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Alexandre Alves História 2022/2 Tópicos em Deslocamento Forçado e Refúgio Alexandre Alves 01 – Números do Refúgio no Mundo O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) possui uma vasta base estatística a respeito da situação dos refugiados no mundo. Esses dados são consolidados e apresentados a sociedade em geral através do documento Global Trends1. Infelizmente, o relatório divulgado não possui tradução para o português. Contudo, não é complicado entender os gráficos e a apresentação de resultados com conhecimentos básicos da língua inglesa. Vale destacar que os dados apresentados podem variar bastante de um ano para outro, isto porque, a situação do número de refugiados depende muito do contexto. Em um cenário de existência de várias guerras, esse número pode ser maior, enquanto em período de poucos conflitos, esse número pode ser bem menor. Atualmente, a Guerra na Síria, por exemplo é um dos principais focos de conflitos que forçam grandes contingentes populacionais a se deslocarem pelo globo. Caso esse evento cesse no país, por exemplo, e não havendo o surgimento de novos conflitos, haveria uma forte redução do número de deslocados forçados. Portanto, é muito importante analisar ano a ano para se ter uma visão geral. A título introdutório, como demanda a nossa disciplina, faremos breves considerações sobre o panorama atual. Partindo do Global Trends 2021, divulgado em 2022, analisando com ao dados disponíveis desde o ano de 2012 (uma década) ficou evidente o aumento vertiginoso no número de pessoas deslocadas de maneira forçada. “No final de 2021, o número total de pessoas em todo o mundo que foram obrigadas a fugir de suas casas devido a conflitos, violência, medo de 1 Disponível para consulta no https://www.unhcr.org/globaltrends.html 3. Números do Refúgio no Brasil e no Mundo https://www.unhcr.org/globaltrends.html Alexandre Alves História 2022/2 Tópicos em Deslocamento Forçado e Refúgio perseguição e violações dos direitos humanos foi de 89,3 milhões. Isso é mais que o dobro dos 42,7 milhões de pessoas que permaneceram deslocadas à força há uma década e o número mais alto desde a Segunda Guerra Mundial. Se conflitos em andamento não forem resolvidos e os riscos de novos surgirem não forem contidos, um aspecto que definirá o século XXI será o crescente número de pessoas obrigadas a fugir e as opções cada vez mais precárias disponíveis para elas. (UNHCR, 2022)2 No ano de 2012, o número de deslocados de maneira forçada já era bastante alto, cerca de 40 milhões de pessoas. Hoje, uma década depois, o número de refugiados chega a 89,3 milhões, ou seja, em dez anos, o número de deslocados mais que dobrou. Em termos numéricos, a maior parte dos refugiados tem origem em apenas cinco países. A Síria ainda é o principal ponto de origem, contando com 6,8 milhões de deslocados forçados. Em segundo lugar a Venezuela, com 4,6 milhões. Em seguida o Afeganistão com 2,7 milhões. O próximo a figurar na lista é o Sudão do Sul, com 2,4 milhões. Por fim, Myanmar na quinta posição com 1,2 milhões de refugiados. (UNHCR, 2021)3 A soma desses cinco países já chega a impressionantes 17,7 milhões de deslocados forçados. Para o Brasil, foram especialmente importantes a Síria e a Venezuela, principais pontos de origem dos refugiados que chegaram até nosso país. Figura 01 – Pessoas forçadas a fugir entre 2012 – 2022. Fonte: Global Trends 2021, p. 7. Em relação aos países anfitriões, os Estados Unidos da América figuram em primeiro lugar com mais de 188,900 solicitações de refúgio. Em seguida, a Alemanha com 148,200 solicitações. O México com 132,800 pedidos. Em quarto lugar a Costa Rica com 108,500 pedidos recebidos e, por fim, a França com 90,200 solicitações recebidas. (UNHCR, 2021) Vale destacar que o número de pedidos recebidos não necessariamente é igual ao número de refúgio concedidos, uma vez que muitos pedidos podem ser negados pelos países receptores. Além disso, existe a possibilidade de uma nação receber muitos pedidos e solicitar apoio de outras nações para melhor distribuir o número de 2 Tradução livre. 3 Dados disponíveis em: https://www.unhcr.org/62a9d1494/global-trends-report-2021 https://www.unhcr.org/62a9d1494/global-trends-report-2021 Alexandre Alves História 2022/2 Tópicos em Deslocamento Forçado e Refúgio deslocados. Lembrando que pelos tratados pactuados, a redistribuição deve seguir o caráter voluntário, sempre considerando a família como um todo, sem possibilidade de separação. Também é importante ressaltar que a maior parte dos refugiados acaba solicitando refúgio em países limítrofes ou muito próximos. Isso ocorre devido ao contexto de fuga. Muitas vezes, essa população precisa se deslocar imediatamente, o que impede qualquer preparo ou organização prévia. Nesse sentido, é mais fácil que essas pessoas alcance um país vizinho que que uma nação distante, separada por um oceano, por exemplo. Claro que existem refugiados que fogem em navios, por exemplo, e acabam alcançando nações distantes. Contudo, são menores o número de casos assim. Por fim, vale mencionar que os conflitos bélicos, internos ou externos, são os grandes causadores de fluxos de refugiados. Nesse sentido, conforme aumenta o número de países em guerras internacionais ou civis. O número de refugiados aumenta concomitantemente. A esse respeito, o Global Trends 2021 destaca (p.7): “Talvez o ano de 2021 tenha sido o mais notável pelo número impressionante de conflitos existentes que se intensificaram e pelos novos conflitos que eclodiram. De acordo com o Banco Mundial, 23 países, com uma população combinada de 850 milhões de pessoas, enfrentaram conflitos de alta ou média intensidade em 2021. O número de países afetados por conflitos dobrou durante a última década, com mulheres e crianças desproporcionalmente expostas a uma discriminação arraigada e a uma extrema vulnerabilidade.”4 02 – Números do Refúgio no Brasil Segundo dados do 7º Relatório Refúgio em Números5, entre os anos de 2011 e 2021 foram 297.712 solicitações de refúgio feitas no Brasil, sendo que só no último ano foram 29.107 solicitações. No final de 2021, 60.011 pessoas possuíam o status de refugiado no Brasil. Conforme dados do ACNUR, 89,3 milhões de pessoas possuíam a situação de refúgio reconhecida ao redor do mundo. Com base nesses dados, constatamos que o Brasil mantém em seu território apenas 0,07% dos refugiados atuais. Contudo, esse dado pode causar um leve engano em termos de importância em se pensar a situação de refúgio dentro do nosso contexto local. Antes de prosseguir, se faz necessário destacar um pouco melhor os números atuais. As solicitações realizadas no ano de 2021 tiveram origem em 117 países, número que destaca a relevância de se pensar o tema, uma vez que a diversidade de nacionalidades (e apátridas)6 que fazem a solicitação impressiona. Contudo, também é de grande destaque a presença de venezuelanos. Sobre esse último grupo ressalta- se o seguinte: 4 Tradução livre. 5 Disponível em: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Obmigra_2020/OBMigra_2022/REFÚGIO_EM_NÚMEROS/Re fúgio_em_Números_-_27-06.pdf 6 São pessoas que não têm sua nacionalidade reconhecida por nenhum país. O apátrida ocorre por várias razões, como discriminação contra minorias na legislação nacional, falha em reconhecer todos os residentes do país como cidadãos quando este país se torna independente (secessão de Estados) e conflitos de leis entre países. (ACNUR, 2021) https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Obmigra_2020/OBMigra_2022/REFÚGIO_EM_NÚMEROS/Refúgio_em_Números_-_27-06.pdf https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Obmigra_2020/OBMigra_2022/REFÚGIO_EM_NÚMEROS/Refúgio_em_Números_-_27-06.pdf Alexandre Alves História 2022/2 Tópicosem Deslocamento Forçado e Refúgio “(...) a maior parte das pessoas que solicitou reconhecimento da condição de refugiado no Brasil, em 2021, possuía a nacionalidade venezuelana, ou tinha na Venezuela o seu país de residência habitual. Foram 22.856 solicitações de reconhecimento da condição de refugiado, que corresponderam a 78,5% dos pedidos recebidos pelo Brasil naquele ano. Logo em seguida, destaca-se, também, o número significativo de pessoas de nacionalidade angolana, ou que tinham em Angola o seu país de residência habitual: 1.952 solicitantes de reconhecimento da condição de refugiado, que representaram 6,7% do total de solicitações em 2021.” (JUNGER et al, 2022 p. 10 e 11) Além dos Venezuelanos, responsáveis por 22.856 solicitações só no último ano, vale destacar o número de angolanos, 1.952. Apesar de ser um dado bem inferior, A Angola é o segundo principal ponto de origem de refugiados que solicitam o reconhecimento de sua condição em solo brasileiro. Em terceiro lugar. Figura o Haiti com 794 pedidos. Em seguida Cuba com 529 solicitações. Vale a mesma observação feita anteriormente, o número de pedidos não necessariamente é o mesmo de refúgios concedidos, pois pode ocorrer a negação da solicitação. Caso em que o refugiado pode entrar com processo em segunda instância, cabendo ao ministro da justiça do Brasil decidir definitivamente. Cabe ainda uma pequena consideração: O Brasil também recebeu nos últimos anos uma grande quantidade de refugiados sírios. Dado o contexto da guerra civil que eclodiu no país, o Brasil chegou a facilitar o processo de reconhecimento da condição de refugiado para esse povo. Feita a explicação um pouco mais detalhada quando aos solicitantes de refúgio, voltemos ao debate acerca da importância do Brasil nesse cenário para concluir a presente aula. Apesar de possuir apenas 0,07% da população deslocada de forma forçada, o Brasil possui importância relativa em termos regionais. Quando analisamos à América do Sul, percebemos que o Brasil ocupa o primeiro lugar na acolhida aos refugiados. Apenas o Ecuador recebeu um número de deslocados de maneira forçada similar ao Brasil, 56.603 pessoas ao total. Em terceiro lugar, vem a Argentina, com apenas 4050 refugiados. A Guiana Francesa, última colocada da lista, possuía apenas 40 pessoas em situação de refúgio. Nesse cenário, observa-se que o Brasil tem um imenso potencial para ser líder regional em acolhida a pessoas em situação de refúgio. Alexandre Alves História 2022/2 Tópicos em Deslocamento Forçado e Refúgio 03 – Referências Bibliográficas ACNUR. Acnur Brasil, 2022. Agência da ONU para Refugiados (Brasil). Disponível em: https://www.acnur.org/portugues/ Acesso em agosto/setembro de 2022. ACNUR. Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. 28 de julho de 1951. Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Convencao_relativa_ao _Estatuto_dos_Refugiados.pdf Acesso em 12 de setembro de 2022. ACNUR. Declaração de Cartagena. 22 de novembro de 1984. Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BD_Legal/Instrumentos_Inter nacionais/Declaracao_de_Cartagena.pdf Acesso em 01 de setembro de 2022. ACNUR. Protocolo de Nova Iorque Relativo ao Estatuto dos Refugiados. 04 de outubro de 1967. 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In: XI Encontro Nacional sobre Migrações. 11., 2019, São Paulo. Anais Eletrônicos do XI Encontro Nacional sobre Migrações. São Paulo, 2019. FERNANDES, J. D. M. Coordenação e desafios do processo administrativo de refúgio no Brasil. Revista do Serviço Público (RSP), Varginha – Minas Gerais, v. 72, n. 3, p. 505-528, jul./2021. GOVERNO FEDERAL. Ministério da Justiça e Segurança Pública: CONARE. Comitê para Refugiados. Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/seus- direitos/refugio/institucional Acesso em agosto/setembro de 2022. JUNGER, Gustavo; CAVALCANTI, Leonardo; OLIVEIRA, Tadeu de; SILVA, Bianca G. Refúgio em Números (7ª Edição). Série Migrações. Observatório das Migrações Internacionais; Ministério da Justiça e Segurança Pública/ Conselho Nacional de Imigração e Coordenação Geral de Imigração Laboral. Brasília, DF: OBMigra, 2022. PEREIRA, Bruna de Paula Miranda. 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J; CAVALCANTI, L; OLIVEIRA, T; MACEDO, M. Refúgio em Números, 5ª Ed. Observatório das Migrações Internacionais; Ministério da Justiça e Segurança Pública/Comitê Nacional para os Refugiados. Brasília, DF: OBMigra, 2020. SILVA, G. S. D; FERNÁNDEZ, Thaís Dutra. O acolhimento de refugiados sírios e o discurso adotado internacionalmente: Uma análise comparativa entre o Brasil e a França. Revista de Direito Brasileira, Florianópolis - SC, v. 26, n. 10, p. 66-83, ago./2020. SOUSA, Suzyanne Valeska Maciel de. O Conceito de Refugiado: Historicidade e Institucionalização. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 30, 2019, Recife. Anais do 30º Simpósio Nacional de História da ANPUH. Recife: ANPUH, 2019. UNHCR. Global Reports, 2021: The stories behind the numbers, 2022. Disponível em: https://reporting.unhcr.org/globalreport2021 Acesso em agosto/setembro de 2022. UNHCR. Global Trends, 2021: Forced Displacement in 2021, 16 June 2022. Disponível em: https://www.unhcr.org/publications/brochures/62a9d1494/global-trends-report- 2021.html Acesso em agosto/setembro de 2022. UNHCR. UNHCR, 2021. The UN Refugee Agency. Disponível em: https://www.unhcr.org/ Acesso em junho de 2021. Alexandre Alves História 2022/2 Tópicos em Deslocamento Forçado e Refúgio 04 – Questão de Concurso Ano: 2022 Banca: FEPESE Órgão: Prefeitura de Guatambú - SC Provas: FEPESE - 2022 - Prefeitura de Guatambú - SC - Professor de Educação Infantil - Edital nº 002 Milhares de pessoas em todo o mundo, fugindodas guerras, das perseguições políticas ou vítimas de cataclismos naturais, buscam recomeçar a sua vida em um novo país. Assinale a alternativa que indica países de onde vieram os maiores grupos de refugiados para o Brasil, nos últimos 10 anos. A. Israel, Kosovo e Irlanda B. Palestina, Zaire e Ucrânia C. Estados Unidos, Venezuela e Haiti D. Grécia, Angola e Cabo Verde E. Síria, Venezuela e Haiti Resposta: E Conforme Relatório Refúgio em Números, analisado ao longo dessa aula, o Brasil recebeu em sua grande maioria Sírios, Venezuelanos e Haitianos nos últimos anos. Vale destacar que atualmente o número de refugiados venezuelanos é muito superior às demais nacionalidades.
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