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1 Louyse Jerônimo de Morais Aneurisma da aorta abdominal 1. Conceitos gerais • Aneurisma: dilatação > 50% do diâmetro normal do vaso. Se menor que isso, chamamos de ectasia. 2. Classificação 2.1 Anatomia • Fusiforme: é o tipo mais comum de todos. • Saculares: risco de ruptura é maior, porque a pressão dentro dele é maior. 2.2 Verdadeiro vs. pseudo • Verdadeiro: aneurisma que é composto por todas as camadas do vaso. • Pseudoaneurisma: hematoma pulsátil não contido por todas as camadas. 2.3. Etiologia No caso da aorta, o tipo é degenerativo, associado à aterosclerose. Leva-se em consideração a relação do aneurisma com a emergência das artérias renais. • Tipo I: infrarrenais; é o mais comum de todos e apresenta um segmento livre abaixo das artérias renais. Isso é importante, porque para colocar endoprótese, o ideal é haver um colo livre para que ela seja fixada. • Tipo II: justarrenais; imediatamente após a emergência das renais. Nessa situação, não há um “colo” livre. • Tipo III: pararrenais; englobam a emergência das renais. • Tipo IV: toracoabdominais; acima e abaixo da emergência das renais. 3. Fatores de risco • Tabagismo [8:1] • Sexo masculino • Idade avançada, raça branca, história familiar positiva • Hipercolesterolemia, HAS, DPOC O DM não é fator de risco para formação de aneurisma de aorta abdominal. 4. Fatores de proteção • DM, sexo feminino e negros 5. Clínica Geralmente, o paciente vai ser assintomático. O que pode acontecer, vez ou outra, em um exame de abdome de rotina de um paciente mais magro, é a palpação de uma massa pulsátil em linha média. Na maioria dos casos, vai ser um achado. Quando o paciente for sintomático, o que ele apresenta é uma dor abdominal vaga e inespecífica. 6. Diagnóstico • USG: avalia diâmetro transverso e longitudinal. Também usado para rastreio e seguimento. o O grande problema da USG é que ela não avalia a ruptura. • TC/angio-TC: exame mais específico, pois consegue delinear de maneira precisa o aneurisma de aorta abdominal, bem como o diâmetro do lúmen, a relação com vasos renais e ilíacos e a presença de trombos e calcificações. • Angio-RM: ausência de radiação e sem contraste iodado, porém não é tão disponível e não identifica calcificações. Por conta disso, não costuma ser feito na prática. • Arteriografia: muito invasivo; avalia a relação com outros vasos, mas não identifica trombos. Ainda é considerado o padrão-ouro [?]. 7. Seguimento USG • 2,6 a 2,9 cm: repete USG a cada 5 anos. • 3,0 a 3,4 cm: repete USG a cada 3 anos. • 3,5 e 4,4 cm: faz USG anual 2 Louyse Jerônimo de Morais • 4,4 e 5,4 cm: a cada 6 meses. O seguimento é feito para avaliar diâmetro e para ver se está tendo expansão, porque são fatores de risco relacionados à ruptura. Se o aneurisma tiver um diâmetro ≥ 5,5, deve- se parar o seguimento e fazer cirurgia eletiva no paciente, pois nesse caso o risco de ruptura é muito alto. 8. Tratamento clínico • Seguimento USG • Suspender o tabagismo: é considerada a medida mais importante do manejo clínico. • Controle de HAS e da dislipidemia: não se relacionam diretamente com o aneurisma, mas faz o controle para reduzir o risco cardiovascular do paciente, pois isso não diminui a taxa de expansão do aneurisma. 9. Indicações de cirurgia eletiva • Diâmetro maior ou igual a 5,5 cm • Crescimento > 0,5 cm em 6 meses ou > 1 cm em 1 ano. • Sintomático • Complicações: infecção, embolização periférica. • Formação sacular Pode fazer reparo aberto para o paciente, sendo que as complicações que podem acontecer são IAM e IRA. No entanto, o que vem ganhando mais espaço é o reparo endovascular. Sempre que possível, escolhe esse, especialmente em pacientes com muitas comorbidades e risco cirúrgico aumentado, porque o dano cirúrgico é bem menor. Além disso, é necessário que haja uma anatomia favorável [tipo I]. Existem vantagens no pós-operatório imediato, pois o risco de morbimortalidade é muito menor. Quando se pensa em resultados em médio e longo prazo, eles são semelhantes. Então, pode fazer qualquer método, mas no caso da cirurgia aberta, o paciente tem que aguentar. Complicações de reparo endovascular • Sítio de punção: sangramento, hematoma, pseudoaneurisma. • Endoleak: principal causa de falha de um reparo endovascular. Leak, no inglês, significa vazamento. Então, endoleak é o vazamento quando se utiliza a prótese. • Tipo I: falha na vedação proximal [IA] ou distal [IB]. Quando você acopla a endoprótese, tem que fixar embaixo e em cima, se tiver falha de vedação, ocorre vazamento. Esse tipo de endoleak exige tratamento imediato. • Tipo II: é o tipo mais comum e ocorre quando há enchimento retrógrado dos vasos [lombares ou artéria mesentérica inferior]. Chegando na aorta, temos, por exemplo, vasos lombares e artéria mesentérica inferior. Se não tiver muito cuidado, você pode ter enchimento retrógrado. Na cirurgia aberta, faz a ligadura desses vasos, por isso é complicação do tratamento endovascular. Deve tratar se houver dilatação, faz uma embolização. • Tipo III: falha de um componente ou na vedação entre eles. Faz tratamento imediato. • Tipo IV: vazamento pelos poros da prótese. É autolimitado e geralmente se revolve após o fim da anticoagulação. • Tipo V: dilatação na ausência de vazamento visível. Autolimitado e se resolve após o fim da anticoagulação. Tipo I e III, tipo II se tiver dilatação. Tipo IV e V não trata. Ruptura de aneurisma da aorta abdominal 1. Fatores de risco • Tabagismo • Sexo feminino • Diâmetro inicial, crescimento rápido • HAS, transplante renal ou cardíaco, VEF1 reduzido • Aneurisma sacular 2. Clínica • Se conseguir tamponar, o paciente não vai a óbito. • Tríade: massa pulsátil, dor abdominal e hipotensão. Está presente em apenas ⅓ dos casos. 3. Diagnóstico Se paciente estável, faz angio-TC. 3 Louyse Jerônimo de Morais Acima, veja densidade anômala, com aspecto infiltrativo, hematoma no retroperitônio, bem como ausência de plano de clivagem entre aorta e músculo psoas. 4. Tratamento Intervenção imediata! Se o paciente estiver estável e com anatomia favorável, faz tratamento endovascular. Se paciente instável, coloca um balão intra-aórtico para controlar sangramento e aí sim faz avaliação com arteriografia. Se favorável, faz tratamento endovascular. A cirurgia convencional é feita se não houver controle do sangramento, se a anatomia for desfavorável ou se continua sangrando imediatamente à colocação da endoprótese. Dissecção da aorta torácica É preciso haver um rasgo na camada íntima, o que leva à formação de um falso lúmen na camada média. Pelo rasgo, começa a entrar o sangue com pressão, que vai aumentando o “buraco” até fazer um falso trajeto na camada média. 1. Fatores de risco • HAS [70% dos casos] • Aterosclerose [30% dos casos] • Uso de cocaína e crack: promovem pico hipertensivo. • Atividade física extenuante • Doenças do tecido conjuntivo: Marfan, Ehlers- Danios • Valva aórtica bicúspide, coarctação da aorta e síndrome de Turner • Gestação 2. Classificação • Stanford: hoje em dia, é a mais utilizada. o A: acomete a aorta ascendente. É o tipo mais comum. o B: não acomete a aorta ascendente. • DeBakey o Tipo I: origem na ascendente e se estende por toda a aorta. o Tipo II: limitada à aorta ascendente. o Tipo III: origem distal à subclávia esquerda, podendo ou não se estender para aorta abdominal. ▪ IIIA: não passa do tronco celíaco, ou seja, mais ou menos restrito ao tórax. ▪ IIIB: ultrapassa. 3. Clínica • Tipo A - dor torácica, náusea e sudorese. • Tipo B - dor na região dorsal ou toracodorsal. 4. Diagnóstico • Arteriografia vem sendo cada vez menos utilizada • ECO TT • ECOtransesofágico: ideal para pacientes instáveis • Angio-TC: vê-se duas luzes no vaso. É o exame mais utilizado. 5. Tratamento 4 Louyse Jerônimo de Morais • Suporte em terapia intensiva + analgesia com opioide • Controle da FC e PAS: FC < 60 bpm e PAS < 120 mmHg. o Betabloqueador o Pode pensar em nitroprussiato de sódio se não controlar a pressão apenas com o betabloqueador. • Stanford A: tratamento cirúrgico imediato, porque pode dissecar de maneira retrógrada e evoluir com tamponamento cardíaco e ruptura da aorta. • Stanford B: se o paciente estiver estável hemodinamicamente, faz primeiramente uma terapia medicamentosa. Faz cirurgia se a dor for persistente ou se tiver associação com dilatação aneurismática da aorta, bem como em casos de isquemia de órgãos, propagação distal e dissecção retrógrada até aorta ascendente. Doença arterial periférica Doença vascular sempre acaba sendo a mesma coisa. A doença vascular respeita um passo a passo. A doença arterial periférica é semelhante à doença coronariana, tanto nos fatores de risco como na clínica. 1. Fatores de risco • Aterosclerose: tabagismo, hipercolesterolemia, HAS, DM, dislipidemia, hiper-homocisteinemia e raça negra. 2. Clínica • Claudicação intermitente: dor que aparece aos esforços, isto é, ao deambular, devido ao aumento da demanda metabólica pelo oxigênio, que não chega, por conta da oclusão ou semi-oclusão. A claudicação aparece como uma dor na panturrilha após alguns minutos de caminhada que alivia após 2 a 5 minutos de repouso. Independente do ponto da oclusão, a dor geralmente ocorre a nível das panturrilhas. A distância que o paciente conseguir percorrer é denominada distância de marcha. • Síndrome de Leriche: oclusão bilateral ao nível do segmento aorto-ilíaco. A clínica é de claudicação na panturrilha, na coxa e nas nádegas. Pensar em paciente do sexo masculino com história de impotência sexual. • Isquemia crítica: presença de dor em repouso. • Úlcera isquêmica: também mostra doença mais avançada • Pele seca, brilhante e sem pelos são algumas das manifestações cutâneas • Redução dos pulsos nos MMII: a presença de pulso não afasta a possibilidade de doença arterial periférica. 3. Diagnóstico • História + fatores de risco + exame físico • Índice tornozelo braquial [ITB] o Claudicação: entre 0,5 e 0,9 o Isquemia crítica: < 0,4 Sempre que for avaliar paciente com DAP, fazer o cálculo do ITB, que é uma relação entre a PAS ao nível do tornozelo com a PAS ao nível do braço. Pega a maior PA ao nível do tornozelo e relaciona com a maior PA do braço. Na prática, o ideal é identificar o vaso através de USG doppler, para avaliar onde a pressão é mais intensa. Normalmente, a PAS, até pela presença da gravidade, é um pouco mais elevada ao nível do tornozelo, então o normal é ITB de 1,1 podendo variar 0,1 para mais ou para menos. Na DAP, você diminui a PAS a nível do tornozelo. • USG doppler: avalia presença de estenose. • Angio-TC e angiografia: angiografia é o padrão ouro. Geralmente, feitos na avaliação pré- operatória, para confirmar o local da oclusão, a fim de realizar revascularização. 4. Medidas gerais • Interromper o tabagismo • Controle do DM • Controle da dislipidemia: se necessário, fazer estatinas [manter LDH < 100 a 70 mg/dL] • Antiagregantes plaquetários: reduz risco de eventos cerebrovasculares • Controle da PA: pode agravar a clínica, mas faz para proteger contra eventos cardiovasculares. Claudicação intermitente • Para aumentar a distância de marcha, fazer: o Exercício físico supervisionado: de maneira progressiva o Cilostazol: inibidor da fosfodiesterase. Antiagregante e vasodilatador. A grande função é aumentar a distância de marcha do paciente. Intervenção • Indicações: sintomas significativos mesmo com as medidas conservadoras, isquemia 5 Louyse Jerônimo de Morais ameaçadora [isquemia crítica, úlcera que não cicatriza]. • Intervenção endovascular: angioplastia com ou sem stent. • Revascularização: by-pass • Amputação: na prática, é uma terapia de exceção. Oclusão arterial aguda dos MMII 1. Causas • Embolia: na história, tem que ter fator de risco, como fibrilação atrial, por exemplo. • Trombose: geralmente é um paciente que evolui. A causa é a doença aterosclerótica, por evolução da DAP. Quando já há algum grau de circulação colateral, o quadro é mais brando. A embolia é um quadro mais agudo do que a trombose. Nesta última, o paciente já tinha uma história de claudicação intermitente. • Locais: bifurcação femoral > bifurcação de ilíaca > aorta > poplíteo. Como é um evento hiperagudo, o paciente não tem história de claudicação intermitente prévia. Além disso, não tem circulação colateral, por isso tende a ser catastrófico com quadro mais exuberante. 2. Clínica: 6Ps. • PAIN [dor] • Palidez • Pulselessness [ausência de pulso]: a presença de pulso não afasta a possibilidade. • Parestesia • Paralisia • Poiquilotermia Começa formigando, depois parestesia, plegia, anestesia total. É a evolução dos 6Ps. 3. Tratamento e classificação • Proteção térmica: algodão ortopédico. • Heparinização: para evitar progressão do quadro. 4. Classificação I Viável e sem ameaça Trombose: arteriografia + trombolítico. IIA Ameaça reversível com tratamento IIB Ameaça reversível com tratamento IMEDIATO Êmbolo: arteriotomia + embolectomia III Irreversível [presença de rigidez] Amputação Insuficiência venosa crônica - varizes dos MMII A veia faz o retorno venoso, mas não há nada empurrando, como é no sangue arterial. Para voltar para o coração, ela tem vários sistemas de válvulas. Quem controla as válvulas é o efeito de bomba pela musculatura adjacente a essas veias. Se houver algum problema nesse mecanismo, tem-se uma congestão venosa. Isso vai gerar alteração na parede das veias, dando um aspecto mais varicoso. Assim, a veia deixa de funcionar da maneira correta. 1. Fatores de risco • Idade > 50 anos • Sexo feminino: relação hormonal com progesterona e estrogênio • Postura durante atividade profissional • Trombose venosa profunda 2. Clínica Em geral, o paciente é assintomático ou oligossintomático. Quando tiver clínica, vai apresentar dor e sensação de peso nos membros inferiores. Dependendo do quadro, pode ter prurido. Manifesta-se, também, por meio de alterações cutâneas, como telangiectasias e veias reticulares. Em quadros avançados, úlceras venosas - áreas com alterações tróficas [acima do maléolo medial é o local mais tradicional]. A úlcera venosa tem que ser única, de fundo plano e secretante [úmido]. Além disso, também pode haver tromboflebite e erisipela de repetição. A dor e sensação de peso vai progredindo ao longo do dia pela própria gravidade. Melhora à noite, ao elevar o MMII. Também é aliviada com o uso de meias elásticas. O ideal é colocar meia elástica pela manhã, porque a recomendação é que o paciente durma com os pés elevados. Quando acorda, não tem tanto edema, então coloca a meia. 6 Louyse Jerônimo de Morais 3. Classificação CEAP: clínica, etiologia, anatomia e fisiopatologia. Na prova de residência, o que aparece é a classificação C. • C0: sem sinais visíveis. • C1: telangiectasias e/ou veias reticulares. • C2: veias varicosas. • C3: veias varicosas + edema • C4a: hiperpigmentação ou eczema. • C4b: lipodermatoesclerose. • C5: úlcera venosa cicatrizada • C6: úlcera ativa. • Classe S: sintomático. • Classe A: assintomático 4. Diagnóstico e avaliação • Clínico • USG com doppler: avalia gravidade ou progressão • Flebografia: pode fazer em quadros mais duvidosos. 5. Tratamento • Medidas conservadoras: elevação do membro, deambulação e atividade física, meias de compressão [20 a 30 mmHg;pressão maior ou igual a 40 mmHg para recorrência de úlceras] • Medidas de intervenção o Telangiectasias ou veias reticulares [C1]: escleroterapia, “laser” transdérmico. o Veias varicosas [C2]: tratamento cirúrgico. o Edema [C3] ou alterações tróficas [C4]: meias elásticas, tratamento cirúrgico. o Úlcera cicatrizada [C5]: cirurgia na insuficiência superficial, meias elásticas com compressão ≥ 40 mmHg. o Úlcera ativa [C6]: meias e bandagens de proteção, avaliar cirurgia. 6. Semiologia • Sinal de Moses: dor à descompressão lateral da musculatura da panturrilha. • Sinal de Homans: dor na panturrilha à dorsiflexão do pé. • Sinal de Bancroft: dor à compressão da panturrilha contra a superfície óssea.