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INTRODUÇÃO No Brasil a violência obstétrica apesar de muito conhecida e muito recorrente é uma violência pouco discutida e pouco percebida, principalmente pelas mães de primeira viagem. As gestantes e parturientes são violadas fisicamente, por procedimentos sem necessidade e sem o conhecimento da paciente, onde acima de tudo são procedimentos muito dolorosos, bem como a preocupante violência psicológica, como a utilização de técnicas desfavoráveis as pacientes, além de humilhações, desrespeito, xingamentos e gritos com as mesmas. Um momento que deveria ser único contagiado pela emoção por poder dar à luz a outro ser humano, para muitas acaba se tornando um cenário de horror e traumas, com relatos de marcas psicológicas, físicas e sexualmente por toda a vida. Infelizmente na cultura Brasileira é muito comum e freqüente ouvir de mulheres que já tiveram a experiência da gravidez ou parto que a dor é normal e que todo acontecimento é necessário para que nasça outro ser humano. A visão na situação específica da dor da mulher é suprimida e a impressão que fica é que todo o sofrimento é fraqueza e exagero. A outra parte, estão os profissionais ricos em saberes científicos, profissionais esses que são: médicos, enfermeiros, funcionários públicos responsáveis e praticantes das citadas violência. Os mesmos só enxergam as gestantes e parturientes com olhares mecânicos e clínicos, sem qualquer respeito a gestação e o parto, fazendo com que o sentimento de emoção de cada mulher seja ignorado e excluído. Devido à falta de um sistema de classificação criminal, cabe àqueles que sofrem buscar o indiciamento por delitos, como homicídio, lesão corporal, omissão de serviço e crimes contra a honra, em ambiente penal. Não é incomum para nenhum dos citados proteger uma mulher grávida, uma mulher parturiente, ou uma puerpera em sua situação única como mulher, um gênero que historicamente teve seus desejos e vozes silenciados às custas dos homens, que são julgados superiores no conhecimento, particularmente o conhecimento científico, ignorando a cultura machista em que as mulheres nasceram e continuam vivendo. O objetivo da monografia atual é analisar as situações em que mulheres vítimas de violência física, psicológica, sexual, financeira e institucional estão expostas, bem como como a ausência de punição para a prática que apoia a violência contra a mulher, perpetuação da noção de que sentir dor no Brasil é necessária para a parir. A partir daqui, pretende-se discutir a justificativa legal para essa violência e se justifica a intervenção penal com base no estudo da Teoria do Bem Jurídico com Interesse no Direito Penal. A intenção é mostrar que, independentemente da classe, raça ou crenças religiosas de uma mulher, a violência estrutural muitas vezes viola seus direitos fundamentais enquanto ela busca assistência dos profissionais de saúde. Ao fazer isso, também visa demonstrar o papel significativo do Estado para reconhecer a importância do tema para ser discutido, pois diz respeito a toda a sociedade, para que as mulheres vítimas do mesmo possam exercer seu direito de possuir políticas públicas que as protejam em situações tão sensíveis sem medo de represálias. Em termos de metodologia científica, utilizou-se o método exploratório-descritivo, enquanto a pesquisa bibliográfica foi conduzida de forma qualitativa com base nos métodos e abordagens utilizados. Além da leitura de textos e manuais legais tradicionais, foram encontradas referências sobre temas como maternidade e violência obstétrica nessas teses, artigos, dossiês, documentários, materiais acadêmicos, blogs e sites. Como resultado, o trabalho atual será dividido em alguns capítulos. O primeiro capítulo analisará a importância da teoria da legalidade para o direito penal, ou seja, “a importância da Teoria do Bem Jurídico para o Direito Penal “, destacando como a compreensão desse objeto evoluiu ao longo da história, começando com uma premissa histórica, e tentando conceituá-lo, ao mesmo tempo em que relacionava suas principais funções. No segundo capítulo, focaremos na compreensão da violência obstétrica, examinando suas causas e concepção, bem como algumas das principais práticas que são vistas como violência observadas nos sistemas de saúde e feitas contra gestantes e parturiente. Finalmente, no terceiro e último capítulo, tentamos entender como isso é percebido e conhecido em todo o mundo, particularmente em países como Argentina e Venezuela, onde existe a tipificação. No mesmo capítulo, seguindo as exposições, tentaremos determinar quais normas legais se aplicariam àqueles que cometem violência obstétrica, avaliando a importância para justificar de maneira sucinta uma mediação estatal que resulte na criação de um novo tipo de direito penal, também baseado nos princípios da Constituição Federal brasileira de 1988.