Além disso, o trabalho, em tal situação,
tem caráter construtivo e não punitivo. Desta maneira, os privados de liberdade
devem exercer trabalhos que promovam a construção da própria existência e de
forma remunerada, respeitando as diretrizes que permeiam os demais
trabalhadores do Estado sob o qual a pessoa está tutelada. Ainda de acordo com
os Princípios, os adolescentes autores de ato infracional submetem-se às
mesmas normativas dos demais, quando em situação de cumprimento de
medida socioeducativa, dispostas também pelo Estado.
Ademais, é importante ressaltar que, de acordo com os Princípios, as
pessoas privadasde liberdade deverão ser separadas em decorrência de gênero,
idade e ainda “a razão da privação de liberdade, a necessidade de proteção da
vida e da integridade dessas pessoas ou do pessoal, as necessidades especiais
de atendimento [...]” (OEA, 2008, p. 193). Além disso, precisamos lembrar que
os Princípios norteiam que estas separações não devem implicar em
“discriminação, a imposição de tortura, tratamento ou penas cruéis, desumanos
ou degradantes ou condições de privação de liberdade mais rigorosas ou menos
adequadas a um determinado grupo de pessoas.” (OEA, 2008, p. 193).
Vimos, logo, que os Princípios e boas práticas para a proteção das
pessoas privadas de liberdade nas Américas fomentam atitudes que coíbem
torturas e ações desumanas no cotidiano de unidades prisionais e
socioeducativas.
Agora é hora de ler os Princípios na íntegra e refletir sobre a sua atuação
profissional!
22
GRUPOS VULNERÁVEIS
Nos tópicos anteriores, vimos que a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH), no artigo 1º, estabelece que “todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Apesar de termos os direitos
de liberdade, igualdade e dignidade garantidos pela Declaração, uma vez que o
Brasil é um país signatário, ainda existem lacunas no cumprimento de tais
garantias.
Em algum momento, já teve medo de andar na rua apenas pelo fato de
ser quem você é? Nesse contexto, já sentiu medo de ser xingado ou agredido?
Ou, até mesmo, algum tipo de violência já aconteceu com você em decorrência
de alguma característica sua? Caso não tenha ocorrido alguma dessas situações,
você já presenciou isso acontecer com alguém?
Saiba que situações assim podem ocorrer com pessoas pertencentes a
grupos de vulnerabilidade. Por isso, existem normas específicas para que tais
grupos sejam protegidos e tenham as garantias dispostas na DUDH e outras
normativas asseguradas.
Vamos conhecer, a seguir, quais são os grupos vulneráveis de acordo
com a Rede de Direitos Humanos e Ensino Superior:
Figura 1 – Grupos vulneráveis
Fonte: Rede de Direitos Humanos e Ensino Superior (DHES, 2014)
23
Afinal, o que são grupos vulneráveis?
De acordo com a Rede de Direitos Humanos e Ensino Superior (DHES,
2014, p. 13):
A vulnerabilidade está em todos e em cada um de nós, da mesma forma
como estão outras características próprias do ser humano, como a
consciência e a capacidade de amar; a empatia e a vontade de
sobrevivência. Não há pessoa que possa ser considerada invulnerável.
Sendo assim, se todos nós possuímos vulnerabilidade, por que existem
grupos determinados considerados vulneráveis? Segundo a mesma instituição
(DHES, 2014, p. 13):
Aqueles que são vulneráveis – todos – o são em diferentes graus,
dependendo da capacidade de resistência perante os desafios que
enfrentamos. Por isso, a noção de vulnerabilidade leva-nos rapidamente a
falar de igualdade, porque nem todos temos a mesma capacidade de
resistência, porque nem todos somos igualmente vulneráveis, porque
podemos identificar facilmente características que tornam algumas pessoas
grupos, mais vulneráveis do que outros.
Desta forma, de uma maneira geral, podemos compreender que os
grupos vulneráveis são aqueles que possuem desigualdades de abordagem,
acessos, oportunidades e outros aspectos em relação a outros fragmentos da
sociedade. Segundo a Rede de Direitos Humanos e Ensino Superior (DHES, 2014,
p. 13): são vulneráveis quem tem diminuídas, por diferentes razões, suas
capacidades de enfrentar as eventuais violações de direitos básicos, de direitos
humanos.
Crianças e Adolescentes
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990, crianças são pessoas até 12 anos incompletos e
adolescentes estão compreendidos entre 12 e 18 anos incompletos (BRASIL,
24
1990). Em diversos momentos e sociedades, a infância e a adolescência nem
sempre foram diferenciadas da vida adulta.
Vamos conhecer um breve histórico da construção do conceito de
infância?
Quadro 1 – Breve histórico da infância ao longo dos séculos
Idade Média
Não havia grandes citações sobre crianças na Idade Média,
uma vez que, como elas não serviam para guerrear,
possuíam pouca importância neste contexto histórico. Por
causa, ainda, da alta mortalidade infantil da época, não
existiam esforços de investimentos.
Século XVII
Destaca-se a visão utilitarista que a criança começa a
receber no século XVII, enfatizando que a criança, caso
sobrevivesse aos empecilhos daquele século, seria utilizada
como mão de obra na economia familiar.
Século XVIII
Na Europa do século XVIII, o Estado inicia as ideias para a
criação das primeiras escolas. Além disso, a Igreja Católica
preocupa-se com a erradicação do infanticídio.
Breve
panorama
histórico no
Brasil
Podemos relembrar, de forma sucinta, a maneira como a
criança era vista no Brasil colonial, uma vez que as crianças
negras escravizadas começavam a trabalhar aos cinco anos
e aos doze realizavam as mesmas tarefas que os adultos.
Por outro lado, as crianças brancas, quando nasciam em
famílias abastadas, eram cuidadas por escravas negras e,
aos seis anos, eram submetidas às escolas cristãs. Devemos
lembrar que o castigo físico era que havia de comum entre
ambos os grupos.
Fonte: elaborado a partir de Marcelino (2018)
Como vimos de forma breve, ao longo dos séculos, as crianças e os
adolescentes foram vistas de maneiras diversas. Até certo momento da história
ocidental, o conceito de adolescência nem sequer existia. Ariès (apud Marcelino,
2018) menciona que o conceito de adolescência, no ocidente, em especial a
partir da Europa, surge no final do século XIX.
Ainda na atualidade, persistem formas de violência contra crianças e
adolescentes. Observe, a seguir, alguns exemplos:
25
As crianças, em especial, necessitam de cuidados com a higiene e a
alimentação, realizados e/ou supervisionados por responsáveis, por exemplo.
Quando tais cuidados não são observados, a criança pode não adquirir
nutrientes necessários para um desenvolvimento adequado.
A exploração sexual ainda é recorrente na contemporaneidade.
Vejamos uma ocorrência do estado de Manaus. Na operação “Araceli4”, como
podemos ver em reportagem de Elaina Nascimento (2019), ao menos cinco
homens foram presos acusados de exploração sexual de adolescentes. Os presos
manipulavam as vítimas para que elas se prostituíssem e ficavam com boa parte
do dinheiro obtido por elas. Notamos, com especial atenção, que os acusados
praticavam tal exploração com adolescentes da própria família. Este caso não é
único. Em muitas situações, os abusadores têm a confiança da vítima.
Percebemos, aqui, a vulnerabilidade que permeia as crianças e os adolescentes.
Além da exploração, é importante ressaltar, ainda, a existência da própria
violência sexual contra este grupo, que pode ocorrer, também, por pessoas
próximas às vítimas.
Devemos ressaltar, ainda, as violências físicas e psicológicas sofridas
por crianças e adolescentes. Castigos físicos, por exemplo, são formas de
violência física. Xingar e/ou humilhar são formas de violência psicológica.
Desta forma, percebemos como foi essencial a disposição do ECA
enquanto marco legal para a promoção de direitos e garantias para as crianças e
os adolescentes; ainda que, nos dias de hoje, existem lacunas na efetivação de
tal normativa.
Tendo em vista a forma histórica como crianças e adolescentes foram
encarados, você já se perguntou como os direitos garantidos, na atualidade,
foram fundamentados?
4 Cf.:
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/05/18/cinco-homens-sao-presos-em-manaus-durante
-operacao-contra-abuso-e-exploracao-sexual-de-criancas-e-adolescentes.ghtml
26
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/05/18/cinco-homens-sao-presos-em-manaus-durante-operacao-contra-abuso-e-exploracao-sexual-de-criancas-e-adolescentes.ghtml
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/05/18/cinco-homens-sao-presos-em-manaus-durante-operacao-contra-abuso-e-exploracao-sexual-de-criancas-e-adolescentes.ghtmlSegundo o importante jurista italiano Alessandro Baratta (2013), de
forma imediata, os países não se adequaram ao que era disposto pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda de acordo com o autor, foi na
década de 1980, com o processo de redemocratização, que ocorria em diversos
países da América Latina, e com a proclamação da Convenção sobre os Direitos
da Criança das Nações Unidas de 1989, que mobilizações passam a ocorrer com
o intuito de assegurar direitos específicos para crianças e adolescentes:
A assinatura da Convenção e seu processo de ratificação e de reforma
legislativa representam uma condição não suficiente, mas importante e
necessária, na luta para a transformação da realidade dos direitos humanos
das crianças, que perpassaria pela realidade dos três componentes ou três
classes de atores envolvidos no processo: o aparelho estatal, a sociedade
civil, ou seja, o movimento social, e o mundo jurídico oficial. (BARATTA,
2013, p. 06)
A Convenção foi definitivamente um avanço na forma como a criança e
o adolescente são vistos. Se antes este grupo era dimensionado de forma
meramente utilitária e sem vontades e percepções próprias, agora a criança e o
adolescente passam a ser protagonistas da própria existência. Segundo Baratta
(2013, p. 06):
A Convenção enfoca, em diversas normas, a criança, ou seja, pessoas abaixo
de 18 anos, como sujeito de direito no sentido pleno e não somente como
pessoa incapaz representada pelos adultos aos quais se imputa a
competência e o dever de cuidar dela. Isso significa que, com a única
limitação substancial decorrente das diferentes fases de desenvolvimento da
sua capacidade de expressão e linguística, a criança é respeitada como
portadora de uma percepção autônoma das suas necessidades, da sua
situação e da situação ao seu redor; como portadora de um pensamento, de
uma consciência e de uma religião; como sujeito do qual dependem
livremente a comunicação e a associação com outros sujeitos.
O ECA surgiu como forma de exaltar o que é disposto no art. 227 da
Constituição Federal de 1988, considerada a “Constituição Cidadã”, uma vez que
abarca os princípios estipulados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948). Vejamos o que dispõe o art. 227 da Constituição Federal (1988):
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
27
Desta maneira, percebemos que os direitos garantidos às crianças e
aos adolescentes são fundamentais para a promoção da dignidade, uma vez
que, como vimos, nem sempre ela foi proporcionada a este grupo e ainda
existem lacunas a serem supridas para a promoção integral da defesa do grupo.
Mesmo com os instrumentos legais, como o ECA, percebe-se que as
crianças e os adolescentes ainda sofrem abusos e violências, como o que
pudemos ver, por exemplo, na operação “Araceli”. Sendo assim, as crianças e os
adolescentes são consideradas vulneráveis; pois, tanto ao longo da história
quanto na atualidade, este grupo sofre abusos físicos, sexuais, psicológicos,
dentre outros.
No módulo específico, os cursistas da área socioeducativa conhecerão
mais detalhes do atendimento aos adolescentes privados de liberdade. Já os
cursistas da área prisional, aprenderam até aqui o essencial sobre os preceitos
históricos para a garantia e promoção dos direitos das crianças e adolescentes.
Pessoas com Deficiência
A Assembleia Geral da ONU estabeleceu a Convenção pelos Direitos das
Pessoas com Deficiência (2006), na qual o termo “pessoa com deficiência”
torna-se comumente utilizado em oposição às expressões como “pessoa
deficiente”, “portador de deficiência”, “excepcional”, “especial”, dentre outras.
Isso ocorre com o intuito de retirar os estigmas de incapacidade, contágio,
dentre outros que permearam as pessoas com deficiência historicamente.
De acordo com o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que
regulamenta a Política Nacional com o intuito de integrar a pessoa com
deficiência, “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho
de atividade, dentro do padrão [...]” é considerada deficiência.
28
Historicamente, em diversas sociedades e épocas, as pessoas com
deficiência foram tratadas de maneiras diversas. Vejamos, a seguir, um breve
panorama:
Quadro 2 – As pessoas com deficiências ao longo da história
Roma Antiga
É possível relembrar que, na Roma Antiga, plebeus e
nobres eram autorizados a sacrificar os filhos que nasciam
ou adquiriam algum tipo de deficiência.
Esparta
Na sociedade espartana, o infanticídio era igualmente
aceito em casos de deficiência. A justificativa se dava
porque os espartanos cultuavam a beleza física, que era
imprescindível como qualidade. Nos dias de hoje, temos a
consciência de que deficiências não são fatores que
tornam uma pessoa menos bela do que outra.
Atenas
Através das influências de Aristóteles, as pessoas com
deficiências recebiam proteção, uma vez que para
Aristóteles era preciso sanar as desigualdades dos grupos
vulneráveis com tratamentos diferenciados para estes.
Egito Antigo
Para os egípcios, as pessoas com deficiência deveriam ser
tratadas com respeito, tendo em vista que esse era um
dever moral.
Império
Bizantino
Durante o Império Bizantino, a Igreja Católica, em
conjunto com o Estado, segregava a pessoa com
deficiência nos mosteiros.
Primeira e
Segunda Guerras
Mundiais
Durante a primeira Guerra Mundial, sacrifícios humanos
foram cometidos em nome de uma “limpeza” dos
indesejáveis (incluem-se, aqui, as pessoas com
deficiência). Na Alemanha Nazista, a ideia se perpetuou e
milhares de pessoas foram executadas para que “erros”
não fossem perpetuados na espécie.
Período
pós-guerras
Com o fim da segunda Guerra Mundial, e a partir da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), as
pessoas com deficiência passaram a receber atenção no
campo de direitos e garantias na sociedade
contemporânea.
Fonte: elaborado a partir de Toscan (2018)
Ainda nos dias de hoje, na nossa sociedade, o ciclo de violência contra a
pessoa com deficiência persiste. Vejamos, a seguir, alguns exemplos:
29
Há a negligência pela rede intrafamiliar. Em ocasiões nas quais as
pessoas com deficiência necessitem de auxílio de terceiros, estes podem ser
negados. Ao se alimentarem, a título de exemplificação, caso não haja o suporte
necessário por parte de alguém, a pessoa com deficiência pode sofrer déficits
alimentares.
Por outro lado, existe, também, a exploração financeira. Pessoas
próximas tiram proveito daquelas com deficiência, ao usurparem os benefícios
financeiros.
A violência sexual também acomete às pessoas com deficiência. Por
estarem em situação de cuidados de terceiros, por exemplo, a pessoa com
deficiência encontra-se vulnerável em face a possíveis abusadores, uma vez que,
em decorrência da própria deficiência, em ocasiões não tão raras, a pessoa não
possui condições mínimas necessárias para denunciar quem abusa.
Vimos, então, que ao longo da história, em diversas sociedades e
épocas, e ainda na atualidade, há o tratamento desumano de pessoas com
deficiência. No âmbito cotidiano, nas unidades prisionais, existem regras
específicas para o atendimento à pessoa com deficiência privada de liberdade.
As Regras de Mandela, que objetivam regras mínimas das Nações Unidas para o
tratamento de presos, divulgadas pelo Conselho Nacional de Justiça (Brasil,
2016a), estabelecem critérios para o atendimento digno às pessoas com
deficiência. Vejamos, a seguir, os principais pontos:
Quadro 3 – Critérios para atendimento às pessoas com deficiência
Acessibilidade
As administrações prisionais devemfazer todos os ajustes
possíveis para garantir que os presos portadores de
deficiências físicas, mentais ou outra incapacidade tenham
acesso completo e efetivo à vida prisional em base de
igualdade. (p. 19)
Confinamento
solitário
A determinação de confinamento solitário será proibida no
caso de preso portador de deficiência mental ou física
quando essas condições possam ser agravadas por tal
medida. (p. 28)
30
Profissionais
de saúde
Os profissionais de saúde devem ter a autoridade para rever
e recomendar alterações na separação involuntária de um
preso, com vistas a assegurar que tal separação não agrave
as condições médicas ou a deficiência física ou mental do
preso. (p. 28)
Pessoas com
deficiências
sensoriais
Presos com deficiências sensoriais devem receber as
informações de maneira apropriada a suas necessidades. (p.
30)
Permanência
nas unidades
Os indivíduos considerados imputáveis, ou que
posteriormente foram diagnosticados com deficiência
mental e/ou problemas de saúde severos, para os quais o
encarceramento significaria um agravamento de sua
condição, não devem ser detidos em unidades prisionais e
devem-se adotar procedimentos para removê-los a
instituição de doentes mentais, assim que possível. (p. 42)
Instituições
especializadas
Se necessário, os demais presos que sofrem de outros
problemas de saúde ou deficiências mentais devem ser
observados e tratados sob cuidados de profissionais de
saúde qualificados em instituições especializadas. (p. 42)
Fonte: elaborado a partir de Brasil (2016a)
Atente-se: nas unidades socioeducativas, também deve-se seguir os
dispositivos das Regras de Mandela.
Até agora, vimos como são garantidos os direitos de crianças e
adolescentes e como é o correto acolhimento de pessoas com deficiência. Nos
próximos tópicos, aprofundaremos nossos estudos em mais três grupos
vulneráveis.
Mulheres
Antes de começarmos este capítulo, proponho que você faça uma
reflexão. Quais são as 5 mulheres mais importantes da sua vida? Já imaginou?
Sugiro que você assista ao seguinte vídeo para prosseguirmos com o conteúdo:
2 minutos para entender - Violência Doméstica
www.youtube.com/watch?v=jv7FWOmMU70
31
http://www.youtube.com/watch?v=jv7FWOmMU70
Assistiu? Percebemos que a cada cinco mulheres uma sofrerá algum tipo
de violência, apenas pelo fato de ser mulher, ao longo vida. Logo, ao menos uma
das cinco mulheres mais importantes tem a grande chance de ser uma vítima.
A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, que cria mecanismos para
coibir e prevenir a violência contra a mulher, foi elaborada com base na luta de
Maria da Penha. Ela foi agredida diversas vezes pelo ex-marido, chegando a
sofrer uma tentativa de homicídio. Mesmo realizando denúncias, ele
permanecia impune. Após ficar paraplégica, em decorrência da violência
praticada pelo antigo companheiro, Maria da Penha lutou para que a
impunidade não atingisse mais outras mulheres. O caso de Maria da Penha foi
analisado pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, da Organização
dos Estados Americanos (OEA), e, a partir daí, era iniciada a mobilização para a
criação de lei específica para o combate à violência contra a mulher.
Pela lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, que ficou conhecida como
Lei Maria da Penha, são descritos cinco tipos de violência contra a mulher: física;
no caso de danos ao corpo; psicológica; quando a mente é ferida; moral; caso a
imagem da mulher sofra danos; sexual; se a mulher for forçada, obrigada ou
imposta a atos sexuais que ela não deseja; e patrimonial e econômica, quando a
mulher tem os bens e pertences retidos ou confiscados ou se ela é proibida de
exercer tarefas que deseja e gerem renda (BRASIL, 2006).
Figura 2 – Violências contra a mulher
32
Fonte: Razões para acreditar5
Você já se perguntou porque a mulher sofre violência apenas pelo fato
de ser mulher? Vejamos, a seguir, uma breve contextualização histórica.
De acordo com Beauvoir (1970), as desigualdades entre homens e
mulheres tem caráter histórico. Desta forma, enquanto os aspectos
instrumentais permitiam igualdade de produção entre ambos os grupos, as
violências contra a mulher não eram evidentes.
Na história humana, o domínio do mundo não se define nunca pelo corpo
nu: a mão com seu polegar preensivo já se supera em direção ao
instrumento que lhe multiplica o poder; desde os mais antigos documentos
de pré-história o homem surge sempre armado. No tempo em que se tratava
de brandir pesadas maças, de enfrentar animais selvagens, a fraqueza física
da mulher constituía uma inferioridade flagrante; basta que o instrumento
exija uma força ligeiramente superior à de que dispõe a mulher para que ela
se apresente como radicalmente impotente. Mas pode acontecer, ao
contrário, que a técnica anule a diferença muscular que separa o homem da
mulher: a abundância só cria superioridade na perspectiva de uma
necessidade; não é melhor ter demais do que não ter bastante. Assim, o
manejo de numerosas máquinas modernas não exige mais do que uma
parte dos recursos viris. Se o mínimo necessário não é superior às
5
https://razoesparaacreditar.com/educacao/escolas-rio-violencia-contra-as-mulheres/attachme
nt/violencias-contra-a-mulher
33
capacidades da mulher, ela torna-se igual ao homem no trabalho.
(BEAUVOIR, 1970, p. 73-74)
Durante a Idade da Pedra, a mulher possuía a mesma igualdade de
produção que o homem; já durante a Idade dos Metais, os instrumentais
passaram a não garantir a mesma equidade entre homens e mulheres
(BEAUVOIR, 1970). Havia a necessidade da força para desmatar e progredir os
processos de agricultura; desta maneira, o homem passa a ser o possuidor dos
meios de produção, das terras, de escravos e das mulheres (BEAUVOIR, 1970).
Ademais, Beauvoir (1970) demonstra que a igualdade entre homens e
mulheres ocorrerá quando formos todos iguais juridicamente e que essa
igualdade seja assegurada de forma efetiva, uma vez que, na atualidade, ainda é
grande o número de episódios de violência contra a mulher.
Ainda na atualidade, as mulheres morrem pelo fato de serem mulheres,
o que se chama feminicídio e é tipificado como crime pela Lei nº 13.104, de 9 de
março de 2015. Mesmo nos dias de hoje, não conseguimos, ainda, superar a
opressão construída historicamente em relação à mulher. Vejamos a seguir, os
registros de feminicídio em Minas Gerais:
34
Figura 3 – Vítimas de feminicídio (morte de uma mulher pelo fato de ser
mulher) em Minas Gerais entre 2015 e 2017
Fonte: Jornal Estado de Minas6
A partir da análise dos dados acima, é possível perceber que ao menos
uma mulher é vítima de feminicídio, por dia, no estado de Minas Gerais.
6 Cf.:
www.em.com.br/app/noticia/gerais/2018/04/23/interna_gerais,953499/violencia-contra-a-mu
lher-aumenta-9-em-um-ano-em-minas-gerais.shtml
35
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2018/04/23/interna_gerais,953499/violencia-contra-a-mulher-aumenta-9-em-um-ano-em-minas-gerais.shtml
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2018/04/23/interna_gerais,953499/violencia-contra-a-mulher-aumenta-9-em-um-ano-em-minas-gerais.shtml
Notamos, então, que a violência contra a mulher está, ainda, arraigada em nossa
sociedade. Tendo isso em vista, no âmbito das unidades prisionais e
socioeducativas, existem diretrizes que contribuem com a prevenção da
violência contra a mulher.
As Regras de Bangkok, que estipulam as normativas para o tratamento
de mulheres presas e adolescentes, divulgadas pelo Conselho Nacional de
Justiça, no âmbito das unidades prisionais e socioeducativas, direcionam o
atendimento por meio do que é assegurado como Direitos Humanos. Veremos,
a seguir, pontos importantes das Regras de Bangkok (BRASIL, 2016):
Quadro 4 – Pontos importantes das Regras de Bangkok
Higiene pessoal
A acomodação de mulheres presas deverá conter
instalações e materiais exigidos para satisfazer as
necessidades de higiene específicas das mulheres,
incluindo absorventes higiênicos gratuitos e um
suprimento regular de água disponível para cuidados
pessoaisdas mulheres e crianças, em particular
mulheres que realizam tarefas na cozinha e mulheres
gestantes, lactantes ou durante o período da
menstruação. (p.23)
Atendimento
médico
Serão oferecidos às presas serviços de atendimento
médico voltados especificamente para mulheres, no
mínimo equivalentes àqueles disponíveis na
comunidade. (p. 24)
Exame médico
Se uma mulher presa solicitar ser examinada ou tratada
por uma médica ou enfermeira, o pedido será atendido
na medida do possível, exceto em situações que exijam
intervenção médica urgente. Se um médico conduzir o
exame, de forma contrária à vontade da mulher presa,
uma funcionária deverá estar presente durante o exame.
(p. 25)
Procedimentos de
revistas
Medidas efetivas deverão ser tomadas para assegurar a
dignidade e o respeito às mulheres presas durante as
revistas pessoais, as quais deverão ser conduzidas
apenas por funcionárias que tenham sido devidamente
treinadas em métodos adequados e em conformidade
com procedimentos estabelecidos. (p.27)
36
Programa
educacional para
as adolescentes
As adolescentes em conflito com a lei internadas
deverão ter acesso a programas e serviços
correspondentes à sua idade e gênero, como
aconselhamento sobre abuso ou violência sexual. Elas
deverão receber educação sobre atenção à saúde da
mulher e ter acesso regular a ginecologistas, de modo
similar às presas adultas. (p. 31)
Fonte: elaborado a partir de Brasil (2016b)
Para os gestores das unidades prisionais e socioeducativas, é
fundamental ler o texto na íntegra e verificar as demais especificidades no
atendimento às adolescentes e mulheres. Nas Regras de Bangkok, por exemplo,
há maiores informações e especificações sobre o tratamento necessário às
adolescentes e mulheres gestantes. Não deixe de conferir!
Povos Originários e Afrodescendentes
Na história do Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) (2013), o período de escravidão deixou marcas vistas até os dias
de hoje em nossa sociedade. O povo negro, que fora escravizado, não tinha, por
exemplo, acessos básicos como à educação e à saúde. Além disso, por serem
considerados como mercadorias, as pessoas escravizadas eram lançadas à
margem da sociedade e não compreendidas como parte constituinte dela. A
partir da maneira como a população negra era vista e tratada, a injúria e o
racismo surgem como fruto de uma construção histórica.
A lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, conhecida como Lei do Crime
Racial, foi proposta exatamente como forma de combate e prevenção aos crimes
de cunho racial. Através desta lei, por exemplo, torna-se proibida a não
efetivação de matrículas, em estabelecimentos escolares, para alunos de
quaisquer cor.
37
Em nossa sociedade, as leis são criadas a partir de demandas
necessárias. A criação da Lei do Crime Racial é um marco para a garantia de
direitos antes não fomentados de forma efetiva para a população negra, por
exemplo.
Antes de continuarmos, precisamos analisar duas definições essenciais
para a melhor compreensão do assunto. Você sabe a diferença entre racismo e
injúria racial? Vejamos, a seguir, um quadro explicativo elaborado pela Fundação
Cultural Palmares:
Quadro 5 – Diferença entre injúria racial e racismo
Injúria qualificada pelo
preconceito
Racismo (Lei nº 7.716/89)
O agente atribui qualidade
negativa à vítima.
O agente segrega a vítima, privando-a do
convívio digno.
Crime prescritível. Crime imprescritível.
Afiançável. Inafiançável.
Fonte: adaptado de Fundação Cultural Palmares7
Percebemos, logo, que a injúria consiste nas qualificações degradantes
atribuídas às vítimas. Por outro lado, o racismo implica na privação de acessos às
vítimas. A título de exemplificação, para termos um breve panorama do cenário
acerca de racismo e injúria, em reportagem de Léo Arcoverde (2018)8, de acordo
com dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública de São Paulo, entre
janeiro e maio de 2018, foram registrados 183 boletins de ocorrência referentes
à injúria racial (pouco mais do equivalente de uma ocorrência por dia) e 12 em
relação ao racismo, no estado.
Tendo em vista estes dois conceitos abordados, você já parou para
pensar como os ideais racistas afetam nossa sociedade na atualidade? Você já
escutou alguém usar o termo “cabelo ruim” para definir o cabelo de outra
8 Cf.:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/07/27/crimes-de-racismo-e-injuria-racial-cres
cem-29-em-sao-paulo-em-2018.ghtml
7 Cf.: http://www.palmares.gov.br/?p=23418
38
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/07/27/crimes-de-racismo-e-injuria-racial-crescem-29-em-sao-paulo-em-2018.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/07/27/crimes-de-racismo-e-injuria-racial-crescem-29-em-sao-paulo-em-2018.ghtml
http://www.palmares.gov.br/?p=23418
pessoa? Você já escutou a expressão “negra/negro de traços finos”, usada para
definir a aparência de alguém?
Os ideais racistas estão arraigados intrinsecamente, ainda nos dias de
hoje, em nós. Diante do que já foi exposto, não é difícil compreender a
vulnerabilidade que a população negra sofre ainda na atualidade. Quando uma
pessoa negra é privada de adentrar em um estabelecimento comercial, pelo fato
de ser negra, ela passa por uma situação de racismo. Quando alguém diz que o
cabelo de uma pessoa negra é “ruim”, esta situação pode ser considerada como
injúria racial, uma vez que foi dada uma qualificação negativa à pessoa negra.
Quando alguém agride fisicamente uma pessoa, pelo fato dela ser negra, mais
uma vez, percebemos que a vulnerabilidade ainda é presente para esta parcela
da população.
Os ideais racistas agem, também, no modo como as pessoas são vistas e
se enxergam em nossa sociedade. Você já deve ter escutado as palavras “negro”
e “pardo”, utilizadas de formas distintas, para se referirem à cor das pessoas.
Contudo, a terminologia “pardo” não é vista de forma concisa no meio
acadêmico. Você sabe o porquê? Veremos a seguir proposições essenciais sobre
o assunto.
Silva (2017) demonstra que o colorismo é a discriminação em relação às
tonalidades de pele. Quanto mais escura é a tonalidade de uma pessoa, maior é
o preconceito. Além disso, em decorrência das diversas tonalidades de pele, os
próprios sujeitos não se enxergam enquanto pertencentes a determinado grupo.
Por isso, em diversas ocasiões, pessoas consideradas “pardas”, “morenas”,
“mulatas”, e outras expressões congêneres não se identificam como negras.
Ainda de acordo com Silva (2017), este é um conceito, arraigado pelo grupo
branco dominante historicamente no Brasil, com o intuito de embranquecer a
população. No Brasil, ainda, a terminologia “negro” é mais utilizada do que
“afrodescendente” por pesquisas mais recentes.
39
Por fim, diante do breve resgate histórico apresentado, é preciso
lembrar, ainda, que a herança do povo negro brasileiro está além do passado
que foi a escravidão. Culturalmente, o Brasil é enormemente enriquecido com o
que foi proporcionado através das pessoas negras.
De acordo com a Rede de Direitos Humanos e Ensino Superior (DHES,
2014), os povos originários são aqueles que habitavam uma região antes da
colonização, principalmente europeia no caso da América Latina, historicamente
a partir da Idade Moderna. No Brasil, estão compreendidos os povos indígenas.
Por não ocuparem setores dominantes na sociedade brasileira, sofrem
desigualdades e segregações. É só você refletir por um momento: quantos
indígenas brasileiros ocupam um lugar no Congresso Nacional?
O acesso à saúde e educação, por exemplo, muitas vezes não contempla
de forma efetiva os povos indígenas brasileiros, uma vez que ocupar áreas
remotas pode dificultar a garantia de tais acessos. Além disso, outros fatores
como questões culturais e disputas por terras catalisam as vulnerabilidades
vivenciadas pelos povos originários.
LGBT+
Em alguma ocasião, você já escutou alguém ser xingado de “veado”?
Você já presenciou alguma lésbica ser chamada de “botinão”? A violência
contra a populaçãoLGBT+, no Brasil, extrapola os xingamentos. Vejamos, a
seguir, o gráfico de mortes de pessoas LGBTs por ano:
40
Figura 4 – Índice de pessoas LGBTs mortas por dia no Brasil
Fonte: portal Uol9
Segundo reportagem de Carlos Madeiro (2017), para o portal de notícias
Uol, ao menos uma pessoa LGBT+ é morta todos os dias no Brasil. Vimos, então,
que a garantia primordial à vida não é garantida a esta população. De forma
geral, segundo a Rede de Direitos Humanos e Ensino Superior (DHES, 2014), o
medo em relação às pessoas LGBT+ é o que ocasiona a violência. Como gestores
das unidades prisionais e socioeducativas, é primordial ter conhecimento sobre
esta parcela da população. Somente o conhecimento é capaz de promover a
inclusão.
Primeiramente, precisamos diferenciar alguns conceitos fundamentais
que envolvem gênero e orientação sexual. Gênero é a maneira como a pessoa
9 Cf.:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/09/25/brasil-tem-recorde-de-lgbts
-mortos-em-2017-ainda-doi-diz-parente.htm
41
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/09/25/brasil-tem-recorde-de-lgbts-mortos-em-2017-ainda-doi-diz-parente.htm
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/09/25/brasil-tem-recorde-de-lgbts-mortos-em-2017-ainda-doi-diz-parente.htm
se sente ao ser inserida em um contexto social. Como exemplo de gêneros, há o
masculino e o feminino. O gênero, portanto, é uma construção social e há outros
além dos dois já mencionados. Nem sempre as pessoas se identificam com o
próprio padrão biológico. Estas pessoas são denominadas transgêneros. Já a
orientação sexual diz respeito sobre o envolvimento afetivo e/ou sexual que
uma pessoa possui por indivíduos da sociedade. Por exemplo, pessoas que se
envolvem afetivamente e/ou sexualmente com indivíduos do mesmo gênero
que ela são homoafetivas.
Você sabe o que significa cada uma das letras da sigla LGBT+? Ainda
não? Vamos conhecê-las abaixo:
✔ Lésbicas: Mulheres que se envolvem afetivamente e/ou sexualmente com outras
mulheres;
✔ Gays: Homens que se envolvem afetivamente e/ou sexualmente com outros homens;
✔ Bissexuais: Pessoas que se envolvem afetivamente e/ou sexualmente com homens e
com mulheres;
✔ Transgêneros: Pessoas que não se identificam com o próprio padrão biológico;
✔ Travestis: Pessoas que utilizam artefatos considerados femininos e não se enquadram
nem no gênero masculino e nem no feminino essencialmente.
Você sabe por que existe o + ao final da sigla? A diversidade de gênero e
sexual humana é muito mais extensa do que podemos classificar em poucas
letras. Existem pessoas que não se identificam nem com o gênero feminino e
nem com o masculino. Estas pessoas são denominadas gênero não binário,
tendo em vista que a caracterização do gênero é, também, uma construção
social. O que precisamos ter em mente é o respeito pela diversidade e
pluralidade de gêneros e orientações sexuais.
A título de exemplificação, e retomando a temática sobre o medo em
ralação às pessoas LGBT+, a homossexualidade já foi considerada doença. O
primeiro a propor tal teoria, de forma contemporânea, foi o psicólogo alemão
Richard von Krafft-Ebing, em 1886. Por isso, de forma errônea, muitas pessoas,
ainda na atualidade, chamam a homossexualidade de “homossexualismo”, assim
42
como o psicólogo fazia. O sufixo “ismo” traz um caráter negativo à
denominação, pois é bem relacionado às doenças. Percebe como o medo pelas
diferenças é um propulsor de violência? Em decorrência de classificações
indevidas, alguns podem temer e promover mortes, agressões e/ou
xingamentos. Vemos, aqui, a vulnerabilidade vivenciada pelo grupo; uma vez
que violências são sofridas de forma expressiva pelo fato das pessoas serem
LGBTs.
Ainda como forma de exemplificação, o pesquisador norte-americano
Alfred Kinsey, predominantemente na década de 1940, pesquisou sobre as
diversas formas de sexualidade humana. Em dados estatísticos, ele observou
que 37% dos homens entrevistados já possuíram alguma experiência
homossexual; por sua vez, 10% consideravam-se unicamente homossexuais;
enquanto que 13% das mulheres analisadas declararam experiências
homossexuais (KINSEY apud SENA, 2010).
Em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define que
homossexualidade não é doença, tendo em vista os avanços nas pesquisas nas
áreas sociais, comportamentais, biológicas, dentre outras. Desta forma,
percebemos que a homossexualidade não é um bicho de sete cabeças. É algo
que está presente em nossa sociedade e devemos promover o respeito a
pluralidade, uma vez que Kinsey, na obra produzida por ele, demonstrou que a
sexualidade é realizada de diversas formas e que a pluralidade não constitui
nenhuma forma de desvio em ralação aos preceitos heterossexuais, seja no
campo das diversas orientações sexuais ou manifestações de gêneros (KINSEY
apud SENA, 2010).
No âmbito das unidades prisionais e socioeducativas, os gestores devem
estar atentos sobre algumas especificações para o atendimento ao público
LGBT+. Não se esqueça de que a utilização do nome social é legalmente
regulamentada pelo Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016. Sendo assim, a
pessoa pode utilizar o nome diferente do padrão biológico, lembrando que o
43
gênero é a forma como a pessoa se porta na sociedade. Além disso, é sempre
importante atentar-se às legislações específicas, dos sistemas prisional e
socioeducativo, sobre a revista de pessoas transgêneros e travestis. Ademais,
acerca da orientação sexual e/ou identidade de gênero (transgêneros e
travestis), sempre se informe sobre a alocação de presos e adolescentes
acautelados. Respeitar a diversidade é fundamental para qualquer tipo de
exercício profissional.
Quer saber mais sobre o assunto? Conheça a vida de Jazz, uma garota
transgênero americana. Clique no link e confira:
Jazz, a Vida de uma Menina Transgênero
www.youtube.com/watch?v=2VSszwtXvwY
Prezado(a) Cursista, chegamos ao final do conteúdo. O que você foi capaz
de aprender com estas temáticas? Faça uma autorreflexão e não deixe de
participar das atividades propostas. Até a próxima!
REFERÊNCIAS
ARCOVERDE, Léo. Crimes de racismo e injúria racial crescem 29% em São Paulo
em 2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/07/27/crimes-de-racismo-e-i
njuria-racial-crescem-29-em-sao-paulo-em-2018.ghtml>. Acesso em: 21 maio
2019.
BARATTA, Alessandro. A democracia e os direitos da criança. Rev. Bras.
Adolescência e Conflitualidade, São Paulo, v. 11, n. 8, p.01-11, ago. 2013.
Disponível em:
<http://revista.pgsskroton.com.br/index.php/adolescencia/article/viewFile/220/
206>. Acesso em: 24 abr. 2019.
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão Europeia
do Livro, 1970.
44
https://www.youtube.com/watch?v=2VSszwtXvwY
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Carlos Nelson Coutinho.
Apresentação de Celso Lafer. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988.
Disponível em <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.
Acesso em: 24 abr. 2019.
_____. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a lei nº
7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a política nacional para a
integração da pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção,
e dá outras providências. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 24 abr. 2019.
_____. Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016. Dispõe sobre o uso do nome
social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e
transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e
fundacional. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Decreto/D8727.htm>
Acesso em: 24 abr. 2019.
_____. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em 24 de abr.

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