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DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 11 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br AULA 06 ATO ILÍCITO RESPONSABILIDADE CIVIL (arts. 186/188; 927/943 e 944/954, CC) ��� Itens específicos previstos no edital que serão abordados nesta aula: Ato Ilícito. Responsabilidade Civil e seus reflexos no Direito do Trabalho. Subitens: Atos Ilícitos. Abuso de Direito. Responsabilidade Civil. Conceito, pressupostos, espécies e efeitos. Responsabilidade Contratual e Extracontratual. Responsabilidade Objetiva e Subjetiva. Teoria da Culpa e do Risco. Indenização. Exclusão da Ilicitude. Responsabilidade por ato de terceiros. A responsabilidade civil e seus reflexos no Direito do Trabalho. Meus Amigos e Alunos. Iniciamos hoje mais uma etapa em nossos estudos. Aliás, marchamos para a parte final de nosso curso. Apenas para lembrar que este curso é direcionado para concursos do AFRFB. E estamos seguindo rigorosamente os editais anteriores. Portanto, esta é a nossa penúltima aula. Recebam todos, antecipadamente, um grande abraço, como se eu estivesse aí com vocês. Desejo tudo de bom para vocês. Muitas ALEGRIAS e SUCESSO nesta empreitada que vocês se propuseram, com muita tranquilidade e paz durante os estudos e na hora da realização das provas que virão. Antes de começar a aula propriamente dita, preciso dar um aviso importante. Como vocês notaram no título da aula, hoje falaremos sobre o Ato Ilícito e a Responsabilidade Civil. Às vezes, analisando um edital, percebemos que ele se refere apenas ao Ato Ilícito. Outras vezes verificamos que ele menciona apenas a Responsabilidade Civil. Mas é claro que, tanto em um caso, como em outro, está implícito que cairão na prova os dois temas, pois os mesmos são conexos entre si. Os últimos editais (inclusive este de 2012) foram bem específicos em relação ao ato ilícito e à responsabilidade. Além disso, em todos eles também foi solicitada a repercussão da responsabilidade civil no Direito do Trabalho. Bem.... comecemos, então. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 22 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br Como vimos na aula anterior, nosso ordenamento jurídico visa proteger os atos realizados em harmonia com a lei. No entanto, por outro lado, reprime os atos praticados em sua violação. Assim, ao mesmo tempo em que tutela a atividade da pessoa que se comporta de acordo com o Direito, reprime a conduta daquele que o contraria. Daí a importância do estudo do ato ilícito e sua consequência, a responsabilidade civil. O ato ilícito está previsto nos artigos que vão do 186 até o 188, CC (eles são poucos, mas importantíssimos). Ocorre que não há lógica estudar apenas esses poucos artigos. Eles devem ser relacionados com a responsabilidade civil, prevista nos artigos que vão do 927 ao 943, CC (e se incluirmos ainda o tema “indenização” a previsão se estende até o art. 954, CC). Ou seja, para que nosso estudo seja completo devemos identificar o conceito e a importância do Ato Ilícito (que ainda pertence à parte geral do Código Civil) e, de imediato, a sua relação com a Responsabilidade Civil (que integra a parte especial). Além disso, a Constituição Federal, em seu art. 5°, incisos V e X prevê o direito à indenização por dano moral, material e à imagem. Portanto, durante esta aula, responderemos a seguinte questão: praticado um ato ilícito (civil ou penal), quais as repercussões na esfera da responsabilidade civil? Lembrando que este tema pode cair em provas tanto de Direito Civil, como Direito Constitucional e Administrativo. CONCEITO DE ATO ILÍCITO O ato ilícito está previsto no art. 186, CC. Podemos conceituá-lo como sendo o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando, consequentemente, direito subjetivo individual. No dizer de Francisco Amaral: “A ilicitude significa contrariedade a um dever jurídico, consistindo na ofensa a direito subjetivo ou na infração de preceito legal, que protege interesses alheios, ou ainda no abuso de direito”. O ato ilícito também pode se dar também com o abuso de direito previsto no art. 187, CC. Em qualquer hipótese é necessário que a conduta provoque um dano a outrem, seja patrimonial ou moral (extrapatrimonial). Resumindo: praticar um ato ilícito é incidir na infração ao dever de não lesar outrem (em latim dizemos neminen laedere: a ninguém se deve lesar). E se este ato ilícito causar danos a outrem (patrimoniais ou morais), cria-se o dever de reparar os prejuízos decorrentes. Por isso o ato ilícito é considerado também como uma “Fonte de Obrigação”, pois praticado um ato ilícito a lei obriga a reparação dos danos. Vejam que logo no início da aula já estamos relacionando dois artigos dispostos em lugares bem diferentes do Código Civil: quem pratica um ato ilícito (art. 186, CC) tem a obrigação de reparar o dano (art. 927, CC). O ato ilícito é considerado como um fato jurídico (em sentido amplo). Lembrem-se do gráfico que forneci na aula sobre os fatos jurídicos. Ele produz efeitos jurídicos, sendo que esses efeitos geralmente não são desejados pelo agente (ninguém gosta de indenizar outrem), mas impostos pela lei (por isso eles também são chamados de atos involuntários, pois os DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 33 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br efeitos são involuntários, ou seja, não desejados pelo agente). Há infração de um dever e, consequentemente, a imputação de um resultado. Podemos classificar o ato ilícito em: civil, penal ou administrativo. Lógico que nesta aula o que nos interessa é o ato ilícito civil, porém sempre que falamos sobre este tema, acabamos por “invadir” um pouco a área das demais matérias, pois elas são conexas. Vejamos. a) Penal: violação de um dever tipificado como crime, pressupondo um prejuízo causado à sociedade; desrespeitado, compromete-se a ordem social (norma de ordem pública); a sanção é pessoal, ou seja é a pessoa do infrator imputável que irá responder pela conduta (não se transmite a responsabilidade penal a terceiros). b) Administrativo: violação de um dever que se tem para com a Administração; a sanção também é pessoal. c) Civil: violação de um dever obrigação contratual ou legal, pressupondo um dano a terceiro; a sanção é patrimonial, ou seja, atinge o patrimônio do lesante (como regra). Há casos em que o sujeito pratica uma conduta e esta ofende apenas à sociedade como um todo: trata-se de um ilícito penal. Em outros casos a conduta ofende apenas ao particular: trata-se do ilícito civil. Mas em alguns casos uma só conduta pode ofender à sociedade e ao particular ao mesmo tempo. Pergunto: se um sujeito com apenas uma conduta causar danos à sociedade (ilícito criminal) e ao particular (ilícito civil), pode responder a dois processos? O sujeito pode ser duplamente responsabilizado? Existe um brocardo jurídico que diz: ne bis in idem (ou seja, ninguém pode ser responsabilizado duas vezes pelo mesmo fato). Será que isto se aplica aqui também? Resposta: o princípio do ne bis in idem existe, mas somente é aplicado na mesma esfera. Ou seja, um sujeito foi processado e absolvido por um ilícito penal. Ocorrendo o trânsito em julgado, não se pode instaurar um novo processo penal para apurar o mesmo fato. Mas isto não impede de se instaurar um processo civil visando a reparação do dano. Muito embora o fato seja o mesmo, as esferas de competência são diferentes, visando objetivos diferentes. Portanto uma mesma conduta pode acarretar uma dupla responsabilidade e, portanto, dois processos diferentes. Exemplo: por uma questão de somenos importância “A” agride “B”, nele produzindo lesões corporais. O fato é típico, está descrito no Código Penal (art. 129), logo é um ilícito penal (crime). Por outro lado, causando danos (patrimoniais ou morais) à vítima oagente também é obrigado a reparar esses danos na ordem civil. Trata-se, portanto, de um ilícito civil também. Uma mesma conduta teve como consequência dois efeitos: um na ordem penal e outro na esfera civil. E para apurar estas responsabilidades são instaurados dois processos, com objetivos diferenciados. Às vezes a conduta pode atingir também o Direito Administrativo, havendo uma tripla responsabilidade. Exemplo: o peculato! O que é o peculato? Trata-se de um crime, pois está tipificado no Código Penal (art. 312, CP). O que ele diz? O Código Penal o descreve como sendo um crime próprio do funcionário público. Uma das diversas hipóteses previstas é o DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 44 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br caso de um funcionário que tendo a posse de um bem público, dele se apropria. O funcionário público se apropria de um bem pertencente à Administração, mas que estava sob sua guarda. Com sua conduta o funcionário ofendeu, simultaneamente, três bens jurídicos: atinge o Direito Penal, pois a conduta é crime (é típica; descrita no Código Penal). Além disso, o agente “quebrou a confiança” nele depositada pela Administração Pública. Por tal motivo este funcionário irá responder a um processo administrativo, podendo até mesmo perder o cargo (ser demitido). Por último, apropriando-se de um bem público, causou um dano à Administração, portanto cometeu também um ilícito civil, e, sendo assim, o agente pode ser responsabilizado pelo Estado e compelido a ressarcir o dano que causou. Deste modo, o autor da conduta, com apenas uma ação, ofendeu três bens jurídicos distintos (penal, administrativo e civil), podendo (ao menos em tese) responder a três processos distintos, cada um com objetivos diferenciados. ���IMPORTANTE ��� A responsabilidade penal é pessoal e intransferível. Ou seja, somente a pessoa que pratica o crime, desde que seja imputável (penalmente responsável), é que irá responder por ele. Já a responsabilidade civil é patrimonial, ou seja, o que será atingido é o patrimônio do lesante, sendo que em diversas circunstâncias a responsabilidade pode ser transferida aos sucessores e também aos responsáveis legais do agente. Veremos isso com maior profundidade mais adiante. Vamos fazer um resumo do que vimos até agora sobre o ato ilícito civil: É a conduta humana que fere direitos subjetivos privados; está em desacordo com a ordem jurídica, violando um direito subjetivo individual (art. 186, CC). A consequência principal de sua prática é a obrigação de reparar o dano (patrimonial ou moral), de indenizar (art. 927, CC). A mesma conduta ilícita pode causar repercussão no Direito Civil, Penal e Administrativo; pode haver uma tripla responsabilidade. HISTÓRIA Durante os cursos que ministro visando concursos públicos evito falar sobre a história de cada instituto. Isso é muito interessante para cultura geral, é uma boa introdução para uma tese de mestrado, mas geralmente não cai nos concursos. Nestes cursos temos que ser objetivos! Mas... neste caso em particular, é interessante falar um pouco sobre a história do ato ilícito e a reparação do dano, pois com isso sentimos a evolução do Direito. Não só do Direito Civil, mas de todos os ramos do Direito. Primitivamente vigorava a pena de talião (“olho por olho, dente por dente” ou também “quem com ferro fere, com ferro será ferido”), segundo a qual os danos a terceiros eram retribuídos na mesma qualidade e quantidade pela própria pessoa ofendida. Era a tese do “mal pelo mal”. É claro que, ao invés de se compensar um dano, causava-se outro. O devedor DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 55 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br respondia por suas dívidas com seu próprio corpo (podia ser escravizado) e até mesmo com sua vida (era executado). O direito evoluiu. Foi então editada a famosa lei romana conhecida como Lex Poetelia Papiria (326 a.C.). A partir daí o devedor passou a ser responsabilizado por suas obrigações exclusivamente com seu patrimônio. A execução deixou de ser pessoal para ser patrimonial. Posteriormente, a Lex Aquilia de Danno consagrou, de forma mais elaborada, o conceito de responsabilidade civil, punindo pecuniariamente o agente por danos injustamente provocados. Do nome desta lei (Aquilia), conforme veremos mais adiante, derivou a expressão responsabilidade aquiliana. Trata-se de uma expressão muito comum em concursos públicos. Mas, apesar de toda a evolução do direito, ainda permanece viva a ideia de culpa nos atos ilícitos, de modo que como regra, haverá indenização se houver “culpa” do agente. Veremos melhor esta expressão e a sua abrangência mais adiante. RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade civil pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa que sofreu um prejuízo e a que deve repará-lo. Segundo a doutrina, a responsabilidade civil tem como função principal restaurar o equilíbrio jurídico-econômico anteriormente existente entre o agente e a vítima. Pelo princípio da restitutio in integrum, tenta-se restabelecer o status quo ante, buscando a reparação (do dano material) ou a compensação (da lesão). Há quem sustente também a função punitiva do ofensor e, consequentemente a desmotivacional ou reeducativa da conduta lesiva. A função compensatória visa reequilibrar o que o prejuízo desequilibrou. Nem sempre é possível ressarcir os danos sofridos pela vítima, por isso o ordenamento reconhece o direito do lesado de receber uma compensação, cuja contrapartida é a redução do patrimônio do causador do dano ou responsável por ele. Já a função punitiva tem uma dupla finalidade: garante uma modificação e conscientização do comportamento danoso do ofensor por meio da atribuição de uma sanção, consistindo esta na diminuição de seu patrimônio material e gera uma projeção social da indenização, ou seja, que a conduta do ofensor sirva de exemplo para outros. Para a professora Maria Helena Diniz a responsabilidade civil possui dupla função: a) sanção civil, de natureza compensatória, mediante a reparação do dano causado; b) garantia do lesado à segurança. A responsabilidade surge em face do descumprimento obrigacional (desobediência de uma regra estabelecida em contrato) ou por uma pessoa deixar de observar um preceito normativo que regula a vida. Portanto, de acordo com o fato gerador temos duas espécies de responsabilidade civil: contratual e extracontratual. 1. A responsabilidade civil contratual está situada no âmbito da inexecução de uma obrigação decorrente de um contrato. Como se sabe, as cláusulas contratuais devem ser respeitadas (pacta sunt servanda: o contrato faz lei entre as partes), sob pena de responsabilidade daquele que as descumprir. O contrato traz em seu conteúdo uma obrigação assumida, podendo o seu descumprimento gerar perdas e danos. Os principais DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 66 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br fundamentos jurídicos dessa modalidade de responsabilidade civil estão dispostos no art. 389, CC, quando a obrigação assumida for positiva. E no art. 390, CC, quando se tem uma obrigação negativa. Obrigação Positiva é a de dar alguma coisa (ex.: pagar o aluguel; entregar um quadro que foi comprado, etc.) ou a de fazer algo (pintar um muro ou um quadro; dar uma palestra; realizar uma cirurgia, etc.). Obrigação Negativa é a de não fazer algo, como por exemplo, de não construir um muro divisório acima de três metros. Exemplo de responsabilidade contratual: celebro um contrato de locação. Uma das cláusulas pactuadas determina que o pagamento do aluguel deve ser feito todo dia 15 de cada mês. Estamos no dia 20 e o aluguel não foi pago. Houve, portanto, uma inexecução contratual ocorrendo, como consequência, um ato ilícito civil decorrente do contrato.Surgem então as chamadas obrigações contratuais. São os efeitos do inadimplemento (não cumprimento) do contrato, como por exemplo, a multa pelo atraso no pagamento. Geralmente essa multa é pactuada no próprio contrato de locação. Se o inquilino continuar não pagando o aluguel, poderá ser despejado por falta de pagamento, etc. A culpa contratual não precisa ser provada, bastando que o devedor esteja em mora e que este não decorra de nenhuma das causas excludentes de responsabilidade. 2. A responsabilidade civil extracontratual (ou aquiliana) relaciona-se ao desrespeito ao direito alheio e às normas que regram a conduta, representando qualquer inobservância de um preceito legal. Há a infração de um dever geral imposto pela lei. Enquanto na responsabilidade contratual, os critérios para a composição do prejuízo, como regra, já estão estabelecidos no contrato, na responsabilidade extracontratual a composição é feita por arbitramento, cabendo ao Juiz esta tarefa. Seu fundamento jurídico encontra-se nos arts. 186, 187 e 927, CC. Nesta hipótese não é necessário constituir o devedor em mora. Ele já está em mora desde o momento da prática do ato ilícito (ver art. 398, CC). Resumindo Responsabilidade contratual →→→ surge pelo descumprimento de uma cláusula do contrato (inadimplemento contratual). Responsabilidade extracontratual (aquiliana) →→→ deriva de inobservância de qualquer outro preceito legal; de normas gerais de conduta (e não de um contrato entre as partes). Consequências A consequência da infração ao dever contratual e/ou ao dever legal (extracontratual) é a mesma → obrigação de ressarcir o prejuízo causado. A diferença entre elas está no ônus da prova. Na responsabilidade contratual há uma presunção (relativa) de que a culpa é de quem não cumpriu a obrigação. Em tese o lesado só precisa provar que o contrato não foi cumprido. É a outra parte quem deve provar sua inocência (caso fortuito, força maior). Se não houver esta prova, ele deverá indenizar. No entanto se DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 77 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br a responsabilidade é extracontratual, como regra, não existe a presunção de culpa; a vítima deve provar a culpa do transgressor. TEORIAS Existem duas teorias sobre responsabilidade civil, que veremos com detalhes. Primeiro falaremos sobre os aspectos gerais de cada uma delas. Depois vamos nos ater às regras adotadas pelo nosso Código: Teoria da Responsabilidade Subjetiva. Teoria da Responsabilidade Objetiva. A) TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA Segundo esta teoria, haverá responsabilidade por indenização somente se houver “culpa” do agente. Esta deverá ser provada para que haja a obrigação de indenizar. A teoria da responsabilidade subjetiva também é conhecida como teoria clássica ou teoria da culpa. ���Cuidado!!! Sempre que eu falo em “culpa”, as pessoas se lembram do Direito Penal; ou seja, uma imprudência ou de uma negligência do agente. Mas não é bem assim. Na verdade, culpa não é só isso; é mais do que isso. É um conceito bem mais amplo. Explico. A Teoria da Culpa está se referindo a culpa em sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Assim culpa (em sentido amplo) é o gênero. Sua prova constitui o pressuposto para indenização do dano. E as espécies são dolo e culpa (em sentido estrito). Assim, quando alguém fala em culpa em sentido amplo, está se referindo ao elemento subjetivo: ao dolo e à culpa propriamente dita. Já vi em provas a expressão “elemento anímico” (vem de animus – intenção, que por sua vez deriva de alma, de sopro de vida). Assim, o elemento subjetivo ou anímico tem como espécies: Dolo: pleno conhecimento do mal; o agente pratica uma conduta, tem consciência dos efeitos desta conduta e, mesmo assim, deseja as consequências maléficas (dolo direto) ou assume o risco de produzi-las (dolo eventual). Trata-se da ação ou omissão intencional ou voluntária. Culpa (em sentido estrito): violação de um dever que o agente poderia conhecer e acatar; o agente pratica uma conduta e não quer o resultado, mas este acaba ocorrendo por alguma circunstância (imprudência, negligência e imperícia). Portanto, pela Teoria da Responsabilidade Subjetiva, haverá indenização toda vez que o agente tenha praticado o ato danoso porque o conhecia e o quis (dolo direto) ou assumiu o risco do resultado (dolo eventual). Mas também quando o agente, embora não o conhecesse e não o quisesse, tenha agido por negligência ou imprudência ou violado norma que podia ou devia conhecer e acatar (culpa em sentido estrito). Prevalece a teoria da previsibilidade. Se o ato era previsível (para a pessoa diligente, prudente e conhecedora da norma), então haverá culpa para o agente. Exemplo: se eu bato na traseira do carro de outra pessoa, presume-se a minha culpa, porque há uma regra geral pela qual se deve DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 88 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br guardar distância do veículo da frente e dirigir com atenção. Lógico que se trata de uma presunção relativa ou juris tantum, ou seja, que admite prova em contrário (diz a jurisprudência: “A presunção de culpa do condutor que abalroa o outro na traseira é relativa, podendo ser elidida se nos autos houver prova robusta em contrário – o veículo da frente é que estava trafegando em marcha-ré”). Outros exemplos: um dentista trata mal um dente, causando a perda do mesmo por falta de conhecimento técnico que deveria ter, age com culpa; o mesmo se diga de um advogado que perde uma causa por total falta de conhecimento, preparo profissional e cuidado ou um médico que realiza uma operação sem necessidade e sem ter o domínio da técnica cirúrgica. Classificação da Culpabilidade (em sentido amplo – ou lato sensu). Já analisamos a principal classificação acerca da culpabilidade que é a culpa contratual e a culpa extracontratual ou aquiliana. No entanto, doutrinariamente há outras espécies, inclusive com a utilização de expressões latinas. E não é raro o examinador usar algumas destas expressões. Vejamos: • culpa in eligendo: é a resultante de má escolha de um representante ou do preposto para a prática de um ato ou o cumprimento da obrigação. • culpa in vigilando: é a que resulta da falta de atenção com o procedimento de outra pessoa. Ex.: filho menor que pratica um ato ilícito pela falta de vigilância dos pais. Também pode recair sobre coisa. Ex.: empresa de taxi que permite que os veículos saiam com falha nos freios. • culpa in custodiendo: decorre da falta de cuidado em se guardar, custodiar determinada coisa ou animal, sob seus cuidados. Ex.: dono de animais que estragaram a plantação do vizinho, pois ele deixou a porteira aberta. • culpa in committendo (ou in faciendo): é a que resulta da prática de uma conduta positiva pelo agente (ação ou comissão); as imprudências de uma forma geral. Ex.: dirigir em excesso de velocidade, causando um atropelamento, passar em um sinal vermelho, etc. • culpa in omittendo: decorre de uma conduta negativa pelo agente (abstenção de um ato, omissão). Ex.: empregado que não tranca a porta do estabelecimento ao final do expediente; médico que não faz a operação completa, etc. A culpa ainda pode ser classificada em grave (quando resulta de dolo ou negligência crassa; há uma falha grosseira ao dever de cuidado), leve (quando a conduta se desenvolve sem a atenção normalmente devida; a lesão seria evitável com atenção ordinária, comum a qualquer pessoa) e levíssima (quando o fato só teria sido evitado mediante cautelas extraordinárias ou especial habilidade). No Direito Civil, como regra, responde-se por qualquer espécie de culpa porque se tem em vista a extensão do dano (art. 944, CC) e não o grau da culpa. Todo prejuízo que a vítima conseguir provar deve ser indenizado. No entanto,apesar disso, nosso Código estabeleceu que se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 99 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br o Juiz reduzir equitativamente a indenização (art. 944, parágrafo único, CC). Nos danos morais o grau da culpa também pode influir no quantum indenizatório arbitrado (ou seja, no valor da indenização), por não se tratar propriamente de um ressarcimento, mas de uma compensação satisfativa. Consequências Como vimos, havendo dano decorrente do ato ocorrido com culpa (em sentido amplo) do agente, haverá obrigação de indenizar a pessoa que foi lesada. No entanto, em algumas hipóteses esta teoria passou a ser considerada injusta para a vítima, pois nem sempre é fácil provar a culpa do causador do dano. Por isso, em algumas situações especiais adotou-se a “presunção de culpa”. Surge então a teoria da responsabilidade objetiva. B) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA Por esta teoria não é necessário verificar a existência de culpa do agente. Ela é imposta por lei, fundada na Teoria do Risco, a responsabilidade objetiva independe da culpa; esta não é discutida. Verifica- se somente a existência de uma conduta, do dano e a relação de causalidade entre eles, decorrendo daí a obrigação de indenizar. Exemplo: a responsabilidade do hoteleiro pelo furto de valores praticados por empregados do hotel contra os hóspedes →→→ digamos que já esteja provada a conduta do funcionário, o dano suportado pelo hóspede e o nexo causal entre a conduta do funcionário e o dano →→→ logo, o dono do hotel responde por este dano suportado pelo hóspede, independentemente de eventual culpa sua no evento. Outra hipótese: pelo simples fato de um empregado se ferir no serviço há a responsabilidade e, via de consequência, indenização a ser paga pelo seguro, que não examina se houve ou não culpa do dono do serviço. Passou-se a considerar que aquele que obtém vantagens no exercício de uma atividade deve também responder pelos eventuais prejuízos desta atividade. Trata-se da aplicação do brocardo: “quem aufere cômodos, arca também com os incômodos”. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) também têm responsabilidade civil, ou seja, respondem pelos danos causados pela atividade administrativa, independentemente de culpa de seus funcionários, inclusive no que se refere à culpa anônima ou do serviço (prevista no art. 37, §6°, CF/88). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo objetiva, isto é, não é necessário provar se houve culpa do funcionário. Basta provar que houve a conduta da administração e a lesão ao direito de um particular (sem que tenha havido culpa exclusiva deste particular). Deve-se provar a conduta positiva (ação) ou negativa (omissão), a lesão e o nexo causal. Só!! Provadas estas situações, indeniza-se. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1100 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br A doutrina menciona as seguintes espécies de modalidades de risco: Risco proveito: relacionado ao brocardo “quem colhe os bônus deve suportar os ônus”, ou seja, aquela pessoa que tira proveito da atividade perigosa também deve suportar os danos dela decorrentes. Risco profissional: relacionado às relações de trabalho, viabilizando a responsabilidade (objetiva) do empregador pelos danos causados pelo empregado, em decorrência da atividade por este desenvolvida. Risco excepcional: refere-se às atividades que, por sua natureza, representam um elevado grau de perigo, tanto para as pessoas que as desempenham diretamente, como para os demais membros da coletividade. Risco integral: é o grau mais elevado de responsabilidade objetiva, não atingindo nenhum tipo de exclusão, mesmo na ocorrência de caso fortuito ou força maior. Tal modalidade é reservada aos danos decorrentes de atividades nucleares. Atualmente, no Direito Administrativo, vigora sobre o assunto a teoria do risco administrativo, que equivale a uma responsabilidade objetiva mitigada (ou seja, diminuída em seus efeitos, abrandada), uma vez que pode ser afastada (pela culpa exclusiva da vítima) ou diminuída (se houver culpa concorrente da vítima), o que não ocorre no risco integral. Elementos da Teoria Objetiva • existência de uma conduta positiva (ação) ou negativa (omissão). • dano patrimonial ou moral (extrapatrimonial). • nexo causal (relação de causalidade) entre a conduta e o dano. Observação. Vimos acima que a responsabilidade do Estado é objetiva. Porém, segundo a doutrina e a jurisprudência, em algumas hipóteses, especialmente quando houver omissão do Estado, a sua responsabilidade será na modalidade subjetiva. Vejam como foi interessante e completa a seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: “Omissão negligente do Poder Público. Obrigação de conservação de ruas, calçadas e logradouros públicos em condições de segurança e incolumidade às pessoas. Responsabilidade Subjetiva do Estado caracterizada. Conduta, Dano e Nexo de causalidade demonstrados. Dever de indenizar também pelos danos morais. Culpa concorrente. 1) O sistema jurídico brasileiro adota a responsabilidade patrimonial objetiva do Estado, sob a forma ‘risco administrativo’. Tal assertiva encontra respaldo legal no art. 37, §6° da Constituição Federal de 1988. Todavia, quando o dano acontece em decorrência de uma omissão do Estado, é de se aplicar a teoria da responsabilidade subjetiva. 2) Compete ao Município manter e fiscalizar a execução de obra, a fim de manter a incolumidade dos munícipes. Neste passo, a omissão do Poder público em conservar o acesso à residência da autora restou caracterizada, assim como os danos advindos da queda da requerente em valo. 3) Neste caso houve culpa concorrente da autora, porquanto a requerente poderia ter atravessado o valo através da utilização da ponte existente em frente à residência de vizinho, de forma a transpor o obstáculo. 4) A indenização por DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1111 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br dano moral deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto bastante no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado” (9a Câmara Cível – TJRS – Viamão - Rel. Des. Odone Sanguiné). REGRAS ADOTADAS PELO CÓDIGO CIVIL Nosso Código adotou, como regra, a Teoria da Responsabilidade Subjetiva, prevendo em seu art. 186, CC: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. E arremata no art. 927, caput, CC: “Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. No entanto, apesar desta regra, devemos tomar muito cuidado porque há diversas exceções. Isto é, há casos em que o próprio Código Civil admite a aplicação da responsabilidade objetiva, impondo a obrigação de reparar o dano independentemente de culpa. Vejamos o art. 927, parágrafo único, CC: Quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Substitui-se, assim, a culpa pela ideia do risco. Ora, se o empresário se propõe a estabelecer uma empresa que pode oferecer riscos na execução das atividades, se contrata pessoas para executar estas atividades e se os benefícios (lucros) gerados ao empresário devem ser atribuídos, logo, o risco do negócio, assim como os resultantesdos acidentes, também deverão ser por ele suportados. Demais casos especificados em lei. Neste caso, temos como exemplos: arts. 932 e 933, CC, danos ao meio ambiente, relações de consumo, etc. ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS Já vimos atrás os elementos caracterizadores da responsabilidade em geral (objetiva e subjetiva). Vamos agora aprofundar o tema, com base nos elementos específicos de nossa legislação. Assim, são elementos indispensáveis para que haja responsabilidade e indenização pela prática de um ato ilícito: 1. CONDUTA (é o fato lesivo) A conduta pode ser causada por uma ação (conduta positiva) ou por uma omissão (conduta negativa). Além disso, pode ser voluntária (dolo) ou causada por uma negligência ou DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1122 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br imprudência (que são modalidades da culpa). A regra, o mais comum, é a prática da conduta pela ação. Já para a configuração da omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (a pessoa não podia se omitir), a prova de que a conduta não foi praticada (omissão) e a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. Portanto, para configurar a omissão, na prática, é um pouco mais difícil. A conduta é composta de uma parte objetiva (ação ou omissão) e outra subjetiva (dolo ou culpa). No entanto a parte subjetiva só está presente na responsabilidade subjetiva. Na responsabilidade subjetiva, a conduta compreende: Dolo: violação intencional (ação ou omissão), voluntária (observem que o Código Civil utiliza essa última palavra), do dever jurídico; o agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). Culpa: não há deliberação, intenção de violar o dever jurídico, mas este acaba sendo violado por ter ocorrido uma: • Imprudência: é a prática de um fato considerado perigoso (ex.: dirigir veículo em rua movimentada em excesso de velocidade, passar em um sinal vermelho, etc.). • Negligência: é a transgressão ao preceito que exige atenção; é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado; é a falta de uma cautela ordinária que se exige em face de uma situação (ex.: deixar arma de fogo ao fácil alcance de uma criança). • Imperícia: é a ignorância, falta de experiência ou inabilidade com relação às regras para a prática de determinado ato; é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Embora a expressão “imperícia” não esteja prevista expressamente no art. 186, CC, ela também é uma modalidade da culpa (espécie de negligência). O exemplo clássico é o do médico, do dentista, do engenheiro, etc. que, em face de um desconhecimento ou falta de prática, no desempenho de suas funções, venha causar dano a interesses de terceiros. Observação. Para o Direito Penal é muito importante saber se o sujeito agiu com dolo ou culpa. Principalmente no tocante à imposição da pena. No entanto, para o Direito Civil pouco importa se ele agiu com dolo ou culpa. Tanto faz! Em qualquer das modalidades as consequências serão as mesmas: reparação do dano. 2. OCORRÊNCIA DE DANO (eventus damni) Para que haja o pagamento da indenização, além da prova da conduta (positiva ou negativa), é necessária a comprovação de um dano patrimonial ou extrapatrimonial (moral). Se não houver dano não haverá responsabilidade. São espécies de dano: A) DANO PATRIMONIAL (material) É o que atinge os bens da pessoa. Compreende (art. 402, CC): DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1133 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br a) Danos Emergentes (também chamados de danos positivos): efetiva diminuição do patrimônio da vítima; são os prejuízos efetivamente suportados; o que a vítima realmente perdeu com a conduta do agente. b) Lucros Cessante (também chamados de lucros frustrados ou danos negativos): aquilo que a vítima razoavelmente deixou de ganhar em razão da conduta do agente (ausência de acréscimo patrimonial). Trata-se de uma prova mais difícil na prática, pois é baseado no pretérito, ou seja, no quanto vinha rendendo em determinado período. O dispositivo deve ser entendido com parcimônia, pois o dano deve ser atual e concreto. Ou seja, não se pode indenizar um dano futuro e hipotético (que poderia ou não ocorrer). Exemplo: digamos que uma pessoa bata o carro (culposamente) em um motorista de praça (táxi). O veículo do taxista ficou muito avariado e ficou na oficina durante dez dias para reparos. O causador do dano deve indenizar os prejuízos que efetivamente ocorreram no táxi (danos emergentes) e também deve indenizar os dias em que o motorista ficou parado por causa do acidente (lucros cessantes); o que ele deixou de ganhar estando parado. B) DANO MORAL (ou extrapatrimonial) É o que ofende, não o patrimônio da pessoa, mas sim os direitos da personalidade. Não implica em alteração de patrimônio, resumindo-se em uma perturbação injustamente feita às condições de ânimo do lesado. Em sentido próprio refere-se ao abalo dos sentimentos de uma pessoa, provocando-lhe dor, aborrecimento, tristeza, desgosto, depressão, humilhação, etc., que foge à normalidade, interferindo no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe desequilíbrio em seu bem-estar físico. Em sentido impróprio ou amplo, abrange a lesão de todos e quaisquer bens ou interesses pessoais (exceto econômicos), como a liberdade, o nome, a família, a honra, a integridade física, etc. Na reparação do dano moral não se pede um preço para a sua dor (o dinheiro não age como um fator de equivalência), mas um meio para atenuar, ao menos em parte, as consequências do dano emocional causados a uma pessoa e de infligir ao causador uma sanção e alerta para que não volte a repetir o ato. Tem, portanto, finalidade punitiva (compensatória) e preventiva para caso de não se reincidir. O Juiz considera o poder econômico das partes e o caráter educativo da sanção. O prof. João Oreste Dalazen (Aspecto do Dano Moral Trabalhista) sintetiza as seguintes regras para dimensionar o dano pessoal: • compreender que o dano moral em si é incomensurável; • considerar a gravidade objetiva do dano; • levar em conta a intensidade do sofrimento da vítima; • considerar a personalidade (antecedente, grau de culpa, índole, etc.) e o maior ou menor poder econômico do ofensor; • não desprezar a conjuntura econômica do País; • pautar-se pela razoabilidade e equitatividade na estipulação (evitando-se de um lado um valor exagerado a ponto de levar a um enriquecimento sem causa e de outro lado evitando-se um valor tão baixo que seja irrisório e desprezível a ponto de não cumprir a função inibitória). DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1144 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br Costumamos nos indignar, quando ouvimos nos noticiários, os casos de homicídios, roubos, estupros, etc. Não é de nosso costume nos sensibilizar com os crimes contra a honra... os que afetam a moral de uma pessoa. Mas isso ocorre somente quando o episódio não se deu conosco ... só uma pessoa que já foi ofendida em sua honra sabe o quanto a dor moral é profunda... E nada cura essa dor moral... a condenação do ofensor apenas serve como satisfação aos outros, ao meio social em que se vive... mas não cura... no ofendido fica sempre uma “cicatriz invisível”. A propósito, vejam o que diz o art. 5°, inciso X, CF/88: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação” (vide também o inciso V). Segundo a doutrina e a jurisprudência, as pessoas jurídicas possuem honra objetiva (aquilo que as outras pessoas pensam sobre ela: bom nome, tradição, solidez, conceito na sociedade, etc.), por isso tambémpodem pleitear ressarcimento pelo dano moral. Percebam que o Código Civil não traz critérios para a quantificação da indenização por dano moral. No Brasil não há uma “tabela” para apuração decorrente do dano moral. Utiliza-se um “sistema aberto”. Deve o Magistrado fixá-la analisando a extensão do dano, as condições dos envolvidos e o grau de culpa do agente em cada caso. Isso não se avalia mediante simples cálculo, mas visando compensar a sensação de dor da vítima. Portando, isto varia de caso para caso. A compensação em dinheiro deve representar uma satisfação capaz de anestesiar o sofrimento impingido e produzir um impacto no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado. A jurisprudência entende que se deve levar em conta a situação financeira do ofensor e do ofendido. Mas isso pode acarretar distorções. Pergunto: “a dor do pobre vale menos que a dor do rico”? C) DANO ESTÉTICO. Além do dano patrimonial (material) e extrapatrimonial (moral) a doutrina ainda se refere ao dano estético, que compromete a aparência (imagem física) da pessoa lesada. Para alguns autores, o dano estético é somente uma espécie de dano moral. Para outros a CF/88, em seu art. 5°, V, deixou clara a existência de três espécies de dano: o patrimonial, o moral e também o dano à imagem. Por este dispositivo o legislador não teria incluído o dano à imagem dentro do dano moral; o dano à imagem seria uma espécie autônoma de dano. Ora, o dano estético lesa um dos direitos da personalidade: a aparência física. Ele é conceituado como aquilo que agride a pessoa nos seus sentimentos de autoestima, prejudicando a sua avaliação como indivíduo; ele denigre a imagem que a pessoa tem de si mesma. E quando compromete a aparência, também fica comprometida a imagem social da pessoa lesada ou o modo pelo qual os outros a veem, fazendo-a se sentir mal, trazendo-lhe um enorme sofrimento psicológico. Geralmente o dano é verificado na aparência da pessoa; qualquer alteração que diminua a beleza que esta possuía, em virtude de alguma deformidade, cicatriz, perda de membros ou outra causa qualquer. No DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1155 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br entanto o dano não precisa estar exposto, nem ser de grande monta para que se caracterize. Mesmo deformidades em áreas íntimas da pessoa que, dificilmente, nas situações sociais estejam expostas à vista de terceiros, caracterizam o dano estético. A possibilidade de cumulação encontra suporte a partir da ideia que o dano estético estaria representado pela deformidade física propriamente dita, e o dano moral pelo sofrimento, pela vergonha, pela angústia ou sensação de inferioridade da vítima, comprometendo sua imagem social. Estabelece a Súmula 387 do STJ: “É possível a cumulação das indenizações de dano estético e moral”. Um dos casos que serviu de base para a edição da súmula, tratava de um acidente de carro em transporte coletivo. Um passageiro perdeu uma das orelhas na colisão e, em conseqüência das lesões sofridas, ficou afastado das atividades profissionais. O STJ entendeu presentes o dano material, moral e estético, sendo o passageiro indenizado de forma ampla. Outro caso recente foi o do ataque de um cachorro da raça rottweiler a uma criança de cinco anos. O incidente foi trágico, deixando danos estéticos graves na criança. O réu foi condenado expressante pelos danos materiais (internação hospitalar, remédios, tratamentos psicológicos e operações posteriores, etc.), morais e estéticos causados à criança. Observações 01. Se houver dano patrimonial e moral decorrentes do mesmo fato, há a possibilidade de cumulação das duas modalidades de dano, pleiteando-se indenizações em uma mesma ação. Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. 03. A doutrina ainda menciona o chamado dano indireto (dano reflexo ou dano em ricochete). Trata-se do dano que inicialmente atinge diretamente uma pessoa. No entanto a mesma conduta afetou terceiros de forma indireta. Exemplo: A matou B. Este foi a vítima direta da conduta ilícita. Ocorre que B era divorciado e possuía dois filhos menores (C e D), sendo que ele pagava uma pensão mensal aos filhos. Com a morte de B, seus filhos, evidentemente, vão sofrer com a conduta de A. 3. NEXO DE CAUSALIDADE Trata-se da relação ou vinculação de causa- efeito entre a conduta (ação ou omissão) e os danos sofridos. Não há responsabilidade civil sem a relação de causalidade entre o dano e a conduta ilícita do agente. Observem o verbo “causar” empregado no art. 186, CC. Se houver dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, não havendo a obrigação de indenizar. E também não haverá esse nexo se o evento se deu por culpa exclusiva da vítima. Exemplo: um passageiro de um ônibus força a porta e desce do veículo que ainda estava em movimento; com isso acaba caindo e se machucando; não pode pleitear indenização, pois o próprio passageiro agiu com culpa; e a culpa foi exclusivamente sua. Se a culpa for concorrente a indenização será reduzida proporcionalmente. O Superior Tribunal de Justiça recentemente julgou um caso em que um DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1166 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br pedestre de forma imprudente atravessou uma linha férrea e foi atropelado por um trem. A empresa foi considerada negligente pela má conservação do muro que cerca a linha, possibilitando o acesso ao pedestre. Foi condenada, porém de forma parcial. Também é motivo para exclusão do nexo causal se o fato ocorreu por caso fortuito ou força maior (art. 393, CC). Resumindo Para que alguém seja responsabilizado civilmente é necessário se provar a conduta, o dano e o nexo de causalidade. RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL Conforme dissemos acima, embora o Código Civil tenha adotado, como regra, a teoria subjetiva para a responsabilização, possui diversos dispositivos em que a responsabilidade é do tipo objetiva. Assim, haverá obrigação de reparar o dano (independentemente de culpa) nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem (art. 927, parágrafo único, CC). Exemplo: os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação (art. 931, CC). Do mesmo modo, há responsabilidade do dono de animais (art. 936, CC), do dono de prédios em ruína (art. 937, CC), do habitante da casa da qual caírem coisas (art. 938, CC), dos acidentes do trabalho, etc. Analisaremos todos esses itens logo mais adiante. BANCO. A jurisprudência é pacífica no sentido de que a responsabilidade pelo pagamento dos danos morais e patrimoniais causados a cliente de um banco por assalto que se desenrolou no interior do próprio banco é da instituição financeira, ainda que fora do expediente e independentemente de existir empresa contratada para fazer a segurança do local. Em caso de assalto a banco, não pode ser alegado motivo de força maior, pois o roubo é fato previsível na atividade bancária. Além do mais a Lei n° 7.102/83 criou para as instituições financeiras um dever de segurança em relação ao público em geral. Neste caso a responsabilidade do banco em relação a eventuais ferimentos de clientes no assalto funda-se na teoria objetiva do risco integral. O STJ apreciou um caso muito interessante a respeito: Um carro-forte foi atacado por atiradores com armas especiais, que estavam em um viaduto. O motorista do carro foi ferido, “perdeu a direção” e atingiu um pedestre que estava na calçada, matando-o. Familiares do pedestre ingressaram com ação contra a empresa de segurança. Foi indenizadaou não? A decisão foi por maioria de votos. Parte dos julgadores entendeu que o roubo é hipótese de força maior, que não obriga indenização. A outra parte (vencedora) entendeu que o transporte de valores é atividade sabidamente perigosa, feita com intuito de lucro e não parecia razoável mandar a família do pedestre morto reclamar indenização dos autores do crime de roubo (que sequer foram identificados). DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1177 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br � Questão Polêmica � Um ponto delicado é o referente à responsabilidade em caso de assaltos em terminais ou caixas eletrônicos situados fora da agência (autoatendimento 24 horas). Parte da doutrina entende que como a instituição financeira se beneficia com a instalação dos caixas eletrônicos, (facilitando seus negócios, angariando clientes, diminuindo seus gastos e inclusive cobrando por este serviço), deve responder pelo risco que decorre da instalação desses postos, alvo constante da ação dos ladrões. Trata-se de uma estratégia comercial que cria um risco pela instalação do caixa e que por este risco a empresa deve responder. O fundamento seria o art. 927, parágrafo único, CC (responsabilidade objetiva). É a minha posição. Por outro lado, há quem sustente que os assaltos ocorridos em terminais localizados, não na própria agência, mas em via pública, resultariam na responsabilidade do Estado, e não do banco. Isto porque tais caixas estão situadas no interior de bens públicos de uso comum e, portanto, sua fiscalização ficaria a cargo dos agentes da segurança pública (cabe ao Estado e não ao particular a segurança destas áreas). Além disso, há também responsabilidade dos fabricantes, fornecedores de produtos e serviços nas relações de consumo (arts. 12 e 14 da Lei n° 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor - CDC). A legislação de Direito Ambiental (Lei n° 6.938/81, entre outras) também fornece exemplos de responsabilidade objetiva como um meio de se coibir danos ao meio ambiente. A Lei n° 9.605/98, baseada no art. 225, §3o, CF/88, prevê até mesmo situações em que a Pessoa Jurídica pode cometer crime ao meio ambiente e responder por esta conduta na esfera penal. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR Já sabemos o que é um ato ilícito na esfera do Direito Civil. Vamos ver agora o que obriga uma pessoa a reparar os prejuízos que sua conduta causou. O autor de um ato ilícito terá a responsabilidade pelo prejuízo que causou, devendo indenizá-lo. Como já vimos, assim determina o art. 927, caput, CC: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. A obrigação de indenizar decorre da inobservância do dever geral de não causar danos a outrem. Os bens dos responsáveis pela ofensa ou violação do direito de outrem, ficarão sujeitos à reparação do dano patrimonial ou moral causado. Trata-se de uma norma de ordem pública. Se a ofensa tiver mais de um autor todos responderão solidariamente pela reparação (art. 942, CC). Ou seja, o titular de uma ação pode propô-la contra um ou contra todos os responsáveis pelo ato ao mesmo tempo. Além disso, no caso de solidariedade, aquele que pagar a indenização terá direito de regresso contra os demais codevedores, para reaver o que desembolsou. Acrescente- se que o dever de reparar o dano é transmissível aos herdeiros, conforme veremos. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1188 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br ABUSO DE DIREITO O Código Civil atual adotou, em seu art. 187, a Teoria do Abuso de Direito como ato ilícito. Trata-se do exercício irregular de um direito. O Abuso de Direito é uma grande inovação e uma boa “dica” para se pedir em um concurso, dada a sua novidade. Ampliou-se a noção de ato ilícito, para se considerar como objeto da responsabilidade civil também aquele ato praticado com abuso de direito, em que a pessoa, ao exercer um direito, excede determinadas limitações legais, lesando outrem. Por isso, traz como consequência, o dever de indenizar. Ou seja, o ato era originariamente lícito, mas foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. Alguns autores usam o termo “ato emulativo” para se referir ao abuso de direito (já vi este termo cair em alguns concursos com este sentido). No entanto tal expressão não é técnica e também não é muito usada no meio jurídico. Seria aquele ato que a pessoa pratica, não para a sua utilidade, mas para prejudicar um terceiro. Segundo a doutrina majoritária a responsabilidade decorrente do abuso de direito independe de culpa. Portanto tem natureza objetiva. A doutrina costuma usar a seguinte frase: “o abuso de direito é lícito pelo conteúdo, mas ilícito pelas suas consequências". O Código de Defesa ao Consumidor (Lei n° 8.078/90) proíbe toda publicidade enganosa ou abusiva. É enganosa quando induz a erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade e quantidade, origem, preço e quaisquer outros dados sobre o produto ou serviço, até mesmo a omissão sobre dados essenciais. Já a publicidade abusiva é a discriminatória, a que incita a violência, explora o medo e a superstição, desrespeita valores ambientais, etc. � Um problema de ordem prática e que atinge tanto o Direito Civil como o Penal é: se uma pessoa colocar uma cerca eletrificada e esta causa a morte de uma criança que brincava com uma bola, tal fato é considerado abuso de direito? Resposta: é permitido em nosso Direito criar obstáculos para evitar um assalto. Exemplo: cercas com “lanças” de metal; caco de vidro nos muros divisórios, etc. O Direito Penal aceita isso normalmente, chamando essa conduta de “legítima defesa antecipada” ou de “ofendículos”. O Direito Civil também permite isso e chama esta conduta de “exercício regular de um direito”. Mas e uma cerca eletrificada? Também é legítima defesa antecipada? Tem se entendido, inclusive para concursos, que se a “voltagem” da cerca é pequena, o direito é legítimo; se há um aviso dizendo que a cerca é eletrificada, o direito também é legítimo. Mas se a cerca é disfarçada, sem avisos e com voltagem alta, capaz de matar alguém, a conduta é considerada como abuso de direito; é um exercício irregular do direito. Portanto é ato ilícito e cabe indenização. Portanto, cuidado com a forma de redação na elaboração da questão. Outra questão muito atual diz respeito ao SPAM. O que é um SPAM? Trata-se do envio de e-mails ou mensagens eletrônicas sem que haja solicitação para tanto. A doutrina vem se posicionando no sentido de que esta conduta se configura em Abuso de Direito. E isto por dois motivos: DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 1199 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br primeiro porque há uma quebra da boa-fé objetiva; segundo porque há um desvio de finalidade socioeconômica da Internet. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA E SUBSIDIÁRIA Na responsabilidade solidária passiva temos um credor de um lado e por outro lado uma pluralidade de devedores. E o credor pode exigir a obrigação por inteiro de qualquer um dos coobrigados. É como se todos os devedores fossem apenas um. Segundo o Código Civil (art. 235) a solidariedade não se presume. Ela decorre da lei ou da vontade das partes (contrato). Assim pode o credor, à sua escolha, acionar todos ou apenas o devedor que possui melhores condições para honrar o compromisso. Já na responsabilidade subsidiária existe uma relação principal entre credor e devedor. Há uma preferência. O credor deve inicialmente acionar o devedor para o cumprimento da obrigação. Caso este assim não proceda, acionará o terceiro, que é o responsável subsidiário, o mero garantidor a obrigação. A fiança é o exemplo clássico. RESPONSABILIDADE POR ATOS DE TERCEIROS Em regra, somosresponsáveis somente pelas nossas condutas e atitudes. Todos os atos praticados de forma livre e consciente por uma pessoa capaz (ou seja, que tenha discernimento e autodeterminação) a ela serão imputados. No entanto, há casos em que o legislador determinou que pessoa diversa daquele que praticou a conduta causadora do evento danoso responda perante o lesado. Assim, em relação à responsabilidade civil do agente, temos a seguinte classificação: Responsabilidade direta (ou por ato próprio): ocorre quando o autor do ato que causou o dano é a mesma pessoa que irá efetuar o pagamento de sua reparação. Responsabilidade indireta (também chamada de responsabilidade por fato de outrem, ou por fato de terceiro, ou complexa): o ato lesivo é praticado por uma pessoa, mas será outra quem irá indenizar; uma pessoa é civilmente responsável perante terceiros por condutas praticadas por outra (arts. 932 a 934, CC). Ex.: uma pessoa menor de 18 anos não é plenamente responsável; no campo do direito penal é considerada inimputável. Mas mesmo assim, se ela praticar um ato ilícito, haverá obrigação de indenização por seus pais (ou tutores). Lembrando que o menor entre 16 e 18 anos não pode invocar a sua idade para eximir-se de uma obrigação, se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte ou se, no ato de obrigar-se, declarou- se maior (art. 180, CC). O art. 932, CC arrola diversas hipóteses de responsabilidade civil por atos praticados por terceiros (responsabilidade indireta ou complexa). Vejamos: Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Exemplo: pai permite que filho dirija sem habilitação; havendo um acidente, o pai deve responder pela conduta do filho. Da mesma forma o pai responde pela DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 2200 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br conduta de um filho que cometeu delitos como a lesão corporal, o furto, etc. A lei deixa claro que o filho menor (de 18 anos) deve estar sob a autoridade e companhia dos pais. Assim, em caso de separação judicial o responsável é aquele que ficou com a guarda do menor. No entanto, pelo art. 928, CC o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Exemplo da primeira situação: os pais são separados e o pai não é o que chama de “genitor-guardião”; ou seja, o filho está sob a custódia da mãe; nesta situação o filho pratica um ato ilícito; obviamente que quem irá responder por este fato é a mãe e não o pai, pois este não tinha a obrigação legal de fazê-lo. Exemplo da segunda situação: o filho menor recebeu uma grande herança de um tio muito rico, no entanto o pai não dispõe de posse alguma; o filho pratica um ato ilícito. Em tese o pai responderia. Mas como o mesmo não tem bens para tanto, a responsabilidade será do próprio menor. Notem que a redação do artigo “é meio inversa”. Na verdade o legislador quis dizer que é o responsável pelo incapaz quem responde por seus atos (civis), mas se este responsável não dispuser de meios suficientes (ou seja, não tem dinheiro) aí quem irá responder é o próprio incapaz. Resumindo →→→ o responsável responde de forma objetiva (art. 932, I, c.c. 933, CC); se ele não puder ou não tiver essa obrigação, o próprio incapaz responderá, pois possui responsabilidade subsidiária (art. 928, CC). Interessante acrescentar que a jurisprudência entende que o menor emancipado (art. 5°, parágrafo único, CC) torna-se civilmente capaz, respondendo por seus atos; contudo, se a decisão de emancipação partiu dos próprios pais (emancipação voluntária), estes não se isentam da responsabilidade; eles continuam responsáveis pelo menor emancipado. No entanto a responsabilidade neste caso será solidária (ou seja, a vítima pode ingressar com a ação somente contra um, somente contra o outro, ou contra ambos, à sua escolha). ���IMPORTANTE ��� O parágrafo único do art. 928, CC determina que esta indenização deve ser equitativa e não será devida se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependam. Exemplo: o menor tem uma renda mensal de R$ 1.000,00 e foi condenado a pagar R$ 900,00 por mês. Neste caso o Juiz deve abrandar, equitativamente este valor (baixando, por exemplo, para R$ 300,00 ao mês), pois a condenação integral irá privar o incapaz dos meios necessários à sua subsistência. Portanto dizemos que a responsabilidade do menor é subsidiária e mitigada (abrandada, diminuída) equitativamente em relação às suas disponibilidades. Justifica-se isto baseado no princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. O tutor e o curador são responsáveis pelos tutelados e curatelados que estiverem nas condições anteriores (ou seja, depende da relação de guarda e companhia). O empregador ou comitente são responsáveis pelos atos de seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou em razão DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 2211 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br dele. Atenção quanto à expressão comitente. Os examinadores gostam dela, pois não é usada em nosso dia-a-dia. Comitente é a denominação que se dá a uma pessoa que encarrega outra de praticar algum ato sob suas ordens e por sua conta (geralmente há uma remuneração para isso, que se chama de comissão). Deve-se provar: a) relação de subordinação (desnecessária a prova de remuneração ou habitualidade de prestação de serviços por parte do preposto); b) culpa do empregado; c) ato lesivo foi praticado no exercício do emprego ou por ocasião dele. Como a responsabilidade nestes casos é objetiva, não é necessária a prova da culpa in eligendo ou in vigilando do empregador. Os donos de hotéis, hospedaria, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, são responsáveis pelos atos danosos praticados pelos seus hóspedes, moradores e educandos. Neste caso deve-se provar: que o dano foi causado enquanto o aluno estava sob sua vigilância e autoridade (fora daí a escola somente responde se houver prova de culpa); que o aluno seja menor (o maior não se submete mais à vigilância); que o ensino seja remunerado (finalidade lucrativa). A última hipótese do art. 932, CC trata da responsabilidade civil dos beneficiários em produtos de crime. Trata-se de responsabilidade objetiva, exigindo-se a obrigação de devolver a coisa à vítima com base no enriquecimento injusto, mesmo que tenha recebido o produto do crime de forma gratuita e inocente. A pessoa jurídica que exercer exploração industrial terá responsabilidade presumida pelos atos lesivos de seus empregados. Com isso terá de selecioná-los, instruí-los e vigiá-los, tendo a responsabilidade de reparar os eventuais prejuízos que causarem no exercício de suas funções (responsabilidade objetiva). ��� Atenção ��� As pessoas acima apontadas (art. 932, CC), ainda que não haja culpa de sua parte (portanto, responsabilidade objetiva) responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (art. 933, CC). O lesado deve provar a culpa do incapaz, do empregado, etc. Configurada esta há uma presunção absoluta (não admite prova em contrário: juris et de jure) de que aquelas pessoas serão as responsáveis pela indenização. E aquela pessoa que ressarciu o dano causado por outrem pode reaver o que pagou, por meio de uma ação regressiva contra quem realmente praticou o ilícito, salvo se o causador do dano for seu descendente, absolutamente ou relativamente incapaz (art. 934, CC). Exemplo: um hóspede alega (e prova) que foi furtado por um funcionário do hotel. O dono do hotel, embora não tenha praticado o ato (no caso a sua responsabilidade é indireta) e não tenha culpa no evento (sua responsabilidade é objetiva) irá responder pelaconduta de seu funcionário, indenizando o hóspede. No entanto, identificando o funcionário que agiu de forma ilícita, pode o dono do hotel propor uma ação regressiva contra este funcionário (que foi o real causador do dano), para se ressarcir do prejuízo sofrido. Outro exemplo: se uma empresa de transporte de pessoas deixa de levar o passageiro a seu destino são e salvo por causa de um acidente, DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 2222 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br quem responde é esta empresa. No entanto se ficar comprovado que o motorista da empresa é que foi o causador do acidente porque estava embriagado, a empresa continua responsável pela indenização ao passageiro (responsabilidade objetiva), mas poderá acionar o motorista, que foi o causador do dano (responsabilidade subjetiva), para reaver o que desembolsou, por meio da ação de regresso. É interessante reforçar, deixando bem claro que o direito de regresso deixará de existir quando o causador do prejuízo for um descendente incapaz (absoluta ou relativamente), resguardando-se, assim, o princípio da solidariedade moral e econômica pertinente à família. Assim o pai que paga uma indenização por dano causado pelo filho incapaz (art. 932, inciso I, CC) não pode mover ação regressiva contra esse filho (parte final do art. 934, CC). EXCLUSÃO DE ILICITUDE (art. 188, CC) Podem ocorrer casos em que uma pessoa pratica uma conduta e a consequência dela causou uma lesão a terceiros. No entanto ela pode não ter praticado um ato ilícito, pois estava acobertado por uma causa de exclusão de ilicitude. Isto porque a própria norma jurídica, em casos especiais, retira a qualificação de ilícito. Ou seja: há situações em que uma pessoa pratica uma conduta, lesando terceiros, sem que tenha havido ato ilícito. São elas: 1. Legítima Defesa Trata-se do uso moderado de meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu (legítima defesa própria) ou de outrem (legítima defesa de terceiros). Faltando apenas um destes elementos, deixa de existir a legítima defesa Assim, se o uso dos meios necessários não foi moderado, deixa de existir a legítima defesa, surgindo o dever de indenizar pelo excesso. Exemplo: “A”, injustamente, agride “B”, visando sua morte, com uma barra de ferro. “B” portava uma arma de fogo e percebe que a sua única saída seria efetuar disparos contra “A”. Ele atira por uma única vez e acaba ferindo gravemente ou matando “B”. Ora, ele agiu em legítima defesa. Ele tem o direito de se defender, utilizando, para tanto, moderadamente, os meios necessários que dispunha. Nesta hipótese, quem deu causa à reação (“A” ou seus familiares) não pode exigir indenização. Vejam que “B” atirou contra “A” (ação) e o atingiu (provocou o dano). Foi o disparo da arma de “B” que provocou a lesão de “A” (nexo de causalidade). Apesar de estarem presentes os três elementos da responsabilidade (conduta, dano e nexo), não haverá a indenização, pois ocorreu uma causa de exclusão da ilicitude. Vamos complicar um pouco mais... Vamos supor que “B”, quando se defendeu da injusta agressão de “A”, acabou atirando e atingindo uma terceira pessoa, “C”, que apenas estava passando pelo local. Neste caso “C” terá direito de solicitar indenização de quem o atingiu (no caso “B”, o autor do disparo). No entanto “B” terá o direito de regresso contra quem deu causa a todo evento (“A” ou seus familiares). A legítima defesa putativa (a pessoa pensa que está em legítima defesa, mas na realidade não está) também não exclui a obrigação de indenizar. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 2233 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br Interessante acrescentar que o Código Civil também reconhece a chamada legítima defesa da posse (art. 1.210, §1°). 2. Exercício Regular de um Direito Reconhecido Se alguém no uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer responsabilidade por eventuais danos, pois se trata de um procedimento realizado em conformidade com o estabelecido no sistema jurídico. Exemplo: credor que protesta um título de crédito regular, vencido e não pago, prejudicando o crédito do devedor em outros negócios – o protesto é um direito do credor. Outros exemplos: concorrente que se estabelece na mesma rua; credor que penhora bens do devedor; etc. Só haverá ato ilícito se houver abuso de direito (ex.: vizinho que produz em sua residência ruído que exceda à normalidade). 3. Estado de Necessidade É a deterioração ou destruição de coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, quando as circunstâncias a tornarem absolutamente necessária e não se exceder os limites do indispensável para a remoção do perigo. Trata-se de uma situação em que a pessoa entende que uma coisa sua pode sofrer um dano; para removê-lo ou evitá-lo, sacrifica a coisa alheia. Exemplos: na iminência de ser colhido por um caminhão, ou de atropelar um pedestre, arremesso meu carro contra o portão de uma casa alheia destruindo-o; mato o cão do vizinho atacado por hidrofobia e que ameaça várias pessoas. Reforçando: a conduta será legal somente quando as circunstâncias a tornarem absolutamente necessária para a remoção do perigo. Observem que o art. 929, CC determina que se a pessoa lesada ou o dono da coisa não forem culpados do perigo, elas têm direito à indenização do prejuízo que sofreram em face de quem praticou o ato. Porém, completa o art. 930, CC, prevendo que a pessoa que ressarciu os danos tem direito à ação regressiva contra o autor do perigo, para reaver o que desembolsou. Portanto, aplica-se a mesma regra da legítima defesa: se o prejudicado é o ofensor nada lhe será devido. Mas quando o prejudicado não é o ofensor (mas uma terceira pessoa), pode esta pedir indenização ao autor do ato (ainda que esta tenha sido lícito), tendo posteriormente direito de regresso contra o ofensor. Exemplificando: “A” está dirigindo normalmente, mas de repente surge “B”, atravessando a rua de forma displicente. Para não atropelar esta pessoa, “A” arremessa o carro contra o muro da casa de “C”. “C” (o que sofreu a lesão) irá acionar judicialmente “A” (o autor do dano), mesmo que ele não tenha agido de forma ilícita. E este, por sua vez, deve mover ação regressiva contra “B”, que foi o causador originário do dano. No entanto se o lesado foi o próprio causador do perigo não haverá indenização. Resumindo. Pratiquei uma conduta em estado de necessidade, danificando patrimônio alheio. Se o lesado foi o causador do perigo (ou seu responsável), não haverá a obrigação de indenizar. Se o lesado foi um terceiro eu serei obrigado a indenizar e terei direito de regresso contra o real causador do dano. ���Doutrina ���Excludente de ilicitude X Excludente de causalidade ��� DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 2244 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br As excludentes da ilicitude (também chamadas de excludentes de imputabilidade) excluem a imputação ou atribuição de responsabilidade do autor da conduta praticada; estão prevista no art. 188, CC (ex.: legítima defesa, estado de necessidade e exercício regular de direito). Segundo a doutrina, estas excludentes não se aplicam à responsabilidade sem culpa (objetiva). Já as excludentes de causalidade são hipóteses que excluem a própria responsabilidade (ex.: culpa exclusiva da vítima, culpa ou fato de terceiro, força maior e caso fortuito, etc.). Vejamos: Culpa exclusiva da vítima: não haverá responsabilidade se o evento ocorreu por culpa exclusiva da vítima. Atenção!! Se a culpa da vítima foi concorrente (ou seja, tanto o agente como a vítima agiram com culpa) a indenização será cabível, mas ela será reduzida proporcionalmente. Portanto, em caso de culpa concorrente, há responsabilidade e indenização, porémde forma reduzida. Caso Fortuito ou Força Maior: estas situações estão ligadas a imprevisibilidade e inevitabilidade do evento, além da ausência de culpa pelo ocorrido. Ausência de nexo de causalidade: não haverá responsabilidade se não houver uma relação de causa e efeito entre o dano e a conduta (ação ou omissão) do agente. EFEITOS CIVIS DA DECISÃO PROFERIDA NO JUÍZO CRIMINAL Prevê nosso Código que a responsabilidade civil é independente da criminal (art. 935, CC). Como vimos uma pessoa que comete um ato ilícito pode sofrer dois processos (penal se a conduta for crime e civil para reparação do dano). Às vezes até três processos (acrescente-se o administrativo). E a regra é que as decisões tomadas em um processo não vinculam as dos outros. Porém, como veremos, esta não é uma regra absoluta. Como quase tudo no Direito, esta regra também possui exceções. A regra que vigora em nosso direito é o princípio da independência da responsabilidade civil em relação à penal. Embora a regra seja a independência das esferas, não se pode mais questionar no juízo cível algumas questões, quando estas já foram decididas no juízo criminal. São duas as hipóteses que, decididas no juízo criminal, não se discute mais no cível: Existência do fato, isto é, a ocorrência do ilícito e suas consequências (engloba-se aqui eventual excludente de criminalidade, como veremos); Autoria da prática da conduta. Situações e Consequências a) Sentença criminal condenatória. Para se condenar criminalmente uma pessoa é imprescindível que estejam cabalmente demonstradas a autoria e o fato delituoso. Provando-se isto no juízo DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 2255 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br criminal, tais elementos não poderão mais ser discutidos no juízo cível. Assim, uma decisão condenatória no juízo criminal torna certa a obrigação de reparar o dano. Sendo a ação (cível) proposta, não se discutirá mais se o autor do dano deve ou não deve indenizar (o an debeatur; o que é devido). Somente se discutirá o valor da indenização (o quantum debeatur; o quanto é devido). b) Sentença criminal absolutória negatória do fato e/ou da autoria. Existem diversas hipóteses de absolvição criminal. Elas estão previstas no art. 386 do Código de Processo Penal. Se o Juiz absolver com fundamento em que está provada a inexistência do fato ou de que o réu categoricamente não foi o autor do delito, estas questões também não poderão mais ser discutidas no juízo cível. Se uma ação cível for proposta, fatalmente o Juiz a julgará improcedente. c) Sentença criminal absolutória, reconhecendo excludente de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito). A decisão criminal também vincula o juízo cível. A excludente em si não poderá mais ser discutida. Mas em algumas situações a ação cível poderá ser proposta contra quem praticou o ato, mesmo que acobertado por uma excludente, sendo que este terá direito a ação regressiva contra o verdadeiro provocador da situação. d) Sentença criminal absolutória por falta de provas. Talvez este seja o item mais importante. Em algumas situações não há provas suficientes para uma condenação criminal. Em outras palavras, o Juiz reconhece que até há algumas provas contra o réu. Mas elas não são aptas para embasar uma condenação criminal. Quando a sentença não concluiu categoricamente se o fato ocorreu ou não, ou se o réu foi ou não o autor do ilícito, o Juiz o absolve por falta de provas. Neste caso a matéria pode ser discutida no juízo cível. Isso porque as provas que são frágeis para uma condenação criminal, podem ser suficientes para uma condenação no cível. Dizemos que na esfera criminal o Juiz deseja saber o que realmente ocorreu. Ou seja, o fato investigado no processo deve corresponder ao que está fora dele, em toda a sua plenitude, sem quaisquer artifícios, sem presunções ou ficções. Trata-se da chamada Verdade Real (ou material), onde predomina a indisponibilidade de interesses. Na dúvida o Juiz absolve (in dubio pro reo). Já no processo civil, a verdade é extraída da análise das provas e manifestações trazidas aos autos pelas partes, sendo que o Juiz pouco ou nada interfere nesta produção. Vale somente o que está nos autos, pois os conflitos geralmente se referem a direitos disponíveis. Trata-se da chamada Verdade Formal (consensual, ficta ou judicial). Exemplos. Uma pessoa cometeu um crime e será processada criminalmente. Ela foi citada e interrogada. Durante o trâmite do processo ela não comparece às audiências para a quais foi regularmente notificada. O Juiz então decreta a sua revelia. Mas não é por isso que ela será condenada automaticamente. O processo seguirá adiante, sendo que o réu continuará sendo defendido por profissional habilitado (seu próprio advogado ou um DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR 2266 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br defensor dativo). E, no final do processo, o réu até pode ser absolvido. Vai depender do que foi apurado; do que realmente ocorreu (verdade real). No entanto se uma pessoa é citada para um processo civil ou trabalhista e não comparece à audiência designada, o Juiz decreta a sua revelia, havendo a presunção de que todos os fatos alegados pelo autor da ação são verdadeiros. Não importa se estes fatos são ou não verdadeiros. Vale o que está no processo (verdade formal). e) Inimputáveis. Durante o processo criminal o réu foi considerado doente mental. Isto pode excluir a sua responsabilidade penal. Mas não exclui a responsabilidade para a reparação de danos na esfera civil. Esta situação se encaixa na regra de que o responsável pelo inimputável, responde civilmente por seus atos. f) No caso de questões sobre o estado das pessoas (solteira, casada, viúva, etc.) e sobre a posse, propriedade, etc., prevalecem as decisões do juízo cível, que serão “transportadas” para o juízo criminal. Exemplo: Um sujeito está respondendo pelo crime de bigamia (casou-se duas vezes) na esfera penal (art. 235, CP). Esse sujeito alega que seu primeiro casamento era nulo. Ora, a nulidade de um casamento não pode ser declarada por um Juiz criminal. Portanto, instalado o incidente, o Juiz suspende o processo criminal e a questão (se o primeiro casamento é nulo ou válido) será discutida no juízo cível. Decidida a questão, o processo criminal volta a tramitar: se realmente o primeiro casamento era nulo não haverá o crime (art. 235, §2°, CP); mas se o casamento era válido ele será condenado a uma pena que varia de 02 (dois) a 06 (seis) anos de reclusão. Costumo fornecer o gráfico abaixo para fixar bem a possibilidade ou não de vinculação das esferas penal e civil. Lembrem-se de que o art. 935, CC inicia a sua redação da seguinte forma: “A responsabilidade civil é independente da criminal...” Logo, a regra é a da independência. Mas como vimos há muitas exceções. Vinculação ou não das esferas penal (criminal) e cível JUÍZO CRIMINAL JUÍZO CÍVEL 1. Sentença Condenatória. O Juiz criminal reconhece cabalmente provada a existência de um fato delituoso e reconhece o réu como sendo o autor deste fato. 1. Vincula. Reconhecidas no juízo criminal a autoria e o fato delituoso, o Juiz na esfera cível deverá julgar procedente a ação cível contra o réu (condena). Discute-se apenas o quantum (valor) da indenização. 2. Sentença Absolutória. O Juiz criminal reconhece categoricamente que o fato não ocorreu ou que ele ocorreu, mas comprovadamente o réu não foi o seu autor. 2. Vincula. Em tese a ação civil de reparação de danos nem deveria ser proposta. Se o foi, o Juiz deverá acolher o que foi decidido no juízo criminal (julga improcedente a ação cível). 3. Sentença Absolutória quando 3. Vincula. O Juiz cível reconhece DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL
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