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DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 AULA 02 DAS PESSOAS JURÍDICAS (arts. 40 a 69; 75 e 78, CC) ���Itens específicos previstos no edital que serão abordados nesta aula: Pessoa Jurídica: conceito, classificação, começo e fim de sua existência legal, desconsideração. Subitens: Das Pessoas Jurídicas. Conceito. Classificação: Pessoa Jurídica de Direito Público e de Direito Privado. Personalidade Jurídica. Início da Personificação e Término de sua existência legal. Registro e Representação. Domicílio. Responsabilidade. Grupos não personificados. Abuso e Desconsideração da Personalidade Jurídica. INTRODUÇÃO O homem, desde seus primórdios, sempre teve necessidade de se agrupar para garantir a subsistência e atingir fins comuns. A necessidade de circulação de riquezas como fator de desenvolvimento, fez com que se estabelecessem nas sociedades grupos de atuação conjunta na busca de objetivos semelhantes. E o Direito, ante a necessidade crescente de agilidade nas negociações, não ignorou estas unidades coletivas. Portanto, a pessoa jurídica é fruto desta evolução histórica-social. CONCEITO De forma técnica pessoa jurídica pode ser definida como a união pessoas naturais ou de patrimônios, com o objetivo de atingir determinadas finalidades, sendo reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Como pode ser sujeito de relações jurídicas, possui personalidade jurídica. E esta é distinta da personalidade dos membros que a compõe. Observação. A doutrina usa outras expressões para se referir às pessoas jurídicas, tais como: pessoa moral, intelectual, coletiva, abstrata, fictícia, “ente de existência ideal”, etc.. Na realidade tais expressões não foram adotadas pelo nosso ordenamento jurídico, mas sim por leis de outros países, sendo “importadas” pela nossa doutrina. Mas os examinadores aproveitam e pedem essa a terminologia nas provas. Não é raro cair a seguinte indagação em um concurso: “quais as características da pessoa moral?” À primeira vista pode-se pensar que pessoa moral é sinônimo de pessoa física (pois somente uma pessoa física é que teria, digamos, ‘moral’). No entanto, o correto é dizer que pessoa moral (expressão adotada pela França) é sinônimo de pessoa jurídica. Portanto, prestem atenção quanto aos sinônimos usados nas questões pelos examinadores, pois podem “derrubar” um excelente candidato, que conhece a matéria, mas desconhecia a expressão. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 As pessoas jurídicas também têm direito à personalidade (identificação, liberdade para contratar, boa reputação, etc.), aos direitos reais (pode ser proprietária, usufrutuária, etc.), aos direitos industriais (art. 5°, inciso XXIX da CF/88), aos direitos obrigacionais (podendo comprar, vender, alugar ou contratar de uma forma geral) e até mesmo aos direitos sucessórios (podem adquirir bens causa mortis, ou seja, por testamento). É interessante acrescentar que os dispositivos relativos aos direitos da personalidade da pessoa natural (arts. 11 a 21, CC) também podem ser aplicados em relação à pessoa jurídica, no que couber, por força do art. 52, CC. E é por isso que uma pessoa jurídica tem direito ao nome, à marca, à imagem, à propriedade, ao segredo, etc. Segundo a doutrina ela tem honra objetiva, pois tem patrimônio, reputação, bom nome, etc. Assim, no campo do Direito Civil, a pessoa jurídica pode ser vítima e sofrer danos morais, tendo, inclusive, direito de acionar o Poder Judiciário para exigir reparação desses danos. Trata-se da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça. NATUREZA JURÍDICA Diversas teorias tentam identificar a natureza da personalidade da pessoa jurídica. Uma corrente doutrinária nega a sua existência (negativista). Mas a corrente afirmativista é a majoritária. E esta se divide basicamente em dois grupos, sendo que cada um deles possui uma vasta subdivisão: a) Teorias da Ficção; b) Teorias da Realidade. Como nosso curso é objetivo, visando concursos públicos, vamos deixar de lado a análise das inúmeras teorias sobre natureza da pessoa jurídica e nos ater somente ao que tem prevalecido nas provas e exames. Direto ao Ponto: de todas as teorias, a que melhor se adapta ao nosso ordenamento jurídico, sendo adotada pelos mais renomados doutrinadores e que tem caído em concursos (e é isso o que nos interessa) é a Teoria da Realidade Técnica, onde a pessoa jurídica existe de fato (e não como uma mera abstração). O próprio Estado reconhece a existência de grupos de pessoas que se unem na busca de determinados fins, entendendo ser necessária a existência de personalidade jurídica própria, distinta da dos membros que a compõe. São pressupostos de existência da pessoa jurídica: a) Vontade humana criadora. Trata-se da affectio societatis, ou seja, intenção específica dos sócios em constituir uma sociedade. b) Obediência aos requisitos impostos pela lei para sua formação. As pessoas jurídicas somente existem porque a lei assim o permite. Portanto, ela necessita se submeter aos requisitos impostos pela própria lei. c) Licitude de sua finalidade, ou seja, deve ter objeto lícito abrangendo em seu conceito: a moralidade dos atos e os objetivos perseguidos. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 33 REPRESENTAÇÃO Por não poder atuar por si mesma, a pessoa jurídica deve ser representada por uma pessoa física ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Pelo art. 47, CC, todos os atos negociais exercidos pelo representante, dentro dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a pessoa jurídica, que deverá cumpri-los. Mas se o representante extrapolar estes poderes, responderá pessoalmente pelo excesso, ou seja, a sociedade fica isenta de responsabilidade perante terceiros (exceto se foi beneficiada com a prática do ato, quando então passará a ter responsabilidade na proporção do benefício auferido). A doutrina chama isso de teoria ultra vires societatis (além do conteúdo da sociedade), caracterizada pelo abuso de poder do administrador, ocasionando violação do objeto social lícito para o qual foi constituída a empresa. 1. Pessoas jurídicas de direito público interno são representadas (art. 12, I e II do Código de Processo Civil): a) União, Estados, Distrito Federal e Territórios: por seus Procuradores. b) Municípios: por seu Prefeito ou Procurador. 2. Demais pessoas jurídicas (art. 12, VI, CPC): em regra é a pessoa indicada em seu ato constitutivo. Na omissão, a representação será exercida por seus diretores. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva (gerência colegiada), as decisões serão tomadas pela maioria dos votos, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso (art. 48, CC). Se houver vacância geral na administração o Juiz deverá nomear um administrador provisório (art. 49, CC). Como no mundo dos negócios é praticamente impossível o administrador de uma grande empresa estar presente a todos os eventos, pode-se outorgar mandato, que é uma espécie de contrato. Ou seja, transfere-se parte dos poderes para que uma terceira pessoa (mandatário) pratique atos em nome da pessoa jurídica (mandante). ���Não confundir ��� Mandatário X Preposto. Segundo o art. 653, CC, “opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses”. Já o preposto é uma figura que encontramos no Direito do Trabalho. Trata-se de um empregado da empresa, que preferencialmente exerce cargo de gerente ou outro de confiança e que tenha conhecimento dos fatos constantes da reclamatória trabalhista, com capacidade para defenderou esclarecer os temas e devidamente autorizado (carta de preposição) a representá-la junto à Justiça do Trabalho. CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS: A) Quanto à Nacionalidade Elas podem ser consideradas como nacionais ou estrangeiras, tendo em vista sua articulação e subordinação à ordem jurídica que lhe conferiu personalidade, sem se ater, em regra, à nacionalidade dos membros que a compõe e à origem do controle financeiro. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 44 Sociedade Nacional é a organizada conforme a lei brasileira e tem no País a sede de sua administração (arts. 1.126 a 1.133, CC). A Sociedade Estrangeira não poderá funcionar no País sem autorização do Poder Executivo e ficará sujeita aos Tribunais brasileiros quanto aos atos aqui praticados (arts. 1.134 a 1.141, CC). B) Quanto à Estrutura Interna 1) Universitas Personarum – nelas, o que é importante é o conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única. O objetivo é o bem-estar de seus membros. Ex.: as sociedades (de uma forma geral) e as associações. 2) Universitas Bonorum – nelas, o que é importante é o patrimônio personalizado destinado a um determinado fim e que lhe dá unidade. O objetivo é o bem-estar da sociedade. Ex.: fundações. O objeto e o patrimônio das fundações são seus elementos essenciais. C) Quanto às Funções e Capacidade Podem ser divididas em pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado (art. 40, CC). Este é o item mais importante, pois é o que tem maior incidência em concursos. Daremos agora uma visão geral e panorâmica sobre o tema. A seguir vamos analisar cada uma das espécies e subespécies, de forma minuciosa. I. DIREITO PÚBLICO A) Interno (art. 41, CC) 1) Administração Direta: União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios. 2) Administração Indireta: autarquias, associações e demais entidades criadas por lei (fundações públicas). B) Externo (art. 42, CC): Estados estrangeiros e demais pessoas regidas pelo direito internacional público. II. DIREITO PRIVADO (art. 44, CC) A) Universitas Personarum 1) Sociedades: a) Simples. b) Empresária. 2) Associações, partidos políticos e organizações religiosas. 3) Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). B) Universitas bonorum 1) Fundações particulares DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 55 I. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO O Estado é a pessoa jurídica de direito público por excelência. Todo Estado independente é formado por três elementos essenciais: a) povo; b) território; e c) governo soberano. Costuma-se dizer que o Estado é o povo, em dado território, politicamente organizado, segundo sua livre e soberana vontade. I.1) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO Segundo o art. 42, CC, são pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros (outros países soberanos, como o Uruguai, Canadá, Dinamarca, etc.) e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público, ou seja, as uniões aduaneiras com o objetivo de facilitar o comércio exterior (ex.: Mercosul) e os organismos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos Estados Americanos), FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - Food and Agriculture Organization), etc. Certa vez vi cair em um concurso: A Santa Sé é: ...? Ora, a Santa Sé é considerada como um País autônomo. É o Estado do Vaticano, a cúpula governativa da Igreja Católica. Portanto, a resposta considerada como correta foi: “pessoa jurídica de direito público externo”. I.2) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO São aquelas cuja atuação se restringe aos interesses e limites territoriais do Estado. É a nossa nação, politicamente organizada, nos moldes previstos na Constituição Federal de 1988. A) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA OU CENTRALIZADA (art. 41, I, II e III, CC) São elas: União, Estados-membros, Distrito Federal, Territórios e os Municípios legalmente constituídos. Costuma-se dizer que o Brasil é detentor de soberania, ou seja, não deve obediência jurídica a nenhum outro Estado. É juridicamente ilimitada no plano interno e somente encontra limites na soberania de outro País. Já as demais entidades dentro do Brasil são detentoras de autonomias. A autonomia dos entes da federação brasileira está devidamente delimitada pelo Direito. Esta autonomia, na verdade, é o exercício do poder do Estado com a observância dos parâmetros jurídicos estabelecidos em uma norma de hierarquia superior (em outras palavras: a própria Constituição Federal). A União designa a nação brasileira, nas suas relações com os Estados- membros que a compõe e com os cidadãos que se encontram em seu território. Observação. República Federativa do Brasil e União são termos usados para significar os mesmos entes; há uma identidade entre eles. No entanto a doutrina costuma afirmar que a expressão República Federativa do Brasil é usada no plano externo, para identificar o Brasil perante os outros países. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 66 Neste caso seria uma pessoa jurídica de direito público externo (ou internacional). Já a expressão União é usada no plano interno (pessoa jurídica de direito público interno). No Direito Constitucional aprendemos que na Federação há um laço de unidade entre as diversas coletividades federadas, de modo a mostrá-las, em suas relações internacionais, como um Estado Único. Lembrem-se de que entre os entes da Federação (ex: a União e os Estados- membros) não há hierarquia, mas sim uma coordenação harmônica de poderes distribuídos pela Constituição. Há assim um só Estado soberano/federal (a União) e Estados-membros/federados, sendo que ambos são titulares do poder para produzir o Direito (ou seja, possuem competência legislativa). Os Estados federados (Estados-membros) possuem autonomia administrativa, competência e autoridade legislativa, executiva e judiciária sobre os negócios locais. Os Municípios legalmente constituídos também se encaixam nesta classificação, pois foram assegurados pela Constituição Federal; eles têm interesses e economia próprios. Também há previsão expressa em relação ao Distrito Federal. Mas em relação a ele a natureza jurídica é controvertida. Alguns dizem que ele é um município anômalo; outros que é uma autarquia territorial; outros que é uma circunscrição territorial assemelhada aos territórios. Finalmente outros afirmam que é “mais do que um município e menos que um Estado”. Possui previsão expressa no art. 32, CF/88. Vejamos: a) o Distrito Federal rege-se por uma Lei Orgânica (típica de Municípios) e não por uma Constituição Estadual (típica dos Estados-membros); b) o Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa (mistura de Câmara de Vereadores – Poder Legislativo Municipal e Assembleia Legislativa – Poder Legislativo Estadual) composto por Deputados Distritais eleitos, acumulando as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios; c) o Chefe do Poder Executivo é um Governador (típico dos Estados) Distrital e não um Prefeito (típico dos Municípios); d) é proibida a sua divisão em municípios. Há uma grande crítica em relação ao texto do art. 18, §1o, CF/88, pois ele afirma que Brasília é a Capital Federal, quando se devia ter mantido a nossa tradição e correção técnica afirmando que “o Distrito Federal é a capital da União”. Na realidade Brasília é o nome de uma das Regiões Administrativas do Distrito Federal (RA-I). Ela é um núcleo urbano, uma cidade que serve de centro políticoà União, mas não pode ser considerada como um Município, juridicamente falando. Esta região, em termos urbanos, compreende as “Asas” Sul e Norte e a área central do chamado “Plano Piloto”. No entanto a Lei Orgânica do Distrito Federal não menciona os limites de Brasília. Já as demais aglomerações urbanas situadas fora do Plano Piloto pertencem a outras Regiões Administrativas. Embora o Decreto nº 19.040/98 tenha proibido a expressão, ainda se costuma usar o termo cidade-satélite (ex.: Gama, Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Planaltina, Ceilândia, Guará, etc.). Chamo atenção para os Territórios. Como sabemos, já não existem mais os Territórios no Brasil. Mas apesar de não mais existirem há previsão expressa na Constituição Federal, possibilitando a criação de eventual novo DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 77 Território, por meio de Lei Complementar (arts. 18, §2° e 48, inciso VI, CF/88). Para o Direito Civil ele será considerado como sendo uma pessoa jurídica de direito público interno, pois há previsão expressa no art. 41, inciso II, CC. Alguns autores classificam os territórios como “autarquias territoriais” dando a entender que seriam pessoas jurídicas de direito público interno de administração indireta. Podemos dizer que o Brasil, nos termos da Constituição Federal de 1988, possui: a) Forma de Governo: republicano (eletividade e temporariedade dos mandatos do Chefe do Poder Executivo). b) Forma de Estado: federal (descentralização política: em um mesmo território há diferentes entidades políticas autônomas – União, Estados, Distrito Federal, Municípios). c) Sistema de Governo: presidencialista (Presidente da República é o único Chefe do Poder Executivo, acumulando as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo, cumprindo mandato por prazo determinado, não dependendo da confiança do Poder Legislativo para a investidura e o exercício do cargo). ���CONCLUSÃO: O Brasil é uma República Federativa, com sistema Presidencialista. Além disso (doutrina), possui como Regime de Governo o Estado Democrático e de Direito. B) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DE ADMINISTRAÇÃO INDIRETA OU DESCENTRALIZADA (art. 41, IV e V, CC) São órgãos descentralizados, criados por lei, com personalidade jurídica própria para o exercício de atividade de interesse público. São eles: a) Autarquias. b) Associações Públicas (Lei n° 11.107/05). c) Demais entidades de caráter público criadas por lei. Vejamos cada um destes itens: A) AUTARQUIAS São pessoas jurídicas de direito público, que desempenham atividade administrativa típica, com capacidade de auto-administração. Embora ligadas ao Estado, elas desfrutam de certa autonomia, possuindo patrimônio e orçamento próprio, mas sob o controle do Executivo que o aprova por Decreto e depois o remete ao controle do Legislativo. Elas são criadas por lei específica, possuindo atribuições estatais específicas, destinadas à realização de obras e serviços públicos, de cunho social, geralmente ligadas a área da saúde, educação, etc. (exclui-se, portanto as de natureza econômica ou industrial). A autarquia nasce com a vigência da lei que a instituiu; não há necessidade de registro. Seus atos são considerados como administrativos. Como possui personalidade jurídica própria, ela se desliga do ente criador. Portanto, se alguém quiser discutir judicialmente uma revisão em sua aposentadoria, deve ingressar com ação judicial não contra a União (entidade criadora), mas contra o próprio INSS como entidade autônoma e com patrimônio próprio. Ex.: INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), INCRA (Instituto Nacional de DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 88 Colonização e Reforma Agrária), CVM (Comissão de Valores Mobiliários), USP (Universidade de São Paulo), CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Imprensa Oficial do Estado, etc. Observação: algumas autarquias como o BACEN são consideradas “autarquias de regime especial”, posto que o legislador conferiu a elas maior autonomia perante o Poder Executivo em comparação com as demais. B) ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS A Lei n° 11.107/05 regulou os consórcios públicos, cumprindo o disposto no art. 241 da Constituição Federal. A lei optou por atribuir personalidade jurídica aos consórcios públicos, dando-lhes a forma de uma associação, podendo ser de direito público ou de direito privado. Quando criado com personalidade de direito público, o consórcio público se apresenta como uma associação pública. O consórcio público será constituído por contrato, cuja celebração dependerá de prévia subscrição de protocolo de intenções. C) FUNDAÇÕES PÚBLICAS Fundação é uma instituição típica do direito privado. Para a sua criação destina-se um acervo de bens particulares para a realização de finalidades sociais, sem natureza lucrativa (educacional, assistencial, etc.). Compreende sempre: patrimônio e finalidade. No entanto, ultimamente, o Poder Público também tem instituído fundações para a execução de algumas atividades sociais. Estas fundações públicas se assemelham, então, às fundações particulares. No entanto elas se diferenciam nos seguintes aspectos: enquanto a fundação privada é criada a partir de um ato de um particular e com patrimônio deste, a fundação pública é criada mediante autorização de lei específica, a partir de um patrimônio público. Ex.: FUNARTE (Fundação Nacional das Artes), FUNAI (Fundação Nacional do Índio), Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Nacional da Saúde, etc. Se observarmos o art. 41, CC, que arrola as pessoas jurídicas de direito público, vamos concluir que ele não menciona a “fundação”. No entanto, segundo a doutrina, as fundações públicas estariam implícitas na expressão “demais entidades de caráter público criadas por lei”. E Constituição Federal de 1988, em especial após a Emenda Constitucional n° 19/98 (art. 37, XIX) reforçou esta posição. Assim, para os civilistas de uma forma geral a fundação é uma pessoa jurídica de direito público interno, apesar de não haver previsão expressa neste sentido. Observação: segundo a doutrina, na expressão “demais entidades de caráter público” também estariam incluídas as Agências Reguladoras (que possuem natureza de autarquia federal especial), incumbidas de normatizar e fiscalizar a prestação de certos serviços de grande interesse público. Ex.: ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), etc. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 99 II. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO A pessoa jurídica de direito privado é instituída por iniciativa dos particulares em geral. A doutrina costuma usar a expressão “Corporação” para designar o gênero, tendo como divisão (art. 44, CC): associações (a doutrina engloba neste item os sindicatos, pois eles têm natureza de associação civil), sociedades, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. 1. FUNDAÇÕES PARTICULARES A doutrina costuma usar a seguinte expressão: as fundações são universalidades de bens (resultam da afetação de um patrimônio e não da união de indivíduos), personificados, em atenção ao fim que lhes dá unidade. Fundação é o complexo de bens livres colocados por uma pessoa física ou jurídica, a serviço de um fim lícito e especial, com alcance social pretendido por seu instituidor, e em atenção ao disposto em seu estatuto. Uma pessoa (natural ou jurídica) separa parte de seu patrimônio, criando a fundação para atingir objetivo não econômico. A partir de sua criação, o patrimônio da fundação não pertence mais ao patrimônio da pessoa que a criou, uma vez que passa a ter personalidadeprópria. Ex.: a Fundação Roberto Marinho não pode ser confundida com a Rede Globo de Televisão. O próprio instituidor poderá administrar a fundação (forma direta) ou encarregar outrem para este fim (forma fiduciária). De acordo com o art. 62, parágrafo único do CC terão sempre fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. Outros exemplos: Fundação São Paulo (mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Fundação Ayrton Senna, etc. São criadas a partir de uma escritura pública (inter vivos) ou de um testamento (causa mortis). Portanto elas não podem ser criadas por instrumento particular ou privado. Para a sua criação pressupõem-se: • Dotação de bens livres – o instituidor destina determinados bens que comporá o patrimônio da fundação, que deve ser apto a produzir rendas ou serviços que possibilitem alcançar os objetivos visados, sob pena de frustrá-los. • Elaboração de estatutos com base em seus objetivos. Eles devem ser submetidos à apreciação do Ministério Público estadual que os fiscalizará. Em regra o seu objetivo é imutável. No entanto é possível a reforma dos estatutos, desde que: seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; não contrarie ou desvirtue o seu fim; seja aprovada pelo órgão do Ministério Público (caso este a denegue, poderá o Juiz supri-la, a requerimento do interessado). • Especificação dos fins – como vimos, eles devem ser sempre religiosos, morais, culturais ou de assistência. • Previsão do modo de administrá-la – embora seja interessante que a fundação preveja o modo pelo qual ela deva ser administrada, este item não é essencial para sua existência. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1100 Nascimento As fundações surgem com o registro de seus atos constitutivos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Características • seus bens, em regra, são inalienáveis (não podem ser vendidos ou doados) e impenhoráveis (não pode recair penhora). Para uma eventual venda de seus bens é necessário ingressar com uma ação judicial, onde é consultado o Ministério Público. Posteriormente o Juiz decide, determinando se é ou não caso de venda desses bens. Como regra o produto da venda deve ser aplicado na própria fundação. • o fundador é obrigado a transferir para a fundação a propriedade sobre os bens dotados; se não o fizer, os bens serão registrados em nome dela por ordem judicial. • os estatutos são suas leis básicas. • os administradores devem prestar contas ao Ministério Público. Supervisão das Fundações As fundações privadas são supervisionadas pelo Ministério Público do Estado onde estiverem situadas (art. 66, CC), através da curadoria das fundações, que deve zelar pela sua constituição e funcionamento. Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público estadual (art. 66, §2°, CC). A doutrina entende que não há esta fiscalização do Ministério Público em relação às fundações públicas. ��� Atenção ��� O art. 66, §1°, CC prevê que se a fundação funcionar no Distrito Federal caberá o encargo ao Ministério Público Federal. No entanto este dispositivo foi objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, sendo que o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade deste parágrafo, posto que se a fundação funcionar no DF, a competência para fiscalização é do Ministério Público do Distrito Federal e Territorial (MPDFT). Ressalva-se, no entanto, segundo a decisão do STF, a atribuição do Ministério Público federal para velar pelas fundações federais de direito público (ADIN n° 2.794-8). Término Não há um prazo determinado para o funcionamento de uma fundação. No entanto, nada impede que o próprio instituidor estabeleça um prazo para esse funcionamento. Por outro lado as fundações serão extintas se (art. 69, CC): a) tornarem-se ilícitas (o Ministério Público pode ingressar com ação visando sua extinção), impossíveis ou inúteis as suas finalidades; b) vencido o prazo de sua existência. Uma vez extinta a fundação, o destino do seu patrimônio será o previsto nos estatutos. Caso os estatutos sejam omissos, seu patrimônio será destinado, por determinação judicial, a outras fundações com finalidades semelhantes. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1111 2. PARTIDOS POLÍTICOS Os partidos políticos são entidades integradas por pessoas com ideias comuns (pelo menos em tese...), tendo por finalidade conquistar o poder para a consecução de um programa. São associações civis que visam assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. De acordo com o art. 17, §2°, CF/88 e a Lei n° 10.825/03, os partidos políticos, embora tenham um caráter público, passaram a ser considerados como pessoas jurídicas de direito privado, tendo natureza de associação civil. Os estatutos devem ser registrados no cartório competente do Registro Civil de Pessoas Jurídicas da Capital Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (Lei n° 9.096/95). 3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado, formadas pela união de indivíduos com o propósito de culto a determinada força (ou forças) sobrenatural, por meio de doutrina e ritual próprios, envolvendo preceitos éticos. Atualmente a Lei n° 10.825/03 (que alterou o Código Civil) deixou bem claro que elas são pessoas jurídicas de direito privado, tendo também natureza de associação civil. É vedado ao poder público negar-lhe o reconhecimento ou registro de seus atos constitutivos necessários a seu funcionamento. Enunciado 142 da III Jornada de Direito Civil do STJ: “Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil”. 4. ASSOCIAÇÕES As associações são caracterizadas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos (comunhão de esforços para um fim comum). O membro da associação é o associado. Ele possui um vínculo direto com a finalidade da associação, não possuindo qualquer vínculo com os demais associados; não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocas (art. 53 e seu parágrafo único, CC), de forma diferente das sociedades, onde há este vínculo. No entanto é possível a existência de uma categoria de associados com vantagens especiais (art. 55, CC). O ato constitutivo é o seu estatuto que deve conter os requisitos do art. 54, CC. O fato de uma associação possuir determinado patrimônio e realizar negócios para aumentar esse patrimônio não a desnatura, pois não irá proporcionar lucro aos associados. As associações podem ser civis, religiosas, pias (de caridade), morais, educacionais, científicas ou literárias e de utilidade pública. O art. 5° da CF/88 (incisos XVII a XXI), ao dispor sobre as associações, estabelece que: a) é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; b) a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; c) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; d) ninguém poderá ser compelido a associar-se ou permanecer associado; e, e) as entidades associativas, quando DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1122 expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. A associação deve ser registrada no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.E com o registro passa a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, possuindo capacidade patrimonial e adquirindo vida própria, que não se confunde com a de seus membros. A associação pode ser de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas (ex.: ABIA →→→ Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, etc.). 5. SOCIEDADES Sociedade é espécie de corporação dotada de personalidade jurídica própria e instituída por meio de um contrato social (que é o seu ato constitutivo), com o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar lucros. Vimos que o atual Código Civil deixou bem claro que a finalidade lucrativa é o que distingue uma associação de uma sociedade. As sociedades podem ser divididas em: a) Sociedades Empresárias (o que anteriormente chamávamos de sociedades comerciais) são as que visam finalidade lucrativa (lucro repartido entre os sócios), mediante exercício de atividade mercantil (ex.: compra e venda mercantil). Segundo o art. 982, CC, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (Registro Público de Empresas Mercantis). b) Sociedades Simples (o que anteriormente chamávamos de sociedades civis) também visa fim econômico (lucro), mediante exercício de atividade não mercantil. Em regra são constituídas por profissionais de uma mesma área, ou por prestadores de serviços técnicos. Ex.: um escritório de advocacia, uma sociedade imobiliária, uma clínica dentária, etc. Seus atos constitutivos devem ser inscritos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Observação: para se saber se uma sociedade é simples ou empresária, basta considerar o objeto desta sociedade, a natureza das operações habituais e suas atividades econômicas. Atualmente vêm-se utilizando as expressões: organização e atividade (ao invés de objeto) para melhor distinguir a sociedade simples da empresária. Ou seja, a classificação se dá em função do exercício da atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. Havendo a organização dos fatores de produção (capital, mão de obra, tecnologia e insumos) se considera caracterizada a empresa e o empresário será quem a exerce. ��� Atenção ��� A empresa pública e a sociedade de economia mista, apesar de fazerem parte da administração indireta e terem capital público, são dotadas de personalidade jurídica de direito privado. São regidas pelas normas empresariais e trabalhistas (art. 173, CF/88), mas com as cautelas do direito público (ex.: sujeitam-se ao controle do Estado →→→ administrativo, financeiro e jurisdicional). Podem perseguir fins não lucrativos, como também atividades lucrativas (produção e comercialização de bens ou prestação de serviços de natureza econômica). As empresas públicas e as sociedades de DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1133 economia mista fazem parte da administração indireta do Estado, mas isso não quer dizer que sejam pessoas jurídicas de direito público. Empresas Públicas São pessoas jurídicas integrantes da administração indireta, mas de direito privado, instituídas pelo Poder Público, mediante autorização de lei específica a se constituir com capital próprio e exclusivamente público, para exploração de atividade econômica ou a prestação de serviços públicos ou coordenadora de obras públicas, podendo se revestir de qualquer das formas de organização empresarial (Ltda., S/A, etc.). Ex.: Empresa Brasileira de Correios de Telégrafos (EBTC), Caixa Econômica Federal (CEF), Casa da Moeda, Serviço de Processamento de Dados (SERPRO), EMURB, etc. Sociedades de Economia Mista São pessoas jurídicas integrantes da administração indireta, mas também de direito privado, instituídas pelo Poder Público mediante autorização legal, constituídas com patrimônio público e particular, destinadas à exploração de atividades econômicas ou serviços de interesse coletivo, sendo que sua forma é sempre a de uma Sociedade Anônima. Embora haja a conjugação de capital público e privado, as ações com direito a voto (controle acionário) devem pertencer em sua maioria ao Poder Público. Ex.: Banco do Brasil, Petrobrás, etc. 6. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA A Lei n° 12.441/2011 inseriu no rol das pessoas jurídicas, também a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). Até então nosso ordenamento não permitia a formação de uma empresa com apenas um sócio, a não ser em casos excepcionais. O empresário individual era considerado como pessoa natural (e não jurídica). Seu patrimônio pessoal confundia-se com o utilizado no próprio empreendimento, o que era considerado como uma temeridade, pois no caso de execução por dívidas geradas pela empresa, os bens pessoais do empresário seriam vendidos para cobrir o passivo da empresa. A nova lei corrigiu esta distorção. No que se refere à organização, a EIRELI é constituída por uma única pessoa como titular da integralidade do capital social, sendo que o valor deste não pode ser inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no País. Assim, estabelecem-se limites para esta opção de pessoa jurídica, deixando de fora os empresários de menor porte. Quanto ao Nome Empresarial, que identifica o empreendedor nas realizações empresariais e contratuais, ele poderá adotar o próprio nome ou sua abreviação, bem como um nome distinto da pessoa natural. No entanto o nome adotado deverá conter como sinal distintivo a expressão “EIRELI” após a firma ou denominação adotada. Exemplos: José João EIRELI; ou J.J. EIRELI, ou J.J. Comercial EIRELI; ou ainda Alfa Comercial EIRELI. A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade, o que a diferencia das DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1144 demais sociedades, uma vez que nestas os sócios podem ter outro empreendimento sem qualquer problema. Esta espécie de empresa também pode resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. Assim, se uma sociedade limitada deixar de possuir pluralidade de sócios, ela poderá ser transformada em uma EIRELI. Anteriormente esta situação implicava numa verdadeira corrida contra o tempo do sócio remanescente, pois ele era obrigado a procurar um novo sócio no prazo de 180 dias (sob pena de ver sua sociedade extinta caso permanecesse na condição de apenas um sócio). Aplicam-se à EIRELI, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas, inclusive a desconsideração da personalidade jurídica, que falaremos mais adiante. A V Jornada de Direito Civil do STJ aprovou Enunciado n° 469 explicando a natureza jurídica da EIRELI: "A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado". Portanto, ela é uma pessoa jurídica constituída por apenas uma pessoa, tendo natureza especial, bem como tratamento específico no novo art. 980-A, CC. DISTINÇÕES Associação X Sociedade Semelhanças: conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única. Distinções: Associação →→→ não há fim lucrativo (ou de dividir resultados, embora tenha patrimônio), formado por contribuição de seus membros para a obtenção de fins culturais, esportivos, religiosos, etc. Sociedade →→→ visa fim econômico ou lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios. Associação X Fundação Semelhanças: em ambas há a união de várias pessoas, com acervo de bens, não havendo finalidade lucrativa. Distinções: Associação →→→ a) patrimônio é constituído pelos associados, sendo um meio para atingir os seus objetivos (instrumental); b) finalidadessão próprias (dos associados), podendo ser alteradas; c) deliberações livres. Fundação →→→ a) patrimônio provém do instituidor, sendo seu elemento essencial (juntamente com o objetivo, a finalidade da fundação), já o elemento “pessoa” fica num segundo plano; b) finalidades são alheias (do instituidor) e imutáveis; c) deliberações delimitadas pelo instituidor e fiscalizadas pelo Ministério Público. Conclusão: os objetivos da associação são alcançados pelo esforço das pessoas (associados); já o das fundações é alcançado pelo uso de seu patrimônio. INÍCIO DA EXISTÊNCIA LEGAL DA PESSOA JURÍDICA Enquanto a pessoa natural surge com um fato biológico (o nascimento com vida...), a pessoa jurídica tem seu início, em regra, com um ato jurídico ou uma norma. No entanto há diferenças entre elas quanto a forma de constituição: DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1155 1) Pessoas Jurídicas de Direito Público →→→ sua existência se dá em razão da lei e do ato administrativo, bem como de fatos históricos, previsão constitucional, tratados internacionais, etc. São regidas pelo Direito Público. Um País surge quando afirma sua existência em face dos outros. Os Estados- membros têm o reconhecimento de sua existência quando instituídos na própria Constituição Federal deste País. Já os Municípios, peculiaridade de nosso regime federativo, também têm sua autonomia assegurada pela Constituição, tendo seu início no provimento que os criou (são regidas pelas Constituições estaduais e pelas Leis Orgânicas). As autarquias e demais pessoas jurídicas de direito público são criadas e organizadas por leis, que estabelecem todas as condições para o exercício de seus direitos e obrigações. Assim elas nascem com a própria lei. 2) Pessoas Jurídicas de Direito Privado →→→ o fato que lhes dá origem é a vontade humana convergente (affectio societatis). Sua criação possui duas fases: a elaboração dos atos constitutivos e o seu respectivo registro. • Ato Constitutivo A pessoa jurídica se constitui, por escrito, por ato jurídico unilateral inter vivos ou causa mortis (em relação às fundações) e por ato jurídico bilateral ou plurilateral (em relação às sociedades e as associações). Regra: a) Associações (sem fim lucrativo): estatuto. b) Sociedade (finalidade lucrativa): contrato social. Algumas sociedades civis dependem de prévia autorização do governo (ex.: instituições financeiras, estabelecimentos de seguro, consórcios, universidades, sociedades estrangeiras, bolsa de valores, etc. – confiram o art. 21, inciso XII, CF/88). • Registro Público Para que a pessoa jurídica exista legalmente, é necessário inscrever os contratos, estatutos ou compromissos no seu registro peculiar. Regra: a) sociedades empresárias no Registro Público de Empresas Mercantis (Junta Comercial); b) demais pessoas jurídicas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. E, além disso, quaisquer alterações supervenientes também deverão ser averbadas neste registro. Vejamos isso melhor: REGISTRO Como vimos, somente com o registro a pessoa jurídica adquire a personalidade. Tal registro se dá no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 1.150, CC). No entanto uma sociedade empresária deve ser registrada no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (Lei n° 8.934/94), sendo competente para tais atos as Juntas Comerciais. Segundo o art. 46, CC o registro deve conter os seguintes elementos: a) a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social (quando houver); b) o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores; c) forma de administração e representação ativa e passiva, judicial e extrajudicial; d) possibilidade e modo de reforma do estatuto social; e) previsão da responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obrigações sociais; f) condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio. Uma pessoa jurídica começa a existir no momento em que é efetuado o seu registro, passando a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, obtendo capacidade patrimonial, adquirindo vida própria e autônoma, DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1166 não se confundindo com a personalidade de seus membros. Vejamos o que dispõe o art. 45, CC: “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo”. ��� Atenção ��� • Personalidade da pessoa natural: nascimento com vida. O registro possui apenas efeito declaratório, pois quando ele é feito, a condição de pessoa já havia sido adquirida. O registro apenas declara uma situação pré-existente: o nascimento com vida. • Personalidade da pessoa Jurídica: registro. O registro neste caso possui efeito constitutivo; é com ele a pessoa jurídica “nasce” ou se constitui juridicamente. DOMICÍLIO DAS PESSOAS JURÍDICAS A pessoa jurídica também tem domicílio (art. 75, CC), que é a sua sede jurídica, onde os credores podem demandar o cumprimento das obrigações. Vejamos as situações legais: • União →→→ Distrito Federal. • Estados e Territórios →→→ suas respectivas Capitais. • Municípios →→→ o lugar onde funciona a Administração Municipal (a sede municipal). • Demais Pessoas Jurídicas →→→ o lugar onde funcionam as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial nos seus estatutos ou atos constitutivos. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. Admite-se, portanto, a pluralidade domiciliar da pessoa jurídica, desde que tenha estabelecimentos em lugares diferentes (ex.: filiais, agências, escritórios de representação, etc. – art. 75, §1°, CC). Finalmente estabelece o art. 75, §2°, CC que se “a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder”. RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS A responsabilidade civil a pessoa jurídica pode ser de natureza contratual ou extracontratual. No âmbito da responsabilidade contratual as pessoas jurídicas são responsáveis por seus atos. Ou seja, elas respondem pelos danos decorrentes de suas condutas. Se assumiram determinada obrigação, se assinaram determinado contrato, devem cumpri-lo da forma como foi estipulado. Se a obrigação ajustada não for cumprida o devedor responde por perdas e danos (além dos juros, correção monetária e honorários DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1177 advocatícios). É o que determina a regra geral do art. 389, CC. Portanto, na responsabilidade assumida por meio de uma obrigação contratual, as pessoas jurídicas devem responder com seus bens por esse inadimplemento (não cumprimento) contratual. Já no campo da responsabilidade extracontratual (ou aquiliana) vigora a regra geral do neminem laedere (ou seja, a ninguém se deve lesar). Reprime-se a prática dos atos ilícitos em geral, impondo a obrigação de reparação de eventuais danos. Ela tem fundamento nos arts. 186 e 187 combinados com o art. 927, CC. Mas há uma leve nuance entre a responsabilidade das pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado. Vejamos: A) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. Neste caso existem duas formas de responsabilidade: 1) Por ato próprio neste caso a responsabilidade é direta e subjetiva. Isto porque a pessoa jurídica responde pelosatos de seus órgãos (os diretores e os administradores estão apenas cumprindo as determinações das suas assembleias). 2) Por ato de terceiro neste caso a responsabilidade é indireta e objetiva. Determina o Código Civil que as pessoas jurídicas de direito privado são civilmente responsáveis pelos atos danosos praticados por seus empregados, serviçais ou prepostos (representantes) no exercício do trabalho que lhes competir ou em razão dele (art. 932, III, CC). Por tal motivo trata-se de responsabilidade indireta. Ou seja, a pessoa jurídica irá responder por uma conduta praticada por terceiro (seu empregado), mas que, em razão de um vínculo com a pessoa jurídica, gera a responsabilidade desta. Acrescenta o art. 933, CC que esta responsabilidade independe de culpa. Portanto a mesma é considerada como sendo do tipo objetiva. Observem que neste caso a pessoa jurídica nada fez de irregular; quem agiu de forma errônea foi o empregado. Mas mesmo assim ela responde por este ato. Este tipo de responsabilidade também é solidária, pois a vítima pode reclamar os danos tanto da pessoa jurídica, como do agente causador do prejuízo. Ex.: O motorista de caminhão de uma empresa, embriagado, atropela e mata um pedestre; a família da vítima pode ingressar com ação judicial de responsabilidade civil somente contra a empresa, somente contra o motorista, ou contra ambos, posto que tanto a empresa, como o motorista são responsáveis solidários. Se preferir ingressar com a ação somente contra a empresa, esta terá o direito de regresso contra o empregado. B) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO A partir de 1946 a responsabilidade passou a ser prevista na própria Constituição da República, principalmente em virtude da criação dos chamados direitos individuais de segunda geração. Com base no princípio da igualdade de todos perante a lei (todos têm encargos equitativamente distribuídos), não seria justo que, para benefício de toda uma coletividade, somente uma pessoa sofresse os ônus. Inicia-se, então a chamada Teoria da Responsabilidade Objetiva do Estado. A pessoa lesada apenas deve provar que houve uma DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1188 conduta por parte do Estado, que ela sofreu um dano e que houve um nexo de causalidade entre a conduta e o dano. Vigora atualmente a Teoria do Risco Administrativo. Nela o Estado responde objetivamente, porém não em qualquer hipótese. Permite-se que a responsabilidade do Estado seja afastada em situações onde consiga provar a culpa exclusiva da vítima (no caso de culpa concorrente apenas se atenua sua responsabilidade, diminuindo o valor da indenização), o caso fortuito ou a força maior, a ausência de nexo causal, etc. Atualmente no Brasil as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) têm responsabilidade civil: • pelos danos que seus agentes (sentido amplo), nessas qualidades, causarem a terceiros (art. 37, §6º, CF/88 e art. 43, CC). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo objetiva, isto é, a responsabilidade existe independentemente de culpa do funcionário. Há que se provar a conduta (positiva ou negativa), a lesão (dano patrimonial ou moral) e o nexo causal (a lesão foi causada pela conduta). Não se analisa eventual culpa. Provados aqueles elementos (conduta, dano e nexo), o Estado deve indenizar. Lembrando que quando se fala “culpa”, devemos entender seu sentido amplo, abrangendo tanto a culpa em sentido estrito (o agente praticou uma conduta, mas não teve a intenção da ocorrência de um resultado específico, porém este acabou acontecendo por imprudência, negligência ou imperícia do agente) como o dolo (o agente teve a intenção de praticar a conduta, desejando ou assumindo o risco pelos resultados advindos de sua conduta). Também não se indaga da licitude ou ilicitude da conduta administrativa. Ou seja, às vezes, mesmo agindo licitamente o Estado pode ser obrigado a indenizar um particular. Ex.: quando o Estado realiza uma obra que em tese irá beneficiar a muitas pessoas, pode causar prejuízo a uma pessoa em especial. A obra realizada é lícita. Mas se causar prejuízo a um particular (ex.: seu imóvel foi desvalorizado com a obra), ele deve ser indenizado. Os mesmos dispositivos citados (art. 37, §6°, CF/88 e art. 43, CC) autorizam ao Poder Público o chamado direito de regresso contra o causador do dano, se houver culpa ou dolo de sua parte. Assim, o Estado responde de forma objetiva (ou seja, independentemente de culpa). Mas se o Estado for condenado e ficar provada a culpa ou o dolo do funcionário, o Estado poderá acionar regressivamente o seu agente. Logo, a responsabilidade do funcionário é do tipo subjetiva, pois deve estar comprovada a sua culpa em sentido amplo (que abrange o dolo ou a culpa em sentido estrito) no evento. • por atos de terceiros e por fenômenos da natureza. Neste caso, a responsabilidade é somente subjetiva. Ou seja, deve-se provar a culpa da Administração (ex.: casos de enchentes ou depredações por movimentos populares, já previstos pela administração). Trata-se de uma exceção à regra de que o Estado responde sempre de forma objetiva. Como vimos, nem sempre, pois há casos em que pode responder de forma subjetiva. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1199 Observações 01) Uma parcela da doutrina entende que na hipótese de uma conduta omissiva por parte do Estado, a sua responsabilidade dependeria de demonstração de culpa da sua parte. Seria então mais um caso de responsabilidade subjetiva do Estado. Lembrando que mesmo neste caso, havendo culpa concorrente da vítima, a indenização será reduzida. 02) A pessoa jurídica também pode ser penalmente responsável, na hipótese de crimes ambientais (art. 225, §3°, CF/88 e art. 3° da Lei n° 9.605/98). EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA A existência da pessoa jurídica (em relação às sociedades e às associações) termina: • pela dissolução deliberada de seus membros (extinção convencional), por unanimidade e mediante distrato. Distrato é a rescisão de um contrato. Pode ser amigável ou judicial. É ressalvado o direito de terceiros e da minoria. Assim, se a minoria desejar a continuidade da sociedade, impossível será sua dissolução amigável (haverá então uma sentença judicial), a menos que o contrato contenha cláusula que preveja a extinção por maioria simples. No entanto, se a minoria tentar extinguir a pessoa jurídica, não conseguirá. • morte de seus membros (extinção natural). • quando a lei assim determinar. • pelo decurso do prazo, se constituída por prazo determinado. • dissolução por decisão judicial. ���É importante notar que a extinção da pessoa jurídica não se opera de modo instantâneo. Qualquer que seja o fator extintivo, tem-se o fim da entidade; porém, se houver bens em seu patrimônio e dívidas a resgatar, ela continuará em fase de liquidação, durante a qual ainda subsiste para a realização do ativo e pagamento de débitos. Assim, mesmo dissolvida uma pessoa jurídica, ela ainda pode subsistir, mantendo a personalidade para fins de liquidação. Encerrada a liquidação, aí sim, promove-se o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica no respectivo registro (art. 51, CC). Destino do patrimônio na dissolução Tratando-se de uma sociedade (finalidade lucrativa), cada sócio terá direito ao seu quinhão; o remanescente do patrimônio social será partilhado entre os sócios ou seus herdeiros. Tratando-se de uma associação (sem finalidade lucrativa), seus bens serão destinados: conforme o previsto nos estatutos; se não houver previsão, serão destinados a estabelecimento municipal, estadual ou federal que possua finalidades semelhantes aos seus. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCALDA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2200 GRUPOS DESPERSONALIZADOS Como vimos, as sociedades, as associações, as fundações, etc., possuem personalidade jurídica. Mas nem todo grupo que objetiva um determinado fim é dotado de personalidade jurídica. Os grupos despersonalizados (ou com personificação anômala) constituem um conjunto de direitos e obrigações, de pessoas e bens, sem personalidade jurídica, que geralmente se formam independentemente da vontade de seus membros. No entanto, apesar de não terem personalidade, possuem capacidade processual isto é, capacidade para postular em juízo (ou seja, ser autor ou réu em uma ação judicial). Citamos como exemplos principais: • Sociedades em Comum (sociedades de fato ou irregulares) são sociedades empresárias que não estão juridicamente constituídas, não possuindo, portanto, personalidade jurídica. Para alguns doutrinadores, sociedades de fato e sociedade irregulares são a mesma coisa. Outros, contudo, as distinguem: as sociedades de fato não possuem ato constitutivo (estatuto ou contrato social), enquanto que as sociedades irregulares possuem os atos constitutivos, porém os mesmos não foram registrados. Elas não podem requerer falência de outras empresas e nem requerer a sua recuperação judicial. Além disso, não possuem responsabilidade própria. Na realidade, há responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios pelas obrigações da sociedade. Isto porque nelas os credores da sociedade são credores dos sócios, não havendo autonomia da pessoa jurídica. Estão previstas nos arts. 986 a 990, CC. • Massa Falida decretando-se a falência de uma sociedade, a pessoa perde o direito à administração e à disposição do patrimônio, sendo que os as coisas e os direitos são arrecadados; a reunião desses bens recebe o nome de massa falida. O administrador judicial da falência a representa ativa e passivamente (ou seja, pode ser autor ou réu de uma ação judicial). • Espólio é o conjunto de direitos e obrigações ou uma simples massa patrimonial deixada pelo de cujus; é a herança, propriamente dita. O inventariante prestará compromisso legal e irá representar ativa e passivamente, em juízo ou fora dele os interesses do espólio. • Herança Jacente e Vacante é o conjunto de bens deixados pelo falecido, enquanto não entregue a um sucessor devidamente habilitado. Ocorre a herança jacente se, não havendo testamento, o de cujus não deixar herdeiros, ou deixando, eles renunciam, ficando sob a guarda e administração de um curador nomeado pelo Juiz. Aguarda-se... ninguém apareceu... Os bens da herança jacente são então declarados vacantes. Decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Estado (em sentido amplo). ��� Condomínio Especial (condomínio em edificações) trata-se de uma questão controvertida. Ainda há autores que o consideram como ente despersonalizado. No concurso como eu faço? Penso que seguindo a tendência do Direito devemos considerá-lo como tendo personalidade jurídica. Inicialmente porque hoje em dia um condomínio é obrigado a ter DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2211 CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). Além disso, no condomínio também há uma affectio societatis (lembram-se desta expressão falada no início deste ponto?), havendo aptidão à titularidade de direitos e deveres, podendo adquirir imóveis, materiais para construção, conservação e administração do edifício em seu nome. Finalmente devemos acrescentar que o Enunciado n° 90, alterado pelo 246 da I e III Jornadas de Direito Civil do STJ, realizadas pelo Conselho da Justiça Federal, orienta que: “Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício nas relações jurídicas”. Lembrando que cabe a representação do condomínio (ativa e passiva) ao síndico ou administrador (que pode ser uma pessoa física ou jurídica). DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (art. 50, CC) Como vimos, a pessoa jurídica é uma ficção legal, sendo sujeito de direitos e obrigações, tendo existência independente dos membros que a compõem (princípio da autonomia). Pessoa jurídica é uma coisa... Pessoas físicas que integram a pessoa jurídica é outra coisa. Há uma separação patrimonial entre os bens da pessoa jurídica e os bens dos sócios e administradores. Desta forma, a pessoa jurídica somente responde pelos débitos dentro dos limites do capital social, ficando a salvo o patrimônio individual dos sócios que a compõe. Devido a essa exclusão de responsabilidade dos sócios, que vigorava de forma plena em nosso Direito, a pessoa jurídica, por vezes, se desviava de seus princípios e finalidades, cometendo abusos, fraudes e desonestidades (evidente que se trata de uma minoria; não vamos aqui generalizar), provocando uma reação na doutrina e na jurisprudência. Em alguns casos a pessoa jurídica servia apenas como um escudo ou um manto protetor de distorções e fraudes levadas a efeito pelas pessoas físicas. Visando coibir tais abusos, surgiu a figura da desconsideração da pessoa jurídica. Desconsiderar significa ignorar ou não levar em conta a distinção criada pela ficção legal entre os dois patrimônios. Com isso, são alcançados os bens das pessoas físicas que se escondem dentro de uma pessoa jurídica para a prática de atos ilícitos ou abusivos. No Brasil, inicialmente, tratava-se apenas de uma doutrina. Com o tempo a teoria foi ganhando força e os juízes começaram a aplicá-la como uma questão de justiça, de equidade, coibindo assim os abusos e enriquecimentos sem causa (princípios que vedam o abuso de direito e da fraude contra credores). Foi se formando uma sólida jurisprudência. O passo seguinte foi a previsão do instituto em lei. O estatuto legal pioneiro no Brasil sobre o tema foi o Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90 – CDC), ainda em vigor, nos seguintes termos: Art. 28: “O Juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica causada por má administração” (...) §5º: “também poderá ser DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2222 desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”. Existem outras leis que também tratam do assunto. A seguir o instituto foi se espalhando por todo o Direito brasileiro, como na Lei Antitruste (Lei n° 8.884/94, art. 18); Lei do Meio Ambiente (Lei n° 9.605/98, art. 4°) e acabou chegando ao Código Civil de forma expressa: Art. 50, CC: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o Juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”. Como se trata de uma doutrina que teve início no Direito anglo-saxão (Inglaterra e EUA) é comum a utilização de expressões inglesas: disregard of the legal entity (desconsideração da pessoa jurídica) ou disregard doctrine (doutrina da desconsideração), ou piercing the corporate veil (perfurando ou rasgando o véu da corporação) ou lifting the corporate veil (levantando ou desvelando o véu da corporação). Tal instituto permite ao Juiz (somente a ele e não a uma autoridade administrativa), de forma fundamentada, ignorar os efeitosda personificação da sociedade, para atingir e vincular também as responsabilidades dos sócios, com intuito de impedir a consumação de fraudes e abusos, desde que causem prejuízos e danos a terceiros. Os sócios e administradores serão então incluídos no polo passivo do processo, respondendo com seus bens particulares nos negócios jurídicos praticados em nome da pessoa jurídica pelos danos causados a terceiros. Uma pessoa lesada por uma empresa pode ser ressarcida por meio das próprias pessoas que constituíram a empresa. Neste caso específico e determinado, o Juiz não leva em consideração a pessoa jurídica (daí o termo “desconsideração da pessoa jurídica”), decidindo como se a própria pessoa física tivesse realizado o negócio. No entanto, o Juiz deve agir com cautela ao decidir pela desconsideração. Deve examinar cada caso em particular, se foram preenchidos todos os requisitos legais para decretação da medida. Como se trata de medida excepcional, tem-se entendido que a desconsideração da personalidade jurídica somente pode atingir os bens da pessoa que incorreu na prática do ato irregular, após a observância dos parâmetros exigidos pela lei. ��� Atenção ��� A desconsideração da personalidade jurídica não acarreta a extinção da pessoa jurídica. E também não significa que a personalidade será anulada; ela apenas será ineficaz quanto a certos e determinados atos estabelecidos pelo Juiz. Observações Doutrinárias 01) Fala-se em Teoria Menor e Teoria Maior da desconsideração. A Teoria Menor (também chamada de objetiva) é aquela em que se dispensa um raciocínio mais cuidadoso para a incidência do instituto. Tem seu âmbito de DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2233 aplicação restrito ao Direito Ambiental (art. 4° da Lei n° 9.605/1998) e Direito do Consumidor (art. 28, §5°, da Lei n° 8.078/1990) Pela Teoria Maior (subjetiva) é necessário maior apuro e precisão na constatação dos requisitos legais. Não é em qualquer hipótese que a desconsideração se aplica; ela somente ocorrerá em casos especiais previstos na lei e de forma fundamentada, se o juiz, usando seu livre convencimento, entender que houve fraude ou abuso de direito. Foi a teoria adotada pelo Código Civil. 02) Fala-se em desconsideração inversa, como modalidade autônoma, quando se vincula o patrimônio da pessoa jurídica, para responsabilizá-la por uma obrigação contraída pelo sócio. Exemplo: uma pessoa muito rica transfere todos os seus bens para uma pessoa jurídica da qual possui o controle absoluto. Assim, embora tecnicamente não seja proprietário dos bens, continua a desfrutar de todos eles. E se a pessoa física contrair uma dívida, em tese, o credor não pode executar tais bens, pois eles não são dela, mas sim da pessoa jurídica. O devedor assim procede para lesar a pessoa de quem pediu o dinheiro emprestado ou para livrar os bens de uma futura partilha em uma separação judicial. Por meio da “desconsideração inversa” se desconsidera a pessoa jurídica, para que esta responda com o seu patrimônio perante terceiros, pelas dívidas contraídas pela pessoa física. 03) As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos estão abrangidas no conceito de abuso de personalidade jurídica. A desconsideração da personalidade não atinge seus associados, mas seus dirigentes, que a representam na forma dos estatutos. 04) Como uma evolução da desconsideração da personalidade jurídica tem-se adotado a Teoria da Sucessão de Empresas, pela qual, nos casos em que ficar patente a ocorrência de fraude poderá o magistrado estender as responsabilidades de uma empresa para outra (denominadas empresa sucedida e sucessora, respectivamente). Outra questão diz respeito à hipótese em que uma Pessoa Jurídica é controlada (direta ou indiretamente) por outra. Desconsidera-se uma, para atingir a outra. Mas há casos de difícil solução por não se saber bem que é a controladora. E mais. Às vezes uma pessoa jurídica age no País com pouco ou nenhum patrimônio e está totalmente em mãos de uma empresa escritural estrangeira (as chamadas off shores), praticando irregularidades. É um caso de difícil solução, cabendo ao Juiz avaliar este aspecto e onerar o patrimônio do verdadeiro responsável pelo fato, sempre que um prejuízo injusto for ocasionado a terceiros. RESUMO DA AULA PESSOAS JURÍDICAS CONCEITO Pessoa Jurídica (moral ou coletiva) é a união de pessoas naturais (físicas) ou de patrimônios, com o objetivo de atingir certos fins, reconhecida como entidade com aptidões de direitos e obrigações. Possui personalidade jurídica distinta da dos membros que a compõe. Corrente majoritária →→→ Teoria da Realidade Técnica. Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2244 CLASSIFICAÇÃO PRINCIPAL A) Pessoas Jurídicas de Direito Público 1. Externo (art. 42, CC) →→→ Regulamentadas pelo Direito Internacional – Ex.: outros países soberanos, Santa Sé, uniões aduaneiras (MERCOSUL) E organismos internacionais (ONU, OEA). 2. Interno (art. 41, CC) →→→ O Estado. a) Administração Direta ou Centralizada →→→ União, Estados Membros, Distrito Federal, Territórios e Municípios. b) Administração Indireta ou Descentralizada →→→ autarquias, associações públicas (Lei n° 11.107/05) e demais entidades de caráter público criadas por lei (fundações públicas). Abrange as agências reguladoras (autarquias especiais). B) Pessoas Jurídicas de Direito Privado (art. 44, CC) 1. Espécies a) Fundações Particulares: universalidades de bens personificados em atenção ao fim que lhes dá unidade (arts. 62/69, CC). Registro da escritura pública ou testamento. Dotação de bens livres que passam a ser inalienáveis e especificação dos objetivos. b) Partidos Políticos (Lei n° 10.825/03). c) Organizações Religiosas (Lei n° 10.825/03). d) Associações: união de pessoas, sem finalidade lucrativa. e) Sociedades: simples ou empresárias →→→ ambas visam finalidade lucrativa; no entanto a diferença está no seu objeto: exercício (ou não) de atividade mercantil. Palavras chaves: organização e atividade. Espécies: nome coletivo, comandita simples, conta de participação, limitada, sociedade anônima (esta será sempre empresária) e comandita por ações. Obs.: empresas públicas e sociedades de economia mista são consideradas como pessoas jurídicas de direito privado. f) Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI - Lei n° 12.441/11). 2. Início a) Ato Constitutivo: ato jurídico unilateral inter vivos ou causa mortis (fundações) ou ato jurídico bilateral ou plurilateral (associações e sociedades). b) Registro Público: inscrição dos contratos, estatutos ou compromissos no seu registro peculiar. Requisitos →→→ art. 46, CC. 3. Domicílio: sede jurídica, onde os credores podem demandar o cumprimento das obrigações. a) Direito Público: art. 75, incisos I, II e III, CC. b) Direito Privado – Diretoria e Administração: art. 75, inciso IV, CC. c) Pluralidade Domiciliar: art. 75, §1°, CC. d) Foro de Eleição: escolhido no contrato. 4. Término: dissolução deliberada de seus membros; hipóteses em que a lei determina; decurso de prazo (quando for constituída por prazo); dissolução judicial. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2255 5. Grupos Despersonalizados: conjunto de direitos e obrigações, pessoas e bens, sem personalidade jurídica e com capacidade processual (representação) →→→ sociedades em comum (sociedade de fato ou irregulares), massa falida, espólio, etc. RESPONSABILIDADE 1. Responsabilidade Contratual: tanto as pessoas jurídicas de direito público como as de direito privadosão responsáveis pelo que estiver disposto no contrato firmado, respondendo com seus bens pelo eventual descumprimento de cláusulas contratuais (art. 389, CC). Obs.: ambas também possuem responsabilidade penal (atividade lesiva ao meio ambiente: art. 3° da Lei n° 9.605/98) 2. Responsabilidade Extracontratual: a) Pessoa Jurídica de Direito Privado. Regra →→→ possui responsabilidade indireta, ou seja, a pessoa jurídica deve reparar o dano causado pelo seu representante que agiu de forma contrária ao direito. Além disso, a responsabilidade é solidária, pois em razão do vínculo entre a pessoa jurídica e seus funcionários, a vítima pode reclamar os danos tanto da pessoa jurídica como do agente causador do dano. Não há presunção de culpa (in eligendo ou in vigilando): arts. 931, 932, III, 933. b) Pessoa Jurídica de Direito Público. Regra →→→ responsabilidade objetiva. Deve indenizar todos os danos que seus funcionários, nessa qualidade, por atos comissivos, causem aos direitos de particulares. O Estado, como regra, responde independentemente de culpa (em sentido amplo), tendo direito a ação de regresso contra o funcionário causador do dano, se provada a culpa deste. Art. 37, §6°, CF/88 e art. 43, CC. Teoria do risco administrativo: permite-se que a responsabilidade seja afastada em algumas hipóteses (ex.: ausência de nexo de causalidade entre a conduta e o dano, culpa exclusiva da vítima, etc.). DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA – disregard of the legal entity. Art. 50, CC →→→ Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Também está prevista em outras leis (ex.: Lei n° 8.078/90 – CDC, art. 28 e §5°). BIBLIOGRAFIA-BASE. Para a elaboração desta aula, foram consultadas as seguintes obras: DINIZ, Maria Helena – Curso de Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva. GOMES, Orlando – Direito Civil. Ed Forense. GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva MONTEIRO, Washington de Barros – Curso de Direito Civil – Ed. Saraiva. NERY, Nelson Jr. e Rosa Maria de Andrade – Código Civil Comentado. Ed. Revista dos Tribunais. PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil. Ed. Forense. RODRIGUES, Silvio – Direito Civil. Ed. Saraiva. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2266 SERPA LOPES, Miguel Maria de – Curso de Direito Civil. Ed. Freitas Bastos. SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico – Ed. Forense. EXERCÍCIOS 01) (ESAF – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC – Analista de Comércio Exterior – 2012) Sobre as pessoas jurídicas, assinale a opção CORRETA. a) são livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, cabendo ao poder público conceder ou negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. b) são pessoas jurídicas de direito público interno a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, as autarquias, inclusive as associações públicas, as fundações e os partidos políticos. c) são pessoas jurídicas de direito privado, entre outras, as sociedades civis, religiosas, científicas, literárias e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional. d) as pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado. e) prescreve em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. Comentários: A letra “a” está errada, pois, nos termos do art. 44, §1°, CC, é vedado ao poder público negar o reconhecimento e/ou registro dos atos constitutivos e necessários ao funcionamento das organizações religiosas. A letra “b” está errada, pois os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado (art. 44, V, CC) e não de direito público interno. Além disso, poderia haver polêmica quanto à fundação, pois o examinador foi genérico. A letra “c” está errada, pois as pessoas regidas pelo direito internacional não são pessoas jurídicas de direito privado, mas sim pessoas jurídicas de direito público externo (art. 42, CC). A letra “d” está correta nos exatos termos do art. 40, CC. Finalmente a letra “e” está errada, pois o examinador usou a palavra prescreve, quando o correto seria afirmar “decai”, nos termos do art. 45, parágrafo único, CC. Gabarito: “D”. 02) (ESAF – Fiscal de Rendas - Prefeitura do Rio de Janeiro ISS/RJ – 2010) Assinale a opção CORRETA. a) o registro da pessoa jurídica declarará o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente. b) a capacidade de fato ou de exercício é inerente a todo o ser humano, já que é a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2277 c) as pessoas com mais de 70 anos são consideradas relativamente incapazes, pois a lei presume que elas não têm o necessário discernimento para praticar os atos da vida civil. d) o recém-nascido, por não poder exercer pessoalmente os atos da vida civil, não pode ter direitos e obrigações de qualquer espécie. e) os funcionários públicos consideram-se domiciliados no lugar onde exercem suas funções, mesmo que periódicas ou temporárias. Comentários: É o que prevê o art. 46, III, CC. As demais alternativas são recordações a aula anterior. Vejamos. A letra “b” está errada, pois a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações é a capacidade de direito (e não de fato ou exercício). A letra “c” está errada, pois a idade avançada não limita a capacidade. A letra “d” está errada, pois o recém-nascido, embora não tenha capacidade de exercício, possui capacidade de direito e, portanto, possui direitos e obrigações na esfera civil. A letra “e” está errada, pois o servidor público considera-se domiciliado no lugar em que exerce permanentemente suas funções (art. 76, parágrafo único, CC). Gabarito: “A”. 03) (MAGISTRATURA DE SÃO PAULO – CONCURSO 171) A ideia de personalidade exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações. Assim sendo, face ao direito positivo: a) apenas o ser humano é dotado de personalidade. b) todos os seres humanos e os entes morais (associações, sociedades e fundações) são dotados de personalidade. c) apenas o ser humano com capacidade plena é dotado de personalidade. d) o espólio, a massa falida e a herança jacente também são dotados de personalidade. Comentários: Todas as pessoas naturais (seres humanos, inclusive os absolutamente incapazes, pois basta nascer com vida) e as pessoas jurídicas (associações, sociedades, fundações, etc.) são dotadas de personalidade. Observem que o examinador usou a expressão “entes morais” como sinônimo de pessoas jurídicas. O art. 1° do CC prevê que toda pessoa (incluem-se as pessoas naturais e as jurídicas) é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Além disso, o art. 52, CC prescreve que aplica-se à pessoa jurídica, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. Por esta razão as alternativas “a” e “c” estão erradas. A letra “a” porque afirma que somente o ser humano é dotado de personalidade. Já a letra “c” é pior, pois afirma que apenas o ser humano com capacidade plena é dotado de personalidade. Ora, mesmo os absolutamente incapazes possuem personalidade e até mesmo capacidade de direito. O que lhes falta é a capacidade de exercitar os seus direitos. A letra “d” também
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