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Rede São Paulo de Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio São Paulo 2011 UNESP – Universidade Estadual Paulista Pró-Reitoria de Pós-Graduação Rua Quirino de Andrade, 215 CEP 01049-010 – São Paulo – SP Tel.: (11) 5627-0561 www.unesp.br Governo do Estado de São Paulo Secretaria de Estado da Educação Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas Gabinete da Coordenadora Praça da República, 53 CEP 01045-903 – Centro – São Paulo – SP sumário tema ficha Sumário Vídeo da Semana ...................................................................... 2 Ligação iônica................................................................................2 As estruturas de retículos iônicos como resultante de empacotamentos de esferas de cargas e raios diferentes ..............................................................3 A energética da ligação iônica – Cálculo teórico da energia reticular. Comparação entre dados calculados e medidos num ciclo de Born-Haber ......5 Ligação intermolecular: descrição de alguns tipos (dispersão de london e ligação hidrogênio) e energética de algumas delas. ........12 Ligação Hidrogênio ................................................................................. 17 A importância da ligação hidrogênio em água ......................................... 21 Referências ............................................................................. 25 2 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Vídeo da Semana Ligação iônica A ligação iônica, como já discutido em termos gerais na Disciplina 5, é formada pela in- terações entre íons de cargas opostas, dispostos num arranjo regular tridimensional, no qual cátions e ânions se alternam. As interações eletrostáticas de atração e repulsão entre os íons levam à uma estabilização global do arranjo tridimensional infinito dos íons em relação aos íons isolados, envolvendo a chamada energia reticular. O que não foi abordado até o momen- to, é a compreensão de como o arranjo tridimensional de íons alternados dá origem à estrutura tridimensional de sólidos iônicos. Essa é nossa próxima tarefa! 3 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha As estruturas de retículos iônicos como resultante de empacotamentos de esferas de cargas e raios diferentes Comecemos a discussão do problema das estruturas de sólidos iônicos, considerando um exemplo concreto, que se aproxime ao máximo das características de um sólido iônico ideal – estrutura formada por cargas elétricas pontuais localizadas nos pontos reticulares da estrutura, e interações eletrostáticas iguais em todas as direções ao redor de cada íon do retículo, com suas intensidades dependendo apenas da distância de separação entre os centros das cargas que inte- ragem no retículo (interações onidirecionais). Talvez a substância iônica que mais se aproxime deste modelo seja o LiF, mas vamos utilizar o caso do NaCl, o sal de cozinha, por estar muito próximo de nós no dia-a-dia, e por se aproximar bastante do modelo ideal de composto iônico. Dados experimentais sobre o NaCl mostram que sua estrutura, denominada de estrutura de sal de rocha (nome sob o qual o sal é encontrado na forma cristalina em jazidas minerais), consiste num cubo de face centrada, onde os íons de carga opostas se alternam e cada íon Na+ está rodeado de 6 íons Cl-, localizados todos a iguais distâncias de separação do íon central, nas direções dos vértices de um octaedro regular (diz-se que o íon Na+ tem um número de coorde- nação NC = 6) . Por outro lado, cada íon Cl- que compõem a estrutura, está em arranjo seme- lhante, rodeado por seis íons Na+ a igual distância de afastamento do íon Cl- central do arranjo (o Cl- também tem número de coordenação NC=6 na estrutura). A estrutura tridimensional resultante para o NaCl é mostrada na figura que se segue, na qual as bolas verdes , de raio maior, representam os ânions Cl-, e as bolas cinzas , de menor raio, os cátions Na+. Os octae- dros em cinza e verde nas faces do cubo destacam, respectivamente, os octaedros formados por seis íons de cargas opostas à mesma distância, ao redor de um íon Na+ e Cl-, respectivamente. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c0/NaCl_polyhedra.png http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c0/NaCl_polyhedra.png 4 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Para tentarmos entender como uma estrutura deste tipo é formada, vamos fazer algumas considerações sobre as entidades que a compõem, os íons Na+ e Cl-, ambos com configuração eletrônica de gás nobre, tendo camada eletrônica fechada, com simetria esférica. Dados facil- mente encontrados em tabelas indicam que os raios dos íons Na+ e Cl- com NC =6, são iguais a 102 e 181 pm, respectivamente. Podemos tentar agora utilizar uma extensão do modelo que descreve as estruturas dos metais em termos do empacotamento denso de esferas iguais, para descrever as estruturas de compostos iônicos do tipo do NaCl. A diferença é que no caso do NaCl a estrutura envolve dois íons esféricos de cargas e raios diferentes, que devem se alternar para formar a estrutura do sólido. Podemos dividir o problema, e a tentativa de sua resolução, considerando um pro- cesso hipotético que envolve a aproximação dos íons de carga opostas para formar a estrutura do sólido iônico, em duas partes. Na primeira parte podemos supor que os íons de maior raio, no caso os ânions Cl-, formem um retículo básico pelo empacotamento denso de ânions. Já sabemos a partir dos estudos das estruturas de metais, que mesmo em estruturas formadas por empacotamento denso de esferas, há vazios na estrutura, os interstícios. Na segunda parte do processo hipotético, os íons menores, no caso os cátions Na+, ocupariam o tipo de interstício condizente com seu NC=6, com 6 ânions a igual distância do cátion Na+ na estrutura do com- posto iônico. A situação resultante é esquematizada a seguir. http://en.wikipedia.org/wiki/File:Sodium-chloride-3D-ionic.png http://en.wikipedia.org/wiki/File:Sodium-chloride-3D-ionic.png 5 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha O que regula o número de íons de uma determinada carga em torno de um íon central de carga oposta, através de interações puramente iônicas, é a relação entre os raios dos íons. É mais ou menos intuitiva a idéia de que, se o íon central de um tal arranjo de cargas for grande, ele poderá acomodar um número maior de íons de cargas opostas ao seu redor do que um íon central pequeno. Pode-se calcular para os diferentes números de coordenação NC (número de íons de mesma carga elétrica, que estão situados a iguais distâncias de um íon central com car- ga oposta), através de cálculos geométricos simples (mas de qualquer modo fora dos objetivos de nosso curso), usando apenas conceitos de Geometria Espacial e a aplicação do Teorema de Pitágoras. Estas relações entre o raio do íon maior e o raio do íon menor, e as faixas em que um determinado NC pode existir, são mostradas na tabela que se segue. Número de Coordenação (NC) Geometria Raio menor/raio maio 2 Linear <0,155 3 Triangular plana 0,155 0,225 4 Tetraédrica 0,225 0,414 6 Octaédrica 0,414 0,732 8 Cúbica de corpo centrado 0,732 0,999 12 Dodecaédrica <1,000 Como exemplo de aplicação dessas relações, vamos utilizar os dados que dispomos sobre os raios iônicos de Na+ e Cl -, iguais a 102 e 181 pm, respectivamente. A relação raio do íon me- nor/raio do íon maior = 102/181 = 0,564, está compreendido na faixa 0,414 → 0,732. Para esta faixa está prevista um número de coordenação NC=6. Como a relação estequiométrica que existe entre os íons Na+ e Cl – é 1:1, ambos os íons devem ter NC = 6. Assim, podemos prever que o NaCl formará uma estrutura em que ambos os íons terão NC=6, e estarão presentes na relação 1:1, exatamente a estrutura determinada experimentalmente.Este tipo de cálculos permite racionalizar as estruturas dos compostos iônicos mais co- nhecidos em termos de empacotamento de esferas de raios e cargas diferentes. Infelizmente a extensão do assunto não é compatível com o tempo disponível em nosso curso. Os interessados podem obter mais exemplos de aplicações dessa abordagem para outros retículos usuais em compostos iônicos em Kotz et al ( 2010). 6 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha A energética da ligação iônica – Cálculo teórico da energia reticular. Com- paração entre dados calculados e medidos num ciclo de Born-Haber Agora, dispondo de um modelo para a estrutura de um sólido iônico, podemos nos pre- ocupar com a origem da energia que estabiliza um retículo iônico e, caso possível, calculá-la teoricamente. Anteriormente já havia sido discutido que a suposta estabilidade de íons como Na+ e Cl -, pelo simples fato de envolverem íons que obedecem a regra do octeto, não justifica energeti- camente a formação do sólido iônico NaCl. A seguir discutiu-se o fato de que a energia de estabilização que acompanha a formação de 1 mol de NaCl sólido em relação aos seus íons constituintes no estado gasoso, denominada energia reticular (representada usualmente por U), é um fator decisivo para que o processo global de formação de NaCl sólido através da re- ação Na(s) + ½ Cl2 → NaCl(s) seja espontâneo. Posteriormente foi mostrado como, a partir de um ciclo de Born-Haber montado para a reação de formação de 1 mol de NaCl sólido a partir das substâncias Na sólido e Cl2 gasoso em seus estados padrões, e dispondo-se dos valores de todas as energias envolvidas nas etapas elementares em que se pode dividir o processo, exceto a energia reticular U, pode-se obter o valor de U. O valor da energia reticular obtido a partir do ciclo de Born-Haber para um sólido iônico é tomado como o valor experimental de sua energia reticular, representado pelo sím- bolo Uexperimental. É importante salientar que a obtenção desta grandeza por método realmente experimental, é praticamente impossível fisicamente, uma vez que o processo envolveria a manipulação de um mol de cada um dos íons no estado gasoso! Além de propiciar uma visão detalhada sobre as energias envolvidas num processo, esta aplicação é uma das grandes utili- dades dos ciclos de Born-Haber: permitir a determinação de grandezas que de outro modo seriam experimentalmente inacessíveis! Agora, vamos nos dedicar a calcular a energia reticular teoricamente, Ucalculado, para pos- teriormente compará-los com os valores obtidos a partir dos ciclos de Born-Haber corres- pondentes, Uexperimental. Para calcular a energia reticular precisamos levar em conta todas as interações eletrostáticas de atração e repulsão que surgem numa estrutura tridimensional de um sólido iônico, onde íons de carga oposta se alternam na estrutura. Isto pode ser feito a partir dos dados de uma estrutura tridimensional real, como a do NaCl. No entanto, como 7 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha essa abordagem exige uma visão espacial da localização e distâncias entre os íons dentro da estrutura, optamos por utilizar uma simplificação, que leva essencialmente aos mesmos re- sultados do ponto de vista qualitativo. A simplificação é supor que, ao invés de uma estrutura tridimensional, formamos uma linha reta de íons de cargas opostas alternados, com seus nú- cleos alinhados sobre uma reta. Comecemos o processo hipotético colocando um íon central de uma dada carga, por exemplo, Na+. Agora vamos adicionando dois íons de cargas opostas simultaneamente, de modo que seus núcleos fiquem sobre a reta, e em posições opostas em re- lação ao íon central, e cada um deles tocando um lado do íon central. O processo é continuado indefinidamente, de modo a resultar numa linha infinita de íons alternados. A cada etapa do processo podemos calcular as novas interações eletrostáticas que surgem a partir da situação anterior e, somando as contribuições que surgem em cada etapa do processo, obter a variação total de energia eletrostática que acompanha a formação de 1 mol desta linha de íons de cargas opostas e alternados na estrutura. A situação é esquematizada a seguir. 0 . . . . . . . . . r 2r 3r + + + + + - - - - O cátion Na+ marcado com 0 é o ponto de partida escolhido arbitrariamente para o início da montagem da linha de íons. A distância entre os núcleos dos íons de carga opostas adja- centes é sempre igual a r. Como o ponto de partida de contagem das distâncias é o núcleo do íon de Na+ central, a medida que se afasta do ponto central, as distâncias entre os núcleos de íons subseqüentes sempre aumentam por r. Sabemos que as energias de interação eletrostática entre íons genéricos de cargas Z1 e Z2 é dada pela expressão advinda da eletrostática: r eZZ E 0 2 21 4 ep = π ε 8 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha onde: • E: é a energia de interação eletrostática entre os íons de carga Z1 e Z2. E pode ter sinal negativo ou positivo, dependendo dos sinais das cargas serem opostos, ou iguais. No caso de cargas de sinais opostos, a atração eletrostática estabiliza o sistema e, pela con- venção termodinâmica que utilizamos terá sinal negativo. Se os sinais forem iguais, a interação será de repulsão, e o sinal será positivo. • e: é a carga do elétron, que no Sistema Internacional de unidades (SI) tem valor igual a -1,602 x 10-19 coulombs. • ε0: é a permissividade do vácuo, que no SI tem valor igual a 8,854 x 10-12 C2 m-2 N-1. • r: é a distância entre os núcleos dos íons que interagem, expressa na unidade SI de com- primento, o metro. Agora precisamos calcular as energias de atração e repulsão que vão surgindo sobre o íon ar- bitrariamente escolhido como origem, à medida que nossa linha hipotética de íons é formada. Quando se adiciona os dois primeiros ânions ao lado do cátion de partida temos as seguintes interações eletrostáticas: - duas interações de atração entre o íon central de carga positiva, e cada um dos íons nega- tivos adjacentes, cada um eles afastado de uma distância r do ponto zero, resultando em: r eZZ Eatração 0 2 211 4 2 ep -= Continuando com o nosso processo hipotético de construção de um retículo iônico em forma de uma linha reta, adicionamos agora dois cátions, cujos centros estão a uma distância 2r do átomo central. Esses dois íons interagem com o átomo central através de duas interações de repulsão, resultando em: )2(4 2 0 2 212 r eZZ Erepulsão ep+= π ε 9 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Na terceira sequência de adição de íons à linha anterior, agora são adicionados dois ânions à seqüência anterior, cujos centros estão a uma distância 3r do átomo central. A intera- ção entre esses ânions e o átomo central agora é de atração, e a energia da interação é dada por )3(4 2 0 2 213 r eZZ Eatração ep-= Esse processo pode continuar indefinidamente, mas podemos notar que há um padrão de repetição, e é interessante fazermos um balanço de todas as interações sobre o átomo central, que surgiram até o presente momento, calculando a energia total da interação. )..... 3 1 2 1 1( 4 2 )3(4 2 )2(4 2 4 2 0 2 21 0 2 21 0 2 21 0 2 21 ++--=-+-= r eZZ r eZZ r eZZ r eZZ Etotal epepepep )..... 3 1 2 1 1( 4 2 0 2 21 -+--= r eZZ Etotal ep O termo 2 que aparece na expressão decorre do próprio “retículo iônico” linear que adota- mos para exemplificar o problema, pois na construção do mesmo os íons são adicionados aos pares à sequência anterior do retículo. Se o processo fosse continuado indefinidamente, o termo inicial, envolvendo várias cons- tantes e a variável r, não sofreriam nenhuma modificação. O que se modificaria seria a se- quência de números representada entre parênteses, onde os termos decrescentes têm sinais positivos e negativos que se alternam, constituindoo que os matemáticos denominam de série. A soma dos termos da série converge para um limite, que no caso os matemáticos nos dizem ser igual a 0,693. Este limite representa uma contribuição da estrutura para a energia total de estabilização eletrostática do retículo, e é denominada constante de Madelung, representada usualmente por M. Assim, para o exemplo simplificado que escolhemos para o estudo da estabilização de retículos iônicos pelas interações eletrostáticas entre os íons que o formam, a equação resul- tante será 4π ε0 4π ε0 4π ε0 4π ε0 4π ε0 π ε 10 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha M r eZZ Etotal 0 2 21 4 2 ep -= Estendendo este tipo de raciocínio para retículos iônicos tridimensionais, a expressão será semelhante à obtida para nosso retículo iônico linear infinito, sendo dada pela expressão geral que se segue: M r eZZ Etotal 0 2 21 4 ep -= Como nosso retículo real é formado por um número muito grande de íons, é conve- niente expressar o resultado em termos de um mol do retículo iônico formado, bastando para isto multiplicar o resultado obtido para um íon pela constante de Avogadro, N = 6,02 x 1023, resultando na fórmula M r NeZZ Etotal 0 2 21 4 ep -= Para retículos tridimensionais encontrados regularmente em sólidos iônicos, o valor da constante de Madelung tem valor ao redor de 1,6. Para o caso particular de um retículo como o do NaCl, por exemplo, M = 1,7476. O que isto significa? Analisemos primeiro o significado dos termos da equação obtida. O termo: r NeZZ 0 2 21 4 ep - por exemplo, representa a energia de interação eletrostática de atração existente em um mol de dois íons de cargas opostas, Z1 e Z2, separados por uma distância r. Logo, a constante de Madelung = 1,7476 obtida para a estrutura do NaCl, significa que a existência da estrutura tridimensional, e não um mol de pares de íons isolados, implica num aumento de aproxi- madamente 75% no valor da energia de estabilização eletrostática total em relação aos pares isolados! π ε 4π ε0 4π ε0 4π ε0 11 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Agora, se examinarmos com atenção a equação obtida, pode-se verificar facilmente que a interação resultante é sempre negativa, isto é, a interação resultante sempre estabiliza o siste- ma, havendo uma atração total resultante. Se o retículo fosse formado realmente por pontos de cargas, sem dimensões, as cargas nele presentes se atrairiam com força crescente à medida que a atração as aproximasse (pode-se ver pela equação que a energia da interação aumenta à medida que a distância entre os íons diminui). Se a atração fosse o único tipo de interação exis- tente no sistema, as cargas se aniquilariam, e o retículo não seria estável! Obviamente os íons reais não são pontos de carga, e à medida que a distância diminui surgem forças de repulsão de curta distância, que aumentam rapidamente conforme a distância diminui. A estabilidade global de um composto iônico é então um balanço entre essas duas contribuições, e a estrutura final formada pelo sistema é um compromisso entre a máxima atração e a mínima repulsão possíveis. O problema da inclusão da correção do modelo pela introdução das repulsões de curta distância não é conceitualmente difícil, mas está também fora das possibilidades de tem- po do nosso curso. Aos interessados recomenda-se consultar o caderno temático 4 da Revista Química Nova na Escola. Para testar nosso modelo de cálculo de energias reticulares por expressões do tipo que foram aqui discutidos, precisamos comparar os valores calculados com os obtidos em ciclos de Born- -Haber para a formação de NaCl. O valor obtido para a energia reticular através da equação teórica, sem a correção pelo termo de repulsão e com essa correção, são iguais a -863 e -755 kJ mol-1, respectivamente. O valor obtido pelo ciclo de Born-Haber correspondente, Uexperimental= -787 kJ mol-1. Isto dá um desvio de +10% para o valor calculado sem correção pela repulsão, e de -4% para o valor calculado com a referida correção. A concordância entre os dados calcula- dos e os “experimentais”, pode se considerado excelente! Para possibilitar uma visão mais ampla dos resultados calculados e experimentais obtidos para um número maior de exemplos, são fornecidos os dados da tabela que se segue. http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/04/ 12 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Ligação intermolecular: descrição de alguns tipos (dispersão de London e ligação hidrogênio) e energética de algumas delas. Dentre as interações que existem entre espécies químicas, as mais fracas são as interações atrativas que ocorrem entre átomos de gases nobres e entre moléculas de camada fechada. Este tipo de interação, designadas genericamente como forças de van der Waals, são as mais fra- cas dentre as responsáveis pela formação de um sólido, aparecendo nos gases nobres, no iodo sólido, nas parafinas, e em substância polares, como a água e o clorofórmio. O nome dessas interações foi dado em homenagem ao cientista holandês que as estudou, Johannes Diderik van der Waals (1837 – 1923) Johannes Diderik van der Waals (1837 – 1923) http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Johannes_Diderik_van_der_Waals.jpg http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Johannes_Diderik_van_der_Waals.jpg 13 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Até recentemente essas interações fracas não eram consideradas junto com as outras inte- rações químicas mais intensas (essas últimas sendo consideradas como representando as “ver- dadeiras ligações químicas”), sendo tratadas separadamente, sob a denominação interações, ou forças, intermoleculares. Atualmente, pela definição adotada pela IUPAC, sempre que haja qualquer interação entre átomos ou grupo de átomos que leve à formação de uma entidade molecular independente, considera-se que existe uma ligação química entre esses átomos ou grupos. Foi com base nesta definição de ligação química que se elaborou o presente material. As interações de van der Waals, um termo genérico, costumam ser definidas como englo- bando os seguintes tipos de interações: • Dipolo instantâneo-dipolo induzido , também conhecidas como forças de dispersão de London) • Interações dipolo permanente –dipolo permanente • Interação íon-dipolo permanente • Interação de dipolo induzido com um íon, ou uma molécula polar • Ligações Hidrogênio. Para saber o que são, e como são formadas as ligações intermoleculares, é mais fácil utilizar exemplos do que fornecer definições. Vamos começar com as forças de dispersão de London, que são responsáveis pela formação de sólidos ou líquidos de gases nobres. Tomemos como exemplo o caso do neônio, cujo ponto de fusão é igual à aproximadamente -248ºC. Qual é a origem da pequena interação entre os átomos de neônio, que é capaz de estabilizar um sólido por formação de um retículo ordenado, mesmo que numa temperatura extremamente baixa? A razão da pergunta se torna clara quando consideramos as particularidades dos átomos de gases nobres, e do neônio em particular. Esses átomos têm camadas eletrônicas fechadas e nuvens de densidade eletrônica com simetria esférica ao redor do núcleo. Normalmente um átomo deste tipo se apresenta como entidade isolada, com nenhuma, ou com baixíssima tendência a inte- ragir com um átomo vizinho, nas condições de temperatura e pressão ambientes. Como um átomo deste tipo pode interagir com outro, se eles são neutros, e têm distribuição homogênea de suas cargas elétricas, de modo que, na média, os centros de cargas positivas e negativas estão localizados sobre o núcleo do átomo? 14 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha A resposta para as questões está relacionada com a natureza probabilística associada à des- crição da nuvem eletrônica dos átomos. Na média a probabilidademáxima de encontrar o centro da densidade eletrônica está localizada sobre o núcleo do átomo, coincidindo com o seu centro de carga positiva. No entanto, a natureza probabilística associada à densidade ele- trônica possibilita que uma deformação instantânea da nuvem eletrônica resulte, num dado instante, no deslocamento dos centros de cargas, de modo a não mais coincidirem sobre o núcleo; isto faz com que o átomo forme um dipolo instantâneo. Esse dipolo pode provocar um deslocamento dos centros de cargas de um átomo vizinho, gerando um dipolo induzido sobre o átomo vizinho. Ocorre então uma interação fraca entre os dois átomos, do tipo dipo- lo instantâneo – dipolo induzido. Se os átomos estiverem em temperatura suficientemente baixa, de modo que a energia térmica dos átomos seja pequena, e em pressão suficientemente alta para que haja um número elevado de átomos na unidade de volume, as interações dipolo instantâneo-dipolo induzido podem se tornar suficientemente fortes para dar origem ao re- tículo de neônio sólido. Isto só ocorre para o neônio quando sua temperatura é de -248ºC, o que dá uma idéia de como interações desse tipo são fracas! Como os átomos de neônio têm simetria esférica, as estruturas de seus sólidos seguem uma das estruturas de empacotamento de esferas idênticas, geralmente a cúbica de face centrada. O esquema do que ocorre em nível submicroscópico na formação deste tipo de interação é representado a seguir, dividido em duas partes. Nas duas partes representou-se a forma es- férica da simetria esférica da camada fechada do gás nobre como a esfera de raio maior. No interior da esfera representou-se como um anel azul a densidade eletrônica média do átomo, inicialmente centrada no núcleo. O sinal de + em vermelho representa a localização do centro das cargas positivas do átomo. A primeira parte do processo, apresentada a seguir, representa inicialmente a posição coincidente dos centros de carga positivo e negativo, seguido do deslo- camento do centro de carga negativa em relação ao centro positivo, pela flutuação instantânea da densidade eletrônica do átomo, formando um dipolo instantâneo. 15 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha + + Átomo com os centros de cargas negativas e positivas coincidentes Formação de dipolo instantâneo devido à flutuação da densidade eletrônica Na segunda etapa da representação do processo idealizado, o dipolo instantâneo formado se aproxima de um átomo vizinho inicialmente com seus centros de cargas coincidentes no nú- cleo, que devido à presença do dipolo instantâneo forma um dipolo induzido, ocorrendo des- locamento dos seus centros de carga em direção oposta ao do dipolo instantâneo. A seguir os dois dipolos interagem através de uma interação do tipo dipolo instantâneo – dipolo induzido. + + Dipolo instantâneo Dipolo induzido Na tabela que se segue são apresentados os pontos de fusão e ebulição dos gases nobres. 16 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha ELEMENTO PONTO DE FUSÃO (ºC) PONTO DE EBULIÇÃO (ºC) He - 272 -269 Ne -248 - 246 Ar -189 -186 Kr -157 - 151 Xe - 111 -107 Ra -71 -62 Uma inspeção rápida das baixas temperaturas em que eles se apresentam no estado sólido, e as estreitas faixas compreendidas entre suas fusões e ebulições, dá uma boa idéia das baixas intensidades das interações que estabilizam esses sólidos e líquidos! Sabe-se que a estabiliza- ção advindas das forças de dispersão para esses casos são menores que 1 kJ mol-1, inteiramente coerente com as interações dipolo instantâneo-dipolo induzido envolvidas nesses processos. Nota-se também que os pontos de fusão e ebulição dos gases nobres aumentam à medida que se desce no grupo. Por exemplo, os pontos de fusão variam continuamente de -272 para He até -71ºC para Ra. Esse aumento também está coerente com o modelo proposto para essas interações. À medida que se desce dentro do grupo o raio médio dos átomos aumenta, e torna-se mais fácil deformar as nuvens eletrônicas do átomo devidos às flutuações instantânea das densidades de suas nuvens eletrônicas. Com isto os centros de carga são mais facilmente afastados, as intensidades dos dipolos instantâneos e dos dipolos induzidos aumentam, e as interação dipolo instantâneo-dipolo induzido também se tornam mais intensas, resultando num aumento das temperaturas de fusão e ebulição com o aumento do tamanho do átomo. As interações responsáveis pelas interações entre moléculas de camada fechada em seus es- tados sólidos , como por exemplo, as moléculas diatômicas F2, Cl2, Br2 e I2, são também intera- ções do tipo van der Waals. Os pontos de fusão e ebulição das moléculas diatômicas formadas pelos halogênios estão listados na tabela que se segue. 17 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha MOLÉCULA PONTO DE FUSÃO (º C) PONTO DE EBULIÇÃO (ºC) F2 - 219 - 188 Cl2 - 101 - 34 Br2 - 7 59 I2 114 184 Uma comparação das faixas de temperaturas observadas para o processo de fusão e ebulição dessas moléculas com as dos gases nobres mostra que as moléculas apresentam temperaturas bem mais elevadas. No caso das moléculas os dipolos instantâneos e dipolos induzidos se originam da deformação de nuvens eletrônicas moleculares, muito maiores e mais facilmen- te deformáveis que as de um átomo pequeno e isolado de gás nobre. Espera-se então que as interações resultantes entre moléculas vizinhas sejam muito mais intensas que as que atuam entre átomos de gás nobre. Com isto, as interações molécula-molécula são mais difíceis de ser rompidas, o que resulta em pontos de fusão e ebulição maiores que os dos gases nobres. Ligação Hidrogênio Devido à importância que tem, principalmente por seu envolvimento nas propriedades da água e de substâncias de grande importância biológica, a seguir daremos atenção especial às ligações hidrogênio. Os outros tipos de interação serão apenas listados numa tabela final ge- ral, onde são comparadas as energias e entidades formadoras dos diferentes tipos de interações químicas. A rigor, a ligação hidrogênio é simplesmente um tipo de interação dipolo permanente- -dipolo permanente, só que mais intensa que o usual. Uma ligação hidrogênio é definida como sendo a ligação que existe quando um átomo de hidrogênio está ligado a dois ou mais átomos. Como um átomo de hidrogênio só tem um orbital 1s de baixa energia para interagir via ligação covalente, a ligação hidrogênio não pode ser associada com uma ligação covalente comum! A rigor, a descrição da formação da ligação hidrogênio só pode ser feita pela aplicação dos princípios da TOM ao sistema. 18 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha O efeito da existência de ligações hidrogênio pode ser visualizado macroscopicamente, através da variação dos pontos de fusão e de ebulição ao longo das séries de hidretos formados pelos elementos dos grupos do carbono, do nitrogênio, do oxigênio e do flúor, cujos primeiros membros são CH4, NH3, H2O e HF, respectivamente. Os dados referentes aos pontos de ebu- lição dessas moléculas são apresentados no gráfico que se segue. 2 3 4 5 -150 -100 -50 0 50 100 SnH4 GeH4 SiH4 CH4 SbH3 AsH3 PH3 NH3 HI HBrHCl HF H2Te H2Se H2S H2O PO NT O DE E BU LI ÇÃ O (O C ) PERÍODO Para as séries que se iniciam com NH3, HF e H2O, ao se ir do primeiro para o segundo membro de cada série, observa-se uma quebra nos gráficos resultantes, devido aos primeiros membros de cada série apresentarem pontos de ebulição acentuadamente maiores que os dos membros subsequentes. A partir daí, em todos os casos, os pontos de ebulição dos hidretos subsequentes aumentam sistematicamente, de uma maneira praticamente linear! O que diferencia o comportamento dos primeiros hidretos de cada grupo, H2O, HF e NH3, do comportamento dos seus membros subsequentes, no tocante aos seus pontosde ebulição? Os pontos de ebulição mais elevados observados para o primeiro hidreto de cada tipo signifi- cam que, para eles, as interações molécula-molécula são mais intensas que nos subseqüentes. Esse comportamento é atribuído à formação de ligações hidrogênio entre as moléculas! Por que isto ocorre, e por que as interações via ligações hidrogênio só são significativas para o pri- meiro hidreto da cada tipo? 19 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Vamos iniciar considerando a geometria dos hidretos H2O, HF e NH3. Aplicando nossos conhecimentos anteriores da TRPECV, pode-se determinar facilmente suas formas geomé- tricas, fornecidas a seguir. N HHH O HH H F Uma característica comum a esses três hidretos são as grandes diferenças existentes entre as eletronegatividades do átomo de H e o átomo central de cada hidreto (eletronegatividades iguais a 3,98; 3,44 e 3,04, para F, O e N, respectivamente, na escala de Pauling). Devido às diferenças de eletronegatividades existentes entre os átomos centrais do hidretos e o átomo de H, cada uma das suas ligações é bastante polar. A polaridade de cada ligação, aliada às geome- trias moleculares, faz com que todas as moléculas desses hidretos sejam polares. Tomemos como exemplo a molécula H2O. Como o átomo central de O é mais eletrone- gativo que o de H, a densidade eletrônica da ligação O-H estará mais deslocada para o lado do átomo de O, gerando uma carga parcial negativa sobre ele. A densidade de carga negativa parcial sobre o átomo de O é representadas por d- na estrutura; a carga parcial positiva sobre o átomo de H é representada por d+. A situação é mostrada no esquema que se segue. O HH Uma vez que cada molécula tem cargas opostas, elas se orientaram no espaço, formando ligações hidrogênio, segundo arranjos tridimensionais ordenados. A situação para a água no estado líquido é esquematizada a seguir. 20 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha O HH O HH O H H Ligação covalente normal Ligação hidrogênio As ligações hidrogênio, embora mais longas e menos intensas que as ligações covalentes normais, representam uma estabilização adicional de 25 kJ mol-1 para a estabilização total da substância água. Esta energia extra de estabilização altera profundamente as propriedades físicas da água! Fenômenos semelhantes ocorrem para os outros hidretos abordados anteriormente, NH3 e HF. Esses dois hidretos são polares, e também são estabilizados por ligações hidrogênio, for- mando interações tridimensionais semelhantes às formadas na água. O caso do HF é único, pois a ligação hidrogênio é tão intensa, que ela apresenta uma ental- pia próxima à de uma ligação covalente normal. Praticamente ocorre a formação de uma nova espécie, FHF-, como representada pela equação F- (aq) + HF (aq) → FHF- (aq) ∆H=-155 Kj mol-1 Por que, em cada uma das séries de hidretos, os hidretos subsequentes não são tão estabili- zados por ligações hidrogênio como os primeiros membros de cada série? A resposta está nas diferenças entre os valores das eletronegatividades dos elementos centrais de cada hidreto e os átomos de H periféricos, que são máximas para os primeiros elementos das séries, e depois di- minui para os elementos subsequentes. Com isto, as maiores polaridades das ligações ocorrem 21 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha para os primeiros membros das séries, HF, H2O e NH3. Podemos exemplificar com os casos de H2O e H2S, onde as eletronegatividades de O e S são iguais a 3,44 e 2,58, respectivamente, na escala de Pauling. Em consequência da diminuição da eletronegatividade do elemento central, no caso do H2S os dipolos formados não são tão intensos quanto em H2O, e as interações en- tre as moléculas de H2S passam a ser dominadas pelas interações de van der Waals, muito mais fracas. Como conseqüência, o ponto de ebulição da substância H2S é muito mais baixo que o de H2O. Para o H2S e membros seguintes da série, as interações aumentam com a facilidade de deformação das nuvens eletrônicas das moléculas, o que aumenta com o crescimento do raio do átomo central. Isto explica o crescimento praticamente linear dos pontos de ebulição observado a partir do segundo membro de cada série de hidretos consideradas! Analisando o gráfico de pontos de ebulição para a série que se inicia com CH4, pode-se notar que na série CH4, SiH4, GeH4, SnH4, os pontos de ebulição aumentam de maneira apro- ximadamente linear ao se ir de CH4 para SnH4. A quebra da seqüência dos pontos de ebulição ao se ir do primeiro para o segundo membro de cada uma das séries já descritas não é observa- da para o presente caso! A explicação deste comportamento envolve dois aspectos. O primeiro é que todos os elementos centrais dos compostos dessa série têm eletronegatividades baixas, ao redor de 2 na escala de Pauling, o que resulta em baixa polaridade da ligação do átomo central com cada átomo de H periférico. O segundo aspecto é que, embora cada ligação isolada dos hidretos possa até apresentar caráter fracamente polar, a geometria tetraédrica apresentada por todos os hidretos faz com que a polaridade global se anule, e a molécula como um todo seja apolar. Estes dois fatores juntos faz com que não haja possibilidade de formação de ligação hidrogênio entre suas moléculas! As interações entre as moléculas dos hidretos dessa série ocorrem através de interações fracas de van der Waals, resultando em temperaturas de ebulição baixas. Com o aumento da massa e do tamanho dos hidretos, torna-se mais fácil deformar as nuvens eletrônicas das moléculas. Isto faz com que se observe o aumento praticamente linear do pontos de ebulição com o aumento do tamanho e massa molar desses hidretos. A importância da ligação hidrogênio em água As ligações hidrogênio exercem enorme influência na determinação das propriedades da substância água, influindo em seus pontos de fusão e ebulição e fazendo com que o gelo apre- sente densidade menor do que a água líquida em temperaturas ao redor do seu ponto de fusão. A água líquida tem sua densidade máxima a 4ºC, sendo que ao congelar o gelo tem densidade 22 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha igual a 0,916 g cm-3 a 0ºC, enquanto que a água nessa mesma temperatura apresenta densida- de igual a 0,998 g cm-3. Com isso o gelo flutua sobre a água líquida! O fato de o gelo ter menor densidade que a água líquida, faz com que ele flutue sobre a água. Esse fenômeno é de fundamental importância para a preservação da vida em países frios durante o inverno. Se o gelo tivesse o comportamento normalmente observado para a maioria das substâncias, para os quais os sólidos têm densidades maiores do que as dos seus respectivos líquidos, ao ocorrer o congelamento da água de rios, lagos e mares no inverno, o congelamen- to ocorreria desde a superfície até o fundo da massa de água. Caso isso ocorresse, toda a vida presente na água seria destruída! Ao contrário, as propriedades únicas da água fazem com que o gelo flutue sobre a água líquida, e forme uma camada protetora de gelo sobre sua superfície. A camada superficial de gelo evita também a perda de calor pela água líquida abaixo de sua superfície para o ambiente, mantendo a temperatura da água dentre de limites adequados para a manutenção da vida! Além disto, como a água compõe praticamente 70% da massa dos organismos dos animais e seres humanos, ela é essencial para a manutenção da vida como a conhecemos. Como os processos metabólicos vitais ocorrem praticamente numa solução aquosa no interior do orga- nismo, suas propriedades influíram até na adaptação dos seres vivos durante a evolução, que ao longo da evolução desenvolveram estruturas celulares capazes de garantir a coexistência de moléculas orgânicas apolares, ou pouco polares - como, por exemplo, lipídios, proteínas, ácidos nucléicos -, com o meio essencialmenteaquoso e polar! Vamos começar analisando o que ocorre na estrutura submicroscópica da água quando ela passa para o estado sólido, que faz com que o volume de uma massa de água aumente em rela- ção ao líquido, diminuindo sua densidade. Já vimos que uma molécula polar de água no estado líquido forma ligação hidrogênio com suas vizinhas, de uma maneira mais ou menos ordenada no líquido. Quando se começa a formar os cristais de gelo, a estrutura das ligações hidrogênio se torna bastante ordenada, ocorrendo a formação de um tetraedro dessas ligações ao redor de cada átomo de O. Como conseqüência da formação desse arranjo ordenado, ocorre a formação de uma estrutura menos compacta no sólido, fazendo o volume da massa de gelo aumentar em relação ao da água. Com isto, a densidade do gelo diminui! Figuras representando o arranjo das moléculas de água formando o tetraedro de ligações e a estrutura do gelo são apresentados a seguir. 23 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f9/3D_model_hydrogen_bonds_in_water.jpg http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hex_ice.GIF http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f9/3D_model_hydrogen_bonds_in_water.jpg http://en.wikipedia.org/wiki/File:Hex_ice.GIF 24 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Além de a ligação hidrogênio atuar sobre os organismos vivos em decorrência da influência que ela exerce sobre as propriedades da água, ela também está envolvida diretamente na pró- pria estabilização de moléculas biológicas essenciais para a vida. Como exemplos, podem ser citados a estabilização de estruturas de proteínas e do DNA, esta última envolvida na trans- missão dos caracteres hereditários das espécies. Vamos analisar o papel da ligação hidrogênio no caso da molécula do DNA (ácido desoxir- ribonucléico). Um pedaço da estrutura de dupla hélice do DNA, destacando as ligações hidro- gênio entre as bases complementares adenina-timina e citosina-guanina é mostrado a seguir. http://en.wikipedia.org/wiki/File:DNA_chemical_structure.svg http://en.wikipedia.org/wiki/File:DNA_chemical_structure.svg 25 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha A molécula do DNA humano, por exemplo, contém cerca de 3 bilhões de pares de ba- ses nucléicas! A estrutura e estabilidade desta molécula gigante estão diretamente ligadas ao enorme número de ligações hidrogênio que ocorrem nessa estrutura. Apesar das ligações hi- drogênio terem intensidades que variam entre fraca a média quando existentes em pequena extensão, quando estão presentes em estruturas moleculares enormes como DNA, proteínas, etc, assumem um papel de fundamental importância para a estabilização dessas moléculas, tanto estruturalmente como energeticamente! Tipo de Interação Energia de Interação (kJ/mol) Unidade Estrutural/Tipo de estrutura Exemplos dipolo instantâneo- dipolo induzido ~ 0,1- 5 Moléculas/Molecular H2 (PE 20 K) CH4 (PE 112 K) CF4 (PE 112 K) CCl4 (PE 350 K) n-C28H58(PE 336 K) Dipolo – dipolo induzido ~0,1 – 5 Moléculas/Molecular Xe(H2O)n Íon- dipolo induzido Íon e molécula/Molecular Íons numa matriz molecular Dipolo – dipolo 5- 20 Moléculas/Molecular NF3-NF3(PE 144K) BrF-BrF ( PE 293 K) Íon – Dipolo 67 Íon e molécula/Molecular K(H2O)6+ Ligação Hidrogênio 4-50 ( em moléculas neutras) Moléculas/Molecular (H2O)x, (HF)x, álcoois, aminas Ligação iônica 400-500 (para íons de carga +1 e –1) Cátions e ânions/Retículo infinito NaCl, Na2O Ligação covalente isolada Variável, na faixa 102-103 Átomos/ Molécula isolada H2 ( Energia de Ligação =432 kJ/mol) F2 (Energia de Ligação = 156 kJ/mol) Li2 (Energia de Ligação = 100 kJ/mol) Ligação covalente estendida Variável, a faixa de 102 a 103 Átomos/ Molécula gigante Diamante Silício Ligação Metálica Variável, na faixa de 102 Átomos metálicos/ Retículo infinito Entalpia de sublimação Ti(473 kJ/mol), Li(161 kJ/mol) 26 U nesp/R edefor • M ódulo III • D isciplina 06 • Tem a 5 sumário tema ficha Referências • ATKINS, P ; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001. • KOTZ, J.C; TREACHEl, P.M ; WEAVER, G.C. Química Geral e Reações Quími- cas. Vol. 1; São Paulo: Editora Cengage Learning, tradução da 6ª. Edição americana, 2010. • LIDE, D.R. (Ed.) Handbook of chemistry and physics. 89th Ed. Boca Raton: CRC Press, 2009. • LOPES, Alice Ribeiro Casimiro; MORTIMER, Eduardo Fleury; ROCHA-FILHO, Romeu C. (Ed.). Cadernos temáticos de química nova na escola. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química, 2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/04/>. Acesso em: 18 abr. 2011 • PERUZZO, T.M.; CANTO, E. Química na Abordagem do Cotidiano. Vol. 1; São Paulo: Editora Moderna, 4ª Ed., 2006. • MORTIMER, E.F. ; Horta MACHADO, A.H. QUÍMICA PARA O ENSINO MÉ- DIO, Vol. Único, 1ª Ed.; São Paulo: Scipione, 2008. • TOMA, Henrique E. Ligação química: abordagem clássica ou quântica. Química nova na escola, São Paulo, n. 6, p. 8-12, nov. 1997. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/ qnesc06/conceito.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2011. http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/04/ http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc06/conceito.pdf http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc06/conceito.pdf 27 sumário tema ficha Luiz Antonio Andrade de Oliveira Camila Silveira da Silva Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira Ficha da Disciplina: Os tipos de ligações químicas do ponto de vista energético e estrutural http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4783116D2 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4736047U6 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4788359T8 28 sumário tema ficha Estrutura da Disciplina Semana Temas Nº da Atividade - Postagem Tipo - Data 1 9/mai a 15/mai Introdução - Box 1 1 - Diário - indiv. - 9/mai a 15/mai 2 - autocorrigível - indiv. - 9/mai a 15/mai 3 - autocorrigível - indiv. - 9/mai a 15/mai 2 16/mai a 22/mai 1. A Descrição da Ligação Covalente pela Teoria da Ligação de Valência 4 - portfólio - indiv. - 16/jun a 22/jun 5 - autocorrigível - indiv. - 16/jun a 22/jun 3 23/mai a 29/mai 2. A Descrição da Ligação Covalente em Molécula Isolada através da Teoria do Orbital Molecular (TOM). 6 - portfólio - indiv. - 23/mai a 29/mai 7 - formação dos grupos 8 - fórum - grupo - 23/mai a 29/mai 9 - portfólio - grupo - 23/mai a 12/jun 4 30/mai a 5/jun 3. Ligação Metálica - Aspectos Estruturais e Energéticos 10 - portfólio - indiv. - 30/jun a 5/jun 11 - autocorrigível - indiv. - 30/jun a 5/jun 5 6/jun a 12/jun 4. Ligação Iônica 12 - autocorrigível - indiv. - 6/jun a 12/jun 13 - fórum - indiv. - 6/jun a 12/jun 14 - diário - indiv. - 6/jun a 12/jun Pró-Reitora de Pós-graduação Marilza Vieira Cunha Rudge Equipe Coordenadora Ana Maria Martins da Costa Santos Coordenadora Pedagógica Cláudio José de França e Silva Rogério Luiz Buccelli Coordenadores dos Cursos Arte: Rejane Galvão Coutinho (IA/Unesp) Filosofia: Lúcio Lourenço Prado (FFC/Marília) Geografia: Raul Borges Guimarães (FCT/Presidente Prudente) Antônio Cezar Leal (FCT/Presidente Prudente) - sub-coordenador Inglês: Mariangela Braga Norte (FFC/Marília) Química: Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara) Equipe Técnica - Sistema de Controle Acadêmico Ari Araldo Xavier de Camargo Valentim Aparecido Paris Rosemar Rosa de Carvalho Brena Secretaria/Administração Márcio Antônio Teixeira de Carvalho NEaD – Núcleo de Educação a Distância (equipe Redefor) Klaus Schlünzen Junior Coordenador Geral Tecnologia e Infraestrutura Pierre Archag Iskenderian Coordenador de Grupo André Luís Rodrigues Ferreira Guilherme de Andrade Lemeszenski Marcos Roberto Greiner Pedro Cássio Bissetti Rodolfo Mac Kay Martinez Parente Produção,veiculação e Gestão de material Elisandra André Maranhe João Castro Barbosa de Souza Lia Tiemi Hiratomi Liliam Lungarezi de Oliveira Marcos Leonel de Souza Pamela Gouveia Rafael Canoletti Valter Rodrigues da Silva Marcador 1 Vídeo da Semana Ligação iônica As estruturas de retículos iônicos como resultante de empacotamentos de esferas de cargas e raios diferentes A energética da ligação iônica – Cálculo teórico da energia reticular. Comparação entre dados calculados e medidos num ciclo de Born-Haber Ligação intermolecular: descrição de alguns tipos (dispersão de london e ligação hidrogênio) e energética de algumas delas. Ligação Hidrogênio A importância da ligação hidrogênio em água Referências Botão 2: Botão 3: Botão 6: Botão 7: Botão 38: Página 3: Off Botão 39: Página 3: Off Botão 40: Página 4: Off Página 5: Página 6: Página 7: Página 8: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 13: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Página 22: Página 23: Página 24: Página 25: Página 26: Página 27: Página 28: Botão 41: Página 4: Off Página 5: Página 6: Página 7: Página 8: Página 9: Página 10: Página 11: Página 12: Página 13: Página 14: Página 15: Página 16: Página 17: Página 18: Página 19: Página 20: Página 21: Página 22: Página 23: Página 24: Página 25: Página 26: Página 27: Página 28: Botão 65: Página 29: Off Página 30: Botão 66: Página 29: Off Página 30: Botão 4:
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