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Caio Henriques de Oliveira Lobo Cordeiro Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte caiohenriques@pbh.gov.br Acidentes de trânsito em cidades pequenas de Minas Gerais: comparação com cidades médias e grandes Ronaro de Andrade Ferreira BHTRANS ronaroferreira@gmail.com Pedro Henrique de Oliveira Cardoso CEFET-MG pedrooliveiracard@gmail.com Kimberly Cristina Bastos Leal CEFET-MG kimberlyleal211@gmail.com 1015 9o CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2021 DIGITAL) Pequenas cidades, grandes desafios, múltiplas oportunidades 07, 08 e 09 de abril de 2021 ACIDENTES DE TRÂNSITO EM CIDADES PEQUENAS DE MINAS GERAIS: COMPARAÇÃO COM CIDADES MÉDIAS E GRANDES R. A. Ferreira, C. H. L. Cordeiro, P. H. O. Cardoso, K. C. B. Leal RESUMO Considerando os elevados índices de acidentalidade no trânsito e a sua variação conforme as características dos municípios (população, frota, etc), conhecer o perfil dos acidentes permite desenvolver ações preventivas melhor focadas. Os desafios em cidades pequenas podem ser ainda maiores. O objetivo foi caracterizar os acidentes ocorridos em municípios de Minas Gerais, em 2018, com até 20.000 habitantes e compará-los com indicadores das demais cidades mineiras. Tabulou-se dados dos municípios e avaliou-se os acidentes por gravidade, tipo de via e comparando-os por população/frota. Municípios médios/grandes registraram 2,5 vezes mais acidentes sem vítimas que os pequenos. Nas cidades pequenas existem 7,84 vezes mais fatalidades nas rodovias que nas vias urbanas. Cidades pequenas atendem necessidades imediatas da população, mas pode ser preciso realizar viagens a outras cidades para satisfazer outras necessidades, com o aumento da exposição a acidentes por: (i) mais deslocamentos rodoviários; (ii) interação ao trânsito urbano das grandes e médias cidades. 1 INTRODUÇÃO Os elevados índices de acidentalidade no trânsito têm sido um desafio para os gestores públicos. Segundo a Organização Mundial da Saúde anualmente morrem 1.35 milhões de pessoas, principalmente crianças e jovens entre 5 e 29 anos de idade, em que mais da metade são pedestres, ciclistas e motociclistas (WHO, 2018). Entre os países de média-renda, o Brasil apresentou redução nos índices de acidentalidade de acordo com dados preliminares do DATASUS (WHO, 2018; DATASUS, 2020). Em todas as unidades federativas do País houve redução na mortalidade por acidentes de transporte, mas o número de mortes de motociclistas (35%) e ocupantes de automóvel (23%) são alarmantes e a redução foi maior nas capitais e menor nas demais cidades (DATASUS, 2020), o que mostra a importância de se ampliar os estudos sobre os acidentes no interior dos estados. A implantação de políticas públicas específicas para redução dos acidentes de trânsito, como o Programa Vida no Trânsito (PVT) que tem como meta a redução da taxa de acidentes para 6,31 por 100 mil habitantes, até 2020 , sendo assim, uma das possíveis explicações para a redução (MORAIS NETO et al., 2012). Porém estas iniciativas têm se concentrado nas capitais. O Código de Trânsito Brasileiro, em 1997, estabeleceu que todos os municípios deveriam criar uma estrutura municipal para gestão do trânsito, entretanto, apenas 73 dos 853 municípios de Minas Gerais havia municipalizado o trânsito até novembro/2019, dentre estas apenas 3 têm menos de 20.000 habitantes. Esta falta de implementação da gestão municipal do trânsito se deve a fatores como: a falta de mão de obra qualificada para implantar e gerir o órgão de trânsito no município, escassez de recursos e falta de destinação sistemática de recursos financeiros exclusivos para o gerenciamento do trânsito, inexistência de políticas de incentivo à municipalização pelos âmbitos federal ou estadual, pouco conhecimento dos gestores municipais sobre as competências municipais legalmente estabelecidas, desgaste político da implantação de fiscalização (BAVOSO, 2014). Os acidentes de trânsito trazem consigo, além de diversos outros problemas, impactos negativos à economia do País, do Estado, do Município, das empresas e dos indivíduos. O crescimento do número de acidentes com vítimas resulta num grande custo econômico aos cofres públicos e à sociedade e na sobrecarga de diversos sistemas de atendimento à população, como: resgate a vítimas, atendimento médico, remoção dos veículos, capacidade do sistema viário e gestão do sistema de mobilidade. Além de vários outros impactos de difícil quantificação como: perda de vidas, sequelas permanentes e desestruturação de núcleos familiares (IPEA, 2003; VASCONCELLOS, 2005; FERRAZ et al., 2012). Apesar de que os resultados do cenário nacional sejam de redução dos acidentes, isto pode não se refletir a nível local, pois, segundo Vasconcellos (2005), os municípios possuem características distintas entre si, os índices de acidentes de trânsito variam dependendo das características dos municípios, entre elas, população, frota, grau de motorização e o conjunto de políticas públicas de gestão da mobilidade efetivamente implementado. Os municípios menores, e as cidades pequenas, apresentam especificidades com relação à dinâmica da mobilidade urbana e este objeto precisa ser melhor estudado. O conhecimento do perfil dos acidentes pode apoiar o planejamento de ações preventivas e auxiliar municípios na reversão do cenário atual. Os desafios para cidades de pequeno porte podem ser ainda maiores, devido à fragilidade de sua estrutura administrativa. Considera-se cidades pequenas aquelas que atendem as necessidades básicas imediatas da população, mas carecem de estruturas para atendimento a necessidades mais complexas, como atendimento médico especializado, educação de nível superior, um mercado com grande variedade de produtos. Ou seja, o conceito de cidade pequena ou local não tem relação apenas com o tamanho de sua população, mas com sua função no espaço próximo e sua relação com as cidades vizinhas (SANTOS, 1979; MOREIRA JUNIOR, 2013). O conceito de cidade pequena está associado à função que desempenham na rede urbana brasileira (PEREIRA, 2007) e “depende do contexto regional em que ela está inserida e do nível de centralidade que possui;” (LEÃO, 2010). Do ponto de vista da mobilidade, isto significa que moradores de cidades pequenas podem ter que, eventualmente, realizar deslocamentos rodoviários para satisfazer suas necessidades não imediatas. Para moradores de cidades médias e grandes esta demanda é menor, pois alguns destes serviços são oferecidos em sua cidade. Alguns estudos analisaram outras variáveis além do tamanho populacional, como critérios econômicos e a funções urbanas para a identificação de cidades pequenas (SANTOS, 1979; MOREIRA JUNIOR, 2013). Entretanto, neste estudo exploratório, para a análise dos 853 municípios de Minas Gerais, o critério populacional se mostrou como o mais viável e objetivo. Com isto, o objetivo deste trabalho é analisar o perfil dos acidentes de trânsito dos municípios mineiros com menos de 20.000 habitantes e comparar com indicadores das demais cidades mineiras. Para apresentar os resultados, este artigo está estruturado em 5 seções. Após esta breve seção introdutória, a seção 2 apresenta o método de análise adotado. A seção 3 apresenta os resultados e discussões. A seção 4 apresenta a conclusão do estudo e, a seção 5, por fim, apresenta as referências bibliográficas utilizadas para auxiliar a confecção deste artigo. 2 ASPECTOS METODOLÓGICOS Este trabalho apresenta características de natureza exploratória e descritiva, considerando sua proposta de análise do perfil dos acidentes de trânsito em municípios com menos de 20.000 habitantes (RICHARDSON, 1985). Elaborou-se uma tabela com dados secundários de cadamunicípio de Minas Gerais sobre população, frota, acidentes de trânsito e custo com internações por acidentes de trânsito, referentes ao ano de 2018, que foram obtidos do IBGE (2018), DENATRAN (2019), PRF (2019), SEJUSP/MG (2019) e DATASUS (2020), respectivamente. Sendo que os dados de acidentes separavam acidentes com vítima, sem vítima e acidentes fatais, além de diferenciar os acidentes ocorridos em rodovias e em vias urbanas. A partir dos dados absolutos foram calculados indicadores para 100.000 habitantes e para 10.000 veículos para permitir a comparação entre os grupos de municípios. Os municípios foram agrupados conforme sua população em 2018, sendo considerados “cidades pequenas” aqueles com população inferior a 20.000 habitantes e os demais como “cidades médias e grandes”, indistintamente. Algumas limitações relativas a esta metodologia estão associadas a: (i) subnotificação de acidentes de trânsito; (ii) duplicidade do registro de alguns acidentes ocorridos em rodovias dentro ou próximo de áreas urbanas; (iii) imperfeição da correspondência de “cidades pequenas” com “municípios com menos de 20.000 habitantes”; (iv) erros na identificação da gravidade do acidente (sem vítima, com vítima e fatal). 3 ACIDENTES, FROTA E POPULAÇÃO POR TIPO DE MUNICÍPIO Em Minas Gerais havia 669 municípios com menos de 20.000 habitantes em 2018, e 184 municípios mais populosos. O total da população e da frota para cada grupo de municípios correspondem respectivamente a 5.224.980 e 2.148.217 nos municípios pequenos e 15.815.682 e 9.043.124 nos demais (Tabela 1), o que equivale a 2,4 e 1,6 habitantes por veículo. Ou seja, os municípios mais populosos também têm mais veículos por habitante, o que implica em uma maior complexidade da dinâmica do sistema de mobilidade. O IPEA realizou dois estudos de estimativa de custo de acidentes de trânsito, um para aglomerações urbanas, em 2003, e outro para rodovias, em 2006, identificando o custo médio de um acidente sem vítimas, um acidente com vítimas e um acidente fatal (IPEA, 2003; 2006). Estes valores foram atualizados de forma simplificada pelo IPCA para valores de dezembro/2018 e multiplicados pelo número médio de acidentes de cada grupo de municípios analisado, permitindo estimar o custo total dos acidentes em cada grupo de municípios. Estes custos são assumidos pela administração pública, pelos indivíduos e pelas empresas privadas envolvidas no sinistro. Tabela 1 População, frota, taxa de motorização e custo de acidentes de trânsito por grupo de municípios, 2018 Municípios População Frota Habitantes/ veículo Custo (milhões de R$) Médios e Grandes 15.815.682 9.043.124 1,6 6.182,20 Pequenos 5.224.980 2.148.217 2,4 1.687,50 Total 21.040.662 11.191.341 1,9 7.869,70 A Tabela 2 a seguir indica a proporção de população, frota e o custo dos acidentes de trânsito por grupo de município. Tabela 2 Porcentagem da população, frota e o custo de acidentes de trânsito por grupo de município, 2018 Municípios % da População % da Frota % do Custo dos acidentes Médios e Grandes 75,2 80,8 78,6 Pequenos 24,8 19,2 21,4 A porcentagem do custo de acidentes para cada porte de cidade é um valor intermediário entre a porcentagem de população e a porcentagem da frota destes municípios, ficando 78,6% com os 184 municípios grandes ou médios e 21,4% com os municípios pequenos. A Tabela 3, a seguir, mostra o total de acidentes de trânsito agrupados por gravidade, separando as cidades pequenas das demais cidades. Nos municípios médios e grandes o número de acidentes em vias urbanas foi 6,38 vezes maior que o número de acidentes em rodovias e em municípios pequenos foi apenas 1,49 vezes maior. Nas cidades médias e grandes, os acidentes fatais nas rodovias são 1,83 vezes mais comuns que os acidentes fatais em vias urbanas. Nas cidades pequenas, essa diferença é muito mais intensa, há 7,84 vezes mais fatalidades nas rodovias que nas vias urbanas. Ou seja, as mortes por trânsito acontecem quase que exclusivamente nas rodovias. A análise dos percentuais de acidente por gravidade mostra uma grande semelhança no padrão com relação aos acidentes em vias urbanas, 74% dos acidentes registrados não tiveram vítima e em 25% alguém se lesionou. A única diferença que chama a atenção é com relação aos acidentes fatais, 0,4% nas cidades pequenas e 0,2% nas demais. Tabela 3 Total de acidentes por gravidade, tipo de vias e grupo de municípios de Minas Gerais, 2018 Municípios Acidentes em rodovias Acidentes em vias urbanas Total sem vítima com vítima fatal total sem vítima com vítima fatal total Médios e Grandes 18.832 12.319 861 32.012 151.220 52.625 471 204.316 236.328 Pequenos 6.092 5.720 643 12.455 13.824 4.682 82 18.588 31.043 Total 24.924 18.039 1.504 44.467 165.044 57.307 553 222.904 267.371 Com relação aos acidentes nas rodovias, as fatalidades nas cidades pequenas também são o dobro das cidades médias e grandes, mas aqui já alcançam um valor bem mais expressivo 5,2% dos acidentes (Tabela 4). Esses municípios também registraram uma proporção maior de acidentes com vítima e menos acidentes sem vítima. Tabela 4 Total de acidentes por gravidade, tipo de vias e grupo de municípios de Minas Gerais, 2018 (%) Municípios Acidentes em rodovias Acidentes em vias urbanas sem vítima com vítima fatal total sem vítima com vítima fatal total Médios e Grandes 58,8 38,5 2,7 100 74,0 25,8 0,2 100 Pequenos 48,9 45,9 5,2 100 74,4 25,2 0,4 100 Total 56,1 40,6 3,4 100 74,0 25,7 0,2 100 Os acidentes ocorridos em rodovias são muito mais comuns nos municípios pequenos, onde correspondem a 40% do total do que nos demais municípios, onde são apenas 13,5%, como pode ser observado na Tabela 5 a seguir. Tabela 5 Total de acidentes de trânsito em relação ao tipo de via e grupo de municípios, 2018 (%) Municípios Em rodovias Em vias urbanas Total Médios e Grandes 13,5 86,5 100 Pequenos 40,1 59,9 100 Total 16,6 83,4 100 Com relação a gastos do SUS com internações de vítimas de acidentes de trânsito em 2018, a média nos municípios pequenos foi de R$0,02 por habitante, enquanto que nos demais municípios foi de R$1,83, grande patê desta diferença se explica pelo fato de que a rede de atendimento médico dos municípios com menos de 20.000 habitantes é principalmente de atenção primária, onde não há internação de pacientes. A atenção secundária e terciária (com internação) é característica de cidades de médio e grande porte. Ou seja, os gastos com os moradores de cidades pequenas que ficaram internados foram computados para os municípios onde eles ficaram internados. A Tabela 6 a seguir apresenta o custo das internações por acidentes de trânsito subdivididas por grupo de município. Tabela 6 Total de gastos do SUS com internações por acidentes de trânsito em relação ao grupo de municípios, 2018 Municípios Custo das internações (R$) Custo por habitante(R$) Médios e Grandes 29.011.185,00 1,83 Pequenos 108.503,00 0,02 Total 29.119.688,00 1,38 3.1 Análise das taxas por 100.000 habitantes A comparação por valores absolutos é difícil, pois os universos são diferentes. Por isso, foram utilizadas as taxas por 100.000 habitantes e por 10.000 veículos., prática usual na literatura sobre o tema. A Tabela 7 a seguir é apresentado utilizando o indicador de acidentes por 100.000 habitantes, os municípios médios e grandes registraram 2,5 vezes mais acidentes sem vítimas que os municípios pequenos. Já para acidentes com vítima esta proporção é de 1,7 vezes e para acidentes fatais a situação é o inverso, os municípios pequenos apresentam 1,62 acidentes fatais/100.000 habitantes, para os demais municípios o índice é de 0,89. A fatalidade é quase o dobro nos municípios pequenos em relação aosdemais. Tabela 7 Taxa de acidentes por 100.000 habitantes em municípios de Minas Gerais, 2018 Municípios Acidentes sem vítima por 100.000 habitantes Acidentes com vítima por 100.000 habitantes Acidentes fatais por 100.000 habitantes Médios e Grandes 149,43 42,59 0,89 Pequenos 59,41 24,92 1,62 Proporção Médios e Grandes/Pequenos 2,52 1,71 0,55 A análise das taxas por 100.000 habitantes, desagregando os acidentes em relação a sua gravidade, mostra que as rodovias dos municípios pequenos apresentam uma média maior de acidentes com vítima e fatais que as dos municípios médios e grandes. Já com relação aos acidentes em vias urbanas, as cidades maiores apresentam maior gravidade que as cidades pequenas (Tabela 8). Tabela 8 Taxa de acidentes por 100.000 habitantes por gravidade, tipo de vias e grupo de municípios de Minas Gerais, 2018 Municípios Acidentes em rodovias Acidentes em vias urbanas Total sem vítima com vítima fatal total sem vítima com vítima fatal total Médios e Grandes 119,1 77,9 5,4 202,4 956,1 332,7 3,0 1.291,9 1.494,3 Pequenos 116,6 109,5 12,3 238,4 264,6 89,6 1,6 355,8 594,1 Todos 118,5 85,7 7,1 211,3 784,4 272,4 2,6 1.059,4 1.270,7 3.2 Análise das taxas por 10.000 veículos Utilizando o indicador de acidentes por 10.000 veículos os resultados das análises são semelhantes. Os municípios médios e grandes apresentam uma frequência maior de acidentes de menor gravidade e os municípios pequenos uma probabilidade maior de acidentes fatais (Tabela 9). Tabela 9 Acidentes por frota em municípios de Minas Gerais, 2018 Municípios Acidentes sem vítima/ 10.000 veículos Acidentes com vítima/ 10.000 veículos Acidentes fatais/ 10.000 veículos Médios e Grandes 2.613,3 744,8 15,6 Pequenos 1.445,1 606,0 39,5 Proporção Médios e Grandes/Pequenos 1,8 1,2 0,4 As rodovias mostram maiores taxas de acidentes nos municípios pequenos e as vias urbanas têm mais gravidade em cidades médias e grandes (Tabela 10). Tabela 10 Taxa de acidentes por 10.000 veículos por gravidade, tipo de vias e grupo de municípios de Minas Gerais, 2018 Municípios Acidentes em rodovias Acidentes em vias urbanas Total sem vítima com vítima fatal total sem vítima com vítima fatal total Médios e Grandes 20,8 13,6 1,0 35,4 167,2 58,2 0,5 225,9 261,3 Pequenos 28,4 26,6 3,0 58,0 64,4 21,8 0,4 86,5 144,5 Todos 22,3 16,1 1,3 39,7 147,5 51,2 0,5 199,2 238,9 3.3 O perfil de um município típico Ao distribuir o total de acidentes pelo número de municípios, pode-se ter uma ideia da realidade média de um município de cada grupo estudado (Tabela 11). Tabela 11 Média de população, frota e custo dos acidentes de trânsito por grupo de município em Minas Gerais, 2018 (em R$) Municípios População Frota Custo dos acidentes Médios e Grandes 85.954,79 49.147,41 33.599.131,03 Pequenos 7.810,13 3.211,09 2.522.365,62 Enquanto cada cidade média ou grande tem uma população média de 85 mil habitantes e uma frota de 50 mil veículos e gasta R$ 33,6 milhões por ano em acidentes de trânsito, cada cidade pequena com cerca de 7,8 mil habitantes em média e 3,2 mil veículos, gasta cerca de R$ 2,5 milhões por ano com acidentes de trânsito, sem percebê-lo. A média dos acidentes segregando-se por gravidade, tipo de vias e grupo de municípios é apresentada a seguir, na Tabela 12. Tabela 12 Média de acidentes por gravidade, tipo de vias e grupo de municípios de Minas Gerais, 2018 Municípios Acidentes em rodovias Acidentes em vias urbanas Total sem vítima com vítima fatal total sem vítima com vítima fatal total Médios e Grandes 102,3 67,0 4,7 174,0 821,8 286,0 2,6 1.110,4 1.431,1 Pequenos 9,1 8,6 1,0 18,6 20,7 7,0 0,1 27,8 46,4 Todos 29,2 21,1 1,8 52,1 193,5 67,2 0,6 261,3 313,4 Um município médio ou grande terá mais de 100 acidentes de trânsito por mês, sua grande maioria nas vias urbanas, com mais de 300 vítimas e oito fatalidades. Já uma cidade pequena, terá menos de um acidente por semana, e sem vítima, uma vítima a cada três semanas e um óbito por ano, sendo este na rodovia. Foram mais de 30.000 acidentes no total, mas apenas 46 em cada cidade. Estes baixos valores absolutos ajudam a camuflar as altas taxas de acidentalidade por trânsito nas cidades pequenas e a manter a situação de ausência de políticas de prevenção de acidentes nesses municípios, seja de fiscalização, de educação, de regulamentação ou projetos viários. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O perfil do sistema de mobilidade e dos acidentes de trânsito nas cidades pequenas de Minas Gerais é diferente do perfil das cidades médias e grandes. A cidades pequenas têm uma menor taxa de motorização, isto é, menos veículos motorizados em proporção com a população, o que deve levar a vias públicas com menor densidade de veículos e menos conflitos na ocupação do espaço público. Observa-se uma prevalência três vezes maior de acidentes em rodovias que nos demais municípios, correspondendo a 40% do total de acidentes ocorridos no município. Sendo que a construção, manutenção, operação e fiscalização destas vias não é de responsabilidade do município, mas do governo federal ou estadual, ou da concessionária da rodovia privatizada. A proporção de acidentes fatais nas cidades pequenas é o dobro das demais cidades, tanto nos acidentes das rodovias como nas vias urbanas, em que correspondem a 5,2% e 0,4% do total de acidentes em cada tipo de via. A média dos indicadores utilizados mostra uma cidade de 7.800 habitantes, com 3.300 veículos motorizados, com 46 acidentes por ano, sendo 15 acidentes com vítima e um acidente fatal, que ocorreria em uma rodovia. Estes acidentes geram um custo estimado em R$ 2.500.000,00 em gastos para a administração pública, os indivíduos e as empresas. Tais conhecimentos do perfil dos acidentes corroboram para ações preventivas dos mesmos, de modo, a romper a fragilidade das estruturas administrativas. Acredita-se que pelo olhar dos indivíduos, as cidades pequenas atendem apenas necessidades imediatas da população, e seus moradores são obrigados a realizar viagens a outras cidades para satisfazer certas necessidades. Neste momento eles aumentam sua exposição a graves acidentes de trânsito de duas formas: (i) realizam viagens rodoviárias onde, devido à velocidade e aos veículos pesados, o risco de acidentes graves é maior; (ii) transitam no tráfego urbano das cidades médias e grandes, onde os acidentes são mais frequentes que no tráfego urbano das cidades pequenas. Desta forma, para satisfazer suas necessidades não imediatas eles precisam se expor a riscos maiores de acidentes de trânsito. 5 REFERÊNCIAS Bavoso, N. C. (2014) O sistema nacional de trânsito e os municípios de pequeno porte, Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia, 87 p. 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