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Inimputabilidade por desenvolvimento mental incompleto ou retardado

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Introdução
1. Em caso de inimputabilidade, o agente que praticou o fato típico e antijurídico deve ser absolvido, aplicando-se medida de segurança. São causas de exclusão da imputabilidade: 
· inimputabilidade por doença mental; 
· inimputabilidade por desenvolvimento mental incompleto (menoridade penal); 
· inimputabilidade por desenvolvimento mental retardado; 
· inimputabilidade por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.
Critérios de aferição da inimputabilidade
1. Três são os sistemas sobre as causas de inimputabilidade: 
· sistema biológico: leva-se em conta a causa e não o efeito. Condiciona a imputabilidade à inexistência de doença mental, de desenvolvimento mental deficiente e de transtornos psíquicos momentâneos. Assim, se o sujeito é portador de doença mental e pratica um fato típico e antijurídico, pela circunstância de ser doente é considerado inimputável.
· sistema psicológico: para o sistema psicológico, o que importa é o efeito e não a causa. Leva em conta se o sujeito, no momento da prática do fato, tinha condição de compreender o seu caráter ilícito e de determinar-se de acordo com essa compreensão ou não. 
· sistema biopsicológico: é constituído dos dois primeiros. Toma em consideração a causa e o efeito. Só é inimputável o sujeito que, em consequência da anomalia mental, não possui capacidade de compreender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com essa compreensão. A doença mental, por exemplo, por si só, não é causa de inimputabilidade. É preciso que, em decorrência dela, o sujeito não possua capacidade de entendimento ou de autodeterminação. O nosso CP, como se vê nos arts. 26, caput, e 28, § 1º, adotou o critério biopsicológico.
Inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado
1. O art. 26, caput, determina que “é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. O doente mental pode ser considerado imputável? Depende. Se, no momento da conduta típica e ilícita, por causa de doença mental, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, deve ser considerado inimputável. Ao contrário, se, embora portador de doença mental, no momento da prática do fato tinha capacidade intelectiva e de autodeterminação, deve ser considerado imputável.
2. A segunda causa de inimputabilidade é o desenvolvimento mental incompleto, i.e., o desenvolvimento mental que ainda não se concluiu. É o caso dos menores de 18 anos (art. 27) e dos silvícolas inadaptados.
3. A terceira causa de inimputabilidade contida no art. 26, caput, é o desenvolvimento mental retardado. É o caso dos oligofrênicos (idiotas, imbecis e débeis mentais) e dos surdos-mudos (conforme as circunstâncias). 
Diminuição da capacidade de entendimento e de vontade – caso de redução da pena ou de aplicação de medida de segurança
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
1. É princípio de Psiquiatria que entre a saúde e a anormalidade psíquica não se pode traçar uma linha precisa de demarcação. Entre a saúde e a anormalidade mental há graus intermediários.
2. A responsabilidade diminuída, como o próprio nome indica, não constitui causa de exclusão da culpabilidade. O agente responde pelo crime com pena privativa de liberdade atenuada ou medida de segurança. E a sentença é condenatória. Podem ocorrer duas hipóteses: 
· o agente é inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento: aplica-se o caput do art. 26; 
· o agente não possui a plena capacidade de entendimento ou de determinação: aplica-se o parágrafo único do art. 26.
3. A reforma penal de 1984, no art. 98, adotou o sistema vicariante (ou unitário): ou é aplicada somente pena ou somente medida de segurança (se contrapondo, assim, ao sistema do duplo binário, que admite a aplicação sucessiva dos dois). É uma fórmula unicista ou alternativa: não podem ser aplicadas ao condenado semirresponsável uma pena e uma medida de segurança para a execução sucessiva.
Requisitos normativos da inimputabilidade
1. A capacidade psicológica manifesta-se por meio do entendimento e da vontade. Imputável é o sujeito que no momento da conduta possui capacidade de “entender o caráter ilícito do fato” e capacidade de “determinar-se de acordo com esse entendimento”. 
2. Há, então, dois requisitos normativos de imputabilidade: 
· intelectivo: o requisito (ou momento) intelectivo diz respeito à capacidade de entendimento do caráter ilícito do fato, i.e., capacidade de compreender que o fato é socialmente reprovável. 
· volitivo: o requisito (ou momento) volitivo diz respeito à capacidade de determinação, i.e., capacidade de dirigir o comportamento de acordo com o entendimento de que ele (comportamento) é socialmente reprovável. 
Faltando um dos requisitos, surge a inimputabilidade.
Menoridade penal
1. Nos termos do que dispõe o art. 26, caput, são inimputáveis os portadores de “desenvolvimento mental incompleto”, expressão que abrange os menores.
2. Enquanto para os outros casos (doença mental, desenvolvimento mental retardado e desenvolvimento mental incompleto em relação aos silvícolas inadaptados) o Código adotou o sistema biopsicológico, foi adotado o sistema biológico quanto aos menores (exceção à regra).
3. O art. 27 reza: 
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. 
4. Suponha-se agora que um rapaz de 17 anos de idade, casado, pratique um fato objetivamente criminoso. Pelo casamento, ele alcançou a maioridade civil. Em face do CP, porém, ele deve ser considerado inimputável, pois não tinha 18 anos de idade quando cometeu o fato.
5. O limite de idade deve ser fixado de acordo com a regra do art. 10, 1ª parte: “O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo”. Se o fato é cometido no dia em que o sujeito comemora seus 18 anos, responde por crime, pois não se indaga a que horas completa a maioridade penal.
6. É comum o entendimento de que o menor, tendo cometido um fato objetivamente criminoso antes dos 18 anos, responde pelo crime após completar a maioridade penal. Errado. Nos termos do que dispõe o art. 27, os menores de 18 anos de idade são absolutamente inimputáveis. Eles jamais sofrerão pena em face do CP ou de lei especial. Estão fora do CP ou da lei extravagante, aplicando-se a legislação especial.
7. A Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, dispõe sobre as medidas aplicáveis aos menores de 18 anos de idade pela prática de fatos definidos como infrações penais (Estatuto da Criança e do Adolescente). Interessante anotar que: “A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos” (Súmula 605 do STJ).
Referências: 
JESUS, Damásio de. Parte geral – arts. 1 ao 120 do CP. Vol 1. Atualizador: André Estefam. 37 ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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