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CUIDADO INTEGRAL 
À SAÚDE DO 
ADOLESCENTE
Edemilson Pichek dos Santos
Adolescência e família
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Explicar o conceito contemporâneo de família.
  Descrever a importância do contexto familiar no desenvolvimento 
do adolescentes.
  Identificar fatores associados ao afastamento familiar do adolescente 
e sua prevenção.
Introdução
Desde os tempos mais antigos, a família corresponde a um grupo social 
que exerce marcada influência sobre a vida das pessoas e é encarada como 
um grupo com uma organização complexa, inserido em um contexto 
social mais amplo com o qual mantém constante interação. O grupo 
familiar tem um papel fundamental na constituição dos indivíduos, é im-
portante para determinar e organizar a personalidade, além de influenciar 
de forma significativa o comportamento individual por meio das ações e 
medidas educativas tomadas no âmbito familiar (PRATTA; SANTOS, 2007). 
A instituição família é responsável pelo processo de socialização pri-
mária dos adolescentes. Nessa perspectiva, tem como finalidade definir 
formas e limites para as relações estabelecidas entre as gerações mais 
novas e as mais velhas, propiciando a adaptação dos indivíduos às exi-
gências do convívio em sociedade. 
Neste capítulo, você vai aprender o conceito contemporâneo de famí-
lia e sua importância no desenvolvimento dos adolescentes; e também 
vai identificar os fatores que estão associados ao afastamento familiar do 
adolescente e sua prevenção.
A família na contemporaneidade
A confi guração nuclear formada por pai, mãe e fi lhos que vivem juntos no 
mesmo espaço e obedecem papéis sociais e culturais masculinos e femininos, 
denominada família, é um fenômeno recente na história da humanidade. 
Em razão de importantes transformações que ocorreram com o advento da 
industrialização, na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra, e de 
uma necessidade política de constituição de um espaço privado separado do 
espaço público, esse formato de família surgiu. A partir de então, a família 
foi incumbida da tarefa de assegurar a ordem social burguesa e de promover 
a formação das crianças em futuros cidadãos e trabalhadores. Dessa forma, 
o modelo nuclear heteronormativo, a família, foi erigida como a matriz de 
identidade na constituição dos sujeitos (ARÁN, 2003; RODRIGUEZ; GOMES; 
OLIVEIRA, 2017). 
Embora esse modelo familiar tenha se mantido ao longo do tempo, tem 
passado por mudanças de grande importância nas últimas décadas, que marca 
uma passagem da família tradicional-patriarcal à família plural contempo-
rânea. Esse novo modelo familiar vem se configurando de forma paralela 
a um intenso processo de transformações nas relações entre os sexos, os 
gêneros e as identificações, além de um novo papel das funções de pai e de 
mãe (RODRIGUEZ; GOMES; OLIVEIRA, 2017). 
Frente a essa flexibilidade dinâmica e estrutural, acompanhada da perda 
do sentido da tradição, vincula-se, nessa reflexão acerca da família, a abertura 
que ela promove ao tratar dos vínculos intersubjetivos, possibilitando a com-
preensão dos novos arranjos familiares e relacionais como legítimas formas 
de vinculação. A reformulação do significado da palavra “família”, da nova 
edição do dicionário Houaiss (2016) acerca da definição mais apropriada para 
o termo, ficou assim estabelecida “Família: é o núcleo social de pessoas unidas 
por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm 
entre si uma relação solidária”. Essa definição mostra-se mais completa do 
que a anterior: “Família: é um grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto, 
pai, a mãe e os filhos” (RODRIGUEZ; GOMES; OLIVEIRA, 2017). 
Entretanto, revela-se que as transformações relacionais e vinculares que 
estão ocorrendo na contemporaneidade não são, no entanto, acompanhadas na 
mesma velocidade por uma alteração das representações sociais, conhecidas 
como realidades sociais ou ficções sociais (BOURDIEU, 2005). O que gera 
um descompasso entre as vivências, pois podem ser bastante diversificadas, 
sujeitas a muitas mudanças e representações e, ao mesmo tempo, podem 
ser enrijecidas e cristalizadas, incapazes de abranger a multiplicidade dos 
Adolescência e família2
acontecimentos contemporâneos. Mesmo com o aparecimento crescente de 
novos arranjos familiares, atualmente, permanece no imaginário social um 
modelo de família regido pela heteronormatividade. A ampliação do conceito 
de família e suas múltiplas possibilidades resulta na dificuldade de concentrar 
um sentido único a ela. Perdem os sentidos os lugares masculinos e femininos 
na família ocupados pelos homens e pelas mulheres; eles circulam e com mais 
intensidade, instigando-nos a repensar algumas fórmulas acerca da norma e 
do gênero. 
Considerando todas essas mudanças que tem ocorrido, a busca pela preser-
vação da família como uma instituição natural, a-histórica e sagrada, parece 
ainda perdurar, mesmo se tornando a família nuclear cada vez mais uma expe-
riência minoritária. Com isso, juntamente com os avanços da tecnologia e com 
as novas legislações, aumentam os questionamentos dessa ordem simbólica, o 
que tem gerado controvérsias acerca do conceito família, resultando em uma 
batalha política e psicanalítica (RODRIGUEZ; GOMES; OLIVEIRA, 2017).
No âmbito familia, nos deparamos com arranjos diversos na contemporaneidade, 
como, por exemplo, as famílias monoparentais por opção, as pluriparentais, as formadas 
por casais sem filhos por opção, a família homoparental, entre outras (RODRIGUEZ; 
GOMES; OLIVEIRA, 2017).
Essas transformações no contexto familiar começaram a partir de meados 
do século XX, e continuam até os dias atuais, principalmente nos aspectos 
econômicos, sociais e trabalhistas. São vários os fatores que corroboram essas 
mudanças, tais como: 
  processo de urbanização e industrialização;
  avanço tecnológico;
  incremento das demandas de cada fase do ciclo vital;
  maior participação da mulher no mercado de trabalho;
  aumento no número de separações e divórcios;
  diminuição das famílias numerosas;
  empobrecimento acelerado;
  diminuição das taxas de mortalidade infantil e de natalidade;
3Adolescência e família
  elevação do nível de vida da população;
  transformações nos modos de vida e nos comportamentos das pessoas;
  novas concepções em relação ao casamento;
  alterações na dinâmica dos papéis parentais e de gênero. 
Esses fatores, entre outros, tiveram um impacto direto no âmbito familiar, 
contribuíram para o surgimento de novos arranjos que mudaram a “cara” dessa 
instituição (PRATTA; SANTOS, 2007). Essas transformações levaram ao 
surgimento de configurações da organização familiar diferentes do modelo 
anterior. Começa, assim, a emergir uma nova concepção de família, denominada 
de família igualitária. A partir dessa nova estruturação, homens e mulheres 
estão atuando em condições mais ou menos semelhantes no mercado de traba-
lho formalmente remunerado, começando a dividir as tarefas domésticas e a 
educação dos filhos, ainda que a maior parte dessas tarefas se mantenha a cargo 
da mulher, que vem confrontando os desafios do mundo do trabalho procurando 
conciliar a vida profissional e a familiar. Além disso, a maior participação da 
mulher no mercado de trabalho formalmente remunerado, provocou mudanças 
nos padrões conjugais e familiares social e culturalmente estabelecidos, levando 
a uma reorganização dos papéis familiares tradicionais referentes a homens e 
mulheres, ressignificando a importância dos papéis do homem na família. O 
homem passa a ser incentivado a manter um maior envolvimento afetivo com 
os filhos, terminando com a distância da figura paterna, figura de autoridade, 
e mãe próxima, figura de afeto. Ele deve, portanto, ter uma participação ativa 
na criação dos filhos, percebendo que pode contribuir para o desenvolvimento 
destes de uma forma mais agradável e satisfatória do que a concebida pelo papel 
tradicionaldisciplinar (PRATTA; SANTOS, 2007). 
Frente a essas alterações, a tendência atual da família moderna é ser cada 
vez mais simétrica na distribuição dos papéis e obrigações, ou seja, uma família 
marcada pela divisão, entre os seus membros, referente às tarefas domésticas, 
aos cuidados com os filhos e às atribuições externas, sujeita a transformações 
constantes, devendo ser, portanto, flexível para poder enfrentar e se adaptar 
às rápidas mudanças sociais inerentes ao momento histórico em que vivemos. 
No que diz respeito às relações entre pais e filhos, esse padrão também 
se modificou, não sendo mais baseado na imposição da autoridade e sim na 
valorização de um relacionamento aberto, pautado na possibilidade de diálogo, 
o qual é considerado um elemento importante dentro do contexto familiar, 
principalmente no que se refere à convivência entre os membros da família. A 
educação dos filhos perdeu, portanto, seus aspectos autoritários, acrescentando 
mais questões relacionadas à afetividade (PRATTA; SANTOS, 2007). 
Adolescência e família4
Assim, a sociedade contemporânea abre questionamentos constantes sobre 
a funcionalidade da instituição familiar (ALMEIDA, 2012; RODRIGUEZ; 
GOMES; OLIVEIRA, 2017), que nos impele a refletir sobre sua viabilidade 
como instância de proteção e de apoio emocional para seus membros. Diante 
das rupturas e dos deslocamentos nas relações de sexo e gênero, a família 
não pode mais ser considerada a única base para a construção identitária, 
mas sim um espaço relacional, mais do que como uma instituição, na qual se 
verifica uma demanda, explícita ou não, de autonomia pessoal (LIMA, 2012; 
RODRIGUEZ; GOMES; OLIVEIRA, 2017). 
O contexto familiar no processo
de desenvolvimento do adolescente
Nas últimas décadas, a confi guração familiar tem passado por transformações, 
apresenta-e em diversos arranjos e ultrapassa a estrutura familiar tradicional. 
Contudo, considera-se que a família é a base da formação do indivíduo, sendo um 
lugar de aquisição e de aprimoramento dos valores, hábitos e costumes, indepen-
dentemente dos tipos de laços constituídos, seja por ligações consanguíneas ou por 
ligações de aliança, por convivência ou de escolha (ROZEMBERG, et al.; 2014). As 
vivências familiares têm a função de integrar e organizar o desenvolvimento do 
adolescente. O contexto de convivência familiar tem impacto direto no processo 
de desenvolvimento do indivíduo, uma vez que o pleno desenvolvimento humano 
depende de um entorno no ambiente em que a pessoa está. Outros fatores familiares 
podem afetar o contexto familiar (ROZEMBERG, et al.; 2014): 
  características sociodemográficas, como baixa escolaridade dos pais e 
baixo status socioeconômico;
  estrutura familiar que acarreta estresse e instabilidade emocional para 
os seus membros; 
  pouca supervisão dos pais sobre o comportamento dos filhos;
  precário relacionamento familiar;
  morte de entes queridos. 
Além disso, é necessário ressaltar que o processo de adolescência não 
afeta apenas os indivíduos que estão passando por esse período, mas também 
as pessoas que convivem diretamente com eles, principalmente a família. A 
adolescência favorece as condições necessárias para a emergência de uma 
série de problemas e conflitos dentro do contexto familiar, visto que a neces-
5Adolescência e família
sidade de negociação constante, inerente a essa etapa, aumenta o potencial 
de conflitos entre as gerações. O aumento desses conflitos, em geral, está 
acompanhado de uma diminuição na proximidade do convívio, principalmente 
em relação ao tempo que adolescentes e pais passam juntos; entretanto, um 
conflito bem negociado pode levar a um crescimento para os filhos e para 
os pais. Por esse motivo, o diálogo nessa etapa do desenvolvimento assume 
um papel ainda mais importante, apesar de, muitas vezes, os adolescentes 
buscarem se fechar em seu próprio espaço. Mesmo que todo o legado que a 
família transmitiu aos jovens desde a infância continue sendo relevante, com 
esse afastamento e a busca de refúgio na fantasia e no devaneio, o diálogo com 
os membros da família é essencial, pois é justamente nesse período que eles 
mais necessitam da orientação e da compreensão dos pais. A falta de diálogo 
no ambiente familiar pode, portanto, acarretar ou, em certos casos, acentuar 
algumas dificuldades, principalmente em termos de relacionamento, podendo 
afetar até mesmo o bem-estar e a saúde psíquica dos adolescentes, com isso, 
além do recurso do diálogo, quando a família busca desde cedo estabelecer 
relações de respeito, confiança, afeto e civilidade entre seus membros, pode 
lidar com essa fase do desenvolvimento de uma maneira mais adequada e com 
menos dificuldades do que uma outra família na qual tais valores não foram 
praticados (ROZEMBERG, et al.; 2014).
A Constituição Federal de 1988 representa juridicamente a transição democrática e a 
institucionalização dos Direitos Humanos no Brasil em que, no artigo nº. 227, preconiza 
que: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, 
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão.” Esse mandato constitucional e democrático, 
unido aos novos parâmetros internacionais, institucionaliza e reordena juridicamente as 
novas leis que se destacam no apoio aos direitos de crianças e adolescentes (BRASIL, 2017).
Quando um grupo familiar possui um filho adolescente, o grupo como um 
todo parece adolescer. Os pais vivenciam sentimentos variados em decorrência 
da adolescência de seus filhos e as respostas que são capazes de dar aos ado-
lescentes estão condicionadas à forma pela qual eles resolveram o seu processo 
adolescente. Assim, pode-se dizer que, frente à adolescência dos filhos, os pais 
Adolescência e família6
apresentam uma angústia intensa, tanto em função de suas próprias inseguranças 
quanto por evocações conscientes ou inconscientes de suas fantasias e/ou atitudes 
vivenciadas durante o seu próprio processo adolescente. 
Além das preocupações gerais dos pais com a questão de como lidar com 
a adolescência dos filhos, existem alguns aspectos que se destacam na pauta 
de preocupações parentais, uma vez que as influências do contexto no qual os 
adolescentes se desenvolvem, tanto no que diz respeito à família quanto no que 
concerne ao ambiente macrossocial, associadas às características de imaturidade 
emocional, impulsividade e comportamento desafiador que com frequência estão 
presentes na fase da adolescência, resultam no engajamento em comportamentos 
considerados de risco, como, por exemplo, a iniciação sexual precoce, a ausência 
de proteção durante o ato sexual, o uso de substâncias psicoativas e baixos níveis 
de atividade física e relação com o mundo digital (ROZEMBERG, et al.; 2014).
A família no papel de prevenção
A família possui um papel primordial no amadurecimento e no desenvolvimento 
biopsicossocial dos indivíduos e apresenta algumas funções primordiais, 
as quais podem ser agrupadas em três categorias que se relacionam entre si: 
funções biológicas, funções psicológicas e funções sociais. 
A função biológica principal da família é garantir a sobrevivência da 
espécie humana, fornecendo os cuidados necessários para que o bebê humano 
possa se desenvolver de forma adequada. As funções psicológicas agrupam-se 
em três grupos centrais: 
a) Proporcionar afeto ao recém-nascido, aspecto fundamental para garantir 
a sobrevivência emocional do indivíduo.
b) Servir de suporte e continência para as ansiedades existenciais dos indi-
víduos durante o seu desenvolvimento, auxiliando-os na superação das 
“crises vitais” pelas quais todos os seres humanos passam no decorrer 
do seu ciclo vital, como, por exemplo, a adolescência. 
c) Criarum ambiente adequado que permita a aprendizagem empírica que 
sustenta o processo de desenvolvimento cognitivo dos seres humanos.
A família corresponde a um lugar privilegiado de afeto, no qual estão 
inseridos relacionamentos íntimos, expressão de emoções e de sentimentos. 
Portanto, pode-se dizer que é no interior da família que o indivíduo mantém 
seus primeiros relacionamentos interpessoais com pessoas significativas, 
7Adolescência e família
estabelecendo trocas emocionais que funcionam como um suporte afetivo 
importante quando os indivíduos atingem a idade adulta. Essas trocas emo-
cionais estabelecidas ao longo da vida são essenciais para o desenvolvimento 
dos indivíduos e para a aquisição de condições físicas e mentais centrais para 
cada etapa do desenvolvimento psicológico. N
Com relação à função social da família, ela envolve a transmissão da 
cultura de uma dada sociedade aos indivíduos, bem como a sua preparação 
para o exercício da cidadania. É a partir do processo socializador que o 
indivíduo elabora sua identidade e sua subjetividade, adquirindo, no interior 
da família, os valores, as normas, as crenças, as ideias, os modelos e os 
padrões de comportamento necessários para a sua atuação na sociedade 
(ROZEMBERG, et al.; 2014). 
As normas e os valores que introjetamos no interior da família permanecem 
com o indivíduo durante toda a vida, atuando como base para a tomada de 
decisões e atitudes que apresentamos no decorrer da fase adulta. Além disso, 
a família continua, mesmo na etapa adulta, a dar sentido às relações entre os 
indivíduos, funcionando como um espaço no qual as experiências vividas são 
elaboradas. Muitos autores caracterizam a família dentro de uma perspectiva 
sistêmica, considerando-a como um sistema ativo que está em constante pro-
cesso de transformação e de evolução, e que se move por conforme a evolução 
e a dinâmica familiar (ROZEMBERG, et al.; 2014). 
Não há como descontextualizar a família de outros sistemas mais comple-
xos, como a comunidade e a sociedade, que fornece suas possibilidades de 
produção de bens e serviços, de educação, de escola, de saúde, de cultura, de 
assistência social, etc. Também não há como garantir que a família e outros 
setores da sociedade, como a escola e a comunidade, só promovam fatores 
de proteção aos sujeitos, já que elas são também fontes de conflitos e de 
adversidades que vulnerabilizam os sujeitos. 
Na adolescência, a influência da família no processo de desenvolvimento 
perde espaço para outras fontes de fatores de risco e fatores de proteção. Os 
fatores internos da família (condição emocional, valores, talentos, habilidades, 
desejos, projetos, autoestima, humor, etc.) ganham força quando expostos a 
fatores de riscos oriundos da comunidade onde está inserido o adolescente. 
São forças compostas por fatores de proteção (forças de resiliência) e por 
fatores de risco (forças de vulnerabilidade). Cada sujeito irá se autoproduzir 
na confluência dessas linhas de força e na forma como elas lhe são apresen-
tadas. Uma mesma força poderá ser vivida de forma radicalmente diferente 
por diferentes sujeitos, cada um em sua singularidade. Para cada situação 
Adolescência e família8
singular poderíamos redimensionar o espaço de cada uma das principais 
fontes de fatores de risco e de fatores de proteção. Além disso, a fonte que 
se sobrepõe é a do ambiente comunitário, que pode ser a rua sem a mínima 
monitoração da família (fator de risco) como pode ser a possibilidade de 
convivência comunitária em ambiente de apoio, tipo núcleo comunitário ou 
vizinhança que ofereça cuidado e atenção nos períodos complementares à 
escola (fator de proteção). De qualquer forma, os espaços familiar e escolar 
são reduzidos. Podem ser tanto insuficientes em termos de proteção, levando 
o adolescente a enfrentar a vida sozinho, como podem ser qualitativamente 
significativos, produzindo jovens mais autônomos com mais precocidade. No 
entanto, a ausência da influência da família e da escola antes dos 15 anos de 
idade leva a crer mais na possibilidade de vulnerabilidade intensa do que na 
resiliência (BRASIL, 2017). O grau de conflito entre adolescentes e família 
está relacionado, em boa parte, ao estilo de relação e comunicação entre eles. 
No Quadro 1 podemos ver uma classificação dos estilos de parentalidade que 
se associam a diferenças no comportamento social dos adolescentes.
Estilo parental predominante
Comportamento 
social do adolescente
Autoritário
Estilo restritivo e punitivo no 
qual o adulto provedor/cuidador 
persuade o adolescente a se-
guir suas orientações. Os limites 
e os controles são rígidos e há 
pouca troca comunicativa.
Pouco criativo; com 
pouca habilidade de 
decidir com autonomia; 
poucas habilidades 
comunicativas; ansiedade 
frequente em relação às 
comparações sociais. 
Autoritativo 
Estilo que encoraja o adolescente 
a ser independente e progressiva-
mente autônomo. Os limites e os 
controles fazem parte da relação 
de autoridade que o adolescente 
respeita e reconhece em seus 
adultos cuidadores/provedores. 
O diálogo e a negociação são 
centrais na comunicação en-
tre esses adultos e jovens.
Criativo, flexível, autocon-
fiante e responsável; com 
boas habilidades comu-
nicacionais e respeito 
aos adultos; capacidade 
de escolha com consci-
ência de seus efeitos.
Quadro 1. Estilos de parentalidade e comportamento social na adolescência
(Continua)
9Adolescência e família
O papel da família como parte da rede de apoio de um adolescente poderá 
significar mais proteção ou mais risco, dependendo do vínculo adulto prove-
dor/cuidador com o adolescente, da capacidade de comunicação entre eles, do 
estilo de parentalidade e da relação que as forças oriundas da comunidade e 
da escola (grupos de amigos, relações com o desempenho escolar, segurança 
do bairro em que vivem, oportunidades de acesso à cultura e ao lazer, etc.) 
intervêm no processo. Adolescentes que, em boa parte do tempo cuidam de si 
mesmos, ou seja, vivem com pouca monitoração de seus adultos cuidadores/
provedores, ficam mais suscetíveis às forças do ambiente externo à família. 
A qualidade do tempo e do cuidado complementar à escola e ao convívio 
familiar são significativos no processo de constituição de autonomia desses 
jovens e de suas escolhas (BRASIL, 2017).
Estilo parental predominante
Comportamento 
social do adolescente
Negligente 
Não se envolve muito com o 
processo de adolescer e de-
monstra pouco interesse nas 
atividades e escolhas dos jovens. 
Há pouco ou nenhum controle 
ou limite e a monitoração do 
desenvolvimento é mínima. A 
comunicação é muito insuficiente.
Pouco autocontrole; difi-
culdade para lidar com a 
independência e pouca 
assertividade nas esco-
lhas; necessidade de per-
tencimento a grupos que 
se interessem e o ajudem 
a enfrentar o processo 
de adolescência.
Indulgente 
Alto envolvimento dos adultos 
provedores/cuidadores com 
os jovens; porém com poucos 
limites e controle sobre o pro-
cesso de adolescer. A comu-
nicação é pouco eficiente.
Pouco autocontrole e 
alta frustração quando 
contrariados, tanto por 
adultos quanto pelos 
pares; dificuldade para 
se incluírem em gru-
pos, pouca habilidade 
comunicativa. 
Quadro 1. Estilos de parentalidade e comportamento social na adolescência
(Continuação)
 Fonte: Adaptado de Brasil (2017).
Adolescência e família10
Na cartilha criada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2016) “Famílias e adolescentes”, 
são apontadas algumas sugestões para a educação desses jovens:
  Compreenda a “idade da contestação” e da “revolução hormonal”. 
  Evite “brigas” desnecessárias e procure compreender seus filhos adolescentes.
  Reconheça que a chave para chegar a acordos é sempre a negociação.
  Entenda que filhos(as) precisam que pais sejam pais, não só amigos(as).
  Use regras claras, com autoridade e sem autoritarismo. Estabeleça e esclareça os 
limites desde cedo, de acordo com os valores e referenciais de sua família.
  Não quebre as manifestaçõesde afeto. Abraços, beijos, elogios, agradecimentos e 
um ombro amigo nunca são demais!
  Pense como eram as suas reações quando você tinha essa idade.
  Entenda e aceite seu(sua) filho(a) como é e não como você quer que ele(a) seja.
  Cada filho(a) é único(a). 
A educação começa na infância e continua na adolescência, mas de forma 
diferente, pois, nessa fase, os jovens precisam aprender a refletir, a tomar 
decisões e a assumir responsabilidades. A sociedade passa por muitas e 
rápidas modificações de valores e de costumes, que influenciam de diversas 
maneiras nas vidas das famílias e dos filhos adolescentes, levando à cons-
trução de diferentes trajetórias de vida induzidas pelos contextos de uma 
sociedade desigual. Os resultados são comportamentos, atitudes, maneiras 
de entender e de se colocar no mundo adotados pelas variadas expressões 
das adolescências, que, dependendo do contexto de vida, muitas vezes po-
dem vulnerabilizá-los. Nesse cenário, os adolescentes, como sujeitos de 
direitos, podem sair da posição de atores para serem autores de si próprios 
construindo novas formas de ser adolescente, criando novas possibilidades 
existenciais, sociais e políticas. Para que isso aconteça, é fundamental que 
eles encontrem nas suas famílias — nuclear e em outras configurações 
familiares que se organizam na sociedade — a confiança para falar de suas 
inseguranças e de suas dúvidas, pedir orientação, esclarecimento, pedir 
para ser ouvido e, se necessário, terem o apoio que estejam precisando para 
realizar a grande trajetória de construir seu projeto de futuro e uma vida 
saudável. O diálogo familiar aproxima os membros familiares, criando um 
ambiente de confiança para que os adolescentes se sintam apoiados e em 
segurança e aprendam os valores humanitários e éticos indispensáveis para 
viver em sociedade (BRASIL, 2016).
11Adolescência e família
 Na literatura, há evidências consistentes de que a família, nos dias 
de hoje, ainda exerce um papel importante no desenvolvimento de seus 
membros, principalmente no período da adolescência. Considerando-se as 
mudanças ocorridas na organização social e na estrutura e funcionamento 
das famílias nos últimos tempos, bem como o papel crucial que a instituição 
familiar continua exercendo no processo de desenvolvimento dos indivíduos, 
verifica-se que essas transformações estão na base de diversos problemas 
psicológicos contemporâneos. A emergência de novas composições fa-
miliares, associadas à forma específica como os pais foram educados e à 
influência de novos padrões de relacionamento interpessoal que vigoram 
na atualidade, tendem a desencadear dificuldades na educação dos filhos, 
sendo que a preocupação com o desenvolvimento de crianças e adolescentes, 
com o modo de educá-los e de orientá-los, e as maneiras de conduzi-los com 
segurança rumo a uma vida adulta saudável, nunca estiveram tão presentes 
nas discussões, científicas ou não, como nos dias atuais. 
Considerando que o adolescente se desenvolve no contexto familiar 
e nele permanece por um período que tem se expandido cada vez mais. 
torna-se essencial considerar a situação familiar e o meio social nos es-
tudos sobre adolescência. Dessa forma, pode-se dizer que, apesar das 
transformações significativas vivenciadas pela família nas últimas décadas 
do século XX e no início do século XXI, o homem continua depositando 
nessa instituição a base de sua segurança e bem-estar, o que por si só é um 
indicador da valorização da família como contexto de desenvolvimento 
humano (PRATTA; SANTOS, 2007). 
Para saber mais sobre essa relação tão importante nessa etapa da vida dos seres 
humanos, acesse o manual “Famílias e Adolescentes” no seguinte link:
https://qrgo.page.link/kNZDs
Adolescência e família12
ALMEIDA, M. R. Os processos subjetivos no acolhimento e na adoção de crianças por 
casal homoafetivo: um estudo de caso. 2012. 225 f. Tese (Doutorado) — Instituto de 
Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
ARÁN, M. Os destinos da diferença sexual na cultura contemporânea. Revista Estudos 
Feministas, v. 11, n. 2, p. 399–422, 2003.
BOURDIEU, P. A dominação masculina. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Famílias e adolescentes. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica. 
Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
LIMA, Maria Galrão Rios. Um estudo sobre o adiamento da maternidade em mulheres 
contemporâneas. 2012. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica) — Instituto de Psicologia, 
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. 
PRATTA, E. M. M.; SANTOS, M. A. Família e adolescência: a influência do contexto 
familiar no desenvolvimento psicológico de seus membros. Psicologia em Estudo, v. 
12, n. 2, p. 247–256, 2007.
RODRIGUEZ, B. C.; GOMES, I. C.; OLIVEIRA, D. P. Família e nomeação na contemporaneidade: 
uma reflexão psicanalítica. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 8, n. 1, p. 135–150, 2017.
ROZEMBERG, L. et al. Resiliência, gênero e família na adolescência. Ciência & Saúde 
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Leituras recomendadas
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ridade. Revista da Abordagem Gestáltica, v. 23, n. 3, p. 350–361, 2017.
SCHOEN-FERREIRA, T. H.; AZNAR-FARIAS, M.; SILVARES, E. F. M. Adolescência através 
dos séculos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. 2, p. 227–234, 2010.
13Adolescência e família

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