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IES – INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR ALESSANDRA REGINA WALDRIGHIS CARVALHO VIOLÊNCIA CONTRA MULHER JAÚ/SP 2020 ALESSANDRA REGINA WALDRIGHIS CARVALHO VIOLÊNCIA CONTRA MULHER Monografia apresentada à Instituição de Ensino Superior como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciatura em Filosofia. Orientador (a): Prof. Dr. Márcio César Chiachio JAÚ/SP 2020 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na publicação Serviço de Documentação Universitária Carvalho, Alessandra Regina Waldrighis, Licenciatura em Filosofia, 2020, 34 f., Monografia – Licenciatura em Filosofia– IES – Instituição de Ensino Superior – Jaú, 2020 Monografia – Instituição de ensino superior, Curso de Licenciatura em Filosofia; Orientador: Prof. Dr. Márcio César Chiachio 1. Educação Superior. 2. Didática. 3. Metodologia de Ensino. FOLHA DE APROVAÇÃO ALESSANDRA REGINA WALDRIGHIS CARVALHO VIOLÊNCIA CONTRA MULHER Monografia apresentada à Instituição de Ensino Superior como requisito parcial para obtenção em licenciatura em Filosofia. Aprovada em: ___/___/2020 Examinadores: ___________________________________________ Prof. Coordenador Instituição de ensino superior ___________________________________________ Prof. Orientador Instituição de ensino superior DEDICATÓRIA A minha família, pela compreensão, dedicação, amor e por tornar minha vida melhor e mais feliz. Aos meus pais pela proteção e amor. À Deus, razão de nossa existência e doador da vida. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus que toda manhã me dá forças para alcançar meus objetivos. Aos professores que participaram da pesquisa contida no presente trabalho. A minha família que sempre apoiaram os meus sonhos, e com eles eu conquisto mais este. EPÍGRAFE Se virmos a realidade, as mulheres são mais sólidas, mais objectivas, mais sensatas. Para nós, são opacas: olhamos para elas, mas não conseguimos entrar lá dentro. Estamos tão empapados de uma visão masculina, que não entendemos. Em contrapartida, para as mulheres nós somos transparentes. O que me preocupa é que, quando a mulher chega ao poder, perde isso tudo. (SARAMAGO, JOSÉ) RESUMO CARVALHO, ALESSANDRA REGINA WALDRIGHIS, Licenciatura em Filosofia, 2020, 34 f., Monografia – Licenciatura em Filosofia– IES – Instituição de Ensino Superior – Jaú, 2020. O presente trabalho como parte da composição do curso em licenciatura em Filosofia, desta forma visa abordar o tema sobre violência contra a mulher, e seus biótipos como forma de revisão de literatura, sobre as iniciativas tomadas para contra a situação, que tem ganhado destaque, graças as novas gerações que tem se voltado contra a demanda masculina, que às vê, como objetos. Desta forma, o trabalho avalia quanto a postura da mulher e a visão do homem e mede através da legislação os devidos meios para beneficiar a mulher e protege-la. Por conseguinte, a visão geral para contra a violência, também aborda se a relação tem uma base cultural ou histórica, que ao perceber que ambas andam enraizadas e demonstram que o sofrimento feminino comparado a hoje, foi muito pior do que ele já foi. Palavras-chave: Violência Doméstica; Feminicídio; Distúrbios; Agressão Física; ABSTRACT CARVALHO, ALESSANDRA REGINA WALDRIGHIS, licenciatura em Filosofia. 2020, 34 f., Monografia – Licenciatura em Filosofia– IES – Instituição de Ensino Superior – Jaú, 2020. The present work as part of the composition of the degree course in Philosophy, this form of visa addresses the theme about violence against a woman, and its biotypes as a way of literature review, about the initiatives adopted for the situation, which has gained prominence, thank you as new generations that have turned against the male demand, that you see, as objects. In this way, the work available on the posture of women and the vision of men and the mediation of legislation on the appropriate means for the beneficiaries of women and those protected. By considering, an overview against violence, also addresses a cultural or historical thematic relationship, which when realizing that women are rooted and demonstrating that the female suffering observed today, was much worse than it once was. Keywords: Domestic Violence; Femicide; Disorders; Physical aggression; SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 12 2.1 Objetivos específicos ....................................................................................... 12 3. METODOLOGIA .................................................................................................... 13 4. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 14 5. DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 14 5.1 Gênero e Violência ........................................................................................... 18 5.2 Violência Doméstica Contra a Mulher .............................................................. 21 5.3 Tipos de violências: .......................................................................................... 29 6. LEGISLAÇÃO CONTRA A CONDUTA DA VIOLÊNCIA A MULHER .................... 31 6.1 “Importunação sexual” ..................................................................................... 31 6.2 Aumento de pena ............................................................................................. 32 6.3 Exclusão de ilicitude ......................................................................................... 32 6.4 Os distúrbios emocionais mais graves ............................................................. 33 6.5 Feminicídio: O que diz a lei brasileira .............................................................. 35 6.6 Feminicídio: O que diz a lei brasileira .............................................................. 36 7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 40 8. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 42 11 1. INTRODUÇÃO A violência contra a mulher é um fato social cada vez mais presente em nosso cotidiano, seja através das notícias veiculadas pela imprensa, nos debates acadêmicos, estudos teóricos sobre o assunto e, principalmente, nos lares brasileiros onde acontece grande parte dos atos de violência que vitimam as mulheres. A violência contra a mulher é um fato social cada vez mais presente em nosso cotidiano, ocasionando inúmeros danos às mulheres, principalmente, danos físicos e psicológicos. Por ano, milhares de mulheres são agredidas no Brasil, muitas delas acabam até morrendo (NEVUSP). Observa-se que há um componente de gênero imerso nesta problemática. O presente artigo tem como objetivo analisar como as construções históricas e sociais sobre o gênero influenciam na violência contra as mulheres. A metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica de livros e artigos diversos sobre a temática da violência contra mulher e o gênero, com abordagem qualitativa. Diante da pesquisa podem-se tecer as seguintes considerações: (01) as construções histórias e sociais sobre o gênero influenciam a violência contra mulher; (02) com as reivindicações dos movimentos feministas, foi possibilitado a mulher conquistar o direito ao voto, de poder trabalhar fora de casa, ter independência financeira, e a criação da Delegacia da Mulher; e, (03) a Lei Maria da Penha garante proteção jurídica específica para as mulheres, coibindo a violência doméstica e familiar contra as mulheres, através de medidas de prevenção e repressão a violência contra as mesmas. 12 2. OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é analisar como as construções históricas e sociais sobre o gênero influem na violência contra mulher 2.1 Objetivos específicos Apresentar os tipos de violência contra mulher; conhecer as questões históricas e sociais sobre o gênero Verificar como os movimentos sociais feministas influenciaram na demanda por direitos. 13 3. METODOLOGIA Desta forma é utilizada foi a revisão bibliográfica de livros e artigos diversos sobre a temática da questão de gênero na violência contra mulher, caracterizando assim uma investigação qualitativa, exploratória e descritiva (GIL, 2009; FLICK, 2009; GAMSON, 2006). O interesse pelo tema surgiu em virtude do conhecimento do elevado número de mulheres que são agredidas por ano no Brasil, sendo que, muitas delas acabam sendo mortas por seus companheiros ou ficam com sérias sequelas em decorrência das agressões sofridas; por ser uma problemática que afeta especificamente as mulheres, independentemente de sua cor, crença religiosa, classe social, etc., tendo um viés de gênero em questão. O que nos instiga, a saber, as motivações destes fatos. Além do mais, conhecer a violência contra mulher a partir das teorias de gênero, propiciará compreender os tipos de violência existentes nas agressões à mulher, o que a Lei Maria da Penha trata sobre a temática e, quais as relações de gênero envolvidas nesta problemática, buscando trazer novas reflexões a discussão do tema no ambiente acadêm. 14 4. REVISÃO DE LITERATURA Para a Filósofa Marilena Chauí, a violência pode ser vista não como violação de normas ou leis, mais sim, como uma mudança de uma diferença, de uma disparidade presente em uma relação de desigualdade, que objetiva dominar, explorar e oprimir. Como também, pode ser compreendida como uma ação que trata uma pessoa não como sujeito, mais sim como uma coisa, sendo ela anulada, silenciada, demonstrando passividade (CHAUÍ, 2015). Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), em seu Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, a violência se dá quando se usa a força física ou o poder, de maneira real ou sob ameaça, contra si mesmo, outro indivíduo, grupo ou uma comunidade, causando ou vindo a causar lesão, morte, problemas psicológicos, deficiência no desenvolvimento e privação (FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012). Um tipo de violência muito presente em nossa sociedade é a violência contra mulher, um fenômeno antigo, que por muito tempo foi banalizado, tratado como normal. Utilizava-se o componente biológico como justificativa, trazendo como argumento a fragilidade da mulher, sua força física como inferior a masculina, e que ela teria uma racionalidade menor que o homem (CUNHA, 2014) Desde a Grécia, já tem-se relato de Aristóteles descrevendo o papel da mulher na família, onde independentemente de sua idade, o homem seria sempre superior à mesma, se impondo e a mulher só restava obedecer. Ao homem estava reservado o sustento da família, já a mulher era relegada a esfera privada, entendida como reino das necessidades, onde o homem se preparava, supria suas necessidades a fim de participar como cidadão da vida pública. O argumento de “lugar da mulher” surge com a propriedade privada e a acumulação de bens. Ante este fato, a sociedade passa a ser denominada de patriarcal, modelo no qual a mulher estava reservada às atividades domésticas, a reprodução, sendo exploradas e oprimidas; ao homem, o papel de provedor, a força física e emocional, a última palavra em uma decisão (PEDRO; GUEDES, 2010). 5. DESENVOLVIMENTO O vocábulo violência vem da palavra latina vis, que quer dizer força e se refere às noções de constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro. A violência é mutante pois sofre a influência de épocas, locais, circunstâncias e realidades muito diferentes. Existem violências toleradas e violências condenadas, 15 pois desde que o homem vive sobre a Terra a violência existe, apresentando-se sob diferentes formas, cada vez mais complexas e ao mesmo tempo mais fragmentadas e articuladas. A violência é um fenômeno extremamente difuso e complexo cuja definição não pode ter exatidão científica, já que é uma questão de apreciação, é influenciada pela cultura e submetida a uma contínua revisão na medida em que os valores e as normas sociais evoluem. O movimento feminista, do início da 2ª metade do século passado, destacou-se por denunciar casos de violência contra a mulher, dando luz a essa realidade que, até então, só era mencionada em âmbito privado. A violência exercida dentro dos lares permanecia sem que ninguém fizesse nem dissesse nada. Até então, não era manifestada abertamente tendo o apoio das condições sociais da época. De acordo com a Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, adotada pela OEA em 1994) violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado. A mulher, nos diversos momentos históricos, ocupou papel inferior ao do homem, cujos direitos encontravam subordinados ao machismo evidenciado no contexto. Nessa vertente, Rodrigues et al. (2014) destacam que a luta pela igualdade se mostra como uma condição necessária, na medida em que o feminismo, seguindo tal princípio, tem como premissa destacar que mulher não pode sofrer qualquer discriminação somente por ser mulher, tendo respeitada sua integridade física e psíquica, condição fortalecida pela Educação, haja vista que a instituição escolar precisa ter como compromisso disseminar conhecimentos teóricos e valores tidos como significativos na sociedade. Segundo a Organização das Nações Unidas OMS (1998) “a violência contra a mulher no âmbito doméstico tem sido documentada em todos os países e ambientes socioeconômicos, e as evidências existentes indicam que seu alcance é muito maior que se supunha. A definição das Nações Unidas para o termo violência contra a mulher diz respeito possível ou real em dano físico, sexual, ou psicológico, incluídas as ameaças, a coerção ou a privação arbitrária da liberdade, seja na vida pública, seja na vida privada” (OMS/OPS, 1998). 16 "A justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica" (Blaise Pascal) Infelizmente o ano de 2019 não terminou bem para as mulheres, no que diz respeito à violência contra elas. E pelas notícias do ano que se inicia, se nada for feito de mais concreto, a tendência não é das mais animadoras. Os números nos mostram que estamos claramente, de maneira analógica, começando a viver em uma situação epidêmica de violência contra a mulher. O Estado de São Paulo registrou de janeiro a novembro de 2019, 154 feminicídios, que já ultrapassaram os 134 casos de todo o ano de 2018. E infelizmente a região de Campinas não tem contribuído para a redução desses números. Inclusive nos primeiros dias de 2020 já tivemos um caso de feminicídio em Campinas e no Estado já houve outros tantos. Precisamos parar de tampar o sol com a peneira; precisamos urgentemente começar a curar essa nossa ferida de maneira efetiva, sem paliativos, e para isso é necessário encarar a verdade: convencemos as mulheres que deveriam se empoderar, não aceitar as agressões, mas não demos ferramentas adequadas para esse enfrentamento, que é justo. A Lei Maria da Penha deu um grande passo nesse sentido, mas como toda lei já esta na hora de ser aprimorada, enriquecida. Enquanto tivermos uma justiça branda para os crimes de agressão, de pouco valerá a punição após a morte de uma mulher (a maioria dos casos de feminicídio começam com um empurrão ou ameaça verbal). A sociedade não pode ter como prioridade a punição, mas sim evitar a morte das mulheres. Não podemos negar que houve alguns avanços nesse sentido, como a Lei Maria da Penha já mencionada e a criação das Delegacias de Defesa da Mulher (DDM), mas temos que admitir que diante do cenário ainda é pouco. Temos que reconhecer que em relação a este tema, a polícia pode fazer muito pouco; a responsabilidade é do legislativo, do judiciário e do Executivo. O legislativo, aprimorando as leis de proteção à mulher, a justiça, sendo menos complacente e tolerante nos casos de simples agressão, sentenciando o agressor à pena imediata - e dentre elas, passar por um programa de tratamento (na maioria dos casos isso é uma doença psicológica e comportamental). Não adianta simplesmente dar um papel na mão da vítima, chamada "ordem de restrição" e deixar que ela "que se vire". O executivo precisa se modernizar para que se cumpra a determinação judicial, com sistemas tecnológicos tais como pulseiras eletrônicas, que hoje permitem facilmente detectar a aproximação do agressor com antecedência, como acontece na Espanha e França há alguns anos. Para se ter ideia, no último relatório 17 da Organização Mundial da Saúde, o Brasil ocuparia a 7ª posição entre as nações mais violentas para as mulheres, de um total de 83 países. Só espero que o Estado tome providências para que nós, brasileiros, não sejamos considerados um dos homens mais imbecis do Planeta Terra. A violência contra a mulher transcende o espaço privado e se reflete no espaço público. É fonte de pesquisa na área acadêmica e permite que pesquisadores, militantes feministas e profissionais da saúde mantenham uma interação entre si (GROSSI, 1998). É importante, para entender o contexto da violência, que o assunto traga consigo elementos e interações complexas que exigem ações multidisciplinares Segundo Da Ros (2000, p.61), [..] a compreensão do processo de construção do conhecimento na área de Saúde Pública, em que convivem simultaneamente diversas formas de pensar e atuar, requer estudos que dêem conta de uma epistemologia altamente complexa. E a várias dessas formas (de pensar) o tema violência que ainda não foram incorporadas. Lidar com a violência doméstica demanda a intervenção de diferentes profissionais e instituições distintas. A violência doméstica não é tão-somente um caso de polícia, mesmo porque se lida com relações intrafamiliares, que são complexas, embora a polícia também deva ser vista como uma das partes que compõem a rede de combate à violência doméstica (LIMA, 1999). No Brasil, os primeiros frutos das reivindicações feministas foram a criação dos Conselhos Estaduais de Direitos das Mulheres (1982 e 1983), das delegacias de Polícia de Defesa da Mulher e da primeira Casa Abrigo para Mulheres (1986). Essas iniciativas formam um espaço de denúncia e de políticas públicas (COELHO, 1999) para diminuir a violência doméstica, mais especificamente, a violência conjugal contra a mulher (COELHO, 1999, RNFS, 2002). São várias as dificuldades encontradas para quantificar a violência. Muitas mortes violentas não são notificadas, e metade dos suicídios é registrada como acidente (CRM-SP, 1998). Muitas vezes, são relatadas quedas acidentais, o que mascara a violência doméstica (DESLANDES, 1999). No início da década de 1990, foi intensa a ligação entre a militância e a academia, na produção significativa de artigos e teses sobre feminismo e violência contra a mulher. Essa produção diminuiu na segunda metade da década, devido ao aumento do campo de estudos sobre a mulher nas universidades e à implantação de políticas públicas voltadas às mulheres 18 (GROSSI, 1994). Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, n. 40, p. 509-527, Outubro de 2006 511 H Revista de Ciências U MANAS Nessa década, também avançaram as discussões sobre o tema, com debates internacionais. A violência passou a abranger o assédio sexual, o abuso sexual infantil e as violências étnicas. O termo "violência contra a mulher" adquiriu uma categoria política, que torna emergentes as desigualdades na relação homem-mulher (BRANDÃO, 1998). O CEVIC foi criado em 1997, em uma parceria do Governo Federal, pelo Ministério da Justiça, com o Governo do Estado de Santa Catarina, pela Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, como objetivo de prestar atendimento social, psicológico e jurídico a vítimas de crime na Grande Florianópolis, que abrange os municípios de São José, Palhoça, Paulo Lopes, Antônio Carlos, Águas Mornas, Governador Celso Ramos e Santo Amaro da Imperatriz. O atendimento é prestado a pessoas que são ou se sentem vitimas de algum tipo de crime. As vitimas são encaminhadas ao CEVIC por diversas vias, tais como: delegacias de policia; conselhos tutelares ou programas de atenção a crianças e adolescentes; são encaminhadas por outros usuários ou pela mídia. A partir disso, este artigo tem por objetivo conhecer os motivos que mantêm a mulher vítima de violência em um relacionamento violento. 5.1 Gênero e Violência Quando se aborda a temática constata-se que a maioria dos casos de violência contra a mulher ocorre dentro do próprio lar da vítima e o agressor, em sua maioria, é alguém de seu convívio, que a conhece, destacando o companheiro, marido, pai, filhos, irmão, amigo, vizinho. Diante de tal realidade a mulher se torna duplamente refém: primeiro porque é vítima da violência de gênero propriamente dita, e segundo pelo fato de que alguém que lhe deveria dar carinho e proteção lhe ocasiona dor, sofrimento e até mesmo a morte (NUNES, 2014). O conceito de gênero foi trabalhado, inicialmente, pela antropologia e pela psicanálise, situando a construção das relações de gênero na definição das identidades feminina e masculina, como base para a existência de papéis sociais distintos e hierárquicos (desiguais) (FARIA1997). O contexto histórico da categoria gênero está ligado ao Movimento Feminista e à produção de conhecimento. Feminino ou estudos da mulher. A partir dessa data, 19 no Brasil, o movimento feminista passou a ter significativa inclusão no espaço público, a fazer exigências e reivindicações políticas. No período entre 1985 e 1990, a categoria gênero passou a ser utilizada de forma mais sistemática, entre as estudiosas aqui no Brasil, para destacar a construção social e histórica realizada sobre as características biológicas de uma determinada pessoa. O conceito passa a ser utilizado de forma relacional, ou seja, os estudos feministas que enfocavam só as mulheres, agora, passam a reportar-se de forma explícita a homens e mulheres, passando a chamarem-se estudos de gênero ou das relações de gênero. Segundo Faria (1997), esse conceito coloca claramente o ser mulher e o ser homem como uma construção singular, a partir do que é estabelecido, simbolicamente, como feminino e masculino, bem como dos papéis sociais destinados a cada uni, no interior da sociedade. De acordo com o Conselho Regional de Serviço Social (2003), os papéis de gênero são comportamentos específicos, associados a homens e mulheres, os quais mudam de cultura para cultura. Já identidade de gênero seria um conjunto de convicções pelas quais se considera socialmente o que é masculino ou feminino. Esse núcleo de nossa identidade de gênero se constrói, em nossa socialização, a partir do momento em que nascemos e somos rotulados como menino ou menina. Gênero é entendido, pois, como a forma social como cada sexo recebe conotações específicas em termos de valores e normas. É uma aquisição obtida no decurso do processo comunitário que prepara os sujeitos para desempenhar condutas conforme sua natureza biológica (CARDOSO, 1997). Para Brasil (1995), gênero, em um aspecto geral, é um termo que se refere a um sistema de papéis e de relações entre mulheres e homens, que não são determinados pela biologia, mas pelo contexto social, político e econômico. De acordo com Scott (1995), a utilização da palavra gênero está, igualmente, para além da questão biológica. Sendo uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres, o uso de gênero dá ênfase a todo um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas ele não é diretamente determinado por ele, nem determina diretamente a sexual idade. 20 Segundo Teles e Melo (2003), a violência de gênero pode ser compreendida como "violência contra a mulher", expressão trazida à tona pelo movimento feminista nos anos 70, por ser esta o alvo principal da violência de gênero. Enfim, são usadas várias expressões e todas elas podem ser sinônimas de violência contra a mulher. Ainda hoje em muitos países, as mulheres são submetidas a atos abusivos, isso é considerado uma questão cultural, sendo que muitas delas acabam morrendo em consequência de tal agressividade, das mutilações que estas sofrem em seus corpos. Estudos realizados em países como Bangladesh, Camboja, índia, México, Papua Nova Guiné, Tanzânia e Zimbábue, constataram que a violência é frequentemente vista como uma punição física, ou seja, é um direito do marido de "corrigir" uma mulher que cometeu uma transgressão. A violência de gênero é universal, não sendo restrita a uma determinada classe social, área geográfica ou determinado jeito de ser mulher, de acordo com certos contextos sociais e culturais e o envolvimento de classe, etnia e geração (CORDEIRO, 1995 apud SOUZA, 2002). A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou, por meio de nota publicada hoje (4), preocupação quanto à elevada incidência de assassinatos de mulheres no Brasil no início deste ano. Segundo a comissão, 126 mulheres foram mortas em razão de seu gênero no país desde o início do ano, além do registro de 67 tentativas de homicídio. A comissão diz que os que casos chegaram a seu conhecimento exigem do Estado a implementação de estratégias abrangentes de prevenção e reparação integral às vítimas, além de investigações "sérias, imparciais e eficazes dentro de um período de tempo razoável", que possibilitem a punição dos autores dos crimes. Uma das medidas que se fazem urgentes, segundo a CIDH, é a formação, a partir de uma perspectiva de gênero, de agentes públicos e pessoas que prestam serviço público. "A CIDH enfatiza que os assassinatos de mulheres não se tratam de um problema isolado e são sintomas de um padrão de violência de gênero contra elas em todo o país, resultado de valores machistas profundamente arraigados na sociedade brasileira", diz a nota. A comissão também faz um alerta para o aumento dos riscos enfrentados por mulheres em situação de vulnerabilidade por conta de sua origem étnico-racial, orientação sexual, identidade de gênero, situação de mobilidade humana, aquelas 21 que vivem em situação de pobreza, as mulheres na política, jornalistas e mulheres defensoras dos direitos humanos. “Durante a visita in loco ao país, em novembro de 2018, a CIDH observou, em particular, a existência de interseções entre violência, racismo e machismo, refletidas no aumento generalizado de homicídios de mulheres negras. Ademais, a comissão vê com preocupação a tolerância social que perdura diante dessa forma de violência, bem como a impunidade que continua caracterizando esses graves casos", diz. Na nota, a organização, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), cita o fato de que o Brasil concentrou 40% dos feminicídios da América Latina, em 2017. "A impunidade que caracteriza os assassinatos de mulheres em razão de seu gênero transmite a mensagem de que essa violência é tolerada", diz a CIDH. A presidenta da CIDH, Margarette May Macaulay, reconhece o valor da lei que tipifica o feminicídio no Brasil, ao mesmo tempo que entende ser essencial que as autoridades competentes não minimizem a gravidade das queixas prestadas pelas vítimas. “É inadmissível que mulheres com medidas protetivas sejam mortas, que não contem com espaços seguros", diz Margarette, que também é relatora da comissão sobre os Direitos das Mulheres. 5.2 Violência Doméstica Contra a Mulher A violência doméstica não é plenamente visível, e, muitas vezes, é desconsiderada como crime tanto pelo âmbito social, quanto pelo jurídico. Nesse sentido, o Poder Judiciário aparenta estar imerso no que há de mais retrógrado e conservador. Quando a sociedade é discriminatória, a Justiça tende a ser, não raro, ainda mais. Realidade que se visualiza com muita nitidez no âmbito da violência contra a mulher. Normalmente a sociedade e o Judiciário acabam privilegiando mais a família, prezam a preservação da entidade familiar. Há, assim, uma verdadeira sacralização do conceito de família como sendo o reduto social mais significativo. A cruel consequência é que não se pune a violência doméstica somente para preservar a entidade familiar, ou seja, a tendência é não tirar o homem do lar, não punir o agressor a fim de não desestruturar a família. No entanto, quem paga o preço é a mulher, seu corpo, sua integridade física e psicológica. É a solução 22 perversa, pois a mulher acaba sendo a grande vítima dos delitos domésticos (SOUZA, 2002). A violência contra a mulher permanece oculta, pela vergonha de denunciar, pela falta de acesso às informações jurídicas, pelo descaso das autoridades, pela inexistência de políticas públicas que atenda suas necessidades, pela falta de capacitação das pessoas que as atendem. Segundo Langley e Levy (1980), quando as mulheres optam por ocultar a violência, quase sempre os motivos que as levam a isso é: uma autoimagem fraca; achar que o marido vai mudar; as dificuldades econômicas; a necessidade de apoio econômico do marido para os filhos; as dúvidas sobre se podem viver sozinhas; a crença de que o divórcio é algo como um estigma e o fato de acharem que é difícil para uma mulher com filhos arranjar trabalho. Dentre as diversas situações de violência das quais as mulheres são vítimas, destaca-se a violência doméstica, que se refere a todas as formas de violência e os comportamentos dominantes praticados no âmbito familiar(3). Investigações realizadas em serviços de saúde mostram prevalências anuais de violência contra mulher perpetrada pelo parceiro íntimo oscilando entre 4 a 23% e aumentando para valores de 33 a 39%, quando considerada a violência no período total de vida dessas mulheres(4). A este respeito, estudo(5) realizado em uma unidade de atenção primária à saúde, em que se avaliou a frequência dos casos de violência, a natureza, a gravidade e a relação da mulher com o agressor, verificou-se que, 44,4% das usuárias relataram pelo menos um episódio de violência física na vida adulta, sendo que em 34,1% o ato de violência partiu de companheiros ou familiares. Verificou-se a ocorrência de pelos menos um episódio de violência sexual na vida adulta, 11,5% das mulheres e em 7,1% dos casos, os autores da ação eram companheiros ou familiares. Conclui a autora que a violência física e sexual teve alta magnitude nesse serviço, sendo que os companheiros e familiares foram os principais perpetradores, e os casos são, em sua maioria, severos e repetitivos. Os serviços de saúde são importantes na detecção do problema, porque têm, em tese, uma cobertura e contato com as mulheres, podendo reconhecer e acolher o caso antes de incidentes mais graves (5). Desta forma, a identificação de mulheres em situação de violência é de extrema importância. 23 Entretanto, o setor saúde nem sempre oferece uma resposta satisfatória para o problema, o qual acaba se diluindo entre outros agravos, sem que se leve em consideração a intencionalidade do ato que gerou o estado de morbidade. Esta situação de invisibilidade decorre do fato de que os serviços se limitam a cuidar dos sintomas e não contam com instrumentos capazes de identificar o problema (6). E é neste contexto que os estudos (7) realizados nos serviços de saúde mostram que os profissionais de saúde não identificam que as mulheres estão em situação de violência, mesmo quando as lesões apresentadas trazem evidências da ocorrência da violência. Vale considerar que a violência contra a mulher, em particular a violência doméstica, embora presente na maioria das sociedades continua sendo um fenômeno invisível, sendo por vezes, aceita socialmente como normal, ou seja, como uma situação esperada e costumeira (3). Desta forma a violência nas relações de gênero não é reconhecida nos serviços de saúde ou contabilizada nos diagnósticos realizados, sendo caracterizada como problema de extrema dificuldade para ser abordado (8). Assim, a não identificação da situação de violência pelos profissionais de saúde contribui para perpetuar o ciclo de violência, diminuindo a eficácia e a efetividade dos serviços de saúde, como também, consumindo recursos financeiros (9). Nesta perspectiva, de acordo com a Organização Mundial da Saúde os profissionais de saúde têm um papel crucial na detecção da violência, principalmente, porque muitas vezes este é o único lugar procurado pelas mulheres nessas situações (10). Frente à prática clínica, em que a violência contra mulher tende a se manter na invisibilidade, a conduta dos profissionais de saúde é de não acolhimento às necessidades das mulheres, restringindo suas ações a encaminhamentos, o que também nem sempre resulta em resposta adequada às demandas das mulheres. Acreditamos que este estudo possa trazer subsídios para formação e capacitação de profissionais da saúde, de modo a proporcionar uma maior visibilidade ao problema e permitir a implementação de estratégias mais efetivas frente a mulheres em situação de violência. São vários os fatores que colocam as mulheres em posições de submissão aos homens. A educação recebida quando pequena já é diferenciada, as mulheres foram criadas para serem frágeis, boas donas de casa, criarem os filhos e cuidarem 24 do marido. Já o homem, deve ser forte, provedor da família, respeitado por sua esposa. A submissão da mulher aos atos violentos do homem não é de agora e sim de séculos, haja vista que sempre foram educadas para servir o marido, para cuidar da casa e dos filhos. Os homens, desde cedo, são programados para responder às expectativas sociais, para serem competitivos, agressivos, assumindo posturas arrebatadas ou auto-destrutivas. A noção de que o menino tem que ser "macho", viril, competitivo, desenvolve-se de diferentes maneiras e em diferentes lugares: nas brincadeiras infantis, na mídia segmentada por idade e sexo, nas ruas, escolas, casas, bares, quartéis, prisões, na guerra, etc. Ou seja, são socializados para reprimir suas emoções, sendo a raiva, e inclusive a violência física, formas socialmente aceitas como expressões masculinas de sentimentos e demonstração de poder (CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL — CRESS, 2003). A violência manifesta-se através da força, a mesma pode estar presente tanto nas classes sociais, quanto nos relacionamentos interpessoais. Estas relações de força têm como objetivo a imposição de dominação, ou seja, de poder, que visa coagir o outro à realização da sua vontade, ao respeito das suas regras, retirando- lhe a capacidade de expressão e decisão. E tais imposições e opressões talvez sejam o retrato mais verdadeiro da violência, fenômeno que permanece praticamente invisível, por ser pouco divulgado. Ainda hoje, a violência contra a mulher, mais especificamente a violência doméstica, geralmente é vista como um problema particular, íntimo do casal, e não como um problema social. Barros (1999) afirma que, nos casos de violência física, agressão contra a mulher, em sua maioria, não é feita a ocorrência, por pressão familiar, para evitar escândalos, para a acomodação do conflito, especialmente nas brigas de casais, principalmente quando não é a primeira briga. Em um próximo acontecimento, começa a se imputar responsabilidades sobre a mulher, como se ela tivesse merecido ser agredida; o momento de revolta é sempre por parte da família da mulher, pois não é aceitável ver a mãe, filha ou irmã sendo agredida, e quando o fato para a mulher já está implícito em seu convívio, ela mesma acoberta dizendo que "ele é assim mesmo, foi criado assim", ou "pior seria sem ele"; em alguns casos ele, "o marido" é quem traz o sustento para casa, o que a faz passar de vítima a reprodutora da violência. 25 A sociedade mais tradicional, no assunto das repreensões masculinas sobre a mulher, aceita e glorifica a força física e verbal usada nas circunstâncias "certas" do marido contra sua esposa. Sendo assim, a violência doméstica passa a fazer parte do cotidiano das relações conjugais, não configurando qualquer abuso, mas simples uso legítimo da autoridade marital. Conforme Barros (1999), a naturalização e a banalização da violência no cotidiano feminino dá-se num esquema sutil de dominação, seja psicológica ou física, o que cria um obstáculo para o reconhecimento dos fatos. É como se esta fosse uma realidade natural e necessária e seus desdobramentos, comuns e cotidianos. Essas situações de violência refletem um limite de coação e desestruturação psicológica da mulher, inferiorizando o seu papel dentro da família, mudando o sentido das relações sociais que já havia sido construído no seu cotidiano, passando a tratar o que é imposto, dominador e violento, como naturalidades. Em 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas (apud POPULATION REPORTS, 1999) introduziu a primeira definição oficial deste tipo de violência quando adotou a "Declaração para Eliminação da Violência Contra as Mulheres". De acordo com o Artigo 1° desta declaração violência contra as mulheres incluí: Tal condição ressalta que a Lei constitui um acontecimento capaz de demandar “um novo regime de verdade, [...] já que visibiliza o ato violento como uma infração de direitos humanos” (MENEGHEL et al., 2013, p. 692). Nota-se que o aparato legal tem como premissa a transformação da relação entre vítimas e agressores, além de elaborar processamento desses crimes, atendimento policial e a assistência do Ministério Público nos processos judiciais. Particularmente nos casos de violência, a Lei busca quebrar os paradigmas da cultura sexista secular, a qual mantem a desigualdade de poder nas relações entre os gêneros, cuja origem se personifica nas mais amplas estruturas da sociedade. Sob tal prisma, é possível verificar a mudança de paradigma na abordagem do problema da perspectiva da dominação masculina e patriarcal, passando para a categoria de gênero (NUNES, 2014). 26 Esses pontos direcionais têm influenciado um discurso renovado sobre as relações entre os sexos que, embora se modernize a cada dia, ainda não garante alguns direitos humanos mínimos, historicamente negados às mulheres por processos de socialização em que o modo relacional com os homens é baseado em esquemas de dominação e submissão. (FREITAS, 2013, p. 12). As informações históricas apresentadas são responsáveis por apresentar a luta pela busca dos direitos das mulheres, na medida em que é possível verificar o papel assumido pelo dito “sexo frágil” ao longo dos séculos. Como se identifica em Carneiro (1994), a condição ressaltada mostra a fundamentação da definição tradicional das relações entre os gêneros, os quais, apesar de tantas lutas e conquistas, ainda encontra certo reconhecimento público do status social feminino. Por conta disso há de se levar em consideração não somente fatores objetivos no processo, resultado das condições materiais de vida, assim como os valores ideológicos que estruturam as relações entre os sexos e conformadores das identidades sociais dos gêneros, para, somente assim, efetivar as conquistas apresentadas no contexto contemporâneo. A violência não é algo novo no meio social, estando presente nos mais variados momentos da história da humanidade, e que, muitas vezes, não é analisada em sua complexidade por conta da tentativa de se ignorar suas consequências, onde a mesma apresenta características próprias e divisíveis, destacando a violência física, psicológica, social, econômica, doméstica, ocorrendo contra os diversos agentes sociais, nas mais variadas idades (AMARAL et al., 2013). Segundo Kronbauer e Meneghel (2005, p. 696), a violência de gênero, foco do presente estudo, apresenta como conceito “qualquer ato que resulta ou possa resultar em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, inclusive ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária de liberdade” seja em público ou na vida privada, incluindo maus tratos, castigos, agressão sexual, incesto, pornografia. Particularmente no que se refere à violência contra a mulher, esta se mostra como um fenômeno mundial, responsável por atingir todas as classes sociais, marcadas, principalmente, por uma condição sexual, por isso a terminologia sexista, reflexo de uma sociedade machista e patriarcal. Para Chauí (1985 apud AZEVEDO, 1985, p. 18) 27 [...] violência é uma realização determinada das relações de força tanto em termos de classes sociais quanto em termos interpessoais. Em lugar de tomarmos a violência como violação e transgressão de normas, regras e leis, preferimos considera-las sob dois outros ângulos. Em primeiro lugar, como conversão de uma diferença e de uma assimetria numa relação hierárquica de desigualdade, com fins de dominação, de exploração e de opressão. Isto é, a conversão dos diferentes em desiguais e a desigualdade em relação entre superior e inferior. Em segundo lugar, como a ação que trata um ser humano não como sujeito, mas como uma coisa. Esta se caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silêncio de modo que, quando a atividade ou a fala de outrem são impedidas ou anuladas, há violência. A violência nem sempre se caracteriza por agressões físicas, pode se caracterizar pela dominação de uma classe sobre a outra, de uma pessoa contra outra, ou seja, impedir alguém de se expressar e tomar suas próprias decisões, por consider -10 inferior intelectualmente ou socialmente, é violência. Para Teles e Melo (2003, p.15), Violência se caracteriza pelo uso da força, psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger, e tolher a liberdade, é incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo a sua vontade, sob pena de viver gravemente ameaçada ou até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter outrem ao seu domínio, é uma violação dos direitos essenciais do ser humano. A Violência muitas vezes é utilizada de forma sutil, ou seja, aquele que agredi toma um certo cuidado para dominar o estado emocional do outro, deixando o mesmo sempre em alerta, com medo do que possa acontecer se tiver alguma reação contrariando o agressor. Em Griebler e Borges (2013) nota-se que esse tipo de violência é resultado das relações desiguais que foram estabelecidas ao longo dos séculos entre homens e mulheres, mediante a estruturação de modelos de padrão familiares europeus, mononuclear, burguês, moralizante e apresentando papeis definidos de maneira clara. Ainda nessa vereda destaca-se que a violência contra a mulher se reveste de complexidade conceitual, assim como diferentes significados e causas, sendo, inclusive, instrumento de controle do homem sobre a mulher, no qual este se sente possuidor desta e com direitos sobre a mesma, inclusive casos que culminam no direito sobre a vida e a morte, 28 Sabemos que a violência contra a mulher existe desde os primórdios da humanidade, sendo resultado de relações de poder historicamente desiguais em relação aos homens, que avançaram para a dominação e discriminação da classe feminina, restringindo o pleno desenvolvimento da mulher. (SOARES et al., 2013, p. 23). No contexto atual Griebler e Borges (2013) destacam que a violência sexista se configura como um sério problema de saúde pública em razão das consequências negativas que se associam a sua ocorrência, impedindo e prejudicando o desenvolvimento de uma vida saudável, seja pelo alto custo social resultante, 56 Publ. UEPG Appl. Soc. Sci., Ponta Grossa, 24 (1): 51-62, jan./abril. 2016 Disponível em Lauriberto de Jesus Bertoni Junior como também pelas perdas humanas, gastos com atendimentos no setor da saúde e no âmbito jurídico. No Brasil, a partir da segunda metade do século XX, o alarmante índice de violência praticado contra a mulher no ambiente doméstico foi responsável pela criação de serviços voltados à questão, como, por exemplo, delegacias de defesa da mulher, centros de referência multiprofissionais e casas-abrigo, os quais focam, sobretudo, a violência física e sexual cometida por parceiros e ex parceiros. Destaque, também, para a criação dos serviços de atenção à violência sexual para a prevenção e profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), gravidez indesejada, assim como realização de aborto legal (NUNES, 2014). Voltando aos aspectos que envolvem a violência doméstica e familiar, assim como os tipos de violência é pertinente utilizar-se de Bastos (2006), o qual destaca que, o artigo 5º da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como “Lei Maria da Penha”, menciona os aspectos que envolvem a violência doméstica e familiar: Art. 5º: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. (BRASIL, 2006, p. 2). 29 O artigo 7º, por sua vez, apresenta as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, fundamental para um adequado entendimento e aplicabilidade da referida Lei 5.3 Tipos de violências: Violência física (visual): É aquela entendida como qualquer conduta que ofenda integridade ou saúde corporal da mulher. É praticada com uso de força física do agressor, que machuca a vítima de várias maneiras ou ainda com o uso de armas, exemplos: Bater, chutar, queimar, cortar e mutilar. Violência psicológica (não-visual, mas muito extensa): Qualquer conduta que cause danos emocional e diminuição da autoestima da mulher, nesse tipo de violência é muito comum a mulher ser proibida de trabalhar, estudar, sair de casa, ou viajar, falar com amigos ou parentes. Violência sexual (visual): A violência sexual está baseada fundamentalmente na desigualdade entre homens e mulheres. Logo, é caracterizada como qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada; quando a mulher é obrigada a se prostituir, a fazer aborto, a usar anticoncepcionais contra a sua vontade ou quando a mesma sofre assédio sexual, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade. O crime de estupro é definido como qualquer conduta, com emprego de violência ou grave ameaça, que atente contra a dignidade e a liberdade sexual de alguém. O elemento mais importante para caracterizar esse crime é a ausência de consentimento da vítima. É importante salientar que não é preciso haver penetração para que o crime se caracterize como estupro. Desde 2009 o Código Penal Brasileiro prevê, no artigo 213, que o estupro acontece quando há, com violência ou grave ameaça, “conjunção carnal ou prática de atos libidinosos”, prevendo penas que variam de seis a dez anos de prisão, podendo ser agravadas caso o crime resulte em morte, lesões corporais graves ou for praticado contra adolescentes. 30 No caso de menores de 14 anos, a questão do consentimento é ignorada. O ato sexual será considerado estupro, pois vítimas dessa idade não possuem o discernimento necessário para consentir com a prática sexual. O mesmo acontece quando a vítima, independentemente da idade, não tiver condições de consentir ou resistir ao ato como, por exemplo, pessoas muito embriagadas ou desacordadas. Os dados trazidos pela pesquisa apresentam cenários preocupantes. A mídia brasileira veiculou 32.916 casos de estupro no País entre os meses de janeiro e novembro de 2018. O levantamento criou três categorias diferentes desse crime: estupro comum, estupro coletivo e estupro virtual. O tipo comum de estupro é aquele cometido por um único autor presencialmente contra uma ou mais vítimas. Foram registrados 29.430 casos desse estupro nas notícias veiculadas pela mídia brasileira no período. Por outro lado, o estupro coletivo é aquele cometido por dois ou mais indivíduos contra uma ou mais vítimas de forma presencial. Entre janeiro e novembro de 2018, foram identificados 3.349 casos de estupro coletivo no Brasil. Já o estupro virtual é uma categoria recente na classificação dos crimes sexuais, mas em nada difere da noção de relação sexual abusiva. Neste cenário, a mulher sofre a ameaça de ter seu corpo exposto nas redes sociais, caso não atenda às exigências libidinosas do abusador. Em 2018, foram encontrados 137 casos de estupro virtual na imprensa. A cultura do estupro está presente em todas as fases da vida da mulher. Mais do que um desejo de atender a um impulso sexual, o estupro é um instrumento de poder, dominação. Cerca de 43% das vítimas desse crime possuem menos de 14 anos de idade. Esse é o chamado estupro de vulnerável. Meninas em formação ficam paralisadas sem compreender que quem deveria protegê-las é seu principal abusador. Este dado mostra o quão é urgente tratar das violências às quais as meninas estão expostas. O grupo de jovens com idade entre 15 e 18 anos vítimas de estupro em 2018 representam 18% dos casos analisados, com 5.760 episódios registrados. Cerca de 35% dos casos de estupro registrados pela imprensa brasileira tiveram como vítimas mulheres com idades entre 18 e 59 anos. Essa proporção representa 11.708 episódios de violência sexual em 2018. LEI Nº 13.718, DE 24 DE SETEMBRO DE 2018. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal): 31 [...] para tipificar os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro, tornar pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabelecer causas de aumento de pena para esses crimes e definir como causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo; e revoga dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais). 6. LEGISLAÇÃO CONTRA A CONDUTA DA VIOLÊNCIA A MULHER O PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Esta Lei tipifica os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro, torna pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável, estabelece causas de aumento de pena para esses crimes e define como causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo. Art. 2º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações: 6.1 “Importunação sexual” Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.” “Art. 217-A § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.” (NR) “Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia; Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: 32 Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. 6.2 Aumento de pena § 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. 6.3 Exclusão de ilicitude § 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.” “Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública incondicionada. Parágrafo único. (Revogado).” (NR) “Art. 226 II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: Estupro coletivo a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; Estupro corretivo b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.” (NR) “Art. 234-A III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez; IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência” (NR) Art. 3º Revogam-se: I - o parágrafo único do art. 225 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); II - o art. 61 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais). Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de setembro de 2018; 197o da Independência e 130o da República. Violência patrimonial (visual-material): importa em qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos pertencentes à 33 mulher, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. Violência moral (não-visual): Entende-se por violência moral qualquer conduta que importe em calúnia, quando o agressor ou agressora afirma falsamente que aquela praticou crime que ela não cometeu; difamação; quando o agressor atribui à mulher fatos que maculem a sua reputação, ou injúria, ofende a dignidade da mulher. (Exemplos: Dar opinião contra a reputação moral, críticas mentirosas e xingamentos). Obs: Esse tipo de violência pode ocorrer também pela internet. Uma forte dependência emocional: Um problema muito mais sério do que a dependência financeira de mulheres trabalhadoras em nível operacional (domésticas, copeiras, faxineiras etc.) é a dependência emocional muito grande em relação ao marido. Por exemplo, um marido alcoólatra que espanca a mulher, que não provê a casa etc. Essa mulher vive nessa situação durante 15, 20 anos. Ela não pode alegar que não se separa por causa dos filhos porque estes já estão criados e afastados de casa. Alguém pergunta para essa mulher: 'Por que você não resolve o seu problema?'. Ela responde: 'Ah, eu tenho pena dele porque, se eu me separar dele, ele vai virar indigente'. Acontece que ela confunde os papéis de esposa com os de mãe. Ela também assume a condição de maternidade em relação ao marido, mantendo o casamento deles durante muitos e muitos anos. Isso se constata num grande número de casos que nós atendemos, porque apenas 50% dizem que vão se separar e fazem realmente o que se propuseram. Elas chegam a denunciar o marido, mas não chegam a se separar. Por sua vez, o homem acaba se acomodando porque lá na Delegacia não resolvem o problema. Inclusive, a própria mulher pode recuar. Ainda hoje se vê de forma muito negativa a mulher separada que é considerada uma ameaça, uma mulher de mil homens etc. O que elas mais afirmam é: 'ruim com ele, pior sem ele'. Como acabam, muitas vezes, não levando adiante a sua decisão, os maridos se acomodam também. 6.4 Os distúrbios emocionais mais graves Em alguns casos, elas podem apresentar distúrbios mentais muito acentuados. Não sei dizer se são causa ou efeito, mas tenho encontrado alguns casos de mulheres que já apresentam um distúrbio mental até a nível de surto psicótico. Elas vivem num ambiente desses, como já descrevi, e acabam sendo as 34 depositárias dos problemas de todo mundo. Dizem que 'ela é louca, desequilibrada, então vamos bater nela porque assim ela não dá trabalho para a gente'. São condições de tortura. Entretanto, quando analisamos a dinâmica familiar, constatamos que ela teve um distúrbio mental e ela é a pessoa mais estruturada nessa família porque ela denuncia os problemas. O problema do alcoolismo masculino é muito acentuado, embora também existam os casos femininos que são muito menos denunciados. Em um dos nossos grupos de mulheres, diversas delas tinham marido com problemas de alcoolismo. Uma delas dizia que o problema dela não era tão grave assim como as outras estavam falando. Ela dizia: 'O meu marido só fica nervoso quando bebe. Ele fica nervoso, pega o revólver e fica virando o tambor do revólver na minha cabeça, pela casa toda. Outro dia ele até deu um tiro na cozinha porque estava de fogo, mas ele não é assim'. Quer dizer, a patologia dessa mulher está tão preocupante quanto a do marido. Ela nem estava conseguindo perceber a gravidade da situação. Por isso, existem conteúdos que precisam ser trabalhados a nível emocional da mulher, para ela não precisar se apoiar tanto no marido como uma muleta. Ela consegue sentir-se gente somente quando tem um marido ao lado dela. O panorama do feminicídio no Brasil é preocupante, e por isso, foi tema de um encontro promovido pela iniciativa de Diversidade e Gênero da representação do BID no Brasil no Mês da Mulher, com a presença da delegada chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher do DF, Sandra Melo, e do professor Welliton Caixeta, da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. Os convidados esclareceram dúvidas sobre feminicídio, falaram sobre questões histórico-culturais da violência contra a mulher, além dos desafios para os gestores públicos implementarem políticas públicas. Como se inicia o ciclo da violência contra a mulher e como rompê-lo? Como mudar a cultura do medo, do silêncio? “O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou a tratamento cruel ou degradante.” 35 Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Suas motivações mais usuais são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres, comuns em sociedades marcadas pela associação de papéis discriminatórios ao feminino, como é o caso brasileiro. “O feminicídio representa a última etapa de um continuo de violência que leva à morte. Seu caráter violento evidencia a predominância de relações de gênero hierárquicas e desiguais. Precedido por outros eventos, tais como abusos físicos e psicológicos, que tentam submeter as mulheres a uma lógica de dominação masculina e a um padrão cultural de subordinação que foi aprendido ao longo de gerações”. No Brasil, o cenário que mais preocupa é o do feminicídio cometido por parceiro íntimo, em contexto de violência doméstica e familiar, e que geralmente é precedido por outras formas de violência e, portanto, poderia ser evitado. Trata-se de um problema global, que se apresenta com poucas variações em diferentes sociedades e culturas e se caracteriza como crime de gênero ao carregar traços como ódio, que exige a destruição da vítima, e também pode ser combinado com as práticas da violência sexual, tortura e/ou mutilação da vítima antes ou depois do assassinato. 6.5 Feminicídio: O que diz a lei brasileira O crime de feminicídio íntimo está previsto na legislação desde a entrada em vigor da Lei nº 13.104/2015, que alterou o art. 121 do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. Assim, o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino, isto é, quando o crime envolve: “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Os parâmetros que definem a violência doméstica contra a mulher, por sua vez, estão estabelecidos pela Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) desde 2006: qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, independentemente de orientação sexual. 36 A Lei de Feminicídio foi criada a partir de uma recomendação da CPMI que investigou a violência contra as mulheres nos Estados brasileiros, de março de 2012 a julho de 2013. É importante lembrar que, ao incluir no Código Penal o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, o feminicídio foi adicionado ao rol dos crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990), tal qual o estupro, genocídio e latrocínio, entre outros. A pena prevista para o homicídio qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. 6.6 Feminicídio: O que diz a lei brasileira O crime de feminicídio íntimo está previsto na legislação desde a entrada em vigor da Lei nº 13.104/2015, que alterou o art. 121 do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. Assim, o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino, isto é, quando o crime envolve: “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Os parâmetros que definem a violência doméstica contra a mulher, por sua vez, estão estabelecidos pela Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) desde 2006: qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, independentemente de orientação sexual. A Lei de Feminicídio foi criada a partir de uma recomendação da CPMI que investigou a violência contra as mulheres nos Estados brasileiros, de março de 2012 a julho de 2013. É importante lembrar que, ao incluir no Código Penal o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, o feminicídio foi adicionado ao rol dos crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990), tal qual o estupro, genocídio e latrocínio, entre outros. A pena prevista para o homicídio qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. Há muito tempo eu digo que essa violência é cultural, mas hoje já a considero histórica. Na verdade, vê-se no Brasil uma estrutura social que privilegia muito o papel do macho, do que é masculino, colocando a mulher sempre em segundo plano no que diz respeito à sua visibilidade, seus direitos e suas escolhas. Ao contrário do 37 que a maioria pensa, na minha opinião essa violência não é desencadeada pelo álcool, pela droga, pelo desemprego ou outros fatores de desajuste social, mas sim pelo conflito que o masculino tem em relação a esse feminino. Estamos observando que o feminino está se empoeirando e, mais ainda, se apoderando daquilo que são seus direitos e isso tem gerado conflitos. A violência contra a mulher, no seu início, passa quase desapercebida devido aos preconceitos culturais da nossa sociedade, mas aos poucos torna-se abusivo tolhendo o direito da mulher de ir e vir, de estudar, de crescer profissionalmente, etc. Esse tipo de violência tem crescido ao longo dos últimos anos e culminado nos casos de feminicídio que presenciamos. A Lei Maria da Penha um divisor de águas para a sociedade brasileira. Essa lei trouxe novas ferramentas para o estado abordar problemas há muito existentes e inova quando traz o problema a público. Como se sabe, a lei surgiu a partir de um caso emblemático de violência contra a mulher que representava a situação de milhares de mulheres brasileiras, além de tornar evidentes a inércia do estado e o preconceito contra a mulher. Há pouco tempo, mais de 60% dos casos de violência doméstica contra a mulher não eram notificados. Hoje, segundo as últimas estatísticas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 52% dos casos já são notificados. Vale lembrar que esse número se refere apenas à violência doméstica, porque a violência sexual ainda é muito pouco notificada. O mais importante é que atualmente a sociedade brasileira já entende que esses comportamentos têm raízes histórico-culturais, e não são apenas consequências de um momento de fúria ou de desajuste social. Como foi dito e gostaria de acrescentar que estamos falando de relações sociais construídas dentro da nossa cultura que é patriarcal, misógina e machista e que privilegia a posição do homem em detrimento a da mulher. A violência contra a mulher está bastante associada à essa estrutura social e o modo como são construídos os papéis sociais do que é masculino e do que é feminino. Os vários jargões e padrões impostos pela sociedade fragilizam as identidades de gênero, especialmente a masculina, obrigando o homem a se afirmar, muitas vezes de forma violenta. Há evidências que a violência contra a mulher não ocorreu de maneira discreta ou esporádica, mas de forma contínua ao longo dos séculos, e tem o feminicídio como sua última etapa. Para romper esse ciclo são necessárias mudanças no plano cultural, educacional e, especialmente, é preciso dar visibilidade ao problema. A visibilidade, além de tornar a questão pública, conscientiza a 38 sociedade e facilita a busca por soluções. A implementação de políticas públicas também é fundamental para gerar estatísticas oficiais e iniciar uma abordagem mais institucional sobre o caso. “Há pouco tempo, mais de 60% dos casos de violência doméstica contra a mulher não eram notificados. Hoje, 52% dos casos já são notificados.” Por que é tão importante termos uma lei de feminicídio específica para as mulheres? Porque as estatísticas demonstram que as mulheres são muito mais vulneráveis a esse tipo de violência. A mulher é assediada no transporte público, no seu ambiente de trabalho pelo superior hierárquico, ela é ameaçada quando opta pelo fim de um relacionamento abusivo, enfim: a resposta é matemática. Vale lembrar ainda o sentimento cultural de posse que o homem tem em relação à mulher. Em minha pesquisa nos últimos anos eu ouvi homens que, em suas palavras, violentavam suas esposas fisicamente ou psicologicamente por que ela teimou, ela não obedeceu, etc. A Lei do Feminicídio ajuda a romper com esse estado de coisas e dar visibilidade ao problema. Feminicídio é uma questão de gênero, saúde e é um problema de todos. Quais seriam as ações prioritárias que um gestor público poderia tomar para combater esse crime não só na área urbana, mas também rural? Quando analisou o caso Maria da Penha, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos fez uma série de prescrições para que o Brasil não fosse levado à corte pela inércia demonstrada no caso. A principal delas consistia em criar uma estrutura institucional adequada e integralizada com serviços especializados de atenção à mulher: delegacias, creches e hospitais especializados, por exemplo. Além disso, exigia a capacitação de agentes públicos capazes de compreender de maneira abrangente e livre de preconceitos o papel da mulher na sociedade. Por fim, solicitava a ampla divulgação desses serviços e de campanhas de conscientização para o problema. E quais são os desafios que os gestores públicos encontram nesse caminho? A formação dos profissionais especializados é um grande desafio. Acho que a mudança de perspectiva da sociedade como um todo é o maior desafio nesse contexto. A diretora da Academia de Polícia do Distrito Federal e posso afirmar que as questões de gênero fazem parte dos cursos de formação e aperfeiçoamento da 39 instituição. Na DEAM (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), por exemplo, os profissionais são constantemente lembrados dos protocolos que devem ser seguidos para que ninguém seja pego desprevenido ou desinformado nessa questão. Esses protocolos são nacionais ou são utilizados somente aqui no DF? Infelizmente não são nacionais. Na DEAM há protocolos para atendimento à violência doméstica e familiar, para atendimento à violência sexual, para atendimento a crimes cibernéticos e para a investigação do feminicídio. Hoje, o trabalho de investigação em crimes contra a mulher requer um tratamento diferenciado para que seja eficaz e atenda às expectativas das mulheres que buscam uma solução rápida para essa situação que lhe traz tanto medo e sofrimento. Recentemente foi aprovado o decreto que facilita a posse de armas de fogo no Brasil. Vocês acreditam que isso pode elevar o número de casos de feminicídio e suicídios no país? Qual o impacto desse decreto para as mulheres? É preciso lembrar que para conseguir posse de arma de fogo será necessário treinamento especial, uma exigente avaliação psicológica e demonstração clara de necessidade. Homens e mulheres terão direito à posse de armas e não podemos julgar, a priori, como será o impacto desse decreto. Grande parte dos casos de feminicídios ocorrem pelo uso de armas brancas como facas, chaves de fenda, etc. Estando capacitada para atirar, a arma pode ser um instrumento de proteção da mulher. A Dra. Delegada quando observa que os crimes de feminicídio são praticados de maneira muito específica: uso de paus, pedras, enforcamento, etc. Entretanto, tendo a concordar também com pesquisas americanas que revelam que quanto maior o número de armas em circulação em um ambiente social, maior é o número de crimes observados. Embora não haja pesquisas específicas para os crimes de violência contra a mulher, acredito que uma maior circulação de armas de fogo no país tenderia a aumentar o número de ocorrências desse tipo de situação. 40 7. CONCLUSÃO Embora elaborar e aplicar conselhos, acompanhar os seres humanos em sua formação, nunca será uma atividade coerente caso o aplicador não conheça a importância do respeito e interesse da criança em formação na vida de seu receptor. Deve-se estar presente no mundo da criança, estabelecendo espaços nos quais ele será capaz de persuadir e vencer, com o intuito de se desenvolver, e atingir novos pontos em sua “zona de desenvolvimento”, descrita por Vygostky: O comportamento do homem moderno, cultural, não é só produto da evolução biológica, ou resultado do desenvolvimento infantil, mas também produto do desenvolvimento histórico. No processo do desenvolvimento histórico da humanidade, ocorreram mudança e desenvolvimento não só nas relações externas entre pessoas e no relacionamento do homem com a natureza; o próprio homem, sua natureza mesma, mudou e se desenvolveu. (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p.95) Isto define o desenvolvimento humano desde suas raízes, Vygostky afirma sobre a evolução das pessoas, partem daquilo que elas costumam fazer e vivenciar, todo homem ou mulher, pode escolher o que irá se tornar, e assim exercer sua função dentro de sua sociedade. Isto classifica uma grande importância quanto às atividades lúdicas, pois delas podemos nos abster meios de enfatizar vidas, mudá- las e melhorá-las. No trecho final “[...] ocorrem mudança e desenvolvimento não só nas relações externas entre as pessoas e no relacionamento do homem com a natureza...”, as crianças desenvolvem sua própria mente durante uma atividade social, meios próprios de evolução, que também acessam seus mundos particulares, e os trazem para a vida real. A forma correta de trabalhar com crianças, adolescentes e adultos é conhecê-los, dominar os pontos críticos, e elaborar meios de confrontá-los a modificar essas defasagens geradas pelo seu desenvolvimento pessoal. Essa é melhor maneira de interação quando se trata de uma formação saudável, e ajuda em muito na avaliação do entendimento da vida sexual e também quando a natureza feminina, ajudará na procura de suas condescendias, assim classificando sem interpor em sua superioridade sexual, assim como muitas agressões começam quando o homem se sente o sexo forte, que segundo a 41 diversidade sexual existem inúmeras, resvalando contra o preconceito1 que sem conhecimento é explorado e julgado, por muitas vezes tratado de maneira erronia. Assim pode ter uma base dentro básico sobre as questões que permeiam as relações entre homem e mulher, em como ela passa a ser agredida, e permanece dentro desses relacionamentos persuasivos e imaturos, que causam grandes destruições, que muitas vezes, são apenas reflexos do desenvolvimento da “criança”, sendo reproduzidos na sua prática adulta. 1 Qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico. (www.dicio.com.br/preconceito/) 42 8. REFERÊNCIAS ALVES DE SOUZA, PATRÍCIA; DA ROS, MARCO AURÉLIO. Os motivos que mantêm as mulheres vítimas de violência no relacionamento violento. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, n. 40, p. 509-527, jan. 2006. ISSN 2178-4582. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/17670>. Acesso em: 05 maio 2020. doi:https://doi.org/10.5007/%x. AMARAL, NÁDIA DE ARAÚJO; AMARAL, CLEDIR DE ARAÚJO AND AMARAL, THATIANA LAMEIRA MACIEL. Mortalidade feminina e anos de vida perdidos por homicídio/agressão em capital brasileira após promulgação da Lei Maria da Penha. Texto contexto - enferm. [online]. 2013, vol.22, n.4, pp.980-988. ISSN 0104- 0707. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072013000400014. BANDEIRA, LOURDES MARIA. FEMINICÍDIO. In: LEI DO FEMINICÍDIO, 06, 2017, Rio de Janeiro. FEMINICÍDIO. Rio de Janeiro: Instituto Patrícia Galvão, 2017. p. 1- 16. BARROSO, SUÉLEM. Feminicídios: uma violência cultural ou histórica? 2019. 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