Prévia do material em texto
ANAIS DO IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO SOCIAL (SIPPEDES) Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Reitor Prof. Dr. Sandro Roberto Valentini Vice-Reitor Prof. Dr. Sérgio Roberto Nobre Pró-Reitor de Pesquisa Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff Pró-Reitora de Extensão Universitária Profa. Dra. Cleópatra da Silva Planeta FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Diretor Prof. Dr. Murilo Gaspardo Vice-Diretora Profa. Dra. Nanci Soares Comissão Editorial UNESP - Câmpus de Franca Presidente Prof. Dr. Murilo Gaspardo Membros Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa Prof. Dr. Alexandre Marques Mendes Profa. Dra. Analúcia Bueno Reis Giometti Profa. Dra. Cirlene Aparecida Hilário da Silva Oliveira Profa. Dra. Elisabete Maniglia Prof. Dr. Genaro Alvarenga Fonseca Profa. Dra. Helen Barbosa Raiz Engler Profa. Dra. Hilda Maria Gonçalves da Silva Prof. Dr. Jean Marcel Carvalho França Prof. Dr. José Duarte Neto Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira Prof. Dr. Luis Alexandre Fuccille Profa. Dra. Paula Regina de Jesus Pinsetta Pavarina Prof. Dr. Paulo César Corrêa Borges Prof. Dr. Ricardo Alexandre Ferreira Profa. Dra. Rita de Cássia Aparecida Biason Profa. Dra. Valéria dos Santos Guimarães Profa. Dra. Vânia de Fátima Martino Tatiana Noronha de Souza Maria Madalena Gracioli Clauciana Schmidt Bueno de Moraes (Orgs.) ANAIS DO IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO SOCIAL (SIPPEDES) Campus de Franca 2020 © 2020 Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - Franca Contato Av. Eufrásia Monteiro Petráglia, 900, CEP 14409-160, Jd. Petráglia / Franca - SP publica.franca@unesp.br Diagramação e Revisão Sandra Aparecida Cintra Ferreira (STAEPE) Carlos Alberto Bernardes (STAEPE) Realização Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas UNESP/Campus de Franca. Departamento de Educação, Ciências Sociais e Políticas Públicas - UNESP/Campus de Franca. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP/Franca. Anais do IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) / Tatiana Noronha de Souza , Maria Madalena Gracioli e Clauciana Schmidt Bueno de Moraes (orgs.).– Franca : UNESP – FCHS, 2020. 1088 p. ISSN:2359-0858 1. Políticas públicas. 2. Desenvolvimento social. 3. Cidadania. I. Título. II. Souza, Tatiana Noronha de. III. Gracioli, Maria Madalena. IV. Moraes, Clauciana Schmidt Bueno de. CDD – 320 Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Andreia Beatriz Pereira – CRB8/8773 Capa Organizadoras Tatiana Noronha de Souza Maria Madalena Gracioli Clauciana Schmidt Bueno de Moraes Comissão Organizadora Organização geral Profa. Dra. Tatiana Noronha de Souza (UNESP/Araraquara) Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa (UNESP/Franca) Prof. Dr. Alexandre Marques Mendes (UNESP/Franca) Profa. Dra. Clauciana Schmidt Bueno de Moraes (UNESP/Rio Claro) Profa. Dra. Vânia de Fátima Martino (UNESP/Franca) Prof. Dr. Genaro Alvarenga Fonseca (UNESP/Franca) Profa. Dra. Hilda Maria G. da Silva (UNESP/Franca) Profa. Dra. Maria Madalena Gracioli (FE/FFCL – Ituverava) Discentes Alex Fernandes de Oliveira Andressa C. Santos Beatriz Formiga Silva Déborah Resende Alves Giovana Alves Jordão Katiucia e Silva Marília Cynttya Alexandre Silva Rafael de Oliveira Guaranha Garcia Rosa Carolina Negrini da Costa Sandra Elisa Fernandes Sibele G. dos Santos Tathiane Modolo. M. Guedes Wagner Martins Wesley Wander dos Santos Ferrarezi Imagem da capa: Beatriz Formiga Comissão Científica Profa. Dra. Alessandra Davi (CUML) Profa. Dra. Ana Maria Klein (UNESP/Ibilce) Profa. Dra. Ana Claudia Silva (UNB) Profa. Dra. Andréa Vettorassi (UFG) Prof. Dr. Antônio Carlos Lopes Petean (UFU) Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa (UNESP/FCHS) Prof. Dr. Alexandre Marques Mendes (UNESP/FCHS) Profa. Dra. Alessandra David (CUML) Profa. Dra. Clauciana Schmidt Bueno de Moraes (UNESP) Profa. Dra. Claudia Vanessa dos Santos Corrêa (UNESP) Prof. Dr. Daniel F. de Andrade (UNIRIO) Profa. Dra. Daniela Cristina Aparecida Capparol Prof. Dr. Diogo Silva Roiz (UEMS) Prof. Dr. Eduardo Meireles (UEMG) Dr. Elias Antonio Vieira (Consultor Ambiental) Prof. Dr. Fábio André Teixeira (UFV) Profa. Dra. Fátima Coelho Gonini (FE/FFCL) Profa. Dra. Fátima Denari (UFSCAR) Profa. Dra. Fernanda de Oliveira Sarreta (UNESP/FHS) Prof. Dr. Felipe Ziotti Narita (UNESP/PAPP) Profa. Dra. Fernanda Mello Sant-Anna (UNESP/FHS) Fransérgio Follis (UNICEP) Prof. Dr. Genaro Alvarenga Fonseca (UNESP/FCHS) Profa. Dra. Hilda Maria G. da Silva (UNESP/FCHS) Prof. Dr. Jonas Rafael dos Santos (PPG-PAPP) Profa. Dra. Lucimary B. Pedrosa de Andrade (FE/FFCL) Profa. Dra. Karina Elizabeth Serrazes (UEMG) Profa. Dra. Karina de M. Conte (UNAERP) Profa. Dra. Keila Roberta Torezan (FFCL – Ituverava) Profa. Dra. Lauren Nozomi Marques Yabuki Profa. Dra. Lilian R. de Oliveira Rosa (UNESP/PAPP) Prof. Dr. Luiz Ribas (UNESP/PPG/PAPP) Profa. Dra. Marinalva Vieira Barbosa (UFTM) Profa. Dra. Madalena Gracioli (FE/FFCL) Profa. Dra. Márcia Pereira Cabral (UEMG) Profa. Dra. Maria José Bistafa Pereira (UNAERP) Profa. Dra. Maria Lucia Vannuchi (UFU) Profa. Dra. Marina Simões F. F. Bertagnoli (USP/RP) Prof. Dr. Mauro Ferreira (UNESP/PPG-PAPP) Prof. Dr. Oswaldo Gonçalves Jr.(UNICAMP) Profa. Dra. Priscila A. Cardoso Gimenes (UFU) Prof. Dr. Rafael Costa Freiria (UNICAMP) Profa. Dra. Regina A. Leite de Camargo (UNESP/FCAV) Profa. Dra. Rita de Cássia Lopes de Oliveira Mendes (UFTM) Profa. Dra. Silvana Beline Tavares (UFG) Profa. Dra. Silvia Sidnéia da Silva (UNAERP) Profa. Dra. Simone Cristina de Oliveira Gobbo Profa. Dra. Stella Ansanelli (UNESP/FCHS) Profa. Dra. Tatiana Noronha de Souza (UNESP/Fclar) Profa. Dra. Tatiana Machiavelli do C. Souza (UFG) Prof. Dr. Thiago Fidelis (UEMG) Profa. Dra. Vânia de Fátima Martino (UNESP/FCHS) Prof. Dr. Victor Hugo de Almeida (UNESP/FCHS) APRESENTAÇÃO Realizado na modalidade a distância nos dias 26, 27 e 28 de outubro de 2020, o IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) contou com a participação de pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, e do exterior. Este evento vem sendo realizado bianualmente pelo Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas (UNESP/Franca). Os números mostram como o Seminário vem se consolidando ao longo dos anos. Em pleno contexto de pandemia da COVID-19, contou com 250 inscritos, 35 sessões para discussão de 243 trabalhos, além de palestras de especialistas de diferentes áreas, tais como Direitos Humanos, Saúde, Meio Ambiente e Teoria Crítica. O evento, mais uma vez se caracterizou como um espaço para interlocução de docentes e discentes de graduação, pós-graduação, assim como profissionais de diferentes áreas, a fim de aprimorar a reflexão teórico-prática no campo de estudos das políticas públicas. O Seminário promoveu um diálogo interdisciplinar sobre investigações em diferentes campos de conhecimento, que foram distribuídos em 11 eixos, que compõem a presente publicação, a saber: 1. Políticas públicas e gestão educacional 2. Políticas públicas e avaliação educacional 3. Políticas públicas e formação de professores 4. Políticas públicas e educação inclusiva 5. Políticas públicas e relações de trabalho 6. Políticas públicas e saúde 7. Políticas públicas, meio ambiente e sustentabilidade 8. Políticas públicas e direitos humanos 9. Políticas públicas e desenvolvimento econômico-social 10.Políticas públicas, planejamento urbano e ordenamento do território. 11. Políticas Públicas voltadas para a igualdade, diversidade, multiculturalismo, interculturalidade. Esta publicação apresenta uma grande diversidade de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos emdiferentes áreas, e que trazem para discussão problemáticas atuais, inclusive sobre o contexto de pandemia da COVID- 19. Oportuniza, também, a publicação de pesquisas oriundas do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (UNESP/Franca), além de se constituir um espaço formativo para pós-graduandos, em especial. Agradecemos a todos aqueles que participaram e contribuíram para a realização do IV SIPPEDES, avaliações de trabalhos e publicações. As organizadoras SUMÁRIO EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO DE PANDEMIA SOB A ÓTICA DA ONU Aline Michelle Dib Hilda Maria Gonçalves Silva .............................................................. .....31 OS DESAFIOS DA VALORIZAÇÃO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA Liuvânia Barcelos ............................................................................... ....41 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE 0 A 3 ANOS NO BRASIL NA ÚLTIMA DÉCADA: AVANÇOS E DESAFIOS DESTA ETAPA EDUCACIONAL Sandra Elisa Fernandes.. ..................................................................... ....49 A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COMUNIDADE NA ESCOLA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Luís Henrique de Souza Ferreira Genaro Alvarenga Fonseca ................................................................. ....59 QUALIDADE EM CRECHES CONVENIADAS: IMPLEMENTAÇÃO, GESTÃO E ACOMPANHAMENTO Giovana Alves Jordão Tatiana Noronha de Souza .................................................................. ....69 DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E RELIGIOSA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE OS ESTUDOS REVELAM? Leticia Pereira Malta Tatiana Noronha Souza ....................................................................... ....79 CULTURA DE ESCOLA: A PERCEPÇÃO IDIOSSINCRÁTICA DOS PROFESSORES DE DUAS UNIDADES ESCOLARES SOBRE A EFICÁCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PAULISTAS NO PERÍODO DE 2009 A 2017 Paulo Roberto Mermejo Tatiana Noronha de Souza .................................................................. ....89 ENSINO MÉDIO E JUVENTUDE: reflexões a partir de recentes estudos Andressa Cristina Santos Maria Madalena Gracioli .................................................................... ..101 POLÍTICAS PÚBLICAS COMO FERRAMENTA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL Romilson de Castro Madeira .............................................................. ..113 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO EDUCACIONAL ENTRE O GINÁSIO VOCACIONAL E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: UMA POSSIBILIDADE DE DIALOGO CURRICULAR Wesley Wander dos Santos Ferrarezi Vânia de Fátima Martino .................................................................... ..127 DESAFIOS DOS DISCENTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UFU PARA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Luzilene de Almeida Martiniano Steffanie de Paula Lima Venâncio ...................................................... ..137 EVASÃO DE JOVENS INGRESSANTES PELO SISTEMA DE SELEÇÃO UNIFICADA (SISU) NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UNIDADE PASSOS - MG Inácio Ferreira da Silva Júnior ............................................................ ...145 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS ESCOLARES NO BRASIL SEGUNDO AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS Flávia Pinheiro Silva Colombini ......................................................... ...157 FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Lidiane Cristina Donizette Lucimary Bernabé Pedrosa de Andrade .............................................. ...169 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES OBJETIVAS DO TRABALHO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA Luzilene de Almeida Martiniano ........................................................ ...181 FORMAÇÃO DOCENTE: ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO PERÍODO DE 1990 ATÉ OS DIAS ATUAIS Renata Maria P.C. de Medeiros Lucimary Bernabé P. de Andrade ........................................................ ...191 ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E FORMAÇÃO DOCENTE: ELEMENTOS PARA O DEBATE Paula Ravagnani Silva ........................................................................ ..203 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO INCLUSIVA A ESCOLA EM TEMPOS DE PANDEMIA: proposta de implantação de método itinerante de ensino e aprendizagem Fernando de Moraes Toller.....................................................................217 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E DIRETOS HUMANOS VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA INTERNET: APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA POR DIVULGAÇÃO DE IMAGENS ÍNTIMAS SEM CONSENTIMENTO DAS VÍTIMAS Cibele Randi Barbosa...............................................................................227 GESTÃO DEMOCRÁTICA E POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM TEMPOS DE PANDEMIA DE COVID-19 Geis de Oliveira Benevides Maria José de Oliveira Lima...................................................................239 “MEU NOME NÃO É VALDEMAR”: ALTERAÇÃO DE PRENOME E GÊNERO NO REGISTRO CIVIL Flander de Almeida Calixto Elizandra Ferreira da Slva......................................................................251 A IMPORTÂNCIA DOS ATORES SOCIAIS NA ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE MEMÓRIA: UMA ANÁLISE DOS SEMINÁRIOS “SÁBADOS RESISTENTES”, DO MEMORIAL DA RESISTÊNCIA DE SÃO PAULO Guilherme P. Campos Lilian R. de O. Rosa................................................................................261 A COR DO FEMINICÍDIO: ESTUDO SOBRE A INTERSECCIONALIDADE ENTRE RAÇA E GÊNERO NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA Ana Rebeca Oliveira Cirilo Cirlene Oliveira.......................................................................................273 DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS: MAIS QUE DIREITO POSITIVADO, GARANTIA DE DIREITO IMPLICA INTERSETORIALIDADE Mônica Alves da Costa Flander de A.Calixto...............................................................................283 VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL NA LUTA PELA CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Sibele Gabriela dos Santos......................................................................293 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL SOB A ÓTICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E SUA IMPLANTAÇÃO NO MUNICÍPIO DE BAURU/SP Regina Lourdes de Freitas Erika Nakamine.......................................................................................305 CRIANÇAS E ADOLESCENTES POBRES: INVISÍVEIS E INSEGUROS Eddara Santos GomesMaria Teresa Miceli Kerbauy............................................................................315 O TRABALHO MULTIPROFISSIONAL COM ADOLESCENTES PRIVADOS DE LIBERDADE E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A ADOLESCÊNCIA NO BRASIL Amanda Lorena Leite Maria Cristina Piana...............................................................................325 ABANDONO FAMILIAR SOB O OLHAR DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO DAS “OBRAS SOCIAIS ADOLFO BEZERRA DE MENEZES” NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA/MG Luzilene de Almeida Martiniano Neidimar Aparecida Nunes Souza..........................................................335 POLÍTICAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO Lediane F. Mesquita Luís N. Moretto........................................................................................345 OS DESAFIOS DA PRESERVAÇÃO E ACESSO AO PATRIMÔNIO ARQUIVÍSTICO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS Alex Fernandes Oliveira..........................................................................357 A DEFENSORIA PÚBLICA E A METÁFORA DA CIRCULAÇÃO DE REGRAS E IDEIAS JURÍDICAS Renato Tavares de Paula Luciana Lopes Canavez..........................................................................369 OS ASPECTOS PREVENTIVOS DA LEI MARIA DA PENHA E A SUAS EFETIVAÇÕES MEDIANTE A CRIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Marcela Helena Petroni Pinca Júlia Kleine Mollica...............................................................................379 OS DIREITOS HUMANOS E POLÍTICAS PÚBLICASDOS MIGRANTES TRANSNACIONAIS: ANÁLISE BASEADA NOS SEUS DIREITOS INSCULPIDOS NA NOVA LEGISLAÇÃO E PERANTE OS CARTÓRIOS EXTRAJUDICIAIS Leonardo Bortolozzo Rossi Fernando Alves Montanari.....................................................................389 PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA E DEFENSORIA PÚBLICA: AS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS DO “MÃES EM CÁRCERE” Gustavo Samuel da Silva Santos.............................................................401 DIREITOS HUMANOS E O ECA: UMA PERSPECTIVA DE PROTEÇÃO AOS ADOLESCENTES NO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO CONTRA A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL Carmem Letícia dos Santos Francislane Viana da Cruz......................................................................413 DE QUEM SÃO OS DADOS? BARCELONA E O DIREITO À CIDADE DIGITAL Paulo Celso da Silva Paulo Antonio de Sousa Marquêz...........................................................423 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A IGUALDADE, DIVERSIDADE, MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALIDADE O CONTEXTO DE INFLUÊNCIA DA POLÍTICA ANTIRRACISTA NO BRASIL: PARA ALÉM DE MOVIMENTOS SOCIAIS Manoel Ayusso Martins..........................................................................437 EMPODERAMENTO DAS MULHERES UNIVERSITÁRIAS: UM ESTUDO COM AS DISCENTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL Vitória Oliveira Dias. Soraia Veloso Cintra...............................................................................447 DESAFIOS DA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA EM SUA IMPLEMENTAÇÃO Sibele Gabriela dos Santos Leandro Bozzola Guitarrara....................................................................457 IMPLICAÇÕES DA AÇÃO PONTOS DE CULTURA NO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO: POSSIBILIDADES E OPORTUNIDADES PARA A POLÍTICA PÚBLICA VOLTADA À CULTURA POPULAR Rafael de Oliveira Guaranha Garcia.......................................................469 UM OLHAR DO IDOSO PARTICIPANTE DO PROJETO REVIVER SOBRE SEUS DIREITOS Luzilene de Almeida Martiniano1 Patrícia Regina dos Santos Paco..............................................................479 SUBALTERNIDADE E DESCONTINUIDADE NA TEORIA PÓS-COLONIAL Júlia Moita..............................................................................................489 A IMPORTÂNCIA DAS MÃOS QUE ESCREVEM AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA BUSCA PELA IGUALDADE DE GÊNERO NO BRASIL Marcela Helena Petroni Pinca Giovanna Martins Ferreira.....................................................................497 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES DE TRABALHO MOVIMENTOS SOCIAIS E LITÍGIO ESTRATÉGICO: MOBILIZAÇÃO JURÍDICA NA LUTA POR POLÍTICAS PÚBLICAS PARA GARANTIA DE DIREITOS REPRODUTIVOS ÀS MULHERES Marília Cynttya Alexandre Silva Agnaldo de Sousa Barbosa.....................................................................507 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO EM TRÊS EMPRESAS DE MÉDIO PORTE NO MUNICÍPIO DE SÃO JOAQUIM DA BARRA/SP E A ATUAÇÃO DA ESCOLA NA SUA FORMAÇÃO Edvanda das Graças Curt Rodrigues Alexandre Marques Mendes...................................................................519 LICENÇA-PARENTALIDADE E GÊNERO: QUESTIONAMENTO NECESSÁRIO Leandro Bozzola Guitarrara...................................................................531 FLEXIBILIZAÇÃO DAS FORMAS DE TRABALHO Wagner Martins Alexandre Marques Mendes...................................................................543 PLATAFORMIZAÇÃO DO TRABALHO, RESISTÊNCIA E PODER PÚBLICO Rodrigo Bombonati de Souza Moraes557 Andréa Abrahão Costa............................................................................555 POLÍTICAS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL E FINANCEIRIZAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE A ATUAL CONTRARREFORMA – E.C. 103/2019571 Hellen Alves Sá......................................................................................569 AS BARREIRAS IMPOSTAS PELA TECNOLOGIA NA BUSCA PELO TRABALHO DECENTE AOS ENTREGADORES DE APLICATIVO Heloísa Cunha Vieira Mariana de Palma Pires..........................................................................581 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE O CURSO DE MEDICINA NO CAMPUS DE TRÊS LAGOAS/MS: UMA PROPOSTA EM CONSTRUÇÃO Bruno Henrique Mantovani Bandissera Jorge David Barrientos-Parra..................................................................591 ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO BRASIL E A SUA IMPORTÂNCIA PARA ENFRENTAMENTO DAS INIQUIDADES EM SAÚDE E COVID 19 Gabriela Cristina Braga Bisco Fernanda de Oliveira Sarreta...................................................................601 A TRANSIÇÃO CORPORAL DE UMA MULHER TRANS Lúcio Campos Borges Regina Célia Beretta de Souza................................................................613 ACOLHIMENTO HUMANIZADO A FAMILIARES DE PACIENTES INTERNADOS NA UTI ADULTO DE UM HOSPITAL ESCOLA DE MARÍLIA: UMA PROPOSTA NO CONTEXTO DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO Tereza Raquel Schorr Calixto Rodolfo Franco Puttini...........................................................................627 A ALTERAÇÃO DA LEGISLAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA FOMENTADORA DA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS POST MORTEM Lara Rezende Dozono Pereira Júlio Dias Talibert...................................................................................637 A JUDICIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: IMPACTOS DA INDIVIDUALIZAÇÃO DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE Lara Rezende Dozono Pereira.................................................................647649 HUMANIZAÇÃO DO PSICÓLOGO COMO PROFISSIONAL DA SAÚDE ATUANTE DENTRO DO SUS Fabiana Gil Alice Yamashita Prearo..........................................................................659 PLURALISMO DE BEM-ESTAR SOCIAL E A PANDEMIA DE COVID-19: IMPLICAÇÕES PARA A (DES)PROTEÇÃO SOCIAL DO(A) VELHO(A) TRABALHADOR(A) Líbia Mafra B. Miranda Solange Maria Teixeira...........................................................................671 A GESTÃO DA SAÚDE: UM PROCESSO PRIVATIZANTE Gabriela de Oliveira Carmem Lúcia Cruz Ravagnani..............................................................683 A SAÚDE COM A FORÇA DA PALAVRA EM CONEXÕES: UMA EXPERIÊNCIA ONLINE Erlandia S. Pereira Flander A.Calixto....................................................................................695 O QUESTIONÁRIO NA SALA DE ESPERA COMO INSTRUMENTO ACOLHEDOR: CONTRIBUIÇÕES PARA A IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO INTEGRADO DE HUMANIZAÇÃO EM UM HOSPITAL DE CLÍNICAS Rodolfo Franco Puttini Alice Yamashita Prearo..........................................................................703 AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E OBESIDADE EM ADOLESCENTES DO MUNICÍPIO DE PASSOS- MG Jean Lucas Rosa Rita de Cássia Ribeiro Carvalho.............................................................715 MAPEAMENTO DO USO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS E DE SAÚDE MENTAL PÚBLICOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NA CIDADE DE NITERÓI-RJ Leni Porto Costa Siqueira Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira.....................................................725 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A PANDEMIA COVID-19: REFLEXÕES SOBRE O CENÁRIO BRASILEIRO Talila Arrais Amorim Solange Maria Teixeira...........................................................................737 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL OS ENTRAVES PARA O AUXÍLIO EMERGENCIAL E A BUROCRACIA DE ESTADO BRASILEIRA João Vítor Dantas Alves Maria José de Oliveira Lima...................................................................751 MAIS OU MENOS ESTADO? UMA REFLEXÃO SOBRE O IMPACTO DA ARTICULAÇÃO POLÍTICA DO CAPITALISMO NA PROMOÇÃO DA JUSTIÇA SOCIAL Ester Athanásio.......................................................................................761 A GESTÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS DESAFIOS POSTOS FRENTE À PANDEMIA DE COVID 19 Roberta Gonçalves de Rezende Hatano....................................................773 A POLITICA DE ASSISTENCIA SOCIAL E OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL Andreia Celia Silva de Oliveira Talismara GuilhermeMolina..................................................................783 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS, PLANEJAMENTO URBANO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DISCUSSÃO PRELIMINAR SOBRE A LEGISLAÇÃO DE TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO URBANO: ANÁLISE DOCUMENTAL E INSERÇÃO NO CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Rosa Carolina Negrini da Costa Felipe Ziotti Narita.................................................................................797 PESQUISA DE SATISFAÇÃO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA Camila Martins Mansano Vanessa Isabella dos Santos Ramos.........................................................809 O REDESENHO INSTITUCIONAL DA GESTÃO TERRITORIAL DECORRENTES DA PANDEMIA DO SARS-CoV-2 (COVID-19) NO CENÁRIO PIAUIENSE Conceição de M dos Santos Moura Maria D’Alva Macedo Ferreira..............................................................821 INVENTÁRIO DAS BARRAGENS DE ÁGUA EXISTENTES NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO DAS CABRAS, NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS/SP, COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO MUNICIPAL Willian Leandro Henrique Pinto Laura Maria Canno Ferreira Fais.............................................................833 O PLANO DE ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL DAS MACROÁREAS DOS EMPREENDIMENTOS DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NO MUNICÍPIO DE BAURU/SP: UMA PROPOSTA DE TRABALHO SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS Vanessa Isabella dos Santos Ramos Camila Martins Mansano.......................................................................845 DIRETRIZES PARA O PLANEJAMENTO E ORDENAMENTO URBANO SUSTENTÁVEL Lara Comar Riva Luiz César Ribas.....................................................................................855 OS CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA (CCS) E A GOVERNANÇA METROPOLITANA NO RIO DE JANEIRO Willian Andrion do Valle........................................................................861 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS, MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE SOLICITAÇÃO DE MANUTENÇÃO DE VAZAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO NAS EMPRESAS DE SANEAMENTO ATRAVÉS DE VÍDEOS INTERATIVOS Humberto Antonio Antico Regilene Aparecida Sarzi Ribeiro..........................................................875 GESTÃO DA DRENAGEM URBANA: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO NOVO MARCO REGULATÓRIO DO SANEAMENTO BÁSICO Lucas Fabiano Barbosa Luiz César Ribas.....................................................................................887 PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS COMO POLITICAS PUBLICAS NA PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DA BACIA DO RIO CANOAS, MANANCIAL DE ABASTECIMENTO PÚBLICO DE FRANCA – SÃO PAULO (BRASIL) Célio Bertelli Victor Hugo Bernardes...........................................................................899 POLÍTICAS PÚBLICAS NA PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DAS MATAS CILIARES URBANAS E NA PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM FRANCA/SP Célio Bertelli Matheus Pontcherello L. do Carmo........................................................907 SUSTENTABILIDADE OU RESILIÊNCIA DO CAPITALISMO? Marcel Britto* Celso Maran de Oliveira.........................................................................917 AGENDA 21 LOCAL DE LIMEIRA/SP: PRINCÍPIOS NORTEADORES Daniela Cristina Aparecida Capparo Clauciana Schmidt Bueno de Moraes.....................................................927 UM ESTUDO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE GUARÁ-SP Fabiana Gorricho Costa Gideão Elias Ramos................................................................................939 O PROCESSO HISTÓRICO DE PRIVATIZAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO E A MARCHA DE MERCANTILIZAÇÃO DA ÁGUA Tathiane Modolo Martins Guedes Fernanda Mello Sant’anna**...............................................................949 COBRANÇA E GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DOMICILIARES NOS MUNICÍPIOS DE ARARAQUARA E SÃO CARLOS -SP Thais Peagno Lima Ana Claudia Giannini Borges.................................................................961 SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL: a atuação profissional do/a assistente social frente à problemática ambiental Antônio Inácio da Silva Maria José de Oliveira Lima..................................................................975 A DESCENTRALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS BRASILEIRAS: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA ATÉ A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Ana Cristina Bagatini Marotti Erica Pugliesi...........................................................................................985 UMA ABORDAGEM SOBRE O HISTÓRICO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS BRASILEIRAS Ana Cristina Bagatini Marotti* Cristine Diniz Santiago..........................................................................995 CONEXÕES ENTRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Natalia Vieira de Carvalho Martins Genaro Alvarenga Fonseca...................................................................1007 DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO INSTITUTO DE APLICAÇÃO CAp-UERJ, SEGMENTO ENSINO FUNDAMENTAL I Suellen Pereira......................................................................................1021 AQUISIÇÃO DE TERRAS NO BRASIL POR ESTRANGEIROS: PERSPECTIVA ENERGÉTICA DENTRO DAS ÁREAS AGRÁRIAS Luiz César Ribas...................................................................................1031 CARACTERÍSTICAS DA COLETA SELETIVA NOS MUNICÍPIOS DA MESORREGIÃO DE ARARAQUARA-SP Mariana Carolina dos Santos Ana Claudia Giannini Borges...............................................................1041 MEIO AMBIENTE NA ERA LULA: FOMENTO INTERNACIONAL E POLÍTICA DOMÉSTICA Vitor Henrique Francisco dos Santos Aline Michelle Dib...............................................................................1053 CONSTRUINDO CIDADES SAUDÁVEIS E SUSTENTÁVEIS: ACESSIBILIDADE URBANÍSTICA COMO INSTRUMENTO PARA A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA André Luiz Pereira Spinieli Letícia de Paula Souza..........................................................................1065 MONITORAMENTO E REMOÇÃO DE METAIS EM BIORREATORES PARA O TRATAMENTO DE EFLUENTES Lauren Nozomi Marques Yabuki Marcelo Loureiro Garcia......................................................................1077 EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 31 A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO DE PANDEMIA SOB A ÓTICA DA ONU Aline Michelle Dib*1 Hilda Maria Gonçalves Silva** RESUMO: A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou documentos para direcionar políticas públicas educacionais frente ao agravamento das desigualdades sociais no período de pandemia. Por meio do método dedutivo, amparado na técnica de análise documental, buscamos encontrar proximidades e distanciamentos nas ações promovidas pela gestão educacional brasileira com os documentos publicados pela ONU. Os resultados do trabalho revelam que há diferenças significativas entre as recomendações de políticas da entidade internacional e a organização da educação do Brasil. Dentre elas, destacam-se a falta de monitoramento e controle dos dados, a carência de suporte aos professores e a escassez de práticas para atenuar a exclusão digital. Palavras-chave: educação brasileira. pandemia. Organização das Nações Unidas. INTRODUÇÃO Inteiramente relacionado com interesses coletivos, sociais e políticos, o desenvolvimento da educação na sociedade exige ações estratégicas para ofertar uma formação crítica e inclusiva às minorias sociais. Todavia, o momento epidêmico ergueu as barreiras para o encalce de um ensino democrático no mundo inteiro. Para países emergentes, os abalos na educação podem ser ainda mais graves. Estudantes, professores, membros da comunidade escolar e formuladores de políticas públicas estão reinventando suas práticas cotidianas em meio à crise que abala as estruturas econômico-sociais. Ainda assim, o processo de aprendizagem de muitas crianças e jovens é condicionado ao acesso digital e às condições de saúde e segurança que os permitem estudar.As diretrizes e recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) foram determinantes para a tomada decisões de gestores públicos do mundo todo. Para o âmbito da educação, a organização liberou em 2020 dois documentos oficiais que foram analisados nessa pesquisa: o * Universidade Estadual Paulista. Mestranda em Planejamento e Análise de Políticas Públicas pela Universidade Estadual Paulista. E-mail: aline.dib@unesp.br. http://lattes. cnpq.br/8335350774395499. ** Universidade Estadual Paulista. Doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista. E-mail: hilda.silva@unesp.br. http://lattes.cnpq.br/6786578265927981 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 32 “Educação durante o Covid-19 e além” (2020a) e o “Orientação de práticas educacionais abertas durante o fechamento de escolas” (2020b). Em meio a um terreno polarizador, o Brasil lida com nuances no discurso político que atrasam o atendimento das demandas públicas referentes à educação. Neste ínterim, apreendemos recomendações dadas pela ONU e analisamos em contraste com as ações estatais brasileiras no âmbito educacional durante o período de pandemia. O trabalho, com finalidade descritiva, permitiu identificar elementos que validam ou não as medidas brasileiras e formas de direcionar as políticas públicas educacionais para um caminho de melhorias. 1 A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA DE MUDANÇA SOCIAL E POLÍTICA Na intenção de definir a perspectiva epistemológica que guia o desenvolvimento do trabalho, inicialmente, trataremos sobre algumas bases teóricas existentes sobre o tópico de educação como cooperadora de transformações político-sociais. Discutida por Saviani (2008), a mencionada luta de classes heroica, mas ingloriosa, coloca o sistema educacional e seus agentes envolvidos em uma posição contrária a um sistema opressor. Esse sistema critica a representação ideológica da escola e minimiza a sua estampa de indispensável. O tema de desigualdade de acesso ao ensino não é uma anormalidade. O problema estrutural desencadeado pela mentalidade neoliberalista é regente na maior parte do mundo e demanda do direcionamento políticas públicas para ser atenuado. Assim, concordamos com Zanotti (1972) no que tange à necessidade de converter a voz dos cidadãos em objetivos políticos e implantar ações que, de fato, coloquem a sociedade como protagonista. Tratando-se de instituições de ensino, a lógica se mantém. A escola surge como uma função estreitamente política, que transforma indivíduos passivos e submissos em sujeitos críticos e transformadores (SAVIANI, 2008). Ainda assim, só é possível garantir a sua função política e melhorar a qualidade dos sistemas educacionais se considerarmos as singularidades das comunidades e as reinvindicações feitas por elas. Diante disso, nos deparamos com uma grande indagação: seriam as políticas educacionais brasileiras, na prática, tão transformadoras IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 33 como em suas normativas legais? O primeiro quesito para responder essa questão é refletirmos sobre a desarticulação do sistema como um todo. No campo das políticas, o Brasil ainda apresenta propostas segmentadas, de modo que cada ministério se responsabilize pela solução de problemas relacionados à desigualdade por meio de uma atuação isolada em cada área (PRETTO, 2006). Desse modo, as intervenções, que são condicionadas às ações que se repercutem em totalidade na sociedade, perdem força. Assim, os efeitos transformadores das políticas educacionais, que não são restritos ao terreno pedagógico, ficam suscetíveis a perder seu caráter modificador quando outras orientações políticas desvalorizam seus processos e desdenham da complexidade do processo educativo. Para Santos e Oliveira (2012) a desarticulação do sistema com as políticas educacionais nega um direito à liberdade ao efetivo exercício de cidadania. Isso porque, segundo os autores, aspectos básicos da educação, como a alfabetização, permitem que um indivíduo tenha voz, consciência civil e política sobre seus direitos. Se não fornecermos isso, contribuímos com um cenário que não prioriza uma formação emancipatória de sujeitos livres. Ainda assim, a precarização dos programas nacionais, com cada vez mais cortes em recursos- financeiros, humanos e de infraestrutura, reduzem a eficiência das políticas educacionais tanto na prática, como na teoria. Desse modo, deixamos de contribuir com o fortalecimento da área de educação para bases de trabalhos também em outras áreas, como saúde, economia e cultura, que são considerados pela ONU como cooperação necessária para a promoção do desenvolvimento sustentável de um país. 2 EFEITOS DA INTERRUPÇÃO DA EDUCAÇÃO Os dados sobre a educação já se apresentavam críticos no Brasil. De acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2018, calculado com base em avaliações externas, as metas definidas para o ensino fundamental e para o ensino médio não foram atingidas em nenhum estado brasileiro. Quanto ao temido analfabetismo, a taxa para negros e pardos alcançou cerca 8,9% da população, representando mais que o dobro da taxa para pessoas brancas, que é em torno de 3,6% (PNAD, 2019). Entretanto, segundo uma estimativa da ONU (2020a), os efeitos da interrupção do ensino por conta da pandemia de coronavírus não IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 34 impactaram somente o contexto educacional. Apesar da crise estimular inovações a respeito do ensino a distância, as perdas de aprendizagem reduziram oportunidades de jovens e crianças que vivem em situações de vulnerabilidade. Grupos como meninas negras e de baixa renda, tem maior tendência a ter outros danos além dos pedagógicos com o período sem aulas, como abuso sexual, uso de entorpecentes, gravidez e casamento precoce (ONU, 2020a). Assim, as disparidades de renda se estenderam e causaram um agravamento em problemas estruturais associados à desigualdade, como violência, mortalidade, taxas de desemprego e fome. As consequências da maior promoção do ensino, que levaram séculos para serem alcançados, sofreram um retrocesso que coloca nas mãos de gestores públicos, professores e comunidade a responsabilidade de construir um novo caminho histórico para a educação. Constatou-se que 94% de alunos em cerca de 200 países do mundo foram afetados com a pandemia, o que corresponde a quase 1,58 bilhões de crianças e jovens (ONU, 2020a). A estimativa da organização internacional é que 23,8 milhões desses menores possam evadirem ou não terem acesso à escola no ano de 2021, devido aos impactos socioeconômicos no período de pós pandemia. Segundo o Cenário da Adolescência e da Infância no Brasil de 2019, publicado pela Abrinq, estima-se que no Brasil tenha 68,8 milhões crianças e adolescentes com 0 a 19 anos de idade. Destes, 25,2% vivem em região de pobreza e 22,6% em situações de extrema pobreza (ABRINQ, 2019). Para os critérios da pesquisa, considera-se pobreza os residentes em uma mesma casa com renda inferior ou igual a meio salário-mínimo, equivalente a R$499,00, considerando os valores de 2019. E para extrema pobreza, entram as famílias que recebem um quarto ou menos do salário base, correspondendo a cerca de R$249,50. Assim, os efeitos da interrupção da educação se mostram duradouros e devastadores para famílias que tiveram a sua renda comprometida ou cessada. Para a ONU (2020a), crianças e jovens dependentes de auxílios estatais temporários para renda familiar, terão uma propensão ainda menor de retornar aos estudos. No Brasil, mais de 107 milhões de pessoas solicitaram o auxílio emergencial concedido pelo governo. Devido grande parte das pessoas já viverem em condições de vulnerabilidade, o acesso digital para trabalho e estudos ainda éposto como item de luxo. Um levantamento feito em 2019 mostrou que 30% da IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 35 população brasileira não têm acesso à internet em casa, o que corresponde a mais de 60 milhões de pessoas. Consequentemente, milhares de alunos são excluídos do ensino remoto por não terem condições de acessar os conteúdos didáticos e dependem de atividades impressas para passar por um processo de aprendizado solitário. Por conta da pandemia, a ONU (2020a) alega que o reajuste de gastos referentes ao ensino nos países emergentes como o Brasil pode acentuar ainda mais a desmotivação e abandono escolar. No Brasil, dados do Ministério da Economia preveem um corte de 13% do orçamento da educação para o ano de 2021. Em 2020, o total previsto para a área era de R$108,67 milhões, mas em setembro do mesmo ano, apenas R$50,64 bilhões haviam sido gastos (BRASIL, 2020). Ao analisarmos os anos de 2017, 2018 e 2019, cerca de 75% do orçamento estimado já havia sido executado no mesmo período, até o mês de setembro, enquanto em 2020, ainda temos mais de 50% do orçamento previsto. Pela relação constatada nos últimos triênio, notamos que a pandemia de coronavírus foi determinante para uma redução dos gastos com a educação, que foi realizada em sua maior parte pela modalidade de ensino remoto, ainda no ano de 2020. Nesse sentido, evidenciamos nossa preocupação com o ensino brasileiro em dois pontos que buscamos compreender na continuidade do trabalho: o primeiro, referente ao não uso da verba para educação, visto que haviam lacunas sociais advindas da desigualdade de renda, que se tornaram ainda mais expostas, e, posteriormente, referente ao investimento em políticas de educação para os próximos anos. Combinado ao efeito da pandemia, a crise de aprendizagem e os danos causado pelo fechamento dos institutos de ensino podem se tornar uma catástrofe geracional. 3 REDESENHANDO O ENSINO DURANTE A PANDEMIA A ONU (2020a) mapeou as principais opções de ferramentas utilizadas para a promoção do ensino nas regiões da Ásia, África, América Latina, Oceania e Europa, para averiguar se a escolha poderia ter sido influenciada por nível de educação e região. Nos dados, notamos que regiões com maior índice de vulnerabilidade social, como na África, tiveram uma elevada porcentagem sobre a adesão de ferramentas como rádio, televisão e atividades em papel. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 36 Apesar da pesquisa não englobar a região brasileira, a ONU recomenda que países com conectividade limitada optem por investir em materiais tradicionais, como distribuição de materiais impressos e redes de comunicação que não envolvam internet. No Brasil, poucos estados e municípios forneceram alternativas como transmissão por canais abertos de televisão e a maior parte focou os esforços dos professores para produção de conteúdo transmitido via internet. Uma liberdade discricionária foi dada aos poderes públicos de âmbito federal e municipal com intenção de garantir ações educacionais pontuais e condizentes com as necessidades específicas de cada região. Ademais, isso fez com que não houvesse sinergia nas medidas tomadas e dificultasse o controle do Estado sobre a realidade educacional. A fim de promover uma cooperação internacional, a ONU (2020b) definiu algumas diretrizes para professores, gestores e estudantes, que envolvem o investimento em práticas educacionais abertas e desenvolvimento de políticas de apoio a rede escolar. Mas advoga que é caminhar em direção contrária da promoção de um desenvolvimento nacional sustentável preparar os professores e disponibilizar recursos para uma educação aberta sem promover igualdade de acesso. O ensino público brasileiro sobrecarregou os professores da rede pública. Inúmeros não tinham experiência com ensino a distância e nem possuíam recursos para tal. Não investir em formas de oferecer suporte a esse tipo de ensino foi uma ação que destoa das recomendas pela ONU. Para a organização, se preparar para a modalidade de ensino virtual leva tempo e isso já deveria ser incentivado e oferecido aos professores por meio de políticas públicas de formação continuada. E que incentivar as práticas de ensino abertas é uma solução para solucionar esse problema de tempo limitado de preparação. Uma pesquisa feita pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) mostrou como as secretarias de ensino reagiram nesse ínterim. Após a publicação das normativas que permitiam a continuidade da educação, constatou-se que todas declararam aderir o ensino remoto. Entretanto, mais de 90% das Secretarias Municipais não estavam recolhendo dados de atividades dos estudantes e somente 3 das 20 Secretarias Estaduais analisadas estavam (CIEB, 2020). Com base nos levantamentos da ONU (2020a), o fortalecimento de dados e monitoramento de aprendizado é uma estratégia para melhorar a qualidade do ensino e minimizar a exclusão digital. Mais do que antes, IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 37 a organização ressalta a importância de países com elevada desigualdade de renda, como o Brasil, investirem em um sistema de monitoramento que alcance alunos, professores e funcionários das instituições. São por meio destes dados que as políticas educacionais devem ser reformuladas para atender a sociedade durante e após a pandemia. Aqui vemos grandes lacunas, referentes ao acesso ao aprendizado, preparo dos professores e ações das secretarias de ensino, que precisavam de planejamento e investimento para não serem empecilhos na promoção da educação. Existiam demandas e orçamento disponível, mas ainda assim, não houve esforços suficientes dos órgãos públicos. Infelizmente, há uma grande tendência para isso acarretar na perda de professores para outros empregos e na inserção precoce de crianças no mercado de trabalho, que talvez nunca voltem a estudar (ONU, 2020a). 4 A POTENCIALIDADE DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS No Brasil, a polarização política e a defesa de um estado mínimo vem naturalizando o um desprezo diante dos efeitos da interrupção da educação. Nesse sentido, a potencialidade das políticas públicas como fonte de desenvolvimento da nação é desconsiderada em muitos momentos. Como a falta de investimentos para minimizar a desigualdade de acesso, que é um dos grandes fatores que condicionam a efetividade das políticas educacionais nesse período. A reabertura das escolas no Brasil tem recebido considerável atenção. Muitas crianças e jovens não podem desfrutar do luxo de poder ficar em casa até que uma medida eficaz contra o coronavírus seja disponibilizada. Assim, a evolução do ensino aprendizado não é feita em consonância entre todos os estudantes do país e, por isso, consideramos que essa desconformidade não é uma ação capaz de promover uma educação inclusiva e equitativa como deveria ser. Apesar da existência de políticas brasileiras que promovem inclusão, desenvolvimento profissional e acessibilidade para os estudantes, muitas não continuaram funcionar na pandemia. Ainda que sejam políticas que não tem estrutura – seja tecnológica, humana ou material- para ser implementadas de forma remota, o fechamento das escolas abriu lacunas que deveriam ser supridas por outras políticas de assistência. A inclusão de crianças com deficiência, por exemplo, parece ter sido esquecida por muitas escolas (FRAIDENRAICH, 2020). IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 38 Nesse período, a formulação de políticas educacionais deve ser rápida, estratégica e abranger, ao mesmo tempo, demandas educacionais e ações contra a disseminação do vírus (ONU, 2020a). Isso porque não adianta implantar medidas que recuperem o ensino mas desprezema gravidade da pandemia. Por isso, a ONU (2020b) recomenda o uso de políticas regionais de práticas educacionais abertas para promover maior acessibilidade até que a transmissão do vírus seja suprimida. A partir disso, é que deve ser planejado a volta de um ensino presencial. A educação pública precisará passar por uma reformulação que abrange desde questões operacionais, como disposição de carteiras na sala, até questões estratégicas de ensino, como a reestruturação de conteúdos didáticos para cada nível educacional (ONU, 2020b). As políticas públicas nesse momento precisarão cumprir um papel de recuperar alunos que foram evadidos e garantir um retorno seguro a eles (ONU, 2020b). Nesse processo, a arrecadação de dados é determinante para a melhoria da aprendizagem. A periodicidade das avaliações – externas e internas- devem ser frequentes para poderem contribuir com a formulação, a reformulação e o monitoramento de políticas educacionais federais ou locais (ONU, 2020b). Para países com características socioeconômicas como o Brasil, recolher dados sobre a situação das famílias ajudam na promoção de políticas de atendimento de outros campos sociais, como saúde e economia, que contribuem com o trabalho das políticas educacionais (ONU, 2020a). Tendo em vista que é historicamente recente a valorização da educação como direito humano básico, a ONU (2020a) considerou a situação de pandemia como a maior perturbação da promoção do ensino de toda história da humanidade. Ao lidar com essa situação de forma errônea, seremos cúmplices da retirada de alunos que podem nunca mais voltar às escolas. O que evidencia que investir em políticas para população de baixa renda é imprescindível. CONCLUSÕES Os documentos analisados evidenciaram que a educação precisa ser posta como uma das prioridades nas agendas de líderes nacionais visto que é a única forma de garantir o direito de bilhares de alunos e também de impulsionar o progresso social e econômico. O plano de continuidade da educação brasileira foi implementado às pressas e, ao invés de ser marcado IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 39 pela promoção de uma educação híbrida, foi reconhecido por não oferecer suporte adequado para atender os estudantes e os professores. Sob a ótica da ONU, consideramos que o Brasil não deveria focar em um ensino que não fosse com qualidade de ensino democrática e acessível para todos no período de pandemia e além. Suas características de país subdesenvolvido põem em risco a proteção social das crianças e adolescentes do país, portanto, mais do que nunca é preciso pensar no amparo às minorias sociais. Em suma, a perda de acompanhamento da comunidade escolar não colabora com a formulação de políticas eficientes. É preciso que gestores públicos educacionais reflitam sobre as estratégias de recuperação da educação e a priorizem como forma de desenvolvimento humano e social. Para isso podem se basear em experiência de outros países e evitar medidas que podem impactar negativamente a vida dos estudantes, famílias e profissionais do ensino. REFERÊNCIAS ABRINQ. Cenário da Infância e Adolescência no Brasil - 2019. São Paulo, 18 nov. 2019. Disponível em: https://www.fadc.org.br/sites/ default/files/2019-05/cenario-brasil-2019.pdf. Acesso em: 12 ago. 2020. BRASIL. Controladoria Geral da União. Portal da Transparência. Orçamento Atualizado para a Área de Atuação Educação, 2020. Disponível em: http://www.portaltransparencia.gov.br/funcoes/12- educacao?ano=2020. Acesso em: 22 ago. 2020. CIEB. Planejamento das Secretarias de Educação durante o Ensino Remoto. São Paulo, 3 abr. 2020, Disponível em: https:// cieb.net.br/wp-content/uploads/2020/04/CIEB-Planejamento- Secretarias-de-Educac%C3%A3o-para-Ensino-Remoto-030420.pdf. Acesso em: 11 jul. 2020. IDEB. Relação entre Resultados e Metas de 2005 a 2017. Brasília, 2018. Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/ resultadoBrasil.seam?cid=467065. Acesso em: 02 jul. 2020. FRAIDENRAICH, V. O ensino remoto e as crianças com deficiências: elas foram esquecidas? In: MOREIRA, Ivana. Canguru News. São Paulo, 5 jun. 2020. Disponível em: https://cangurunews.com.br/a-crianca-com- deficiencia-na-quarentena/. Acesso em: 22 jul. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 40 ONU. Policy Brief: education during COVID-19 and beyond. [S.l.] ago. 2020a. Disponível em: https://www.un.org/development/desa/dspd/ wp-content/uploads/sites/22/2020/08/sg_policy_brief_covid-19_and_ education_august_2020.pdf. Acesso em: 20 ago. 2020. ONU. Guidance on Open Educational Practices during COVID-19 pandemic. Beijing, maio 2020b. Disponível em: https://iite.unesco.org/ publications/guidance-on-open-educational-practices-during-covid-19- pandemic/. Acesso em: 21 ago. 2020. PNAD. Educação em 2019. Rio de Janeiro, IBGE, v. 7, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_ informativo.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020. PRETTO, N. de L. Políticas públicas educacionais no mundo contemporâneo. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v.2, n.1, p. 8-21, mar. 2006. SANTOS, I. B. de A; OLIVEIRA, M. do S. O. Políticas públicas na educação de jovens e adultos: projetos de letramento, participação e mudança social. EJA em Debate, Florianópolis, v. 1, n. 1, p. 1-18, nov. 2012. SAVIANI, D. Escola e Democracia. Edição Comemorativa. Campinas: Autores Associados, 2008. ZANOTTI, L. J. Etapas Históricas de la Política Educativa. 2 ed. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1972. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 41 OS DESAFIOS DA VALORIZAÇÃO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA Liuvânia Barcelos* RESUMO: Este estudo objetivou compreender os desafios da valorização docente em tempos de pandemia do Covid-19. O objeto desse estudo é tema pertinente no cenário educacional brasileiro, previsto e embasado na Resolução CNE/CEB nº 2, 28/5/2009, na Lei do Piso Salarial, Lei 11.738/2008 e pela Lei 11.494/2007, a Lei do Fundeb. Percebeu-se que desafios já existentes se agravaram em tempos de pandemia. O percurso metodológico, realizado por meio de pesquisa bibliográfica e documental pautou-se na análise das políticas públicas vigentes e na dificuldade em executá-las pelos governos de todas as esferas. A fundamentação teórica pautou-se em Jacomini, Pinto, Arroyo e autores de referência. Conclui-se que a exigência da valorização docente apresentada pelas legislações vigentes e pelos estudiosos da área são insuficientes para garantir a valorização, foram agravadas pela pandemia no contexto na atual política brasileira e o tema continua sendo um grande desafio no cenário da atual conjuntura do país. Palavras-chave: valorização. plano de carreira. pandemia. INTRODUÇÃO O presente estudo é fruto dos estudos da dissertação do mestrado que elaboro desde 2017. Foi embasado em estudos anteriores de muitos pesquisadores, tais como JACOMINI (2016); PINTO (2019) e ARROYO (2013). O cerne desta pesquisa e da pesquisa que faço em minha dissertação de mestrado é a valorização docente, que aqui, nesse caso, tem o recorte do tempo: em tempos de pandemia. Vivemos uma conjectura outrora vivenciada a mais de um século: uma pandemia causada por um vírus que causa uma doença respiratória, a covid-19, pelo agente coronavírus, identificado primeiramente na China, em dezembro de 2019. De acordo com a OMS (2020), advindos de uma grande família viral, os coronavírus, que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais, são conhecidos desde meados de 1960. Alguns coronavírus podem causar doenças graves com impacto importante em termos de saúde pública, como a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), identificada em 2002 e a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), identificadaem 2012. Em decorrência da pandemia, escolas foram fechadas no Brasil e também e vários países pelo mundo. Assim como diversos estabelecimentos industriais e comerciais com o objetivo * Unesp Franca. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas. florzinhaliu@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/8922270753717725 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 42 de evitar o contágio, tendo em vista que o vírus é facilmente transmitido de uma pessoa para outra. Houve um forte impacto na economia e esse impacto aconteceu também na valorização docente. O objetivo deste estudo é evidenciar as legislações que asseguram a valorização docente e a dificuldade dos governos em assegurar o cumprimento da lei, principalmente em tempos de pandemia com graves consequências para a economia dos municípios no Brasil. Uma educação de qualidade deve ser subsidiada pela valorização dos professores, de acordo com Arroyo (2013), sendo esse reconhecimento organizado por meio de formações continuadas que valorizem a carreira. METODOLOGIA Do ponto de vista dos procedimentos metodológicos, trata-se de um estudo documental, respaldado nas legislações vigentes e no referencial teórico nos estudos de valorização docente constitui-se a pesquisa na análise e compreensão desses documentos e nos estudiosos acerca do tema. Para Lüdke (1986), a análise documental pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, ora desvelando aspectos novos de um tema ou problema, ora complementando as informações obtidas por outras técnicas. Torna-se necessário lançar mão da revisão bibliográfica do tema, além da pesquisa documental com base nas fontes oficiais das da legislação nacional que versa sobre o tema e a produção acadêmica concernente. Conceitua Jacomini (2016) que o trabalho docente requer formação adequada e condições de trabalho por meio da carreira. Com base nesse pressuposto consideramos que a atividade do professor compreende o ensino como “atividade intencional de transmissão de elementos culturalmente valorizados”, compreendido aqui como uma parte da atividade educacional. 1 REGULAÇÃO DA CARREIRA DOCENTE NO BRASIL As políticas públicas de valorização docente compreendem leis, resoluções e decretos. A valorização da carreira docente, cerne desta pesquisa, é recorrente também em pesquisas dos mais renomados teóricos em educação, tais como Jacomini (2016), Pinto (2019) e Arroyo (2013). Depreendemos por Pinto (2009), que a regulação da carreira com foco na valorização docente ocorre desde a Constituição Federal de 1988, a IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 43 CF/88 que assegura em seu artigo 206 a “valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas”. Ressalta ainda que deve ser assegurado o “piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal”. O parágrafo único desta lei destaca sobre “as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. Jacomini (2016) relembra que o acúmulo de cargo é vedado pela Constituição Federal, exceto em casos específicos, dos quais está o professor. Embora seja considerado como uma conquista pelos professores e respectivas entidades de classe, é importante destacar que o acúmulo de cargo só se justifica pela baixa remuneração dos professores resultando em um problema tanto para o profissional, devido ao grande número de horas trabalhadas, quanto para a qualidade do trabalho que, inevitavelmente, fica prejudicada. Destacamos que a valorização docente é apontada na LDB, Lei De Diretrizes e Bases da Educação Básica Nacional, 9394/96 observada o princípio da educação em seu artigo 3° “valorização do profissional da educação escolar”, ressalta sobre os Sistemas de Ensino em seu artigo 67 que “promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando- lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público”. Destaca que o ingresso seja “exclusivamente por concurso público de provas e títulos”, que aconteça o “aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim”. Ressalta ainda que seja assegurado o “piso salarial profissional” e a “ progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho”, garantindo o “período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho” e que o docente tenha “condições adequadas de trabalho”. Embora existam impasses e desafios em relação a valorização docente, há que se considerar o esforço por parte do Estados, afirmam Gatti e Barreto (2009). Se comparados ao de outras profissões que exigem nível superior, os salários dos docentes não são atraentes; e em relação à carreira, apesar da valorização prevista na LDB, outrora aqui IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 44 citada, há a ausência de planos estruturados de modo a oferecer horizontes promissores aos professores. A valorização docente requer um financiamento adequado da educação. Com o intuito que criar um fundo contábil que igualasse as condições dos entes federados, o FUNDEB, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, Lei nº 11494/2007 insere que “pelo menos 5% (cinco por cento) do montante dos impostos e transferências que componham a cesta de recursos do Fundeb” e garantam “a aplicação do mínimo de 25% (vinte e cinco por cento) desses impostos e transferências em favor da manutenção e desenvolvimento do ensino”. Esses fundos são compostos por “20% (vinte por cento)” das fontes de receita que alguns impostos pagos pelo contribuinte, resultando em vinte e sete fundos, um para cada Estado dos vinte e seis da Federação e um fundo para o Distrito Federal. A distribuição do fundo é realizada “ na proporção do número de alunos matriculados nas respectivas redes de educação básica pública presencial”. Isto traduz-se no número de alunos de cada sistema de ensino municipal. A principal garantia de aplicação dos fundos criados pelo Fundeb está em seu artigo 22 que assegura que “Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais totais dos Fundos serão destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício na rede pública”. Jacomini (2016) afirma que a Lei do Piso Salarial Profissional Nacional para os profissionais do magistério público da educação básica, Lei 11738/2008, regulamenta, a partir da sua homologação, um valor mínimo a ser pago aos docentes de todo território nacional. Àquela época, 2008, nenhum docente poderia ter o salário inferior a “R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) mensais, para a formação em nível médio, na modalidade Normal, prevista no art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996” observado “a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais”. A Lei do Piso destaca que “Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência”. A jornada docente também respeitará “o limite máximo de 2/3 (dois terços) da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos”. Em seu artigo 6 a lei assegura que “ A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar ou adequar seus Planos de Carreira e IV Seminário Internacional de Pesquisa em PolíticasPúblicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 45 Remuneração do Magistério até 31 de dezembro de 2009”. A elaboração dos planos de carreira também foi assegurada pela CF/88 em seu artigo 206. Em 2009, o presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, César Calegari, publicou a Resolução CEB/CNE 2 28/05/2009 que versa em seu artigo 1° que os planos de carreira “nas redes de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, deverão observar as Diretrizes fixadas por esta Resolução, elaborada com base no Parecer CNE/CEB nº 9/2009”. A resolução ainda assegura em seu artigo 4 que “As esferas da administração pública que oferecem alguma etapa da Educação Básica, devem instituir planos de carreira para todos os seus profissionais do magistério, e, eventualmente, aos demais profissionais da educação”, ainda ressalta a importância “da carreira dos profissionais do magistério público e desenvolvimento de ações que visem à equiparação salarial com outras carreiras profissionais de formação semelhante”, observando ainda a “progressão salarial na carreira, por incentivos que contemplem titulação, experiência, desempenho, atualização e aperfeiçoamento profissional” . Em seu artigo 5° garante que é preciso “diferenciar os vencimentos ou salários iniciais da carreira dos profissionais da educação escolar básica por titulação”. A movimentação na carreira, destaca Jacomini (2016), deveria implicar um aumento no vencimento-base do professor. Em seu estudo sobre planos de carreira, a autora relata que embora exista muitas formas de progressão nos planos de carreira do magistério requisitos como titulação, tempo de serviço, formação continuada e avaliação de desempenho aparecem na maioria. A autora destaca que mesmo cumprindo os critérios requeridos para progredir na carreira, ela está condicionada a decisões governamentais que podem atrasar ou mesmo impedir o previsto nos planos. É o que pretende destacar o presente estudo. A pandemia causada pelo novo coronavírus fez com que o Governo Federal efetuasse um pacto federativo com seus entes. Para subsidiar os recursos necessários ao enfrentamento da pandemia, o Governo homologou a Lei complementar Nº 173, de 27 de maio de 2020 que Estabelece o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19). A Lei, em seu artigo 8° assegura que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios afetados pela calamidade pública decorrente da pandemia da Covid-19 ficam proibidos, até 31 de dezembro de 2021”. A lei ainda ressalta que não poderão IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 46 “conceder, a qualquer título, vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração”. Impede os entes federados de “criar cargo, emprego ou função que implique aumento de despesa” e “alterar estrutura de carreira que implique aumento de despesa”. Proíbe ainda de “contar esse tempo como de período aquisitivo necessário exclusivamente para a concessão de anuênios, triênios, quinquênios, licenças-prêmio”, ou seja, quaisquer mecanismos que “aumentem a despesa com pessoal em decorrência da aquisição de determinado tempo de serviço, sem qualquer prejuízo para o tempo de efetivo exercício, aposentadoria, e quaisquer outros fins”. Ponderamos que até 2021 os munícipios brasileiros não poderão efetuar nenhuma medida que aumente suas despesas, respeitando o Pacto Federativo 173/2020. Isso traduz-se em desvalorização docente até o final de 2021. CONCLUSÕES Diante do exposto, concluímos que embora a valorização docente seja assegurada pela Constituição Federal de 1988, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica de 1996, pela Lei do Fundeb de 2007, pela Lei do Piso Nacional de 2008 e pela Resolução CEB/CNE de 2009 entre outras legislações existentes que não foram abordadas neste trabalho. Todavia, embora em tempos habituais seja complexa a implementação dessas políticas públicas, em tempos de pandemia, com a Lei 173/2020 que determina que nenhum servidor tenha acréscimos em seus salários, bem como vantagens na carreira, fica reprimida a implementação de políticas públicas que assegurem a valorização docente no Brasil até o final de 2021. Jacomini (2016) defende que a carreira e os salários dos professores deveriam ser definidos em conforme a importância desses profissionais na sociedade. O que se observa é a desvalorização política e social da docência. Os professores são colocados como centrais quando o assunto é qualidade na educação, destacando-se a legislação estabelecida com objetivo de regular a carreira e o salário docentes, visando a sua valorização, assegura Jacomini (2016). Pinto (2009) salienta que o baixo salário do professor tem resposta no poder público, seu maior empregador. A remuneração, portanto, está intimamente ligada à receita pública per capita. Garante ainda que a IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 47 remuneração está sujeita ao prestígio da profissão e a valorização que a sociedade dá na mesma. Concluímos que a valorização docente ficará congelada até 2021, aguardando que os próximos governantes, a sociedade e a categoria se envolvam no processo que está intimamente relacionada a uma sociedade mais justa e igualitária: a educação. REFERÊNCIAS ARROYO, M. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. 14 ed. Petrópolis: Vozes, 2013. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 15 out. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Lei 11.494, de 20 de Junho de 2007. Dispõe sobre a regulamentação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação Básica (FUNDEB). Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm. Acesso em: 15 out. 2020. BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília, 1996. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 15 out. 2020. BRASIL. Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. Regulamenta a alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Piso Salarial Profissional Nacional Para Os Profissionais Do Magistério Público Da Educação Básica. Disponível em http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11738.htm. Acesso em: 15 out. 2020. BRASIL. Resolução CNE/CEB, nº 02, de 28 de maio de 2009 que Fixa as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/resolucao_cne_ceb002_2009.pdf. Acesso em: 15 out. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 48 BRASIL. Lei nº 173, de 27 de maio de 2020. Estabelece o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19). Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-complementar-n- 173-de-27-de-maio-de-2020-258915168. Acesso em: 15 out. 2020. GATTI, B. A. (coord.); BARRETO, E. S. de S. Professores do Brasil. Brasília: UNESCO, 2009. JACOMINI, M. A.; PENNA, M. G. O. Carreira docente e valorização do magistério: condições de trabalho e desenvolvimento profissional. Revista Pro-posições, Campinas, SP, v. 27, n. 2, p. 177- 202, maio/ago. 2016. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. OMS. Organização Mundial de Saúde. Coronavirus disease (COVID-19) pandemic. Genebra: OMS, 2002. Disponível em: https://www.who.int/ emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019. Acesso em: 15 out. 2020. PINTO, J. M. R. Remuneraçãoadequada do professor: desafio à educação brasileira. Retratos da Escola. Brasília, v. 3, n. 4, p. 51-67, jan./jun. 2009. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 49 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE 0 A 3 ANOS NO BRASIL NA ÚLTIMA DÉCADA: AVANÇOS E DESAFIOS DESTA ETAPA EDUCACIONAL Sandra Elisa Fernandes* 1 RESUMO: Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases 9394/1996 (LDB), dá início ao processo educacional brasileiro com a entrada das crianças nas creches ou pré-escolas, assegurando os direitos a educação e aos cuidados previstos pela LDB. Porém, mesmo diante de avanços legais que resultaram na expansão significativa das matrículas em creches, há ainda desafios, no que diz respeito ao acesso e permanência dessas crianças nas instituições educacionais brasileiras. A pesquisa em andamento, configurada como descritiva e qualitativa, concerne em um estudo a ser realizado acerca da implementação de políticas públicas para educação de crianças de 0 a 3 anos no Brasil, a partir da década de 2010. O estudo parte de pesquisas bibliográficas, análise documental e através da interpretação dos dados coletados pretende desvelar avanços e desafios na implementação de políticas públicas voltadas para as creches brasileiras a partir da década citada. Palavras-chave: políticas públicas. creche, acesso. matrícula. permanência. INTRODUÇÃO A história da educação infantil brasileira é marcada por permanentes lutas na busca de políticas públicas que garantam um atendimento de qualidade às crianças de 0 a 3 anos. Muitos avanços e retrocessos marcam a trajetória das políticas públicas educacionais para esta faixa etária, principalmente quando analisamos a tendência histórica do Estado em isentar-se da responsabilidade pela educação dessas crianças, destinando a esta etapa recursos financeiros insuficientes para atender a demanda de vagas e garantir um atendimento de qualidade. Ao delimitarmos o recorte temporal para a análise das políticas públicas educacionais direcionadas ao atendimento de crianças de 0 a 3 anos na última década, é preciso relembrar algumas políticas implementadas anteriormente, que determinaram o processo de construção das próximas políticas para esta etapa educacional. A promulgação da Constituição Federal de 1988 estabeleceu como dever do Estado “o atendimento em creches e pré-escolas às crianças * Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Curso de Mestrado Profissional. Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. Email sandra.fernandes@unesp.br http://lattes.cnpq.br/0693504163779154 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 50 de 0 a 6 anos”. (BRASIL, 1988, art. 208, inciso IV), promovendo grandes avanços na área da educação infantil. Esse grande marco inicial mudou expressivamente os rumos deste segmento educacional, culminando em 1996, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/96, com a inclusão das creches ao sistema de ensino, compondo assim a primeira etapa da educação básica brasileira. Entretanto, apesar das conquistas obtidas através das promulgações da Constituição e da LDB, a educação infantil continuou sem uma política clara de financiamento, ficando a critério dos entes municipais, com menor capacidade orçamentária e da atuação de instituições filantrópicas, particulares o provimento desta etapa da educação básica. Tal fato se confirmou e se acentuou com a não inclusão da Educação Infantil no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), política de financiamento criada em dezembro de 1996, mesmo mês e ano que este segmento educacional foi integrado à primeira etapa da educação básica, através da promulgação da LDB. Outro marco importante para as políticas voltadas para as crianças de 0 a 3 anos, foi a homologação da Lei nº 11.274, de 2006, que modifica a duração do ensino fundamental para nove anos escolares, com a matrícula obrigatória aos 6 anos de idade e atendimento educacional em creches e pré-escolas para crianças de 0 a 5 anos e 11 meses. Em seguida, no ano de 2009, a Emenda Constitucional nº 59/2009, tornou obrigatória a matrícula de crianças a partir dos 4 anos, na Educação Básica, cabendo ao município a disponibilização de vagas em estabelecimentos públicos para toda a demanda nessa faixa etária, conforme estabelece o art. 212 da Constituição Federal de 1988, acerca da responsabilidade prioritária dos municípios com a educação infantil. As promulgações dessas leis impactaram diretamente as políticas públicas de educação infantil. Dentre as medidas propostas pela emenda nº 59, destaca-se o impacto provocado pela matrícula obrigatória das crianças a partir dos 4 anos de idade na pré-escola, excluindo a primeira etapa, constituída pela faixa etária de 0 a 3 anos de idade, da obrigatoriedade do ensino. Tal exclusão produziu uma ruptura no conceito construído sobre a infância e o trabalho integrado da educação infantil com o ensino fundamental, tornando secundárias as políticas de oferta de vagas aos bebês e crianças bem pequenas. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 51 DESENVOLVIMENTO O presente artigo faz parte de dados parciais obtidos na pesquisa de Mestrado no Programa de Pós Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e encontra-se em andamento. Neste contexto, este artigo tem como objetivo analisar a efetividade das políticas públicas nacionais, no que diz respeito ao atendimento educacional às crianças de 0 a 3anos de idade, na última década, no contexto nacional. Este recorte temporal delimita a pesquisa bibliográfica a partir da leitura e análise de documentos legais, como a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais nº 9394/96, a Emenda Constitucional nº 59 de 2009, que prevê a universalização do atendimento na educação infantil e no ensino médio, ampliando a obrigatoriedade da matrícula aos alunos entre 4 e 17 anos, a Lei, 12.796 de 2013, que altera a LDB, propondo a obrigatoriedade da matrícula das crianças de 4 anos na Educação Infantil, com freqüência mínima de 60% do total de horas. Trata-se de uma pesquisa exploratória, na qual o processo de análise dos dados obtidos, através das referências bibliográficas e dos documentos leais, possibilitará a contextualização do tema abordado, a indagação dos porquês de suas configurações e a compressão do objeto de estudo. Os estudos utilizam como referencial teórico as autoras Kramer, Campos e Rosemberg e como referencial metodológico o materialismo histórico dialético. Os dados coletados na pesquisa exploratória serão sistematizados, analisados e interpretados, tendo como referência a proposta da análise de conteúdo de Bardin e reflexões sobre as contradições que envolvem essa temática. Espera-se que ao final do artigo seja possível compreender como se deu o processo de implementação de políticas públicas nacionais para as creches, envolvendo os cuidados e a educação de crianças de 0 a 3 anos de idade. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1998, que estabeleceu como dever do Estado, o atendimento em creches e pré-escolas às crianças pequenas, a integração da educação infantil como primeira etapa da educação básica, a partir da LDB nº 9.394/96, as instituições de educação infantil passaram por vários processos de regulação, incluindo várias ações normativas que promoveram a inserção das creches aos sistemas de ensino municipais e a expansão da oferta de vagas para esta faixa etária. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 52 Apósa promulgação da Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ajudou a redesenhar as políticas sociais vinculadas à política de creches, apontando uma nova concepção de infância e da adolescência, partindo da noção de direitos, opondo-se ao atendimento assistencialista que prevaleceu durante várias décadas nas instituições de atendimento as crianças muito pequenas. O ECA propõe um atendimento à criança de forma multidimensional e multicausal, estabelecendo a garantia dos direitos da criança e do adolescente, envolvendo o poder executivo, judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes, entre outros envolvidos nas causas da infância e da juventude. O Estatuto estabelece que é dever do Estado garantir à criança o atendimento em creches (art. 54, IV), definindo ações de responsabilidade quanto ao não cumprimento das determinações estabelecidas (art. 208, III). Esse processo de redemocratização inseriu a creche enquanto um direito presente na Constituição Federal e na legislação que a regulamenta, com atendimento às crianças de 0 a 3 anos e 11 meses, com implementação gerida pelos municípios, com a colaboração técnica e financeira do Estado e da União. “É um dever do Estado e da família, promovido e incentivado com a colaboração da sociedade; e se torna um direito da criança e do trabalhador, facultando à família usar ou não esse serviço”. (BRASIL, arts. 6º XXV; 7.º XXV; 205; 208, IV). De acordo com o ECA, quando o direito à creche não é garantido, pode-se questionar judicialmente o não cumprimento a tal direito. No entanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente não deixou claro na sua promulgação a responsabilidade do município na oferta de vagas em creches. De acordo com Rosemberg (2012, p. 16), os acordos obtidos na elaboração da Constituição Federal de 1988 “camuflaram dissensos mais profundos do que se imaginava”, presentes até hoje na elaboração e implementação de políticas públicas voltadas para esta etapa educacional, caracterizando a criança pequena como um indivíduo que deve ser cuidado na “esfera do privado, da família e da casa”. (ROSEMBERG, 2008, p, 3-4). A inserção das creches no sistema de ensino básico deslocou o atendimento desta clientela das secretarias de assistência para as de Educação em todo o país. Neste período várias políticas de investimento em formação foram implementadas, como programas especiais de formação inicial em magistério e curso superior em Pedagogia para as professoras leigas que atuavam nas creches. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 53 Em muitos municípios foram criados setores na Secretaria de Educação para orientar e acompanhar o funcionamento das creches, quanto às novas normas administrativas desta etapa educacional, tanto das entidades públicas quanto das privadas. Houve grande expansão da oferta de vagas na educação infantil, embora sejam recorrentes os registros em torno da insuficiência de vagas diante da demanda, o que demonstra que o direito à educação infantil não foi plenamente efetivado no Brasil. O Plano Nacional da Educação (PNE) 2001-2010, Lei Federal nº 10.172/2001, também provocou forte impacto na política de creches ao determinar que os municípios deveriam atender até 2010, 50% das crianças com até 3 anos de idade, incluiu as creches no sistema nacional de estatísticas educacionais, definiu que os planos plurianuais dos entes federados fossem elaborados de modo a contemplar as metas do PNE e determinou que os municípios deveriam priorizar a educação infantil através da aplicação dos 10% dos recursos vinculados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino não reservados para o ensino fundamental, porém o Plano não determinou a colaboração, através da destinação de verbas, da União e dos Estados. Em 2010, temos a aprovação do Plano Nacional da Primeira Infância (PNPI), apresentando como princípios a ação integral à criança, a inclusão às políticas públicas, reconhecendo as creches como um espaço educacional que promove o cuidado, mas também um espaço de articulação entre a saúde e a assistência (REDE NACIONAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA, 2010). No PNPI, define-se a necessidade de ampliar o acesso às creches e a melhoria da qualidade no atendimento a essas crianças, prevendo um atendimento de 40% da população de até 3 anos de idade, até 2016, estendendo esse atendimento a 70%, até 2022, seguindo padrões de qualidade que atendam as reais necessidades das crianças desta faixa etária. Neste período também foram elaborados a Política dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes e o Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes (2011-2020), que estabelece como meta, atender até 2015, toda a demanda de crianças de 0 a 3 anos de idade em período integral. A partir de 2011, a União estabelece novas ações de apoio e estímulo aos municípios, buscando a ampliação da oferta de vagas em creches. A Lei nº 12.499/11 prevê apoio financeiro da União aos IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 54 municípios na criação de novos estabelecimentos públicos de educação infantil construídos com recursos de programas federais (art. 1º, I) Em 2012, a União, por meio da Ação Brasil Carinhos, do Plano Brasil Sem Miséria (BRASIL, 2011; 2014), busca retirar da pobreza todas as famílias com crianças de até 6 anos e, propõe o aumento ao acesso dessas crianças a creches e serviços de saúde. O Brasil Carinhoso estruturou-se em três eixos: saúde, educação/nutrição e transferência de renda/assistência social, com o objetivo de integrar o cuidado à educação infantil. Esse programa foi implementado após o diagnóstico de que 14,6% das crianças com ate seis anos estavam em situação de extrema pobreza (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2013). A Lei Federal 13.005/2014 aprovou o novo PNE (2014-2024), com a permanência da meta de ampliação da oferta de educação infantil em creches, com atendimento mínimo de 50% das crianças de até 3 anos, até 2024. O PNE também estabeleceu metas relacionadas a qualidade do atendimento às crianças, estabelecendo que em dois anos deveria ser estabelecido o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CACQi), orientando a ampliação do acesso aos mais pobres às creches. No ano de 2014, a Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014 “institui normas gerais para as parcerias entre a administração pública e organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidade de interesse público e recíproco, mediante a execução de atividade ou de projeto previamente estabelecidos em plano de trabalho inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação”. (BRASIL, 2014, art. 1º). Este tipo de atendimento conveniado compreende a participação do município por meio de subsídios financeiros e/ou disponibilização de prédios públicos para instituições não governamentais e filantrópicas organizarem e manterem as creches. Para a consolidação desse convênio, propostas de organizações variadas são submetidas a avaliação do poder público, através do Procedimento de Manifestação de Interesse Social, no qual são apresentadas questões de interesse social. Em seguida é realizado um chamamento público, objetivando a celebração de parceria e o fim do favorecimento de determinadas entidades em detrimento de outras. Rosemberg (2002) aponta que essa perspectiva de atendimento por meio de convênios tem contribuído com a baixa qualidade das IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 55 instituições de educação infantil, em muitas situações prejudicando o desenvolvimento da criança. Há uma grande tendência de expansão de vagas em creches por meio do convênio com essas organizações da sociedade civil. As parceriascom o terceiro setor permitem que os municípios, transfiram valores menores para essas entidades, para custear as matrículas de creche, além de evitar problemas relacionados à folha de pagamento e Lei de Responsabilidade Fiscal, pois as entidades conveniadas assumem a administração das creches. Apesar de esta parceria ser vista como uma forma de agilizar o atendimento e lidar com a demanda reprimida de vagas, essas metas não estão sendo atingidas, visto que o Brasil não deve atingir a meta de ter metade das crianças de 0 a 3 anos matriculadas em creches até 2021, como prevê o PNE. Historicamente, a educação em creches sempre esteve ligada à assistência social e se expandiu por meio de arranjos de convênios entre entidades sociais sem fins lucrativos e o Estado, esta visão assistencialista não prioriza um atendimento educacional de qualidade, não investe na formação continuada dos professores que atuam com a aprendizagem e o desenvolvimento destas crianças, impedindo assim que seja possível ofertar um ensino de qualidade nas creches brasileiras. CONCLUSÕES O presente artigo teve por objetivo discutir os avanços e retrocessos existentes no processo de democratização do atendimento às crianças de 0 a 3 anos brasileiras, visto que esta etapa educacional passou por diversas mudanças e desafios ao longo da história da educação brasileira. A promulgação da Constituição Federal de 1988 e da LDB 9.394 de 1996, bem como as outras inúmeras medidas e alterações de lei, impactaram significativamente no atendimento das crianças de 0 a 3 anos de idade. A educação para esta etapa escolar, atualmente vem se caracterizando por um cenário de maior destaque, apresentando algumas mudanças em sua trajetória institucional de atendimento às crianças, deixando de oferecer apenas um atendimento assistencialista, passando a função educacional. Porém, mesmo frente a esses avanços obtidos a partir da construção das citadas políticas públicas, os desafios enfrentados pela educação infantil ainda são inúmeros. Estudos sobre o financiamento da IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 56 educação no país mostram enormes obstáculos para o alcance da melhoria da qualidade da educação infantil e para a ampliação da oferta de vagas para esta faixa etária. A maioria dos municípios, os principais responsáveis pelo atendimento das crianças de 0 a 3 anos, não conta com recursos suficientes para a implementação de uma educação infantil de qualidade. Para que as metas definidas no PNE possam ser cumpridas, saindo do papel, seria necessário o aporte de novos recursos federais e infelizmente o que vemos, hoje em dia, é a não determinação da prioridade de atendimento e recursos destinados a esse setor da educação, por parte do poder executivo federal. Outro fator de grande relevância neste cenário de implementação de políticas públicas e a falta de recursos para o financiamento da educação de crianças de 0 a 3 anos, está relacionada a obrigatoriedade do atendimento à crianças de 4 anos, previsto em lei. Essa obrigatoriedade da matrícula aos 4 anos e a necessidade de ampliar vagas em creches não podem ser analisadas isoladamente. Além de corroborar com a segmentação entre creche e pré-escola, esta determinação implicou diretamente no funcionamento e na estruturação da educação infantil. Neste cenário, os municípios tiveram que investir seus recursos na educação infantil para crianças de 4 e 5 anos e passaram a delegar o atendimento em creches para entidades equivalentes, ampliando os convênios com instituições comunitárias, filantrópicas, domiciliares e confessionais, que muitas vezes reforçam um atendimento com relações de clientelismo, padrão na constituição da sociedade nacional, a qual acaba por conformar os beneficiados em sujeitos de gratidão. Desta forma, o reconhecimento da educação infantil, das famílias e das crianças acaba sendo secundarizado (CAMPOS, 2010). Os estudos evidenciam um acesso insuficiente e desigual, apontam falta de qualidade da vaga ofertada em certos contextos, ameaça à unidade pedagógica da etapa, devido à obrigatoriedade da matrícula escolar na pré-escola, forçando o aumento da privatização da oferta de creche, partindo de parcerias público-privadas, desacelerando o investimento por parte do poder público. As leis destacam a necessidade de considerar a criança como sujeito de direitos em desenvolvimento. Porém as políticas públicas de ampliação da oferta apresentam discrepâncias com os direitos da criança IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 57 previstos nas leis. É necessário avançar para além do direito ao acesso e garantir a oferta em creches, colocando a criança no centro das reflexões. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. Portal da legislação – Governo Federal. 1988. Disponível em: http:// www.planalto.gov. br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2020. BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Portal da legislação – Governo Federal. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 16 set. 2020. BRASIL. Lei 9.424, de 24 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Portal da legislação – Governo Federal. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9424compilado.htm. Acesso em: 16 set. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. 2.ed. Brasília: MEC, 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ direitosfundamentais.pdf. Acesso em: 2 out. 2020. BRASIL. Medida Provisória 705, de 23 de dezembro de 2015. Altera a Lei 12.722, de 3 de outubro de 2012, que dispõe sobre o apoio financeiro da União aos Municípios e ao Distrito Federal para ampliação da oferta da educação infantil. Portal da legislação – Governo Federal. Brasília, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/Mpv/mpv705.htm. Acesso em: 2 out. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação infantil. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=2298-rceb005-09&category_ slug=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 7 out. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 58 BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer 9, aprovado em 16 de fevereiro de 2000. Consulta quanto à autorização, credenciamento e supervisão das Instituições de Educação Infantil, tendo em vista a Lei 9.394/96 (LDB). Portal do MEC, 2000. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/ arquivos/pdf/pceb09_00.pdf. Acesso em 9 out. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetro Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 2018. Disponível em https:// educacao.caieiras.sp.gov.br/img/download/parametros-qualidade.pdf. Acesso em 10 out. 2020. BRASIL. Lei 13.005 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/ l13005.htm. Acesso em: CAMPOS, M. M. M. A educação infantil com direito. In: CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO. Insumos para o debate 2 – Emenda Constitucional nº 59/2009 e a educação infantil: impactos e perspectivas – São Paulo: Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 2010. CAMPOS, M. M. M.; ROSEMBERG, F.; FERREIRA, I. M. Creches e Pré-escolas no Brasil. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1995. CAMPOS, M.M. M. Educação infantil: o debate e a pesquisa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 11, p. 113-127, jul. 1997. KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: educação infantil e/é fundamental. Revista Educação & Sociedade, Capinas, vol. 27, n. 96 – Especial. p. 797-818. Out. 2006. KUHLMANN JUNIOR, M. Educação Infantil e Currículo. In: FARIA A.L.G; PALHARES M.S (Orgs.). Educação Infantil Pós LDB: Rumos e desafios. Campinas: Editora Autores Associados, 1999. KUHLMANN JUNIOR, M. Histórias da educação infantil brasileira. Revista Brasileira de Educação. São Paulo, v. 14, n. 2, p. 5-18, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n14/n14a02.pdf. Acesso em 23 set. 2020. KUHLMANN JUNIOR, M. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. 6.ed. Porto Alegre: Mediação, 2011. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 59 A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E A COMUNIDADE NA ESCOLA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Luís Henrique de Souza Ferreira*1 Genaro Alvarenga Fonseca** RESUMO: A partir da Constituição Federal de 1988, estabeleceu-se, através de documentos norteadores da educação nacional, uma nova forma de interação entre escola e comunidade, o que implicou na reorientação dos papeis dos atores envolvidos na promoção do ensino. Algumas formas de interação tornaram-se possíveis por meio de Projetos Educativos realizados pela própria comunidade e inseridos no ambiente escolar, fomentando a aproximação entre os sujeitos envolvidos direta e indiretamente no processo educativo. Mediante o exposto, este trabalho tem como objetivo verificar o que é colocado pela Constituição Federal, LDB, PNE e BNCC, sobre a participação da comunidade no ambiente escolar. Para este fim, foi realizada análise desses documentos oficiais e as discussões que os envolvem. Verificamos preliminarmente que a articulação entre a comunidade e o ambiente escolar é mencionada nos termos dos documentos e abriu precedentes para que a comunidade fomente ações que contribuam para a formação do alunado. Palavras-chave: comunidade. legislação. gestão democrática. INTRODUÇÃO A escola pública tem como interesse propiciar condições para que os alunos construam e adquiram conhecimentos, atitudes, valores, dando oportunidade a todos, de forma democrática e igualitária, e assim corroborar para a formação de cidadãos críticos, éticos e participativos. Mas como já é do conhecimento notório, a escola pública oferece diversos desafios na concretização de seus objetivos. Dessa maneira, esta pesquisa reflete sobre o desafio da escola pública em concretizar a participação da comunidade no ambiente escolar. Pensando nesta importância, conforme coloca Perrenoud (2001) apud Resende e Silva (2016 p. 39): "família, comunidade e escola são instituições condenadas a cooperar numa sociedade escolarizada”. Estas interações existem justamente porque um sujeito em ambiente escolar não é alheio ao ambiente externo e nem este ambiente escolar aliana-se das questões assentadas pela comunidade. Todos interagem, assim, obtém-se uma educação de qualidade * Universidade Estadual Paulista: Júlio Mesquita Filho. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, campus Franca. Mestrando. luishenriquesferreira@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/2425759851496027 ** Universidade Estadual Paulista: Júlio Mesquita Filho. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, campus Franca. Doutor. gafonseca@uol.com.br. http://lattes. cnpq.br/6960222445357982 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 60 e melhor formação de nossos cidadãos. A participação da comunidade tem, o papel de democratizar a educação, fomentando o diálogo entre os sujeitos envolvidos de forma direta e indireta no processo educativo. A Constituição Federal de 1988, que estabelece em seu Art. 206 no item VI: “Gestão democrática do ensino público, na forma da lei” (BRASIL, 1988), determina a efetivação de uma gestão participativa entre o ambiente escolar e a comunidade em que a instituição de ensino está inserida, por este fator, leva o nome de Gestão Democrática. Sendo a legislação e segmentos da educação pautados pela Constituição, esta pesquisa interroga como os documentos oficiais norteadores da educação, como os derivados da Constituição Federal, como a LDB (Leis e Diretrizes Bases da Educação) 1996, PNE (Plano Nacional de Educação) 2014 e BNCC (Base Nacional Comum Curricular) 2017, definem a participação da comunidade no ambiente escolar. Em outros termos, tem-se como objetivo examinar como a parceria entre a escola e a comunidade é contemplada nos Documentos legais que norteiam a educação no Brasil, a partir da análise da LDB 1996, PNE 2014 e da BNCC 2017 e reflexões acerca da Gestão Democrática. A seleção documental buscou contemplar os principais documentos que regulam a educação no Brasil. Assim, o mapeamento iniciou-se com a Constituição Federal de 1988, fonte primária do direito educacional brasileiro; em seguida, recorremos à leitura da Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, passando ao Plano Nacional de Educação (PNE) publicado em 2014 e, por fim, à Base Nacional Comum Curricular de 2017 (BNCC). Pudemos realizar um rastreamento dos aspectos ligados à relação escola e comunidade através de uma leitura sistemática dos documentos, isto é, utilizando palavras chaves como: comunidade, gestão democrática, pais ou responsáveis, família, participação e ambientes externos. Desse modo, foi possível obter aspectos relevantes para a análise do conteúdo e conclusões do objetivo proposto. DESENVOLVIMENTO 1 DOCUMENTOS LEGAIS E COMUNIDADE Para se pensar a participação da comunidade na escola, convém considerar, primeiramente, o papel descentralizador do Estado brasileiro frente à educação. O Estado, abrindo mão do controle total das instituições IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 61 de ensino, deixa espaço para a decisão dos Estados Federativos, Municípios e Escolas. Comecemos, em ordem cronológica, pelo que foi colocado na Constituição Federal de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, que renova os preceitos democráticos no Brasil, recém libertado de uma Ditadura Militar onde os direitos democráticos haviam sido extirpados das discussões políticas. Em seu Art. 205, determina-se que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988) (grifo nosso). Está explícita na colocação a preocupação da Constituição Federal a respeito da colaboração da comunidade e da família no ambiente escolar. A Constituição visa, portanto, a diversidade dos saberes e as vivências culturais de cada indivíduo, promovendo, dentro do ambiente escolar, um dos preceitos centrais da democracia, tarefa a ser efetivada coletivamente. A escola, sendo alvo das decorrentes reformas educacionais dos anos 1990, tem seu principal fundamento e princípio legal na Leis e Diretrizes e Bases da Educação de 1996, mais especificamente em seu Art. 12: Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular- se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem comosobre a execução de sua proposta pedagógica. VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009) VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do percentual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287, de 2001). (BRASIL, 1996) (grifo nosso) IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 62 Ainda na LDB no Art. 13, é mencionado o papel dos docentes nesta interação: “Os docentes incumbir-se-ão de: VI – colaborar com as atividades de articulação escola com as famílias e a comunidade”. (BRASIL, 1996). Podemos observar neste documento a importância que os legisladores conferem à participação da comunidade no ambiente escolar, sendo responsabilidade das instituições de ensino proporcionar essas interações. Constata-se que, independente da demanda por parte da comunidade, a escola e seu quadro gestor, funcional e educacional devem promover interações entre estes ambientes, cumprindo assim essas atribuições legais das escolas. Entretanto, não existem maiores detalhes a respeito das formas e critérios desta interação. Conforme Martelli (1998) apud Resende e Silva (2016, p. 40): “A LDB de 1996 inova em relação às anteriores pela ênfase nas relações da escola com seu meio e no papel solidário da escola, do professor e da família. A grande questão [...] é como operacionalizar essa integração de papeis”. No PNE de 2014, instituído através da Lei Federal nº 13.005/2014, estas diretrizes encontram-se na Meta 2 no item 2.9, que prevê “incentivar a participação dos pais ou responsáveis no acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio do estreitamento das relações entre as escolas e as famílias” (BRASIL, 2014). Porém, sem ainda uma informação precisa sobre as formas de se concretizar este estreitamento de relações. Já a Base Nacional Comum Curricular – publicada em sua versão mais recente em 2017, sendo homologadas neste momento as etapas da educação infantil e do Ensino Fundamental –, constitui-se como Referência Nacional para formulação dos currículos dos sistemas de ensino brasileiro, orientando também as propostas pedagógicas de todas as instituições escolares. Os documentos acima mencionados reforçam a autonomia dada aos sistemas e redes de ensino, assim como às instituições escolares, para parametrização dos currículos através do eixo principal da BNCC. Mencionam a importância do contexto social, político e cultural em que o aluno está inserido e as decisões autônomas que resultam no processo de envolvimento e participação das famílias e da comunidade em ambiente escolar. São estas decisões que vão adequar a BNCC à realidade local. Podemos ter como exemplo as determinações abaixo, retirados da BNCC sobre os objetivos das Ciências Humanas nos anos finais do Ensino Fundamental: O processo de aprendizagem deve levar em conta, de forma progressiva, a escola, a comunidade, o Estado e o país. É IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 63 importante também que os alunos percebam as relações com o ambiente e a ação dos seres humanos com o mundo que os cerca, refletindo sobre os significados dessas relações. (BRASIL, 2017, p. 355) Na BNCC, pudemos observar a quantidade de vezes que o termo “colaboração” “comunidade” aparecem, reafirmando a base definidora da educação brasileira, em seus documentos oficiais, sobre a importância da interação de indivíduos externos ao ambiente escolar com o aprendizado. A colaboração dos alunos com a comunidade está explicita em diversos parâmetros disciplinares descritos na BNCC e em todas as áreas do conhecimento: “Espera-se que as crianças percebam e compreendam a dinâmica de suas relações sociais e étnico-raciais, identificando-se com a sua comunidade e respeitando os diferentes contextos socioculturais”. (BRASIL, 2017, p. 362). Observamos nos Documentos Oficiais a menção direta da relação entre escola e comunidade e como elas devem ser corroboradas pelas Instituições de Ensino. Mas os questionamentos permanecem sobre como estes mesmos documentos reguladores da educação legislam a respeito desta interação na prática. Como se pode observar, nada é mencionado sobre sua efetividade, o que talvez nos permita afirmar que se tratam de “Leis para inglês ver”. Abaixo, mencionaremos um dos pontos que tem sua legislação especifica nesses documentos e que condizem com os preceitos da interação comunidade e escola. 2 GESTÃO DEMOCRÁTICA Tendo em vista a ênfase nessa interação entre escola e comunidade, bem como a reiteração do termo “Gestão Democrática”, cabe examinar como essa interação é associada, nos documentos legais, ao termo mencionado. Assim, o trecho a seguir contém, para nós, uma definição mais precisa e palpável do termo: A gestão democrática é aqui compreendida então como um processo político no qual as pessoas que atuam na/sobre a escola/educação identificam problemas, discutem, deliberam e planejam, encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola/sistema na busca da solução daqueles problemas. Esse processo, tem como base a participação efetiva de todos IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 64 os segmentos da comunidade escolar/sociedade, o respeito às normas coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo acesso às informações aos sujeitos (SOUZA, 2009a, p. 125-126). O Art. 206 da Constituição Federal pontua que a gestão democrática é um dos princípios da organização da educação pública brasileira, nos dizeres: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VI – Gestão democrática do ensino público, na forma da lei”. (BRASIL, 1988). Assim, o PNE, em seu artigo 2º, dialoga diretamente com o Art 206 da CF e estabelece: “Art. 2º São diretrizes do PNE: VI – Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública.” (BRASIL, 2014). E logo no Art 9º deste mesmo documento é instituído então que: Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão aprovar leis especificas para os seus sistemas de ensino, disciplinando a gestão democrática da educação pública nos respectivos âmbitos de atuação, no prazo de 2 (dois) anos contado da publicação desta Lei, adequando, quando for o caso, a legislação local já adotada com essa finalidade. (BRASIL, 2014) Conforme podemos observar no acima citado, mais uma vez é afirmada a importância da participação da comunidade no ambiente escolar, mas agora na forma do termo “Gestão Democrática” e neste mesmo documento é definido um período para que cada Estado, Distrito Federal e Municípios coloquem em seus planos de ensino a gestão democrática e estabelece ainda o prazo de 2 anos para sua efetivação. Esta autonomia dos entes federados para com seus sistemas de ensinos é regulamentada anteriormente ao PNE (2014) com a LDB (1996) que traz em seu Art 14: Art. 14: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996) IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 65 O item mencionado traz a noção de participação como elemento democrático, sem detalhá-lo,deixando a cargo dos sistemas de ensino a sua efetivação. Sobre o caráter organizacional desta interação comunidade e escola, chamada de Gestão Democrática, podemos notar uma clara intenção do legislador para que este princípio alcançasse somente a gestão da escola, mas não a gestão dos sistemas educativos. Assim, ao pensarmos a gestão democrática apenas sendo colocada em âmbito administrativo, vai na contramão do que é colocado nos documentos, como a BNCC, sobre a importância da interação escola e comunidade para efetivação das competências colocadas pelos documentos oficiais como fins da educação brasileira, como por exemplo a importância deste diálogo para efetivação da cidadania. Abranches (2003) apud Resende e Silva (2016)) corrobora esta reflexão nos dizeres: Analisando atas de reuniões de Colegiados escolares, afirma que, em geral as questões pedagógicas estão totalmente monopolizadas pelos professores e diretores, que entregam aos pais a quase totalidade do serviço burocrático das decisões tomadas no Colegiado, sendo mínimas as reinvindicações trazidas por estes ao órgão. (ABRANCHES, 2003 apud RESENDE; SILVA, 2016, p.46). Em pesquisa realizada por Angelo Ricardo de Souza e Pierre André Garcia Pires publicada em 2018, constatou-se que os princípios da gestão democrática, considerando a legislação e sua efetivação nos estados brasileiros, concentra-se na eleição de diretores e funcionamento dos conselhos escolares, sendo identificadas em 11 dos 27 estados e no Distrito Federal normativas próprias para tratar da gestão democrática. A pesquisa mencionada conclui que temos um quadro de insuficiência da legislação estadual sobre a gestão democrática e que essa legislação não se mostra efetiva no cumprimento da CF e da LDB e não traduzem o princípio democrático como regra em seus sistemas. (SOUZA; PIRES. 2018) CONSIDERAÇÕES Mediante a documentação e a metodologia propostas, verificamos como os documentos oficiais da educação e da legislação brasileira versaram sobre o diálogo entre a comunidade e as instituições escolares. Desde a Constituição, passando pela LDB, pelos PNE e na última BNCC. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 66 Podemos observar e concluir que, embora estimulada pelos documentos legais e por algumas, essa relação, na prática, é precariamente regulada. Diversos fatores poderiam ser levantados, a título de hipótese para falta de procedimentos para a efetivação desta interação, como por exemplo a ausência de tradição mais consistente de movimentos associativos e de organização e participação política da sociedade civil. Sendo assim, a efetivação das diretrizes de uma educação que compreende o ambiente em que está inserida e assim transfere ao universo escolar uma reprodução dos fatores externos só é possível quando a escola proporciona este diálogo entre educação e comunidade. A busca pela compreensão da diversidade cultural, religiosa, social, política, só é possível quando o ambiente escolar abre suas portas para esta interação. A Gestão Democrática é um dos meios de compreendermos e colocarmos em prática esta busca pelo diálogo entre os ambientes, no entanto, cabe observar, através da leitura das leis, que a Gestão Democrática se restringe à esfera administrativa da escola e não adentra os processos pedagógicos. Defendemos que as propostas da gestão democrática não podem, portanto, nascer em gabinetes gestores, mas sim dos sujeitos diretos da escola e da educação, só assim elas poderão ser efetivamente democráticas. Como proposta de solução, reiteramos a necessidade de constituir no ambiente escolar condições mais horizontais, favoráveis ao diálogo e à participação, estimulando a interação entre o ambiente institucional e a comunidade. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. 1988. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 8. ed. Brasília, DF: Edições Câmara, 2013b. Disponível em: https://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/19339 . Acesso em: setembro de 2020. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 2014. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 67 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2017. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: set. de 2020. RESENDE, T. de F.; SILVA, G. F. da. A relação família-escola na legislação educacional brasileira (1988-2014). Ensaio: avaliação de políticas públicas educacionais. Rio de Janeiro, v. 24, n. 90, p. 30-58, Mar. 2016. SOUZA, Â. R. de. Explorando e construindo um conceito de gestão escolar democrática. Educ. rev., Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 123-140, Dez. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-46982009000300007&lng=en&nrm=iso. Acesso em: Set. de 2020 SOUZA, Â. R. de; PIRES, P. A. G. As leis de gestão democrática da Educação nos estados brasileiros. Educ. rev., Curitiba, v. 34, n. 68, p. 65-87, Abr.2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602018000200065&lng=en&nrm= iso. Acesso em: out. de 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 69 QUALIDADE EM CRECHES CONVENIADAS: IMPLEMENTAÇÃO, GESTÃO E ACOMPANHAMENTO Giovana Alves Jordão1* 2Tatiana Noronha de Souza** RESUMO: A presente pesquisa objetiva analisar as orientações sobre convênios de uma Secretaria Municipal da Educação de uma cidade do interior do Estado de São Paulo e uma organização social sem fins lucrativos, que atende crianças de 0 a 3 anos. O município possui sete creches, quatro delas conveniadas. Para desenvolver esta pesquisa analisamos os documentos relativos ao conveniamento fornecidos pela Prefeitura Municipal, setores da educação e pelo instituto responsável pelas unidades em estudo, a pesquisa contou com o levantamento de documentos do Ministério da Educação que estabelecem e indicam padrões de qualidade na Educação Infantil. Verificou-se que as creches passaram a ser geridas pelo instituto por conta da viabilidade financeira, ficando evidente as diferenças salariais entre os profissionais contratados pela organização e os funcionários do município, ausência de avaliação dos termos do convênio com a comunidade escolar, bem como de um plano de trabalho com critérios definidos. Palavras-chave: políticas públicas. gestão escolar. educação infantil. creches conveniadas. qualidade. INTRODUÇÃO Ao longo da trajetória de lutas, discussões e estudos no campo das políticas públicas de educação infantil, a busca pela melhoria no atendimento nas creches, ampliação da oferta de vagas e maior investimento dos munícipios nesse segmento da educação básica, são considerados prioridade e de extrema urgência, já que a educação infantil é direito de toda criança e etapa fundamental para o seu pleno desenvolvimento. No artigo 208 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), é dever do Estado a garantia de educação obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade, sendo facultativa para a faixa etária de zero a três anos. Ainda na Constituição Federal, no artigo 206, inciso VII, a garantia de padrão de qualidade é assegurada como princípio. * Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. E-mail: giovana.jordao@unesp.br. http://lattes. cnpq.br/1870093867978153 ** Universidade Estadual PaulistaJúlio de Mesquita Filho (UNESP). Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Doutorado. Docente do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. Titulação. E-mail. tatiana.noronha@unesp. br. http://lattes.cnpq.br/4518966402744565 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 70 Tal direito foi reafirmado na lei número 8.069, que dispõe sobre o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), artigo 54, inciso IV, que é dever do Estado o “atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade”. Posteriormente, a lei número 9.394, de 1996, LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), na seção II, define a Educação Infantil como “primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Contudo, mesmo diante dessa legislação, Corrêa (2003) afirma que por conta da falta de clareza da demanda já existente, visto que a matrícula não é obrigatória na faixa etária de zero a três anos, os órgãos responsáveis encontram dificuldades para quantificar a oferta de vagas. Mesmo com movimentos sociais, que desde o final da década de 70, lutam por essa expansão, a ampliação da oferta nesse segmento aconteceu de forma precária, levantando a questão “quantidade versus qualidade” (CORRÊA, 2003, p. 95) De acordo com Barbosa (2010) a ideia do direito à vaga em creches e pré-escolas para filhos de pais que trabalham, vem sendo substituída pela ideia do direito de que toda criança tem que frequentar a escola de educação infantil e conviver em um espaço próprio para sua infância. [...] a visão constitucional do direito a vaga nas creches e pré- escolas para pais que trabalham vem sendo substituída pela ideia do direito de toda criança a frequentar uma escola de educação infantil. Isso evidencia uma significativa mudança na compreensão dos direitos das crianças e também uma importante aposta na contribuição que a escola de educação infantil pode oferecer às crianças pequenas e suas famílias. (BARBOSA, 2010, p. 1) A estudiosa nos leva a refletir sobre a importância de reconhecer as crianças como sujeitos de direitos, falantes, atuantes e que vivem experiências com pontos de vista próprios com relação ao mundo, a criança deve ser vista como ator social, que deve frequentar um ambiente com ações próprias, de qualidade, que ofereça cuidado, segurança e conforto. A educação infantil é direito de toda criança e etapa que compõe a educação básica, portanto fundamental para seu desenvolvimento. A necessidade da expansão da educação infantil e a urgência da disponibilidade de vagas em creches fizeram com que muitos municípios buscassem alternativas como convênios em que estabelecem parceria com as instituições privadas sem fins lucrativos como forma de ofertar o acesso IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 71 público à educação infantil. Embora o convênio seja amparado por lei, é preciso compreender como o município realiza a implantação e fiscalização para a celebração dessa política. Estudos realizados por Adrião e Borghi (2008) relatam a precariedade de diversas creches que subvalorizam os custos operacionais. Neste artigo apresentamos uma breve discussão e análise sobre um convênio firmado entre uma organização social sem fins lucrativos em um município do interior do Estado de São Paulo, para gestão de quatro creches. Considerou-se a gestão, o acompanhamento e os padrões de qualidade estabelecidos entre os envolvidos. Selecionamos o termo de colaboração entre o município e a instituição, e a relação com documentos oficiais elaborados pelo MEC – Ministério da Educação. Além disso, inclui o processo de contratação dos funcionários que trabalham nas unidades conveniadas, levando em consideração sua formação e experiência profissional. 1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS UTILIZADOS Inicialmente foi realizado um levantamento de documentos do MEC, que tratam de aspectos relativos à qualidade, que devem ser atendidos na Educação Infantil. A análise inicial desses documentos levou à identificação de diferentes aspectos que devem ser avaliados para oferta qualificada da educação infantil. O documento elaborado pelo Ministério da Educação, Educação Infantil: subsídios para construção de uma sistemática de avaliação (BRASIL, 2012) surgiu devido à emergência de critérios de avaliação da educação infantil e noção de qualidade, para atender as necessidades de todos os envolvidos, pais, profissionais e crianças. Para um efetivo compromisso com a democratização e qualidade de acesso às creches, aponta indicadores de qualidade nas seguintes áreas: espaço físico, recursos humanos, recursos materiais, alimentação, gestão, currículo, projeto político pedagógico, serviços de apoio e proteção às crianças devem fazer parte das condições de funcionamento e das práticas vigentes nas instituições, sejam geridas pelo município ou por instituições conveniadas. Outro documento elaborado pelo MEC, Indicadores da qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009), é uma publicação que ampara os profissionais e a comunidade escolar sobre os problemas mais frequentes encontrados nas creches e pré-escolas, e que devem ser considerados para a IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 72 construção de um trabalho significativo e de qualidade, levando à reflexão e identificação de aspectos positivos e aspectos que devem ser melhorados. 2 A TRANSIÇÃO E O PROCESSO DE ARTICULAÇÃO ENTRE O MUNICÍPIO E A ORGANIZAÇÃO SOCIAL Este estudo foi realizado em um município do interior do estado de São Paulo, que possui aproximadamente 31.620 habitantes de acordo com o site oficial da Prefeitura Municipal. A rede municipal de ensino atende atualmente 4.236 alunos na educação básica, sendo: 536 alunos nas creches e 646 alunos nas pré-escolas, os demais alunos pertencem ao ensino fundamental I, fundamental II e ensino médio. A cidade possui sete creches, todas funcionam em período integral, com horário de funcionamento das 7h30 às 16h30. Destas unidades, quatro passaram a ser geridas por uma organização social sem fins lucrativos a partir de 2017 após análise de viabilidade econômica/ financeira realizada em janeiro de 2017 pelo setor de contabilidade da prefeitura municipal. Constatou-se que a pactuação do contrato traria economia para o município, nesse estudo constavam duas unidades (A e B), com a expectativa de atender 124 alunos (A) e 118 (B), totalizando 242 crianças entre berçário I, berçário II, maternal I e maternal II. Essas unidades educacionais funcionam em prédios fornecidos pelo município e atendem gratuitamente as crianças matriculadas, que fazem parte do censo escolar anual, sendo assim, os recursos federais são repassados de maneira direta para o município, pois mesmo após o conveniamento com a entidade sem fins lucrativos essas unidades escolares são municipais. O quadro abaixo traz a descrição da faixa etária do público atendido nas creches municipais: Quadro 1 - Descrição da faixa etária do público atendido. Berçário I Crianças com idade de 8 meses a 1 ano e 2 meses Berçário II Crianças com idade de 1 ano e 3 meses a 2 anos Maternal I Crianças com idade de 2 anos a 2 anos e 8 meses Maternal II Crianças com idade de 2 anos e 8 meses a 4 anos Fonte: Secretaria Municipal da Educação. A Secretaria Municipal da Educação não abre período de matrículas para as creches, tanto as conveniadas, quanto as creches geridas pelo município, portanto, a lista de interesse por vagas fica condicionada aos pais ou responsáveis que procuram as unidades ou a própria secretaria, IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicase Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 73 após a compatibilização de demanda e número de vagas existentes, verifica-se um déficit na oferta de vagas, principalmente nas etapas iniciais, berçário I e berçário II. Durante a transição da gestão municipal para a gestão do instituto, os funcionários efetivos foram transferidos para outras unidades e novos funcionários foram contratados através da organização. O município ficou responsável por fornecer uma diretora e uma coordenadora pedagógica para as unidades sob gestão do instituto como forma de fiscalização da execução do convênio. Nesse estudo e posteriormente em contrato fica sob a responsabilidade da entidade sem fins lucrativos os custos com contas de consumo, produtos de limpeza, custos financeiros (tarifas bancárias), serviços de terceiros e material de expediente. Em 2017 o custo mensal das unidades A e B sob a gestão do município era de R$ 154.818,70, já sob a gestão do instituto o custo mensal com serviços prestados através de contrato de gestão passou a ser de R$ 140.880,30, com economia mensal de R$ 13.938,40 e economia anual de R$ 167.260,80. Com relação aos custos com a merenda ficou estabelecido um custo anual de R$ 125.237,86, para café da manhã e café da tarde; custo anual de R$ 301.280,32 para almoço e jantar. No ano de 2016 a unidade A atendia 87 crianças e a unidade B 91 crianças, após o contrato de gestão em 2017 a unidade A passou a atender 124 crianças e a unidade B 118 crianças, houve, portanto, um aumento de 64 crianças atendidas. O contrato prevê a contratação de: professor de educação infantil, pajem, secretária administrativa, cozinheira, serviços gerais e jardineiro. As unidades C e D passaram a ser geridas pelo instituto em fevereiro de 2018, a unidade C passou a atender 57 crianças e a unidade D 127 crianças. Em 2020 as professoras efetivas do município retornaram às unidades C e D, porque estavam adidas. O atendimento público na educação infantil, principalmente nas creches requer critérios para um atendimento que respeite os direitos fundamentais da criança como foi mencionado anteriormente, para Corrêa (2003) há três aspectos específicos para a garantia de um atendimento de qualidade como a “proporção entre a procura e a oferta de vagas em creches e pré-escolas”, a razão adulto/criança para atendimento digno e por último, a dimensão de cuidado, que deve fazer parte das práticas educativas da educação infantil, mas que ainda é tema entre os profissionais da área. (p.93) IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 74 A autora enfatiza o aspecto da recomendação adulto/criança, para que haja atenção individualizada e o ambiente seja seguro, oferecendo as melhores condições de atendimento para as crianças e as melhores condições de trabalho para professores e funcionários, ressaltando que a situação atual das creches e da quantidade de crianças por turma mostra a necessidade de maior investimento dos municípios na área e os cursos de formação da área e programas de formação em serviço garantam o conhecimento sobre a real necessidade do cuidado da criança nessa faixa etária. Para analisar tais aspectos, o quadro abaixo mostra a capacidade nesse ano de 2020 das unidades que fazem parte desse estudo, o número de crianças atendidas, o número de turmas, professoras e pajens. Quadro 2 – Número de alunos, turmas, professoras e pajens por Centro de Convivência Infantil. Creches Conveniadas Capac. Nº crianças Nº turmas Nº professoras Nº pajens Centro de Convivência Infantil A (Desde abril de 2017) 112 100 7 3 15 Centro de Convivência Infantil B (Desde abril de 2017) 108 99 7 4 18 Centro de Convivência Infantil C (Desde fevereiro de 2018) 48 48 3 4 7 Centro de Convivência Infantil D (Desde Fevereiro de 2018) 97 95 6 3 14 * Desde janeiro de 2020 as professoras efetivas do município voltaram a lecionar nos CCIS C e D. Mesmo as creches funcionando em período integral, as professoras de educação infantil atendem as crianças apenas em um período do dia, geralmente no período da manhã, há apenas professora regente na turma do maternal II, bem como o fornecimento de material didático apenas para essa etapa. Além do grave problema da ausência de professoras nas turmas de berçário I, berçário II e maternal I, identificou-se grave erro na nomenclatura no cargo “pajem”, termo considerado em desuso hoje. Ao analisar a tabela citada por Corrêa (2003) verificou-se também que a relação criança/professor não está adequada em nenhuma das unidades. Quadro 3 – Relação criança/professor. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 75 IDADE RELAÇÃO 0 a 2 anos 6 crianças/ 1 professor (a) 3 anos 12 crianças/ 1 professor (a) 4 a 6 anos 25 crianças/ 1 professor (a) Fonte: CORRÊA (2003, p. 99) Nessa pesquisa, realizou-se também um comparativo com relação à remuneração dos funcionários efetivos do município e dos funcionários contratos pelo instituto, apesar de salário base de alguns cargos serem mais altos do que o dos funcionários municipais, os benefícios mensais não são, já que os efetivos têm direito a plano de saúde subsidiado pela prefeitura municipal. Os funcionários contratados pelo instituto são registrados com carteira de trabalho, recebem férias e décimo terceiro, e um valor de R$ 131,45 referente à cesta básica. Já os funcionários efetivos do município recebem vale-alimentação mensal no valor de R$ 500,00, valores que devem ser acrescidos aos salários base do quadro abaixo: Quadro 4 – Comparativo salarial entre funcionários municipais e funcionários das creches conveniadas. Creches Profissionais Salário C. Horária Administradas pela Prefeitura Professoras de Educação Infantil (PEI) R$ 2.224,50 30 hs semanais Pajem R$ 1.185, 32 40 hs semanais Cozinheira R$ 1.148,37 40 hs semanais Auxiliar de serviços gerais R$ 1.124,36 40 hs semanais Administradas pela Organização Social Professoras de Educação Infantil (PEI) R$ 1.288,73 30 hs semanais Pajem R$ 1.236,84 40 hs semanais Cozinheira R$ 1.317,24 40 hs semanais Auxiliar de serviços gerais R$ 1.135,55 40 has semanais Fonte: Secretaria Municipal da Educação. A pesquisa também evidenciou que tanto o salário das professoras efetivas na rede municipal, quanto das professoras contratadas pela IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 76 instituição não equivalem ao piso salarial nacional do magistério de 2020 que é R$ 2.886,15. Em pesquisa realizada através do Google Forms com as quatorze professoras que trabalham nas quatro creches conveniadas, estas responderam questões simples como idade, formação, modalidade de ensino em que estudaram, forma de contratação, experiência como professor, tempo de atuação em creche, pré-escola e ensino fundamental. As professoras que responderam o questionário possuem idade entre 26 e 58 anos, sete delas são efetivas por meio de concurso público no município em estudo, e sete são contratadas pelo instituto responsável pelas unidades conveniadas. Todas as respondentes possuem educação superior, 79% das professoras são formadas em Pedagogia, 14% das professoras são formadas em outros cursos e 7% das professoras são formadas em outras licenciaturas. Com relação à modalidade de ensino em que cursaram o nível superior, 86% das professoras estudaram na modalidade presencial e 14% estudaram a distância. Apenas uma das professoras não possui experiência com creches, as demais trabalham com essa etapa da educação infantil com variação de tempo, entre dois e dez anos. Quanto à experiência em pré-escola, três professoras nunca atuaram nessa etapa e também, apenas três professoras não possuem experiência no ensino fundamental I. Percebe-se que apesar da Secretaria Municipal da Educação ser responsável pela avaliação e acompanhamentoda execução do trabalho do instituto, não há monitoramento eficaz para definir indicadores e mensurar a oferta e a avaliação das condições de atendimento. Segundo Fernandes (2014) o monitoramento é uma ferramenta de gestão política e processo pedagógico e deve ser utilizado na educação infantil para garantir sua efetividade, para recomendação de melhoria ou correção. CONCLUSÕES Ao analisar o termo de convênio foi possível constatar que é necessária uma maior participação da comunidade e adequação à realidade social e econômica dos envolvidos, já que as unidades ficam em regiões distintas da cidade e atendem crianças de diferentes realidades sociais. A dimensão de conceito de qualidade da educação infantil nas creches tem ganhado destaque, não apenas pelas lutas sociais, mas pela necessidade de ingresso das crianças na educação infantil para seu desenvolvimento integral, em todos os aspectos. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 77 É urgente a implementação de políticas públicas para a ampliação e qualificação da educação infantil nesse município, para que todas as crianças possam frequentar espaços que ofereçam serviços com a mesma qualidade e possam contribuir para o seu desenvolvimento integral. O município ao realizar o conveniamento com a organização social deixa de assumir suas obrigações e mostra ineficiência em não atender as demandas existentes, sabe-se que é de extrema urgência a ampliação de recursos destinados à educação infantil. Faz-se necessário também, desenvolver um sistema de monitoramento eficaz no município em estudo, um plano de trabalho eficiente, traçar o perfil das crianças atendidas e a qualidade do trabalho pedagógico realizado, tanto pela prefeitura, quanto pela organização social. REFERÊNCIAS ADRIÃO, T. M. de F; BORGHI, R. F. Parcerias entre prefeituras e esfera privada: estratégias privatizantes para a oferta da educação pública em São Paulo? In: ADRIÃO, T. M. de F.; PERONI, V. M. V. (Orgs.). Público e privado na educação: novos elementos para o debate. São Paulo: Xamã, 2008. p. 101-110. ABRAMOWICZ, A. O direito das crianças à educação infantil. Pro- Posições. v. 14, n. 3 (42), 2003. Disponível em: http://www.proposicoes. fe.unicamp.br/proposicoes/textos/42-dossie-abramowicza.pdf. Acesso em: 06 jun. 2020. ANDRADE, L. B. P. Educação infantil: discurso, legislação e práticas institucionais [online]. São Paulo: Editora UNESP; Cultura Acadêmica, 2010. BARBOSA, M. C. Especificidades da ação pedagógica com os bebês. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010- pdf/7154-2-2-artigo-mec-acao-pedagogica-bebes-m-carmem/file. Acesso em: 03 jun. 2020. BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 set. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 78 BRASIL. Indicadores da Qualidade na Educação Infantil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica – Brasília: MEC/SEB, 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/indic_qualit_ educ_infantil.pdf. Acesso em: 5 abr. 2020. BRASIL. Educação Infantil: Subsídios para construção de uma sistemática de avaliação. Documento produzido pelo Grupo de Trabalho instituído pela Portaria número 1.147/2011, do Ministério da Educação. Brasília, 2012. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=11990-educacao-infantil-sitematica- avaliacao-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 10 abr. 2020. BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em: 10 set. 2020. BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996a. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em 10 set. 2020. BRASIL. Ministério da educação. Secretaria da Educação Básica. Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica – Brasília. DF, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/ eduinfparqualvol1.pdf. Acesso em: 30 mar. 2020. CORRÊA, B. C. Considerações sobre qualidade em educação infantil. Cadernos de Pesquisa, n. 119, p. 85-112, 2003. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/cp/n119/n119a05.pdf. Acesso em: 08 jun. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 79 DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E RELIGIOSA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE OS ESTUDOS REVELAM? Leticia Pereira Malta1* Tatiana Noronha Souza** RESUMO: Objetivamos apresentar uma análise inicial de publicações sobre o tema da qualidade na educação infantil, no campo da diversidade étnico-racial e religiosa. Realizamos o cruzamento de três termos-chave: educação infantil, qualidade e religião, no Google acadêmico e no portal da Capes. Após a leitura de cada artigo foi feita a tabulação das informações em uma planilha. Os resultados revelam um distanciamento do que é preconizado nos documentos do MEC em relação às práticas adotadas nas instituições, o que revela um problema de gestão; (1) adotam símbolos que remetem à cultura americana/europeia e pela transmissão equivocada da história dos negros; (2) verificou-se rotinas baseadas na doutrinação, disciplina e criacionismo; a valorização de uma doutrina religiosa em detrimento da outra, segregando os que não fazem parte de determinada religião. Palavras-chave: diversidade religiosa. diversidade étnico-racial, gestão na educação infantil. INTRODUÇÃO Até o final da década de 1980 a Educação Infantil (EI) no Brasil sustentava um cenário assistencialista, considerando como critérios de atendimento: o amparo de vítimas de abandono e situações de pobreza (NASCIMENTO; SILVA, 2015). Nesse momento grande parte do atendimento era realizado por instituições filantrópicas, ligadas às secretarias de assistência social (NASCIMENTO; SILVA, 2015). A partir da Constituição Federal (BRASIL, 1988), a EI fez-se dever do Estado e direito da criança e os municípios ficaram encarregados, prioritariamente, do atendimento dessa modalidade. Posteriormente, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), passou a integrar a primeira etapa da Educação Básica, e houve o reconhecimento das necessidades educacionais específicas das crianças à faixa etária de 0 a 5 anos (BRASIL, 1996). * Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. E-mail: leticiamalta7@hotmail.com. http://lattes. cnpq.br/7304695755611179 ** Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Doutorado. Docente do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. E-mail: tatiana.noronha@unesp.br. http:// lattes.cnpq.br/4518966402744565 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 80 Deste modo, os municípios deveriam assumir a responsabilidade pelo atendimento na Educação Infantil como preponderante na construção de um sistema de ensino democrático e de qualidade (NASCIMENTO; SILVA, 2015) porém, por não conseguirem atender à demanda, mantiveram antigas parcerias com a rede filantrópica, confessional e comunitária, e agora firmam convênios com o objetivo de buscar uma solução para o problema da falta de vagas. Tais convênios foram regulamentados pela Lei 8.666/93 (BRASIL, 1993), e estabelece que cabe à administração pública o papel de fiscalizador da qualidade do serviço que o conveniado presta.Posteriormente o Ministério da Educação (MEC) publicou o documento Orientações sobre os convênios entre as secretarias municipais de educação e instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos para a oferta de educação infantil (BRASIL, 2009), que trata das exigências que balizam o funcionamento de diferentes tipos de instituições que oferecem atendimento à educação infantil, tais como “[...]formação adequada dos professores; espaço físico ajustado para assegurar higiene, segurança e conforto; número máximo de crianças por professor; proposta pedagógica condizente[...]” (BRASIL, 2009, p. 13). Para avaliar a qualidade das instituições de Educação Infantil, o MEC disponibiliza documentos orientadores; são eles: Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil vol. 1 (BRASIL, 2006a) e Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil vol. 2 (BRASIL, 2006b). O objetivo do documento Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil vol. 1 é “[...]estabelecer padrões de referência orientadores para o sistema educacional no que se refere à organização e funcionamento das instituições de Educação Infantil[...]” (BRASIL, 2006a, p. 8), assegurando o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social (BRASIL, 2006a). O segundo volume do documento do MEC Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil busca “[...]solidificar consensos presentes na área e superar desafios antigos, esclarecendo questões que ainda suscitam dúvidas nos dias atuais[...]” (BRASIL, 2006b, p.8). Para que as instituições atinjam um nível satisfatório de qualidade depende do apoio e da orientação do poder público. Assim, pode-se considerar um sistema educacional de qualidade “[...]aquele em que as instâncias responsáveis pela gestão respeitam a legislação vigente, têm papéis definidos e competências delimitadas e apoiam financeira, administrativa e IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 81 pedagogicamente as instituições de Educação Infantil a ele vinculadas[...]” (BRASIL, 2006b, p.13). Verificamos que o MEC vem buscando apoiar os municípios com a produção de documentos que subsidiam o estabelecimento de critérios para criação, avaliação e supervisão de instituições de educação infantil, em território nacional. Contudo, observa-se que a qualidade das instituições conveniadas costuma ser inferior à da rede pública, em relação as condições dos prédios e equipamentos, falta de materiais pedagógicos, baixa escolaridade dos educadores, ausência de projetos pedagógicos e as dificuldades de comunicação com as famílias (ROSEMBERG, 1996). O presente artigo parte da preocupação com as questões étnico- raciais e religiosas em creches conveniadas, especialmente por aquelas que são mantidas por entidades religiosas; tem como objetivo geral apresentar uma análise inicial de publicações realizadas sobre o tema, como parte de uma pesquisa de mestrado. Assim, o presente artigo buscou realizar um levantamento de estudos que verificaram as condições de atendimento dessas instituições, em diferentes cidades brasileiras, por meio de publicações realizadas sobre o tema da qualidade na educação infantil, relacionado ao cuidado com a diversidade étnico-racial e religiosa em redes conveniadas. A fundamentação teórica baseia-se no ensaio de Dias (2015) que expõe “[...]sobre a importância de se inserir a perspectiva da promoção da igualdade étnico-racial nas práticas curriculares da educação infantil[...]” (DIAS, 2015, p. 567). O trabalho apresenta como referencial metodológico “[...]experiências de formação de professores desenvolvidas no âmbito do GEPEDI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Diversidade e Inclusão (UFMS), no período de 2009 a 2013[...]” (DIAS, 2015, p. 567). O Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Diversidade e Inclusão (UFMS) realizou o primeiro projeto de extensão, em 2010, intitulado: Educação Inclusiva e Diversidade na escola: desafios da escola para todos, com um grupo de 30 professores e acadêmicos dos cursos de História e Pedagogia, com a finalidade de desenvolver “[...]práticas pedagógicas que rompam com processos discriminatórios e de exclusão, especialmente em relação à população negra e às pessoas com necessidades educacionais especiais[...]” (DIAS, 2015, p. 580); a perspectiva do grupo é por uma educação emancipatória, antirracista e multicultural. O ensaio de Dias (2015) assevera que os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e o documento do MEC: Critérios IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 82 para um Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças, produzido em 1994 e reeditado em 2009, deixam claro o direito de desenvolver a identidade cultural, racial e religiosa no âmbito de creches e pré-escolas, todavia “[...] sabemos que eles não são suficientes para alterar práticas, especialmente no âmbito da educação[...]” (DIAS, 2015, p. 573). A partir da metodologia de pesquisa bibliográfica foi realizado um levantamento de trabalhos que tratam da qualidade e da diversidade étnico-racial/religiosa nas instituições de educação infantil nos portais Capes e Google Acadêmico. Após o cruzamento, foram selecionados os seguintes artigos: Lima e Bhering (2006), Campos, Füllgraf e Wiggers (2006), Rosemberg (1996), Branco e Corsino (2006). No portal Capes foram cruzadas duas palavras-chave para a realização da pesquisa: educação infantil e étnico-racial; o resultado foi: Trinidad (2015). Posteriormente foi realizada a leitura individual de cada artigo e tabulado em uma planilha de Excel a análise do material contendo: o objetivo do estudo; a metodologia utilizada e os resultados encontrados. A partir desses resultados foram feitas considerações à luz da literatura que fundamenta o presente estudo. DESENVOLVIMENTO Após a tabulação das publicações, identificou-se que dois artigos foram publicados na revista Cadernos de Pesquisa - Fundação Carlos Chagas – (CAMPOS; FÜLLGRAF; WIGGERS, 2006) e (ROSEMBERG, 1996); um publicado no Caderno de Pesquisas Scielo (LIMA; BHERING, 2006); um publicado pela Revista Contemporânea de Educação (BRANCO; CORSINO, 2006); um publicado na Revista Eventos Pedagógicos (TRINIDAD, 2015). O artigo de Rosemberg (1996) Educação Infantil, classe, raça e gênero teve como objetivo entender o viés de gênero que tem marcado a concepção, prática de educação infantil no Brasil e a dinâmica das relações raciais. Este estudo teve como base metodológica tabulações especiais das PNADs (Pesquisas Nacionais sob Amostra Domiciliar), tabulações fornecidas pelo IBGE e revisão bibliográfica de trabalhos de Maria Jesus Izquierdo e Barbara Beatty. Ele apontou que a expansão desordenada da educação infantil, por meio de creches públicas, conveniadas, pré-escolas públicas e conveniadas, penaliza famílias de baixa renda e negras de IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 83 diferentes formas, caracterizando “[...]uma profunda segregação social na utilização de equipamentos sociais[...]” (ROSEMBERG, 1996, p. 64), por isso “[...]quanto mais pobre, mais cedo e mais tempo a criança frequenta os equipamentos de educação infantil e que são, justamente, os de pior qualidade[...]” (ROSEMBERG, 1996, p. 64). Em A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa de Campos, Füllgraf e Wiggers (2006) foram analisados dados obtidos por meio de levantamento sobre resultados de pesquisas empíricas acerca da qualidade da educação infantil brasileira, divulgados entre 1996 e 2003. Para realização do artigo recorreram a revisão de estudos publicados na Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa e Educação - ANPEd-, no Grupo Trabalho Educação da Criança de Zero a seis anos. Notou-se um “[...]descompasso entre as concepções defendidas pelos documentos oficiais de orientação curricular, o discurso das equipes de supervisão, o planejamento das unidades, quando existente, e as práticas observadas no cotidiano[...]” (CAMPOS; FÜLLGRAF; WIGGERS, 2006, p.119). O artigo de Lima e Bhering (2006), Um estudo sobre creches como ambiente de desenvolvimento teve como objetivo geral “[...]avaliar as condições do ambiente dos cinco centros de educação infantil (quatro públicos e um privado, de caráter filantrópico) da rede municipal de um município na região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina[...]” (LIMA; BHERING, 2006, p. 575). A metodologia consistiu na avaliação de doze salas de creches, utilizando a escala Iters-R, traduzida e testada para o português. Os CEIs municipais “[...]obtiveram um escore médio próximo de 4, o que indica um nível de qualidade satisfatório[...]” (LIMA; BHERING, 2006, p. 584). Já o CEI privado “[...]obteve um escore médio menor que 3, o que indica nível baixo de qualidade[...]” (LIMA; BHERING, 2006, p. 584). Nesta instituição mantida por uma entidade religiosa, a prática educativa era baseada nas crenças religiosas de uma das integrantes da instituição, o adulto é quem decide sobre as atividades da criança, além de uma rotina rígida e preocupação excessiva com a disciplina (LIMA; BHERING, 2006). O trabalho de Branco e Corsino (2006) O ensino religioso na Educação Infantil de duas escolas públicas do município do Rio de Janeiro: o que as práticas revelam objetivou analisar conteúdos e práticas de “[...]dez aulas de ensino religioso de turmas de Educação Infantil, de duas escolas da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, que atendem IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 84 crianças de quatro a seis anos de idade e como e o que as crianças significam dessas aulas[...]” (BRANCO; CORSINO, 2006, p. 190). A metodologia consistiu em observações realizadas no período de maio a agosto de 2006 e entrevistas semiestruturadas com as professoras de turma com as de ensino religioso (BRANCO; CORSINO, 2006). Nas aulas de religião, as professoras titulares da sala se retiravam e as crianças ficavam sob a responsabilidade das professoras de religião, que são mulheres que exercem trabalho voluntário, vinculadas às paroquias próximas das escolas. Uma dessas mulheres tinha formação em Pedagogia e a outra não tinha formação na área de educação. Os rituais de exaltação a Deus eram mecanizados e as crianças não tinham liberdade de mexer, tocar umas nas outras e se expressar. A professora atribuía processos históricos, conquistas políticas, conceitos científicos e fenômenos da natureza como providencia divina (BRANCO; CORSINO, 2006). Notou-se que as duas creches observadas “[...]tem cunho proselitista – objetivando o engrossar o rebanho de fiéis[...]” (BRANCO; CORSINO, 2006, p. 207) e ignoram “[...]a lógica do pensamento infantil e o espaço que se deve abrir nas propostas para acolher e cultivar a diversidade cultural e religiosa[...]” (BRANCO; CORSINO, 2006, p. 207). O artigo de Trinidad (2015) Um corpo negado: a importância da Educação Infantil para a construção e a afirmação da identidade étnico-racial de crianças pré- escolares apresentou alguns resultados de pesquisas realizadas na Educação Infantil com o objetivo de “[...]discutir a identificação étnico-racial a partir das falas de crianças e a demonstrar que critérios e valores sociais, baseados no racismo, foram apropriados, particularmente, aqueles que levam crianças negras a negarem seus próprios corpos[...]” (TRINIDAD, 2015, p.366). A metodologia baseou- se por reflexões decorrentes da tese de doutorado de Trinidad, que contemplou compreender a “voz” de “[...]33 crianças - meninos e meninas - com idade entre quatro e cinco anos de idade, frequentadoras de uma escola de educação infantil localizada em um bairro da periferia da região Oeste da cidade de São Paulo[...]” (TRINIDAD, 2015, p.367), através de observações nos diferentes espações e conversas informais com as crianças e adultos que faziam parte daquele contexto. Nas observações foi possível identificar que as crianças usam os termos “branco”, “preto”, “amarelo” e “moreno” quando se referem à etnia; a categoria “indígena” não foi mencionada. Para definir a identidade étnico-racial, elas se pautavam na cor da pele e textura do cabelo. As IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 85 crianças brancas raramente manifestavam desejo de mudar a aparência; já as crianças negras tinham o desejo de ter alguns dos atributos de uma pessoa branca. A maioria das crianças negras, por serem fruto de relação inter-racial, ressaltavam o desejo de ser como a mãe ou o pai: branca (o). Conclui-se que apesar da transformação da sociedade brasileira, ainda vigora as marcas do racismo que determina lugares de inferioridade/ superioridade e traços de beleza/feiura, pelo fato da história dos negros ter sido transmitida de um ponto de vista depreciativo e negativo (TRINIDAD, 2015). Por meio dos resultados obtidos nota-se que famílias de baixa renda e negras utilizam serviços de educação infantil de qualidade inferior e com pouca supervisão do Estado. Os documentos oficiais do Ministério da Educação: Orientações sobre os convênios entre as secretarias municipais de educação e instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos para a oferta de educação infantil (2009), Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil vol. 1 (2006) e Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil vol. 2 (2006) estabelecem orientações curriculares e de práticas de qualidade do atendimento à infância, entretanto o que é normatizado se encontra distante do que se é verificado nas práticas educativas das unidades de Educação Infantil. Por meio dos artigos de Lima e Bhering (2006) e Branco e Corsino (2006) percebe-se que nos CEIs privados de cunho religioso existem esforços para converterem as crianças a determinada religião, ignorando práticas de diversidade cultural e religiosa. Sobre a questão racial na Educação Infantil, observa-se um preconceito histórico ainda enraizado nas práticas educativas, diante do fato que crianças negras neguem a si mesmas para se sentirem incluídas em um ideal de branquitude consolidado, conforme apontado Trinidad (2015). CONCLUSÕES Existe um vasto aparato legal e teórico que fundamenta os critérios de qualidade para o atendimento em creches e pré-escolas, e documentos que regulamentam os convênios firmados pelas secretarias de educação para atenderem à demanda de crianças de 0-5 anos. Entretanto, os artigos que tratam sobre a qualidade da Educação Infantil são unânimes ao afirmar que a rede conveniada oferece um serviço de qualidade inferior comparado às instituições de administração direta. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 86 O presente estudo também verificou que é escassa a pesquisa cientifica em instituições vinculadas à doutrina religiosa e por isso carece a realização de mais pesquisas que se concentram nesse âmbito. Isso porque nas instituições vinculadas à doutrina religiosa percebe-se rotinas baseadas na doutrinação, disciplina e discurso criacionista., ocorrendo a valorização de uma doutrina religiosa em detrimento de outras, segregando aqueles que não fazem parte da religião dominante. Sobre a valorização da diversidade étnico-racial, as pesquisas nos revelam que existe um distanciamento do que é preconizado nos documentos do MEC em relação às práticas adotadas nas unidades de ensino de Educação Infantil, principalmente em relação ao ambiente, por adotarem símbolos que remetem a uma cultura americana/europeia e pela transmissãoequivocada da história dos negros. Deve-se romper com o ideal de branquitude enraizado na sociedade brasileira, tendo em vista que o racismo é fato e a Educação Infantil tem papel primordial para a quebra desse preconceito. Para reverter a situação nas instituições conveniadas é necessário a qualificação e valorização do trabalho docente e dos profissionais que lidam diretamente com as crianças; melhores condições de infraestrutura; maiores investimentos financeiros e supervisão adequada por parte dos municípios. O monitoramento é indispensável para acompanhar a execução dos programas e garantir que as condições de atendimento sejam adequadas. REFERÊNCIAS BRANCO, J. C.; CORSINO, P. O ensino religioso na educação infantil de duas escolas públicas do município do Rio de Janeiro: o que as práticas revelam? Revista Contemporânea de Educação. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, 2006. BRASIL. Constituição da República Federal do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26 jan. 2020. BRASIL. Lei 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm. Acesso em 26 jan. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 87 BRASIL. Lei n°9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 26 jan. 2020. BRASIL. Orientações sobre os convênios entre as secretarias municipais de educação e instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos para a oferta de educação infantil. Brasília: MEC/SEB, 2009. BRASIL. Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil vol. 1. Brasília: MEC/SEB, 2006a. BRASIL. Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil vol. 2. Brasília: MEC/SEB, 2006b. CAMPOS, M. M.; FÜLLGRAF, J. B. G.; WIGGERS, V. A qualidade da educação infantil brasileira: alguns resultados de pesquisa. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas). São Paulo, v. 36, n. 127, p. 87- 128, jan. /abr. 2006. DIAS, L. R. Considerações para uma educação que promova a igualdade étnico-racial das crianças nas creches e pré-escolas. Revista Eletrônica de Educação, v. 9, n. 2, p. 567-595, 2015. LIMA, A. B. R; BHERING, E. Um estudo sobre creches como ambiente de desenvolvimento. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 129, p. 573- 596, set. /dez. 2006. ROSEMBERG, F. Educação infantil, classe, raça e gênero. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), São Paulo, n. 96, p. 58-65, fev. 1996. TRINIDAD, C. T. Um corpo negado: a importância da Educação Infantil para a construção e a afirmação da identidade étnico-racial de crianças pré-escolares. Revista Eventos Pedagógicos — Desigualdade e Diversidade étnico-racial na educação infantil, v. 6, n. 4, 17. ed., número regular, p. 366-383, nov. /dez. 2015. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 89 CULTURA DE ESCOLA: A PERCEPÇÃO IDIOSSINCRÁTICA DOS PROFESSORES DE DUAS UNIDADES ESCOLARES SOBRE A EFICÁCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PAULISTAS NO PERÍODO DE 2009 A 2017 Paulo Roberto Mermejo*1 Tatiana Noronha de Souza** 2 RESUMO: Tomando como referência os autores que postulam a cultura de escola como a percepção idiossincrática da cultura escolar, que contribui para a análise de políticas públicas no campo educacional, este trabalho objetiva identificar as percepções dos professores de duas unidades escolares distintas sobre as políticas públicas implementadas no período de 2008 à 2017 no estado de São Paulo. Quatro professores de cada uma das duas unidades escolares foram entrevistados. Os resultados obtidos confirmam a percepção idiossincrática dos dois grupos de professores demonstrando que o engajamento da cultura de escola com o modelo de implementação de políticas determina a percepção e o envolvimento dos professores com tais políticas públicas. O estudo possibilitou ainda, a identificação da fragilidade dos objetivos descritos pelas políticas públicas, já que ambos os grupos dos professores demonstraram dificuldades em identificá-las. Palavras-chave: análise de política. cultura de escola. Policy Analysis. INTRODUÇÃO O presente artigo tem o objetivo de identificar as representações de professores sobre a eficácia das políticas públicas no campo educacional promovidas pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo entre os anos de 2008 e 2017. Trata-se de um recorte temático que compõem um conjunto de análises presentes na dissertação de mestrado: “Análise de políticas no campo educacional: A representação de professores e alunos como elemento da cultura de escola no contexto das políticas públicas paulistas entre 2009 e 2016.” (MERMEJO, 2018) apresentada ao Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – campus de Franca. Toma como referência o debate sobre a análise de políticas públicas (SATOS, 2012; SERAFIM et al, 2012; SOUZA, 2006; CAVALCANTI, * Universidade Estadual Paulista-UNESP/Franca. Mestre pelo Programa de Planejamento e Análise de Políticas Públicas. prmermejo@gmail.com. http://lattes. cnpq.br/8058372346526623 ** Universidade Estadual Paulista-UNESP/Jaboticabal. Doutorado. tati_noronha@ yahoo.com.br. http://lattes.cnpq.br/4518966402744565 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 90 2007; DYE,1992), principalmente o planejamento e a implementação no contexto dos ciclos de políticas (Policy cycle) em uma perspectiva “de baixo para cima” que, no campo educacional, tem no professor o último segmento de atores sociais responsáveis pela implementação tais políticas. Em Rua, (2012) temos que a análise de políticas públicas pode ser realizada segundo dois modelos: o primeiro - o top-down, que estabelece uma rigorosa separação e diferenciação entre as fases de formulação e implementação das políticas públicas, cada uma delas separadas e diferenciadas pelos diversos atores e distintos graus de autoridade e de complexidade. Enquanto os políticos formulam e decidem, um corpo burocrático é incumbido de executar as suas decisões e desta forma implementarem as políticas. No segundo modelo – bottom-up, parte-se da base, das experiências de resoluções de problemas dos atores que se encontram nos níveis da execução, nos níveis mais baixos na hierarquia da administração, para que se proponham as políticas públicas. É a partir deste entendimento que passamos a análise da eficácia junto a representação dos professores já que o Mais Qualidade na Escola, enquanto política pública da SEE-SP, se observado da perspectiva do ciclo de políticas se aproxima do modelo top-down com a função gratificada do professor coordenador desempenhando a função burocrática responsável pela implementação. Além disso,, estabelece a aproximação conceitual com os debates em torno dos conceitos de cultura escolar e cultura de escola (BARROSO, 2012; GOMES, 1993; CANÁRIO, 1996; SARMENTO,1994; TORRES,1997 e 2003; e BUENO,2001) com a devida atenção para a distinção entre ambas, em que a primeira se caracteriza pela cultura moldada pelas instituições formuladoras de políticas, e a segunda aquela cultura construída no interior da unidade escolar que sem rejeitar as influências externas faz materializar os traços idiossincráticos que lhes confere uma identidade organizacional própria (BARROSO. Op. cit. p.1995). Este trabalho foi estruturado em duas partes: na primeira buscou-se evidenciar as principais características das políticas públicas implementadas pela Secretariade Educação de São Paulo no período em questão. Na segunda parte são apresentadas as análises de dados a partir das respostas dadas por professores nas entrevistas semiestruturadas, seguido de considerações finais. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 91 1 O “MAIS QUALIDADE NA ESCOLA” ENQUANTO POLÍTICA PÚBLICA NA EDUCAÇÃO PAULISTA E O PROFESSOR COORDENADOR COMO AGENTES DE CONTROLE DA IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA CURRICULAR Em maio 2009 o Governo do Estado de São Paulo, através de sua Secretaria de Educação lançou o “Mais qualidade na Educação”3 (figura 01) com programas estruturantes divididos em eixos - um referente a carreira do magistério e outro referente aos padrões curriculares. Para o contínuo monitoramento destes dois eixos fez-se necessário outro, que se relaciona pela transversalidade, com os dois primeiros – o eixo da avaliação. O primeiro eixo, o da “Gestão da Carreira do Magistério” contou com a criação da Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores4, um novo processo de ingresso ao quadro do magistério e a implantação da bonificação por resultados5 e valorização por mérito6. Quanto ao segundo referente aos padrões curriculares contou com o programa “Ler e escrever”7 para o Ensino Fundamental Ciclo I e o Programa “São Paulo Faz Escola”8. 3 http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia.php?c=6&id=200874 4 A Escola de Formação de Professores foi criada pelo DECRETO Nº 54.297, DE 5 DE MAIO DE 2009, disponível em: http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/ Decreto5429709/tabid/2598/language/pt-BR/Default.aspx , acesso em 16/04/2017 5 Instituido pela LEI COMPLEMENTAR Nº 1078, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2008 disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155272/lei-complementar-1078- 08-sao-paulo-sp, acesso em 16/04/2017 6 Instituido pela Lei Complementar nº 1097, de 27 de outubro de 2009 de São Paulo disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/819898/lei-complementar-1097- 09-sao-paulo-sp acesso em 16/04/20117 7 “Ler e escrever”; um conjunto de linhas de ação articuladas que inclui formação, acompanhamento, elaboração e distribuição de materiais pedagógicos e outros subsídios, constituindo-se dessa forma como uma política pública para o Ciclo I, que busca promover a melhoria do ensino em toda a rede estadual. Sua meta é ver plenamente alfabetizadas, até 2010, todas as crianças com até oito anos de idade (2ª série/3º.ano) matriculadas na rede estadual de ensino, bem como garantir recuperação da aprendizagem de leitura e escrita aos alunos das demais séries/anos do Ciclo I do Ensino Fundamental. Disponívelem:http://lereescrever. fde.sp.gov.br/SysPublic/InternaPrograma.aspx?alkfjlklkjaslkA=260&manudjsns=0&tpMat= 0&FiltroDeNoticias=3, Acesso em: 16 abr. 2017 8 Disponível em: http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/spfe2009/HOME/ tabid/1208/Default.aspx, acesso em 16/04/2011. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 92 , além de instituir o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP9) Figura 01 – Aspectos da Política Pública Paulista como referência de análises. Fonte: Elaborado pelo autor. Para os objetivos de análise deste artigo é relevante a que as atenções convirjam para o eixo do curso e formação dos. A Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São Paulo criada pelo Decreto Nº 54.297, de 5 de maio de 2009 e destinada a formação e certificação do quadro do magistério público do Estado, se institui também como responsável pela formação obrigatória para os candidatos ao ingresso no Quadro do 9 O IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) é um indicador de qualidade das séries iniciais (1ª a 4ª séries) e finais (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Na avaliação de qualidade das escolas feita pelo IDESP consideram-se dois critérios complementares: o desempenho dos alunos nos exames do SARESP e o fluxo escolar. O IDESP tem o papel de dialogar com a escola, fornecendo um diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos em que precisa melhorar e sinalizando sua evolução ano a ano. Disponível em: http://idesp.edunet.sp.gov.br/o_que_e.asp, acesso em 16/04/2017. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 93 Magistério Público da Secretaria da Educação. Desta forma a EFAP define quatro objetivos para o curso de formação de professores (figura 02): Figura 02- Objetivos para o curso de formação de professores. Fonte: Curso de Formação de Professores –EFAP – Modulo I Para a apropriação do currículo oficial da rede estadual, e o objetivo da EFAP, que norteia a concepção e o planejamento do curso de formação, é “transmitida”? em seus diversos módulos (figura 03). Figura 03 - Temas de cada módulo do curso de formação de professores. Fonte: Curso de Formação de Professores –EFAP – Modulo I IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 94 Com a implementação da política organizada pela EFAP, caberia a nova função gratificada do professor coordenador a ação supervisora desta fase do ciclo de políticas, desta forma com a Resolução SE - 88, de 19-12-2007, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo – SEE-SP, regulamenta a função gratificada do Professor Coordenador sob o argumento de que esta nova função contribuiria com os pilares da política pública com vistas a melhoria da qualidade de ensino. Maria Inês Fini, ao falar aos gestores (Caderno do gestor V.1) evoca Murrie (2008) para definir as funções do professor coordenador diante das políticas públicas apresentadas. Desta forma o agente social nesta função deve assumir o protagonismo junto a equipe gestora com a função precípua de comunicar à comunidade escolar o significado da Proposta Curricular e seus objetivos. Deve se apresentar ainda com uma postura pedagógica transformadora, colaborativa, transparente e dialogal. Deve, ainda, converter o discurso em ação prática principalmente no tocante as peculiaridades da cultura de escola que poderão sugerir resistências por parte da comunidade escolar. Assim como a Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores, a função gratificada do Professor Coordenador se configura como estratégica para a implantação da política pública em questão. 2 A PERCEPÇÃO IDIOSSINCRÁTICA DOS PROFESSORES DE DUAS UNIDADES ESCOLARES SOBRE A EFICÁCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PAULISTA Como apresentado na seção anterior, os formuladores de políticas públicas da Secretaria de Educação de São Paulo definem o curso de formação de professores ingressantes como elemento obrigatório para o ingresso na carreira docente, e a função gratificada do professor coordenador com o papel de agentes de controle da implantação da política pública. Esses com a responsabilidade de gerenciar a aplicabilidade do currículo oficial junto ao corpo docente, definindo-os como principais instrumentos da fase de implementação do ciclo de políticas. Desta forma, o presente recorte temático visa identificar as representações dos professores quanto à eficácia das políticas pública paulistas, após mais de dez anos do início. Ao considerar a cultura organizacional de escola “um campo de investigação e análise extremamente promissor para a compreensão da escola enquanto organização e instância de socialização” (BARROSO, 2012, p. 194), buscou-se identificar “elementos e processos organizacionais que identificam o ethos de uma determinada escola [...]” (BARROSO, 2012, p. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 95 195) com suas ideologias, crenças, valores, normas de conduta, assim como as representações de seus principais atores sociais (os professores), justificando- se, assim, ouso do instrumental disponibilizado pela pesquisa qualitativa. A coleta de dados foi realizada em duas unidades escolares - unidade escola A (UEA) e unidade escolar B (UEB) da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo, com a preocupação da identificação prévia de elementos que envolvessem características diferenciadas em relação à cultura de escola, ou seja, que pela natureza das atividades desenvolvidas pudessem apresentar diferenciais evidentes em relação aos procedimentos educacionais. Para cada uma das Unidades Escolares optou-se pela escolha de quatro professores do Ensino Médio. Todos os participantes do estudo foram escolhidos por sorteio aleatório. Como técnica de análise de dados usou-se a Análise de Conteúdo, segundo os passos orientados por Bardin (2009), ou seja: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação. O presente recorte temático está dividido em quatro temas:1) Análise da percepção dos professores sobre as questões: Quais programas voltados para melhoria do ensino/aprendizagem da SEESP, desde 2009, você se recorda?; 2) Quais as características desses programas voltados para melhoria do ensino/aprendizagem da SEESP ?; 3) Qual a sua posição frente a esses programas? E 4) Quais foram os pontos fortes e pontos fracos das políticas públicas implementadas pelo Governo do Estado de São Paulo após 2009? Cada um dos temas gerou um conjunto de categorias temáticas para cada uma das unidades escolares aqui estudadas como se segue: Quadro 01: Categorias temáticas. Quais programas voltados para melhoria do ensino/aprendizagem da SEESP, desde 2009, você se recorda? Categorias temáticas (UEA) Categorias temáticas (UEB) 1) Formação de professores. 2) Apostilamento da educação. 1) Programas da pasta. Quais as características desses programas voltados para melhoria do ensino/ aprendizagem da SEESP? 1) Distante da realidade do aluno 1) Falta de conexão com a escola real. Qual a sua posição frente a esses programas? 1) Adequação aos programas 1) Sem mudanças significativas. Sobre os pontos fortes e pontos fracos das políticas públicas implementadas pelo Governo do Estado de São Paulo após 2009. 1) O investimento como ponto forte 2) A descontextualização como ponto fraco 1 Nenhum ponto forte só pontos fracos. Fonte: Elaborado pelo autor. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 96 Quando questionados quais programas voltados para melhoria do ensino/aprendizagem da SEESP, desde 2009 que eles se recordavam, os professores de ambas as unidades escolares apresentaram grandes dificuldades para identificar as políticas públicas propostas. Os professores da UEA, foram os que mais se aproximaram dos objetivos apresentados pelos formuladores de políticas da SEE-SP. Identificaram a formação de professores e os recursos e o apostilamento disponibilizados pelos São Paulo Faz Escola, como ações para a melhoria da educação do estado, porém verbalizaram não se recordar de nenhuma política pública específica durante o período. De forma contrária os professores da UEB não conseguiram identificar nenhuma política específica idealizada e implementada pela SEE-SP durante o período proposto. As respostas dos professores a este tema apontam que os esforços dos formuladores em desenvolver uma cultura para que os professores se convertessem em implementadores das propostas curriculares não surtiu grandes efeitos, mesmo que elementos desta cultura possam ser identificados nas respostas dos professores da UEA. Diante da negativa em se recordarem das políticas, os participantes foram informados do “Mais qualidade na Educação” e, posteriormente, questionados sobre tema: Quais as características desses programas eram voltados para melhoria do ensino/aprendizagem? Para os professores da UEA os programas da Secretaria se mantêm distantes da realidade dos alunos, resumindo-se em um material didático que orienta para uma determinada sequência de conteúdos que, na maioria das vezes, os educandos, não conseguem acompanhar, além de ser um material empobrecido que não possibilita ao aluno informações suficientes para que possa resolver problemas fora da escola, principalmente quando se refere a continuidade dos estudos após a conclusão da educação básica. Já as respostas dos professores da UEB, trazem à tona a questão do modelo de implementação adotado, pois reconhecem a inciativa das políticas do Estado de São Paulo, de cima para baixo, sem que as bases fossem consultadas. Estes profissionais não se reconhecem nem na formulação e nem na implementação, e argumentam que a política como foi formulada aparenta ter sido pensada por pessoas que não vivenciam a realidade da escola. Diante do tema que questiona sua posição quanto às políticas públicas impostas pela SEE-SP, apesar das críticas, os professores da UEA, demonstram em suas representações certa adequação às exigências dos formuladores, enquanto os professores da UEB mostram-se resistentes em seu papel de implementadores. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 97 Os professores da UEA argumentaram que as orientações apresentadas no caderno do professor estabelecem as sequências didáticas que devem ser realizadas com os alunos, desta forma, os professores podem preparar suas aulas segundo o que é determinado pela SEE-SP. Em uma visão otimista do programa, os professores desta unidade escolar descrevem como boas as intenções dos formuladores de políticas, já que quando se tem um currículo comum, a transferência dos alunos entre unidades escolares evita prejuízos para a aprendizagem. Enquanto os professores da UEB, retomam a descontextualização das políticas públicas com as reais necessidades dos alunos e da comunidade onde estão inseridos. Argumentaram a hierarquização da proposta que desconsidera a vivência prática dos professores em relação às questões educacionais. A visão de uma política que centraliza as ações na equipe gestora como no modelo top-down, com uso de técnicas da administração empresarial faz com que os professores desta unidade escolar não demonstrem aderência aos objetivos da implementação das políticas públicas em questão Ao serem questionados sobre os pontos fortes e fracos das políticas públicas implementadas pela SEE-SP, os professores da UEA identificam como pontos fortes os investimentos tanto econômicos quanto pedagógicos realizados pelo Governo do Estado nas unidades escolares, com a intenção de implementação da proposta curricular, além de identificar que a unificação do currículo possibilitou a unificação do pensamento dos professores e do ensino, mesmo que representem muito pouco diante das necessidades da escola. /Quanto aos pontos fracos, os professores desta unidade escolar descrevem a descontextualização das propostas da SEE-SP em relação à realidade da sala de aula, identificam tais políticas públicas como impositivas. Os professores da UEB nas políticas públicas em questão, e identificam a falta de comunicação e clareza nos objetivos, além do desvio das funções dos professores coordenadores, que tem que atender as demandas da SEE-SP e se distanciam das questões pedagógicas. Denunciaram a tentativa de controle excessivo exercidas não reconheceram nenhum ponto positivo pelo corpo burocrático, sem que haja reais mudanças nas dinâmicas cristalizadas do funcionamento da escola e, neste sentido, pouco interfere a mudança do currículo. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 98 CONCLUSÃO A análise das representações dos professores quanto eficácia das políticas públicas paulistas nos permitiu inferir a percepção idiossincrática de cada um dos dois grupos pesquisados. Enquanto os professores da UEA, apesar de críticos às propostas, demonstram certa passividade diante das determinaçõesda SEE-SP, mesmo que na maioria das vezes não acreditem em possíveis resultados positivos gerados pelas políticas públicas. Os professores da UEB, até por estarem envolvidos com um programa alternativo10 desenvolvido por eles mesmos, diante da insatisfação com os resultados da escola pública, não apresentam qualquer aderência ao discurso produzido pelos formuladores para que possam efetivamente se converterem em implementadores da proposta curricular do Estado de São Paulo. Desta forma tornou possível identificar a ineficácia do modelo top-down, ao menos no tocante a implantação via função gratificada do professor coordenador, o que sugere que a inversão para o modelo bottom- up poderia se apresentar como alternativa às futuras iniciativas. REFERÊNCIAS BARROSO, J. A Administração Educacional e a Abordagem Sociológica das Organizações Educativas. In: Caderno de formação: formação de professores. Bloco 03: Gestão Escolar. São Paulo: Cultura Acadêmica, Universidade Estadual Paulista; Univesp, 2012. BUENO, J. G. S. Função social da escola e organização do trabalho pedagógico. Educ. rev. Curitiba, n. 17, p. 101-110, Junho de 2001. CANÁRIO, R. Os estudos sobre a escola: problemas e perspectivas. In: BARROSO, João (Org.). O Estudo da Escola. Porto: Porto Editora, 1996. CAVALCANTI, P. A. Sistematizando e comparando os enfoques de avaliação e de análise de políticas públicas: Uma contribuição para a área educacional. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP. 2007. 10 A U.E. “B” tem como diferencial as ações por parte de um grupo de professores que em 2011, em função da insatisfação como os resultados de seu trabalho, organizou-se em grupos de estudos que resultou em um projeto pedagógico diferenciado Tal projeto objetivou a busca de alternativas à organização tradicional da escola, e que possibilitasse aos alunos o sucesso acadêmico, à autonomia, à realização pessoal, a uma convivência respeitosa e à ação cidadã, enfim, um projeto que promovesse uma inovação das práticas de modo a contemplar todas as dimensões da formação humana. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 99 DYE, T. Understanding Public Policy. New Jersey: Pearson; Prentice- Hall, 1992. GOMES, R. Culturas de escola e identidade dos professores, Lisboa: EDUCA, 1993 MERMEJO, P. R. Análise de políticas no campo educacional: A representação de professores e alunos como elemento da cultura de escola no contexto das políticas públicas paulistas entre 2009 e 2016. Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, março, 2018. MURRIE, Z. de F. Caderno do Gestor, Gestão do currículo da escola. São Paulo, SEE, 2008. PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, Maria Inês Fini (coord), São Paulo: SEE, 2008 RUA, M. das G. Políticas públicas. Departamento de Ciências da Administração / UFSC, Florianópolis, 2012 SÃO PAULO. Caderno do Gestor, v. 1 Maria Inês Fini (coord.), São Paulo: SEE, 2008 SANTOS, M. P. G. dos. Políticas públicas e sociedade, 2. ed. Reimp. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração, UFSC, 2012. SERAFIM, M. P. et al. Análise de política: uma revisão da literatura. Cadernos Gestão Social, v. 3, n. 1, p. 121-134, 2012. SARMENTO, M. A vez e a voz dos professores: Contributos para o estudo da cultura organizacional da escola primária. Porto: Porto Editora, 1994. SOUZA, C. et al. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, v. 8, n. 16, p. 20-45, 2006. TORRES, L. L. Cultura organizacional escolar. Representações dos professores numa escola portuguesa. Lisboa: Celta, 1997. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 101 ENSINO MÉDIO E JUVENTUDE: REFLEXÕES A PARTIR DE RECENTES ESTUDOS Andressa Cristina Santos1* Maria Madalena Gracioli** RESUMO: O presente estudo tem como objetivo propor uma discussão sobre a temática juventude e educação, tendo como ponto de partida, publicações disponíveis nas bases de dados CAPES e Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD. Os trabalhos foram localizados utilizando o descritor, ensino médio e juventude, e tendo como recorte temporal o período de 2017, ano de promulgação da Lei 13.415/17, que altera a Lei 9697/96, e promove reformas no Ensino Médio - até agosto de 2020. Cientes de que a referida reforma surgiu num contexto atribulado de enfraquecimento da democracia e perdas dos direitos conquistados, estas publicações e estes dados levantados nos mostram, como resultados iniciais, que há outros interesses por trás desse projeto, não dialogando com as expectativas reais das juventudes para esta etapa de escolarização, possibilitando, ainda, um aumento da desigualdade. Palavras-chave: ensino médio. Juventude. educação, políticas públicas. INTRODUÇÃO O Ensino Médio é, historicamente, palco de disputas e constantes mudanças. Discutir as questões que envolvem esse cenário e refletir sobre caminhos possíveis para a construção de uma educação de qualidade para a juventude, principalmente com as permanentes perdas de direitos, se torna extremamente necessária e urgente. Necessária porque uma educação de qualidade pode ser compreendida numa lógica que considera a educação como direito e possibilidade de desenvolvimento humano integral, que reconhece o contexto, considera o processo e os cenários formativos. No entanto, o ensino médio não tem uma identidade definida, oscila entre a preparação para o ingresso no ensino superior e a formação profissional, enquanto parte da sociedade composta por pesquisadores da área educacional, professores, pais e alunos defendem um ensino médio voltado para uma formação integral que considera o jovem como sujeito histórico e de * UNESP. Mestranda do Programa de Planejamento e Análise de Políticas Públicas – UNESP/ Franca. Email: andressa.cristina@unesp.br http://lattes.cnpq. br/9702392543074957 * UNESP. Doutorado em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP/Araraquara. Email: lenagracioli@gmail.com. http://lattes.cnpq. br/6911873719047388 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 102 direitos, que pressupõem que, partindo de uma educação completa, os próprios jovens sejam capazes de definir o seu projeto de vida e de futuro. É urgente, porque os jovens, principalmente das classes menos favorecidas, buscam na educação uma das poucas possibilidades de ascensão social, e oportunidade de superar as situações de miséria e exclusão, porém, muitos jovens ainda encontram-se fora da escola. A evasão, o abandono e as taxas de reprovação nessa etapa da escolarização são elevadas, e o baixo rendimento dos alunos apresentados em avaliação externas, expõem o dilema dos jovens que precisam da escola pública. Nesse palco de disputa em que o ensino médio se encontra desde meados do século XX, muitas reformas e interesses se apresentaram com os melhores caminhos para a juventude. Em nenhuma das reformas realizadas até o momento teve a participação dos jovens, considerados adultos para votar, para adquirir carta de motorista, mas considerados incapazes de discutir e decidir sobre a educação que lhes é oferecida. A última reforma do ensino médio foi realizada após o golpe político de 2016, pouco tempo após a posse de Michel Temer na presidência da república, empreendida num curto espaço de tempo, de forma autoritária, sem discussão alguma com educadores, pais e alunos, instituída pela Medida Provisória nº 746 de 22 de setembro de 2016 (BRASIL, 2016), convertida em projeto de lei e, posteriormente, sancionada como Lei nº 13.415 de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017). Muitas críticas foram e são feitas a essa reforma comoexposta abaixo nos textos analisados nesse artigo, mas também se faz pertinente discutir que o ensino médio é pensado e direcionado a preparar os jovens para o futuro. Sendo assim, essa importante etapa da educação básica desconsidera a condição dos estudantes como seres que vivem o momento, que vivenciam um significativo período da vida, e, uma breve análise do currículo do ensino médio revela que os conhecimentos e cultura que os jovens adquirem no seu cotidiano não são incorporados no currículo, ou seja, os estudantes não são considerados como produtores e consumidores de conhecimento e cultura, mas apenas indivíduos a serem moldados para o mercado de trabalho, como cogita a Lei nº 13.415 de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017). Nessa perspectiva, esse artigo resulta de um recorte de uma pesquisa que está sendo realizada nos portais da CAPES e da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD, utilizando como descritores juventude e ensino médio, no período de 2017 a 2020, com o objetivo de IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 103 conhecer e analisar as produções acadêmicas que tratam juventude e ensino médio na Lei nº 13.415 de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017). DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS INICIAIS Este estudo, em andamento, de cunho qualitativo, foi realizado por meio de uma pesquisa na base de dados CAPES, utilizando o descritor juventude e ensino médio, onde foram encontrados nove artigos, sendo dois de 2017, cinco de 2018 e dois de 2020. Após leitura dos títulos e resumos, quatro artigos foram selecionados para análise, pois apresentam foco de estudos semelhante ao desta pesquisa. Os outros seis trabalhos foram descartados pois, apesar de terem como objetivo o Ensino Médio e Juventude, são diferentes dos propostos por este estudo, que é relacionar juventude e ensino médio na Lei nº 13.415 de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL, 2017). Apresentamos, a seguir, os objetivos e metodologias dos três artigos selecionados para análise: Leão (2018), Araújo (2018) e Duarte et al (2020). Nº 1 2 3 Ano da Publicação 2018 2018 2020 Autor(es) Geraldo Leão Ronaldo Marcos de Lima Araújo Adriana Maria Cancella Duarte, Juliana Batista dos Reis, Licinia Maria Correa e Shirlei Rezende Sales Título do artigo O que os jovens podem esperar da Reforma do Ensino Médio brasileiro? A Reforma do Ensino Médio do Governo Temer, a Educação Básica Mínima e o Cerco ao Futuro dos Jovens Pobres. A contrarreforma do Ensino Médio e as perdas de direitos sociais no Brasil. Palavras- chave Ensino Médio, Políticas Educacionais, Juventude. Ensino Médio, Política Educacional, Reforma do Ensino Médio Juventude. Ensino Médio, Contrarreforma, Juventude, Currículo, Desigualdades escolares. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 104 Objetivos Refletir sobre a proposta de sua reestruturação contida na Lei 13.415/17 Discutir a Reforma do Ensino Médio implementada pela Medida Provisória n.746, de 2016 e, depois consolidada na lei 13.415/17. Identificar, descrever e analisar os processos e os efeitos da contrarreforma do Ensino Médio, regulamentada pela Lei n. 13.415/17, e a consequente perda de direitos sociais, especialmente para a juventude brasileira. Metodologia Pesquisa bibliográfica Pesquisa documental e bibliográfica Pesquisa bibliográfica Fonte: Elaborada pelas autoras com base nos artigos selecionados, 2020. Com base nos artigos e no quadro acima, e tendo como ‘terreno’ de discussões a lei 13.415/17, apresentamos reflexões de três autores, que discutem questões importantes quanto aos seguintes temas: a ausência de debates na aprovação da lei; alterações na finalidade da educação, financiamento e currículo; atendimento à interesses de organismos internacionais, grupos privatistas e ordem de mercado; exclusão de jovens trabalhadores; falsa ideia de flexibilização do currículo; desvalorização docente e ausência de investimentos básicos. A atual Reforma do Ensino Médio teve início em 2016, com aprovação da Medida Provisória n. 746/2016. De acordo com Araújo (2018), quase sem nenhuma discussão, a MP foi convertida em projeto de lei, aprovada na Câmara dos Deputados e Senado, e sancionada em 16 de fevereiro de 2017, como Lei 13.415/17, que, de acordo com o autor, apresenta características que julga ter fortes indícios para efeitos negativos na vida dos jovens. Para a obtenção dos resultados esperados, a referida lei alterou simultaneamente outras três leis: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), a lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Portanto, essa lei altera toda a educação básica, apesar de ter enfoque no Ensino Médio. De acordo com Araújo (2018), essas alterações nas leis resultam em profundas mudanças no que se refere à própria finalidade da educação no país, a organização do currículo, o financiamento e o próprio IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 105 trabalho do Magistério e, por isso, a considera ilegítima, pela forma antidemocrática com que foi concebida. Leão (2018) analisa que todas essas propostas são “justificadas” pelos seus defensores, pela “urgência” da mudança de uma educação de má qualidade oferecida à juventude. Araújo (2018), corrobora a ideia acima ao afirmar que os defensores da Reforma justificam sua necessidade pela melhoria da qualidade da educação, ampliação das escolas com oferta de tempo integral, dentre outros, mas, para o autor, sua real intenção é flexibilizar questões importantes que envolvem a luta de estudantes e profissionais da educação, isto é, a conquista da educação pública e gratuita, acesso ao ensino superior, entre outros. Outra importante discussão, como apresenta Araújo (2018), é que a aprovação da Reforma do Ensino Médio surgiu num contexto de ruptura democrática, em que o então presidente da República Michel Temer lançou mão de diversas reformas que visavam a retirada de direitos, como a Reforma Trabalhista, a Lei das Terceirizações, a PEC do congelamento dos gastos públicos (PEC 55), e a Reforma do Ensino Médio, portanto, de acordo com o autor, mais uma ação do governo que resulta em exclusão e desigualdade. A lei 13.415/17 prevê ampliação progressiva da carga horária para 1400 horas anuais, sendo sete horas diárias. A carga horária mínima deverá ser de 1000 horas anuais (cinco horas diárias). Leão (2018), analisa que, para o aluno que estuda no período noturno a lei fala apenas da oferta da Educação de Jovens e Adultos e de um ensino regular que esteja de acordo com as condições do aluno, mas não apresenta detalhes dessa proposta. A lei, portanto, poderá contribuir para a evasão de um grande número de jovens que são trabalhadores, impedindo-os de concluir a educação básica. A Reforma do Ensino Médio é caracterizada por Araújo (2018), como antidemocrática, porque foi aprovada num tempo rápido de cinco meses, sem discuti-la com as entidades representativas da ciência e da educação, que, a propósito, publicaram notas públicas manifestando-se contra a reforma. De acordo com o autor, sem a participação de pais, alunos, professores, cientistas e estudiosos do assunto, os principais interlocutores da reforma foram grandes grupos empresariais, um exemplo desses grupos são os que formam o Movimento Todos Pela Educação, e o Conselho Nacional de Secretários de Educação – CONSED, cujo um de seus interesses era a flexibilização do trabalho docente. Assim, de acordo com o autor, a reforma atendeu a esses interesses, limitando a escolha de projetos de futuro pelos jovens. IV Seminário Internacional de Pesquisa em PolíticasPúblicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 106 Corroborando, Duarte et al (2020), defendem que a Reforma é uma regressão no que tange aos direitos da juventude do país, pois rompe com o conceito de educação proposto pela LDB 9394/96 e visa atender ao mercado de trabalho, sem estabelecer nenhum diálogo para se pensar numa educação de qualidade. Outro ponto a se discutir, talvez o ponto mais utilizado pelos defensores da Reforma, é a instituição de cinco itinerários formativos, que os estudantes poderão “escolher”: Linguagens e suas tecnologias, Matemática e suas tecnologias, Ciências da natureza e suas tecnologias, Ciências humanas e sociais aplicadas e Formação técnica e profissional. De acordo com Araújo (2018), a proposta que se trata de educação integral, na verdade, fragmenta a educação dos jovens nesses cinco itinerários e passa a falsa ideia de liberdade de escolha e de autonomia pelos alunos, quando, na verdade, quem irá escolher os itinerários são os sistemas de ensino. O autor então conclui que esta flexibilização irá contribuir para aprofundar ainda mais as desigualdades entre os jovens, divididos entre esses itinerários, e também entre uma escola e outra. Sobre isso, corroboram Duarte et al: Uma dessas propagandas institucionais veiculadas nas redes abertas de televisão exibia jovens que anunciavam seus projetos de futuro: “Eu quero fazer jornalismo!”, “Eu quero ser professora. É o que eu amo”, “E eu, designer de games”, “Eu quero um curso técnico para já poder trabalhar”. Por fim, a locução proclamava: “Com o novo Ensino Médio você tem mais liberdade para escolher o que estudar, de acordo com a sua vocação. É a liberdade que você queria para decidir o seu futuro”. No entanto, a pretensa flexibilização do currículo, a partir de cincos percursos formativos, não será produto da escolha das(os) estudantes, como toda a publicidade institucional buscou construir em narrativas audiovisuais do protagonismo juvenil. A decisão de oferta está nas mãos dos sistemas de ensino, ao passo que para as(os) jovens as possibilidades de escolha serão diminutas, ou mesmo inexistentes. (2020, p. 9) Para Leão (2018), com a falsa ideia de flexibilização do currículo e da liberdade de escolha, a educação será mais rígida e carente. Basta olhar, de acordo com o autor, para os próprios itinerários formativos. Sem possibilidade de alterar o percurso escolhido e também por saber que a escola não tem a obrigatoriedade de oferta de todos os itinerários para que os estudantes escolham o de sua preferência, o jovem encontrará grandes desafios, ainda mais nessa fase de dúvidas, de construção de projetos de IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 107 futuro. Dessa forma, o autor conclui que a flexibilização é válida apenas para os governos. Para os jovens, reduz-se as possibilidades, enrijece as escolhas, fragmenta-se a aprendizagem. Há um novo retrocesso na forma de se pensar e organizar a formação do Ensino Médio, que não fora discutido, mais uma vez, com aqueles a que se destinam as políticas públicas. O autor acrescenta ainda que houve, nos últimos anos, um significativo aumento no número de matrículas no Ensino Médio e, com as políticas de acesso ao Ensino Superior, um grande número de jovens passou a frequentar esse nível de ensino. Para ele, com a criação desses itinerários formativos, sem ligação com a formação técnico-profissional, claramente se percebe a intencionalidade de afastar a juventude das universidades. Duarte et al (2020), contestam a forma como o currículo foi estabelecido na Reforma do Ensino Médio, analisando que há limitação de conhecimentos, que visa atender a grupos privatistas, concebidos num contexto de golpe de estado: Compondo o golpe do currículo, foram aprovadas em novembro de 2018 as novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (DCNEM), regulamentadas pela Resolução n. 3 da Câmara de Educação Básica (CEB) do CNE. Somados aos retrocessos impostos pela Lei n. 13.415/2017 e pela BNCC, destacamos os inúmeros artigos que autorizam as parcerias com as instituições privadas; a fragmentação da educação por meio da certificação intermediária; a inviabilização do ensino noturno (por conta do seu excessivo aumento de carga horária); e a abertura à possibilidade de que 80% da carga horária da Educação de Jovens e Adultas(os) (EJA), 20% do Ensino Médio e 30% do ensino noturno sejam ofertadas a distância. Tais aspectos significam em seu conjunto um golpe que sequestra da juventude brasileira as chances de acessar o conhecimento escolar e, com isso, de formar-se criticamente e usufruir do direito à educação escolar. (DUARTE et al, 2020, p.19) Com grande destaque nas discussões dessa reforma, a lei prevê que, na oferta do ensino técnico, a escola pode realizar parcerias com a iniciativa privada, oferecer uma parte da carga horária a distância e ainda contratar professores que comprovem notório saber. Leão (2018) analisa que essa flexibilização permitida pela lei 13.415/20 visa atender aos interesses do mercado de trabalho, por meio do repasse de recursos públicos para o setor privado, reduzindo investimentos do Estado, possibilitando a terceirização e abrindo caminhos para a privatização. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 108 Para Duarte et al (2020), todas essas possibilidades para o ensino técnico fazem com que pensem que este será o itinerário mais ofertado pelas escolas, preparando os jovens apenas para o mundo do trabalho e diminuindo as possibilidades de uma educação de qualidade. Esse modelo, de acordo com Araújo (2018) e Duarte et al (2020), segue as orientações da Unesco, do Banco Mundial e de outras organizações, que buscam vincular a educação ao mercado de trabalho, com desenvolvimento de competências e habilidades que podem lhes dar retorno. Esse ideário empreendedor defendido por esses organismos, destacado na Reforma, na verdade, atribui ao jovem a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso de sua relação com o trabalho. Sobre essa questão, Araújo (2018), também analisa que, não apenas a aceitação de profissionais com “notório saber”, mas sobretudo, por definir como obrigatórias apenas as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, coloca os professores das demais disciplinas em situação de dispensáveis, ocultando o verdadeiro problema que necessitava ser resolvido: ausência de professores qualificados para a educação básica. Para o autor, a Reforma atende aos interesses do Conselho Nacional de Secretários de Educação - CONSED, quando as secretarias de educação são desobrigadas a contratar professores licenciados, pois, com a não obrigatoriedade da oferta de diversas disciplinas, o problema da falta de professores estaria solucionado. De uma população de quase oito milhões de jovens no Brasil, a Reforma pretende atender cerca de 250 mil em tempo integral. Para Araújo, se trata de uma farsa que encobre os seus reais desejos, “a redução da educação básica, a desprofissionalização docente e a subordinação do Ensino Médio às demandas específicas do mercado” (2018, p. 223). Além disso, com a proposta da Reforma de educação em tempo integral, o que acontece, segundo o autor, é uma diminuição das metas a serem atendidas no Plano Nacional de Educação. O PNE prevê que, até 2024, 50% das escolas públicas e 25% dos alunos sejam atendidos pelo tempo integral, mas, de acordo com o que apresentam Duarte et al (2020), são apenas 500 escolas beneficiadas com a oferta do Ensino Médio Integral, ou seja, 2,5% das escolas. Nessa implementação da educação integral, segundo as autoras, não somente há desigualdade pelo percentual de oferta, mas também pela exigência de infraestrutura das escolas, o que acabou por contemplar apenas as que tinham melhores estruturas, ignorando as condições precárias das escolas. IV Seminário Internacionalde Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 109 Ademais, uma questão muito importante analisada por Araújo (2018) refere-se à própria ausência de referência aos conceitos essenciais de qualidade para a educação, como infraestrutura, valorização docente, materiais didáticos e outros, o que o autor denomina de “supervalorização do currículo”, presente na lei 13.415/17, que visa mascarar, esconder suas reais intenções. Como diz Leão (2018), trata-se de um jogo de disputas entre a defesa da universalização do ensino e a seletividade. Portanto, há algumas questões, segundo o autor, que precisam ser respondidas: Quantas e quais disciplinas devem compor o currículo do ensino médio? Como se dá a relação entre formação geral e formação profissional? Como organizar a escola de ensino médio? Em módulos? Em sistemas de crédito? Qual o perfil do profissional que atuará no ensino médio? Como se organizará o ensino noturno? O ensino noturno deverá existir? (LEÃO, 2018, p. 6) Faz-se necessário pensar o ensino médio a partir das práticas já vivenciadas pela escola e seus atores. De acordo com Leão (2018), o desafio para as políticas públicas está em apoiar essas vivências construídas. A “urgência” da reforma acabou por deixar de lado discussões e práticas inovadoras que já estavam em andamento, como por exemplo, o Programa Ensino Médio Inovador - PROEMI. Criado no governo Lula, esse programa visava apoiar as práticas pedagógicas inovadoras realizadas pelas escolas, dentro do contexto das ações voltadas ao Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE. Os recursos eram transferidos às escolas para o desenvolvimento de projetos pensados pelos docentes. Um dos objetivos era dinamizar e flexibilizar o currículo, atendendo as reais necessidades dos estudantes. Para isso, havia também a proposta de expansão da carga horária para mais 600 horas anuais, melhorias em infraestrutura das escolas, formação de professores, engajamento dos jovens e incentivo à pesquisa (Leão, 2018). Por fim, o autor questiona o porquê não investir em ações dessa natureza, partindo da realidade das escolas, para a construção de novos currículos. Assim, se faz necessário pensar nas demandas da juventude ao se discutir os rumos do ensino médio no Brasil, afirma Leão (2018). Um currículo, como o apresentado na Reforma, é um retrocesso, recuperando versões retrógradas, antes superadas, é excludente e desigual, visa apenas transferir a responsabilidade de seu sucesso ou fracasso para os jovens e os professores. Para o autor, as práticas desenvolvidas pela escola, pais e estudantes, não são consideradas. Assim, defende que esse diálogo seja de IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 110 fato realizado entre os pares e que espaços democráticos de participação sejam criados para que as mudanças sejam pensadas pelos atores, dentro do espaço que “precisa” ser transformado. Sendo assim, pode-se concluir com os resultados apresentados até o momento que o Ensino Médio, palco de disputas, regride na história, visando atender aos desejos de organismos com interesses em privatização e produção para o mercado de trabalho, tornando a educação brasileira ainda mais dualista e desigual. A lei 13.415/17, portanto, é continuidade de um projeto de retirada de direitos, mascara os interesses de grupos dispostos à privatização da educação e oculta outros problemas, como a ausência de infraestrutura nas escolas e de profissionais capacitados. Se faz necessário que as práticas que partam das realidades das escolas e dos jovens sejam discutidas para elaboração das políticas públicas. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Este texto apresentou resultados parciais de uma pesquisa qualitativa realizada inicialmente na base de dados CAPES, onde três artigos foram analisados. Através desse estudo, percebemos que a relação da juventude com o Ensino Médio é sempre tensa, pois essa etapa de ensino é cada vez menos atrativa aos jovens, impossibilitando-os de, nesse espaço, pensar e elaborar seus projetos de futuro. Além disso, percebe-se que o Ensino Médio não possui identidade própria, entendido hora como etapa final da educação básica, hora como preparação para o Ensino Superior, mas nunca concebido como preparação específica de jovens, de situações específicas dessa etapa da vida. Com esse cenário de incertezas e indefinições, tanto do Ensino Médio, quanto da vida da juventude, construiu-se o palco ideal para que as alterações propostas pela lei 13.415/17 fossem aprovadas. A Reforma do Ensino Médio é mais uma das medidas de um projeto de destruição de direitos, alterando outras três leis fundamentais, a LDB 9394/96, a lei do FUNDEB e a CLT. Com a justificativa de flexibilizar a escolha de estudos pelos jovens, o que na verdade percebemos que a lei flexibiliza, são conquistas fundamentais da educação, como a formação de professores, a expansão das vagas do Ensino Médio, o financiamento da educação pública e podemos até citar o próprio caráter público da educação. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 111 Pensar em qualquer reforma para o Ensino Médio sem antes oferecer as condições mínimas para sua implementação é perda de tempo ou um projeto mentiroso. Assim, percebemos que a lei 13.415/17 se trata de um “outro” projeto em andamento, diferente do que fora apresentado nas mídias, visando atender unicamente os objetivos do capitalismo, com propósito de formação dos jovens para atender as necessidades do mercado de trabalho, a flexibilização da formação docente e também a privatização. Ademais, analisamos que o melhor caminho para se tentar solucionar os problemas do Ensino Médio tem sido observar as próprias práticas vivenciadas pelas escolas, que verdadeiramente propõem soluções a partir de seus atores e que olham para a juventude considerando que ela é capaz de participar da projeção e implementação das políticas públicas. REFERÊNCIAS ARAÚJO. R. M. L. A Reforma do Ensino Médio do Governo Temer, a Educação Básica Mínima e o Cerco ao Futuro dos Jovens Pobres. Holos, Ano 34, v. 08, 2018. Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index. php/HOLOS/article/view/7065/pdf. Acesso em: 07 ago. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Medida Provisória n.746, de 22 de setembro de 2016. Institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e a Lei nº 11.494 de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, e dá outras providências. Brasília, 2016. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/ fed/medpro/2016/medidaprovisoria-746-22-setembro-2016-783654 exposicaodemotivos-151127-pe.html. Acesso em: 15 set. 2020. BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis n º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Brasília, DF, 2017. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13415-16-fevereiro-2017- 784336-publicacaooriginal-152003-pl.html. Acesso em: 03 set. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 112 DUARTE, A. M. C.; REIS, J. B. DOS; CORREA, L. M.; SALES, S. R. A contrarreformado Ensino Médio e as perdas de direitos sociais no Brasil. Roteiro, v. 45, p. 1-26, 4 jun. 2020. Disponível em: https:// portalperiodicos.unoesc.edu.br/roteiro/article/view/22528/14286. Acesso em: 03 ago. 2020. LEÃO. G. O que os jovens podem esperar da Reforma do Ensino Médio brasileiro? Educação em Revista, n. 34, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/edur/v34/1982-6621-edur-34-e177494.pdf. Acesso em: 30 ago. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 113 POLÍTICAS PÚBLICAS COMO FERRAMENTA DE COMBATE AO RACISMO INSTITUCIONAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL Romilson de Castro Madeira* 1 RESUMO: Este trabalho busca identificar e analisar uma política pública no campo da Educação como instrumento de combate ao racismo institucional no ensino municipal brasileiro. Por meio de uma pesquisa bibliográfica foi desenvolvida a análise de um projeto implantado em Ribeirão Preto, município do interior do Estado de São Paulo, Brasil. A análise possibilitou a percepção de avanços e também de dificuldades históricas existentes no desenvolvimento de ações de combate ao racismo institucional e o quanto esta prática imputa prejuízos para a população afrodescendente. Palavras-chave: racismo institucional. políticas públicas. políticas educacionais. INTRODUÇÃO A Gestão Pública, em âmbito municipal, apresenta uma relevante complexidade que se coloca além das questões técnicas fundamentais para sua existência: planejamento, desenvolvimento e execução das atividades relacionadas ao cotidiano das cidades e seus habitantes. Há componentes imprescindíveis que devem ser considerados ao se medir a efetividade das ações dos gestores municipais, tais como, aspectos sociais e econômicos – nível de instrução, renda, etc. – que determinam as relações entre os diversos grupos que compõem a população e o poder público nas cidades. No presente estudo entende-se que, um dos grandes desafios postos para a Gestão Pública Municipal é o combate ao racismo, e sua possibilidade de mitigar os efeitos nocivos (sobre os quais haverá maior detalhamento no momento da análise de dados desta pesquisa) com a implantação de políticas públicas que contemplem o combate ao racismo institucional como forma de democratização efetiva do serviço público, e que garantam a aplicação de um princípio constitucional básico que é a igualdade de todo cidadão perante o Estado brasileiro1. * Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Profissional de Comunicação Sênior na Petrobrás Transporte S. A. romadeira@hotmail.com. http://lattes. cnpq.br/9541635500495152 1 A Constituição da República Federativa do Brasil diz no Artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”. Fonte: https://anajus.jusbrasil.com. br/noticias/2803750/principio-constitucional-da-igualdade IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 114 Uma variável do racismo, o racismo institucional é vivenciado nas interações entre os indivíduos e as instituições. Se apresenta de forma sutil e outras de maneira agressiva e altamente excludente “[...] promovendo a operação diferenciada de serviços, benefícios e oportunidades aos distintos grupos raciais” (JACCOUD, 2010, p. 136). Em um segundo momento temos as políticas públicas – ações de governo de caráter permanente instituídas a partir de demandas de parte da sociedade (RODRIGUES, 2010) – como objeto desta pesquisa visto que são instrumentos que estão sendo consolidados no Brasil desde a década de 1980 e se apresentam como dinamizadoras de soluções em searas diversas da Administração Pública. Este racismo praticado nas e pelas instituições implica na execução de um tratamento diferenciado, nos equipamentos públicos, e com prejuízos à população afrodescendente, se colocando como fator de risco em relação ao uso das unidades públicas por estes munícipes. Sampaio (2003), afirma que o racismo institucional pode ser entendido como “O fracasso coletivo de uma organização para prover um serviço apropriado e profissional para as pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica”, que pode ser observado em comportamentos e processos que geram discriminação por preconceito e “estereotipação” racista, que causa desvantagens a pessoas de minoria étnica (SAMPAIO, 2003, p. 82). Vale ressaltar que o entendimento do racismo institucional como um desafio a ser enfrentado pela Gestão Pública não é exatamente uma novidade. Segundo Jaccoud (2010) este conceito é utilizado desde o final dos anos de 1960, em diferentes países, para a promoção de políticas de equidade racial. “Nos Estados Unidos, por exemplo, o conceito surge no contexto da luta pelos direitos civis e com a implementação de políticas de ações afirmativas” (JACCOUD, 2010, p. 141). Diante deste quadro se estabelece um desafio para a Gestão Pública que é o desenvolvimento de políticas públicas que possam minimizar a situação e/ou os efeitos das práticas cotidianas do racismo institucional no ambiente do serviço público – em especial no município pois é nele que se concentram a maior parte dos atendimentos públicos destinados ao cidadão. A existência destas políticas mitigadoras e a verificação de sua efetividade são os elementos centrais da pesquisa aqui proposta. Assim, para que se possa delimitar de maneira mais adequada o objeto pesquisado escolhemos o campo da Educação que se destaca como uma das demandas prioritárias dos munícipes, de forma geral, e da população negra em IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 115 especial, visto que a efetividade das ações e programas nesta área tem impacto direto na qualidade de vida da população. Apresenta-se, assim, um quadro de fundamental importância para a Gestão Pública: a população mais carente dos serviços públicos municipais recebe um tratamento discriminatório que agrava sua condição de marginalização colaborando, desta forma, para a perpetuação do ciclo vicioso da desigualdade. Este ciclo é traduzido em indicadores diversos ao analisarmos vertentes econômicas, educacionais, de emprego e renda, etc. Com isso, o racismo institucional se soma a outras mazelas a que são submetidos os cidadãos negros do país influenciando diretamente sua possibilidade de atingir um nível digno de qualidade de vida. Considera-se, na presente pesquisa, que as políticas públicas intersetoriais podem ser implementadas de forma adequada, romper com o anteriormente citado ciclo vicioso da desigualdade. Ao entender-se tais políticas como instrumentos de atuação permanente, implantados na estrutura pública de serviços do município com o objetivo de solucionar demandas históricas e/ou urgentes de uma determinada comunidade ou grupo social, fica evidenciado seu papel fundamental no combate ao racismo presente nas instituições municipais. Em presença deste quadro, esta pesquisa pretende verificar a existência de uma política pública municipal na área da Educação que possa ter contribuído com o combate ao racismo institucional e, mesmo que parcialmente, diminuído seus efeitos. Assim, o presente artigo tem como objetivo apresentar uma pesquisa que analisou uma política pública no campo da Educação, a fim de refletir sobre sua capacidade em combater o racismo institucional no atendimento público municipal brasileiro. Tal objeto se justifica por associar duas temáticas de relevância, na atualidade, para a sociedade como um todo e, particularmente no que tange a Gestão Pública Municipal. Primeiramente verifica-se que o racismo – aqui entendido como a discriminação praticada contra um indivíduo por conta de sua origem étnica – é umaprática recorrente na realidade brasileira e que sua existência provoca prejuízo de toda a ordem a uma parcela de grandes proporções do contingente populacional do país (conforme dados divulgados pelo IBGE2 o número de pretos e pardos no Brasil representa 54,9% do total da população). 2 Fonte: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/ noticias/18282pnad-c-moradores.html IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 116 DESENVOLVIMENTO Este trabalho fundamenta-se na perspectiva histórica da administração pública e das polícias públicas e no olhar histórico-social da formação da sociedade brasileira quanto às relações étnicas. A análise das relações sociais cotidianas assume centralidade, tendo como pano de fundo o processo histórico, visto que o objeto se define na dinâmica da vivência do cidadão com a gestão municipal. A verificação deste processo acontece a partir da interação entre os dois termos de uma relação – cidadão e poder público – tendo como base o sistema público de educação municipal e o papel que este desempenha na qualidade de vida dos cidadãos dentro de seu contexto social. 1 RACISMO E RACISMO INSTITUCIONAL A conceituação do racismo encontra vasto material em estudos acadêmicos brasileiros. Tendo sido, há um tempo considerável, pacificada a questão da distinção entre “raça” no aspecto social do conceito das ciências biológicas. Assim, a utilização desta terminologia segue o que propõe Passos (2012) de “raça” como construção história e social, produzidas nas relações de poder, que se manifestam em práticas sociais racistas. Assim, temos o pressuposto de que o racismo é elemento estruturante das desigualdades no Brasil, tanto sociais quanto econômicas, e incide de forma perversa sobre a população negra. A existência do racismo é fator determinante nas condições de vida desta população, sendo herança disseminada por gerações. Há duas formas de expressão do racismo que estão interligadas: “a individual, quando os atos discriminatórios são contra outros indivíduos e a institucional, quando as práticas discriminatórias são fomentadas pelo Estado ou com seu apoio”, conforme aponta Passos (2012, p.1). Cashmore (2000, p. 470) explica que “o racismo institucional é camuflado uma vez que suas causas específicas não são detectáveis, embora seus efeitos e resultados sejam bastante visíveis”. O imaginário que contempla as relações raciais e sociais no Brasil se coloca no âmbito das instituições, visto que as instituições não apenas refletem o mundo social, mas, pela sua capacidade de gestão, decisão e organização, de vários aspectos de nossas ações, acabam por originar resultados que podem ampliar o problema central – uma sociedade injusta e desigual. O filtro racial que as instituições públicas praticam se constitui IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 117 em um processo permanente e concreto com larga reprodução em toda a história brasileira. Desta forma, permanece, como no período em que foi abolida a escravidão, a posição do negro como ser “inferior” e menos capaz. Colocado em posições de emprego de remuneração mais baixa do que a média nacional, com piores condições de acesso à escola, o negro ainda vive à margem da sociedade brasileira. Um olhar sobre estas “coincidências” de classe e cor dá o indicativo para o entendimento de que ações positivas, como as garantias de maior acesso à educação (as cotas para Universidades Públicas, por exemplo) são, com certeza, constituintes de um processo que pode culminar em ações políticas eficientes. 2 A PESQUISA Esta pesquisa, de abordagem qualitativa buscou, por meio de documentos disponibilizados na internet, a identificação e análise de políticas públicas no campo da Educação, a fim de verificar a capacidade desta política em combater o racismo institucional no atendimento público municipal brasileiro. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi identificado um projeto no campo da educação, o Projeto Baobá, desenvolvido pela Secretaria de Educação da cidade de Ribeirão Preto (SP). Primeiramente é necessário entender o contexto no qual foi implantado o Projeto aqui analisado: entre os anos de 2006 e 2009 a cidade de Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, contou com iniciativas de políticas públicas de combate ao racismo desenvolvidas em conjunto pelo poder público municipal e o movimento negro. Por inciativa do Centro Cultural Orunmilá – organização que defende os direitos da população afrodescendente na região – foram implementados alguns projetos que buscavam dar amplitude para políticas públicas em frentes diversas3. A Assessoria de Promoção da Igualdade Racial, o Comitê Técnico de Promoção da Saúde da População Negra e o Projeto Baobá são exemplos de ações, parte de um conjunto de políticas de promoção da igualdade racial, que foram desenvolvidas na cidade. O objeto de análise 3 Fonte: https://www.revide.com.br/editorias/entrevista/uma-nova-consciencia788/ IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 118 é o Projeto Baobá4, desenvolvido especificamente para tratar da educação no contexto das relações raciais tendo como sustentáculo a da Lei Federal 10.639/03, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todo o currículo escolar. O Projeto Baobá se caracterizava como um pilar das relações étnico-raciais no escopo da Educação municipal, prevendo, inclusive, a inclusão da temática em documentos normativos da educação municipal, tais como o Plano Municipal de Educação, nos Projetos Políticos -Pedagógicos das escolas e planos das disciplinas (Euclênio, 2008). O projeto foi coordenado por uma historiadora e professora que, em carta aberta, publicada5 em 16 de junho de 2009, quando de seu pedido de exoneração, explicitou as dificuldades encontradas para a implantação da iniciativa, no momento inicial, em razão do desprezo – fruto do racismo institucional que permeava as decisões do poder público local – e os permanentes embates que foram travados para que a iniciativa pudesse ser colocada em prática. Assim, descreve o início de seu trabalho na secretaria de educação municipal de Ribeirão Preto: Embora contratada por determinação do próprio prefeito como assessora técnica da Secretaria da Educação, fomos impedidas de trabalhar no prédio onde está localizado o órgão, pelo então Secretário da Educação, Sr. Abib Salim Cury, e por sua Diretora de Educação, Sra. Maria Nair Marques Rebelo (EUCLÊNIO, 2009). Ainda que lutando contra a falta de seriedade da administração municipal com a questão a coordenadora do Projeto Baobá afirma que: Exilada” numa das unidades escolares municipais e impedida de compor a equipe técnica e pedagógica responsável pela gestão educacional do município, contribuímos como pudemos para o bom funcionamento da escola em questão, ao mesmo tempo em que elaborávamos um projeto de formação dos profissionais da educação no município, o qual foi aprovado pelo FNDE, possibilitando 120 horas de formação a 200 pessoas em relações raciais, história e cultura africana e afro-brasileira. (EUCLÊNIO, 2009). 4 Decreto Municipal nº 210, que traz um conjunto de ações afirmativas para os afrodescendentes nas mais diversas áreas, inclusive na educação. Foi proposto pelo movimento negro e aprovado pelo então prefeito Welson Gasparini, em 10 de agosto de 2006. 5 Fonte: https://www.geledes.org.br/carta-aberta-por-profa-silvany-euclenio/ IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 119 Este breve relato corrobora o que foi descrito por Passos (2012) de que o racismo é uma herança que se dissemina por gerações e se expressa, basicamente, de duas formas, uma primeira individual, quando osatos discriminatórios se estabelecem contra indivíduos, e uma outra institucional, quando as práticas discriminatórias são promovidas pelo Estado ou têm seu apoio. Foi apenas do início do ano de 2007, com a mudança de secretário na pasta da educação, que houve a abertura para a participação da historiadora na equipe pedagógica da secretaria e, em março daquele ano, foi lançado o Projeto. Acerca dos avanços conseguidos, no aspecto de combate ao racismo no ambiente escolar, por meio de atuação baseada nas relações étnico-raciais, a professora destaca uma série de conquistas das quais resgatamos sete pontos (EUCLÊNIO, 2009, n.p.): 1 - Iniciamos o processo de combate ao racismo institucional que permeia as relações na sociedade e se reflete no sistema educacional, nas relações entre profissionais e entre profissionais – alunado e familiares; 2 - Propiciamos diversas atividades de formação presencial (cursos, oficinas, palestras e seminários), envolvendo cerca de 1000 profissionais que trabalham na rede (gestores, docentes e outros servidores), variando entre 8 e 120 horas; 3 - Viabilizamos e/ou adquirimos materiais bibliográficos e audiovisuais para diversificar o acervo disponível em nossas escolas, tanto para subsidiar histórica e conceitualmente o trabalho docente, bem como para disponibilizar títulos literários de autores africanos e afro-brasileiros; mais de 5 mil exemplares foram distribuídos entre as unidades escolares; 4 - Envolvemos a comunidade em variadas atividades de discussão e promoção da igualdade étnico-racial; 5 - Iniciamos o processo de inclusão da educação das relações étnico raciais e da história e cultura africana e afro-brasileira nos documentos que regem a educação no município (Plano Municipal de Educação, Projetos Pedagógicos das escolas e Referenciais teóricos e curriculares tanto da Educação Infantil quanto do Ensino Fundamental); 6 - Muitas das nossas unidades escolares, sua equipe gestora e docente, desenvolveram propostas inovadoras para a prática da educação das relações étnico-raciais e para a garantia do pluralismo no ambiente escolar; 7 - E o mais importante, nós ampliamos a rede de pessoas comprometidas com o combate ao racismo, com a promoção IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 120 da igualdade étnico-racial e com a concretização da democracia nacional. Ao verificar-se os pontos destacados como efetivos avanços na implantação do Projeto Baobá, na rede municipal de ensino na cidade de Ribeirão Preto, entende-se que, fundamentalmente, uma política pública que insira no âmbito escolar as discussões, reflexões e práticas de combate ao racismo, tende a romper com práxis históricas de exclusão. Nas palavras da coordenadora do Projeto em questão, tanto o combate ao racismo institucional quanto a formação de profissionais da educação se apresentaram como impactos positivos desta iniciativa. O envolvimento das comunidades em atividades de discussão e promoção étnico-racial se apresenta como um dos fatores de maior importância visto que amplia a abrangência do Projeto para além dos muros escolares. Entende-se, com isso, que políticas públicas na educação podem, efetivamente, provocar transformações relevantes na ruptura com o racismo institucional e seus efeitos. Como já citado, inciativas de inclusão como, por exemplo, cotas nas universidades e no serviço público têm um papel fundamental na transformação do histórico de desigualdade e exclusão verificado na sociedade brasileira. Todavia, a despeito das conquistas do Projeto aqui analisado, fica evidenciado, também, o desprezo dos gestores do poder público local com temática tão fundamental. Este desprezo mostra o despreparo do gestor municipal no entendimento da dinâmica da sociedade e das relações estabelecidas no âmbito do município. Não cabe a uma administração pública ignorar fatores histórico-culturais que são de grande impacto na construção das políticas destinadas a atender demandas diversas de sua responsabilidade. Ignorar estes fatores é, enfim, permanecer atuando de forma inepta e incompetente. CONCLUSÃO A cidade é o espaço onde a vida do indivíduo acontece. Nela são estabelecidas as relações pessoais e também as coletivas. No município o cidadão vive sua relação com as diversas instâncias do Estado. Com esta premissa, ao identificar e analisar uma política pública no campo da Educação municipal a fim de verificar sua capacidade em combater o racismo institucional, pode-se perceber que falta ao poder público o entendimento de como atuar para atender expectativas diversas do cidadão IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 121 – de forma específica em relação ao tratamento igualitário por parte da administração pública – que extrapolam os limites da individualidade. É fundamental destacar que para que fosse feita uma análise de vulto seria necessário o acesso a material sobre o projeto – relatórios e registros – que não foram encontrados nas fontes pesquisadas, ou até mesmo podem não ter sido realizados pela Secretaria da Educação de Ribeirão Preto visto o desinteresse institucional, já relatado aqui, por esta temática. Na realidade pesquisada fica evidenciado que enfrentar as desigualdades de forma incisiva e com soluções definitivas não tem sido, historicamente, uma preocupação da Administração Pública. Mesmo com excelentes indicadores econômicos de um determinado munícipio - como na situação aqui analisada - não há contrapartida no aspecto de desenvolvimento, visto que desenvolvimento econômico deve, sempre, levar em conta o Desenvolvimento Humano da população. Apesar da importância deste Projeto, verificamos que este fica à mercê da vontade dos gestores públicos, não se estabelecendo como verdadeira política de estado. Com isso, vai se perpetuando a exclusão e o racismo segue efetivo, com suas bases firmadas em todos os espaços da sociedade brasileira. O caminho para uma mudança efetiva neste quadro apresenta considerável complexidade. Todavia, entendo que um passo importante seria uma pressão organizada e sistemática de vários atores interessados neste processo – estudantes, educadores, organizações da sociedade civil, etc. - junto ao Judiciário e ao Executivo no sentido de exigir o cumprimento da legislação federal que trata da igualdade racial. Desta forma, se evidencia que o país patina em relação a criação e implementação de políticas que possam combater, dentre outras mazelas, o racismo institucional que se apresenta, diariamente, nos milhares de equipamentos públicos que se espalham pelos municípios da nação. O exemplo trabalhado nesta pesquisa contempla a educação, mas não é difícil verificar que esta realidade nefasta está presente em todas as áreas da administração pública. Assim, a população negra segue desprezada em suas necessidades básicas e, como agravante, sofre discriminação ao exercitar seu direito constitucional de utilizar serviços públicos. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 122 REFERÊNCIAS BATISTA, L. E.; WERNECK, J.; LOPES, F. (Org.). Saúde da população negra. 2. ed.Brasília, DF: ABPN – Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, 2012. BRESSER-PEREIRA, L. C. A reforma gerencial do Estado de 1995. RAP – Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, vol. 34, n. 4, julho/agosto 2000. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ ojs/index.php/rap/article/viewArticle/6289. Acesso em: 26 ago. 2018. CASHMORE, E. et. al. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Summus, 2000. COUTO, C. G. Modernização. In: ANDRADE, R. de C; JACCOUD, L. (Org.). Estrutura e organização do Poder Executivo. Brasília: Enap, 1993. v. 1, p. 109-202. EUCLÊNIO, S. Projeto Baobá - Ribeirão Preto Educando para a Igualdade Racial. In: NASCIMENTO,E. L.(Org.). Cultura em Movimento - Matrizes Africanas e Ativismo Negro no Brasil. Coleção Sankofa 2, 1 ed. Rio de Janeiro: Selo Negro Edições, 2008. EUCLÊNIO, S. Carta aberta. Disponível em: https://www.geledes.org. br/carta-abertapor-profa-silvany-euclenio/. Acesso em: 26 ago. 2018. FARAH, M. F. S. Administração pública e políticas públicas. RAP – Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, vol. 45, n.3, maio/ junho 2011. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/ rap/article/view/7016/5575. Acesso em: 26 ago. 2018. FISCHER, T. Administração pública como área de conhecimento e ensino: a trajetória brasileira. Revista de Administração de Empresas, v. 24, n. 4, p. 278-288, 1984. GUIMARÃES, A. S. A. Combatendo o racismo: Brasil, África do Sul e Estados Unidos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 14, n° 40, jun./1999. São Paulo. JACCOUD, L. O combate ao racismo e à desigualdade. In: THEODORO, M.; JACCOUD, L.; OSÓRIO, R; SOARES, S. (Org). As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil: 120 anos após a abolição. Brasília: IPEA, 2008. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 123 PACHECO, R. S. Administração pública nas revistas especializadas — Brasil, 1995-2002. Revista de Administração de Empresas, v. 43, n. 4, p. 63-71, out./dez. 2003. PASSOS, J. C. dos. Educação, Infâncias Negras e Políticas Públicas: contribuições dos estudos étnico-raciais. Zero-a-Seis, Florianópolis, v. 14, n. 26, p. 1-19, jun. 2012. ISSN1980-4512. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/25257>. Acesso em: 08 jul. 2018. Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. Decreto Municipal nº 210, de 10 de agosto de 2006. Disponível em: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/ dom/200608/060811/i73executivo.php. Acesso em: 01 ago. 2018. RODRIGUES, M. M. A. Folha Explica: Políticas Públicas. São Paulo: Publifolha, 2013. SAMPAIO, E. O. Racismo institucional: desenvolvimento social e políticas públicas de caráter afirmativo no Brasil. Interações - Revista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande, v. 4, n. 6, p. 77-83, mar. 2003. Disponível em: http://www.desenvolvimentolocal. ucdb.br/Revista Interacoes6_elias_oliveira_pdf. Acesso em : 28 maio. 2018. SECCHI, L. Políticas Públicas: Conceitos, esquemas, casos práticos. 2 ed. São Paulo: Cengage Learning. 2013. SOUZA, C. Política Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias. Porto Alegre, n.16, p.20-45, jun/dez. 2006. TUDE, J. ; FERRO, D.; SANTANA, F. P. de A. Políticas Públicas. 1. ed. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2010. Uma nova consciência. Revide. Ribeirão Preto, 18 nov. 2015. Disponível em: https://www.revide.com.br/ editorias/entrevista/uma-nova-consciencia788/. Acesso em: 26 ago. 2018. WU, X; RAMESH, M.; HOWLLET, M.; FRITZEN, S. Guia de políticas públicas: gerenciando processos. Tradução de Ricardo Avelar de Souza. Brasília: Enap. 2014. EIXO TEMÁTICO 2: POLÍTICAS PÚBLICAS E AVALIAÇÃO EDUCACIONAL IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 127 ENTRE O GINÁSIO VOCACIONAL E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: UMA POSSIBILIDADE DE DIALOGO CURRICULAR 1Wesley Wander dos Santos Ferrarezi* Vânia de Fátima Martino** RESUMO: Esta pesquisa em desenvolvimento tem como objeto de investigação os Ginásios Vocacionais, instituições educacionais que funcionaram em 6 cidades do Estado de São Paulo. Nosso objetivo central é analisar os "Estudos Sociais" que embasou o currículo destas instituições. Pesquisas têm indicado que a experiência curricular desenvolvida pelos Ginásios foi única. Nossa investigação analisa aspectos do currículo vivenciado nestas instituições e examina em que medida estas experiências, podem ser recuperadas no currículo em funcionamento no ensino fundamental, via a Base Nacional Comum Curricular (2019). Partimos de estudos históricos analítico dos Ginásios, autores da área de teoria do Currículo como Gimeno-Sacristán e Michael Apple embasam nosso estudo. Levamos em conta os documentos oficiais, legais que nortearam a construção da BNCC. Os resultados parciais da pesquisa indicam inúmeras possibilidades de diálogo e entre as habilidades contidas na BNCC e o currículo dos Ginásios. Palavras-chave: ginásio vocacional. base nacional comum curricular. currículo. INTRODUÇÃO A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, n.º 9394/96 – resulta de um histórico de três sanções: primeiro, em 1961, em seguida, em 1971, sob o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, e por fim, em 1996. A LDB n. 9394/71 foi sancionada em complemento da lei anterior, tendo como destaque a desobrigação do Estado em ofertar educação pré-escolar. Essa lei vigorou por trinta e cinco anos, sendo posteriormente reformulada em 1996 (BRASIL, 1996). A LDB de 1996, por sua vez, foi resultado de interesses distintos. No período que a antecede, a classe trabalhadora brasileira almejava uma educação pública de qualidade e fácil acesso, enquanto, por outro lado, grupos liberalistas defendiam que era dever da família ingressar seus filhos em escolas particulares (ARAÚJO, 2017, p. 6). O Fórum de Defesa da Escola Pública (FNDEP) pretendia executar uma mudança significativa no cenário brasileiro e contribuiu, assim, para a elaboração da Constituição * UNESP – Campus de Franca. Mestrando do Programa de Pós Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da FCHC –ferrarezi@unesp.br. http://lattes. cnpq.br/3419530615309878 ** UNESP – Campus de Franca. Prof. Dr. Orientadora do Programa de Mestrado em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da FCHC –vania.martino@unesp.br. http:// lattes.cnpq.br/2196369285679678 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 128 Federal e da LDB Lei n.º 9394/96, tendo como principal objetivo a defesa da educação como um direito de todo cidadão, sendo dever do Estado oferecer o ensino gratuito e laico. A Constituição de 1988 trouxera, desse modo, a terceira versão da lei que regia a educação brasileira e, em 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) sancionou a LDB que vigora até os dias atuais (BRASIL, 1988). Os debates acadêmicos das últimas décadas sobre o tema “Educação’’ apontaram a dificuldade em implementar propostas pedagógicas que promovam mudanças significativas, ressaltando, inclusive, a pouca importância dispensada à LDB. Considerando fatores amplos relativos ao atendimento escolar no Brasil, alguns especialistas e estudiosos concluem que, nas últimas duas décadas, a função cultural da escola tem sofrido prejuízos e maculado o trabalho docente e a formação dos alunos (SAMPAIO; MARIN, 2004, p. 1203-1225). Esses pesquisadores reforçam, de modo geral, que a escola apresenta dificuldades em realizar sua função social de construção de conhecimento, na sociedade contemporânea (MARQUES; CASTANHO, 2011, p. 341-357), e que não mais cumpre seu papel de ensinar, quadro agravado uma vez que se tem atribuído à instituição sentidos e significados equidistantes de uma formação eficiente (MENDONÇA, 2011, p. 341-357). É nesse contexto crítico, e diante do diagnóstico pouco otimista da educação brasileira como um todo, que evocamos detalhes da experiência significativa de educação vivenciada pelos Ginásios Vocacionais, um destemido projeto pedagógico que surgiu na década de 1960, não obstante os impasses e o imobilismo impostos com o novo sistema político que se revelaria uma ditadura. Os Ginásios Vocacionais compreendiam as series do 6º ao 9º ano do ensino fundamental atual (NAKAMURA, 2016, p. 3). A instituição recebia jovens de ambos os sexos, de acordo com a faixa etária estabelecida entre 11 e 13 anos no ingresso, admitidos perante aprovação nos Exames de Admissão vigentes em todas as escolas estaduais na época. Nessa altura, oentão Secretário da Educação Luciano Vasconcellos de Carvalho buscava um projeto de ensino que pudesse permanecer integrado ao desenvolvimento econômico e social que ocorria no Brasil, isto é, uma escola capaz de responder aos apelos de uma sociedade ansiosa pelo fortalecimento democrático e ao desejo de consolidar as transformações sociais (NAKAMURA, 2016, p .2). Tal projeto incumbia- se de transformar o ensino secundário, revolucionando de maneira que fosse promovido um ambiente totalmente democrático, levando a frente IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 129 uma proposta extremamente arrojada que articulava o conhecimento à vida. (TAMBERLINI, 2016, p. 1). Os Ginásios Vocacionais concebiam, portanto, uma prática pedagógica baseada no conhecimento integrado, com enfoque no trabalho em grupo e na participação dos pais; no comprometimento com o desenvolvimento da consciência e responsabilidade sociais e relativas ao trabalho. Os Estudos Sociais eram o núcleo do currículo, desta forma, não se tratava de estudar apenas História e Geografia, mas Economia, Sociologia e Antropologia, transcendendo suas especificidades, unindo os campos de conhecimento das ciências sociais, biológicas e econômicas. Os Estudos Sociais além de método inovador que levava os alunos a pensarem primeiramente no que estava ao seu redor para depois pensar no que estava distante, fazia o papel de integração com as outras disciplinas. (BALZAN, 1974, p.34,35). Esse contato com a realidade era aprofundado pelo Estudo do Meio, que tinha papel fundamental nos Ginásios Vocacionais, por meio de visitas em locais de trabalho como, comércio, instituições de saúde e outros estabelecimentos. A organização dessas atividades partia de integrações com as realidades mais simples, caminhando para as de maior complexidade. Com o Estudo do Meio, a compreensão do mundo se dava da seguinte forma: município, estado, Brasil e por último do mundo, sob uma perspectiva crítica e abrangente. (ALBERGARIA, 2004, p.31) No entanto, essa experiência promissora não perdurou, sofreu interrupção abrupta quando vitimada pelo recrudescimento do regime militar, que considerou suas ações subversivas. Houve, então, a extinção de todos os GEV, após uma invasão militar em dezembro de 1969. Atualmente, desde os anos 2000, a GVive (Associação de Ex-Alunos e Amigos do Vocacional) promove a recuperação da missão, da memória e da documentação dos antigos Ginásios Vocacionais, como base para refletir sobre o ensino público atual e suas propostas curriculares. Visualizando as dificuldades atualmente encontradas pelas escolas em cumprir com suas funções para com o aluno e que tais dificuldades prejudicam tanto os docentes quanto os discentes, no que diz respeito à construção do conhecimento e à integração social, na significação dos conteúdos curriculares, propomos um olhar e um diálogo entre as propostas vivenciadas pelos Ginásios Vocacionais e a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) quanto aos currículos, suas competências e habilidades. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 130 DESENVOLVIMENTO Para melhor compreendermos os fundamentos do currículo dos Ginásios Vocacionais, convém, primeiramente, analisar os principais argumentos utilizados pelos teóricos sobre o tema, a partir de estudos de José Gimeno Sacristán, Ivor Goodson, e Michael Apple. A análise do conceito e da trajetória do currículo ajuda-nos a entender as discussões em jogo tanto no período em que vigoraram os Ginásios, como hoje, a respeito dos anos finais do ensino fundamental, segundo a Base Nacional Curricular Comum (2019). A necessidade de refletir sobre o currículo, particularmente, ampara-se nas observações de diferentes autores que, preocupados com os rumos percorridos pelo sistema educacional, advertem para a urgência de se pensar uma reelaboração. Define-se currículo como uma forma de selecionar e ordenar os conteúdos a ensinar, assim como de delimitar as fronteiras entre as disciplinas. Sua aplicação emerge na história quando a escolaridade se torna de massa e universal, no século XX, regulando a prática didática, ordenando o tempo e incidindo sobre o desenvolvimento escolar como um todo, associando graus, faixas etárias e conteúdos. Além de ordenar as etapas da aprendizagem, o currículo torna essas fases coerentes entre si, organizando e unificando o ensinar e o aprender. Também orienta, modela e limita a ação dos professores, evitando a arbitrariedade na escolha do que será ensinado, impondo uma orientação por um controle externo. A análise dos modelos de currículos também revela aquilo que se considerou fundamental aprender em um dado período histórico (SACRISTÁN, 2013, p.17). Goodson (1997, p.17) destaca a sua importância em um projeto educacional, tratado muitas vezes como mero dado, afirmando que o currículo escolar é fundamental para o desenvolvimento dos processos e procedimentos e que este não é um fator neutro. Para Apple (2002, p. 75), devemos compreender que um currículo nacional deva ser um instrumento para prestação de contas, regulando e ajustando parâmetros para uma melhor avaliação das escolas, com isso, os pais interessados no aprendizado dos filhos teriam uma ferramenta em mãos para analisar o que tem sido lecionado. Porem o mesmo afirma que pode ocorrer o oposto, ou seja, que mesmo criando critérios e objetivos, para um desenvolvimento igualitário, o que ocorrerá será diferenças acentuadas por conta dos recursos que cada localidade dispõe, e assim agravando os antagonismos sociais. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 131 Justamente por essa centralidade, as experiências desenvolvidas nos Ginásios Vocacionais, com foco nos “Estudos Sociais”, pretenderam embasar e organizar o currículo escolar em disciplinas e áreas de conhecimento, tais como sociologia, psicologia, filosofia, entre outras, de forma crítica e inovadora. É possível, portanto, colocar em diálogo o currículo (propostas e experiências) dos Ginásios Vocacionais e as competências apresentadas no documento da Base Nacional Curricular Comum (2019). Os documentos utilizados dizem respeito aos regimentos internos dos Ginásios Vocacionais, do período de 1962 a 1969. A partir dessa documentação percorremos o caminho desse instituto que foi objeto de reformas e propostas para incorporar mais eficiência, qualidade e resultados. Algumas adaptações dos Estudos Sociais e Estudos do Meio mostraram-se compatíveis com a Base Nacional Curricular Comum (2019) (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 176). Para buscar pontos de aproximação entre as duas propostas curriculares em questão, também foi de suma importância entender o processo de formulação do atual currículo em vigor no estado de São Paulo. O documento oficial aprovado em 2017, via audiências públicas através do Conselho Nacional de Educação (CNE) e finalizado pelo Ministério da Educação (MEC), dá a conhecer o que a Base Nacional Curricular Comum entende por competências gerais, bem como seus objetivos para o Ensino Fundamental (anos finais). A BNCC entende como competências a mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, que possibilitarão aos alunos a resolução de problemas e demandas da vida cotidiana. As 10 competências gerais apontadas pela BNCC são: 1) o valor dos conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva; 2) exercitar a "curiosidade intelectual" e a abordagem própria das ciências, investigação, reflexão, análise crítica, imaginação e criatividade, para resolver problemas e criar soluções; 3) valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais; 4) utilizar diferenteslinguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital; 5) compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica e ética; 6) valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais [...] fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 132 responsabilidade; 7) argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular e defender ideias que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta; 8) Conhecer-se e cuidar de sua saúde física e emocional; 9) Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação; 10) Tomar decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. (BRASIL, 2017, p. 09,10). Levando em consideração estas questões, alguns aspectos significativos dos Ginásios Vocacionais, precisamente os Estudos Sociais e os Estudos do Meio, abrem possibilidades de interlocução com o documento norteador da Base Nacional Curricular Comum no que diz respeito à formação geral do aluno. Os Estudos Sociais e os Estudos do Meio desenvolvidos nos Ginásios Vocacionais (1962 – 1969), como experiência inovadora, teriam aplicabilidade e diálogo com a Base Nacional Curricular Comum em funcionamento nas escolas públicas de ensino fundamental principalmente nos seguintes aspectos: primeiro, assim como definido no Currículo dos Ginásios, as diretrizes referentes às competências gerais da BNCC almejam uma integração do aluno à realidade à sua volta, da comunidade local à global; segundo, ambas promovem o uso das linguagens e das tecnologias atrelado ao exercício da cidadania, à defesa da democracia, ao aprimoramento da vida comunitária, à responsabilidade social e justificam, assim, o foco nos Estudos Sociais e do Meio. Dentre as proposições e objetivos apresentados pela Base, enfatizamos ainda a preocupação com o projeto de vida futura dos alunos e a continuidade dos estudos, proposta que também foi a dos Ginásios Vocacionais, que previam modalidades de direcionamento para o mundo do trabalho, através de trabalho em grupo e oficinas. Em um trecho do documento da Base Nacional Curricular Comum (2019), lê-se que, nos anos finais do ensino fundamental, "a escola pode contribuir para o delineamento do projeto de vida dos estudantes, ao estabelecer uma articulação não somente com os anseios desses jovens em relação ao seu futuro, como também com a continuidade dos estudos no Ensino Médio", representando, desse modo, mais uma possibilidade de desenvolvimento pessoal e social. (BRASIL, 2017, p. 62). Consideramos, portanto, o aspecto qualitativo da “relação dinâmica entre o mundo e o sujeito” (SILVA; MENEZES, 2001, p. 20). Os fundamentos pedagógicos que permearam a existência dos Ginásios Vocacionais (período de 1962-1969) enfatizaram o currículo, isto é, IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 133 os Estudos Sociais e Estudos do Meio. Por isso, convém reconhecer a relevância da proposta curricular que embasa o funcionamento da escola, e que esta é também um grupo social. Ela contém um dinamismo que vai além da ordenação intencional (aquela oficialmente instituída) e que abrange as formas de conduta de indivíduos e grupos, suas contradições, antagonismos, interações, expectativas, costumes, em suma, todas as maneiras de convívio social que nem sempre podem ser previstas pelas determinações oficiais (PARO, 2011). CONCLUSÕES Buscamos, portanto, na história dos Ginásios Vocacionais, os elementos que fundamentaram essa experiência educacional considerada inovadora e alternativa, em seus aspectos históricos, sociais, políticos e principalmente educacionais. A partir da análise da experiência dos ginásios, vimos a importância conferida ao conceito de currículo, sua construção e sua relação com os contextos sociais e as políticas educacionais no Brasil. A pesquisa documental e a coleta de dados consideraram os documentos oficiais que embasam o funcionamento dos ginásios vocacionais, a estrutura curricular, especificamente. Visando proporcionar um novo olhar sobre a participação deste projeto pedagógico dos Ginásios Vocacionais na história da educação brasileira, concluímos que os aspectos pedagógicos, metodológicos e inovadores que conduziram a sua atividade podem ajudar a solucionar determinados desafios encontrados na implantação da Base Nacional Curricular Comum. Em primeiro lugar, é preciso levar em conta o contexto em que essas propostas se desenvolveram, e que apesar da distância temporal, não perdem de vista o ideal democrático da educação e de transformação da sociedade. A delimitação temporal do estudo compreendeu, portanto, o período de 1962 a 1969, início e extinção precoce deste modelo de ensino e a construção e implantação do currículo atual. Diante de tais questões e desafios, a renovação empreendida nesses “Ginásios Vocacionais”, sua proposta curricular diferenciada, seus pressupostos teórico utilizáveis, suas relações com os parâmetros pedagógicos que circulavam na época, sua interação com a comunidade, a formação oferecida aos seus alunos e suas contribuições para o âmbito cultural tornaram-se elementos inspiradores para uma proposta de revisão das diretrizes atuais. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 134 REFERÊNCIAS ALBERGARIA, S. J. G. A concepção de natureza nos estudos do meio realizados nos ginásios estaduais vocacionais do Estado de São Paulo, de 1961 a 1968. 2004. 139 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociencias, Campinas, SP. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/ handle/REPOSIP/287108 ANDRÉ, M. E. D. A. et al. Pesquisa sobre formação de professores: síntese do II Simpósio de grupos de pesquisa do GT 8 d ANPEd. Formação Docente, Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 152-159, Ago./Dez. 2010. Disponível em: http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br/ artigo/exibir/8/25/1. Acesso em: 20 set. 2019. APPLE, M. W. A política do conhecimento oficial: faz sentido a idéia de um currículo nacional. Currículo, cultura e sociedade, v. 11, p. 59-91, 1994. ARAÚJO, M. M. A trajetória da educação no Brasil na perspectiva da luta de classes. VIII Jornada Internacional Políticas Públicas. 22 a 25 agosto de 2017. Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Programa Pós-Graduação em Políticas Públicas. 2017. Disponível em: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo13/ atrajetoriadaeducacaonobrasilnaperspectivadalutadeclasses.pdf. Acesso em: 24 jul. 2019. BALZAN, N. C. Estudos sociais: opiniões e atitudes de ex- alunos. Cadernos de Pesquisa, n. 22, p. 31-70, 2013. BRASIL. [Constituição 1988]. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 22 jul. 2019. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/ lein9394.pdf. Acesso em: 22 ago. 2019. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf. Acesso em: 18 jul. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 135 GOODSON, I. F. A Construção Social do Currículo. Lisboa: Educa, 1997. MARQUES, P. B.; CASTANHO, M. I. S. O que é a escola a partirdo sentido construído por alunos. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Maringá, v. 15, n. 1, p. 23-33, Junho de 2011. Disponível em http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572011000100003&lng=en&nrm= iso. Acesso em: 16 set. 2019. MENDONÇA, S. G. de L. A crise de sentidos e significados na escola: a contribuição do olhar sociológico. Caderno CEDES, Campinas, v. 31, n. 85, p.341-357, Dez. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-32622011000300003&lng=en&nrm= iso. Acesso em: 16 set. 2019. NAKAMURA, M. E. F. P. Os Ginásios Vocacionais Estaduais: algumas considerações iniciais acerca desta proposta educacional da década de 1960. XIII ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA ORAL. História Oral, Práticas educacionais e Interdisciplinaridade. 01 a 04 de maio de 2016. Anais... Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2016. PARO, V. H. Crítica da estrutura da escola. Cortez Editora, 2017. SAMPAIO, M. das M. F.; MARIN, A. J. Precarização do trabalho docente e seus efeitos sobre as práticas curriculares. Educação e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 89, p.1203-1225, Dez. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73302004000400007&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 16 fev. 2019. SACRISTÁN, J. G. A. Saberes e incertezas sobre o currículo. São Paulo: Penso – Artmed, 2013. SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. Florianópolis: UFSC/PPGEP/LED. 2001. TAMBERLINE, Â. R. M. de B. Ensino vocacional: formação integral, cultura e integração com a comunidade em escolas estaduais paulistas na década de 1960. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. 70, p. 119-137, dez. 2016. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 137 DESAFIOS DOS DISCENTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA UFU PARA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO 1Luzilene de Almeida Martiniano* Steffanie de Paula Lima Venâncio** RESUMO: A proposta é apresentar algumas dificuldades que os discentes do Curso de Serviço Social da UFU encontram para a produção do conhecimento cientifico. O objetivo foi buscar como as deficiências do ensino afetam a produção do conhecimento cientifico na Universidade. Partiu-se do pressuposto de que os Ensinos Fundamental e Médio pouco incentivam a leitura e a interpretação de texto. O cenário foi a FACES-UFU. A entrevista foi por meio de questionário semiestruturado. Os participantes da pesquisa foram 6 alunos dos períodos 5° e 8° que cursavam as disciplinas Métodos de Pesquisa em Serviço Social e TCC. Ademais, procuraremos apresentar alguns resultados da pesquisa que apontam dificuldades dos discentes no decorrer de seu curso, principalmente quando se trata de produção de conhecimento cientifico e normas técnicas, bem como as experiências/ referências escolares anteriores, muitas vezes negativas, que resultaram em dificuldades de adaptação/permanência no Ensino Superior. Palavras-chave: serviço Social. conhecimento cientifico. dificuldades. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como proposta apresentar alguns desafios para a produção do conhecimento no Ensino Superior, apontados na pesquisa por estudantes universitários oriundos de escolas públicas do município de Ituiutaba. Partiu-se do pressuposto de que os Ensinos Fundamental e Médio não incentivam a leitura e a interpretação de texto, e, também parte dos alunos não demonstram nenhum interesse, e ao ingressar na universidade os mesmos encontram algumas dificuldades para a conclusão do curso. O interesse pelo tema surgiu a partir de minha própria experiência como estudante de escola pública na qual o ensino deixava muito a desejar, e ao ingressar na universidade sem uma base mais sólida, me vi com inúmeras dificuldades não só na elaboração de conhecimento científico, mais também nas especificidades acadêmicas de uma Universidade Federal. * Docente da Universidade Federal de Uberlândia, Curso de Serviço Social da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social(FACES); lu.martiniano@ufu.br. http://lattes.cnpq.br/142597672910540 ** Graduanda em Serviço Social. Discente do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social (FACES); steffaniepaula06@gmail.com. http://lattes.cnpq. br/1706315541948204 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 138 O universo da pesquisa foi Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que de acordo UFU(2020,online), teve seu inicio em 1950 e as faculdades eram isoladas, ou seja, havia tantas faculdades que foram integradas em 1969, ela se integrou a Universidade de Uberlândia (UnU), posteriormente em 1978 com o decreto de lei 6.532 que passou a se chamar Fundação Universidade Federal de Uberlândia que atualmente tem 93 cursos de graduação que se distribui em diversos campus sendo 4 em Uberlândia, e 3 nas cidades de Ituiutaba, Monte Carmelo e Patos de Minas. Com sete campi - quatro em Uberlândia (MG), um em Ituiutaba (MG), um em Monte Carmelo (MG) e um em Patos de Minas (MG) -, a UFU é o principal centro de referência em ciência e tecnologia de uma ampla região do Brasil Central, que engloba o Triângulo Mineiro, o Alto Paranaíba, o noroeste e partes do norte de Minas, o sul e o sudoeste de Goiás, o norte de São Paulo e o leste de Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. A UFU goza de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, nos termos da lei. Sua organização e funcionamento são regidos pela legislação federal, por seu Estatuto, Regimento Geral e por normas complementares. (Online FACES PONTAL) O cenário da pesquisa foi constituído pelo curso de Serviço Social que foi criado em 2009, possui 50 vagas no período matutino e tem a duração de 4 anos e meio (9 períodos) e é classificado como um curso de Bacharelado. O curso de Serviço Social foi pensado para contemplar a realidade local e subsidiar o crescimento coletivo e individual dos acadêmicos que irão intervir na sociedade por meio da sua inserção no mundo do trabalho. A proposta pedagógica aqui apresentada foi construída a partir das reflexões que apontaram para a reestruturação dos cursos da FACIP, dos princípios gerais do ensino de graduação na UFU, das Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, da Resolução n°2/2004 do Conselho de Graduação da UFU e da consulta aos Projetos Pedagógicos (PPs) dos cursos de Serviço Social da UNESP de Franca, da UFVJM e da UNIUBE. Portanto, as transformações almejadas fazem parte de um contínuo processo de reflexão, cuja preocupação vai além de proporcionar, 5 através de uma política de expansão IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 139 do ensino superior, uma educação gratuita e de qualidade. (FACIP, Curso de Serviço Social, online). O objetivo geral foi buscar como as deficiências oriundas do ensino público afetam a produção do conhecimento científico. Sendo que os objetivos específicos foram: verificar as dificuldades encontradas pelos alunos do curso de serviço social para produzir o conhecimento científico, caracterizar o perfil dos alunos e quais os enfretamentos na elaboração do trabalho de conclusão de curso (TCC). 1 O DESMONTE DA EDUCAÇÃO Para a construção de pensamento e do conhecimento cientifico é necessário que além de utilizar as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), tenha-se um referencial teórico que sustente as afirmações feitas, e também que se utilize de métodos e técnicas adequadas à sua pesquisa, que é essencialmente qualitativa. O conhecimento cientifico difere de outras formas ou modalidades de conhecimento (vulgar, filosófico, religiosoou teológico e empírico) pelo uso da observação, da experimentação, da análise critica por ser sistemático metódico e ordenado. (LEHFELD. 2007, p.24) Assim, é importante que todas as afirmações estejam respaldadas por uma teoria sólida e também na seleção de métodos e técnicas que irão garantir a cientificidade da pesquisa. Para tanto, o Estado tem o dever de garantir educação de qualidade como este previsto por lei. No Brasil, a Lei N° 9.394/1996 estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tem como objetivo regulamentar a educação no Brasil, tanto nas instituições de ensino públicos e privados, portanto estabelece as Diretrizes, Normas e Parâmetros para a Educação no Brasil. “É obrigação do Estado promover educação escolar de qualidade gratuita para crianças e adolescentes e atendimento especializado para quem possui algum tipo de deficiência, transtorno etc.” (BRASIL, 1996, online). Segundo Bastos (2017) no sistema educacional persiste lacunas a ser preenchidas urgentemente para melhorar a qualidade da educação, contudo a Política Nacional de Educação tem sido direcionada para aumentar cada vez mais o número de alunos que conseguem prosseguir e adentrar o Ensino Superior, sem se preocupar com a qualidade deste ensino, assim desde os primeiros estudos os alunos não são incentivados IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 140 adequadamente em produzir conhecimento, mas somente repetir e acumular conceitos prontos, o que torna-os muitas vezes em analfabetos funcionais3, não formando pessoas capazes de pensar além do que está aparente apenas pessoas para trabalhar em ocupações que exigem baixa qualificação. Outro fator, que contribui para a má qualidade do ensino é a desvalorização do professor, bem como a precarização do trabalho docente, o que tem resultado em diversos movimentos grevistas, que interferem diretamente na vida dos estudantes que ficam meses sem acesso à escola e após a greve nem sempre todo o conteúdo a ser aprendido é passado. Se a educação é o instrumento responsável pelo progresso de um país que o faz desenvolver tanto na renda quanto no nível de vida de uma nação, é preciso tê-la como prioridade, diminuindo os discursos e aumentando a didaticidade. Infelizmente os professores tornam-se verdadeiros alvos na culpabilidade da defasagem da educação, sendo cobrados pelo sistema educacional e criticados pela sociedade, como se fossem os salvadores da pátria capazes de resolver todos os problemas sociais sozinhos. (BASTO,2017, online.) Além disso, o orçamento para a Educação Pública vem sendo cada mais reduzido, o que prejudica de forma significativa a permanência dos estudantes mais carentes, pois as demandas de bolsas aumentaram enquanto que diminuíram o número de ofertas das bolsas que garantem sua permanência na Universidade. Portanto, são neste contexto de escolas precarizadas que estão sendo inseridos os estudantes que já vinham de ensinos vulnerabilizados. Que faz com que ao ingressarem no Ensino Superior tenham enormes dificuldades em seu aprendizado, muitas vezes desistem e/ou se formem sem ter uma base conceitual teórica solidificada. 2 APRESENTANDO O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para realização da pesquisa utilizou-se a pesquisa exploratória, pela possibilidade que ela proporciona ao pesquisador de está mais próximo da realidade a ser estudada, assim torná-lo mais claro. Também optou-se pela pesquisa descritiva, para assim conhecer o perfil dos estudantes do curso de Serviço Social, e melhor estudar suas características, ‘’ que têm 3 São chamados de analfabetos funcionais os indivíduos que, embora saibam reconhecer letras e números, são incapazes de compreender textos simples, bem como realizar operações matemáticas mais elaboradas. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 141 por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e mental etc.’’ (Gil 2010, p. 26). Como procedimento metodológico também foi utilizado a pesquisa bibliográfica, que foi realizada tendo como base teórica em livros, artigos científicos, Internet, legislação pertinente à Educação entre outros. Além disso, optou-se pela pesquisa de campo pela possibilidade de interação com os participantes envolvidos na pesquisa, que foram alunos do curso de Serviço Social que já haviam iniciado o Projeto de Pesquisa, e também aqueles que já tinham iniciado o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ou seja, que estavam nos 6º e 7º períodos Para a realização da pesquisa de campo foram agendados os horários com a disponibilidade de cada participante, a entrevista ocorreu em uma sala que estava disponível no momento na própria universidade, para facilitar a aplicação do formulário para os participantes, pois pretendia-se a partir da entrevista identificar quais eram as maiores dificuldades na elaboração do projeto e no TCC, dos alunos da Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social. Todos os alunos selecionados para a Entrevista foram estudantes do curso de Serviço Social, de ambos os sexos, que já tinham iniciado o Projeto de Pesquisa ou o TCC, todos atendiam ao critério de ter cursado os ensinos Fundamental e Médio em Escolas Públicas e que tenha idade entre 18 e 60 anos. Para a seleção dos participantes optou-se pela Amostra não probabilística aleatória, desta forma foram sorteados, após a verificação da disponibilidade e adequação do perfil aos critérios de inclusão. Os participantes da pesquisa foram 6 alunos, sendo 3 alunos de cada período 5° e 8° que já cursavam as disciplinas Métodos de Pesquisa em Serviço Social II e TCC I, foram recrutados nos intervalos das aulas e após os términos da mesma, a abordagem foi de forma individual, no qual expliquei a pesquisa aos alunos e logo após foi feito o convite para participação da pesquisa sendo aceito, houve o agendamento do dia e horário. Ao iniciar a pesquisa os participantes assinaram o Termo de consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), e no decorreu da pesquisa utilizou-se um gravador para melhor coleta dos dados, após a transcrição os registros foram deletados. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 142 3 CAMINHANDO PARA ANÁLISE: A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DOS DISCENTES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FACES-UFU A análise dos dados coletados foi realizada a partir da abordagem qualitativa, para assim caracterizar o perfil desses alunos, as suas maiores dificuldades e seus enfrentamentos na elaboração do trabalho de conclusão de curso. A análise qualitativa dos dados foi a partir das falas dos participantes da pesquisa, entrevistados, o instrumental utilizado foi o formulário semi estruturado. Há casos, entretanto, em que contribuições teóricas são muito importantes, só com base nelas que os dados obtidos podem ser organizados segundo um quadro de referência que lhe empresta significado. (GIL, 2002, p. 146) Com a pesquisa foi possível identificar algumas das dificuldades que os alunos do curso de Serviço Social apresentaram para a elaboração do conhecimento científico, contudo o tema não se esgota e abre um amplo leque de possibilidades para novas pesquisas. Para Tanto, foram entrevistados 6 alunos, que foram identificados como:A1, A2, A3, A4 e A5 e A6. 4 PRINCIPAIS DESAFIOS APRESENTADOS PELOS ALUNOS (AS) PARA A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL Conforme as narrativas dos alunos sobre seus principais desafios na produção do conhecimento na Universidade, foram citados vários aspectos que tem relação com a dificuldade que o aluno (a) tem para sair do conhecimento de senso comum, ao qual estava habituadoe relacionar o que observa na realidade empírica com o conhecimento científico que requer além dos métodos, técnicas e normas científicas, interpretação de realidade, análise de conjuntura que ele não está habituado. Outro aspecto que ficou evidenciado nas narrativas, é que os alunos tem muita dificuldade em estudar, ler os textos, pois até então esteve habituado a receber conteúdos prontos, acabados, que não necessitam de análise e interpretação. A pesquisa social é essencialmente qualitativa, seu objeto de estudo está em constante movimento, possui historicidade, assim a trajetória da pesquisa requer estudo, determinação, flexibilidade. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 143 Outro desafio apontado pelos alunos foram as Normas Técnicas de Trabalho Científico e a Formatação, pois consideram tudo muito difícil de entender e aplicar. Além disso, consideram um desafio atender á linguagem Técnica pois estão acostumados a escrever e falar da mesma forma, e ainda nos tempos atuais tem ainda um linguajar específico para utilizar nas redes sociais. Outro grande desafio apontado foi a dificuldade de leitura, pois não estavam habituados, na universidade recebem diversos conteúdos diferentes, que precisam ser estudados, e muitos não conseguem, seja por falta de hábito e/ou por desinteresse. Finalizando, destacaram que não gostam e tem dificuldade para entender ou fazer suas opções metodológicas quando estão elaborando o projeto de pesquisa, e, posteriormente na aplicação da pesquisa. Para se construir o conhecimento cientifico faz-se seguir algumas regras já estabelecidas como, o uso das normas da Associação Brasileira de Normas Técnica (ABNT), ter a comprovação do que se está escrevendo, de referencial teórico, e a capacidade de discernimento de outras formas de conhecimento. E é justamente em seus muitos critérios é que se encontra um dos maiores desafios de se elaborar o conhecimento cientifico, a percepção que se precisa de dados comprovados na sua elaboração e de uma forma de escrever formal. As falas dos participantes apontaram diversas dificuldades para a produção do conhecimento científico, contudo, todas elas perpassam a defasagem no aprendizado anterior nos ensinos Fundamental e Médio, que não possibilita em grande parte a possibilidade de pensar científica e criticamente. Com relação à elaboração do Projeto de Pesquisa e posteriormente , realizar a pesquisa e apresenta-la no TCC em forma de monografia e/ou artigo, Dos seis entrevistados dois responderam de forma semelhante, pois relataram ser complicado interpretar os conceitos e relaciona-lo ao tema seu tema escolhido, outros dois deles disseram que as normas técnicas e a linguagem técnica foram seus maiores desafios, enquanto um disse que foi a leitura seu grande empecilho para produzir conhecimento, enquanto que outro disse que os procedimentos metodológicos juntamente com o conteúdo são barreiras a serem vencidos. Enfim, como o próprio conhecimento a pesquisa não se esgotou, contudo oportunizou novas indagações e novas pesquisas acerca da produção de conhecimento científico. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 144 REFERÊNCIAS BASTOS, M. de J. Análise do Contexto da Educação Brasileira. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/ analise-da-educacao-brasileira. Acesso em 14 de abr. 2020. BRASIL. Presidência da República. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 6 out. 2018. CASTRO. L. Analfabetismo Funcional. Disponível em: https:// brasilescola.uol.com.br/gramatica/analfabetismo-funcional.htm. Acesso em ago. 2020. GIL, A. C. Como Elaborar Projeto de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1987. LEHFELD, N. A. de S. Metodologia e Conhecimento Científico. Rio de Janeiro: Vozes, 2017. MARTINELLI, M. L. Pesquisa Qualitativa: um Instigante Desafio. São Paulo: Veras, 1999. MINAYO, M. C.; DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. São Paulo: Vozes, 2007. UFU. Conheça a UFU Portal. Disponível em: http://www.ufu.br/ institucional. Acesso em: 23 ago. 2018. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 145 EVASÃO DE JOVENS INGRESSANTES PELO SISTEMA DE SELEÇÃO UNIFICADA (SISU) NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UNIDADE PASSOS - MG Inácio Ferreira da Silva Júnior* RESUMO: As políticas públicas de acesso ao ensino superior oferecem aos jovens a oportunidade de ingressarem em uma universidade e se prepararem para a vida profissional. A evasão representa um sério problema a ser enfrentado pelas universidades, resultante de fatores que pesam para o aluno permanecer ou não no curso. Este trabalho é resultado de um estudo sobre a evasão escolar de jovens que ingressaram por meio do SISU, no curso de Administração da UEMG – unidade de Passos MG. Estudos apontam que diversas podem ser as causas que levam os estudantes a abandonar o curso superior. O objetivo geral da pesquisa é conhecer as principais causas que levaram os jovens a abandonar o curso de Administração. Constituiu-se em uma pesquisa de campo, realizada com oito estudantes evadidos do referido curso. Os resultados apontaram fatores de ordem individual do estudante, de ordem interna e externa à universidade e que foram motivadores da evasão. Palavras-chave: ensino superior. evasão escolar. jovens. SISU. INTRODUÇÃO Este artigo é uma síntese da minha pesquisa de mestrado, desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da UNESP – Campus Franca, acerca da evasão de jovens ingressantes pelo SISU no curso de administração da Universidade do Estado de Minas Gerais – unidade Passos. A evasão é vista como um sério problema enfrentado pelas universidades, sendo resultante de fatores que pesam para o aluno permanecer ou não no curso. Podem ser apontadas diversas causas que levam os estudantes a abandonar a universidade: dificuldades financeiras, necessidade de trabalhar, repetência, troca de domicílio, orientação vocacional/profissional, mudança de curso, falta de interesse do aluno, desprestígio da profissão, horário de trabalho, dificuldades de acesso à universidade, desmotivação, falta de emprego, apoio da família, sentimento de fracasso, entre outros. O objetivo geral da pesquisa se baseia em conhecer as principais causas da evasão no curso de graduação em Administração da Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade Passos-MG., e como objetivos * Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – Franca SP. Mestre em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. inacio.junior@educacao.mg.gov.br. http://lattes.cnpq.br/1580492369596634 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 146 específicos: levantar a quantidade de estudantes que ingressaram no curso pelo Sistema de Seleção unificada (SISU) entre 2015 a 2018; Conhecer o perfil dos estudantes do curso de Administração de empresas, que evadiram na universidade pelo Sistema de Seleção Unificada (SISU) no período de 2015 a 2018; Identificar as causas que mais contribuíram para a evasão. Esse estudo se deu em razão do existente índice de evasão no curso de administração da UEMG-unidade Passos, uma vez que a referida unidade passou um processo de estadualização no final de 2014. Por este motivo, a instituição passou a considerar o SISU como alternativa para o ingresso de novos estudantes a partir do primeiro semestre de 2015. DESENVOLVIMENTO A juventude possui uma forte influência para o entendimento das sociedades, seja pela cultura, pelo lazer, pelo consumo,entre outros. Para Carrano (2011), as sociedades contemporâneas apresentam muitas características, e que uma delas está diretamente conectada com as mudanças e com a velocidade que elas acontecem, como por exemplo as mudanças nas esferas da produção e reprodução da vida social. Hoje, os jovens possuem uma maior autonomia no chamado “mundo adulto”, uma vez que constroem suas próprias identidades culturais. Acreditamos que uma das muitas tarefas das instituições, hoje, seria a de colaborar para que os jovens consigam fazer escolhas conscientes quanto a suas trajetórias pessoais e que possam construir os seus próprios valores. Corrochano (2013), em seu artigo sobre jovens trabalhadores: expectativas de acesso ao ensino superior, destaca “um renovado olhar para as jovens gerações universitárias pode contribuir para a compreensão de mudanças recentes da sociedade brasileira e para a reflexão sobre o lugar da universidade neste processo”. Ao considerarmos o estudo da autora, o olhar para as gerações universitárias, é como um paralelo entre os jovens que já possuem opinião e poder de argumentação e aqueles que ainda não se encontraram, que estão em busca por respostas e sentido na vida social. O fato é que a universidade vem desempenhando um papel importante na formação dos jovens, trazendo o jovem para a discussão de temas que representam as diferentes realidades sociais, seja em relação ao bullying, racismo, homofobia, preconceito classe social, entre outros. O objeto de estudo limitou-se especificamente aos estudantes do curso de Administração que ingressaram na UEMG por intermédio do IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 147 SISU no período de 2015 a 2018. A escolha do período se justifica em razão da estadualização da antiga Fundação de Ensino Superior de Passos pelo Decreto 46478, de 03 de abril de 2014, tornando-se UEMG- unidade Passos; nesse sentido, o ingresso de estudantes para o ano de 2015 passou a seguir as formas vigentes de ingresso da universidade, permitindo aos estudantes o ingresso pelo SISU, utilizando-se das políticas públicas do governo federal para acesso de estudantes ao ensino superior. Portanto, considerando que o curso de administração possui quatro anos de duração, o estudante que ingressou na universidade no início de 2015, concluiu o referido curso em dezembro de 2018. A pesquisa se apresenta como um estudo de caso, com uma abordagem qualitativa, na qual há um processo investigativo acerca do problema. Por se tratar de pesquisa que envolve diversos significados, valores, crenças e atitudes, busca compreender as relações dos processos e/ou fenômenos. (Minayo, 2001). Em relação aos objetivos, a pesquisa caracterizou-se como explicativa com uma aproximação à descritiva, tendo em vista que se pretende descobrir as causas para a ocorrência da evasão no curso de administração da UEMG – unidade Passos. Quanto aos procedimentos desta pesquisa, realizou-se inicialmente uma revisão bibliográfica, que por meio da leitura (na íntegra ou fragmentos) de livros e artigos ou periódicos, dissertações e teses, que tratam de temas relativos a esse estudo, a saber: ensino superior brasileiro, políticas públicas para a juventude, juventudes no Brasil, e, a evasão no ensino superior, que possibilitou a compreensão de como esses temas se constituíram historicamente, permitindo assim o delineamento de hipóteses a respeito da evasão no ensino superior. Os participantes da pesquisa são os jovens estudantes evadidos que ingressaram no curso de administração pelo SISU no período de 2015 a 2018, de ambos os sexos, com idade entre 17 a 29 anos, que residem no município de Passos e demais municípios com distância de até 100 km da unidade de ensino. Ressalta-se que a definição da faixa etária da pesquisa, se deu pela intenção de conhecer características dos estudantes que se enquadram na categoria jovens, e, portanto, em conformidade a Lei nº 12.852 de 05 de agosto de 2013, que considera jovens as pessoas com idade entre 15 a 29 anos de idade. Após a identificação dos nomes dos estudantes evadidos, juntamente com a secretaria acadêmica da instituição, foi possível identificar 11 estudantes evadidos do curso de administração no período de 2015 a 2018. A entrevista do tipo semiestruturada foi o instrumento utilizado para obter informações necessárias para chegar às respostas dos objetivos da IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 148 pesquisa. Para Marconi e Lakatos (2008), a entrevista é um “Encontro entre duas pessoas a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto, mediante uma conservação de natureza profissional”. Para que fosse possível a realização das entrevistas, de posse dos contatos telefônicos dos alunos evadidos, foi realizado contato com os 11 estudantes evadidos para informá-los sobre os objetivos do estudo e convidá-los a participar, em que somente 8 estudantes aceitaram em contribuir com a pesquisa por meio da entrevista. A partir da análise das entrevistas com oito estudantes do Curso de Administração da UEMG – unidade Passos, foi possível conhecer o perfil dos estudantes evadidos, conforme a estruturação da análise dos dados em subcategorias: idade, cor/etnia, filho (a), estado civil, sexo e renda familiar. Destaca-se também a trajetória escolar até a universidade, os motivos para a escolha da universidade, as razões para escolha do curso e, informações referente à moradia, percurso, trabalho, questões que envolvem convívio com estudantes e professores, despesas para custeio de despesas com o curso, e por fim será apresentado os motivos e/ou dificuldades que contribuíram para a desistência/abandono do curso, a situação do estudante (se retornou aos estudos ou não), oportunidades de integração ofertados pela universidade e sugestões para o combate à evasão no curso de administração. No que concerne ao gênero, a maioria dos entrevistados é do sexo feminino, sendo seis mulheres e dois homens, e evidencia-se que os quatro estudantes evadidos que não desejaram participar da entrevista eram homens, portanto, as mulheres apresentaram maior disponibilidade para contribuir com sua participação na pesquisa. Quadro 1. Estudantes evadidos do curso de administração (fictícios) e características pessoais como a idade, cor/etnia, filho (a), estado civil e renda familiar. Estudante Idade Cor/Etnia Filho(a) Estado Renda Familiar Beatriz 21 anos Branca Não Solteira Não soube Daniela 27 anos Branca Não Solteira R$ 4.000,00 Fernanda 25 anos Negra Não Solteira R$ 3.000,00 Felipe 26 anos Branco Não Solteiro R$ 6.500,00 Natália 29 anos Branca Sim, 1 filha Divorciada R$ 934,00 Maria 25 anos Branca Não Solteira R$ 998,00 Rafael 29 anos Negro Sim, 2 filhas Casado R$ 10.000,00 Renata 26 anos Branca Não Solteira R$ 2.400,00 Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa (2019). IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 149 No tocante à renda mensal familiar dos estudantes evadidos, apenas a estudante Beatriz não soube informar a renda mensal da família. No entanto, em relação a renda familiar mensal informada pelos outros sete estudantes evadidos, ao efetuamos a soma dos valores informados por eles, encontramos como resultado uma renda total mensal de R$ 27.832,00. Entretanto, quando comparamos as rendas mensais informadas pelos estudantes evadidos entrevistados, percebemos Daniela, Felipe e Rafael declararam possuir renda familiar mensal acima de quatro salários-mínimos e, que somadas juntas, concentram 71,11% da renda do total dos estudantes da pesquisa, enquanto os demais estudantes evadidos declararam possui renda familiar abaixo de três salários-mínimos, o que equivale a 28,89% em relação ao total da renda familiar dos oito estudantes evadidosentrevistados. A renda familiar é considerada um fator determinante para evasão no ensino superior, principalmente para estudantes financeiramente carentes. O estudo de Cislaghi (2008) corrobora com a narrativa, ao destacar o Modelo Integrado de Permanência desenvolvido pelos estudiosos Alberto F. Cabrera, Maria B. Castañeda, Amaury Nora e Dennis Hengstler (1992), levava em conta a variável renda, ao afirmarem que a ajuda financeira e as atitudes dela decorrentes refletem positivamente no equilíbrio das oportunidades de ingresso de estudantes financeiramente carentes. Além disso, evita que o estudante seja forçado a assumir uma carga de trabalho que venha a prejudicar o seu desempenho acadêmico ou mesmo interromper os seus estudos (CISLAGHI, 2008). Quanto à a trajetória escolar dos estudantes evadidos antes do ingresso no curso de administração, constata-se que seis estudantes evadidos apresentam uma bagagem de conhecimento oriunda de escolas públicas e apenas dois de escolas privadas. Quadro 2. Trajetória escolar dos estudantes evadidos: Estudante Evadido Trajetória escolar Beatriz Escola privada Daniela Escola pública Fernanda Escola Pública Felipe Escola pública Natália Escola pública Maria Escola pública Rafael Escola privada Renata Escola pública Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa (2019). IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 150 Fazendo-se um cruzamento com as respostas da renda familiar mensal com a trajetória escolar dos estudantes evadidos, percebe-se que Rafael apresenta maior renda familiar entre os demais, justificando a capacidade financeira da família para pagar escola privada. Como Beatriz não soube especificar a renda familiar e, também realizou os estudos em escola privada, há duas possíveis constatações, ou a família tinha condições financeiras para pagar escola privada ou estudou na condição de bolsista Entretanto, a problemática da trajetória escolar do estudante vai muito além de definir se o mesmo é proveniente de escola pública ou privada, uma vez que o SISU monitora a probabilidade de ingresso em cursos de graduação pela nota que o estudante obteve no ENEM, ou seja, autores continuam afirmando que estudantes provenientes de escolas privadas ainda conseguem se sobressair melhores do que aqueles de escolas públicas. O período de evasão do estudante é um dado importante, uma vez que o curso de Administração é composto de oito períodos. Observamos que Natália e Renata tomaram a decisão no primeiro período do curso e Daniela no segundo período, isto é, três situações em que a evasão ocorreu no primeiro ano do curso. Maria declara ter tomado essa decisão no terceiro período e Beatriz no quarto período, totalizando, no segundo ano, duas situações de evasão. Acumulando-se o primeiro e segundo ano, podemos verificar que quatro dessas situações são tomadas nos dois primeiros anos de curso, indicando que 50% das situações de evasão ocorreram nos quatro primeiros períodos do curso. Fernanda tomou a decisão no quinto período, seguido por Felipe e Rafael no sexto período, demonstrando quatro situações de evasão, indicando que os outros 50% das situações de evasão ocorreram no terceiro ano de curso. Ressalta- se que não foram encontradas situações de evasão no sétimo e oitavo período, que corresponde ao quarto ano de curso. A evasão de estudantes no primeiro período de curso pode ser provocada por muitos fatores que contribuem para o estudante se evadir do curso, como a incompatibilidade entre horários de trabalhos e de estudo, distância do local de moradia para a universidade, motivo da escolha do curso etc. Nesse caso Cislaghi (2008) corrobora ao afirmar que apesar dos conhecimentos possivelmente concebidos para entender e atuar nos fatores motivadores da evasão de estudantes no decorrer do início da graduação, a evasão é interpretada como um fenômeno que ocorre em qualquer IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 151 momento ao longo da duração do curso, inclusive quando o estudante tiver sucesso no primeiro ano do curso (Cislaghi, 2008). Quadro 3. Período em que o estudante estava matriculado quando ocorreu a evasão do curso de administração. Estudante Evadido Período em que o estudante estava cursando Beatriz 4º período Daniela 2º período Fernanda 5º período Felipe 6º período Natália 1º período Maria 3º período Rafael 6º período Renata 1º período Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa (2019). A escolha do curso é um momento difícil para a maioria dos jovens desde o ensino médio, pois envolve vários fatores que pesam na hora da decisão, como a aprovação da família, questão financeira, facilidade em conseguir um emprego, dentre outros. Tozzi (2004) define muito bem essa questão ao afirmar que: [...] em tempos de inscrições para o vestibular, é fácil constatar uma dúvida que persegue boa parte dos candidatos: que profissão escolher? Em geral, trata-se de uma escolha quando ainda o estudante não tem domínio das questões básicas em relação à futura profissão. Com 17 ou 18 anos de idade, em média, esta é certamente a decisão mais difícil que irá tomar na vida. Recém-saída da adolescência, a maioria carece de segurança emocional e vivência profissional. (TOZZI, 2004, p.64). Nesse contexto, Tinto (1975) afirma que embora o estudante carregue alguns objetivos pré-definidos, ao chegar na universidade esses objetivos passam por um processo de seleção, que considera o grau de prioridade na vida daquele estudante, no tocante às necessidades pessoais, carreira, condição econômica da família, as expectativas em relação aos pais. Após a realização das entrevistas com os estudantes evadidos do curso de administração, foi possível identificar as causas da evasão do curso, conforme ilustrado no quadro 4 a seguir. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 152 Estudante Evadido Causas da Evasão (narrado pelo estudante evadido na entrevista) Beatriz Falta de interesse em frequentar às aulas; Desejo de mudar de curso. Desejo de mudar de curso. Daniela Necessidade de mudanças na grade curricular do curso; Falta de organização da universidade. Fernanda Falta de afinidade com o curso; Insatisfação com o curso. Felipe Desânimo com o curso; Interesse somente no diploma. Interesse somente no diploma. Natália Necessidade de trabalhar para ajudar a custear as despesas da casa. Maria Falta de integração da coordenação com os alunos; As falhas do sistema acadêmico WEBGIZ; Necessidade de trabalhar. As falhas do sistema acadêmico WEBGIZ; Rafael Falta de um gerenciamento no curso para acompanhar o trabalho do professor; Desmotivação para frequentar as aulas. Renata Desordem da universidade; Falta de motivação e comprometimento dos professores. Falta de motivação e comprometimento dos professores Fonte: elaboração própria, com base nos dados da pesquisa (2019). Nesse contexto, buscando compreender as causas da evasão apontadas pelos discentes entrevistados, Cislaghi (2008) destaca que as condições pessoais dos estudantes, contidas no modelo de Tinto, que evidencia o dimensionamento das as expectativas educacionais na vida do discente. Tais expectativas envolvem desde o tempo em que o discente dispõe para se dedicar aos estudos e obter seu diploma de graduação, como também o grau de importância da universidade em que frequenta em comparação com as outras. Os resultados obtidos possibilitaram uma compreensão de que a evasão no curso de Administração da UEMG – unidade Passos, não é só um processo que envolve o estudante, e sim um processo institucional, reflexo da a ausência de ações que promovam a permanência do estudante no curso. Foi possível verificar que a universidade não tem grandes preocupações com a evasão de estudantes, começando recentemente dar pequenospassos ao implementar o programa de assistência estudantil para estudantes que necessitam do benefício para continuar os estudos, porém destacamos que nenhum dos estudantes evadidos entrevistados se beneficiou dele. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 153 CONCLUSÕES Diante da realidade de vida que cada estudante carrega consigo, provenientes de descobertas e experiências desde a época da educação infantil até o ensino médio, o ensino superior representa o começo de algo novo, repleto de oportunidades, de anseios por novas vivências. Pode-se dizer que é assim para o jovem quando o assunto é universidade, o ato de desbravar o que consideram ser novo, diferente, incrível, algo que buscam relacionar com a palavra maturidade, ou talvez com a palavra responsabilidade, no exato momento que necessitam de definições para ocuparem os espaços públicos da universidade. O fenômeno da evasão, como retratado nessa pesquisa, está posto e atinge jovens que necessitam de formação profissional, trazendo danos à sociedade e gastos públicos desnecessários. Um desses danos refere-se à frustração do estudante, desde a entrada no curso, no caso de não ter conseguido ingressar no curso desejado, e, ainda, em razão de não ter conseguido concluir o curso o qual teve acesso. Para Tinto (1975, 1993, 2012), as universidades não desenvolveram uma perspectiva ordenada para orientar as ações preventivas e a maneira como elas devem ser estruturadas e alinhadas à realidade da instituição de ensino. Assim, verificamos o quanto os processos de aprendizagem e as interações em sala de aula são determinantes para a permanência ou evasão dos estudantes, principalmente entre os estudantes do curso matutino, pois precisam conciliar os horários do trabalho com os das aulas. Percebe-se que a falta de integração dos estudantes evadidos em relação aos professores, bem como a insatisfação relacionada à estrutura curricular, constituiu-se como fatores contributivos para a decisão de abandono do curso. Para Tinto (1993), a permanência no ensino superior está vinculada ao processo de integração do discente ao ambiente social e acadêmico, assim como está diretamente associada ao nível de expectativas do aluno. O autor afirma que “Quanto maior o comprometimento do aluno com a instituição e com os seus próprios objetivos, e elevado for o nível de integração acadêmica e social desse aluno, menor a probabilidade de evasão” (TINTO, 1993, p.130). Por fim, esse estudo não teve o objetivo de identificar o impacto de algumas variáveis como a satisfação e insatisfação do estudante com o curso, mas sim conhecer as principais causas da evasão na perspectiva do entrevistado. Por isso, recomenda-se a realização de novos estudos no sentido de aprofundar a investigação acerca das causas de insatisfação dos IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 154 estudantes com o curso e com a instituição, pois sabe-se que a insatisfação pode ser oriunda de diversos fatores ligados ao ambiente interno e externo. REFERÊNCIAS CARRANO, P. Jovens, escolas e cidades:J Desafios à autonomia e à convivência. Revista Teias, v. 12, n. 26, set./dez. 2011. Jovens, territórios e práticas educativas. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/ index.php/revistateias/article/view/24209. Acesso em: 02 jan. 2020. CISLAGHI, R. Um Modelo De Sistema De Gestão Do Conhecimento Em Um Framework Para A Promoção Da Permanência Discente No Ensino De Graduação. Tese (Doutorado) — Engenharia do Conhecimento, UFSC, 2008. Disponível em: btd.egc.ufsc.br › wp-content › uploads › 2010/06 › Renato-Cislaghi. Acesso em: 02 jan. 2020. CORROCHANO, M. C. Jovens trabalhadores: expectativas de acesso ao ensino superior. Avaliação (Campinas) [online]. 2013, vol.18, n.1, pp.23- 44. ISSN 1414-4077. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1414- 40772013000100003. Acesso em: 03 jan. 2020. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2008. MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001. TINTO, V. Dropout from higher education: a theoretical synthesis of recent research. 67 Review of Educational Research, Estados Unidos, v. 45, n. 1, p. 89-125, 1975. Disponível em: http://citeseerx.ist.psu. edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.874.5361&rep=rep1&type=pdf. Acesso em: 15 maio 2019. TINTO, V. Leaving College: rethinking the causes and cures of student attrition. 2nd ed. Chicago: University of Chicago Press, 1993. TOZZI, M. Escolha da Profissão. Revista Engenharia e Construção, nº. 88, p. 10 e 11, janeiro de 2004. EIXO TEMÁTICO 3: POLÍTICAS PÚBLICAS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 157 A FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS ESCOLARES NO BRASIL SEGUNDO AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS Flávia Pinheiro Silva Colombini* RESUMO: Este trabalho tem como objetivo discutir sobre a política nacional de formação de pedagogos no Brasil a partir das Resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE n.01/2006), que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais da Pedagogia e, mais recentemente, a Resolução n.02/2019, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica, instituindo a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica. O referencial teórico é formado por Libâneo (1999; 2006); Pimenta; Pinto e Severo (2020); Pinto (2002; 2006); Franco (2007) e Pimenta et al (2017). O estudo é de caráter qualitativo, sendo uma pesquisa bibliográfica e documental. Para a análise, utilizamos a metodologia de Análise de Conteúdo. Como resultado, apontamos que as diretrizes nacionais evidenciam uma supervalorização da docência o que implica em uma precarização na formação inicial do pedagogo que não deseja seguir a carreira docente. Palavras-chave: política educacional. formação pedagogos. Diretrizes Curriculares Nacionais. INTRODUÇÃO A oferta de uma educação pública de qualidade perpassa também pela qualidade da formação profissional dos educadores que atuam nas escolas do Brasil. O pedagogo, profissional formado pelo curso de Pedagogia, deve estar capacitado para atuar na educação básica, seja na atividade docente, seja nas atividades que envolvam planejamento, gestão e avaliação das práticas educativas que ocorrem na escola. Segundo a definição de Pinto (2006), o pedagogo escolar é o educador que trabalha na escola, porém fora da sala de aula, como diretor, vice-diretor, coordenador pedagógico, orientador educacional, etc.; ou seja, são os profissionais da educação escolar que tem na escola o seu lugar de trabalho, porém, não necessariamente exercendo a atividade docente. O senso comum costuma relacionar o profissional da Pedagogia como sendo o professor da educação infantil e dos anos iniciais da educação básica, não compreendendo que a dimensão do trabalho pedagógico vai além da sala de aula e ignorando que sua formação não se limita à esfera da docência. É importante esclarecer que o profissional da Pedagogia é, antes de tudo, o profissional especialista em educação, já que a Pedagogia, segundo Pimenta, Pinto e Severo (2020), é a Ciência * Secretaria Municipal de Educação de Franca/SP. Mestra em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. flaviapscolombini@hotmail.com. http://lattes.cnpq. br/8560549999959782 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 158 da Educação. Portanto, os pedagogos podem atuar como docentes ou como articuladores dos processos educativos que ocorrem em ambientes escolares e não-escolares. As diferentes concepçõesde educação e sociedade de cada contexto influenciam diretamente nas propostas de formação dos educadores, implicando no seu perfil profissional. Atualmente, segundo Pinto (2006), observa-se nos cursos de Pedagogia, um grande destaque para a formação docente, influenciado por uma ideia neoliberal que se pauta pelos baixos índices atingidos pelos estudantes do Brasil nas avalições internacionais. Esse baixo desempenho passou a ser entendido como reflexo de uma má formação docente. Dessa forma, a formação de professores ganhou ênfase e a formação relacionada aos saberes pedagógicos necessários para a atuação do pedagogo escolar ficou em segundo plano. Segundo Libâneo (2006), essa tendência de redução das atividades pedagógicas e educativas em detrimento à atividade docente ficou explícita a partir da Resolução do CNE (Conselho Nacional da Educação) n.1/2006 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Pedagogia (DCNP) no Brasil. Para ele, a crença na docência como base comum para a formação profissional de todo educador, explica- se pela influência de uma visão sociologizante da educação, observada nos debates educacionais das últimas décadas. Atualmente, a Resolução CNE, n.2/19 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica (englobando aqui o curso de Pedagogia), instituindo a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica, deixa ainda mais evidente a invisibilidade da formação inicial do pedagogo escolar. Pimenta, Pinto e Severo (2020) afirmam que a resolução de 2019 ratifica uma tendência desintelectualizante e neotecnicista da formação de educadores no país. Este estudo tem como objetivo discutir sobre a formação inicial dos pedagogos escolares nos cursos de Pedagogia do Brasil, a partir da exploração das diretrizes curriculares nacionais emitidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), sendo analisadas a Resolução CNE n.1/06 e a mais recente Resolução CNE n.02/19. De acordo com estes documentos, procuramos analisar qual importância vem sendo dada para formação inicial dos pedagogos que, futuramente, poderão atuar na escola em cargos de gestão e não apenas como docentes. Sem desmerecer a importância da formação prática e continuada desses profissionais, entendemos que é durante a graduação que os futuros pedagogos estabelecem as bases do seu IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 159 conhecimento teórico que dará suporte à sua prática. Portanto, nas Diretrizes Nacionais para os cursos de Pedagogia ou nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica (que inclui também o curso de Pedagogia) não deveria existir a prevalência dos saberes docentes sobre os saberes pedagógicos, já que o pedagogo, após formado, poderá decidir em qual área deseja trabalhar, se na sala de aula, como professor, ou se na área da gestão escolar, como pedagogo escolar. O referencial teórico deste artigo é formado por Libâneo (1999; 2006); Pimenta; Pinto e Severo (2020); Pinto (2002; 2006); e Pimenta et al (2017). Analisamos as resoluções, seguindo técnicas da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016), buscando a ocorrência de termos como: “docente” (e suas variações), “pedagogia”, “pedagogos” e “gestão escolar” (e suas variações). Dessa forma, podemos apresentar como resultado que, principalmente na última Resolução emitida pelo CNE (02/19), fica evidente que os cursos de formação de professores, dentre eles os cursos de Pedagogia, devam focar na formação do profissional docente, relegando a formação de pedagogos especialistas em educação, como os pedagogos escolares. Por fim, concluímos que a última resolução do CNE necessita ser repensada para que os saberes da docência e da teoria pedagógica sejam equivalentes na formação inicial do Pedagogo. 1 A PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO E O SEU CAMPO TEÓRICO Refletir sobre a formação do pedagogo escolar, requer também refletir sobre o campo teórico da Pedagogia. Muitos autores debatem sobre a relação teoria e prática na formação pedagógica. Para Pimenta (2000), Shimied-Kowarzik (1988), Franco (2003) e Severino (2001) concordam que a Pedagogia é a ciência da prática educativa, pois toma a prática dos educadores como referência para a construção dos saberes que serão confrontados com os saberes teóricos. Dessa forma, a Pedagogia é a ciência da e para a Educação e a teoria pedagógica está a serviço da práxis. Sendo identificada como a Ciência da Educação, a Pedagogia, diferente das outras ciências humanas, é um campo de discussão crítica e reflexiva, mergulhado no universo da prática educativa. Portanto, para que possa intervir de maneira positiva em situações concretas nas escolas, ajudando a aprimorar os processos de ensino e aprendizagem que ocorrem dentro e IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 160 fora da sala de aula, é importante que os pedagogos escolares tenham uma formação consistente do campo teórico pedagógico. É importante destacar que apesar da indissociabilidade entre teoria e prática na discussão epistemológica da Pedagogia e da formação pedagógica, o pedagogo, como um especialista da ciência da educação, necessita de uma formação sólida do campo teórico da Pedagogia, enquanto se formar como professor. Saviani (2004) descreve a existência de três tipos de pedagogo: o pedagogo latu sensu, que se ocupa especificamente da prática educativa, incluindo os professores de todos os níveis e modalidades de ensino; o pedagogo strictu sensu, sendo os especialistas que contribuem e trabalham com pesquisas, documentações, formação profissional, educação especial, gestão de sistemas escolares e coordenação pedagógica; e finalmente, os pedagogos ocasionais, que dedicam parte de seu tempo em atividades conectadas à assimilação e reconstrução de diversos saberes. Saviani afirma, portanto, que o curso de Pedagogia deve se destinar à formação do pedagogo-especialista, pronto para atuar em diversos campos educativos, atendendo às diversas demandas socioeducativas. Dessa forma, a Pedagogia não pode ser vista apenas como um campo de conhecimento da ação docente, mas sim como a própria Ciência da Educação. O aluno formado pelo curso de Pedagogia, deve ter sua formação pautada pelos saberes científicos da ciência pedagógica na mesma proporção dos saberes da área da docência, que é apenas uma das áreas da Pedagogia. 2 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA OS CURSOS DE PEDAGOGIA (DCNP) A implantação das DCNP em 2006, sem dúvida, foi um ganho para a organização curricular dos cursos de Pedagogia no país. Apesar de suas incoerências teóricas, apontadas por Libâneo (2006), as diretrizes revelaram uma preocupação com a formação de pedagogos no Brasil, mesmo sendo marcadas por equívocos e indefinições, que segundo ele, ainda poderiam ser revistos. Segundo o autor, as diretrizes carregaram imprecisões teóricas do campo da Pedagogia e expressaram uma concepção estreita da formação profissional de educadores. Além da falta de clareza conceitual presente em diversas partes do texto, a resolução apresenta ainda uma indefinição do conceito de Pedagogia e da atividade profissional do pedagogo. Ele IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 161 afirma que o documento deixa explícito a redução da Pedagogia à docência, quando circunscreve todas as atividade pedagógicas e educativas à atividade docente. Para o autor, a crença na docência como base comum para a formação profissional de qualquer educador explica-se por uma visão sociologizante da educação, muito discutida a partir da década de 1990. Em estudo anterior, Libâneo (1999) já afirmava que “o trabalho docente é pedagógico, mas nem todo trabalhopedagógico é docente” (LIBÂNEO, 1999, p. 34), e que, portanto, é necessário pensar a formação do pedagogo a partir de concepções bem fundamentadas em teorias pedagógicas que forneçam suporte às suas decisões e habilidades para o trabalho na escola ou em ambientes não escolares. Sem querer sobrepor um campo científico ao outro (pedagógico/docente), mesmo porque não há a relação de hegemonia entre eles, o autor não fala em secundarizar a docência, mas defende a necessidade de se delimitar a epistemologia do conhecimento pedagógico, sendo esta uma premissa elementar dos cursos de Pedagogia. Essas definições mostram um conceito amplo de pedagogia, a partir do qual se pode compreender a docência como uma modalidade de atividade pedagógica, de modo que a formação pedagógica é o suporte, a base, da docência, não o inverso. Dessa forma, por respeito à lógica e à clareza de raciocínio, a base de um curso de pedagogia não pode ser a docência. Todo trabalho docente é trabalho pedagógico, mas nem todo trabalho pedagógico é trabalho docente. Um professor é um pedagogo, mas nem todo pedagogo precisa ser professo. (LIBÂNEO, 2006, p. 850) O autor afirma ainda a importância da presença dos pedagogos escolares ou pedagogos especialistas para a escola e educação no Brasil, sendo atores ativos no suporte ao desenvolvimento das relações de ensino e aprendizagem que ocorrem na sala de aula e que, portanto, a sua formação pedagógica deve ser criteriosa. Estes profissionais podem proporcionar uma ajuda inestimável ao trabalho dos professores, ajudando-os a pensar e atuar em relação metodologias de ensino, currículo, etc, além de contribuírem com práticas de organização e gestão escolar e definição de objetivos sociais e culturais para a escola. (LIBÂNEO, 2006, p. 865). IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 162 3 FORMAÇÃO EM PEDAGOGIA: PROFESSOR OU PEDAGOGO? Desde a implantação das DCNP, vários autores alertam para a supervalorização da formação docente em detrimento da formação pedagógica nos cursos de Pedagogia. Em pesquisa de Pimenta (et al, 2017), os autores analisaram 144 cursos de Pedagogia oferecidos por instituições públicas e privadas do estado de São Paulo por meio de suas matrizes curriculares. Segundo os autores, os dados evidenciaram que a formação dos pedagogos no estado de São Paulo, em sua grande maioria, se mostra frágil, superficial, generalizante, fragmentada e dispersiva. Pela pesquisa, os autores observaram que a didática comparece em apenas 6,64% das matrizes disciplinares dos cursos e que os saberes necessários à gestão educacional aparece em apenas 6,37% do total das disciplinas (considerando os conhecimentos gerais sobre a escola) e somente 0,36% para disciplinas relacionadas à área de gestão em espaços não escolares. Sobre os estágios supervisionados, os autores afirmam existir uma quase ausência ou uma desobediência legal, ignorando a realidade para a qual se formam os pedagogos. Em sua tese de doutorado, Pinto (2006) faz uma análise das demandas de trabalho na escola e defende que para atendê-las efetivamente é preciso que a equipe diretiva escolar tenha formação específica e especializada no campo pedagógico. [...] os cargos diretivos das escolas devem ser ocupados por profundos conhecedores dos temas relacionados à área escolar, quais sejam: organização sistêmica das escolas; teoria de currículo e suas diferentes abordagens (inter, trans e pluridisciplinaridade); políticas públicas na área de educação escolar; avaliação do processo de ensino e aprendizagem, das diferentes metodologias e técnicas de ensino; projeto político e pedagógico; planejamento de ensino e de aulas; avaliação institucional... E para dar embasamento a todos esses temas, o pedagogo deve ter um sólido repertório no campo das ciências da educação (História, Sociologia, Filosofia e Psicologia da Educação), a partir das quais sua formação deve se assentar. (PINTO, 2006, p. 173). Pinto afirma também que devido as críticas referentes à especialização dos pedagogos em habilitações, que se apresentaram fortemente a partir dos anos 1980, os cursos de Pedagogia passaram a concentrar a formação dos pedagogos escolares na área da administração IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 163 escolar. Porém as demandas da escola ainda necessitam das intervenções das áreas da coordenação pedagógica e orientação educacional e que a falta de uma formação específica nessas áreas impacta na realidade da escola. A predominância dos saberes da docência nas diretrizes curriculares nacionais para a formação de pedagogos e professores da educação básica se evidencia pela análise das duas resoluções que foram estudadas neste trabalho. A partir da análise da Resolução n.01/2006 e da Resolução n.02/2019, fica evidente a proeminência dos saberes da docência sobre os saberes da teoria pedagógica. O primeiro documento se destina a instituir as diretrizes curriculares específicas para os cursos de Licenciatura em Pedagogia. O segundo, se destina a definir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e instituir a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (incluindo o curso de Pedagogia). Sendo estes os objetivos dos documentos, pode parecer óbvio que haja essa prevalência da formação docente, porém, as resoluções determinam sobre a formação inicial de pedagogos que não são unicamente professores de educação infantil e anos iniciais. A resolução de 2006 determina que a carga horária mínima para os cursos de Pedagogia seja de 3.200 horas. Destas, 2.800 serão dedicadas às atividades formativas envolvendo teorias educacionais, prática pedagógica, gestão e avaliação de projetos educacionais e Políticas Públicas de Educação. 300 horas ficam dedicadas ao estágio supervisionado, prioritariamente, na educação infantil e anos iniciais e 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas por meio de monitoria, iniciação científica ou projetos de extensão. Já a resolução de 2019, manteve a determinação de 3.200 horas mínimas para os cursos de licenciatura, sendo que apenas 800 horas devem ser dedicadas aos conhecimentos científicos, educacionais e pedagógicos, de base comum a todas as licenciaturas e que fundamentam a educação e suas articulações com os sistemas, escolas e práticas educacionais. Quanto às demais horas, 1.600 dedicadas à aprendizagem dos conteúdos das áreas específicas e dos objetos de conhecimentos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e as outras 800 horas dedicadas ao estágio supervisionado. Para a formação específica do estudante de Pedagogia como pedagogo escolar, a resolução de 2019 traz um capítulo à parte, intitulado: Da formação das atividades pedagógicas e de gestão. De acordo com o artigo 22, IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 164 se estabelece que a formação para atuar em Administração, Planejamento, Inspeção, Supervisão e Orientação Educacional para a Educação Básica deve se dar em cursos de graduação em Pedagogia com aprofundamento em gestão, com carga horária mínima de 3.600 horas, ou seja, 400 horas acrescidas ao curso de licenciatura em Pedagogia que, por conclusão lógica, formará exclusivamente professores de educação infantil e anos iniciais. Na prática, isto implica num retorno às habilitações da Pedagogia, sendo que o ideal seria que os cursos de Pedagogia formassem pedagogos capacitados de maneira equânime para atuarem tanto como professor, como pedagogo escolar, sem a prevalência de uma área do saber sobre a outra. A Resolução de 2006 consta de quinze artigos distribuídos em seis páginas. Já a resolução de 2019, por não tratar exclusivamente da formação em Pedagogia,é mais extensa, possui trinta artigos distribuídos em vinte e duas páginas. Seguindo uma técnica da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016), fizemos a contagem do número de ocorrências de termos nas duas resoluções, onde constatamos a predominância de algumas palavras como “docente” que aparece 4 vezes na resolução de 2006 e 38 vezes na resolução de 2019 (dentre elas suas variações como formação docente, atividades docentes, práticas docentes, etc). O termo “formação de professores” ocorre 4 vezes na primeira resolução e 20 vezes na segunda. Tendo em vista que este último documento apresenta as diretrizes para a formação inicial de proferes da educação básica, esse número de ocorrência faz total sentido. Porém, a resolução se destina também a orientar os cursos de graduação de Pedagogia, responsável pela formação do pedagogo, que pode vir a ser um profissional docente ou não. Sendo assim, nos causa uma certa estranheza que a palavra “Pedagogia” apareça apenas duas vezes no documento de 2019, enquanto que no de 2006 aparece 17 vezes, e a palavra “pedagogo” não ocorre nenhuma vez em nenhuma das resoluções. Ademais, os termos relacionados à “gestão escolar” (gestão educacional, gestão e planejamento do processo de ensino e aprendizagem, gestão da escola, formas de gestão), que também são áreas de atuação do pedagogo, aparecem apenas 8 vezes na resolução de 2006 e 5 vezes na resolução de 2019. Diante desta discrepância em relação ao número de ocorrência destes termos, constatamos a preocupação, quase que exclusiva, da formação do pedagogo como um profissional especialista da docência e não especialista da educação. Em artigo de 2020, Pimenta, Pinto e Severo apresentam uma crítica à Resolução n.02/2019. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 165 [...] a Base Nacional Comum da Formação Docente (BRASIL, 2019) corporifica uma tendência desintelectualizante e neotecnicista distante de uma concepção de formação pedagógica comprometida com a melhoria da qualidade social da educação. As proposições contidas nesse documento alinham-se a uma lógica formativa que simplifica os saberes e as habilidades para o exercício profissional de pedagogos(as) ao domínio de competências para o ensino e sem referências à dimensão teórico/investigativa que configura o trabalho pedagógico desenvolvido na sala de aula e em outros espaços de atuação. (PIMENTA; PINTO; SEVERO, 2020, p. 12). Dessa forma, os autores sugerem uma reestruturação das diretrizes para os cursos de Pedagogia, sugerindo a inclusão de cinco eixos estruturantes para os mesmos. [...]São eles: a) a pesquisa como forma de aprendizagem do pensamento científico e dimensão do desenvolvimento profissional; b) a relação articulada entre teoria e prática permanente no/pelo currículo; c) experiência formativa pela imersão nos contextos educativos; d) compromisso com a finalidade democrática dos processos educativos e com a escola pública; e) o estudo da Didática em suas conexões com as bases teórico-práticas da relação pedagógica e as especificidades dos objetos do ensino. (Idem, p. 12). Sendo assim, o debate acerca da formação inicial dos pedagogos como especialistas da educação encontra-se ainda sem um uma solução para a resolução de atendimento às demandas impostas pela realidade do trabalho escolar. Os problemas vivenciados pela escola e educação pública no Brasil carecem também da intervenção positiva de pedagogos formados para tal, cuja habilidade não seja predominantemente a docência. Mesmo considerando que a sua formação continuada e prática seja importante, é na formação inicial que se oferece a base para o desenvolvimento dos saberes práticos e, portanto, ela necessita de atenção. CONCLUSÕES O pedagogo escolar é o profissional especialista da educação que atua na gestão escolar. Cabe a ele dar o suporte necessário aos professores e alunos na mediação do processo de ensino e aprendizagem que ocorrem dentro e fora da sala de aula. Portanto, a formação inicial do pedagogo não deveria preterir os saberes pedagógicos em razão da atenção exclusiva que IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 166 vem sendo dada aos saberes da formação docente, nas últimas décadas. Autores como Libâneo (2006); Pinto (2006); Pimenta, Pinto e Severo (2020) se posicionam contra essa tendência de formação pedagógica focada na docência, principalmente após a implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Pedagogia (Resolução CNE n.1/06) e, mais recentemente, da Resolução CNE n.02/19. Ao criticarem a tendência de priorização da formação docente presente atualmente nas diretrizes para os cursos de Pedagogia no Brasil, os autores defendem que o pedagógico é o que dá caráter cientifico à Pedagogia, dando cientificidade à práxis pedagógica. Portanto, para intervir em situações de interação que favoreçam a aprendizagem, o pedagogo deve ter uma base sólida de formação pedagógica na mesma equivalência de sua formação docente. Não se trata de defender a substituição de importância de uma área sobre a outra, mas de se defender a igualdade de importância dos saberes e conhecimentos docentes e dos saberes e conhecimentos pedagógicos na formação do profissional pedagogo. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. BRASIL. Resolução Nº 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. 92, p. 11-12, 16 maio 2006. BRASIL. Resolução Nº 2, de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). Brasília: Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação, Conselho Pleno, [2019]. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2019- pdf/135951-rcp002-19/file>. Acesso em: 19 ago. 2020. FRANCO, M. A. Pedagogia como ciência da educação. Campinas: Papirus, 2003. LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e Pedagogos, para quê? São Paulo, Cortez, 1999. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 167 LIBÂNEO, J. C. Diretrizes curriculares da pedagogia: Imprecisões teóricas e concepção estreita da formação profissional de educadores. Revista Educação e Sociedade, Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 843-876, out. 2006 PIMENTA, S. G.; PINTO, U. A.; SEVERO, J. L. R. L. A Pedagogia como lócus de formação profissional de educadores(as): desafios epistemológicos e curriculares. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, p. 1-20, 2020 Disponível em: https://www.revistas2.uepg.br/index.php/ praxiseducativa. Acesso em: 19 ago. 2020. PIMENTA, S, G. (org). Didática e formação de professores: perspectivas no Brasil e em Portugal. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. PIMENTA, S. G. et al. A. Os cursos de licenciatura em Pedagogia: fragilidades na formação inicial do professor polivalente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 43, n. 1, p. 15-30, jan./mar. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s1517-9702201701152815. Acesso em: 30 ago 2020 PINTO, U. A. Pedagogia e Pedagogos Escolares. Tese (Doutorado) — Educação, USP, São Paulo: 2006. Disponível em: http://www.teses. usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-22062007-095259/pt-br.php. Acesso em: 19 ago. 2020. SAVIANI, D. O espaço acadêmico da Pedagogia no Brasil: Perspectiva Histórica. Paideia, 2004, 14(28), 113-124. Disponível em: http://www. scielo.br/paideia/v14n28/02. Acesso em: 22 ago 2020 SEVERINO, A. J. A pesquisa em educação: a abordagem crítico-dialética e suas implicações na formação do educador. Revista de Educação da Univali. Ano 1, n.1, jan-jul 2001. Disponível em: https://siaiap32. univali.br/seer/index.php/rc/article/view/14/6.Acesso em: 30 ago. 2020. SCHMIED-KOWARZIK, W. Pedagogia dialética: de Aristóteles a Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1988. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 169 FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 1Lidiane Cristina Donizette* Lucimary Bernabé Pedrosa de Andrade** RESUMO: Tendo em vista as mudanças legais e as reformas dos sistemas educacionais no país para a educação infantil, o artigo objetiva discutir a importância de uma formação docente adequada aos pressupostos legais estabelecidos para essa fase especificamente as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEIs), as quais orientam na organização, desenvolvimento e avaliação das propostas pedagógicas dessas instituições. Para realização deste estudo foi realizado um levantamento bibliográfico e discutido parte dos resultados parciais de uma pesquisa de mestrado, buscando demonstrar os desafios para uma formação de professores que assegure um atendimento de qualidade em creches e pré-escolas. O que se vê ainda é uma formação descontextualizada e cada vez mais a desvalorização do profissional da educação infantil em detrimento dos outros segmentos da educação, especialmente na creche. O artigo revela a importância de se pensar a formação inicial de professores frente aos pressupostos definidos pela legislação educacional. Palavras-chave: formação docente. educação Infantil, DCNEIs. INTRODUÇÃO Esse artigo parte do estudo de uma pesquisa de mestrado intitulada “A POLÍTICA DE CONVÊNIO E A EDUCAÇÃO INFANTIL: Uma análise das propostas pedagógicas das creches conveniadas em um município do interior de São Paulo. O objetivo da pesquisa centrou se nas propostas pedagógicas das creches conveniadas do munícipio e as DCNEIs, que é um documento de caráter mandatário a qual traz orientações sobre as práticas pedagógicas nas instituições de educação infantil. Sendo assim, o foco desse artigo será discutir a importância de uma formação docente para educação infantil adequada aos pressupostos legais estabelecidos para essa etapa da educação no país, de forma especial o conhecimento das DCNEIS para a elaboração das práticas pedagógicas. O que se vê é que a formação de professores de educação infantil precisa estar de acordo com as mudanças educacionais que ocorreram nesse estágio da educação, de forma especial após a promulgação da LDB. Este artigo não pretende * Mestranda em Planejamento e Análise de Políticas Públicas pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Franca. Email: lidichrist@gmail.com. http://lattes.cnpq. br/5428061428503327 ** Professora Doutoura em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Franca. Email: lucimarypandrade@yahoo.com.br. http://lattes.cnpq. br/2656895407731506 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 170 oferecer respostas, mas sim discutir algumas questões importantes sobre a formação inicial e continuada de profissionais da educação infantil com o objetivo de contribuir para esse debate. Sabendo da necessidade de uma formação mais específica para o profissional que atua nessa área, vê se pouco estudo e produção acadêmica nesse campo da educação. Sendo assim esse trabalho se torna relevante à medida que contribuirá para a discussão e a possibilidade de pensarmos na formação inicial e continuada desse profissional que se faz tão necessário e importante nesses tempos de mudanças na legislação educacional. Optamos por utilizar a pesquisa bibliográfica e também dados parciais coletados de uma pesquisa de mestrado em relação a formação dos professores, o conhecimento das DCNEIs e a elaboração das práticas pedagógicas nas instituições de educação infantil. 1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA EDUCAÇÃO INFANTIL: ALGUNS PONTOS PARA O DEBATE A legislação educacional brasileira redefine a partir do final do século XX a etapa da educação infantil como sendo creche para crianças de a zero a três anos de idade e pré-escola para crianças de 4 a 6 anos de idade. A modalidade de educação em pré-escolas sempre esteve ligada aos sistemas educacionais de ensino, atendendo prioritariamente em meio período e contando com professores formados em escolas normais ou de nível secundário, já as creches, foram por muito tempo vinculadas ao setor da assistência social, grande parte atendiam em período integral, sem finalidade educacional e empregando educadoras leigas, sem exigência de escolaridade mínima. O que é evidente ainda nos dias atuais é que há uma grande diferença de origem, identidade e status quando consideramos os profissionais da educação, uma vez que se confirma que o atendimento as crianças menores são menos reconhecidas e essa etapa da educação é marcada por profissionais com menor salário e prestígio profissional e menor exigência em sua formação prévia, sendo a creche uma instituição de atendimento voltada para as camadas sociais mais pobres. Tizuko Kishimoto (1999) afirma que, desde o início dos anos 30 a formação de professores de pré-escola já era prevista nos cursos de pedagogia, porém existia concomitantemente, o curso normal em nível médio que habilitava os professores das crianças de 4 a 10 anos. No caso IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 171 da creche sempre prevaleceu a falta de exigência de qualificação até sua tardia incorporação ao setor educacional. Somente com a culminação da LDB em 1996, houve se a exigência de que tanto professores dos primeiros anos do ensino fundamental, como da educação infantil, deveriam ser formados em nível superior. Pode se admitir que a formação de professores necessita de atributos, habilidades e competências específicas para o trabalho com crianças pequenas e não só como até então era previsto como boa vontade, carinho, paciência e amor. Ao discutir sobre a qualidade na educação infantil é necessária uma ampla discussão sobre a formação de professores. No campo das políticas públicas o Plano Nacional da Educação (BRASIL, 2014), traz desafios para essa etapa da educação especificamente à formação de professores estabelecendo como estratégia que a formação inicial e continuada dos professores da educação infantil seja garantida progressivamente por profissionais com formação superior. Nesse sentido Dourado (2013), salienta que um dos desafios para essa etapa da educação é repensar a formação, estabelecendo políticas mais orgânicas, buscando articular a formação inicial e a continuada. Se por um lado a formação inicial é desejada como pré- requisito para o ingresso na carreira, por outro a formação continuada passa a ser vista como estratégia para a melhoria permanente da qualidade da educação, tendo como principal finalidade, a reflexão sobre a prática educacional e a busca do aperfeiçoamento técnico, ético e político, que não se restringe a esta prática (DOURADO, 2013, p. 377-378). Dessa forma é necessária uma reflexão crítica sobre as vivências e práticas diárias no sentido de romper a dicotomia existente entre teoria e prática. A formação inicial tem papel importante uma vez que representa o início da profissionalização não podendo se restringir a um ensino aprendizagem apenas técnico sem responsabilidade social, política e sem criticidade. Para Imbernón (2004) o professor deve ser dotado de conhecimentos científicos, culturais, psicopedagógicos e pessoais, capaz de analisar e investigar as situações educativas, tendo ciência de suas funções educativas, e do contexto social, histórico e político em que a prática escolar se insere. Com essas capacidades elencadas o professor é capaz de entender as transformações no espaço e possibilitar o processo ensino aprendizagem dequados às necessidades dos estudantes. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e DesenvolvimentoSocial (SIPPEDES) 172 2 FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL A formação inicial constitui um processo primordial na formação do professor desde que não envolva apenas técnicas e estratégias de ensino mas vivencie os domínios escolares e comunitários do trabalho docente. As disciplinas acadêmicas são importantes à medida que possibilita a aquisição de conhecimentos para embasarem a prática pedagógica. No entanto, seria necessário que essa formação fornecesse condições para que o professor seja capaz de refletir sobre sua prática e conectá-la com outros aspectos como éticos e morais, considerando a realidade social a qual influência a prática escolar. Após a promulgação da LDB e a ênfase nas reformas dos currículos, a formação de professores é agora o aspecto focalizado devido as reformas promovidas. Tardif (2000) vem nos mostrar que a formação dos professores no Brasil, partem de uma concepção aplicacionista já que trabalham com disciplinas que apresentam seus conhecimentos para posteriormente proporcionarem momentos de aplicação da aprendizagem o que promove uma dicotomia entre pesquisa, formação e prática sendo um modelo de lógica disciplinar e não profissional. De acordo com o autor esse modelo traz alguns prejuízos à medida que as disciplinas tornam se fechadas e fragmentadas em si, norteadas principalmente por questões de conhecimento e não por aplicação. Com isso vê se que os conhecimentos adquiridos por meio das disciplinas não estarão presentes na prática do professor pois não consideram que as representações que os professores carregam da sua vida escolar acabam regulando as experiências adquiridas na formação, o que faz com que muitos finalizem o curso sem ressignificar sua prática pedagógica. Tardif (2002) afirma que os saberes profissionais não podem ser confundidos com os conhecimentos adquiridos na universidade pois há uma distância entre eles já que os profissionais acabam transformando e adaptando os conteúdos para aplicarem em sua prática pedagógica em função das exigências do trabalho. Nesse sentido é fundamental que a formação continuada do professor contribua para uma reflexão e entendimento da importância da utilização dos conhecimentos adquiridos na prática de ensino. É necessário que os profissionais tenham como apoio os conhecimentos especializados adquiridos através das disciplinas cursadas nas universidades demandando IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 173 autonomia e perspicácia a medida que precisarem utilizar se de adequações e ajustes para se atingir os objetivos. Para o autor trata-se de uma reformulação de fundamentos epistemológicos para tornar a profissão como as demais. Essa noção de epistemologia parte da prática do professor e exige a apropriação dos saberes que os docentes utilizam na sua prática pedagógica objetivando identificar os saberes e sua natureza e principalmente a função desempenhada na prática. A prática docente refletida permite ao professor reconsiderar sua formação e adaptar sua ação de acordo com as atividades de ensino. Daí a importância dos conteúdos, que podem em algum momento serem uteis na resolução de problemas diários. Neste caso, as faculdades de educação precisam reconhecer a importância da prática docente como espaço de formação de professores. Saviani (1996) destaca que o educador deve saber, precisa aprender e dominar os saberes da sua atuação, e dessa forma a formação do professor deve partir de uma proposta reflexiva em que o professor é um intelectual em processo de formação contínua. Gatti e Barretto (2009) mostram que a partir dos anos noventa, houve um progressivo aumento dos cursos de pedagogia oferecidos principalmente por instituições particulares, sendo uma parte relevante através das modalidades à distância. Essa expansão das matrículas, se deu especialmente pelo aumento das vagas nessa modalidade de ensino o qual trazia a educação infantil como parte da educação sendo obrigatória seu atendimento em instituições públicas. Isso contribuiu para a criação de um mercado de oferta de cursos de formação para professores, ocupado predominantemente pelas instituições privadas. No entanto, vale dizer que mesmo passados vinte anos desde a aprovação da LDB, essa tradição do modelo de formação para as professoras de pré-escola continua a ser mantida e além disso nas redes municipais, há uma distinção entre planos de carreira, os modelos de contratação, a jornada de trabalho entre os professores de educação infantil e os das séries iniciais do ensino fundamental, sendo que na creches são adotados regimes diferentes para as professoras, o que demonstra que mesmo com o aumento das matrícula na educação infantil, juntamente com a crescente demanda de docentes nas creches e pré-escolas, também não parece ter abalado a continuidade do modelo de formação inicial herdado de décadas anteriores (CAMPOS, 2018). IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 174 De acordo com Campos (2018) uma característica marcante trazida pelos dados colhidos em seus estudos sobre gestão da educação infantil, desenvolvida em seis capitais brasileiras, dados coletados do perfil de 281 professores de creches e pré-escolas municipais e conveniadas, trazem as diferenças observadas entre o perfil das professoras de estabelecimentos municipais, em comparação com as que atuavam em entidades conveniadas. A autora diz que: De maneira consistente, as professoras das unidades conveniadas, nos seis municípios, pertenciam a famílias com renda familiar mais baixa; classificaram-se em maior proporção como negras; ganhavam menos, embora tivessem de cumprir jornadas de trabalho mais longas; eram formadas a menos tempo do que as vinculadas ao setor público, sendo que 38% apenas em cursos de nível médio, enquanto aquelas que atuavam nas unidades municipais eram na maioria (65%) formadas em nível superior. Tanto em um tipo de estabelecimento quanto em outro, parte significativa das professoras havia realizado cursos de aperfeiçoamento, especialização e até pós-graduação. Aproximadamente 90% das docentes relataram ter realizado algum curso de formação continuada nos últimos dois anos, sendo que aqueles frequentados pelas professoras das redes municipais tinham comparativamente uma maior carga horária”. (CAMPOS, 2018, p. 13). Essa diferença vem revelar que professoras de creches conveniadas muitas vezes dispõem de formações aquém do esperado para essa etapa da educação à medida que se observa que essas entidades são desfavorecidas uma vez que faltam maior acompanhamento, supervisão e verbas vindas do poder público para um atendimento de qualidade e consequentemente não há condições de trabalho adequadas e prevalece uma formação continuada em condições precárias. Através de uma pesquisa de Gatti e Barretto (2009), foi possível também constatar que o tipo de formação inicial proporcionada aos professores mostrou que quase a metade das disciplinas abordam a parte teórica de diferentes áreas do conhecimento e as demais tratam de conhecimentos relativo à formação profissional. Porém, como ressalta o estudo, mesmo essas, “[...] pouco exploram seus desdobramentos em termos das práticas educacionais” (GATTI; BARRETTO, 2009, p. 121 apud CAMPOS, 2018). As autoras Barreto e Gatti (2009) ainda ressaltam que os cursos de Pedagogia apresentam a maioria apenas uma disciplina semestral IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 175 sobre educação infantil e muito pouco sobre práticas e vivências em creches e pré-escolas, nesse sentido é possível averiguar que a formação inicial oferecida não esteja contemplando as especificidades dessa etapa da educação. Campos (2018) salienta que as lacunas na formação inicial das professorasprecisam ser preenchidas nos programas de formação continuada, geralmente a cargo das redes municipais, preferentemente em horas previstas na jornada de trabalho ou dependendo da iniciativa das próprias docentes. Com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil há novos desafios para essa realidade a medida que será necessário rever como se dará a ampliação da estrutura curricular a qual adota as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), através dos eixos estruturantes – interações e brincadeiras – e agora com a BNCC organizada em cinco campos de experiência e garantindo vários direitos de aprendizagem e desenvolvimento, desdobrados em três faixas etárias. São mudanças importantes que sugerem todo um território a desbravar: revisão de currículos de cursos de formação, de programas, de materiais didáticos. 3 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E OS CONHECIMENTOS SOBRE AS DCNEIS Trataremos a partir de agora dos resultados parciais da pesquisa intitulada “A política de Convênio e a Educação Infantil: uma análise das propostas pedagógicas das creches conveniadas em um município do interior de São Paulo” a qual teve como objetivo analisar se a proposta pedagógica das creches conveniadas em um município no interior de São Paulo atende aos propósitos estabelecidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Como instrumentos e técnicas para a compreensão e análise da realidade pesquisada, foi utilizada a observação e a entrevista. Foram através das entrevistas que tornou se perceptível a forma como as professoras dão significado às vivências e as interpretam no seu cotidiano. Dentre os participantes da pesquisa foram entrevistas três professoras sendo uma de cada creche pesquisada e ambas eram contratadas pela entidade conveniada. Todas eram licenciadas em pedagogia e nenhuma possuía especialização. Antes de trabalharem na creche duas delas fizeram estágios em outras creches e uma delas demonstra ter trabalhado em uma IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 176 escola particular de educação infantil. No geral o tempo de trabalho na creche atual é de dois ou três anos. É importante salientar que nenhuma das profissionais tinham especialização em Educação Infantil ou qualquer outra área. Podemos dizer que os cursos de pedagogia proporcionam uma formação mais ampla para atuação nas séries iniciais do ensino fundamental, para supervisão e coordenação o que evidencia uma lacuna aos que trabalham na educação infantil já que existe singularidades que muitas vezes deixam de ser contempladas em cursos superiores de Pedagogia. A formação continuada dentro das creches é oferecida pela Secretária Municipal de Educação, uma vez ao mês. Cabe ressaltar que hoje em dia a área da educação infantil exige a ampliação dos processos de formação continuada a fim de se ter práticas pedagógicas de qualidade, no entanto cabe aos sistemas de ensino e às instituições formadoras de professores dar-lhes melhores condições para essa atuação que atendam às novas exigências da área. É importante salientar que durante entrevistas uma das professoras demonstrou certa insatisfação com as formações já que acredita ser importante que essas partam da prática com as crianças, pois reconhece que quando fica muito na teoria isso se diverge da prática. Quanto aos documentos oficiais para se trabalhar na formação das professoras, no geral as entidades baseiam o trabalho pelos documentos do MEC, especificamente pela BNCC. Nesse sentido infere-se que mesmo sendo um documento vigente desde 2009 e de caráter mandatório as DCNEIs não são um documento de uso efetivo pelas profissionais das creches. Sabe se que a BNCC é um documento importante e essencial no trabalho com educação atualmente, porém o que vem orientar as propostas pedagógicas da educação infantil são as DCNEIs. Para Oliveira (2010) as DCNEIs focam na mediação da entidade como articuladora de experiências proporcionadas às crianças, sendo dessa forma um momento importante de avaliar e aperfeiçoar as práticas vividas pelas crianças na educação infantil. Quanto aos planos de carreira foi constatado a inexistência de uma política que favoreça um plano de carreira, embora seja comum nas contratações dar oportunidade das vagas as auxiliares que já trabalham na instituição. Apesar de ser um ponto positivo o fato de oportunizar crescimento profissional dentre da entidade, ainda assim vem contrariar os dispostos na LDB nos artigos 67, 69 e 70 a qual traz que "os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais que atuam em creches IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 177 e pré-escolas no que diz respeito à formação profissional, condições de trabalho, plano de carreira e remuneração condigna" (BRASIL, 1996). Destaca-se que a atuação da professora de educação infantil no Brasil de hoje apresenta potenciais e desafios primeiramente pela importância que adquiriu a primeira etapa da educação básica no contexto das políticas públicas de educação e por outro lado pelas desigualdades que ainda encontra se entre o crescimento rápido e a demora em rever padrões de oferta de formação inicial e continuada, desenhos de carreira e condições de trabalho que ainda seguem modelos herdados do passado. Portanto, torna-se necessário levar em conta que a formação inicial e continuada é importante, mas não é o único fator a determinar a qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido na educação infantil. As pesquisas no país mostram que a atuação da professora junto às crianças pequenas no cotidiano de creches e pré-escolas também depende de outros fatores, como por exemplo: a divisão de trabalho entre os adultos na instituição; o número de crianças por professora e o número de crianças e adultos em cada sala; o currículo adotado; a organização do tempo; as rotinas seguidas no cotidiano; a organização e o arranjo dos espaços; os recursos educativos disponíveis (equipamentos, materiais, brinquedos); a presença e a atuação do coordenador pedagógico; a gestão da instituição; a relação com as famílias e a comunidade; a gestão da rede municipal e/ou da entidade conveniada. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos estudos da bibliografia sobre a formação inicial e continuada dos professores de educação infantil e após análise dos dados referente ao conhecimento das DCNEIs como parâmetro para a construção da proposta pedagógica nas instituições de educação infantil tivemos como pressuposto que após a promulgação do documento editado em 1999 e revisado em 2009, os professores poucos sabem e pouco estudam nas suas formações iniciais e continuadas sobre essas diretrizes, além de pouco fazerem uso desse documento em suas práticas pedagógicas. Pode-se constatar que falta a essas profissionais uma formação específica para a área da educação infantil, visto que para atuar nesse segmento é necessário conhecer as particularidades dessa área o que falta a muitos cursos de pedagogia a medida que proporcionam uma formação mais ampla para atuação não só na educação infantil, mas nas séries iniciais IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 178 do ensino fundamental, para supervisão e coordenação. Isso evidencia uma lacuna aos que trabalham na educação infantil já que existe singularidades que precisariam ser aperfeiçoadas e contempladas na formação inicial. Além disso ficou evidente a falta de conhecimento dos professores envolvidos nas práticas com as crianças sobre as DCNEIS e a falta de uma formação inicial e continuada que viesse de encontro com o proposto pelo documento, uma vez que foi constatado que as formações continuadas muitas vezes são descontextualizadas sem relação com a prática pedagógica dentro dessas entidades. Ademaiso poder público ainda adota a prática de convênio para atendimento a essa etapa da educação o que denuncia muitas vezes um atendimento precário com contratação de professores sem finalização dos cursos iniciais e com formações continuadas sem levar em consideração a realidade vivida dentro da creche. O que demonstra além da precariedade de atendimento uma falta de planos de carreira e valorização desse profissional da educação. REFERÊNCIAS BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.005/2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Brasília, 2014. CAMPOS, M. M. Questões sobre a formação de professores de educação infantil. Laplage em Revista (Sorocaba), vol. 4, n. Especial, set.- dez. 2018, p. 9-22. DOURADO, L. F. A formação de professores e a base comum nacional: questões e proposições para o debate. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 29, n.2, p. 367-388, mai/ago. 2013. GATTI, B. A; BARRETTO, E. S. de S. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. IMBERNÓN, F. Formação docente profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2004. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 179 KISHIMOTO, T. M. Política de formação para a educação infantil: Pedagogia e Normal Superior. Educação & Sociedade, ano XX, n. 68, Dezembro/1999. OLIVEIRA, Z. M. R. O currículo na educação infantil: o que propõem as novas Diretrizes Nacionais? Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010. SAVIANI, D. Os saberes implicados na formação do educador. In: BICUDO, M. A. V.; SILVA JUNIOR, C. A. (Orgs). Formação do educador: dever do Estado, tarefa da Universidade. São Paulo: Unesp, 1996. TARDIF, M. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários: elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas consequências em relação à formação para o magistério. In: Revista Brasileira de Educação, n. 13, 2000. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 181 ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES OBJETIVAS DO TRABALHO DOCENTE EM TEMPOS DE PANDEMIA Luzilene de Almeida Martiniano* RESUMO: Pretende-se discutir as condições objetivas e subjetivas do trabalho docente em tempos de pandemia, que tiveram que ser reestruturadas, passando a ser totalmente remotas, por ora, denominadas AARE trazendo desta forma, um desgaste físico e emocional aos docentes. Especificamente pretende-se discutir estas condições objetivas e subjetivas para o Estágio Obrigatório dentro do Curso de Serviço da UFU, no curso de Serviço Social da FACES. As aulas foram suspensas em março de 2020, e, iniciadas remotamente em agosto/2020. Já as atividades de Estágio foram autorizadas a partir da aprovação da Resolução nº 08/Jul/2020, no CONGRAD/ UFU sendo decidido que cada curso decidiria oferecer o estágio presencial ou remoto, com aval nos Colegiados e Núcleos Docentes Estruturantes. Assim, o curso de Serviço social, foi totalmente desfavorável a oferecer o Estágio Obrigatório, a disciplina Supervisão de Estágio enquanto as condições sanitárias dos equipamentos sociais não fossem seguras para os discentes. Palavras-chave: trabalho. docência. ensino remoto. pandemia INTRODUÇÃO O presente artigo pretende discutir as condições objetivas e subjetivas do trabalho docente em tempos de pandemia, que tiveram que ser reestruturadas, passando a ser totalmente remotas, por ora, denominadas AARE trazendo desta forma, um desgaste físico e emocional aos docentes. Especificamente pretende-se discutir estas condições objetivas e subjetivas para o Estágio Obrigatório dentro do Curso de Serviço da UFU, no curso de Serviço Social da FACES. Para tanto, pretende-se realizar uma reflexão Teórica a partir de Pesquisa Bibliográfica que foi iniciada em livros, artigos científicos e também a partir das diversas resoluções institucionais, informações sobre a pandemia e o ensino remoto, além dos meios eletrônicos nos diversos cursos, capacitações e reuniões online, das quais foi possível não só adquirir o conhecimento mas também trocar experiências com outros docentes que também tiveram que buscar novas estratégias para ensinar, além de adequar seus espaços em casa para garantir as condições objetivas, tais como: espaço físico, equipamentos, internets entre outros. * Docente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU); Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social, Curso de Serviço Social, Campus Pontal; lu.martiniano@ufu.br. http://lattes.cnpq.br/1425976729105406 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 182 Assim, a partir da observação empírica, bem como da minha própria experiência como docente que teve que buscar estratégias e se adequar da melhor forma possível ao ensino remoto, iniciei a pesquisa bibliográfica e também o registro das informações pertinentes que fui adquirindo nas lives, capacitações e reuniões que resultaram na discussão apresentada neste artigo. 1 PROLEGÔMENOS DO TRABALHO DOCENTE REMOTO NA UFU O ano de 2020 iniciou-se de forma bastante atípica, ocasionada pela situação de pandemia de Covid-19 que impôs a adoção de várias medidas, dentre elas o distanciamento social. Este artigo pretende incitar uma reflexão teórica sobre as condições objetivas e subjetivas do trabalho docente em tempos de pandemia. No entanto, pretende-se fazer um recorte ao discutir o Estágio Supervisionado do Curso de Serviço Social, da Universidade Federal de Uberlândia(UFU), Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social(FACES). O ano letivo na UFU foi iniciado em 09.03.2020, sendo suspenso no dia 18.03.2020, desta forma foram interrompidas todas as atividades presenciais acadêmicas dos discentes, docentes e técnicos administrativos. Sendo assim, houve somente uma aula presencial, e na semana seguinte o semestre foi suspenso, Conforme previsto na Resolução Nº 4/2020, Do Conselho de Pesquisa e Pós Graduação, que Dispõe sobre a suspensão do Calendário Acadêmico da Pós-graduação para o ano de 2020. Assim: Art. 1º Suspender o Calendário Acadêmico da Pós- graduação aprovado pela Resolução nº 8/2019, do Conselho de Pesquisa e Pós-graduação, por prazo indeterminado, a partir de 18 de março de 2020. Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação no Boletim de Serviço Eletrônico(UFU, 2020, online) O Curso de Serviço Social de Serviço Social completou em 2020 10 anos, e conta com aproximadamente com 180 alunos, teria em torno de 70 alunos no Estágio Supervisionado Obrigatório, ou seja, uns 39 alunos dando continuidade no Estágio Supervisionado III, enquanto que 31 que fizeram processo seletivo no final de 2019 para vagas de estágio, para iniciar o Estágio Supervisionado I em março de 2020. Assim, com a suspensão do calendário acadêmico, ficaram suspensas também as atividades presenciais de estágio, pesquisa e extensão. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 183 Desta forma, de março a Julho de 2020, a UFU foi discutindo e elaborando uma plano de Ação para a modalidade Remota que envolvia condições objetivas do trabalho remoto e também subjetivas criando capacitações para os docentes e adquirindo Plataformas de Ensino como a Microsoft Teams entre outros. Ao mesmo tempo, foi realizado uma pesquisa para saber as possibilidades de acesso à Internet dos alunos em suas casas, o que apresentou várias situações de alunos quenão tinham nem o computador, nem rede para se conectar. Assim, foi aberto o Edital de Inclusão Digital Edital PROAE Nº 4/2020 , e em junho de 2020, decidiu-se que as aulas remotas denominadas AARE iriam ser iniciadas em Agosto de 2020, em duas etapas 1 e 2, que os discentes poderiam cursar até três disciplinas, os professores não seriam obrigados a ofertar disciplinas. Essa realidade facilita o cumprimento das Portarias MEC os art. 343/2020 e 345/2020 e nos convidam ao entendimento e proposição de um largo uso dessa modalidade como forma de continuidade das atividades de ensino e aprendizado. Nos convida, inclusive, a reinterpretar os limites de aulas e outras atividades acadêmicas que podem ser ofertadas a distância. Muitas das mais de 2.500 Instituições de Educação Superior do país já possuíam tecnologias digitais de informação e comunicação, capazes de ofertar, em sistemas AVA e outras plataformas tecnológicas de EaD, cursos superiores, no nível de especialização e, agora, Mestrados. Cabe aqui também a observação que, referindo-se a cursos superiores independente da modalidade, presencial ou a distância, muitas DCN’s, como as de Engenharia, por exemplo, já indicam a necessidade de atividades que excedam as práticas pedagógicas de sala de aula e avancem para um conjunto diversificado de atividades de aprendizado. (BRASIL, 2020, online) No mês de Julho/2020 a Pró Reitoria de Graduação revogou a partir da Resolução nº 08/2020 que autorizou o Estágio supervisionado, preferencialmente remoto, caso os Colegiados de Curso e Núcleos Docentes Estruturantes decidam ser favoráveis á execução do Estágio. Além disso, cabe aos Colegiados do Curso e ao curso garantir que o concedente oferecesse condições sanitárias favoráveis nos locais de estágio para os discentes. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 184 § 4º Durante o período de oferta das AARE e de suspensão do Calendário Acadêmico, a critério do Colegiado do Curso e com anuência do Núcleo Docente Estruturante, o Estágio poderá ser realizado, preferencialmente de forma remota e subsidiariamente de modo presencial, parcial ou integralmente, desde que a instituição concedente expressamente assegure, em Termo de Compromisso de Estágio elaborado pelo Setor de Estágio, condições de segurança sanitária aos discentes estagiários, observadas as normativas locais de desenvolvimento do estágio".(UFU, 2020, online) Para Tanto, caberia aos cursos e seus colegiados a responsabilidade de garantir nos espaços institucionais do Serviço Social, condições favoráveis e seguras aos estagiários contra o vírus, assim o colegiado entendendo que não havia possibilidade de garantir segurança e nem possibilidade de estágio remoto, resolveu em não oferecer as disciplinas Supervisão de Estágio e Estágio Supervisionado. 2 AS CONDIÇÕES OBJETIVAS DO TRABALHO REMOTO EM TEMPOS DE PANDEMIA Assim, sem fazer muito esforço a pandemia trouxe de volta para os discursos a velha ideia do Ensino à Distância (EaD), sem a possibilidade de aulas presenciais, devido as medidas de distanciamento tornaram-se convenientemente ideal para o momento em que estamos vivendo. Mas qual seria a diferença entre o EaD e o Ensino Remoto? Assim, a pandemia e o isolamento social trouxeram uma mudança nos sistemas educacionais e de trabalho, pois todos docentes tiveram que reprogramar e se adaptar a esta nova forma de ensinar. Além das complexas questões pedagógicas relativas ao ensino remoto, a discussão sobre o contexto atual do trabalho docente envolve o tema da infraestrutura das escolas, das condições sociais e de saúde de toda a comunidade escolar. O debate envolve ainda, as questões relativas às condições de trabalho dos profissionais de educação tanto no que se refere às adaptações necessárias para a oferta de educação remota quanto à retomada das atividades presenciais, quando isso for possível, já que eles se encontram na linha de frente do processo de reorganização escolar. (UFMG, 2020, online) IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 185 Assim , em um primeiro momento os docentes buscaram as lives com temáticas de como utilizar as plataformas digitais, como inserir os alunos, motivacionais, enfim foram sendo absorvidos para um mundo novo em que você transmite as informações, mas você não sabe como o discente está absorvendo os conteúdos, você não tem todos os discentes na sua frente, você fala para a tela do computador com rostos, fotos, e o discente só aparece no vídeo se solicitado, as discussões, reflexões ficam resumidas nos chats sem qualquer possibilidade de contato. Desde o início da pandemia, muitas instituições que tinham uma trajetória marcada pela realização de atividades presenciais de ensino e não tinham qualquer experiência sistemática com EaD passaram a utilizar as chamadas ferramentas síncronas de EaD. Essas começaram a ser usadas para cumprir as obrigações escolares ou oferecer cursos livres. Isto é, a aplicação dessas ferramentas não transformou as instituições de ensino presencial em instituições de EaD, mas, sem dúvida, forçou-as a utilizá-lo de forma apressada, sem o manejo adequado e reproduzindo desigualdades estruturais na história do país. Certamente, o resultado da utilização em larga escala do ensino remoto será a elitização do ensino superior. (ANDES, 2020, online) Além disso, os docentes em suas casas tiveram que reestruturar espaços para dar suas aulas, quem não tinha um espaço apropriado teve que improvisar e melhorar os serviços da internet, se não fosse de boa qualidade travava toda hora, enfim impossibilitava totalmente o trabalho. Outro ponto importante a ser ressaltado é a forma que os docentes utilizaram para se comunicar com os discentes, grande parte dos professores ou disponibilizaram seu número de Whatsapp ou ingressaram nos grupos das salas, o que acarretou em uma intensificação de seu trabalho, pois os discentes enviam mensagens, dúvidas, reclamações, em qualquer dia e horário, o que faz com que não se tenha mais finais de semana, momentos de lazer e descanso. Tudo isto interferiu na dinâmica familiar, pois com toda a família em casa, garantir o silêncio, evitar os ruídos, os latidos de cães, tornou-se um desafio para os docentes, já que não tem como permanecer na aula sem vídeo ou som desligados. De acordo com a Associação Nacional de Docentes de Ensino Superior (ANDES), o modernamente chamado Ensino Remoto, nada mais é do que o EaD, a pandemia trouxe a possibilidade do Ensino à Distância IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 186 adentrar as Universidades Públicas, locais que ainda resistiam a esta modalidade por sua própria gênese mercantilista e sem preocupação com Formação de Qualidade. Assim, “ensino remoto” são atividades síncronas e assíncronas que meramente permitem, sem nenhum apoio pedagógico ou qualquer estrutura adequada, a transposição de aulas presenciais para virtuais. Exemplo disso é que os calendários de semestres especiais, virtuais, complementares etc. seguem a mesma lógica do calendário presencial. O resultado é a mera “digitalização” das aulas presenciais em vídeos de longa duração, compartilhamento de apresentações de PowerPoint de aulas e textos online que seriam indicados para leitura no formato presencial, assumindo-se como “a mesma coisa”. Preocupações com qualidade da educação, inclusão social e igualdade de acesso são secundarizadas e convertidas em problemas meramente técnicos. (ANDES, 2020, online) Desta forma, as dificuldades se apresentaram tanto para o docente quanto para os discentes, pois nem todos tem as mesmas condições objetivas para ministrar e/ou assistir às aulas, apesar de todos os esforços, ambos os lados foram prejudicados, no âmbito da Universidade Federal Públicanem todos os discentes dispõem de Internet ou equipamentos para o acesso, ou seja, muitos utilizavam a Internet dentro da Universidade apenas, outros não tinham espaço adequado em casa para assistir às aulas, enfim todos de alguma forma tiveram se esforçar e buscar estratégias para acompanhar as aulas, pois nem todos foram contemplados com o Edital de Inclusão Digital, justamente por a demanda ser bem grande. 3 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO PREFERENCIALMENTE REMOTO O Estágio em Serviço Social acontece nos espaços profissionais do Serviço Social, e necessitam da Supervisão Direta do Profissional Assistente Social, o aluno irá aprender in loco como é o cotidiano profissional do Assistente Social, irá ter contato direto com as pessoas que estão sendo atendidas na instituição, desta forma não há como fazer atendimentos à população de forma remota, impossibilitando o Estágio Remoto, pois os Assistentes Sociais são uma categoria profissional que continuou atuando na linha de frente no combate ao COVID-19. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 187 Assim, após reunir-se o Colegiado do Curso entendeu que no Curso de Serviço Social não havia condições de realizar o Estágio de forma remota, pois os locais do estágio não tem como garantir as condições sanitárias, pois somente o uso de máscaras e álcool gel não ofereceriam segurança suficiente para os alunos, “desde que a instituição concedente expressamente assegure, em Termo de Compromisso de Estágio elaborado pelo Setor de Estágio, condições de segurança sanitária aos discentes estagiários, observadas as normativas locais de desenvolvimento do estágio". (UFU, 2020, online) Por outro lado, não havia como saber das condições de saúde dos discentes, se tinham comorbidades, se moravam com alguém que fazia parte do grupo de risco, enfim, inúmeras questões que poderiam propiciar contaminação e propagação do Vírus. No Brasil conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde até o mês de outubro de 2020 foram registrados 155.962 óbitos, e 5.325.682 diagnósticos de Covid-19, demonstrando que por muito tempo, as medidas sanitárias e o distanciamento social vão minimante ser uma das garantias para baixar os índices de infectados. Finalizando, ressalto que o trabalho remoto trouxe mais precarização do trabalho dos docentes, pois realiza-se atividades que antes eram realizadas no ambiente acadêmico sem que demande a presença física do docente. Ao contrário do EAD que tem toda uma estrutura já montada e exige preparação técnica específica orientada por profissionais preparados para capacitar o docente, o trabalho remoto não exige nenhuma preparação prévia, ou seja, atividades administrativas e burocráticas continuaram em reuniões virtuais de trabalho intensamente, sendo que para muitos o trabalho remoto se resume em dar aulas online, por algumas horas ao dia. Em outras palavras, o cumprimento das atividades remotas deve considerar as condições adversas criadas pela pandemia no ambiente residencial: o estado de saúde do profissional, a composição familiar, a presença de pessoas que fazem parte dos grupos de maior risco, a mobilidade, as condições financeiras e de acesso tecnológico às plataformas de pesquisa, desigualdades de gênero, capacitismo etc. Daí a necessidade de aprimorar as condições de trabalho e a sua organização em torno do indivíduo, não o contrário. (ANDES, 2020, online) IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 188 Finalizando, destacamos que entendemos que no momento por conta da Pandemia, o Ensino Remoto seria a opção mais viável, contudo faz-se necessário que entendamos que não há como garantir condições sanitárias seguras sem que se tenha uma vacina, que somente o uso de equipamentos e higienização com álcool são insuficientes para que voltemos as aulas presenciais, e ao Estágio. No entanto, faz necessário que tanto professores como alunos cuidem-se pois estão todos sobrecarregados, e muitos em estado de depressão, além da insegurança e sensação de constante perigo de contaminação que a Pandemia nos traz, faz-se necessário que se estabeleça um limite para o trabalho, pois fomos todos sendo absorvidos de tal forma que muitas vezes dispensamos horas de descanso para realizar cada vez mais o trabalho. REFERÊNCIAS ANDES. O Ensino Remoto e o Desmonte do Trabalho Docente. Projeto do capital para a educação. v. 4, 2020.Disponível em: https://www.andes. org.br/conteudos/noticia/aNDES-sN-lanca-cartilha-sobre-ensino-remoto- e-o-desmonte-do-trabalho-docente1. Acesso em: 15 out. 2020. Cardoso, A. C. M.; Artur, K.; Oliveira, M. C. S. O trabalho nas plataformas digitais: narrativas contrapostas de autonomia, subordinação, liberdade e dependência. Revista Valore. Juiz de Fora - MG: UFJF/ UFRJ. Disponível em: https://revistavalore.emnuvens.com.br/valore/ article/view/657. Acesso em: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19. PARECER HOMOLOGADO PARCIALMENTE Cf. Despacho do Ministro, publicado no D.O.U. de 1º/6/2020, Seção 1, Pág. 32. Ver Parecer CNE/CP nº 9/2020. Disponível em: Acesso em: NETO, G. M. P. A precarização do trabalho docente em tempos de ensino remoto. Brasil de Fato. 28/09/2020. Disponível em: https://www. brasildefato.com.br/2020/09/28/a-precarizacao-do-trabalho-docente-em- tempos-de-ensino-remoto. Acesso em: 18 out. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 189 UFMG. Trabalho Docente e Pandemia. Relatório Técnico. Gestrado. Disponível em: http://abet-trabalho.org.br/relatorio-tecnico-trabalho- docente-em-tempos-de-pandemia. Acesso em: 30 set. 2020. UFU. Resolução nº 8/2020, do Conselho de Graduação. Altera e acrescenta dispositivos à Resolução nº 7/2020, do Conselho de Graduação, de 10 de julho de 2020. Uberlândia, 2020. Disponível em: http://www.reitoria.ufu.br/Resolucoes/ resolucaoCONGRAD-2020-8.pdf. Acesso em: UFU. Edital PROAE nº 4/2020 21 de julho de 2020. Uberlândia, 2020. Disponível em: http://www.prograd.ufu.br/acontece/2020/07/programa- institucional-emergencial-de-inclusao-digital. Acesso em: 20 out. 2020. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 191 FORMAÇÃO DOCENTE: ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO PERÍODO DE 1990 ATÉ OS DIAS ATUAIS Renata Maria P.C. de Medeiros*1 Lucimary Bernabé P. de Andrade** RESUMO: O trabalho tem como finalidade analisar as políticas públicas sobre a formação do docente de Educação Básica desde a década de 1990 até os dias atuais. Metodologicamente, este trabalho tem caráter bibliográfico e documental e utiliza a concepção histórico-dialética para a compreensão e análise dos documentos em pauta. O estudo foi feito através da exploração as orientações contidas em documentos oficiais publicados pelos governos brasileiros que se sucederam. O ensaio ampara-se teoricamente em autores como Ball (2006), Dourado (2011), Freitas (2002, 2007, 2013), Shiroma, Moraes e Evagelista (2004), dentre outros. Como resultado da investigação compreende-se que as muitas ações e normatizações do sistema educacional brasileiro, incluindo a formação dos profissionais da educação tratam de uma continuidade no alinhamento ao projeto neoliberal de construção de um molde genérico e abstrato de Educação para os países periféricos. Palavras-chave: formação docente. políticas públicas. educação. INTRODUÇÃO A formação de professores implica a ampliar o olhar e contextualizar as informações a partir da realidade histórica, política e social do país, reconhecendo nos movimentos dos diversos atores envolvidos, a concepção de um estado dedireitos e o lugar de destaque que a educação ocupa. Dessa maneira, traçar os cenários mundial e nacional é condição para tratar a formação para a docência, pois são realidades interdependentes (BALL, 2006). Relativamente ao cenário mundial, é preciso destacar as discussões sobre a formação docente para a educação básica, ocorridas a partir da década de 1990, que consideram questão estratégica para o desenvolvimento da nação e consequente construção da cidadania. Referida compreensão mostrou-se presente no discurso das organizações internacionais, que cobravam dos países considerados em desenvolvimento o avanço das políticas de formação de professores, com * Unesp/Franca. Mestre do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da Faculdade de Ciências, Humanas e Sociais da Unesp/Franca. renatapcmedeiros@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/3874396209381933 ** Unesp/Franca. Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da Faculdade de Ciências, Humanas e Sociais da Unesp/ Franca. lucimarypandrade@yahoo.com.br. http://lattes.cnpq.br/2656895407731506 IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 192 a intenção de obter melhores índices nas avaliações da Educação Básica, imposição que se verifica para a manutenção do financiamento externo. Além disso, os professores, as instituições de formação e a sociedade em geral, concordam com a relevância da formação docente para a educação básica. No panorama internacional a defesa da formação docente teve como marcos fundamentais ações como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) que se manifestaram desde 1966 relativamente a situação do profissional que atua na educação. Em 1990 a Conferência de Jontiem, se revelou outro marco importante acerca da formação docente no cenário mundial, uma vez que criou a denominada “revolução educacional”, movimento que convocava os países a examinar os níveis de formação dos seus professores. No mesmo período, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL – assinou um documento que apontava ser necessário mudanças no campo educacional para adequar o ensino as novas necessidades do mundo produtivo, com a inclusão do perfil do profissional do futuro, que deveria ser construído durante a educação básica. Shiroma, Morais e Evangelista (2004) analisam o perfil desse profissional enfatizando [...] versatilidade, capacidade de inovação, comunicação, motivação, destrezas básicas, flexibilidade para adaptar- se as novas tarefas, habilidade de cálculo, ordenamento de prioridades e clareza na exposição, que deveriam ser construídas na Educação Básica (2004, p. 63). Declarações com o mesmo tema são observadas na Conferência da OIT/Unesco (2000) coordenada pelo francês Jacques Delors, que retratou a profissão docente e seu lugar no processo de mudança da educação e o seu papel social, culminando em relatório elaborado pela “Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI”, que mostrou como se apresentava a realidade e apontou o caminho a ser percorrido para se configurar as políticas educacionais e de formação de professores para que fosse possível alcançar a “educação para todos”. Outro marco relevante foi a Ação de Dakar (2000), onde tendo como objetivo a “Educação para Todos”, os países participantes assumiram o compromisso de elaborar políticas públicas e programas de formação baseado em uma visão de educação, de ser humano e de desenvolvimento, nos moldes preconizados por Delors. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 193 Com efeito, no Brasil as políticas públicas na área educacional foram se originando de um panorama conceitual de relações internacionais, e com bem pontua Cortesão, no mesmo ideário Ball (2006) ao avaliar a força dos “contextos de influência” das agências internacionais que determinam os padrões de qualidade para a educação e para a formação de professores, não raro se aproximam das ideias de mercado, tanto no que tange a linguagem bem como na implementação de modelos oriundos de outros países. Desse modo, segundo o autor, A criação de políticas nacionais é, inevitavelmente, um processo de “bricolagem”, um constante processo de empréstimo e cópia de fragmentos e partes de ideias de outros contextos, de uso e melhoria das abordagens locais já tentadas e testadas, de teorias canibalizadoras, de investigação, de adoção de tendências e modas e, por vezes, em investimento em tudo aquilo que possa vir a funcionar (BALL, 2006, p.102) Assim, no Brasil a política de formação de professores aparece na agenda do poder público, no decorrer da história, devido a pressões de mecanismos internacionais, se revelando em situações pontuais, notadamente por via de constituições, decretos, e de maneira especial, nas leis de diretrizes e bases da educação nacional. Neste prisma, este artigo realiza uma leitura crítica comparativa nas orientações contidas em documentos oficiais publicados pelos governos brasileiros que se sucederam.Metodologicamente, este trabalho tem caráter bibliográfico e documental e utiliza aconcepção histórico-dialética para a compreensão e análise das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial e continuada docente, definidas pela Resolução CNE/CP nº 01, de 18 de fevereiro de 2002, Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015 e a Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019. DESENVOLVIMENTO Na década de 1990, o Brasil apresentava altas taxas de analfabetismo, bem como desqualificação docente e a insatisfação por parte desses profissionais devido à ausência de reconhecimento e valorização profissional. Concomitante a situação descrita, as novas exigências de reestruturação econômica e social exigiam maior preparação da mão de obra para o mercado de trabalho, juntamente com a pressão das IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 194 organizações nacionais e internacionais, contribuíram para a urgência de ajustes nas políticas educacionais. Da análise do período que antecedeu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN (BRASIL, 1996) o panorama da educação no país contava com uma população analfabeta, na faixa etária acima dos dez anos, superior a 13% e do quadro docente mais da metade (66,5%) dos professores da educação básica não tinham formação em nível superior. É possível analisar através dos dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) da época, que 9,6% das funções docentes eram apenas de nível fundamental, com mais de 190 mil professores sem a devida habilitação, ou seja, leigos. Diante disso, a necessidade de melhoria da educação básica, culminou na revisão dos parâmetros da formação dos professores, vinculando a melhoria na qualidade do ensino traduzida pelas condições efetivas de formação, remuneração e de trabalho dos professores. Outrossim, a chamada “década da educação” representa a crise do modelo capitalista onde as políticas neoliberais alcançam espaços cada vez mais sólidos em diferentes países, determinando os rumos da educação e estabelecendo aos países exigências de se moldarem a nova ordem. Esse período caracterizou uma recentralização como aponta Sudbrack (2002), que argumenta que as metas essenciais demonstram um Estado que toma a centralidade das ações e estabelece a direção da educação e da formação de professores, tendo como medidas fundamentais o Plano Decenal de Educação para todos de 1993, a Lei 9131/95 que cria normas para o Conselho Nacional de Educação (CNE), a LDBEN 9496/96, o Plano Nacional de Educação de 2001, juntamente com estas medidas há uma diversidade de decretos, resoluções e portarias. Por outro lado, mesmo levando em consideraçãoque a questão da formação de professores demorou alcançar importância nos debates educacionais brasileiros, o que só veio a acontecer em meados dos anos 1990, é preciso destacar que referida discussão só alcançou destaque com a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos, lançado em 1993 e em seguida com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) em 1996, que após longo processo de debates marcado por muitas discussões (MONLEVADE, 2000) resultaram em profundas mudanças, tanto nos sistemas de ensino como na compreensão das características do trabalho docente. IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 195 Com a promulgação da nova Lei educacional, apareceram diversas propostas para a formação de professores, uma vez que, grande parte dos professores do Ensino Infantil e Fundamental, apresentava apenas com a formação de Ensino Médio na modalidade Magistério, bem como, uma grande quantidade de professores leigos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/96 (BRASIL, 1996) destacou a formação inicial e continuada dos professores como uma forma de garantir a qualidade da educação básica, preceituando a formação exigida para o exercício do magistério na educação básica, como também a formação inicial e continuada docente. Das determinações contidas nos preceitos da LDBEN foram propostas algumas opções do governo para a política de formação docente. Desse modo, no período que sucede a LDBEN (BRASIL, 1996), diversos programas e legislações foram implantadas para a formação inicial e continuada de professores da educação básica. Como já exposto, analisaremos as diretrizes curriculares nacionais para a formação docente. A formação dos professores passa a se situar em um panorama maior de planificação na educação do país, juntamente com outros assuntos educacionais, através do Plano Nacional de Educação – PNE, Lei 10.172 de 09 de janeiro de 2001, de acordo com o previsto na LDBEN. O tema é tratado no tópico referente à “Formação dos Professores e Valorização do Magistério”, apresentando metas e estratégias para admissão dos docentes e demais profissionais da educação consoante às qualificações impostas no art. 62 da LDBEN, conforme etapas e modalidades de ensino. Assim, em razão do estabelecido pela LDBEN e pelo PNE de 2001, o Conselho Nacional de Educação estabeleceu a Resolução CNE/ CP nº 1/2002, de 18 de fevereiro de 2002 (BRASIL, 2002), que fixou as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para a formação de Professores da Educação Básica, que determinou os princípios, fundamentos e procedimentos, que deveriam ser observados na organização institucional e curricular dos Institutos Superiores que ofereciam cursos de licenciatura para todos os níveis e modalidades de educação básica. Além disso, os Institutos de Educação Superiores teriam uma base comum, permitindo a integração na formação de professores para os diversos níveis de ensino, possibilitando dessa forma, as primeiras adaptações nos currículos de formação docente. Em conformidade com o Parecer CNE/CP nº 9/2001 as aludidas diretrizes tinham como escopo estabelecer uma base comum de formação IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 196 docente baseada em competências, a serem desenvolvidas ao longo do processo formativo no ensino superior (BRASIL, 2001). O Parecer explicita perante o âmbito de elaboração e publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação dos docentes da Educação Básica, que as DCNS são: [...] fruto de um longo processo de crítica, reflexão e confronto entre diferentes concepções sobre a formação docente e suas práticas, para o qual contribuíram o pensamento acadêmico, a avaliação das políticas públicas em educação, os movimentos sociais, as experiências inovadoras em andamento em algumas Instituições de Ensino Superior. Ela busca descrever o contexto global e o nacional da reforma educacional no Brasil, o quadro legal que lhe dá suporte, e as linhas orientadoras das mudanças dos cursos de formação de professores. Com base no diagnóstico dos problemas detectados na formação dos professores, ela apresenta princípios orientadores amplos e diretrizes para uma política de formação de professores, para sua organização no tempo e no espaço e para a estruturação dos cursos (BRASIL, 2001, p. 6) Em que pese o avanço em termos de política curricular nacional, as DCNs para formação de professores em nível superior sofreram acirradas críticas, dentre as quais ressalta-se o destaque dado ao desenvolvimento de competências no processo formativo do docente (SCHEIBE, 2003; SCHEIBE e BAZZO, 2013; FREITAS, 2002; 2007). Segundo Scheibe e Bazzo (2013) com base nos pressupostos e orientações oriundas das DCNs de 2002, nasceu à obrigação de haver uma reconstrução na organização e desenvolvimento dos cursos de Licenciatura, da mesma maneira, a exigência de promoção de mudanças de concepção dos formadores. As instituições de formação de professores iniciaram um debate e implementação de reformas nas estruturas curriculares dos cursos de licenciaturas, visando atender às normas legais estabelecidas. As autoras destacam que é preciso considerar também, as descontinuidades das reformas dirigidas aos professores foram influenciadas por fatores políticos e culturais: Dentre eles destacam-se, de um lado, a ausência de uma política de Estado que assuma sua responsabilidade pela formação inicial dos professores com a qualidade requerida pelo mundo contemporâneo. De outro, o pathos institucional revelado, entre outros indicadores, pela IV Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social (SIPPEDES) 197 força de posicionamentos rigidamente estratificados em relação à natureza e ao valor do conhecimento científico e ao papel social da educação superior voltada a formar professores, colocando esta última tarefa em situação francamente subalterna àquela. É importante observar que tal posicionamento é consentâneo a posturas político- institucionais que privilegiam o trabalho acadêmico de investigação e produção do conhecimento, em detrimento do trabalho da docência (SCHEIBE; BAZZO, p.23, 2013). Ainda, em que pese as críticas a respeito da metodologia proposta pelas DCNs de 2002, o documento sofreu rejeição pois, quando da aprovação dessas Diretrizes Curriculares para Formação de Professores a mesma ocorreu sem um diálogo mais efetivo com os movimentos educacionais organizados e representaram as políticas de ajuste da educação às reformas estruturais do Estado Brasileiro. Elas definiram a reorganização dos currículos das licenciaturas implantados por algumas Instituições de Educação Superior - IES a partir de 2002 e se constituíram referência, até então, para a formação de professores. Diante da necessidade de reformulação, a formação de professores passa a ser revista, dando origem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica – Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015, que tiveram suas bases consolidadas além da Constituição Federal, nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nos debates do Conselho Nacional de Educação que transcorreram no intervalo de tempo que transpassa as duas publicações, nas vinte metas do Plano Nacional de Educação bem como em todos os estudos e discussões ocasionadas entre os anos de 2010-2014 na CONAE (Conferência Nacional). As expectativas depositadas sobre as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica foram consideráveis, ou seja, em todo documento se vislumbrava a perspectiva de formação dos formadores da escola, do ensino e da aprendizagem em todos indistintamente. Além disso, o conteúdo