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METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO Autoria: Elys Regina Zils Jairo Martins Indaial - 2022 UNIASSELVI-PÓS 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Z69m Zils, Elys Regina Metodologia do trabalho científico. / Elys Regina Zils; Jairo Martins. – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 140 p.; il. ISBN Digital 978-65-5646-549-4 1. Procedimentos metodológicos. – Brasil I. Martins, Jairo. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Ciência e a Produção do Conhecimento ..................................... 7 CAPÍTULO 2 Procedimentos Metodológicos ................................................ 53 CAPÍTULO 3 Apresentação, Organização e Formatação do Trabalho ...... 95 APRESENTAÇÃO Caro acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Metodologia do Tra- balho Científico. Nesta disciplina, queremos convidá-lo a adentrar no mundo da metodologia científica. Afinal, a pesquisa científica é extremamente importante nos estudos acadêmicos e é um dos conhecimentos base da nossa sociedade. Porém, sabemos que inicialmente esse universo pode parecer difícil, com todas suas exigências, métodos e estratégias. Por isso, desenvolvemos esse material para você. No Capítulo 1 deste livro iremos refletir justamente sobre a metodologia cien- tífica. Nossa conversa terá como ponto de partida o que é ciência e o processo de construção do conhecimento científico para elucidar a importância do método científico. Assim, veremos os diferentes tipos de conhecimentos, destacando o conhecimento científico, foco da nossa disciplina. Trataremos também da redação científica, na qual abordaremos vários pontos que ajudarão você a escrever o seu trabalho acadêmico. No Capítulo 2 iremos nos aprofundar nas diferentes questões que permeiam os procedimentos metodológicos. Conheceremos os diferentes tipos de pesqui- sas e as etapas envolvidas. Nesse capítulo, você terá a base para a elaboração da sua pesquisa científica, tal como a escolha do tema de pesquisa, problema, objetivos, levantamento de dados e a respectiva análise. No Capítulo 3 conversaremos sobre a apresentação, organização e formata- ção do trabalho cientifico. Afinal, para o seu trabalho acadêmico será necessário desenvolvê-lo de acordo com as normas de organização e formatação, seguindo as orientações da ABNT. Ao longo dessa caminhada, você perceberá o valor da Metodologia Cientí- fica. Esperamos contribuir para ampliar seu horizonte de conhecimento e conse- quentemente melhorar sua prática profissional. Aproveite esta oportunidade para aperfeiçoar o seu conhecimento ainda mais! Bons estudos! Os autores CAPÍTULO 1 Ciência e a Produção do Conhecimento A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � Perceber a importância do conhecimento científico. � Entender o que é ciência e os critérios de cientificidade. � Diferenciar os diferentes tipos de trabalhos acadêmicos. � Caracterizar e diferenciar os tipos de conhecimento. � Empregar a linguagem técnico-científica na elaboração do artigo científico. 8 Metodologia do Trabalho Científico 9 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) ao primeiro capítulo do livro da dis- ciplina de Metodologia do Trabalho científico. Para chegar até aqui, ao longo da sua vida acadêmica você já deve ter feito e se deparado com vários trabalhos de cunho acadêmico. Dessa forma, provavelmente tem certo conhecimento sobre esse tipo de tra- balho e suas normas metodológicas. Mas na hora de elaborar o seu trabalho, a pesquisa científica ainda poderá parecer assustadora. Não se preocupe, o papel principal desse tipo de pesquisa é sanar dúvidas, propor novos estudos e desco- bertas. Assim, se você já tem a curiosidade – a vontade de aprender, descobrir as coisas e senso crítico, falta apenas conhecer melhor os procedimentos metodoló- gicos que iremos discutir ao longo desse livro. Você verá que a ciência é um exer- cício lógico e, para saber isso, fazemos aquilo, mas se fosse assim... o resultado seria diferente? Como iremos ver, o ato de pesquisar apresenta algumas características es- pecíficas que, no universo científico, seguirá uma metodologia, estrutura e lin- guagem própria que o diferenciará do seu uso no senso comum. Nesse sentido, vamos começar refletindo sobre a metodologia científica partindo do que entende- mos por ciência e conhecimento? Vamos lá! 2 METODOLOGIA CIENTÍFICA Desde a Antiguidade, os primeiros hominídeos parecem já buscar respostas para suas indagações sobre o mundo que os rodeava. Assim, o desejo de co- nhecer e produzir conhecimento se torna inerente ao homem. Inclusive, a evolu- ção humana se distingue pela evolução da inteligência da espécie. Num primeiro momento, quando não entendiam os fenômenos naturais e tinham medo, como com as tempestades e raios. Em um segundo momento, a partir de pensamentos abstratos e associativos, o homem passa a buscar explicações no misticismo. As tempestades poderiam ser fruto da ira divina. Tais associações simbólicas de situações representam uma evolução na tra- jetória da inteligência humana, pois nasce aí o pensamento especulativo. Se nos primórdios, esse processo era desregrado, ao longo dos anos, esse conhecimen- to foi sistematizado e repassado de um para outro, de grupo para grupo, de ge- ração para geração. Aos poucos, o homem sistematiza suas ações e conforme suas técnicas vão ganhando rigor, desenvolvendo-se o método científico (SILVA; PORTO, 2016). 10 Metodologia do Trabalho Científico Dito isso, podemos pensar o que é ciência. Arriscaria um palpite? Ciência “etimologicamente, [...] provém do verbo em latim Scire, que significa aprender, conhecer” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 14). Porém, isso é muito pouco para entendermos o que é ciência. Acrescentamos que é “uma sistematização de co- nhecimentos”, e mais, pode ser considerada “um conjunto de proposições logi- camente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar” (LAKATOS; MARCONI, 2007, p. 80). Entre as diversas discussões sobre o conceito de ciência, Lakatos e Marconi (1985 apud SILVA, 2015, p. 13) apresentam um apanhado geral. Vejamos: • Acumulação de conhecimentos sistemáticos. • Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas. • Conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, por conseguin- te, falível. • Conhecimento certo do real pelas suas causas. • Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem, obtido por meio da investigação, do raciocínio e da experimenta- ção intensiva. • Conjunto de enunciados lógicos e dedutivamente justificados por outros enunciados. • Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente de- monstradas e relacionadas com o objeto determinado. • Corpo de conhecimentos, consistindo-se em percepções, experiências, fatos certos e seguros. • Estudo de problemas solúveis, mediante método científico. • Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo. Podemos perceber assim que o conceito vai muito alémda sua origem etimo- lógica. Ciência pode ser vista como uma forma particular de conhecer o mundo: [...] o saber produzido através do raciocínio lógico associado à experimentação prática. Caracteriza-se por um conjunto de modelos de observação, identificação, descrição, investigação experimental e explanação teórica de fenômenos. O método científico envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas. Regras fixas para a formação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e para a validação de hipóteses explicativas. O objetivo básico da ci- ência não é o de descobrir verdades ou de se constituir como uma compreensão plena da realidade. Deseja fornecer um conhecimento provisório, que facilite a interação com o mun- do, possibilitando previsões confiáveis sobre acontecimentos futuros e indicar mecanismos de controle que possibilitem uma intervenção sobre eles (FONSECA, 2002, p. 11-12). 11 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 Destaca-se, assim, a ciência como forma privilegiada de conhecimento, atra- vés do método científico. Contudo, como veremos adiante, não é a única forma de conhecimento. Mas ela pode contribuir muito com nossas vidas. Nesse sentido, podemos dizer que atualmente a ciência tem várias tarefas a cumprir, como: [...] aumento e melhoria do conhecimento; descoberta de novos fatos ou fenômenos; aproveitamento espiritual do conhecimen- to na supressão de falsos milagres, mistérios e superstições; aproveitamento material do conhecimento visando à melhoria da condição de vida humana; estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza (TRUJILLO FERRARI, 1974 apud PRODANIV; FREITAS, 2013, p. 15). Então acho que estamos prontos para conversar sobre o que é Metodologia! Metodologia “[...] é uma preocupação instrumental. Trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos” (DEMO, 2003, p. 19). A atividade principal da metodologia é a pesquisa (GERHARDT; SILVEIRA, 2009) e para isso não existe um único método, mas uma multiplicidade de méto- dos para cada demanda. Caso queira se aprofundar mais no estudo do método científico, sugerimos a leitura do livro Discurso do Método (1637) de René Descartes (1596-1650), considerado como o “pai da filosofia moder- na”. Nesta obra estão as bases do pensamento científico e filosófico relevantes ainda hoje em dia. O filme “O Nome da Rosa” é baseado no livro, de mesmo nome, de Umberto Eco. A história se passa no ano de 1327 e retrata a in- vestigação de um monge franciscano baseada em evidências e na lógica bem ao modo do método científico. Por esse caminho, podemos entender a metodologia científica como método e ciência. Para Tartuce (2006 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 11): “Método (do grego methodos; met’hodos significa, literalmente, “caminho para chegar a um fim”) é, portanto, o caminho em direção a um objetivo; metodologia é o estudo do 12 Metodologia do Trabalho Científico método, ou seja, é o corpo de regras e procedimentos estabelecidos para realizar uma pesquisa”. Destarte, metodologia científica é o estudo do método para se buscar deter- minado conhecimento. Um estudo “sistemático e lógico dos métodos empregados nas ciências, seus fundamentos, sua validade e sua relação com as teorias cientí- ficas” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Para Aragão e Mendes Neta (2017), são alguns objetivos da Metodologia Científica: • distinguir a Ciência e as demais formas de obtenção do conhecimento. • desenvolver no pesquisador uma atitude investigativa. • estabelecer relações entre o conhecimento estudado atualmente com os existentes. • promover possibilidades para leitura crítica da realidade. • sistematizar atividades de estudos. • integrar conhecimentos. • desenvolver postura holística, na superação da fragmentação dos co- nhecimentos. • orientar na elaboração de trabalhos científicos. • desenvolver o espírito crítico. Mas o que isso tem a ver com seus estudos – você não quer ser um cientis- ta, são perguntas que você pode estar se fazendo. Calma! A proposta não é que você seja um cientista, mas que consiga realizar uma pesquisa científica dentro da metodologia científica. Até o final do livro isso tudo ficará mais claro e você terá o conhecimento necessário para elaborar o seu trabalho de conclusão. Por falar em conhecimento, você conseguiria definir o que é conhecimento? 1 Agora é a sua vez! Escreva com suas próprias palavras o seu conceito de ciência. Vamos lá. Para dar continuidade a nossa jornada, e refletir o que é o conhecimento. Continue conosco! 13 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 2.1 CONHECIMENTO E SUA CONSTRUÇÃO Nesse tópico, vamos conversar sobre conhecimento. Mas o que é conheci- mento? Convidamos a refletir sobre o conceito de conhecimento a partir do pen- samento de Tartuce (2006 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 17): [...] o conhecimento pode ser definido como sendo a manifes- tação da consciência de conhecer. Ao viver, o ser humano tem experiências progressivas, da dor e do prazer, da fome e sa- ciedade, do quente e do frio, entre muitas outras. É o conheci- mento que se dá pela vivência circunstancial e estrutural das propriedades necessárias à adaptação, interpretação e assimi- lação do meio interior e exterior do ser. Dessa maneira, ocor- rem, então, as relações entre sensação, percepção e conhe- cimento, sendo que a percepção tem uma função mediadora entre o mundo caótico dos sentidos e o mundo mais ou menos organizado da atividade cognitiva. É importante frisar que o conhecimento, como também o ato de conhecer, existe como forma de solução de problemas próprios e comuns à vida. [...] O conhecimento é um processo dinâmico e inacabado, serve como referencial para a pesquisa tanto qualitativa como quan- titativa das relações sociais, como forma de busca de conheci- mentos próprios das ciências exatas e experimentais. Portan- to, o conhecimento e o saber são essenciais e existenciais no homem, ocorre entre todos os povos, independentemente de raça, crença, porquanto no homem o desejo de saber é inato. Como vimos no começo do capítulo, o homem é curioso por natureza, intera- ge com os objetos a sua volta, interpreta o universo a partir das suas referências e então elabora representações. Mesmo essas representações não constituindo o objeto real ou o homem conhecendo-o ou não. Assim, “O conhecimento huma- no é na sua essência um esforço para resolver contradições, entre as represen- tações do objeto e a realidade do mesmo” (TARTUCE, 2006 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Baseado nisso, dependendo da forma como se chega a essa representação, o conhecimento pode ser classificado de diferentes tipos. 2.2 TIPOS DE CONHECIMENTO Na antiguidade, o homem encontrou explica para a sua realidade na mito- logia e misticismo. Na Idade Média, destaca-se o conhecimento religioso a par- tir modelo teocêntrico de organização social. Depois, temos o racionalismo e na Modernidade a ênfase recai na ciência como forma de conhecimento. Ou seja, o conhecimento humano se manifesta de várias formas. (SILVA; PORTO, 2016) 14 Metodologia do Trabalho Científico FIGURA 1 – CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA IDADE MÉDIA FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/aigreja.htm>. Acesso em: 3 nov. 2021 Nesta disciplina, destacamos o conhecimento científico, pois ela integra o seu curso de formação superior. Porém, esse conhecimento não é o único e nem o melhor. Por isso, vamos abordar brevemente outras formas de conhecimento também para ilustrar. 2.2.1 Conhecimento popular ou empírico É o conhecimento que obtemos na vida cotidiana, das nossas experiências vivenciadas e transmitidas de geração em geração. Sua transmissão faz parte da cultura dos povos, integrando suas tradições (LOSE; MAGALHÃES, 2019). Tartuce (2006apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 18-19) apresenta al- guns elementos relacionados a esse tipo de conhecimento que nos ajudarão a compreendê-lo melhor: É o conhecimento obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, o conhecimento adquirido através de ações não pla- nejadas. É o conhecimento do dia a dia, que se obtém pela experiência cotidiana. É espontâneo, focalista, sendo por isso considerado incompleto, carente de objetividade. Ocorre por meio do relacionamento diário do homem com as coisas. Não há a intenção e a preocupação de atingir o que o objeto contém além das aparências. Fundamentado apenas na experiência, https://brasilescola.uol.com.br/historiag/aigreja.htm 15 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 doutrina ou atitude, que admite quanto à origem do conheci- mento de que este provenha apenas da experiência. Dentre suas características destacamos: - Conjunto de opiniões geralmente aceitas em épocas deter- minadas, e que as opiniões contrárias aparecem como aber- rações individuais. - É valorativo por excelência, pois se fundamenta numa opera- ção operada com base em estados de ânimo e emoções. - É também reflexivo. - É verificável. - É falível e inexato. O principal mérito do método empírico é o de assinalar com vigor a importância da experiência na origem dos nossos co- nhecimentos. Assim, o conhecimento empírico tende a ser mais sensitivo e subjetivo, sem a necessidade de comprovações ou sistema para tal. Porém não deixa de ser uma forma de conhecer o mundo. Pode ser chamado de senso comum. Frisamos que esse tipo de conhecimento, popular, não se diferencia do conhecimento cien- tífico pela veracidade ou pela natureza do objeto conhecido, mas sim pela forma ou método e os instrumentos do “conhecer”. (LAKATOS; MARCONI, 2007). 2.2.2 Conhecimento teológico O conhecimento teológico ou religioso é fundamentado na fé divina ou cren- ça religiosa. Assim, sua validade deriva da formação moral e espiritual de cada um, o que nos leva a destacar sua irrefutabilidade. Sua validade não pode ser confirmada ou negada (SILVA; PORTO, 2016). Segundo Gaarder (2005 apud SILVA; PORTO, 2016, p. 12): A religião sempre teve um aspecto intelectual. O crente tem ideias bem definidas sobre como a humanidade e o mundo vieram a existir, sobre a divindade e o sentido da vida. Esse é o repertório de ideias da religião, que se expressam por cerimô- nias religiosas (ritos) e pela arte, mas em primeiro lugar pela linguagem. Tais expressões linguísticas podem ser escrituras sagradas, credos, doutrinas ou mitos. Esse tipo de conhecimento sempre esteve presente na história da humani- dade. Podemos pensar em exemplos como: reencarnação, espírito, vida após a morte, curas por milagre. 16 Metodologia do Trabalho Científico 2.2.3 Conhecimento filosófico O conhecimento filosófico deriva de uma atividade da razão humana que se ocupa em conhecer e explicar a realidade, de forma profunda. Parte dessa neces- sidade de buscar conhecimento, que o filósofo Sócrates já enunciava: “Só sei que nada sei” (LOSE; MAGALHÃES, 2019). FIGURA 2 – SÓCRATES FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/biografia/socrates- biografia.htm#>. Acesso em: 3 nov. 2021. A palavra filosofia é composta, em grego, de philos, “amigo”, e sophia, “sabe- doria”. Quanto ao conceito de filosofia, Tartuce (2006 apud GERHARDT; SILVEI- RA, 2009, p. 19) afirma: A Filosofia é a fonte de todas as áreas do conhecimento hu- mano, e todas as ciências não só dependem dela, como nela se incluem. É a ciência das primeiras causas e princípios. A Filosofia é destituída de objeto particular, mas assume o papel orientador de cada ciência na solução de problemas univer- sais. Progressivamente, constata-se que cada área do conhe- cimento se desvincula da Filosofia em função da forma como trata o objeto, que é para a mesma, a matéria. Podemos classificar em dois tipos a filosofia: uma presente no dia a dia, que nos ajuda a entender as contradições da realidade; e outra formada por sistemas filosóficos, elaborada por grandes filósofos. Os dois tipos podem se complemen- tar ou não, pois uma atitude filosófica perante a sua realidade não é exclusividade https://brasilescola.uol.com.br/biografia/socrates-biografia.htm https://brasilescola.uol.com.br/biografia/socrates-biografia.htm 17 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 de quem tem formação acadêmica em filosofia. Contudo, cabe frisar que o objeto de conhecimento da filosofia pertence ao campo da abstração, fugindo da reali- dade imediata que nos chega facilmente pelos sentidos (SILVA; PORTO, 2016). Dentre suas características destacamos: - É valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação. - Não é verificável. - Tem a característica de sistemático. - É infalível e exato. Portanto, o conhecimento filosófico é ca- racterizado pelo esforço da razão para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamen- te recorrendo às luzes da própria razão humana (TARTUCE, 2006 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 20). Entre as várias contribuições que o conhecimento filosófico apresenta, des- tacamos a construção de uma consciência crítica sobre a realidade (SILVA; POR- TO, 2016). 2.2.4 Conhecimento científico Por fim, vamos conversar sobre o conhecimento científico. Mas o que é co- nhecimento científico? Para Fonseca (2002, p. 11): O conhecimento científico é produzido pela investigação cien- tífica, através de seus métodos. Resultante do aprimoramento do senso comum, o conhecimento científico tem sua origem nos seus procedimentos de verificação baseados na metodolo- gia científica. É um conhecimento objetivo, metódico, passível de demonstração e comprovação. O método científico permite a elaboração conceitual da realidade que se deseja verdadeira e impessoal, passível de ser submetida a testes de falseabili- dade. Contudo, o conhecimento científico apresenta um cará- ter provisório, uma vez que pode ser continuamente testado, enriquecido e reformulado. Para que tal possa acontecer, deve ser de domínio público. O conhecimento científico caracteriza-se pela sistematicidade, como esta- mos vendo nesta disciplina de Metodologia do trabalho científico. Podemos afir- mar que a Ciência é uma forma de conhecimento objetivo, racional, sistemático, geral, dinâmico, verificável e falível. Assim, algumas características desse conhe- cimento são (GERHARDT; SILVEIRA, 2009): - É real (factual), porque lida com ocorrências ou fatos. - Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposi- ções ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida 18 Metodologia do Trabalho Científico por intermédio da experiência e não apenas razão, como ocor- re no conhecimento filosófico. - É sistemático. - Possui características de verificabilidade. - É falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por este motivo, é aproximadamente exato (TARTUCE, 2006 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 24). Destacamos que o conhecimento científico exige demonstração, subme- tendo-se a comprovações. Ou seja, as descobertas científicas são passíveis de comprovação, sendo que cada área do conhecimento científico tenha suas parti- cularidades. Essa verificação pode ser em um laboratório, trabalho de campo ou apenas pesquisa bibliográfica. Mas o importante que tenha uma lógica argumen- tativa com coerência e validade dos resultados, de forma objetiva e sistemática (SILVA; PORTO, 2016). FIGURA 3 – CIENTISTA USANDO MICROSCÓPIO FONTE: <https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-analise- analisando-biologia-5726794/>. Acesso em: 3 nov. 2021 O método científico é infalível? Por quê? A partir disso, podemos afirmar que os gregos já no século VII a. C. a distin- guiam entre conhecimento que hoje podemos chamar de científico doconheci- 19 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 mento mítico, sem a preocupação com as comprovações dos fatos. Para elucidar ainda mais o que é conhecimento cientifico, vamos analisá-lo em comparação com o conhecimento popular: QUADRO 1 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO X CONHECIMENTO POPULAR conhecimento científico conhecimento popular Real: lida com fatos Valorativo: baseado nos valores de quem pro- move o estudo. Sistemático: forma um sistema de ideias Assistemático: não possui sistematização das ideias, é baseado na organização pessoal Verificável ou demonstrável: o que não pode ser verificado ou demonstrado não é incorporado. Verificável: verificável dentro do âmbito pessoal e cotidiano do observador. Falível e aproximadamente exato: não é defini- tivo, novas técnicas e descobertas podem refor- mular a teoria existente. Falível e inexato: se limita à aparência ou ao que foi ouvido a respeito. Não permite ir além das percepções objetivas. FONTE: Adaptado de Lakatos e Marconi (2007) Assim, para que o conhecimento seja considerado científico, ele precisa es- tar baseado em um método científico que dê veracidade aos fatos. Para concluir, frisamos as inúmeras contribuições da ciência para as nossas sociedades, proporcionando grandes avanços. Basta pensarmos nos avanços na cura de doenças, nas conquistas tecnológicas, descobertas sobre o nosso plane- ta e espaço, entre tantas outras. 2.3 O ESPÍRITO CIENTÍFICO E A NEUTRALIDADE Como estamos vendo, o método científico pode ser visto como um conjunto de procedimentos a fim de alcançar o conhecimento cientifico. Porém, realizar um trabalho científico é mais do que só aplicar o instrumental metodológico. O pes- quisador precisa ser tomado pelo espírito científico. Esse espírito científico nada mais é do que uma postura objetiva, racional e impessoal de modo que o sujeito pesquisador não tenha influência nos resultados apresentados. Ademais, é uma vontade de buscar soluções sérias, com métodos adequados para o seu proble- ma de pesquisa. (SILVA, 2014). Segundo Silva (2014, p. 13) e nas concepções de Cervo e Bervian (2002) e Ruiz (2006), a expressão de uma mente é: 20 Metodologia do Trabalho Científico • Crítica: Criticar é julgar, distinguir, discernir, analisar para melhor poder avaliar os elementos componentes da questão. • Objetiva: A objetividade é a condição básica da ciência. O que vale não é o que algum cientista imagina ou pensa, mas aquilo que realmente é. • Racional: A racionalidade justifica-se pelo fato de que as únicas razões explicativas de uma questão só podem ser intelectuais ou racionais. E entre as qualidades do espírito científico, de acordo com Cervo e Bervian (2002 apud SILVA, 2014, p. 13), estão: • Senso de observação. • Gosto pela precisão e pelas ideias claras. • Imaginação ousada regida pela necessidade de prova. • Curiosidade. • Humildade para reconhecer limitações. • Imparcial. • Honestidade para evitar plágio. • Coragem para enfrentar obstáculos. • Não reconhecer fronteiras. Todas essas características são importantes para a pesquisa científica e para a sua credibilidade. Mas gostaria de reforçar a necessidade da neutralidade nessa área. O pesquisador precisa ter disposição para se manter neutro de julgamentos e opiniões pessoais no seu trabalho, mesmo quando a temática é próxima a ele. Isso nem sempre é fácil. Para Demo (2000 apud PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 17), [...] refere-se ao esforço – sempre incompleto – de tratar a rea- lidade assim como ela é; não se trata de ‘objetividade’, porque impossível, mas do compromisso metodológico de dar conta da realidade da maneira mais próxima possível, o que tem ins- tigado o conhecimento a ser ‘experimental’, dentro da lógica do experimento. Conseguir ser objetivo a tal ponto de investigar a realidade como ela é, sem contaminá-la com ideologias e preconceitos não é tarefa fácil. Você precisará se policiar nesse sentido durante todo o trabalho (PRODANOV; FREITAS, 2013). 3 AS MODALIDADES DE TRABALHOS CIENTÍFICOS Durante a nossa caminhada acadêmica, encontramos diversos tipos de tra- balhos científicos. Assim, dando continuidade aos nossos estudos, nesse tópico, veremos alguns tipos de trabalhos acadêmicos, entre eles: TCC, Monografia, Dis- sertação, Tese, Artigo. 21 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 Isso mesmo, há grande diversidade neste gênero, por isso, apresentaremos os mais usados na graduação e pós-graduação a fim de familiarizá-lo com as carac- terísticas gerais de cada um, sua função e como fazê-los. Ainda que cada trabalho acadêmico possua suas peculiaridades, conhecer os diferentes tipos poderá ajudar você nos seus estudos e pesquisa científica, na qual terá não só que documentar sua pesquisa dentro dos moldes do trabalho, como também pesquisar em outros trabalhos acadêmicos para fundamentar a sua pesquisa. Então vamos lá! 3.1 TRABALHOS DE GRADUAÇÃO Durante a sua graduação, provavelmente você elaborou trabalhos para as disciplinas. Esse tipo de trabalho de graduação não se constitui de fato um tra- balho de cunho científico, como os trabalhos de excelência na área da pesquisa. Mas eles devem ser apresentados dentro de uma sistemática que estimule o ra- ciocínio científico, assim podem ser considerados de iniciação científica. Os traba- lhos de graduação podem ter como propósito uma revisão bibliográfica ou revisão literária, ainda que pode-se ter outros tipos como relatórios e pequenas pesquisas (MÜLLER, 2013). 3.2 TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC) O trabalho de conclusão de curso, também conhecido como Trabalho Final de curso, ou, simplesmente TCC, integra as atividades curriculares, sendo requisi- to para a complementação de muitos cursos, desde curso de graduação, de aper- feiçoamento a cursos de pós-graduação de nível de especialização (lato sensu). Constitui-se como uma atividade importante para o processo de aprendizagem dos alunos. “Como vivência de produção do conhecimento, contribui significati- vamente para uma boa aprendizagem” (SEVERINO, 2013, p. 177). Afinal, para muitos, será a primeira experiência realizando uma pesquisa científica. Tido como um trabalho monográfico que comunica um assunto especifico, tem como objetivo conduzir o aluno a refletir e pesquisar sobre conteúdos articula- dos com o próprio conteúdo do curso e pode ser um trabalho teórico, documental ou de campo. Quaisquer que sejam as abordagens, essa atividade tem em vista a consolidação do processo formativo do aluno na construção do conhecimento científico (SEVERINO, 2013). Embora o TCC tenha uma estrutura e apresentação dentro das normas ge- rais de trabalhos científicos, ele pode ter regulamentações específicas em cada 22 Metodologia do Trabalho Científico intuição de ensino. Inclusive com apresentação e defesa pública do trabalho para uma banca examinadora. 3.3 RELATÓRIO DE ESTÁGIO A atividade de estágio é obrigatória em muitos cursos e como o próprio nome diz: o relatório de estágio é um relato das atividades e experiências vivenciadas na prática durante o estágio. É uma oportunidade de unir a teoria com a prática e vivenciar situações reais. No relatório de estágio, o aluno terá a oportunidade de descrever sua experiência e aprendizado alcançado no estágio. Fique atento às orientações da instituição para adequar o seu trabalho às normas exigidas, pois o relatório não possui uma única forma. Embora que o do- cumento costume seguir as normas da ABNT. Na Uniasselvi, os cursos de pós-graduação em Neuropsicopeda- gogia, Psicopedagogia, Psicopedagogia Clínica e Institucional, Orien- tação Educacional: Teoria e prática possuem a exigência da elabora- ção do relatório de estágio como requisito para conclusão do curso. Como o relatório de estágio é um relato da experiência, uma dica é ter o há- bito de fazeranotações durante o estágio. Isso ajudará bastante posteriormente para reunir todas as informações para elaborar o seu relatório. 3.4 MONOGRAFIA O termo monografia designa um tipo especial de trabalho científico e pode gerar algumas confusões. Você sabe quem deve fazer monografia? Como é uma monografia? Espera, já vamos aclarar o assunto. O termo pode se referir a diversos trabalhos, uma vez que, conforme Se- verino (2013, p. 175), “considera-se monografia aquele trabalho que reduz sua abordagem a um único assunto, a um único problema, com um tratamento espe- cificado”. Ou seja, o termo se refere a uma abordagem e não a um nível escolar. 23 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 Etimologicamente, monografia vem da combinação dos termos em grego mono, que significa único, e graphein, grafia, que significa fazer marcas, registrar, ou seja, escrever. Nesse sen- tido, monografia significa a escrita acerca de um assunto único. Trata-se da abordagem dissertativa reduzida a um único tema. (SILVA; PORTO, 2016, p. 75-76). Quer dizer que o trabalho se define mais pela unicidade e delimitação do tema do que por sua extensão, generalidade ou valor didático (PRODANOV; FREITAS, 2013). Assim, em sentido estrito, o termo monografia poderia ser iden- tificado como trabalho de tese, por exemplo, por apresentar um tema específico com objetivo de fornecer uma contribuição original. Contu- do, hoje, o termo é mais utilizado para designar Trabalho de Conclu- são de Curso de graduação ou de pós-graduação lato sensu (PRO- DANOV; FREITAS, 2013). Desse modo, o estudo monográfico é resultado de investigação científica com a abordagem de um tema único, com objetivo levar o aluno a refletir so- bre temas determinados, de modo que apresente uma sucessão de argumentos encadeados de forma lógica como resultado da sua pesquisa. (PEREIRA et al., 2018) Segundo Marconi e Lakatos (2010 apud SILVA, 2015, p. 99), a monografia “investiga determinado assunto não só em profundidade, mas também em todos os seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina”. Esse docu- mento deve apresentar uma contribuição relevante e original à ciência. Muitos alunos se preocupam com extensão ideal da monografia. Porém não é o tamanho do trabalho que irá definir a sua qualidade, mas a realização de uma consistente pesquisa e boa apresentação dos resultados (SILVA; PORTO, 2016). As monografias são utilizadas principalmente em cursos de pós- -graduação lato sensu. Na Pós-graduação da Uniasselvi, a monogra- fia é requisito para a conclusão do curso de Engenharia de Seguran- ça do Trabalho. 24 Metodologia do Trabalho Científico 3.5 DISSERTAÇÃO A dissertação é destinada aos trabalhos de cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado), busca a reflexão sobre tema único, ainda que pode tratar de temas mais comuns, deverá apresentar conteúdo original. A dissertação, que, no sentido etimológico de origem grega, significa dis (prefixo indicador de separação e afastamento) e sertare (ajuntar, ligar, entrelaçar), designa um estudo teórico, de natureza reflexiva, o qual consiste na ordenação de ideias sobre determinado tema (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 171). Dessa forma, como resultado da pesquisa, a dissertação deverá apresentar um estudo o mais completo possível em relação ao tema determinado, expondo ideias de maneira ordenada e fundamentada. O mestrando irá expressar todo o seu conhecimento a respeito do assunto e sua capacidade de sistematização. “E, dentro deste contexto, uma das partes mais importantes da dissertação é tida como a fundamentação teórica, que procura traduzir o domínio do autor sobre o tema abordado e a sua perspicácia de buscar tópicos não desenvolvidos” (MÜL- LER, 2013, p. 75). Você sabe a diferença entre lato sensu e stricto sensu? As pós-graduações lato sensu compreendem programas de especialização e incluem os cursos designados como MBA (Mas- ter Business Administration). Com duração mínima de 360 horas, ao final do curso o aluno obterá certificado e não diploma. Ademais são abertos a candidatos diplomados em cursos superiores e que atendam às exigências das instituições de ensino – Art. 44, III, Lei nº 9.394/1996. As pós-graduações stricto sensu compreendem progra- mas de mestrado e doutorado abertos a candidatos diplomados em cursos superiores de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino e ao edital de seleção dos alunos (Art. 44, III, Lei nº 9.394/1996). Ao final do curso o aluno obterá diploma (BRA- SIL/MEC, 1988, on-line). A diferença fundamental entre uma dissertação de mestrado e uma tese de doutorado está no caráter da originalidade do trabalho. O mestrado ainda está 25 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 vinculado a uma fase de iniciação à ciência, assim não é exigido o mesmo ní- vel de originalidade e contribuição para o desenvolvimento da ciência em ques- tão. Dito isso, podemos dizer que na dissertação temos um caráter demonstrativo (PRODANOV; FREITAS, 2013). É elaborada de acordo com as diretrizes metodológicas do trabalho científico e sob a orientação de um orientador doutor, vinculado a um Programa de Mes- trado. A dissertação deverá ser apresentada e defendida diante de uma banca examinadora composta por no mínimo três professores doutores na área. Ao ser aprovado, o aluno recebe o título de mestre. 3.6 TESE Do mesmo modo que a dissertação é dirigida para o mestrado, a tese é tra- balho de conclusão de pós-graduação stricto sensu no doutorado. Assim, visa à obtenção do título de doutor. Contudo, a tese caracteriza-se por tratar de algo novo, trazendo assim um avanço significativo no seu campo do conhecimento. De acordo com a NBR 14724 (2011, p. 4), tese é: Documento que representa o resultado de um trabalho experi- mental ou exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investiga- ção original, constituindo-se em real contribuição para a espe- cialidade em questão. Diz-se que a tese deve ser um trabalho inédito, contributivo e não trivial, com um nível de aprofundamento elevado. Os argumentos apresentados devem com- provar e convencer da ideia exposta. (MÜLLER, 2013) A pesquisa pode ser resul- tado de um estudo teórico, pesquisa de campo ou de experimentação. A originalidade não significa um tema nunca antes estudado; ao contrário, devemos observar, em relação ao que já foi escrito, aquilo ou algo que não foi dito ainda, aparecendo, assim, o seu sentido de ineditismo (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 173). 26 Metodologia do Trabalho Científico A tese, no seu sentido etimológico de origem grega determinada pela tésis (ação de pôr, de colocar), é originária da Idade Média (sé- culo XIII), com o surgimento das primeiras universidades europeias – época em que os que aspiravam a ocupar um cargo de docência em alguma faculdade de Filosofia ou Teologia deviam apresentar uma tese, uma nova ideia, doutrina ou teoria a ser defendida perante uma banca examinadora (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 172). É elaborada seguindo as normas da ABNT, sob a orientação de um orien- tador doutor, portanto vinculada a um Programa de Doutorado. Ao final, a tese deverá ser apresentada e defendida oralmente diante de uma banca examinadora composta por pelo menos cinco membros doutores, sendo que alguns membros devem ser de outras instituições. 3.7 ARTIGO CIENTÍFICO Como o próprio nome sugere, o artigo caracteriza-se por ser uma pequena parcela de um saber maior, com a finalidade de divulgar uma pesquisa (ARAGÃO; MENDES NETA, 2017). A NBR 6022 da ABNT (2003, p. 2) define artigo como “texto com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento”. Consiste assim na apresentação sintética de resultados de uma pesquisa realizada,concluída ou em andamento, com ideias novas ou abordagens complementares a outros estudos já realizados (PRODANOV; FREITAS, 2013). Ainda que o artigo científico representa um estudo de forma reduzida, deverá ser completo e baseado em evidências. O que não significa que seu autor não possa expressar seu parecer no trabalho, mas que deve demonstrar para o leitor o processo lógico por trás dessa conclusão, reforçados por evidências e argumen- tos que tornem consistente a ideia (ARAGÃO; MENDES NETA, 2017). Esse formato enxuto, possibilita maior divulgação. Cada área do conheci- mento possui periódicos científicos especializados que possibilitam a divulgação dos artigos e promove a comunicação entre os pesquisadores, permitindo que esses se atualizem. Desse modo, destaca-se o artigo como veículo de contribui- ção para o avanço do conhecimento. Pode inclusive servir de termômetro para 27 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 mensurar o nível de produção de maturidade de uma determinada área do conhe- cimento científico. É um documento científico que além de trazer textos atuais, versa sobre ex- periências realizadas, relatos de casos, revisões de literatura, etc. Se torna se- melhante à monografia, uma vez que também apresenta uma sucessão de ar- gumentos, mas de modo menos volumoso, contendo apenas as informações necessárias. Dessa forma, geralmente tem de 10 a 20 páginas. A extensão pode variar conforme a exigência da instituição ou do período ao qual se deseja subme- ter o trabalho, assim como as normas para que se possa publicar. Assim como nós possuímos CPF, as revistas científicas pos- suem o ISSN ou International Standard Serial Number. “É um nú- mero padrão aceito internacionalmente que identifica uma publicação seriada de forma única. Seu uso é definido pela norma técnica inter- nacional da International Standards Organization ISO 3297. O ISSN é operacionalizado por uma rede internacional e no Brasil o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia [IBICT] atua como Centro Nacional dessa rede, portanto cabe a ele atribuir o ISSN às publicações seriadas” (ZANELLA, 2013, p. 88). Os artigos científicos podem ser classificados de dois tipos: O artigo original: é aquele que apresenta temas ou abordagens próprias, trazendo à tona resultados de pesquisa, bem como desenvolvem e analisar dados não publicados. Exemplo: os relatórios de pesquisa e estudos de caso. O artigo de revisão: em geral, resulta de uma pesquisa bibliográfica, onde o autor faz um levantamento bibliográfico na literatura já publicada sobre o tema, analisa e discute essas informações (ABNT; NBR 6022, 2003, on-line). Müller (2013, p. 77), por sua vez, afirma que os artigos científicos se classifi- cam, em geral, em três tipos, são eles: • Analítico – este tipo de artigo procura descrever algum assun- to específico, tomando como tema as relações existentes e os aspectos importantes em torno do tema abordado. • Classificatório – este tipo de artigo possui características in- 28 Metodologia do Trabalho Científico formativas, pois procura primeiro classificar e ordenar os prin- cipais aspectos de um determinado tema e depois explicar as partes divididas. • Argumentativo – neste tipo de artigo, normalmente, costuma- -se primeiro fazer um enfoque sobre um argumento específi- co, depois procuram-se apresentar argumentos favoráveis e/ ou contrários ao argumento apresentado. E, então, durante a discussão do tema em questão, o autor conduz o leitor a uma tomada de posição. Em todos os casos, o artigo terá como objetivo levar conhecimento ao pú- blico interessado com alguma ideia nova ou abordagem diferente de estudos já realizados. Em comum, artigo tem a estrutura comum ao trabalho científico, com três partes redacionais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Vamos explorar cada uma dessas partes? A introdução apresenta e delimita o tema ou o problema em es- tudo (o que), os objetivos (para que serviu o estudo), a metodo- logia usada no estudo (como) e que autores, obras ou teorias serviram de base teórica para construir a análise do problema. No desenvolvimento (demonstração dos resultados), devemos fazer uma exposição e uma discussão das teorias que foram utilizadas para entender e esclarecer o problema, apresentan- do-as e relacionando-as com a dúvida investigada. Devemos, também, apresentar as conclusões alcançadas com as respec- tivas demonstrações dos argumentos teóricos e/ou resultados de provas experimentais que sustentam tais teorias. O corpo do artigo pode ser dividido em quantos itens forem necessá- rios, de acordo com a natureza do trabalho elaborado. A conclusão contém os comentários finais, avaliando o alcance e os limites do estudo desenvolvido (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 160). Por fim, deve-se apresentar as referências com a lista de obras que foram ci- tadas, costuma-se seguir as normas da ABNT. O trabalho pode contar também com apêndices, com materiais ilustrativos elaborados pelo autor, e anexos, com material ilustrativo não elaborado pelo autor do artigo (PRODANOV; FREITAS, 2013). Embora, coloque-se essas caraterísticas que devem ser seguidas na ela- boração do artigo científico, Azevedo (1998) aponta algumas falhas comuns na investigação científica como: falta originalidade do trabalho, falta de clareza nos objetivos, problemas na organização do material expositivo, bibliografia desatuali- zada, excesso de citações, inadequação dos termos, repetição de palavras (SIL- VA; URBANESKI, 2009). 29 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 Que tal escolher um artigo científico da sua área e, além de uma leitura atenta do conteúdo, analisa-lo quanto a sua estrutura, meto- dologia, uso de termos técnicos da área, quais os objetivos da pes- quisa e se alcançou tais objetivos. 3.8 PAPER Como o paper é um tipo particular de artigo científico, vamos falar sobre ele agora. Para Medeiros (2007, p. 45), o paper é “uma síntese de pensamentos apli- cados a um tema específico. Esta síntese deverá ser original e reconhecer a fonte do material utilizado. Em português, a palavra corresponde a ensaio, mas este nome não encontrou acolhida entre os pesquisadores”. Assim, o trabalho visa in- centivar a pesquisa e o desenvolvimento da capacidade crítica e analítica. O seu formato gráfico é de um artigo científico, assim ousamos dizer que é um artigo científico pequeno. O paper exigido como trabalho de conclusão em muitos cursos da pós-graduação da Uniasselvi possuem a extensão exigida de 5 a 7 páginas. O paper deve apresentar uma introdução, desenvolvimento e conclu- são, assim como o artigo. Mesmo tendo tamanho mais limitado, o desenvolvimen- to pode ser redigido com divisões a fim de organizar o assunto, desde que apre- sentando encadeamento lógico das ideias. Cabe lembrar que, como todo trabalho acadêmico, o paper também precisa apresentar embasamento com fundamenta- ção teórica e citações de trabalhos na área para sustentar seus argumentos em relação ao tema. Assim, não esqueça de ao final apresentar as referências das obras citadas no trabalho, de acordo com as orientações da ABNT. Para Roth (1994 apud MEDEIROS, 2007), são cinco passos para a realiza- ção de um paper: escolher um assunto, reunir informações, avaliar o material, organizar as ideias, escrever o paper. Podemos acrescentar aqui, que se espera um ponto de vista original sobre o tema. Para não restar dúvidas, vamos ver o que é e o que não é o paper. O paper é: (a) uma síntese de suas descobertas sobre um tema e seu julgamento, ava- liação, interpretação sobre essas descobertas; 30 Metodologia do Trabalho Científico (b) um trabalho que deve apresentar originalidade quanto às ideias; (c) um trabalho que deve reconhecer as fontes que foram utilizadas; (d) um trabalho que mostra que o pesquisador é parte da comunidadeaca- dêmica (ROTH, 1994 apud MEDEIROS, 2007). O paper não é: (a) um resumo de um artigo ou livro (ou outra fonte); (b) ideias de outras pessoas, repetidas não criticamente; (c) uma série de citações, não importa se habilmente postas juntas; (d) opinião pessoal não evidenciada, não demonstrada; (e) cópia do trabalho de outra pessoa sem reconhecê-la, quer o trabalho seja ou não publicado, profissional ou amador: isto é plágio (ROTH, 1994 apud MEDEIROS, 2007). 3.9 RESENHA Para que nossa conversa sobre as modalidades de trabalhos esteja mais completa, vamos abordar agora a resenha. A resenha consiste no “estudo, re- sumo, crítica e na formulação de um conceito de valor sobre o trabalho que está sendo analisado” (ARAGÃO; MENDES NETA, 2017, p. 41). A resenha pode ser considerada como um resumo crítico mais abrangente, pois acrescenta comentários e opiniões. Ou seja, a resenha apresenta uma apreciação crítica sobre a obra, assim exige conhecimento aprofundado e elevado juízo crítico. Ela pode destacar as contribuições e a qualidade que o texto apresenta, mas também ser negativa, ex- plicitando falhas, incoerências e limitações do texto (SEVERINO, 2013). A resenha é interessante como forma de incentivar a leitura da obra resenhada. Através das informações resenhadas, o leitor poderá decidir se deseja ou não con- sultar a obra. Assim, a resenha deve responder a alguns questionamentos, como: “qual o assunto, suas características e as suas abordagens; quais os saberes an- teriores descritos na obra e qual o seu direcionamento; se é acessível, se é bom, agradável e aconselhado ao público” (ARAGÃO; MENDES NETA, 2017, p. 41). Sua estrutura se divide em várias partes lógico-redacionais. Primeiro, no ca- beçalho, são transcritos os dados bibliográficos completos da publicação resenha- da. Na sequência deve-se contextualizar o assunto; informação sobre o autor, se for relevante, além de uma exposição sintética do conteúdo, de modo que consiga passar ao leitor uma visão do conteúdo do texto, destacando os objetivos, ideia 31 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 central, raciocínio. O comentário crítico normalmente é feito no momento final da resenha, mas também pode vir introduzido de modo difuso dentro das partes co- mentadas. Lakatos e Marconi (2007) indicam cinco aspectos que devem ser in- cluídos na apreciação da obra: julgamento de valor, mérito da obra, estilo, forma e indicação da obra. Essa avaliação crítica pode trazer aspectos positivos quanto negativos da obra (SEVERINO, 2013). 3.10 FICHAMENTO Por fim, decidimos abordar o fichamento, devido sua importância para a co- leta de informações para a pesquisa. O Termo Fichamento “induz a produção de uma Ficha, pois fichar é transcrever anotações em fichas, para fins de estudo ou pesquisa” (ARAGÃO; MENDES NETA, 2017, p. 40). Assim, os fichamentos costumam ser feitos em fichas, mas também podem ser feitos em cadernos, arquivos digitais, onde preferir se organizar. É um método útil de estudo e pesquisa pois serve como registro de informações sobre livros, artigos e materiais consultados, facilitando assim sua compreensão e posterior consulta. Você pode elaborar a ficha como preferir, é importante que tenha os da- dos da obra (referência) e os seus comentários ou citações. 2 Para não esquecer, que tal fazer um pequeno resumo sobre cada tipo de trabalho, o seu respectivo nível e as principais ideias. Você já conhecia alguns desses tipos de trabalhos? Na sua pesquisa prova- velmente encontrará grande variedade de trabalhos, então conhecê-los ajudará você a se organizar e a pesquisar. Dito isso, se sentir necessidade, faça uma pau- sa aqui, alongue-se e depois volte para darmos continuidade ao próximo tópico. Em breve conversaremos sobre a redação científica. Vamos lá! 4 A REDAÇÃO CIENTÍFICA Um dos momentos mais desafiadores para a maioria dos acadêmicos ocorre no momento de redigir o trabalho científico, seja o trabalho de conclusão do cu 32 Metodologia do Trabalho Científico rso ou um trabalho científico como avaliação final de uma disciplina. Não importa a atividade, para escrever o seu trabalho, não basta apenas sentar na frente do computador com vontade de escrever. A vontade é indispensável sim, mas além dela é fundamental muita leitura, muita pesquisa para saber o que escrever e, o item que iremos comentar agora: dominar as técnicas de escrita acadêmica. Uma dica de ouro para desenvolver a escrita é a leitura. Afinal, quem lê mais, tem mais conteúdo para escrever e terá mais domínio comunicativo. Assim como a leitura é importante para nosso desenvolvimento pessoal e como cidadãos, a escrita não é uma prerrogativa dos literatos, mas uma atividade social imprescin- dível a todos. Conforme Mattoso Câmara Jr. (1978), é necessário refletir sobre o trabalho antes de começar. Ou seja, para escrever, é necessário ter algo a dizer. Assim, antes de começar o seu artigo, realize a pesquisa, que pode ser toda bibliográfica ou começar como bibliográfica para se aprofundar sobre o tema – no próximo capítulo veremos mais sobre como fazer a pesquisa. Com essa pesquisa, você estará adquirindo conhecimento sobre o tema que irá escrever e desenvolvendo habilidades e competências cognitivas. Quando tiver todos os fichamentos, os da- dos e citações para o seu trabalho, terá a clareza necessária para compartilhar o conhecimento adquirido na sua pesquisa. Nesse momento, uma redação com qualidade do seu trabalho será importante para validar sua pesquisa. Dessa for- ma, é imprescindível seguir algumas normas, como as de apresentação de traba- lhos acadêmicos segundo a ABNT, seguir normas éticas e de redação acadêmica. Na fase de redação do seu trabalho, você irá retratar o raciocínio desenvolvi- do na pesquisa. Para isso, deverá seguir o encadeamento lógico da sua pesquisa, partindo dos seus objetivos com a pesquisa, levantamento de dados e quais as con- clusões. Como afirmam Trzesniak e Koller (2009 apud TRZESNIAK, 2014, p. 16), “escrever um artigo científico é como contar uma história”. É a história da sua pes- quisa! Nesse caminho, o autor responde a outra pergunta importante: quando iniciar a escrita do trabalho? O melhor momento é aquele que você se sente preparado. “É como um parto: chega a hora que o conhecimento adquirido e/ou construído no desenvolvimento da pesquisa clama por ser compartilhado. E, se seu consciente sentir esse apelo e a ele responder, o texto fluirá!” (TRZESNIAK, 2014, p. 16). A próxima pergunta que você irá fazer é: por onde começar a escrever? Por mais relevante que seja decidir por onde começar a escrever, para de fato come- çar, essa decisão não tem uma resposta pronta. Você não precisa começar pelo começo, pelo título ou introdução. Você irá definir por onde começar de acordo com sua demanda interna. Você pode começar pelo primeiro ou segundo pará- grafo de uma seção e depois voltar e escrever a primeira seção. Não importa. Comece por onde sentir que deve começar. Como orienta Trzesniak (2014, p. 17), 33 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 Falando de modo bem informal: deve-se escrever conforme manda o coração, até completar todo texto (seção, artigo ou mesmo capítulo, tratando-se de monografia), porque essa é a maneira de maximizar a fluidez. Os “arredondamentos” e os ajustes finos entre trechos e partes do texto – a finalização do “todo” – podem ficar para depois e se revelarão, então, surpre- endentemente simples. Temos certeza que seguir essa orientação irá ajudar a diminuir a costumeira frustração que os acadêmicos sentem ao iniciarem a escrita da sua pesquisa, com a sensação de que estão horas na frente do computador sem quase nada escrever. Começar por onde se sente que deve começar, ajudará a tornar a tarefa da escrita mais leve. Então você deve estar se perguntando: o que diferenciaum texto científico. Esse tipo de texto tem características especificas que o diferencia de todos os demais. A linguagem deve ser sem adornos, sem figuras de linguagem. Ou seja, o texto cientifico deve ser claro e objetivo. Sendo assim, a regra de ouro é usar frases curtas. Nada de abusar do uso de vírgulas. Às vezes o estudante pega o emba- lo e, por receio de perder o fio da meada, vai colocando vírgu- las, emendando uma ideia na outra. O leitor fica extremamente confuso diante daquele emaranhado de ideias. A clareza e a objetividade ficam prejudicadas. Isso não pode ocorrer e costu- ma ser apontado como um erro grave na escrita acadêmica. O texto deve ser compreendido como uma unidade de significa- ção e de construção de sentido. (SILVA; PORTO, 2016, p. 29) Desse modo, você deve partir de uma base, da sua ideia principal, e gradati- vamente acrescentando as ideias secundárias. Assim criará uma progressão nas ideias e o seu leitor conseguirá interpretar o caminho percorrido através de um texto coeso e lógico. Segundo Medeiros (2000 apud SCHAUN, 2018, p. 11): “texto é um tecido verbal estruturado de tal forma que as ideias formam um todo coeso, uno, coerente. A imagem de tecido contribui para esclarecer que não se trata de feixe de fios (frases soltas), mas de fios entrelaçados (frases que se inter-relacionam).”. As frases devem estar costuradas demonstrando um direcionamento. Todas as partes de um texto devem estar interligadas e manifes- tar um direcionamento único. Assim, um fragmento que trata de diversos assuntos não pode ser considerado um texto. Da mes- ma forma, se lhe falta coerência, se as ideias são contraditórias, também não constituirá um texto. Se os elementos da frase que possibilitam a transição de uma ideia para outra não estabelece- rem coesão entre as partes expostas, o fragmento não se confi- gura um texto (MEDEIROS, 2000 apud SCHAUN, 2018, p. 11). 34 Metodologia do Trabalho Científico No texto científico, as frases possuem o único propósito de construir um sen- tido para o seu argumento com o qual você irá tentar convencer o leitor das ideias da sua pesquisa. Assim, podemos afirmar que o texto científico não precisa ser belo para impressionar o leitor, mas ser claro e objetivo na construção do argumento dentro de um raciocínio lógico. “Lembre-se de que uma das principais finalidades da ciência é propor soluções para os problemas enfrentados pela humanidade. Tais problemas são complexos e necessitam ser analisados com racionalidade e não com euforia, empolgação e ingenuidade.” (SILVA; PORTO, 2016, p. 30). Já está ficando mais claro as características de um texto científico? Para ilus- trar melhor, vamos ver o quadro comparativo com diferentes tipos de textos. QUADRO 2 – COMPARATIVO ENTRE DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS Há um fator gerador na reta- guarda do texto? Qual o peso para a perenidade ... do próprio texto? ... da retaguarda factual? Poesia Pode haver ou não, mas o mais peculiar da poesia é que, muitas vezes, o fato não está explícito na obra e, mais: pessoas diferentes podem perceber nela retaguar- das de fatos ou ideias diferentes que motivaram o autor a escre- ver. (subjetividade) Total. O texto poético é como um fluído, difícil de agarrar, que escapa e muda de forma a cada momento, a cada leitor e a cada leitura. Sua força e beleza estão nisso, é capaz de captar e refletir o sentimento subjetivo do mo- mento de quem o lê. Toda ou nenhuma. Toda, por- que o conteúdo da poesia fala e atinge cada um de seus leitores. Nenhuma, porque não há o fato absoluto ou singular. Há a subje- tividade, o fato ou a ideia que a poesia evoca em cada um dos que a leem, subjetividade essa que repousa principalmente na força do texto. Romance Existem fatos por trás do texto, mas sem o compromisso de re- tratar algo ocorrido ou uma rea- lidade. O compromisso é com a verossimilhança, a narrativa deve parecer real. Muito importante. O texto literário é parte da própria obra e é analisado como parte da competência e ta- lento do autor. Muitos romancistas são celebrados por dominarem a palavra tanto quanto a imaginação. Os pesos dos fatos narrados e do texto contribuem de modo equili- brado para a perenidade da obra. Uma boa trama, mantém o inte- resse dos leitores. Crônica Quase sempre existe um fato por trás da obra, mas em geral um fato trivial. Predominante. O cronista, pela força das palavras e da elaboração em torno do fato, é capaz de perenizar um acontecimento corriqueiro. É pequena. O fato por trás da obra é trivial. O acontecimento em si não representa qualquer repercussão significativa. Jornalístico Necessariamente tem que existir um fato real que respalde o texto e que as pessoas tenham interesse. O ciclo de vida do jornal é de al- guns dias. Não visa perenidade. A natureza do fato gerador, se al- cançar perenidade, poderá pereni- zar o texto como fonte de pesquisa. 35 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 Científico Um fato real e notável por trás do texto é o elemento mais impor- tante. Deve ser descrito acurada- mente, sem despertar emoção ou vieses. Muito pouco. Na redação cientí- fica, o destaque não pode ser o texto, mas sim, os fatos aborda- dos e os argumentos lógicos que justificam as ideias apresentadas. Não aceita figuras de estilo. Total. Quando o conhecimento que respalda o texto é de quali- dade, a perenidade do texto fica garantida, mesmo que a redação deixe a desejar. FONTE: Adaptado de Trzesniak (2014) Interessante, não é? Cada estilo de texto tem suas peculiaridades. Se o tex- to literário não precisa ter nenhum compromisso com a veracidade dos fatos, o jornalístico e o científico possuem acima de tudo o compromisso factual. Nesses últimos, a linguagem também deve ser neutra, sóbria e sem direcionamentos que não tenham respaldo na argumentação e nos fatos (TRZESNIAK, 2014). Como vimos, o estilo de redação usado em trabalhos científicos não segue as mesmas características de textos literários ou jornalís- ticos. Dito isso, selecione uma matéria jornalística, um texto literário e um artigo científico da sua área. Faça uma leitura atenta dos três tipos de textos e depois anote as suas conclusões sobre as caracte- rísticas de cada um. 4.1 VOCABULÁRIO Agora que já esclarecemos que o texto cientifico precisa acima de tudo ser claro, com um estilo sóbrio e preciso, é hora de conversarmos sobre o vocabu- lário. Estamos falando de trabalhos científicos, mas usar vocabulário comum ou técnico e específico? Podemos entender o vocabulário como um conjunto de termos ou palavras que servem para designar coisas através de conceitos, e assim é possível dividi- -lo em vários níveis. O primeiro nível se refere ao vocabulário comum, corrente na nossa comunicação social e adquirido na nossa comunidade linguística. Apesar de mais comum, não é recomendado para a redação científica. Para o conheci- mento científico, é necessário um vocabulário de segundo nível, mais técnico. 36 Metodologia do Trabalho Científico Como afirma Severino (2013, p. 16), Para o pensamento teórico da ciência ou da filosofia, não bas- tam os significados imediatos da linguagem comum. Conceitos e termos adquirem significado unívoco, preciso e delimitado. Às vezes são mantidos os mesmos termos, mas as significa- ções são alteradas, com uma compreensão bem definida. Desse modo, aprender uma ciência envolve aceder a um vocabulário mais técni- co também. Pode-se ainda mencionar um terceiro nível de vocabulário, onde concei- tos adquirem um sentido específico na pesquisa de um autor ou sistema de ideias de alta qualidade. Esse se torna mais delimitado e específico (SEVERINO, 2013). Na redação do seu trabalho científico, o vocabulário técnico poderá ser fun- damental para alcançar determinados conceitos e lógica do discurso. Contudo, recomenda-se usar a terminologia técnica somente quando realmentenecessária ou em casos de trabalhos especializados, quando essa terminologia já se tornou básica. Pois o importante é que seu leitor não seja impedido de entender seu tra- balho por causa de uma linguagem hermética (SEVERINO, 2013). Então pense em quem é o seu público-alvo para adequar o vocabulário. Afinal, adequamos nossa linguagem de acordo com o destinatário. Por exemplo, quando escrevemos uma mensagem para um amigo, é uma linguagem completamente informal, colo- quial; mas se for um e-mail para o chefe, terá outro nível de exigência. Assim, quando necessário, usa-se o vocabulário técnico e específico, e o vocabulário comum faz as ligações entre as partes. “De fato, mesmo para expor ideias teóricas de nível técnico ou específico, é preciso servir-se das ideias mais simples, do nível corrente, traduzindo as ideias de nível técnico de maneira aces- sível e gradativa” (SEVERINO, 2013, p. 74). Dando continuidade, para Cardoso (2004, p. 16), um dos conselhos que po- demos dar a quem procura treinar uma boa redação é: “ache e elimine as pala- vras inúteis”. É comum na releitura atenta do trabalho encontrar palavras ociosas, repetições de palavras e de noções, mas com palavras diferentes, explicações sobre coisas muito óbvias e adjetivos. Nesses casos, sugere-se riscar essas ocor- rências. (CARDOSO, 2004, p. 16). De acordo com Azevedo (1998, p. 113), “a concisão se obtém com o exer- cício de reescrever. A cada vez que se faz isso, descobre-se uma repetição de ideias ou de palavras, nota-se vocabulário supérfluo, encontra-se uma maneira de dizer a mesma coisa com menos palavras”. Cardoso (2004, p. 16-17) nos brinda com mais alguns conselhos gerais (lem- brando que sempre existem exceções): 37 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 1) prefira palavras curtas, simples e familiares; evite palavras longas e jargão; 2) prefira o termo concreto ao abstrato; 3) prefira o ativo ao passivo; 4) prefira a palavra única a uma locução equivalente composta de várias palavras; 5) prefira o vocabulário português consagrado a neologismos, anglicismos, galicismos, etc., bem como o vocabulário erudito ao coloquial ou chulo. Seguindo essa linha de raciocínio, vamos ver alguns exemplos. Devemos atentar para algumas expressões, como a locução indireta “na eventualidade de”, que é um termo longo e com frequência, que pode ser substituída por um simples “se” ou “caso”, que é muito mais usual e familiar (CARDOSO, 2004). Cardoso (20004) condena o hábito de preferir termos abstratos em vez de concretos. Aconselha usar “busca do lucro”, em vez de “busca da lucratividade”, que pode se tornar pomposo, e é jargão e anglicismo. Outro exemplo de como os anglicismos estão presentes vem da área da economia com a expressão “deman- da por” (do inglês demand for), quando a norma da nossa língua diz que o correto é “demanda (ou procura) de” (CARDOSO, 2004). É possível que você sinta dificuldade quanto ao vocabulário quando você não está imerso na área, resultando em uma redação acadêmica inadequada ou pobre. Então uma dica é ler autores de bom nível acadêmico, que tenham domí- nio do vocabulário necessário (CARDOSO, 2004). Lembre-se: para escrever bem é necessária muita leitura e exercitar a escrita. 4.2 COMPOSIÇÃO DO TEXTO Para a organização do seu trabalho, você irá dividi-lo em capítulos e possi- velmente em subcapítulos, de acordo com as variáveis estudadas. Dentro dessas divisões, teremos diferentes assuntos. Assim, um texto poderá ter um ou vários assuntos. Você deverá partir do assunto mais geral, e depois ir para os assun- tos menos específicos para então ir para o mais específico. (MARTINS JUNIOR, 2015). Por exemplo: Se o seu trabalho for sobre a Importância do exame médico (3) para a saúde (2) do trabalhador (1), a revisão de literatura do seu trabalho deverá ser dividida em três partes, que, por sua vez, deverão ser escritas na seguinte ordem: O primeiro item será sobre o assunto mais geral (a população), que, neste caso é o trabalhador. 38 Metodologia do Trabalho Científico O segundo item será sobre o assunto menos específico (é o problema a resolver), no qual deve-se escrever sobre a saúde do trabalho. O terceiro item será sobre o assunto mais específico (objeto de estudo), no qual você escreverá sobre por que/como/quan- to o exame médico é importante para a saúde do trabalhador (MARTINS JUNIOR, 2015, p. 117). Desse modo, o seu texto terá uma coerência lógica dos assuntos abordados. Nesse caminho, é importante também comentarmos que a elaboração do texto deverá seguir a seguinte ordem (MARTINS JUNIOR, 2015, p. 118): • frase introdutória; • uma ou mais citações; • discussão dessas citações; • síntese final. Ou seja, recomenda-se que o texto comece com uma frase introdutória, que nada mais é do que uma frase feita com as suas próprias palavras para introduzir o assunto sobre o qual irá tratar. Sempre que for iniciar ou mudar de assunto, é importante pensar nessa frase-chave. Martins Junior (2015) recomenda que essa frase seja feita com o verbo no impessoal e expresse uma hipótese que irá conduzir para uma comprovação do fato. Por exemplo: “sabe-se que a lesão de um determinado segmento corporal com pouca gravidade tem por origem uma série de acidentes domésticos” (MAR- TINS JUNIOR, 2015, p. 118). Uma frase assim fará seu leitor se perguntar: sabe-se? Como? Quem disse isso? Que tipo de acidentes? Com isso, você despertará o interesse do leitor em continuar essa leitura para o desenrolar dessa afirmação. Por essa razão, na sequ- ência, recomenda-se que traga as comprovações do fato exposto, com uma citação bibliográfica, por exemplo. No último capítulo deste livro, você verá como fazer as citações dentro da norma, não se preocupe. Destacamos a importância de discutir as citações em seu texto. Não basta fazer a citação a fim de comprovar um fato e achar que é só isso. Você poderá concordar ou discorda do pensamento da citação, mas é importante trazer a sua posição a respeito (MARTINS JUNIOR, 2015). Ao final, você deverá sempre encerrar o seu texto, seja um capítulo ou subca- pítulo ou tópico com uma síntese final conclusiva. Essa síntese pode ser composta por uma ou mais frases de ordem pessoal, com suas palavras e não com citações. Quando for finalizar um capítulo, a última parte poderá ter a conotação de conclu- são do tópico, quando o assunto estiver se esgotado. Mas se sentir a necessidade de dar uma continuidade ao assunto no próximo tópico, poderá usar uma frase gan- 39 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 cho a fim de demonstrar essa continuidade. Por exemplo: “A revisão de literatura realizada neste capítulo serviu para fundamentar a presente pesquisa, cuja metodo- logia será delimitada a seguir” (MARTINS JUNIOR, 2015, p. 126). Interessante, não é verdade? Agora vamos para a próxima divisão do texto: o parágrafo. 4.2.1 Parágrafo Além de ter atenção ao estilo acadêmico, ao vocabulário, às regras gramati- cais, é importante observar especificamente os parágrafos. Isso mesmo, no mo- mento de registrar a sua pesquisa e raciocínio, é importante estar atento à cons- trução dos parágrafos. “O parágrafo é uma parte do texto que tem por finalidade expressar as etapas do raciocínio. Por isso, a sequência dos parágrafos, o seu tamanho e a sua complexidade dependem da própria natureza do raciocínio de- senvolvido” (SEVERINO, 2013, p. 130). Assim, mediante o entendimento da importância do parágrafo como a repre- sentação gráfica da articulação do raciocínio na pesquisa, consideramos normal o fato da paragrafação causar certa insegurança na hora da escrita. Para auxiliar, vamos explorar a orientação sobre o parágrafo de Garcia (2010). Segundo o lin- guista, há um parágrafo que podemos chamar de parágrafo-padrão. Formado por uma unidade de composição com um ou mais de um período.E nesse período, temos uma ideia central que irá se desdobrar em ideias secundárias, costurando uma coerência lógica e semântica com essa ideia central, de modo que o seu lei- tor perceba a construção do argumento. Severino (2013), por sua vez, compara a estrutura do parágrafo com a es- trutura do próprio trabalho, constituído por uma introdução, um corpo e uma con- clusão. De modo que na introdução se irá anunciar o que pretende dizer (contém um tópico frasal), o corpo é o desenvolvimento da ideia central (representada pelo tópico frasal) e a conclusão uma espécie de resumo ou síntese. O tópico frasal é constituído por uma ou duas frases curtas as quais são escritas logo no início do parágrafo e expressa a ideia central que será desenvolvida naquele parágrafo. O tópi- co frasal, em um texto acadêmico, pode ser considerado como uma generalização em que se define ou se declara alguma coisa; pode também ser um juízo sobre determinado conceito (SILVA; PORTO, 2016, p. 31). Vejamos um exemplo de um parágrafo apresentado por Silva e Porto (2016, p. 31), no qual podemos perceber o desenvolvimento de um tópico frasal de uma dissertação. 40 Metodologia do Trabalho Científico Afinal, o que é ser tupiniquim? O brasileiro vive um momento de reconstrução de sua identida- de. A recente prosperidade econômica proporcionou ascensão social a milhões de pessoas no país. Nossa autoestima está revigorada. Por exemplo, o adjetivo tupiniquim, que nos era lançado como sinônimo de subdesenvolvimento, pode passar a significar uma virtude, um ingrediente do modelo brasileiro de superação. O sucesso econômico pode levar a uma nova inter- pretação da nossa história de miscigenação (grifo dos autores). Nos dois primeiros períodos (destacados em itálico), temos o tópico frasal que apresenta uma declaração sobre a reconstrução da identidade nacional e a relação com a prosperidade econômica. Na sequência, justifica-se e fundamenta essa ideia anunciada. Ou seja, todo o restante está vinculado a esse tópico frasal que foi anun- ciado nos dois primeiros períodos. E a conclusão reafirma isso que foi anunciado e fundamentado no desenvolvimento. Desse modo, “O tópico frasal já estabelece um limite para quais ideias caberiam nesse parágrafo. Se o autor divagasse por outros assuntos, o próprio tópico frasal o impediria de ultrapassar o sentido anunciado nas primeiras frases” (SILVA; PORTO, 2016, p. 31). Com isso, podemos dizer que o pa- rágrafo se caracteriza por uma argumentação completa e coerente. Assim, “a articulação de um texto em parágrafos está intimamente vincula- da à estrutura lógica do raciocínio desenvolvido” (SEVERINO, 2013, p. 131). Por isso, muitas vezes, os parágrafos começam com conjunções que fazem a ligação de uma etapa lógica à outra. Por exemplo: à medida que, visto que, uma vez que, todavia, contudo, portanto, por conseguinte etc. Ao se mudar para o próximo parágrafo, a escrita avança na sequência do raciocínio, iniciando outra etapa (SE- VERINO, 2013). Dando continuidade, Severino (2013) aponta duas tendências incorretas em relação ao assunto que devemos cuidar na nossa escrita: o excesso de parágra- fos, de modo que praticamente cada frase é tida como um parágrafo; ou a falta de parágrafos. São dois extremos, mas comum de encontrar em certas redações. Contudo, a extensão dos parágrafos pode variar, conforme descreve Garcia (2010, p. 220): E não é apenas o senso de proporção que deve servir de crité- rios para bitolá-lo, mas também, principalmente o seu núcleo, a sua ideia central. Ora se a composição é um conjunto de ideias associadas, cada parágrafo – em princípio, pelo menos – deve corresponder a cada uma dessas ideias, tanto quanto elas correspondem às diferentes partes em que o autor julgou conveniente dividir o seu assunto. Dito isso, reforçamos que não existe uma extensão fixa de linhas para o pa- rágrafo, o que irá definir o tamanho do seu parágrafo é a ideia central contida 41 Ciência e a Produção do ConhecimentoCiência e a Produção do Conhecimento Capítulo 1 nele. E quando mudar a ideia, é hora de ir para o próximo parágrafo (SILVA; POR- TO, 2016). Neste quesito, Azevedo (1998, p. 119) acrescenta que para uma boa redação técnico-científica: encadeie as frases, os parágrafos, os tópicos e os capítulos entre si. Procure tornar cada frase um desenvolvimento do que veio antes, numa sequência lógica, tanto para explicar, quanto para demonstrar, detalhar, restringir ou negar. Cada parágrafo deve estar em harmonia e em tranquila transição com o ante- rior e com o posterior. O mesmo vale para tópicos e capítulos. Faça o texto fluir naturalmente e não andar aos solavancos. Lembrando que a transição de um parágrafo para outro não deve ser abrup- ta, deve fluir, seguindo uma ordem lógica e encadeada. 4.3 ESCREVER, ESCREVER E ESCREVER Quando abordamos a redação científica, ao analisarmos as produções cien- tíficas de diversas áreas, encontramos alguns desvios comuns, como a repetição de palavras e de frases, erros de concordância, uso de expressões coloquiais quando devemos primar por uma linguagem mais formal nesse tipo de texto (PE- REIRA et al., 2018). Por isso, para auxiliar você, na sequência vamos discutir mais detalhadamente mais alguns desses tipos de equívocos. 4.3.1 Desvios de estilística Vamos começar discutindo alguns desvios de estilística: Figuras e vícios de linguagem: Em gêneros literários que prezam pela sub- jetividade, como poemas e cantos, as figuras de linguagem são muito utilizadas. No entanto, em gêneros científicos, que devem primar por transmitir a mensagem de forma clara e objetiva, elas são inadequadas e desnecessárias. Nesse caso, o simples é melhor que o floreado. Vamos a alguns exemplos segundo Sousa e Cavalcanti (2014). • Metáfora: Figura de linguagem que consiste em produzir sentidos figura- dos por meio de comparações. Mas metáforas mal empregadas podem comprometer a objetividade do seu texto. Por exemplo: 42 Metodologia do Trabalho Científico O estado civil dos participantes apresentou resultados inespe- rados, afinal, entre jovens, na flor da idade e com os hormônios atuando a todo vapor, esperava-se que aqueles que se de- clararam solteiros tivessem índices de relações sexuais mais elevados do que os comprometidos” (SOUSA; CAVALCANTI, 2014, p. 128). Nesse caso, as metáforas são evidentes e não acrescentam nada ao texto. Poderíamos reescrever suprimindo esse trecho ou colocar de modo mais objetivo: “entre jovens na puberdade” (SOUSA; CAVALCANTI, 2014). • Eco: se em textos poéticos o eco colabora com o ritmo, no texto científi- co se torna incomodo. Por exemplo: Este estudo teve como objetivo investigar autoestima e com- portamentos infratores; observando as relações de tais com- portamentos com esse construto que é sempre lembrado, mas pouco estudado, especialmente dentro do tema abordado (SOUSA; CAVALCANTI, 2014, p. 128). Nesse sentido, uma dica é reler o texto em voz alta para identificar possíveis ecos. • Pleonasmo: é a redundância de termos no âmbito das palavras, quando usado para reforçar uma ideia é legítimo, mas em certos casos, esse re- forço é óbvio e desnecessário. Vamos ver alguns exemplos: A grande maioria dos participantes na condição experimental apresentou efeitos maiores que o grupo-controle. [...] Estudos realizados há décadas atrás já demonstravam os efeitos nega- tivos do uso de drogas nas habilidades cognitivas. [...] As aná- lises se basearam nos três pilares fundamentais da psicologia positiva. [...] Os comportamentos compulsivos são um dos prin- cipais sintomas indicativos do TOC. [...] Para que a intervenção funcione, é preciso planejar antecipadamente seus elementos constituintes. [...] A Tabela 1 traz um resumo sintético dos da- dos relativos às crianças em situação de rua. [...] Foi obtida a autorização prévia do comitê de ética” (SOUSA; CAVALCAN- TI, 2014, p. 128). Como podemos perceber, nesses
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