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Infecção do trato urinário

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Infecção do trato urinário 
Definição: fixação e multiplicação bacteriana no trato urinário. Infecção pode ser localizada ou generalizada. Infecção urinária baixa= acomete bexiga; pielonefrite= no parênquima renal. 
Epidemiologia: ITU mais comum na pediatria. Ocorrendo nos primeiros 11 anos de vida pelo menos um episódio sintomático de ITU em 3% das meninas e em 1,1% dos meninos. Há uma maior incidência de ITU no 1º ano de vida, estimada em cerca de 1,4%, especialmente para o sexo masculino, e depois do 1º ano cai a incidência em meninos e continua incidência alta em meninas até os 6 anos. 
Etiologia: A maioria dos episódios de ITU é causada por bacilos Gram-negativos aeróbicos, conhecidos como enterobactérias: Escherichia, Klebsiella, Enterobacter, Citrobacter, Proteus, Serratia e outros menos frequentes. A Escherichia coli é o germe mais frequentemente identificado, sendo o agente etiológico em cerca de 80 a 90% dos casos no primeiro surto de ITU.Bactérias da espécie Proteus são encontradas aproximadamente em 30% dos meninos com cistite. 
Quadro clínico: varia de acordo com o grupo etário e com a localização da infecção. Outros fatores tambem influenciam como o estado nutricional; presença de alterações anatômicas do trato urinário, numero de infecções anteriores e o intervalo de tempo do ultimo episodio infeccioso. QC pode variar de febre isolada ou alteração do habito miccional até a pielonefrite aguda. 
· RN: quadro séptico, com manifestações inespecíficas como insuficiente ganho de peso, anorexia, vômitos, irritabilidade, hipoatividade, convulsões, pele acinzentada e hipotermia. Pode apresentar-se com um quadro menos agudo, predominando a recusa alimentar, vômitos ocasionais, palidez cutânea e icterícia.
· Lactentes: febre principal manifestação e as vezes o único sinal de ITU. Pode ocorrer hiporexia, vômitos, dor abdominal e ganho ponderoestatural insatisfatório. Raramente há sinais ou sintomas ligados ao trato urinário, como polaciúria, gotejamento urinário, disúria, urina com odor fétido, dor abdominal ou lombar.
· Pré- escolares e escolares: Os quadros com maior acometimento do estado geral, adinamia, calafrios, dor abdominal e nos flancos sugerem pielonefrite aguda. Sintomas como enurese, urgência, polaciúria, disúria, incontinência e/ou retenção urinária com urina fétida e turva podem corresponder a um quadro de cistite.
· Adolescentes: disúria, polaciúria e dor à micção, podendo ocorrer também urgência miccional, hematúria e febre.
“síndrome de disúria frequência” = com sensação de queimação ao urinar, desconforto suprapúbico e frequência urinária aumentada.
Cistite → ITU baixo, que tem como sintoma mais recorrente a disúria (dor ou dificuldade ao urinar), sendo associada a polaciúria, urgência miccional, dor em região suprapúbica, alteração na cor,volume e odor da urina e hematúria.
Pielonefrite → ITU alto; que tem sinais e sintomas sistêmicos, facilitando o direcionamento para quadro clínico de pielonefrite, como febre, mal-estar, vômitos e náuseas, podendo ter o sinal de Giordano (punho percussão da loja renal) positivo e dor lombar ou abdominal.
Diagnóstico: A importância do diagnóstico precoce da ITU é prevenir e minimizar a formação e progressão da cicatriz renal, principalmente no neonato e lactente mais suscetíveis à formação de cicatrizes que como consequência numa fase mais tardia poderão levar à hipertensão e/ou insuficiência renal crônica. 
Sempre que diante de um quadro suspeito de ITU → colher EQU e urocultura para confirmar ou descartar.
Clínico: O exame físico deve ser completo, incluindo o crescimento ponderoestatural e o desenvolvimento neuropsicomotor.
· A percussão lombar (punho-percussão) pode evidenciar forte reação dolorosa (Giordano positivo).
· A palpação abdominal das lojas renais pode demonstrar aumento do volume renal (hidronefrose).
· A persistência de bexiga palpável após a micção sugere processo obstrutivo ou disfunção do trato urinário inferior.
· A perda constante de urina, observada durante o exame físico, sugere ureter ectópico.
Laboratorial: coleta de urina. Nos pacientes com controle miccional, o jato médio é o modo ideal de coleta de urina para ambos os sexos. Naqueles sem controle miccional, a urina pode ser coletada de três maneiras:
1. Saco coletor: deve haver os cuidados de higiene e perfeita adaptação do adesivo no contorno da genitália e com trocas a cada 30 minutos, até que amostra de urina seja obtida;
2. Punção suprapúbica (PSP): método invasivo, embora seja uma prática segura especialmente quando guiada por ultrassonografia. A PSP está indicada nos casos em que a coleta por via natural suscita dúvidas (diarreia aguda, dermatite perineal, vulvovaginites e balanopostites);
3. Cateterismo vesical: método invasivo que pode provocar ITU no caso de falha técnica no procedimento, além de ser desconfortável para o paciente.
Interpretação dos resultados: método de coloração de Gram em gota de urina não centrifugada para avaliar presença de piócitos na urina e de bactérias na bacterioscopia.
· Baixa densidade urinaria: distúrbios da concentração urinária;
· pH alcalino: infecção pelo Proteus;
· Albuminúria transitória: pode ocorrer na fase febril ou em casos de pielonefrite;
· Hematúria microscópica; 
· Nitrito: presença de bactérias Gram-negativas na urina.
Piúria -> presença de 5 ou mais piócitos por campo microscópico sob grande aumento (4003), ou mais de 10.000 piócitos/mL. A piúria pode estar ausente em cerca de 23 a 50% dos pacientes com bacteriúria e ITU. Outras condições podem apresentar piúria ou leucocitúria sem significar ITU: desidratação grave, inflamação de estruturas contíguas (como na apendicite), injúria química do trato urinário e glomerulonefrites.
Bacteriúria -> urocultura; A presença de uma ou mais bactérias (bastonetes Gram-negativos) em gota de urina não centrifugada corada pelo Gram. presença na urina de um número igual ou superior a 100.000 UFC de uma única bactéria.
Obs.: A identificação de duas ou mais cepas de bactérias diferentes em uma mesma amostra sugere contaminação durante a coleta ou no processamento do exame.
Bacteriúria assintomática: presença de bacteriúria em crianças sem sintomas. Achado ocasional. Diagnóstico: três uroculturas consecutivas com bacteriúria significativa em um período de 3 dias a 2 semanas, podendo ser transitória ou persistente. Geralmente, a bacteriúria desaparece em dias ou semanas e dificilmente recidiva, mas a bacteriúria assintomática persistente tende a permanecer por anos seguidos (É comumente encontrada em crianças portadoras de meningomielocele, bexiga neurogênica e que necessitem de cateterismo vesical de repetição.)
Obs.: As crianças com bacteriúria assintomáticas não devem ser tratadas, pois podem desenvolver ITU sintomática e, muitas vezes, com germes de virulência maior.
Tratamento: Abordagem da criança com ITU confirmada: em duas etapas, erradicação e o estudo morfofuncional do trato urinário. Visando a prevenir a doença renal progressiva, procuram-se identificar alterações anatômicas e/ou funcionais do trato urinário e fatores predisponentes de lesão do parênquima.
· Alivio dos sintomas: A dor e a febre são tratadas com analgésicos e antitérmicos em doses usuais. Podem-se observar manifestações sistêmicas, como vômitos associados com distúrbios hidreletrolíticos ou acidobásicos. A reidratação deve ser prontamente instituída, por via oral ou, se necessário, parenteral.
· Tratamento erradicador: A antibioticoterapia deve ser iniciada imediatamente após a coleta da urina, pois a demora para começar o tratamento é fator de risco para o aparecimento de lesão renal.
Crianças maiores de 3 meses de vida, sem sinais de toxemia, com estado geral preservado, hidratadas e capazes de ingestão oral podem receber tratamento ambulatorial. Naquelas com febre alta, toxemiadas, desidratadas e com vômitos persistentes, o tratamento inicial deve ser com a criança hospitalizada. 
Obs.: Independentemente da sintomatologia, os recém-nascidos e os lactentes jovens são considerados portadores deITU complicada ou potencialmente grave.
Uso de cefalosporinas de 1ª geração, a associação sulfametoxazol + trimetoprim e a nitrofurantoína. A melhora do estado geral e o desaparecimento da febre em 48 a 72 horas são indicativos de uma boa resposta ao tratamento instituído.O tempo médio de duração do tratamento deve ser de 10 dias, admitindo-se variação entre 7 e 14 dias. 
· Tratamento profilático: a criança deve ser mantida em profilaxia com baixas doses de antibiótico ou quimioterápico, iniciada imediatamente após o término do tratamento erradicador. A finalidade é prevenir recidivas de ITU. Profilaxia esta indicada em: 
1. Quando há diagnóstico de anomalias obstrutivas do trato urinário até a realização da correção cirúrgica;
2. Na presença de refluxo vesicoureteral (RVU) de graus III a V;
3. Nas crianças que apresentem recidivas frequentes da ITU, mesmo com estudo morfofuncional do trato urinário dentro da normalidade; nesses casos, deve ser utilizada por período de 6 a 12 meses, podendo, quando necessário prolongar-se o tempo de uso;
4. Durante a investigação do trato urinário após o primeiro episódio de ITU;
Dentre os fármacos, o de melhor eficácia e maior segurança é a nitrofurantoína. Outra droga usada é a associação sulfametoxazol + trimetoprim. As cefalosporinas de 1ª geração são usadas no período de recém-nascido até 60 dias de vida, quando deverão ser substituídas pela nitrofurantoína ou por sulfametoxazol + trimetoprim.
Avaliação morfofuncional do trato urinário – reconhecimento de fatores de risco:
Os principais objetivos da avaliação morfofuncional do trato urinário são: detectar condições predisponentes da infecção e das recidivas, avaliar a presença de lesão renal e estabelecer conduta que possa prevenir o surgimento da lesão renal ou o seu agravamento, visando ao melhor prognóstico para o paciente.
· US- Ultrassonografia: primeiro exame para inicio de investigação, pode ser usado em fase aguda. Inclui avaliação do volume e tamanho renal, espessura e características do parênquima renal, diâmetro anteroposterior (AP) da pelve, diferenciação corticomedular, etc. A US também demonstra o crescimento do parênquima renal, as anomalias de posição e localização renais, a presença de hidronefrose, cálculos e abscesso renal. É útil para o acompanhamento das crianças com bexiga neurogênica ou instabilidade vesical por causas diversas.
· Exames radiológicos uretrocistografia miccional –UCM: É o método que melhor define a morfologia do trato urinário inferior, com avaliação da uretra, da bexiga e dos ureteres (quando há RVU). Mas é invasivo. A UCM deve ser realizada somente após o término do tratamento erradicador, para se evitar disseminação da infecção, e com a criança em uso de antibioticoprofilaxia para reduzir os riscos de ITU iatrogênica.
· Urografia excretora - UE: Tem indicação restrita a situações especiais como algumas malformações complexas. Apresenta riscos com o uso de contraste iodado, carga elevada de radiação. Deve ser evitada na doença renal crônica, nos pacientes com alergia aos contrastes iodados e nos recém-nascidos e lactentes muito jovens.
· Ressonância magnética e angiorressonância dos vasos renais: estudo dos vasos renais, principalmente na identificação de vasos anômalos que fazem compressão ureteral.
· Exames de medicina nuclear: apresentam irradiação menor que os exames radiológicos, são muito precisos na determinação de lesões do parênquima renal e na avaliação da função renal individualizada.
· Estudo urodinâmico: avaliação urológica da função vesical para estudar a capacidade, a pressão vesical, a atividade do detrusor e da musculatura do assoalho pélvico durante o enchimento e o ato miccional. Permite o diagnóstico acurado das disfunções vesicais. Está indicado nos casos de ITU associada à bexiga neurogênica e em alguns casos de distúrbios miccionais.
Refluxo vesicoureteral: Definição: passagem retrógada da urina da bexiga de volta para o ureter (e as vezes até os rins) . O refluxo predispõe a infecção do trato urinário. 
Etiologia: alteração mediada por expressão genética é causado por uma anormalidade estrutural da junção ureterovesical (curto segmento submucoso do ureter). 
O refluxo da urina da bexiga para o ureter pode lesar o trato urinário superior devido a infecções bacterianas e, ocasionalmente, por aumento da pressão hidrostática. Bactérias no trato inferior podem facilmente disseminar-se via refluxo para o trato superior, provocando infecções recorrentes do parênquima, com possíveis cicatrizações. A cicatriz renal pode, por fim, causar hipertensão e, às vezes, disfunção renal. 
Sinais e sintomas: As crianças geralmente chegam por história de hidronefrose fetal, ITU febril ou como parte do rastreamento de irmãos.  Crianças com uma infecção do trato urinário podem ter febre, dor abdominal ou nos flancos, disúria...
Diagnóstico: faz ultrassonografia, ureterocistografia miccional e Exame e cultura de urina são feitos para detectar infecções. Utiliza-se ultrassonografia renal para avaliar o tamanho dos rins e a presença de hidronefrose e cicatrizes. Usa-se uretrocistografia miccional para diagnosticar refluxo vesicoureteral e avaliar a presença de outras anormalidades vesicais.
Tratamento: profilaxia com antibióticos se necessário. 
· Refluxo vesicoureteral leve a moderado muitas vezes desaparece espontaneamente ao longo de meses a vários anos. É muito importante manter as crianças livres de infecção.
· Refluxo vesicoureteral grave acompanhado de pressão intravesical alta é tratado com anticolinérgicos (p. ex., oxibutinina, succinato de solifenacina) e, raramente, cirurgia (como toxina botulínica ou aumento da bexiga). 
Apresenta resolução espontânea na maioria dos casos. Os pacientes com RVU podem ser classificados em três grupos (baixo, médio e alto risco) quanto às chances de pior evolução ou seja, o surgimento de cicatrizes renais, persistência do refluxo, surgimento de hipertensão arterial ou evolução para perda progressiva da função renal. As crianças com RVU devem ser acompanhadas até a idade adulta, especialmente aquelas com nefropatia do refluxo
1. Baixo risco: grau I/II uni ou bilateral sem lesão renal e sem disfunções de eliminações
2. Médio risco: grau III uni ou bilateral. Grau IV unilateral; lesão localizada e disfunção ausente ou leve. 
3. Alto risco:grau IV bilateral; grau V; lesão renal moderada/grave; rim único e disfunção de eliminações. 
Incontinência urinária diurna
A incontinência contínua consiste de perda contínua de urina diurna e noturna, geralmente associada com malformação congênita como ureter ectópico, fístula vesicovaginal, extrofia de bexiga, entre outras causas. Incontinência intermitente é a perda de urina durante o dia a partir dos 5 anos de idade. Estima-se que a IU afete de 1 a 10% das crianças.
Etiologia: A queixa de Incontinência Urinária Diurna (IUD) é um sintoma muito frequente na infância. A causa mais comum de IUD é a bexiga hiperativa. Na bexiga hiperativa, a bexiga é funcionalmente, mas não anatomicamente, menor que o habitual e exibe várias contrações não inibidas.
 Ocorre frequente desejo para urinar, geralmente associado a manobras de contenção (cruzar as pernas, apertar a região genital com a mão) a fim de adiar a micção e evitar perda involuntária de urina, sendo que ocorre resolução na adolescência.
Diagnóstico: Durante o exame físico é importante avaliar sinais que sugiram etiologia orgânica para a incontinência urinária, tais como: baixa estatura, hipertensão arterial, rins aumentados, bexigoma, sigmoide palpável na fossa ilíaca esquerda (constipação), adesão de grandes lábios, anomalias de coluna vertebral lombossacra, anormalidades de sensibilidade e reflexos perineais.
É necessário realizar um diário das eliminações, que consistem em um mapa realizado durante dois dias no qual são anotados volume urinado, número de micções diurnas/noturnas, número de episódios de perda urinária, volume de água ingerido, número de evacuações e perdas fecais.
Dentre os exames complementares, destacam- -se: EAS, urinoculturae ureia/creatinina séricas. O USG dos rins e vias urinárias permite a avaliação anatômica do trato urinário superior e inferior, ao mesmo tempo que possibilita o estudo funcional da micção (espessura da parede vesical, enchimento vesical, contrações involuntárias vesicais, resíduo pós- miccional). Outros exames mais específicos também podem ser solicitados, tais como uretrocistografia pós-miccional, ressonância de coluna e estudo urodinâmico.
Tratamento:
· Treinamento miccional: micção a cada duas a três horas;
· Correção da postura no vaso sanitário;
· Controle da ingesta hídrica;
· Diminuição da ingestão de alimentos que contenham cafeína, pois irritam a mucosa vesical;
· Tratamento da constipação;
· Exercícios de contração/relaxamento do assoalho pélvico (exercícios de Kegel);
· Medicamentos: anticolinérgicos para diminuir a hiperatividade vesical: oxibutinina 5mg VO duas a três vezes/dia; tolterodina.
Enurese 
Perda urinária involuntária à noite em crianças acima de cinco anos. A enurese pode ser primária (75- 90% dos casos) quando a criança nunca adquiriu continência noturna, ou secundária (10- 25%), quando a criança adquiriu o controle miccional noturno por alguns meses, e então o perdeu.
A grande maioria das crianças (75%) apresenta apenas enurese noturna, e uma minoria (25%) apresenta uma forma combinada de enurese noturna e incontinência urinária diurna. Nesta última forma, há maior probabilidade de causas orgânicas.
Etiologia: A enurese primária noturna apresenta uma patogênese multifatorial, com participação de diversos mecanismos, tais como: genética (cromossomas 12 e 13), atraso na maturação cortical do controle miccional voluntário, redução da produção do hormônio antidiurético à noite, desordens de sono, constipação, bexiga hiperativa, fatores psicológicos, dentre outros. O componente genético-familiar é comprovado através de estudos que revelam que, quando um dos pais foi enurético na infância, o risco da criança também ser é de 44%; e se ambos os pais foram enuréticos, este risco sobe para 77%. Geralmente, as causas secundárias provocam enurese noturna e incontinência urinária diurna.
Diagnóstico: Em crianças com enurese noturna, além do exame físico completo, devem ser realizados um EAS e urinocultura, a fim de avaliar sinais de infecção (piúria, bacteriúria, nitrito positivo), diabetes mellitus (glicosúria) e diabetes insipidus (baixa osmolaridade). Se há enurese noturna e incontinência urinária diurna, outros exames complementares devem ser acrescentados à avaliação diagnóstica, conforme descrito acima.
Tratamento: O principal aspecto é orientar os pais quanto à resolução espontânea da condição, e a não punição das crianças, pois o estresse e medo podem piorar o controle miccional. Algumas medidas podem auxiliar, tais como:
· Limitar a ingestão de líquidos 3-4 horas antes de dormir ou após as 18 horas;
· Evitar açúcar e cafeína após 16 horas;
· Urinar antes de dormir;
· Tratar a constipação e infestação parasitária se houver;
· Fazer um mapa de noites “secas” e noites “molhadas”, e adotar estrelas nas ‘’secas’’ para motivar a criança;
· Encorajar a criança a lavar suas roupas íntimas molhadas;
· Se as medidas acima falharem, pode ser adotado um sistema de alarme, que desperta 2-4 horas após o início do sono a fim de realizar um treinamento condicionado da micção no início da noite;
Medicamentos: as medicações ficam restritas à segunda opção de tratamento.
· DDAVP (desmopressina): spray nasal. É um análogo sintético da vasopressina (hormônio antidiurético) e tem por objetivo reduzir a produção de urina à noite;
· Oxibutinina: droga antimuscarínica, 5 mg VO antes de dormir;
· Imipramina: tem efeito anticolinérgico, 1 mg/kg/dose ou 25 mg duas horas antes de dormir.
Micção disfuncional
Ocorre pela disfunção na fase miccional ou de esvaziamento, sendo causada pela contração do assoalho pélvico durante o ato miccional. 
O diagnóstico desta alteração é feito pela avaliação urodinâmica - onde são verificadas as medidas iniciais de urofluxometria demonstrando curvas com fluxo intermitente (interrompido) ou flutuante; e avaliação ultrassonográfica do resíduo pós-miccional. 
 (
A 
uretra em pião,
 ao exame radiológico, é um achado amplamente conhecido (representa a 
contração involuntária da bexiga e do esfíncter externo para evitar a perda urinária o que acarreta aumento da pressão vesical levando a dilatação uretral).
)Os sintomas dependem da frequência e gravidade da alteração funcional, podendo variar de uma incoordenação miccional até a completa dissinergia vesico-perineal.
	
Hidronefrose:
Definição: Os rins aumentados de tamanho, geralmente por dilatação da pelve e cálices renais. A hidronefrose pode ser uma condição fisiológica transitória no período fetal e neonatal ou patológica, secundária a causas obstrutivas e não obstrutivas em qualquer ponto do trato urinário, desde o meato uretral até o infundíbulo calicial. A hidronefrose fetal pode afetar de 0,5 a 1% das gestações.
As principais consequências da hidronefrose diagnosticada ainda no pré-natal são a hipoplasia pulmonar nas uropatias obstrutivas que cursam com oligodramnia e a perda da função renal. No período pós-natal, a hidronefrose e a estase urinária são importantes fatores para pielonefrite e todas as complicações a ela relacionadas: cicatrizes, hipertensão e estágio de rim terminal.
Etiologia: A principal causa de dilatação da pelve renal no neonato é a hidronefrose idiopática. Entre as uropatias mais frequentemente detectadas, incluem-se obstrução de junção ureteropélvica (24-30%), refluxo vesicoureteral (10-20%) e válvula de uretra posterior (VUP)
Outras etiologias menos comuns de hidronefrose são ureterocele ectópica e síndrome de Prune-Belly
Diagnóstico: No período pré-natal, o diagnóstico da hidronefrose é estabelecido através da realização da ultrassonografia morfológica.
 Geralmente, um diâmetro anteroposterior da pelve renal > 5 mm define o diagnóstico de aumento renal. Além disso, existe uma escala de gradação pela Sociedade de Urologia Fetal que classifica a hidronefrose em quatro níveis. É importante a avaliação dos rins, ureteres, bexiga e uretra na tentativa de se elucidar a etiologia da obstrução, bem como a identificação de outras malformações associadas e oligodramnia.
No período pós-natal, pode haver síndrome de desconforto respiratório secundária a hipoplasia pulmonar, massapalpável em flancos, bexiga palpável, jato urinário fraco e, até mesmo, sepse urinária. Massa em flancos bilateral é sugestiva de válvula de uretra posterior, ao passo que o achado de massa unilateral pode significar obstrução de junção ureteropélvica ou rim multicístico.
Em relação à investigação complementar são importantes os exames de imagem como:
· Ultrassonografia de rins e vias urinárias;
· Uretrocistografia pós-miccional, pois com muita frequência as uropatias obstrutivas estão associadas ao refluxo;
· Cintilografia com DMSA para avaliação funcional do rim e identificação de cicatrizes renais;
· Cintilografia com DTPA para investigar o local da obstrução;
· Urografia excretora, especialmente útil quando se suspeita de duplicação pielocalicial, ureter ectópico ou megaureter.
Os exames de função renal, como medição da ureia e creatinina séricas, deverão ser solicitados após 72 horas de vida, uma vez que até esse momento a creatinina neonatal reflete a passagem transplacentária da creatinina materna.
Obstrução da junção pieloureteral | estenose de junção útero pélvica (JUP):
Obstrução do trato urinário, onde um pedaço do ureter é mais fino do que o normal, fazendo com o que a urina não desça corretamente para a bexiga, se acumulando nos rins.
A JUP normalmente é diagnosticada ainda durante a gestação ou logo após o nascimento por ser uma condição congênita, o que permite que o tratamento adequado seja feito o mais rápido possível, e reduza probabilidade de sobrecarga nos rins, e consequentemente da perda da função renal.
 (
Os sintomas da estenose de JUP podem aparecer na infância, no entanto não é incomum quese manifestam na adolescência ou vida adulta. Os sintomas mais comuns podem ser: dor de um lado das costas, hipertensão arterial, sangue na urina, formação de pedras nos rins... 
feito
 cintilografia renal, raio X e ultrassonografia. O tratamento para a estenose de JUP é feito pela cirurgia chamada de 
pieloplastia
, e tem como objetivo reestabelecer o fluxo normal de urina entre rim e ureter
)
Ureterocele
É a dilatação cística (“forma uma bolha”) na extremidade do ureter (na união com a bexiga). Isso pode interromper fluxo de urina para a bexiga. A causa desse problema é uma malformação que ocorre ainda dentro do útero materno. Afeta mais meninas. 
Pode ser diagnosticada por ultrassom ante-natal (mais frequente) ou devido à infecção urinária. No entanto, algumas ureteroceles podem não ser visualizados em uma ultrassonografia, assim outros exames que podem ser indicados são a tomografia computadorizada e a ressonância magnética para avaliar melhor rins e bexiga. 
A ureterocele é potencialmente grave, porque predispõe os pacientes à formação de cálculos renais, retenção urinária, infecções urinárias recorrentes e infecções renais, que podem ocasionar danos graves aos rins e até insuficiência renal.
Duplicidade ureteral
Sistema coletor duplicado: existem dois ureteres provenientes de um único rim para levar a urina até a bexiga. Muitas vezes descoberta incidentalmente após uma ultrassonografia abdominal, entretanto sem causar nenhum problema na maioria dos casos.
Pode ser incompleta, quando os ureteres se unem antes da bexiga; e completa, quando os ureteres drenam a urina separadamente na bexiga ou o ureter do polo superior desemboca fora da mesma, ocasionando em alguns casos perda involuntária de urina na menina.
Megaureter congênito
1. Se existe refluxo de urina da bexiga para o ureter causando sua dilatação, será classificado como Megaureter primário refluxivo. 
2. Se há alguma dificuldade para passagem da urina pela junção do ureter com a bexiga, provocando o aumento de tamanho ureteral classificado como Megaureter primário obstrutivo 
O Megaureter primário resulta de uma anormalidade funcional ou anatômica localizada na junção ureterovesical, enquanto o megaureter secundário decorre de alguma anormalidade da bexiga ou uretra, como na válvula de uretra posterior, mielomeningocele e bexiga neurogênica.
Infecção do trato urinário 
 
Definição:
 
fixação e multiplicação bacteriana no trato urinário. Infecção pode ser localizada ou 
generalizada. Infecção urinária baixa= acomete bexiga; pielonefrite= no parênquima renal. 
 
Epidemiologia:
 
ITU mais comum na pediatria. 
Ocorrendo nos primeiros 11 anos de vida pelo 
menos um episódio sintomático de ITU em 3% das meninas e em 1,1% dos meninos.
 
Há uma 
maior incidência de ITU no 1º ano de vida, estimada em cerca de 1,4%, espe
cialmente para o 
sexo 
masculino, e depois do 1º ano cai a incidência em meninos e continua incidência alta em 
meninas até os 6 anos. 
 
Etiologia:
 
A maioria dos episódios de ITU é causada 
por bacilos Gram
-
negativos
 
aeróbicos, 
conhecidos como enterobactérias: Escherichia, Klebsiel
la, Enterobacter, Citrobacter, Proteus, 
Serratia e outros menos frequentes. 
A Escherichia coli
 
é o germe mais frequentemente 
identificado, sendo o agente etiológico em cerca de 80 a 90% dos casos no primeiro surto de 
ITU.Bactérias da espécie 
Proteu
s são en
contradas aproximadamente em 30% dos 
meninos 
com cistite
. 
 
Quadro clínico:
 
varia de acordo com 
o grupo etário e com a localização da infecção
. Outros 
fatores tambem influenciam como o estado nutricional
;
 
presença de alterações anatômicas do 
trato urinário
,
 
numero de infecções anteriores e o intervalo de tempo do ultimo episodio 
infeccioso. 
 
QC pode
 
variar de febre isolada ou alteração 
do habito miccional até a pielonefrite 
aguda. 
 
o
 
RN:
 
quadro séptico, com 
manifestações inespecíficas
 
como insuficiente ganho d
e peso, 
anorexia, vômitos, irritabilidade, hipoatividade, convulsões, pele acinzentada e 
hipotermia. 
Pode apresentar
-
se com um quadro menos agudo, predominando a recusa 
alimentar, vômitos ocasionais, palidez cutânea e icterícia.
 
o
 
Lactentes
: febre
 
principal 
manifestação e as vezes o único sinal de ITU. 
Pode ocorrer 
hiporexia, vômitos, dor abdominal e ganho ponderoestatural insatisfatório. Raramente 
há sinais ou sintomas ligados ao trato urinário, como polaciúria, gotejamento urinário, 
disúria, urina com odor 
fétido, dor abdominal ou lombar.
 
o
 
Pré
-
 
escolares e escolares:
 
Os quadros com 
maior acometimento do estado geral, 
adinamia, calafrios, dor abdominal e nos flancos sugerem pielonefrite aguda
. 
Sintomas 
como enurese, urgência, polaciúria, disúria, incontinência
 
e/ou retenção urinária com 
urina fétida e turva podem corresponder a um quadro de cistite.
 
o
 
Adolescentes:
 
disúria, polaciúria e dor à micção
,
 
podendo ocorrer também urgência 
miccional, hematúria e febre.
 
“
síndrome de disúria frequência” =
 
com sensação de q
ueimação ao urinar, desconforto 
suprapúbico e frequência urinária aumentada.
 
Cistite 
?
 
ITU baixo, que tem como sintoma mais recorrente a disúria 
(dor ou dificuldade ao 
urinar), 
sendo associada a polaciúria, urgência miccional, dor em região suprapúb
ica, alteração 
na cor,
volume e odor da urina e hematúria.

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