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Conteudista: Prof.ª Esp. Débora Cabrera Novaes Adequação: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro Objetivos da Unidade: Observar as transformações educacionais no curso histórico entre a Idade Média e o Século XIX; Perceber a conexão de fundamentos históricos e �losó�cos com as formulações e práticas educacionais; Estudar de forma crítica como as transformações históricas impactam as perspectivas pedagógicas. Contextualização Material Teórico Material Complementar Referências Transformações Educacionais Entre a Idade Média e o Século XIX De que maneira nos relacionamos com as questões pedagógicas do passado? Como essas questões podem mobilizar nossas re�exões sobre a pedagogia atual? O que passa e o que persiste em nossa realidade? 1 / 4 Contextualização Idade Média A Formação do Homem de Fé Com a decadência do Império, a religião passou a predominar, exercendo in�uência política e espiritual: A Educação 2 / 4 Material Teórico Período de quase mil anos (de 476 a 1453); Alta Idade Média (período em que surge a formação religiosa e o aparecimento da razão); Baixa Idade Média (burgueses viviam nas cidades, chamadas “burgos”, denominação da qual se origina o termo “burguês”, que signi�ca “homem da cidade”); Escravismo e feudalismo; Predomínio da agricultura e do artesanato; Sociedade: na Idade Média, a nobreza era composta por marqueses, condes, viscondes, barões e cavaleiros. Os monges eram os únicos letrados; traduziram as obras gregas, que foram escondidas pela Igreja. Aos servos se destinava uma formação cristã, com base na poesia, história e música. A Pedagogia e a Religião A �loso�a dos padres da Igreja perdurou do séc. II ao V. Duas �loso�as predominaram nesse período: a �loso�a “patrística” e a �loso�a “escolástica”. A �loso�a “patrística” é a �loso�a elaborada pelos padres da Igreja. A pedagogia era traduzida através da religião, formando os homens “iluminados”, ou seja, os bons cristãos. A educação surgiu com um único fundamento: o da salvação da alma para a vida eterna. A principal �gura desse período foi Santo Agostinho (354-430). Para Santo Agostinho, o saber não é transmitido ao aluno, pois a verdade é uma experiência que não vem do exterior, mas sim de dentro de cada um. Toda educação é uma autoeducação, possibilitada pela iluminação divina. A �loso�a “escolástica”: escolas cristãs do séc. IX a XIV. O termo “escolástico” vem do latim scholastĭcus, no sentido de “escola”. Autoridade: papa. Era o início do período das trevas. A escolástica é a mais alta expressão da �loso�a cristã medieval. O método escolástico era constituído por: leitura, comentários, questões, discussões sobre o livro sagrado: Bíblia. A principal �gura desse período foi São Tomás de Aquino (1225-1274). Para ele, a educação é uma atividade que torna realidade aquilo que é potencial, processo que o próprio educando desenvolve com o auxílio do mestre, atualizando as suas próprias potencialidades. Reforma: Século XVI O espírito renovador manifesta-se, na religião, com Martinho Lutero (1483-1546), e faz surgir, na Alemanha, a Reforma Protestante, com ideais de mudanças. Martinho Lutero nasceu em uma modesta família de mineradores, seguiu seus estudos religiosos num mosteiro agostiniano, porém, em uma viagem à Itália, em 1510, �cou impressionado com a corrupção dominante nas esferas de poder do clero. A repugnância por tudo o que viu o fez afastar-se da Igreja Católica. Em 1517, publicou 95 teses sobre os abusos e as pretensões da Igreja o�cial, iniciando uma tormentosa relação com Roma. A Reforma valorizava a religiosidade interior e o princípio da liberdade de leitura do texto sagrado, resultando, para todo cristão, na posse de instrumentos elementares de cultura e na necessidade de difundir essa posse em nível popular. O objetivo era estabelecer um vínculo direto entre Deus e o �el. Em sua base, havia certa aversão pela hierarquia eclesiástica, considerada responsável pela desordem disciplinar e pela corrupção que dominava a Igreja em Roma. Martinho Lutero recebia o apoio dos nobres que estavam interessados no con�sco do clero. A educação tornou-se importante instrumento para a divulgação da Reforma. Lutero priorizou a gratuidade da instrução para todos, defendendo uma educação pública, sob responsabilidade do Estado. Propunha uma educação por meio de jogos, exercícios físicos, música (seus corais tornaram-se famosos), e recomendava o estudo da matemática e da história, além de valorizar a literatura. “Se não existissem nem a alma nem o Paraíso nem o Inferno, e ainda se não se deve levar em consideração apenas as questões temporais, haveria igualmente necessidade de boas escolas masculinas e femininas, e isso para poder dispor de homens capazes de governar bem e mulheres em condições de conduzir bem suas casas.” (LUTERO). Para Lutero, a lei de Deus não podia ser mantida através de punhos e armas, mas apenas com a cabeça e com os livros. Contrarreforma Com a ruptura realizada pelos protestantes, mais precisamente por Martinho Lutero, a Igreja Católica procurou meios para reverter o quadro, pois estava perdendo �éis. O papa Paulo III Farnese convocou um concílio, chamado Concílio de Trento (1546-1563), com o intento de dar corpo às reivindicações. Esse concílio rea�rmava os princípios da fé e a supremacia papal e determinava a criação de seminários para formar padres. O concílio procurou determinar alguns pontos essenciais para a Igreja, como estudos bíblicos e teológico-�losó�cos, com o objetivo de desenvolver as ordens religiosas. O objetivo era frear o avanço da heresia protestante e propagar a religião católica nos países do Novo Mundo. Esse movimento teve grande in�uência tanto cultural quanto pedagógica, pois a Igreja passou a dar importância não só à educação eclesiástica, mas também à educação dos jovens descendentes dos grupos dirigentes. O elemento mais importante da pedagogia, na Contrarreforma, foi a proliferação de colégios e internatos pelo mundo. As ordens iniciaram com 144 e chegaram a 1749 colégios. Em 1534, foi fundada a Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola (1491-1556), um militar espanhol que, ao recuperar-se de um ferimento ocasionado em uma batalha, colocou-se a serviço da fé. A pedagogia dos jesuítas estava voltada ao preparo rigoroso da mente (memorização) e direcionava a formação para o magistério através de manuais, normas e informações bibliográ�cas. Em 1550, foi fundado o Colégio Romano, para a formação do mestre. O resultado dessa experiência de�niu-se com o documento “Organização dos Planos de Estudos”, chamado Ratio Studiorum. A seguir, um trecho desse manual: - FRANCA, 1952, p. 145 “Repetições em casa. Todos os dias, exceto os sábados, os dias feriados e os festivos, designe uma hora de repetição aos nossos escolásticos para que assim se exercitem as inteligências e melhor se esclareçam as di�culdades ocorrentes. Assim um ou dois sejam avisados com antecedência para repetir a lição de memória, mas só por um quarto de hora; em seguida um ou dois formulem objeções e outros tantos respondam; se ainda sobrar tempo, proponham-se dúvidas. E para que sobre, procure o professor.” Não davam importância à história, à geogra�a e à matemática, pois consideravam ciências vãs. Do �m do século XVI até o início do século XVIII, ninguém se atreveu a discordar da Companhia de Jesus. Em 1549, com Manuel da Nóbrega, a Companhia de Jesus chegou a Salvador com o objetivo de criar a escola de ler e escrever, promover a catequese dos índios, educar os �lhos de colonos e formar novos sacerdotes e a elite intelectual. Por interesses políticos, os jesuítas foram expulsos de vários países, e o papa Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus em 1773. O sistema educacional sofreu uma desestabilização, porque os jesuítas possuíam muitos colégios. Renascimento A Emergência da Pedagogia da Existência O Renascimento foi palco de transformações sociais intensas, com efeitos que perduram até os dias de hoje. A sociedade renascentista foi aos poucos construindo seu edifício �losó�co tendo como pilar a razão, desenvolvendo-se a partir dos pressupostos de um sujeito racional que atestaria sua existência pela capacidade de pensar. A pedagogia da essência, legada da época grega e do cristianismo, encontrou terreno fértil para sua sequência epistemológica no Renascimento. A razão é considerado o atributo essencial da natureza humana, a racionalidade seria a orientadora dos caminhos de uma vida humana plena. A educação, seguindo esses princípios, deve contrapor-se a tudo aquilo que diverge desse projeto racional. Apesar do desenvolvimento da pedagogia da essência, esta não se consolidou como soberana no Renascimento, pois em seu bojo emergiu a chamada pedagogia da existência. O passado, tido como o grande feitor das ideias imutáveis e absolutas, passa a ser questionado por indivíduos cada vez mais interessados em suas circunferências particulares. É tempo também de confrontos com as autoridades da Igreja e sua concentração de poder e determinação dos desígnios da vida na terra. Tendo a razão como centro, o sujeito produtor de conhecimento passa a olhar para si, para seu entorno, e a enfrentar-se com as explicações imutáveis de sua própria existência. Nessa tentativa de acerto de contas com a tradição institucional dogmática da Igreja, com a pessoalidade sendo o fundamento daquilo que se pode chamar de humano, a pergunta sobre o que nos de�ne irrompe: somos produto de uma natureza pré-concebida, proveniente de uma essência imutável, ou estamos em constante mutação, transformando-nos com as experiências que vivemos? Um dos embates mais fortes entre a perspectiva pedagógica centrada nos indivíduos e os dogmas institucionais da Igreja tem origem na a�rmação do desejo de produção do destino pelos próprios indivíduos. Em outras palavras, essa linhagem do Renascimento quer outorgar aos indivíduos o direito de viver de acordo com os próprios desejos, de�nindo os seus parâmetros de conduta e pensamento, sem se guiar por nenhuma doutrina. Essa pedagogia da existência questiona qual deve ser o papel da educação na sociedade: construir as bases do saber num plano ideal, a partir de conteúdos inquestionáveis, determinados a priori por dogmas, ou produzir o pensamento em conexão com a realidade, com os elementos que constituem a vida? Essa reorganização epistemológica questiona, ao mesmo tempo, a natureza da produção do conhecimento e sua utilidade. Com a dessacralização do saber, com sua aproximação do mundo, e consequente transitoriedade, o conhecimento já não pertence a uma esfera abstrata, passando a ser alguma coisa que pode ter interferência na vida, que pode provocar transformações nos modos de viver e perceber o mundo. Figura 1 – O homem vitruviano (1490), de Leonardo da Vinci Fonte: Wikimedia Commons Comênio e Locke As perspectivas da pedagogia da existência se desdobrarão no decorrer da história da epistemologia em múltiplos horizontes, mas também encontrarão contrapontos que retomarão princípios essencialistas. Uma dessas retomadas ocorreu na �loso�a da natureza. Com as descobertas das ciências naturais, transferiu-se o paradigma essencialista platônico da “ideia” para a “natureza”, sem, no entanto, desconsiderar o mundo sensível como possível fonte de conhecimento. Esse desdobramento fundou as bases de um sistema natural da cultura, colocando a natureza como centro e essência da humanidade. Essa estrutura destacou o mundo empírico; contudo, ela mesma normatizou o mundo empírico, na medida em que só concebeu como próprio aquilo que estivesse de acordo com a suposta ordem natural das coisas. No campo pedagógico, essa tendência se manifestou de maneiras distintas, algumas em contradição até mesmo com os parâmetros empiristas, como foi o caso de Comênio. Esse �lósofo acreditava que a natureza era a verdadeira essência da humanidade e que o mundo sensível projetava desvios para esse caminho verdadeiro. Logo, a educação tinha um papel de correção, de restrição das tentações mundanas e apontamento da natureza, esta sua essência verdadeira. Outra linhagem essencialista renascentista se pode observar em Locke. Contemporâneo ao desenvolvimento e aprofundamento das divisões sociais em classes, esse �lósofo inglês acreditava que o per�l de indivíduo polido, galante – o gentleman – tinha de ser a referência para os processos educativos. Contudo, esse parâmetro se fundamentava em sua própria classe, como um espelho, ancorando a essência humana e, portanto, a importância social nos comportamentos e características da classe em questão. Embora tenha passado muito tempo de lá para cá, nos dias de hoje ainda é comum esse procedimento de �xação da essência humana com base nos contornos de determinada classe. Esse processo de cristalização da essencialidade da vida humana em uma classe é mais uma forma de dominação de uma classe em relação a outras. Hobbes, Leibniz e Rousseau Importante para o desenvolvimento da corrente da pedagogia da existência, Hobbes partilhava dos princípios empiristas em sua concepção de humanidade. Ele acreditava que “o homem era o lobo do homem”. Em vez de propor uma correção contínua da humanidade para conter sua errância inata, Hobbes estruturou suas premissas pedagógicas na direção da necessidade de uma organização social que pudesse compreender essa natureza humana e controlá-la. Também centrado no empirismo, Leibniz enfocou problemas do indivíduo, as questões que o particularizam; para ele, por serem individuais, essas questões se multiplicam, têm inúmeras variantes, e, por consequência, uma pedagogia essencialista, con�gurada num pressuposto metafísico, estável, não pode se sustentar. Rousseau é mais um nome fundamental no processo de contraposição às teorias essencialistas. Conforme esse �lósofo de Genebra, a vida cotidiana, o mundo real, vivido todos os dias pelas pessoas, é o parâmetro e a verdadeira essência da humanidade, e não algum conceito pré-estabelecido e �xado. Em sua pedagogia, Rousseau destaca a degeneração da humanidade em seu processo de desenvolvimento social, e aponta as crianças como fonte da verdadeira natureza humana, perguntando-se se não seria necessário um processo educativo por meio do qual as crianças se desenvolvessem de maneira livre e espontânea. Figura 2 – Mona Lisa (1503-1506), de Leonardo da Vinci Fonte: Wikimedia Commons Kant, Fichte e Hegel A �loso�a de Kant é idealista, com fortes tendências essencialistas, sem desprezar, contudo, algumas premissas empiristas. As premissas kantianas opõem-se, ao mesmo tempo, ao ceticismo moral e ao dogma religioso, instituindo uma moral fundamental que interfere na vida concreta dos seres humanos. A epistemologia kantiana não sustenta mais o modelo de ideal platônico, que era externo aos seres humanos, mas também não se concebe a partir da transitoriedade do mundo sensível para elaborar suas leis, modelos e normas. Para Kant o espírito não se destaca do ser para aceder ao conhecimento; segundo suas linhas teóricas, a humanidade produz a si mesma e por isso deve conceber uma lei geral de funcionamento moral. Essas bases sustentam a perspectiva da produção do mundo, da vida, do conhecimento e da humanidade pelos próprios seres humanos. Nesse sentido, em sua pedagogia, Kant procurou observar como as crianças re�etem e acatam princípios que, segundo ele, regem a todos, ou seja, que conjecturam uma moral geral. Em Fichte observamos outro tipo de desenvolvimento da pedagogia da essência, em forte tensão com questões da pedagogia da existência. A �loso�a �chteana se concentra nos preceitos da atividade e do ideal, entendendo que o ideal não se manifesta em qualquer ato, posto que a atividade incorpora a contingência, a impureza do acaso. Mas Fichte não retira o ideal dos atos: ele o conforma no eu transcendental, que seria capaz de gerar o ideal por meio de atos livres. Recusando, assim como Kant, os dogmas religiosos, Fichte também se confronta com as premissas da natureza como portadora da essência humana para produzir os parâmetros de sua �loso�a. O ideal perseguido por Fichte é objetivo e universal e se realiza a partir da atividade absoluta do eu transcendental. Ou seja, a produção de verdade aparece no mundo sensível e é capaz de se universalizar; contudo, ela é fruto da atividade do eu transcendental. O descolamento do ideal não está fora do mundo empírico, como em Platão; a epistemologia �chteana elege esse eu transcendental como protagonista para a produção do conhecimento. Sendo assim, as perguntas a respeito do eu transcendental se somam: quem ocupa o espaço do eu transcendental? Quais os paradigmas do ideal que o eu transcendental estabelece? Em que medida o eu transcendental re�ete a condição de privilégio de determinados pensadores que se alçam acima da realidade? Hegel é mais um �lósofo que avança na perspectiva idealista, com desenvolvimentos verticais e amplos em relação aos seus predecessores. Hegel mantém a posição da objetividade e universalidade do ideal, mas a inscreve no desenvolvimento histórico, creditando ao espírito objetivo o papel fundamental do conhecimento. Para a �loso�a hegeliana o mundo empírico é morada da contingência, do acaso, da transitoriedade, incapaz de ser �xada como verdade; por outro lado, há uma realidade essencial, que é o próprio espírito objetivo em desenvolvimento, portanto a fonte verdadeira do conhecimento. As bases pedagógicas hegelianas se desenvolvem pendularmente entre a personalidade e o espírito objetivo; o indivíduo só se desenvolve, só produz conhecimento, em conexão profunda com o espírito objetivo. Sendo assim, a educação para Hegel tem papel importante, pois é ela que possibilita que a personalidade, ou seja, que o indivíduo se conecte com o espírito objetivo, por meio da participação na cultura e nos âmbitos institucionais. Figura 3 – Ganymed (1793), de Asmus Jacob Carstens Fonte: Wikimedia Commons Kierkegaard, Stirner e Nietzsche O idealismo se con�gurou como importante linha de desenvolvimento das premissas essencialistas. No século XIX surgiram teóricos fundamentais para a transformação das bases da pedagogia da existência. Kierkegaard, em contraponto a Hegel, acreditava que é na esfera íntima que o indivíduo toma suas decisões, que engendra seus esforços e que projeta seus riscos. Nessa linha epistemológica, Kierkegaard aponta o indivíduo como ser que não se repete e que se torna a si mesmo numa luta constante contra os desvios de suas particularidades. Essa exclusividade individual torna a intimidade um mar complexo e importante para a �loso�a de Kierkegaard. Nesse sentido, a educação precisaria voltar seus esforços para aquilo que caracteriza cada indivíduo, e a produção do conhecimento seria oriunda dessa intimidade. Figura 4 – Quarto em Arles (1853), de Vincent van Gogh Fonte: Wikimedia Commons Também contrário ao essencialismo, Max Stirner se confrontou com a Igreja e o Estado, por acreditar que essas instituições estabelecem parâmetros ideais de saber que servem para a manutenção de sua autoridade e a limitação da capacidade dos indivíduos. Conforme Stirner, essas formas de delimitação conceitual essencialista emperram o desenvolvimento dos indivíduos. Como esses parâmetros são imutáveis, tornam-se obsoletos com o transcorrer do tempo, incapazes de dar respostas à vida social, que muda constantemente. Por isso, a pedagogia deve ser pensada, produzida e realizada pelos próprios indivíduos, tendo em vista suas dinâmicas especí�cas. Contudo, ao defender que o indivíduo se opusesse ferrenhamente às pressões internas e externas que o constrange e limita, Stirner dividiu a humanidade entre fracos e fortes, e atribuiu aos fortes a capacidade de viver em consonância absoluta com sua vontade, estabelecendo os próprios critérios morais e produzindo o conhecimento. Essa cisão hierárquica implica um viés elitista na caracterização dos indivíduos e na produção epistemológica. Nietzsche encontra em Stirner uma base para desenvolver seu pensamento, alinhado à essa tradição da pedagogia da existência. Nietzsche também classi�cou os indivíduos em fortes e fracos, e atribuiu aos fortes a capacidade da liberdade. Fortes, para Nietzsche, são os indivíduos capazes de se contrapor aos preceitos morais acumulados historicamente. Esses preceitos, segundo a perspectiva nietzschiana, são fruto do ressentimento e da fraqueza e antagônicos à liberdade. Para exigir sua liberdade, os indivíduos precisam alcançar o poder, para então exercer o domínio de sua vontade e daí aceder à verdade (sua e própria). A educação, conforme o pensamento nietzschiano, deveria ser capaz de formar a “vontade de poder”, pavimentando o caminho desse indivíduo em direção à sua liberdade, que se manifestaria acima do bem e do mal. Uma das consequências dessa perspectiva, assim como em Stirner, é a elitização do conhecimento, designando suas possibilidades para os privilegiados. Em consonância com isso, Nietzsche, inclusive, se mostrou contrário a processos de democratização e ampliação do ensino para a crescente população. Defendia um modelo pedagógico em que a escola fosse destinada aos eleitos, aos capazes de exercer sua liberdade, de viver a plenitude de suas ações de acordo com as suas vontades. Figura 5 – Episteme. Estátua na cidade de Éfeso, Turquia Fonte: Wikimedia Commons Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos História da educação – a educação na Antiguidade e na Idade Média 3 / 4 Material Complementar História da Educação - A Educação na Antiguidade e na Idade Mé… https://www.youtube.com/watch?v=fCyojmJn1lQ A razão pura, por Daniel Omar Perez Especial Nietzsche, por Viviane Mosé RAZÃO PURA | DANIEL OMAR PEREZ Especial Nietzsche Viviane Mosé Café Filosó�co Exibido dia 29 03 … https://www.youtube.com/watch?v=AigtcwMbN58 https://www.youtube.com/watch?v=0sZXdZrT5bc Leitura Dialética e experiência crítica (Vladimir Safatle, Cult) Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://revistacult.uol.com.br/home/vladimir-safatle-dialetica-e-experiencia-critica/ ARANHA, M. de L. A. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Moderna, 2012. BRANDÃO, C. R. O que é educação. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2005. CAMBI, F. História da pedagogia. 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