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2ºAula A Psicologia do Desenvolvimento: o biológico e o cultural Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • refletir sobre as contribuições da Psicologia na área do desenvolvimento humano; • refletir analiticamente sobre o papel da maturidade humana; • refletir sobre os aspectos sócio culturais; • analisar as raízes biológicas e herdadas. Olá, nesta aula, iremos tratar das questões do desenvolvimento humano, como ocorre, qual a importância dos fatores biológicos e sociais e a sua importância para a educação e aprendizagem, enfim, todos os direcionamentos da Psicologia para esta área de estudo. Sendo assim, bom estudo! Bons estudos! 14Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 1- A psicologia do desenvolvimento 2- A construção do desenvolvimento humano 3- Biológico x sócio cultural 4- O grupo social 5- Compreendendo a família: transformações históricas e sociais 6- Família como lugar de proteção e direito da criança e do adolescente, bem como sua função educativa a ser compartilhada com a escola 1- A psicologia do desenvolvimento Para entender a criança, a psicologia da Educação se subdivide em algumas áreas, entre essas, a psicologia do desenvolvimento. A psicologia do desenvolvimento é uma área fundamental no processo de educação e aprendizagem, pois busca compreender o nível de desenvolvimento em relação à aprendizagem, assim, devemos distinguir a psicologia do desenvolvimento para a psicologia da aprendizagem. Psicologia do desenvolvimento é um aspecto da ciência que pretende explicar os eventos ocorridos durante a infância, adolescência e idade adulta. Pretende-se explicar como é que, a partir de um equipamento inicial (inato), a criança vai sofrendo uma série de transformações decorrentes de sua maturação (fisiológica, neurológica e psicológica) que, em contato as exigências e respostas do meio físico (físico e social), levam à emergência desses comportamentos. Em suma, pretende- se descrever e explicar o processo de desenvolvimento da personalidade em termos de como e porque aparecem certos comportamentos. Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns de uma faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos (Bock et al, 2008, p.81). Segundo Áries (2012), fazendo referência à história, podemos perceber que, até pouco tempo, próximo século XIX, as crianças eram tratadas como pequenos adultos: Seções de estudo participavam das mesmas atividades dos adultos, inclusive orgias, enforcamentos públicos, trabalhavam nos campos e vendiam seus produtos nos mercados. Já no século XIX e início do século XX, há uma preocupação maior com o estudo da criança e com a necessidade de educação formal. Apesar disso, a disciplina era exercida de uma forma violenta e agressiva, com severos castigos, como por exemplo: a palmatória, ajoelhar-se no milho, espancamentos violentos e quartos escuros. Essas práticas foram abolidas das escolas, embora algumas dessas práticas continuem sendo utilizadas em nosso meio. Mas essas atitudes começaram a se modificar a partir do estudo da criança. No início do séc. XX, Freud chocava o mundo com suas descobertas a respeito do desenvolvimento da personalidade da criança com a constatação de que certos acontecimentos vivenciados na infância eram os determinantes principais de distúrbios de personalidade na idade adulta. No estudo do desenvolvimento, há duas direções diferentes: o da influência do adulto sobre a criança em desenvolvimento e o da influência da criança sobre o adulto. A primeira destas linhas de estudo preocupou-se com as práticas de criação infantil e os traços de personalidade dos pais associados com o desenvolvimento da personalidade da criança. Estes trabalhos utilizaram métodos de investigação de estudos clínicos e explorações da personalidade humana, entre os quais se destacam as entrevistas e os questionários. A partir de 1945, além dos métodos correlacionais, um número crescente de pesquisadores preferiu observar diretamente a criança, usando para isso basicamente dois métodos: a observação naturalista sem manipulação experimental; ou o método situacional, que consiste no estudo de laboratório com manipulação e controle das variáveis. Dessa forma, a psicologia do desenvolvimento é uma área da psicologia que estuda os detalhes do progresso da criança em direção à maturidade. Para quando adulto ele tenha capacidade de amar outra pessoa e derivar prazer pessoal profundo dos relacionamentos interpessoais. A pessoa madura deve ser capaz de deduzir conclusões e pensar logicamente a respeito de ideias abstratas. Segundo Bock et al (1998), são quatro aspectos básicos do desenvolvimento humano: • aspecto físico; • aspecto intelectual; • aspecto afetivo-emocional; • aspecto social. QUADRO 1 - ETAPAS DE CICLO VITAL ETAPAS DE CICLO VITAL Faixa etária Desenvolvimentos Físicos Desenvolvimentos Cognitivos Desenvolvimentos Psicossociais Período Pré- natal (concepção ao nascimento) Ocorre a concepção. A dotação genética interage com as influências ambientais desde o início. Formam-se as estruturas e os órgãos corporais básicos. Inicia-se o crescimento cerebral. O crescimento físico é o mais rápido de todo o ciclo vital. O feto ouve e responde a estímulos sensórios. A vulnerabilidade a influências ambientais é grande. As capacidades de aprender e lembrar estão presentes durante a etapa fetal. O feto responde à voz da mãe e desenvolve uma preferência por ela. 15 Primeira Infância (nascimento aos 3 anos) Todos os sentidos funcionam no nascimento em graus variados. O cérebro aumenta de complexidade e é altamente sensível à influência ambiental. O crescimento e o desenvolvimento físico das habilidades motoras são rápidos. As capacidades de aprender e lembrar estão presentes, mesmo nas primeiras semanas. O uso de símbolos e a capacidade de resolver problemas desenvolvem-se ao final do segundo ano de vida. A compreensão e o uso da linguagem desenvolvem-se rapidamente. Desenvolve-se um apego a pais e a outras pessoas. Desenvolve-se a autoconsciência. Ocorre uma mudança da dependência para a autonomia. Aumenta o interesse por outras crianças. Segunda Infância (3 aos 6 anos) O crescimento é constante; o corpo fica mais delgado e as proporções mais semelhantes às de um adulto. O apetite diminui, e os problemas de sono são comuns. A preferência pelo uso de uma das mãos aparece; as habilidades motoras finas e gerais e a força aumentam O pensamento é um pouco egocêntrico, mas a compreensão do ponto de vista das outras pessoas aumenta. A imaturidade cognitiva leva a algumas ideias ilógicas sobre o mundo. A memória e a linguagem se aperfeiçoam. A inteligência torna-se mais previsível. O autoconceito e a compreensão das emoções tornam-se mais complexos; a autoestima é global. Aumentam a independência. a iniciativa, o autocontrole e os cuidados consigo mesmo. Desenvolve-se a identidade de gênero. O brincar torna-se mais imaginativo, mais complexo e mais social. Altruísmo, agressão e temores são comuns. A família ainda é o foco da vida social, mas as outras crianças tornam-se mais importantes. Freqüentar a pré-escola é comum. Terceira Infância (6 aos 11 anos) O crescimento diminui. Força e habilidades atléticas aumentam. Doenças respiratórias são comuns, mas a saúde geralmente é melhor do que em qualquer outro período do ciclo vital. O egocentrismo diminui. As crianças começam a pensar com lógica, mas de maneira concreta. As habilidades de memória e linguagem aumentam. Os desenvolvimentos cognitivos permitem que as crianças beneficiem-se com a educação escolar. Algumas crianças apresentam necessidades e talentos educacionais especiais. O autoconceito torna-se mais complexo, influenciando a autoestima. A co-regulação refletea transferência gradual de controle dos pais para a criança. Os amigos assumem importância central. Adolescência (II aos Aproximadamente 20 anos) O crescimento físico e outras mudanças são rápidas e profundas. Ocorre maturidade reprodutiva. Questões comportamentais, como transtornos alimentares e abuso de drogas, trazem importantes riscos à saúde. Desenvolve-se a capacidade de pensar em termos abstratos e utilizar o raciocínio científico. O pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e em alguns comportamentos. A educação se concentra na preparação para a faculdade ou para a vida profissional. Busca de identidade, incluindo a identidade sexual, torna-se central. Relacionamentos com os pais são, em geral, bons. Os grupos de amigos ajudam a desenvolver e testar o autoconceito, mas também podem exercer uma influência anti-social. Jovem Adulto (20 aos 40 anos) A condição física atinge o máximo, depois diminui ligeiramente. As escolhas de estilo de vida influenciam a saúde. As capacidades cognitivas e os julgamentos morais assumem maior complexidade. Escolhas educacionais e profissionais são feitas. Os traços e estilos de personalidade tornam-se relativamente estáveis, mas as mudanças na personalidade podem ser influenciadas pelas etapas e pelos eventos de vida. Tomam-se decisões sobre os relacionamentos íntimos e os estilos de vida pessoais. A maioria das pessoas casa-se e tem filhos. 16Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Meia-idade (40 aos 65) Pode ocorrer alguma deterioração das capacidades sensórias, da saúde, do vigor e da destreza. Para as mulheres, chega a menopausa. A maioria das capacidades mentais atinge o máximo; a perícia e as capacidades de resolução de problemas práticos são acentuadas. O rendimento criativo pode diminuir, mas melhorar em qualidade. Para alguns, o êxito na carreira e o sucesso financeiro alcançam o máximo; para outros, podem ocorrer esgotamento total ou mudança profissional. O senso de identidade continua se desenvolvendo; pode ocorrer uma transição de meia-idade estressante. A dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e dos pais idosos pode causar estresse. A saída dos filhos deixa o ninho vazio. Terceira Idade (65 anos em diante) A maioria das pessoas é saudável e ativa, embora a saúde e as capacidades físicas diminuam um pouco. O tempo de reação mais lento afeta alguns aspectos do funcionamento. A maioria das pessoas é mentalmente alerta. Embora a inteligência e a memória possam se deteriorar em algumas áreas, a maioria das pessoas encontra formas de compensação A aposentadoria pode oferecer novos opções para a utilização do tempo. As pessoas precisam enfrentar as perdas pessoais e a morte iminente. Os relacionamentos com a família e com os amigos íntimos pode oferecer apoio importante. A busca de significado na vida assume importância central. Fonte: PAPÁLIA, Diane. et al Desenvolvimento humano. 8 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. Sendo 4 os fatores que influenciam o desenvolvimento: • a hereditariedade; • o crescimento orgânico; • a maturação neurofisiológica; • o meio. Alguns teóricos contemporâneos veem o desenvolvimento da criança como passivo e receptivo, respondendo às pressões ambientais na forma de recompensa e punições. Para outros, a criança se desenvolve por meio de um engajamento proposital e ativo no meio ambiente, organizando e interpretando suas experiências e tentando solucionar problemas. Em nossas próximas aulas, vamos estudar estas teorias sobre o desenvolvimento. 2- A construção do desenvolvimento humano “DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM”: UMA ROSA COM OUTRO NOME - por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do “The Natural Child Project” DE lUCA, A. Afetividade e Aprendizagem: o desafio para o novo milênio. In Atualidades em educação. Ano 17, nº 76, Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, 2000. Imagine por um instante que você está visitando um viveiro de plantas. você percebe uma agitação lá fora e vai investigar. você encontra um jovem assistente lutando contra uma roseira. Ele está tentado forçar as pétalas da rosa a se abrirem, e resmunga insatisfeito. você lhe pergunta o quê está fazendo e ele explica: “meu chefe quer que todas essas rosas floresçam essa semana, então na semana passada eu cortei todas as precoces e hoje estou abrindo as atrasadas”. Você protesta dizendo que cada rosa floresce a seu tempo, é absurdo tentar retardar ou apressar isso. não importa quando a rosa vai desabrochar - uma rosa sempre desabrocha no momento mais oportuno para ela. você olha novamente a rosa e percebe que ela está murchando, mas quando você o alerta, ele responde: “Ah, isso é mau, ela tem disdesabrochamento congênito. vamos ter que chamar um especialista”. você diz: “não, não! Foi você quem fez a rosa murchar! você só precisaria satisfazer as exigências de água e luz da planta e deixar o resto por conta da natureza!” você mal consegue acreditar no que está acontecendo. Por quê o chefe dele é tão mal informado e tem expectativas tão irreais em relação às rosas? As necessidades básicas do ser humano envolvem desde a nutrição até o ambiente psicossocial; e, na infância, exercem influência significativa sobre o processo de desenvolvimento. Ao conceituar saúde como bem-estar biopsicossocial, a Organização Mundial de Saúde fornece as bases para as necessidades básicas do ser humano, que envolve desde a nutrição até o ambiente psicossocial; e, na infância, exercem influência significativa sobre o processo de desenvolvimento. Além disso, fornece as bases para uma abordagem transdisciplinar da atenção integral a criança. A saúde da criança, portanto, deve abranger todas as condições para o seu pleno desenvolvimento, que inclui o crescimento físico, psicológico e social e a aquisição de habilidades, capacidades e comportamento humanos. Acompanhar o desenvolvimento da criança configura- se em mais do que consultar gráficos e tabelas para certificar sua saúde e desempenho, visto que também envolve observar o modo como a criança estabelece contato com o meio circundante, como percebe este meio, assimila a experiência cultural e se torna parte ativa do sistema de grupos sociais que constitui seu ambiente. Exige um olhar sobre a criança como sujeito e sobre o lugar que ela ocupa nas relações familiares e sociais. 17 Nesta perspectiva, é o básico compreender o modo de interagir da criança - com o seu próprio corpo, com o outro, com o objeto, com o meio físico e com o meio social - e as etapas do seu processo de desenvolvimento para percepção de desequilíbrios, suas causas e consequências, e também para a estimulação de processos de aprendizagem, por meio de estratégias de prevenção de distúrbios e maximização das potencialidades de cada criança individualmente. O desenvolvimento é a história de como se constrói em novas atividades mentais, a maneira como a criança vai adquirindo gradualmente modos de interagir com o mundo, caracteristicamente humanos e “herdados” socialmente. A forma de cada indivíduo realizar esta construção é uma assimilação individual da experiência histórica, uma atualização das transformações acumuladas por sua espécie: o desenvolvimento de cada um é uma história peculiar, que o particulariza e a distingue dos outros humanos. A construção do humano em cada indivíduo é o resultado do desenvolvimento da cognição, da capacidade de aprender a aprender, de decodificar o mundo, de adquirir estratégias para assegurar a sobrevivência, manter a saúde, o bem-estar. A estratégia cognitiva é o modo de interagir, no sentido de perceber e reagir ao meio circundante. O que diferencia o homem do animal é a forma como orienta o seu desenvolvimento: aprende a transformar seu comportamento instintivo, herdado de recém-nascido, no comportamento do adulto, construído a partir de influências socioculturais.O complexo processo de adquirir um comportamento especificamente humano - culturalmente orientado, voluntário, dirigido a metas - é denominado desenvolvimento. O desenvolvimento é o resultado do entrelaçamento de dois processos fundamentais: maturação e aprendizagem. A maturação condensa os processos biológicos elementares que, ao longo do tempo, vão funcionando de modo cada vez mais complexo e específico, orientados por um programa geneticamente determinado. A aprendizagem diz respeito a processos psicológicos superiores, dependentes da fala na sua organização, e determinados pelas condições reais de vida de cada indivíduo. O processo de maturação prepara e possibilita uma determinada aprendizagem, enquanto o processo de aprendizagem estimula a maturação. Esta referenciação recíproca faz o desenvolvimento avançar. No processo de desenvolvimento, a criança adquire formas socialmente organizadas de interagir. Para os humanos, as formas básicas de interação abarcam as relações que um indivíduo pode estabelecer com seu próprio corpo, com outro humano, com o objeto, com o conjunto dos objetos do meio físico e com sua sociedade. A todo instante, existe a possibilidade de interação nas diferentes esferas, mas, no curso do desenvolvimento, a cada etapa estão permeáveis canais específicos que se constroem no entrelaçamento da maturação com a aprendizagem. Ao nascer, o bebê possui um tipo de comportamento predeterminado/biológico/inato/ genético/herdado, que é o conjunto dos reflexos incondicionais, respostas instintivas a situações definidas globalmente como biologicamente pertinentes: equilíbrio e desequilíbrio, prazer e desprazer. Este tipo de comportamento não permite que o filhote humano sobreviva sozinho precocemente, tornando-o dependente do adulto por vários anos, enquanto efetua a aquisição de novas formas de comportamento que lhe garantam a adaptação dinâmica às condições do meio externo. A aquisição de habilidades, de novas respostas cada vez mais específicas, seletivas e precisas, acontece no processo de desenvolvimento e é organizada socialmente: a criança vai aprendendo com outro do seu grupo social o comportamento culturalmente adequado. O desenvolvimento é uma construção, resulta do entrelaçamento de duas raízes, uma biológica e outra sociocultural. A raiz biológica corresponde à herança genética, consiste na atividade nervosa elementar, que se organiza por meio da maturação. A matriz deste processo está inscrita nos cromossomos, como um programa de funcionamento que é operado por meio de sinais concretos dos objetos do mundo físico. A raiz sociocultural corresponde a heranças históricas, consiste na atividade nervosa superior, que se organiza por meio da aprendizagem de um programa de funcionamento que é operado por sinais simbólicos, o instrumento de comunicação criado pelo homem: a fala. A estrutura sociocultural existe nas mentes (separadamente ou coletivamente) e se constitui dos artefatos, valores, costumes, instituições, mitos etc. de uma sociedade, inter-relacionados de diversas formas, ou seja, engloba as partes e as relações entre elas. Esta estrutura percebida pela consciência tem função reguladora, afeta os indivíduos, as famílias e os grupos, sendo continuamente criada pelas atividades dos indivíduos nas suas interações (Hinde, 1995). Estas duas raízes (natural e cultural) e as duas atividades que as representam (atividade nervosa elementar e superior) se entrelaçam: desde que o bebê nasce, já está submetido às influências socioculturais. Isto faz do humano o produto da história individual marcado pela história da sua sociedade. A construção do desenvolvimento pressupõe uma forte interação entre natureza (biológico) e cultura (sócio-histórico), entre maturação e aprendizagem. É necessária a maturação biológica de determinadas estruturas cerebrais para que ocorra uma aprendizagem onde estas estruturas biológicas sejam utilizadas na formação de novos sistemas funcionais. A maturação permite a aprendizagem e cada nova aprendizagem estimula o cérebro a interconectar novas áreas. A base maturativa possibilita a aquisição de novas formas de operar o sistema nervoso central (SNC) na busca da sobrevivência. Esta aquisição resulta de um ato social, depende de um representante da cultura (adulto ou criança mais velha) que vai apresentar à criança novas estratégias de relação com o mundo. O desenvolvimento é complexo porque possui muitos fatores que interferem em sua direção, velocidade e qualidade. É dialético porque do entrelaçamento entre o natural (a tese) e o cultural (a antítese) resulta uma síntese, ou seja, uma nova organização com traços de suas duas raízes, mas qualitativamente distinta delas. É também periódico porque tem fases, etapas, passagens de uma forma de funcionamento para outra. Fatores internos e externos exercem influência sobre 18Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem o processo de desenvolvimento. Os fatores internos são ligados à herança genética que dá algumas direções ao desenvolvimento, como as relativas à estrutura, estrutura somática etc. Os fatores externos são aqueles decorrentes do meio ambiente onde o indivíduo vive e está inserido, tanto o meio físico quanto o meio social. As funções desenvolvem-se irregularmente, dirigidas pela maturação: é o amadurecimento dos órgãos que vai determinar a evolução dos processos biológicos. Os diferentes órgãos vão entrando em funcionamento de forma inicialmente rudimentar, cada um com um tempo de maturação diferente e geneticamente determinado até chegar ao pleno funcionamento (maturação heterocrônica). Na nossa próxima seção vamos entender a relação e influencia dos fatores biológicos e culturais para o desenvolvimento humano. 3- Biológico x sócio cultural Enquanto o comportamento do recém-nascido tem como base respostas de herança biológica, o adulto se comporta a partir de condicionantes sócio-históricos, dos acontecimentos e aprendizados ao longo de sua vida. O recém- nascido organiza seu comportamento a partir da maturação, o adulto constrói seu comportamento pela aprendizagem. A atividade nervosa é elementar no bebê e superior no adulto; regulando as funções da vida vegetativa desde o nascimento e as funções complexas da vida de relação ao final do desenvolvimento. O princípio regulador do comportamento do recém- nascido é o princípio do prazer do qual vai abrindo mão ao longo do desenvolvimento, submetendo-se gradativamente ao domínio do princípio da realidade. A cada momento, o cérebro deve arbitrar os conflitos entre natureza e cultura, tentando atender ao princípio do prazer (que orienta a adequação biológica) e ao princípio da realidade (que norteia a adaptação social) para produzir um comportamento que assegure a sobrevivência do organismo. O comportamento natural regulado pelos instintos dá lugar a um comportamento cultural organizado pelo conjunto de normas e limites que se impõe a cada indivíduo dentro de cada grupo social para garantir a coexistência pacífica. O humano, complexo ser biopsicossocial, carrega a marca do conflito entre prazer e realidade: como sobreviver em um meio circundante complexo e em constante transformação, submetendo o princípio do prazer ao princípio da realidade, é a grande questão da mente humana. O tipo de respostas que o comportamento permite caracteriza-se por seletividade crescente: na criança, respostas involuntárias; no adulto, voluntárias. O código dos estímulos que organiza o comportamento é de complexidade crescente. O recém-nascido trabalha com sinais do mundo essencialmente concretos, físicos, enquanto o adulto é capaz de operar com sinais simbólicos, os signos sob a forma de palavras que dão origem ao pensamento verbal lógico. A forma como o cérebro produz comportamento se modifica ao longo do desenvolvimento com especificidade crescente, indo do pensamento de construção na criança,que se organiza pelas coisas, ao pensamento verbal lógico no adulto, que se organiza pelas representações das coisas. A instância onde este comportamento humano se inscreve é a natureza para o recém-nascido e, para o adulto, é a cultura. O meio físico e a estrutura sociocultural exercem influência sobre os diversos níveis de organização desde o comportamento individual até o comportamento social. O sistema nervoso central (SNC), coordenando a atividade do organismo, produz um comportamento cujo objetivo é garantir a sobrevivência, adaptação ao meio externo natural e sociocultural. A adequação ao mundo concreto é organizada pelas leis físicas; a adaptação ao mundo simbólico é ordenada pelas leis sociais. Sendo intrinsecamente a antítese do natural, a cultura se impõe como um limite: as leis sociais interditam os reflexos inatos, submetendo-os a um condicionamento cultural, uma lei comum que orienta a convivência entre humanos. O comportamento, em última instância, é o resultado desta adequação do biológico ao sociocultural, do concreto ao simbólico, do prazer à realidade. No processo de desenvolvimento, ressaltam-se dois aspectos: 1) sua gênese, maturação x aprendizagem; e 2) seu resultado, o comportamento. O homem é resultado da interação dialética entre patrimônio biológico e meio sociocultural durante o desenvolvimento, quando realiza a aquisição de reflexos complexos, dentro de uma adaptação organizada socialmente. Em outras palavras, cada cultura imprime ao funcionamento cerebral dinâmicas específicas que se refletem como comportamentos diferenciados. A fala é o fator que intervém produzindo e instaurando as mudanças qualitativas na operação do SNC que são a base para a aquisição do comportamento humano. É a fala, produto sócio-histórico, que vai dirigir a atividade mental e o comportamento. O indivíduo vai aprender articulando o biológico com o social, a encontrar as respostas mais adequadas à sobrevivência. Sobreviver no sentido biológico: preservar a vida. Sobreviver no sentido sociocultural: encontrar um lugar para ocupar em uma determinada sociedade, em uma certa cultura. 4- O grupo social FIGURA 1 - GRUPO SOCIAL Disponível em: http://goo.gl/6tTqPR. Acesso em: 12 mar. 2012. 19 Inicialmente, faz-se necessário entender o que é grupo social, a sua importância e contribuição na vida de uma pessoa, para posteriormente falarmos da importância e contribuição do grupo familiar para o desenvolvimento da criança. Grupo Social, segundo Bock (1997), uma criança, ao nascer, entra em um cenário que é o mundo social, a realidade objetiva que se constitui de um modo de organização econômica, política e jurídica da sociedade, de uma cultura, de instituições, como a família, a igreja, a escola, os partidos políticos, etc. A preparação do indivíduo ocorrerá por meio da internalização da realidade objetiva e esta será constitutiva de sua formação psíquica, o que lhe possibilitará sua ação no mundo, isto é, contribuir na construção deste cenário social que está sempre inacabado. A história de vida do indivíduo é a história de pertencer a inúmeros grupos sociais. FIGURA 2 – PROCESSO GRUPAL Disponível em: https://www.zrss.si/digitalnaknjiznica/Posodobitve%20 pouka%20v%20gimnazijski%20praksi%20GLASBA%20CD/4_SLOVENSKA%20 LJUDSKA%20GLASBA%20IN%20ETNOLOGIJA/LJUDSKA%20PLESNA%20IN%20 INSTRUMENTALNA%20GLASBA/ul-ljudska%20glasba%20in%20ples.pdf. Acesso em: 12 mar. 2012. Segundo Bock (1997), o grupo social supõe um conjunto de pessoas em um processo de relação, organizado com a finalidade de atingir um objetivo imediato ou em longo prazo. O processo grupal implica uma rede de relações que pode caracterizar-se por relações equilibradas de poder entre os participantes ou pela presença de um subgrupo que detém o poder e determina as normas que regulam a vida grupal. Podemos observar que todo grupo tem uma história, e por meio dela podemos verificar as mudanças que nele ocorrem. Por exemplo, as normas podem alterar o sistema de punição aos transgressores, podendo tornar-se mais ou menos rígidos, o sentimento de solidariedade pode estabelecer-se como um importante fator de manutenção do grupo. Além disso, podem emergir conflitos com relação a valores, por exemplo, estudar ou não estudar, aqueles que não cumprem a determinadas normas ou uma determinada tarefa deve ser expulso do grupo. A diversidade presente no grupo fica evidente, por exemplo, um membro do grupo faz parte de outros grupos: clube, trabalho, família. Cada participante traz para o grupo as vivências e experiências dos demais grupos ao longo de sua história de vida. O conflito não leva, necessariamente, à dissolução do grupo e pode caracterizar-se como um momento de seu crescimento. Isso diz respeito a qualquer grupo, inclusive ao grupo familiar. Assim, a família é entendida tanto quanto grupo social, por ser a base cultural do ser humano, sendo ela que dá a ele as normas e valores, quanto instituição pois apesar de não ser estática e vem mudando com o tempo, ela regula a vida em sociedade em nossa cultura monogâmica. Vamos entender um pouco mais sobre os grupos. 4.1 Socialização primária e secundária FIGURA 3 – SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA Disponível em: https://pt.slideshare.net/GabyMohr/parenting-session-2. Acesso em: 12 mar. 2012. Bock (1997) afirma que a criança, ao nascer, entra em um mundo socialmente dado, organizado, mas não acabado, e que o modo de fazer parte deste mundo é por meio dos grupos sociais, onde participa e ao mesmo tempo prepara-se para níveis mais amplos de participação econômica e cultural. Segundo a autora acima citada, a socialização é um processo de internalização como uma apropriação do mundo social, com suas normas, valores, modos de representar os objetos e situações que compõem a realidade objetiva; é o processo de constituição de uma realidade subjetiva. Essa 20Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem internalização tem grandes possibilidades de ocorrer porque a situação está se dando no grupo familiar que é um grupo muito significativo para criança, o que chamamos de um grupo carregado de afeto, por isso que tem essa influência na criança. Deve-se ressaltar aqui que não apenas a família de origem, mas também a qualquer substituto desta, como a creche ou o orfanato, pois constitui o grupo de socialização primária. Conforme Bock (1997), a maioria das teorias psicológicas concorda com a importância desse primeiro grupo na formação do indivíduo. A relevância, impossível de ser negada, atribuída a este grupo ou substituto, sustenta-se também nas características de dependência física e psíquica. A criança depende do adulto para sua sobrevivência e esta dependência torna os adultos, pessoas muito significativas ou importantes para a criança. Porém, essa dependência não pode ser entendida como sendo a criança absolutamente passiva no processo de socialização, e sim, ela também interfere no meio familiar, muda os hábitos da família, “ensina” a mãe a ser mãe, ou seja, mesmo a criança sendo dependente econômica, física e psiquicamente deste grupo familiar ela é ativa em seu processo de socialização. Ainda, Bock (1997) diz que o período da dependência variará com certeza em função das condições objetivas de vida da família, da cultura. Na zona rural e nas populações de baixa renda as crianças vão muito cedo ajudar no sustento da família, nesses casos a independência da criança é reforçada pelo próprio adulto. Neste momento inicial da vida do indivíduo, um importante instrumento de socialização que podemos destacar é a linguagem. A aquisição desse instrumento é, ao mesmo tempo produto da socialização anterior e facilitador da continuidade deste processo. Com a linguagem a criança pode trocar experiências com os adultos como também ampliar seu domínio sobre o mundo e seus símbolos e aumentar sua capacidade de interferir nele. FIGURA 4 – SOCIALIZAÇÃO SECUNDÁRIADisponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula. html?pagina=espaco/visualizar_aula&aula=57276&secao=espaco&request_ locale=es. Acesso em: 12 mar. 2012. A socialização primária sucede a socialização secundária, que ocorre em todos os outros grupos sociais, ao longo de sua vida, essa socialização vai ocorrer na escola, no grupo de amigos. Sendo assim sempre vivemos em grupos sociais e, portanto, o processo de socialização é contínuo e não termina na idade adulta, na maturidade ou com a aposentadoria. Nesse processo de socialização, onde o sujeito produz um mundo e a si próprio, ocorre a formação da nossa identidade. Até este momento, vimos a importância dos grupos sociais para a vida em sociedade, bem como o papel da família e dos grupos posteriores para a formação do individuo. 5- Compreendendo a família: transformações históricas e sociais FIGURA 5 – FAMÍLIA BRASILEIRA Disponível em: http://goo.gl/6tTqPR. Acesso em: 12 mar. 2012. A história da família brasileira é marcada pela Revolução Industrial, que iniciou na Europa e só chegou ao Brasil no século XIX. Neste período, a família se transformou em nuclear (pai, mãe e filhos), constituindo o modelo familiar patriarcal, que se caracteriza basicamente pela importância do núcleo conjugal e autoridade do marido sobre esposa e filhos. Considerando essas transformações, descreveremos a seguir as principais características constituintes da família patriarcal. O pai era o chefe da família, cabendo-lhe a função de prover o sustento material dos membros, que lhe deviam obediência. Ele tinha acesso livre ao espaço público, vida social e mercado de trabalho. A mãe tinha acesso restrito ao espaço público, sendo que lhe cabia a responsabilidade pelas tarefas domésticas e educação dos filhos, atividades referentes ao espaço privado do lar. Havia um controle sobre a sexualidade feminina, tendo como fim exclusivo a procriação para herança e sucessão, enquanto a sexualidade masculina era exercida livremente. A virgindade feminina era muito valorizada, e o adultério cometido pela mulher era severamente punido. 21 FIGURA 6 – FAMÍLIA PATRIARCAL Disponível em: https://casamentoeeventosperfeitos.blogspot.com/2011/09/ manual-de-boas-maneiras-e-etiqueta.html. Acesso em: 12 mar. 2012. Nesta época, os casamentos não eram necessariamente realizados por questões de afeto ou atração sexual, costumavam ser tratados como alianças entre grupos econômicos. Contudo, esse cenário foi se transformando devido a alguns fatores, entre os quais: • o avanço tecnológico dos métodos contraceptivos, trazendo mais liberdade para o exercício da sexualidade feminina; • o ingresso da mulher no mercado de trabalho; • o aumento no número de divórcios, enfraquecendo a ideia de casamento como laço indissolúvel; • e o desenvolvimento do movimento feminista na defesa dos direitos da mulher em busca de igualdade e amenização da autoridade do marido sobre a esposa. Com as transformações históricas, muitas concepções acerca da família foram se modificando, como podemos observar atualmente em nosso cotidiano. Observem alguns exemplos: Os casamentos passaram a ser realizados por interesses individuais, e o namoro passou a acontecer em espaços abertos. Começou a haver mais intimidade entre pais e filhos, trazendo a concepção de uma educação mais liberal, diminuindo a prática de castigos corporais. A concepção de pai como provedor foi enfraquecendo, e passou-se a exigir destes uma maior participação na educação dos filhos e no espaço privado do lar. De acordo com o novo Código Civil, pais possuem chances iguais as das mães na obtenção da guarda de filhos em processos de divórcio, sendo que anteriormente a mãe possuía preferência. Valores tradicionais e modernos passaram a coexistir na sociedade, caracterizando a família brasileira atual. Na sociedade contemporânea, não há como falar da família brasileira de uma forma geral, pois existem várias estruturas coexistindo em nossa sociedade, e que possuem grande metrópole, a indígena, entre outras. Além disso, com essas transformações várias configurações de famílias foram surgindo, como famílias de pais separados, chefiadas por mulher, a nuclear, a extensa, a homossexual, entre outras. Mesmo com toda essa diversidade, de acordo com pesquisa realizada por Maria Cristina Aranha Bruschini (“Estrutura Familiar e Vida Cotidiana”), é possível citar algumas características que descrevem as famílias atuais, principalmente as famílias urbanas: • tendência à nuclearização, o tamanho médio da família brasileira vem diminuindo; • crescimento do número de famílias e diminuição do seu tamanho médio; • diminuição de casamentos religiosos e aumento de uniões civis ou uniões “livres”; • crescimento do número de mulheres chefes de família; • os chefes de família tendem a ser ligeiramente mais velhos que os cônjuges (enquanto homens têm entre 30 e 45 anos, as mulheres têm entre 25 e 45 anos); • aumento da participação feminina no mercado de trabalho, sobretudo mulheres casadas e com filhos pequenos; • participação de vários membros da família em atividades econômicas; • quanto mais elevada a renda familiar, maior número de chefes que por ela se responsabilizam. Nas famílias mais pobres, os filhos contribuem significativamente na renda familiar. Neste sentido, com tantas mudanças na estrutura e organização familiar, vamos buscar entender o papel da família para a criança e o adolescente. 6- Família como lugar de proteção e direito da criança e do adolescente, bem como sua função educativa a ser compartilhada com a escola FIGURA 7 – DIREITO DE PROTEÇÃO DA CRIANÇA Disponível em: https://www.digitalmoldes.com/es/infantil. Acesso em: 12 mar. 2012. 22Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Como vimos anteriormente, a organização da família transforma-se no decorrer da história da humanidade, porém, em todos os tempos e culturas, a família desempenha funções educativas. Ela transmite os valores que constituem a cultura, e fornece modelos de formação para o indivíduo viver socialmente e estabelecer suas relações. A família é responsável pela sobrevivência física e psíquica das crianças, constituindo-se o primeiro grupo de mediação do indivíduo com o mundo social, onde acontecem os primeiros aprendizados dos hábitos, costumes da cultura e a socialização primária. Exemplo: o aprendizado da linguagem possibilita a criança apropriar-se do mundo a sua volta. Na família, também se concretiza o exercício dos direitos da criança e do adolescente, que estão embasados no direito aos cuidados essenciais para possibilitar seu crescimento, desenvolvimento físico, psíquico e social. A função da família é tão importante que, do ponto de vista do indivíduo e da cultura, na sua ausência, dizemos que a criança ou adolescente precisa de uma “família substituta”, ou ser abrigados em instituição que cumpra as funções de cuidado, transmissão de valores culturais, condições para inserção social. Antes do nascimento, a criança já ocupa um lugar na família, e o que a espera são hábitos da cultura desta família, que trará expectativas diferentes se o filho for menino ou menina. Isso devido às diferentes expectativas de conduta para cada gênero, devido às representações sociais atribuídas às diferenças biológicas. Por exemplo: espera-se que meninas gostem de cor-de-rosa e bonecas, o que já não se espera de meninos. Os pais são para os filhos os modelos de como os adultos se comportam, ou seja, como resolvem conflitos, tratam as visitas, portam-se a mesa, o que pensam sobre acontecimentos do mundo etc. São os pais os primeiros modelos de como é ser homem e ser mulher, que se referem aos padrões culturais de conduta. A criança internalizará a cultura que a família reproduz em seu interior. Em relação ao direito de ter uma família e a sua importância para a criança,expressa o artigo 6º da Declaração dos Direitos da Criança (20/11/1959): Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar- se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, a criança de tenra idade não será apartada da mãe. A sociedade e as autoridades públicas caberá de obrigação de propiciar cuidados especiais as crianças sem família e aquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos e de famílias numerosas. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei 8.069, de 13/07/1990, que regulamenta os direitos da criança e do adolescente, traz no capítulo 3º: “Do Direito a Convivência Familiar e Comunitária”, e artigo 19: Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. A lei incorpora na ordem jurídica mudanças históricas e culturais que se processam na sociedade e que refletem na família. De acordo com os direitos citados anteriormente, podemos verificar a valorização do convívio familiar no desenvolvimento da criança e do adolescente. Devemos ter clareza de que, ao falar de família, não há como pensar apenas o modelo pai-mãe-prole, pois, atualmente, este se tornou um entre vários modelos possíveis de organização destes grupos sociais. 6.1 Família e escola: Uma relação conturbada A família possui sua função educativa para crianças e adolescentes, a qual foi abordada anteriormente. Porém, esta função é compartilhada com instituições educacionais, dentre elas: creches, pré-escolas e escolas. Em todas as classes sociais, as crianças estão se inserindo cada vez mais cedo nessas instituições, e os motivos são diversos, sendo que se destaca a entrada da mulher no mercado de trabalho. A escola tornou-se uma das mais importantes instituições sociais, na função de mediar a relação entre indivíduo e sociedade. Essa função caracteriza-se pela transmissão cultural, de modelos sociais de comportamento, valores morais, propiciando a humanização, socialização, enfim, a educação. A escola é uma instituição que trabalha a serviço da sociedade, ou seja, para responder as necessidades sociais, que lhe concede o papel de preparar as crianças para viver no mundo adulto. Estabelece uma mediação entre indivíduo e a sociedade que é técnica (aprendizado das técnicas de base, como leitura, escrita, cálculo, técnicas corporais, etc.) e social (aprendizado de valores, ideais e modelos de comportamento). Ocupando grande parte da vida de seus alunos, a escola ensina técnicas, valores e ideais, e cada vez mais substitui as famílias na orientação sexual, profissional, ou seja, a vida como um todo. A discussão encaminha-se, muitas vezes, para os seguintes questionamentos: Quem é o responsável pela educação de crianças e adolescentes? A escola? A família? Pais esperam ações dos professores e esses dizem não caber a eles tais tarefas. Professores, por sua vez, depositam nos pais expectativas que eles não têm condições - ou não sabem como - cumprir. No meio disso, estão os alunos, que, diante do fracasso escolar, transferem o ônus ao professor. Esse jogo de empurra gera uma série de equívocos 23 e mitos sobre o relacionamento entre a família e a escola, prejudicando o estudante, que deveria ser a prioridade de todos. Vários fatores influenciam o aproveitamento do aluno. Se a escola e a família buscam ações coordenadas, os problemas são enfrentados e resolvidos. Na nossa próxima aula vamos abordar as concepções teóricas da educação, que são importantes para conhecer o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos. Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar esse tópico, vamos recordar: Retomando a aula 1 – A Psicologia do Desenvolvimento A Psicologia do Desenvolvimento é uma área fundamental no processo de educação e aprendizagem, pois busca compreender o nível de desenvolvimento da criança. Dessa forma, a psicologia do desenvolvimento é uma área da psicologia que estuda os detalhes do progresso da criança em direção à maturidade, para que quando adulto ele tenha capacidade de amar uma outra pessoa e derivar prazer pessoal profundo dos relacionamentos interpessoais. A pessoa madura deve ser capaz de deduzir conclusões e pensar logicamente a respeito de ideias abstratas. Segundo Bock et al. (1998), são 4 aspectos básicos do desenvolvimento humano: Aspecto físico; Aspecto intelectual; Aspecto afetivo-emocional; Aspecto social, sendo quatro os fatores que influenciam o desenvolvimento: a hereditariedade, o crescimento orgânico, a maturação neurofisiológica e o meio. 2 – A construção do desenvolvimento humano As necessidades básicas do ser humano envolvem desde a nutrição até o ambiente psicossocial; e, na infância, exercem influência significativa sobre o processo de desenvolvimento. O desenvolvimento é uma construção, resultado do entrelaçamento de duas raízes, uma biológica e outra sociocultural. A raiz biológica corresponde à herança genética, consiste na atividade nervosa elementar, que se organiza por meio da maturação. A raiz sociocultural corresponde às heranças históricas, consiste na atividade nervosa superior, que se organiza por meio da aprendizagem de um programa de funcionamento que é operado por sinais simbólicos, o instrumento de comunicação criado pelo homem: a fala. O desenvolvimento é complexo porque possui muitos fatores que interferem em sua direção, velocidade e qualidade. É dialético porque do entrelaçamento entre o natural (a tese) e o cultural (a antítese) resulta uma síntese, ou seja, uma nova organização com traços de suas duas raízes, mas qualitativamente distinta delas. É também periódico porque têm fases, etapas, passagens de uma forma de funcionamento para outra. 3 – Biológico x sócio cultural Enquanto o comportamento do recém-nascido tem como base respostas de herança biológica, o adulto se comporta a partir de condicionantes sócio-históricas, dos acontecimentos e aprendizados ao longo de sua vida. O recém- nascido organiza seu comportamento a partir da maturação; o adulto constrói seu comportamento pela aprendizagem. 4- O grupo social Segundo Bock (1997), o grupo social supõe um conjunto de pessoas em um processo de relação, organizado com a finalidade de atingir um objetivo imediato ou mais a longo prazo. O processo grupal implica uma rede de relações que pode caracterizar-se por relações equilibradas de poder entre os participantes ou pela presença de um subgrupo que detém o poder e determina as normas que regulam a vida grupal. Bock (1997) afirma que a criança, ao nascer, entra em um mundo socialmente dado, organizado, mas não acabado, e que o modo de fazer parte deste mundo é por meio dos grupos sociais, onde participa e ao mesmo tempo prepara-se para níveis mais amplos de participação econômica e cultural. A socialização é um processo de internalização como uma apropriação do mundo social, com suas normas, valores, modos de representar os objetos e situações que compõe a realidade objetiva; A história da família brasileira é marcada pela Revolução Industrial, que iniciou na Europa e só chegou ao Brasil no século XIX. Neste período, a família se transformou em nuclear (pai, mãe e filhos), constituindo o modelo familiar patriarcal, que se caracteriza basicamente pela importância do núcleo conjugal e autoridade do marido sobre esposa e filhos. 5 - Compreendendo a família: transformações históricas e sociais A história da família brasileira é marcada pela Revolução Industrial,que iniciou na Europa e só chegou ao Brasil no século XIX. Neste período, a família se transformou em nuclear (pai, mãe e filhos), constituindo o modelo familiar patriarcal, que se caracteriza basicamente pela importância do núcleo conjugal e autoridade do marido sobre esposa e filhos. O avanço tecnológico dos métodos contraceptivos; o ingresso da mulher no mercado de trabalho; o aumento no número de divórcios; e o desenvolvimento do movimento feminista. Com as transformações históricas, muitas concepções acerca da família foram se modificando, como podemos observar atualmente em nosso cotidiano. Transformando as características das famílias urbanas. 6 - Família como lugar de proteção e direito da criança e do adolescente, bem como sua função educativa a ser compartilhada com a escola 24Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem PINO, A. As marcas do humano: as origens da constituição cultural da criança na perspectiva de Lev S. Vigotski. São Paulo, SP: Cortez. 2005. Vale a pena ler Vale a pena Filme As Chaves de Casa (2003). Vale a pena assistir A família é responsável pela sobrevivência física e psíquica das crianças, constituindo-se o primeiro grupo de mediação do indivíduo com o mundo social. A escola, por sua vez, tornou-se uma das mais importantes instituições sociais, na função de mediar a relação entre indivíduo e sociedade. Essa função caracteriza-se pela transmissão cultural, de modelos sociais de comportamento, valores morais, propiciando a humanização, socialização, enfim, a educação. Ocupando grande parte da vida de seus alunos, a escola ensina técnicas, valores e ideais, e cada vez mais substitui as famílias na orientação sexual, profissional, ou seja, a vida como um todo. Disponível em: www.psicopedagogia.com.br. Vale a pena acessar Minhas anotações