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Ato Ilícito e Responsabilidade Civil no Direito Civil

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DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
11 
Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 
AULA 06 
 
ATO ILÍCITO 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
(arts. 186/188; 927/943 e 944/954, CC) 
 
 
��� Itens específicos previstos no edital que serão abordados nesta 
aula: Ato Ilícito. Responsabilidade Civil e seus reflexos no Direito do Trabalho. 
Subitens: Atos Ilícitos. Abuso de Direito. Responsabilidade Civil. Conceito, 
pressupostos, espécies e efeitos. Responsabilidade Contratual e Extracontratual. 
Responsabilidade Objetiva e Subjetiva. Teoria da Culpa e do Risco. 
Indenização. Exclusão da Ilicitude. Responsabilidade por ato de terceiros. A 
responsabilidade civil e seus reflexos no Direito do Trabalho. 
 
Meus Amigos e Alunos. 
Iniciamos hoje mais uma etapa em nossos estudos. Aliás, marchamos 
para a parte final de nosso curso. Apenas para lembrar que este curso é 
direcionado para concursos do AFRFB. E estamos seguindo rigorosamente 
os editais anteriores. Portanto, esta é a nossa penúltima aula. 
Recebam todos, antecipadamente, um grande abraço, como se eu 
estivesse aí com vocês. Desejo tudo de bom para vocês. Muitas ALEGRIAS 
e SUCESSO nesta empreitada que vocês se propuseram, com muita 
tranquilidade e paz durante os estudos e na hora da realização das provas 
que virão. 
 
Antes de começar a aula propriamente dita, preciso dar um aviso 
importante. Como vocês notaram no título da aula, hoje falaremos sobre o 
Ato Ilícito e a Responsabilidade Civil. Às vezes, analisando um edital, 
percebemos que ele se refere apenas ao Ato Ilícito. Outras vezes verificamos 
que ele menciona apenas a Responsabilidade Civil. Mas é claro que, tanto 
em um caso, como em outro, está implícito que cairão na prova os dois 
temas, pois os mesmos são conexos entre si. Os últimos editais (inclusive 
este de 2012) foram bem específicos em relação ao ato ilícito e à 
responsabilidade. Além disso, em todos eles também foi solicitada a 
repercussão da responsabilidade civil no Direito do Trabalho. 
 
Bem.... comecemos, então. 
 
DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
22 
Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 
Como vimos na aula anterior, nosso ordenamento jurídico visa 
proteger os atos realizados em harmonia com a lei. No entanto, por outro 
lado, reprime os atos praticados em sua violação. Assim, ao mesmo tempo 
em que tutela a atividade da pessoa que se comporta de acordo com o 
Direito, reprime a conduta daquele que o contraria. Daí a importância do 
estudo do ato ilícito e sua consequência, a responsabilidade civil. 
O ato ilícito está previsto nos artigos que vão do 186 até o 188, CC 
(eles são poucos, mas importantíssimos). Ocorre que não há lógica estudar 
apenas esses poucos artigos. Eles devem ser relacionados com a 
responsabilidade civil, prevista nos artigos que vão do 927 ao 943, CC (e 
se incluirmos ainda o tema “indenização” a previsão se estende até o art. 
954, CC). Ou seja, para que nosso estudo seja completo devemos 
identificar o conceito e a importância do Ato Ilícito (que ainda pertence à 
parte geral do Código Civil) e, de imediato, a sua relação com a 
Responsabilidade Civil (que integra a parte especial). Além disso, a 
Constituição Federal, em seu art. 5°, incisos V e X prevê o direito à 
indenização por dano moral, material e à imagem. Portanto, durante esta 
aula, responderemos a seguinte questão: praticado um ato ilícito (civil ou 
penal), quais as repercussões na esfera da responsabilidade civil? 
Lembrando que este tema pode cair em provas tanto de Direito Civil, como 
Direito Constitucional e Administrativo. 
CONCEITO DE ATO ILÍCITO 
O ato ilícito está previsto no art. 186, CC. Podemos conceituá-lo 
como sendo o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando, 
consequentemente, direito subjetivo individual. No dizer de Francisco 
Amaral: “A ilicitude significa contrariedade a um dever jurídico, consistindo 
na ofensa a direito subjetivo ou na infração de preceito legal, que protege 
interesses alheios, ou ainda no abuso de direito”. O ato ilícito também pode 
se dar também com o abuso de direito previsto no art. 187, CC. Em 
qualquer hipótese é necessário que a conduta provoque um dano a outrem, 
seja patrimonial ou moral (extrapatrimonial). 
 Resumindo: praticar um ato ilícito é incidir na infração ao dever de não 
lesar outrem (em latim dizemos neminen laedere: a ninguém se deve lesar). 
E se este ato ilícito causar danos a outrem (patrimoniais ou morais), cria-se 
o dever de reparar os prejuízos decorrentes. Por isso o ato ilícito é 
considerado também como uma “Fonte de Obrigação”, pois praticado um ato 
ilícito a lei obriga a reparação dos danos. Vejam que logo no início da aula 
já estamos relacionando dois artigos dispostos em lugares bem diferentes do 
Código Civil: quem pratica um ato ilícito (art. 186, CC) tem a obrigação de 
reparar o dano (art. 927, CC). 
O ato ilícito é considerado como um fato jurídico (em sentido amplo). 
Lembrem-se do gráfico que forneci na aula sobre os fatos jurídicos. Ele 
produz efeitos jurídicos, sendo que esses efeitos geralmente não são 
desejados pelo agente (ninguém gosta de indenizar outrem), mas impostos 
pela lei (por isso eles também são chamados de atos involuntários, pois os 
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efeitos são involuntários, ou seja, não desejados pelo agente). Há 
infração de um dever e, consequentemente, a imputação de um resultado. 
Podemos classificar o ato ilícito em: civil, penal ou administrativo. 
Lógico que nesta aula o que nos interessa é o ato ilícito civil, porém 
sempre que falamos sobre este tema, acabamos por “invadir” um pouco a 
área das demais matérias, pois elas são conexas. Vejamos. 
a) Penal: violação de um dever tipificado como crime, pressupondo 
um prejuízo causado à sociedade; desrespeitado, compromete-se a 
ordem social (norma de ordem pública); a sanção é pessoal, ou seja é a 
pessoa do infrator imputável que irá responder pela conduta (não se 
transmite a responsabilidade penal a terceiros). 
b) Administrativo: violação de um dever que se tem para com a 
Administração; a sanção também é pessoal. 
c) Civil: violação de um dever obrigação contratual ou legal, 
pressupondo um dano a terceiro; a sanção é patrimonial, ou seja, 
atinge o patrimônio do lesante (como regra). 
Há casos em que o sujeito pratica uma conduta e esta ofende apenas 
à sociedade como um todo: trata-se de um ilícito penal. Em outros casos a 
conduta ofende apenas ao particular: trata-se do ilícito civil. Mas em alguns 
casos uma só conduta pode ofender à sociedade e ao particular ao mesmo 
tempo. Pergunto: se um sujeito com apenas uma conduta causar danos à 
sociedade (ilícito criminal) e ao particular (ilícito civil), pode responder a dois 
processos? O sujeito pode ser duplamente responsabilizado? Existe um 
brocardo jurídico que diz: ne bis in idem (ou seja, ninguém pode ser 
responsabilizado duas vezes pelo mesmo fato). Será que isto se aplica aqui 
também? Resposta: o princípio do ne bis in idem existe, mas somente é 
aplicado na mesma esfera. Ou seja, um sujeito foi processado e absolvido 
por um ilícito penal. Ocorrendo o trânsito em julgado, não se pode instaurar 
um novo processo penal para apurar o mesmo fato. Mas isto não impede de 
se instaurar um processo civil visando a reparação do dano. Muito embora o 
fato seja o mesmo, as esferas de competência são diferentes, visando 
objetivos diferentes. Portanto uma mesma conduta pode acarretar uma 
dupla responsabilidade e, portanto, dois processos diferentes. 
Exemplo: por uma questão de somenos importância “A” agride “B”, 
nele produzindo lesões corporais. O fato é típico, está descrito no Código 
Penal (art. 129), logo é um ilícito penal (crime). Por outro lado, causando 
danos (patrimoniais ou morais) à vítima oagente também é obrigado a 
reparar esses danos na ordem civil. Trata-se, portanto, de um ilícito civil 
também. Uma mesma conduta teve como consequência dois efeitos: um na 
ordem penal e outro na esfera civil. E para apurar estas responsabilidades 
são instaurados dois processos, com objetivos diferenciados. 
 Às vezes a conduta pode atingir também o Direito Administrativo, 
havendo uma tripla responsabilidade. Exemplo: o peculato! O que é o 
peculato? Trata-se de um crime, pois está tipificado no Código Penal (art. 
312, CP). O que ele diz? O Código Penal o descreve como sendo um crime 
próprio do funcionário público. Uma das diversas hipóteses previstas é o 
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caso de um funcionário que tendo a posse de um bem público, dele se 
apropria. O funcionário público se apropria de um bem pertencente à 
Administração, mas que estava sob sua guarda. Com sua conduta o 
funcionário ofendeu, simultaneamente, três bens jurídicos: atinge o Direito 
Penal, pois a conduta é crime (é típica; descrita no Código Penal). Além 
disso, o agente “quebrou a confiança” nele depositada pela Administração 
Pública. Por tal motivo este funcionário irá responder a um processo 
administrativo, podendo até mesmo perder o cargo (ser demitido). Por 
último, apropriando-se de um bem público, causou um dano à 
Administração, portanto cometeu também um ilícito civil, e, sendo assim, o 
agente pode ser responsabilizado pelo Estado e compelido a ressarcir o dano 
que causou. Deste modo, o autor da conduta, com apenas uma ação, 
ofendeu três bens jurídicos distintos (penal, administrativo e civil), 
podendo (ao menos em tese) responder a três processos distintos, cada um 
com objetivos diferenciados. 
���IMPORTANTE ��� A responsabilidade penal é pessoal e intransferível. Ou 
seja, somente a pessoa que pratica o crime, desde que seja imputável 
(penalmente responsável), é que irá responder por ele. Já a 
responsabilidade civil é patrimonial, ou seja, o que será atingido é o 
patrimônio do lesante, sendo que em diversas circunstâncias a 
responsabilidade pode ser transferida aos sucessores e também aos 
responsáveis legais do agente. Veremos isso com maior profundidade mais 
adiante. 
 Vamos fazer um resumo do que vimos até agora sobre o ato 
ilícito civil: 
 É a conduta humana que fere direitos subjetivos privados; está em 
desacordo com a ordem jurídica, violando um direito subjetivo 
individual (art. 186, CC). 
 A consequência principal de sua prática é a obrigação de reparar o 
dano (patrimonial ou moral), de indenizar (art. 927, CC). 
 A mesma conduta ilícita pode causar repercussão no Direito Civil, 
Penal e Administrativo; pode haver uma tripla responsabilidade. 
HISTÓRIA 
Durante os cursos que ministro visando concursos públicos evito falar 
sobre a história de cada instituto. Isso é muito interessante para cultura 
geral, é uma boa introdução para uma tese de mestrado, mas geralmente 
não cai nos concursos. Nestes cursos temos que ser objetivos! Mas... neste 
caso em particular, é interessante falar um pouco sobre a história do ato 
ilícito e a reparação do dano, pois com isso sentimos a evolução do Direito. 
Não só do Direito Civil, mas de todos os ramos do Direito. 
Primitivamente vigorava a pena de talião (“olho por olho, dente por 
dente” ou também “quem com ferro fere, com ferro será ferido”), segundo a 
qual os danos a terceiros eram retribuídos na mesma qualidade e 
quantidade pela própria pessoa ofendida. Era a tese do “mal pelo mal”. É 
claro que, ao invés de se compensar um dano, causava-se outro. O devedor 
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respondia por suas dívidas com seu próprio corpo (podia ser escravizado) e 
até mesmo com sua vida (era executado). O direito evoluiu. Foi então 
editada a famosa lei romana conhecida como Lex Poetelia Papiria (326 a.C.). 
A partir daí o devedor passou a ser responsabilizado por suas obrigações 
exclusivamente com seu patrimônio. A execução deixou de ser pessoal para 
ser patrimonial. Posteriormente, a Lex Aquilia de Danno consagrou, de 
forma mais elaborada, o conceito de responsabilidade civil, punindo 
pecuniariamente o agente por danos injustamente provocados. Do nome 
desta lei (Aquilia), conforme veremos mais adiante, derivou a expressão 
responsabilidade aquiliana. Trata-se de uma expressão muito comum em 
concursos públicos. Mas, apesar de toda a evolução do direito, ainda 
permanece viva a ideia de culpa nos atos ilícitos, de modo que como regra, 
haverá indenização se houver “culpa” do agente. Veremos melhor esta 
expressão e a sua abrangência mais adiante. 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
A responsabilidade civil pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa 
que sofreu um prejuízo e a que deve repará-lo. Segundo a doutrina, a 
responsabilidade civil tem como função principal restaurar o equilíbrio 
jurídico-econômico anteriormente existente entre o agente e a vítima. Pelo 
princípio da restitutio in integrum, tenta-se restabelecer o status quo ante, 
buscando a reparação (do dano material) ou a compensação (da lesão). 
Há quem sustente também a função punitiva do ofensor e, 
consequentemente a desmotivacional ou reeducativa da conduta lesiva. A 
função compensatória visa reequilibrar o que o prejuízo desequilibrou. 
Nem sempre é possível ressarcir os danos sofridos pela vítima, por isso o 
ordenamento reconhece o direito do lesado de receber uma compensação, 
cuja contrapartida é a redução do patrimônio do causador do dano ou 
responsável por ele. Já a função punitiva tem uma dupla finalidade: garante 
uma modificação e conscientização do comportamento danoso do ofensor 
por meio da atribuição de uma sanção, consistindo esta na diminuição de 
seu patrimônio material e gera uma projeção social da indenização, ou seja, 
que a conduta do ofensor sirva de exemplo para outros. 
Para a professora Maria Helena Diniz a responsabilidade civil possui 
dupla função: a) sanção civil, de natureza compensatória, mediante a 
reparação do dano causado; b) garantia do lesado à segurança. 
A responsabilidade surge em face do descumprimento obrigacional 
(desobediência de uma regra estabelecida em contrato) ou por uma pessoa 
deixar de observar um preceito normativo que regula a vida. Portanto, de 
acordo com o fato gerador temos duas espécies de responsabilidade civil: 
contratual e extracontratual. 
1. A responsabilidade civil contratual está situada no âmbito da 
inexecução de uma obrigação decorrente de um contrato. Como se sabe, as 
cláusulas contratuais devem ser respeitadas (pacta sunt servanda: o 
contrato faz lei entre as partes), sob pena de responsabilidade daquele que 
as descumprir. O contrato traz em seu conteúdo uma obrigação assumida, 
podendo o seu descumprimento gerar perdas e danos. Os principais 
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fundamentos jurídicos dessa modalidade de responsabilidade civil estão 
dispostos no art. 389, CC, quando a obrigação assumida for positiva. E no 
art. 390, CC, quando se tem uma obrigação negativa. Obrigação Positiva 
é a de dar alguma coisa (ex.: pagar o aluguel; entregar um quadro que foi 
comprado, etc.) ou a de fazer algo (pintar um muro ou um quadro; dar uma 
palestra; realizar uma cirurgia, etc.). Obrigação Negativa é a de não fazer 
algo, como por exemplo, de não construir um muro divisório acima de três 
metros. Exemplo de responsabilidade contratual: celebro um contrato de 
locação. Uma das cláusulas pactuadas determina que o pagamento do 
aluguel deve ser feito todo dia 15 de cada mês. Estamos no dia 20 e o 
aluguel não foi pago. Houve, portanto, uma inexecução contratual 
ocorrendo, como consequência, um ato ilícito civil decorrente do contrato.Surgem então as chamadas obrigações contratuais. São os efeitos do 
inadimplemento (não cumprimento) do contrato, como por exemplo, a multa 
pelo atraso no pagamento. Geralmente essa multa é pactuada no próprio 
contrato de locação. Se o inquilino continuar não pagando o aluguel, poderá 
ser despejado por falta de pagamento, etc. A culpa contratual não precisa 
ser provada, bastando que o devedor esteja em mora e que este não 
decorra de nenhuma das causas excludentes de responsabilidade. 
2. A responsabilidade civil extracontratual (ou aquiliana) 
relaciona-se ao desrespeito ao direito alheio e às normas que regram a 
conduta, representando qualquer inobservância de um preceito legal. Há a 
infração de um dever geral imposto pela lei. 
Enquanto na responsabilidade contratual, os critérios para a 
composição do prejuízo, como regra, já estão estabelecidos no contrato, na 
responsabilidade extracontratual a composição é feita por arbitramento, 
cabendo ao Juiz esta tarefa. Seu fundamento jurídico encontra-se nos 
arts. 186, 187 e 927, CC. Nesta hipótese não é necessário constituir o 
devedor em mora. Ele já está em mora desde o momento da prática do 
ato ilícito (ver art. 398, CC). 
 Resumindo 
 Responsabilidade contratual →→→ surge pelo descumprimento 
de uma cláusula do contrato (inadimplemento contratual). 
 Responsabilidade extracontratual (aquiliana) →→→ deriva de 
inobservância de qualquer outro preceito legal; de normas gerais 
de conduta (e não de um contrato entre as partes). 
Consequências 
A consequência da infração ao dever contratual e/ou ao dever legal 
(extracontratual) é a mesma → obrigação de ressarcir o prejuízo causado. 
A diferença entre elas está no ônus da prova. Na responsabilidade 
contratual há uma presunção (relativa) de que a culpa é de quem não 
cumpriu a obrigação. Em tese o lesado só precisa provar que o contrato não 
foi cumprido. É a outra parte quem deve provar sua inocência (caso fortuito, 
força maior). Se não houver esta prova, ele deverá indenizar. No entanto se 
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a responsabilidade é extracontratual, como regra, não existe a 
presunção de culpa; a vítima deve provar a culpa do transgressor. 
TEORIAS 
Existem duas teorias sobre responsabilidade civil, que veremos com 
detalhes. Primeiro falaremos sobre os aspectos gerais de cada uma delas. 
Depois vamos nos ater às regras adotadas pelo nosso Código: 
 Teoria da Responsabilidade Subjetiva. 
 Teoria da Responsabilidade Objetiva. 
A) TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA 
Segundo esta teoria, haverá responsabilidade por indenização somente 
se houver “culpa” do agente. Esta deverá ser provada para que haja a 
obrigação de indenizar. A teoria da responsabilidade subjetiva também é 
conhecida como teoria clássica ou teoria da culpa. 
���Cuidado!!! Sempre que eu falo em “culpa”, as pessoas se lembram do 
Direito Penal; ou seja, uma imprudência ou de uma negligência do agente. 
Mas não é bem assim. Na verdade, culpa não é só isso; é mais do que 
isso. É um conceito bem mais amplo. Explico. A Teoria da Culpa está se 
referindo a culpa em sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em 
sentido estrito. Assim culpa (em sentido amplo) é o gênero. Sua prova 
constitui o pressuposto para indenização do dano. E as espécies são dolo e 
culpa (em sentido estrito). Assim, quando alguém fala em culpa em sentido 
amplo, está se referindo ao elemento subjetivo: ao dolo e à culpa 
propriamente dita. Já vi em provas a expressão “elemento anímico” (vem de 
animus – intenção, que por sua vez deriva de alma, de sopro de vida). 
Assim, o elemento subjetivo ou anímico tem como espécies: 
 Dolo: pleno conhecimento do mal; o agente pratica uma conduta, 
tem consciência dos efeitos desta conduta e, mesmo assim, deseja 
as consequências maléficas (dolo direto) ou assume o risco de 
produzi-las (dolo eventual). Trata-se da ação ou omissão intencional 
ou voluntária. 
 Culpa (em sentido estrito): violação de um dever que o agente 
poderia conhecer e acatar; o agente pratica uma conduta e não quer 
o resultado, mas este acaba ocorrendo por alguma circunstância 
(imprudência, negligência e imperícia). 
Portanto, pela Teoria da Responsabilidade Subjetiva, haverá 
indenização toda vez que o agente tenha praticado o ato danoso porque o 
conhecia e o quis (dolo direto) ou assumiu o risco do resultado (dolo 
eventual). Mas também quando o agente, embora não o conhecesse e não o 
quisesse, tenha agido por negligência ou imprudência ou violado norma que 
podia ou devia conhecer e acatar (culpa em sentido estrito). 
Prevalece a teoria da previsibilidade. Se o ato era previsível (para a 
pessoa diligente, prudente e conhecedora da norma), então haverá culpa 
para o agente. Exemplo: se eu bato na traseira do carro de outra pessoa, 
presume-se a minha culpa, porque há uma regra geral pela qual se deve 
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guardar distância do veículo da frente e dirigir com atenção. Lógico que se 
trata de uma presunção relativa ou juris tantum, ou seja, que admite prova 
em contrário (diz a jurisprudência: “A presunção de culpa do condutor que 
abalroa o outro na traseira é relativa, podendo ser elidida se nos autos 
houver prova robusta em contrário – o veículo da frente é que estava 
trafegando em marcha-ré”). Outros exemplos: um dentista trata mal um 
dente, causando a perda do mesmo por falta de conhecimento técnico que 
deveria ter, age com culpa; o mesmo se diga de um advogado que perde 
uma causa por total falta de conhecimento, preparo profissional e cuidado 
ou um médico que realiza uma operação sem necessidade e sem ter o 
domínio da técnica cirúrgica. 
Classificação da Culpabilidade (em sentido amplo – ou lato sensu). Já 
analisamos a principal classificação acerca da culpabilidade que é a culpa 
contratual e a culpa extracontratual ou aquiliana. No entanto, 
doutrinariamente há outras espécies, inclusive com a utilização de 
expressões latinas. E não é raro o examinador usar algumas destas 
expressões. Vejamos: 
• culpa in eligendo: é a resultante de má escolha de um representante ou 
do preposto para a prática de um ato ou o cumprimento da obrigação. 
• culpa in vigilando: é a que resulta da falta de atenção com o 
procedimento de outra pessoa. Ex.: filho menor que pratica um ato ilícito 
pela falta de vigilância dos pais. Também pode recair sobre coisa. Ex.: 
empresa de taxi que permite que os veículos saiam com falha nos freios. 
• culpa in custodiendo: decorre da falta de cuidado em se guardar, 
custodiar determinada coisa ou animal, sob seus cuidados. Ex.: dono de 
animais que estragaram a plantação do vizinho, pois ele deixou a porteira 
aberta. 
• culpa in committendo (ou in faciendo): é a que resulta da prática de 
uma conduta positiva pelo agente (ação ou comissão); as imprudências de 
uma forma geral. Ex.: dirigir em excesso de velocidade, causando um 
atropelamento, passar em um sinal vermelho, etc. 
• culpa in omittendo: decorre de uma conduta negativa pelo agente 
(abstenção de um ato, omissão). Ex.: empregado que não tranca a porta 
do estabelecimento ao final do expediente; médico que não faz a operação 
completa, etc. 
A culpa ainda pode ser classificada em grave (quando resulta de dolo 
ou negligência crassa; há uma falha grosseira ao dever de cuidado), leve 
(quando a conduta se desenvolve sem a atenção normalmente devida; a 
lesão seria evitável com atenção ordinária, comum a qualquer pessoa) e 
levíssima (quando o fato só teria sido evitado mediante cautelas 
extraordinárias ou especial habilidade). 
No Direito Civil, como regra, responde-se por qualquer espécie de 
culpa porque se tem em vista a extensão do dano (art. 944, CC) e não o 
grau da culpa. Todo prejuízo que a vítima conseguir provar deve ser 
indenizado. No entanto,apesar disso, nosso Código estabeleceu que se 
houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá 
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o Juiz reduzir equitativamente a indenização (art. 944, parágrafo único, 
CC). Nos danos morais o grau da culpa também pode influir no quantum 
indenizatório arbitrado (ou seja, no valor da indenização), por não se tratar 
propriamente de um ressarcimento, mas de uma compensação 
satisfativa. 
Consequências 
Como vimos, havendo dano decorrente do ato ocorrido com culpa (em 
sentido amplo) do agente, haverá obrigação de indenizar a pessoa que foi 
lesada. No entanto, em algumas hipóteses esta teoria passou a ser 
considerada injusta para a vítima, pois nem sempre é fácil provar a culpa do 
causador do dano. Por isso, em algumas situações especiais adotou-se a 
“presunção de culpa”. Surge então a teoria da responsabilidade objetiva. 
B) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
Por esta teoria não é necessário verificar a existência de culpa do 
agente. Ela é imposta por lei, fundada na Teoria do Risco, a 
responsabilidade objetiva independe da culpa; esta não é discutida. Verifica-
se somente a existência de uma conduta, do dano e a relação de 
causalidade entre eles, decorrendo daí a obrigação de indenizar. Exemplo: 
a responsabilidade do hoteleiro pelo furto de valores praticados por 
empregados do hotel contra os hóspedes →→→ digamos que já esteja provada a 
conduta do funcionário, o dano suportado pelo hóspede e o nexo causal 
entre a conduta do funcionário e o dano →→→ logo, o dono do hotel responde 
por este dano suportado pelo hóspede, independentemente de eventual 
culpa sua no evento. 
Outra hipótese: pelo simples fato de um empregado se ferir no serviço 
há a responsabilidade e, via de consequência, indenização a ser paga pelo 
seguro, que não examina se houve ou não culpa do dono do serviço. 
Passou-se a considerar que aquele que obtém vantagens no exercício 
de uma atividade deve também responder pelos eventuais prejuízos desta 
atividade. Trata-se da aplicação do brocardo: “quem aufere cômodos, arca 
também com os incômodos”. 
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) 
também têm responsabilidade civil, ou seja, respondem pelos danos 
causados pela atividade administrativa, independentemente de culpa de 
seus funcionários, inclusive no que se refere à culpa anônima ou do serviço 
(prevista no art. 37, §6°, CF/88). Trata-se de responsabilidade de 
ressarcimento de danos, do tipo objetiva, isto é, não é necessário provar se 
houve culpa do funcionário. Basta provar que houve a conduta da 
administração e a lesão ao direito de um particular (sem que tenha havido 
culpa exclusiva deste particular). Deve-se provar a conduta positiva (ação) 
ou negativa (omissão), a lesão e o nexo causal. Só!! Provadas estas 
situações, indeniza-se. 
 
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 A doutrina menciona as seguintes espécies de modalidades de 
risco: 
 Risco proveito: relacionado ao brocardo “quem colhe os bônus deve 
suportar os ônus”, ou seja, aquela pessoa que tira proveito da 
atividade perigosa também deve suportar os danos dela decorrentes. 
 Risco profissional: relacionado às relações de trabalho, viabilizando 
a responsabilidade (objetiva) do empregador pelos danos causados 
pelo empregado, em decorrência da atividade por este desenvolvida. 
 Risco excepcional: refere-se às atividades que, por sua natureza, 
representam um elevado grau de perigo, tanto para as pessoas que as 
desempenham diretamente, como para os demais membros da 
coletividade. 
 Risco integral: é o grau mais elevado de responsabilidade objetiva, 
não atingindo nenhum tipo de exclusão, mesmo na ocorrência de caso 
fortuito ou força maior. Tal modalidade é reservada aos danos 
decorrentes de atividades nucleares. 
Atualmente, no Direito Administrativo, vigora sobre o assunto a teoria 
do risco administrativo, que equivale a uma responsabilidade objetiva 
mitigada (ou seja, diminuída em seus efeitos, abrandada), uma vez que 
pode ser afastada (pela culpa exclusiva da vítima) ou diminuída (se houver 
culpa concorrente da vítima), o que não ocorre no risco integral. 
Elementos da Teoria Objetiva 
• existência de uma conduta positiva (ação) ou negativa (omissão). 
• dano patrimonial ou moral (extrapatrimonial). 
• nexo causal (relação de causalidade) entre a conduta e o dano. 
 Observação. Vimos acima que a responsabilidade do Estado é objetiva. 
Porém, segundo a doutrina e a jurisprudência, em algumas hipóteses, 
especialmente quando houver omissão do Estado, a sua responsabilidade 
será na modalidade subjetiva. Vejam como foi interessante e completa a 
seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
“Omissão negligente do Poder Público. Obrigação de conservação de ruas, 
calçadas e logradouros públicos em condições de segurança e incolumidade às 
pessoas. Responsabilidade Subjetiva do Estado caracterizada. Conduta, Dano e 
Nexo de causalidade demonstrados. Dever de indenizar também pelos danos 
morais. Culpa concorrente. 1) O sistema jurídico brasileiro adota a 
responsabilidade patrimonial objetiva do Estado, sob a forma ‘risco 
administrativo’. Tal assertiva encontra respaldo legal no art. 37, §6° da 
Constituição Federal de 1988. Todavia, quando o dano acontece em decorrência 
de uma omissão do Estado, é de se aplicar a teoria da responsabilidade 
subjetiva. 2) Compete ao Município manter e fiscalizar a execução de obra, a 
fim de manter a incolumidade dos munícipes. Neste passo, a omissão do Poder 
público em conservar o acesso à residência da autora restou caracterizada, 
assim como os danos advindos da queda da requerente em valo. 3) Neste caso 
houve culpa concorrente da autora, porquanto a requerente poderia ter 
atravessado o valo através da utilização da ponte existente em frente à 
residência de vizinho, de forma a transpor o obstáculo. 4) A indenização por 
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dano moral deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar 
de alguma forma o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária 
está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que 
não signifique um enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto 
bastante no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado” (9a Câmara 
Cível – TJRS – Viamão - Rel. Des. Odone Sanguiné). 
REGRAS ADOTADAS PELO CÓDIGO CIVIL 
Nosso Código adotou, como regra, a Teoria da Responsabilidade 
Subjetiva, prevendo em seu art. 186, CC: 
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
E arremata no art. 927, caput, CC: 
“Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
No entanto, apesar desta regra, devemos tomar muito cuidado 
porque há diversas exceções. Isto é, há casos em que o próprio Código 
Civil admite a aplicação da responsabilidade objetiva, impondo a obrigação 
de reparar o dano independentemente de culpa. Vejamos o art. 927, 
parágrafo único, CC: 
 Quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
Substitui-se, assim, a culpa pela ideia do risco. Ora, se o empresário se 
propõe a estabelecer uma empresa que pode oferecer riscos na execução 
das atividades, se contrata pessoas para executar estas atividades e se 
os benefícios (lucros) gerados ao empresário devem ser atribuídos, logo, 
o risco do negócio, assim como os resultantesdos acidentes, também 
deverão ser por ele suportados. 
 Demais casos especificados em lei. Neste caso, temos como 
exemplos: arts. 932 e 933, CC, danos ao meio ambiente, relações de 
consumo, etc. 
ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS 
Já vimos atrás os elementos caracterizadores da responsabilidade em 
geral (objetiva e subjetiva). Vamos agora aprofundar o tema, com base nos 
elementos específicos de nossa legislação. Assim, são elementos 
indispensáveis para que haja responsabilidade e indenização pela prática de 
um ato ilícito: 
1. CONDUTA (é o fato lesivo)  A conduta pode ser causada por uma ação 
(conduta positiva) ou por uma omissão (conduta negativa). Além disso, 
pode ser voluntária (dolo) ou causada por uma negligência ou 
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imprudência (que são modalidades da culpa). A regra, o mais comum, é a 
prática da conduta pela ação. Já para a configuração da omissão é 
necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (a 
pessoa não podia se omitir), a prova de que a conduta não foi praticada 
(omissão) e a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano 
poderia ter sido evitado. Portanto, para configurar a omissão, na prática, é 
um pouco mais difícil. A conduta é composta de uma parte objetiva (ação ou 
omissão) e outra subjetiva (dolo ou culpa). No entanto a parte subjetiva só 
está presente na responsabilidade subjetiva. 
Na responsabilidade subjetiva, a conduta compreende: 
 Dolo: violação intencional (ação ou omissão), voluntária (observem 
que o Código Civil utiliza essa última palavra), do dever jurídico; o 
agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo 
(dolo eventual). 
 Culpa: não há deliberação, intenção de violar o dever jurídico, mas este 
acaba sendo violado por ter ocorrido uma: 
• Imprudência: é a prática de um fato considerado perigoso (ex.: 
dirigir veículo em rua movimentada em excesso de velocidade, 
passar em um sinal vermelho, etc.). 
• Negligência: é a transgressão ao preceito que exige atenção; é a 
ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado; é 
a falta de uma cautela ordinária que se exige em face de uma 
situação (ex.: deixar arma de fogo ao fácil alcance de uma criança). 
• Imperícia: é a ignorância, falta de experiência ou inabilidade com 
relação às regras para a prática de determinado ato; é a falta de 
aptidão para o exercício de arte ou profissão. Embora a expressão 
“imperícia” não esteja prevista expressamente no art. 186, CC, ela 
também é uma modalidade da culpa (espécie de negligência). O 
exemplo clássico é o do médico, do dentista, do engenheiro, etc. 
que, em face de um desconhecimento ou falta de prática, no 
desempenho de suas funções, venha causar dano a interesses de 
terceiros. 
 Observação. Para o Direito Penal é muito importante saber se o sujeito 
agiu com dolo ou culpa. Principalmente no tocante à imposição da pena. No 
entanto, para o Direito Civil pouco importa se ele agiu com dolo ou 
culpa. Tanto faz! Em qualquer das modalidades as consequências serão as 
mesmas: reparação do dano. 
2. OCORRÊNCIA DE DANO (eventus damni)  Para que haja o pagamento 
da indenização, além da prova da conduta (positiva ou negativa), é 
necessária a comprovação de um dano patrimonial ou extrapatrimonial 
(moral). Se não houver dano não haverá responsabilidade. São espécies de 
dano: 
A) DANO PATRIMONIAL (material)  É o que atinge os bens da 
pessoa. Compreende (art. 402, CC): 
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a) Danos Emergentes (também chamados de danos positivos): 
efetiva diminuição do patrimônio da vítima; são os prejuízos efetivamente 
suportados; o que a vítima realmente perdeu com a conduta do agente. 
b) Lucros Cessante (também chamados de lucros frustrados ou 
danos negativos): aquilo que a vítima razoavelmente deixou de ganhar em 
razão da conduta do agente (ausência de acréscimo patrimonial). Trata-se 
de uma prova mais difícil na prática, pois é baseado no pretérito, ou seja, no 
quanto vinha rendendo em determinado período. O dispositivo deve ser 
entendido com parcimônia, pois o dano deve ser atual e concreto. Ou seja, 
não se pode indenizar um dano futuro e hipotético (que poderia ou não 
ocorrer). 
Exemplo: digamos que uma pessoa bata o carro (culposamente) em 
um motorista de praça (táxi). O veículo do taxista ficou muito avariado e 
ficou na oficina durante dez dias para reparos. O causador do dano deve 
indenizar os prejuízos que efetivamente ocorreram no táxi (danos 
emergentes) e também deve indenizar os dias em que o motorista ficou 
parado por causa do acidente (lucros cessantes); o que ele deixou de 
ganhar estando parado. 
B) DANO MORAL (ou extrapatrimonial)  É o que ofende, não o 
patrimônio da pessoa, mas sim os direitos da personalidade. Não implica em 
alteração de patrimônio, resumindo-se em uma perturbação injustamente 
feita às condições de ânimo do lesado. Em sentido próprio refere-se ao abalo 
dos sentimentos de uma pessoa, provocando-lhe dor, aborrecimento, 
tristeza, desgosto, depressão, humilhação, etc., que foge à normalidade, 
interferindo no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe 
desequilíbrio em seu bem-estar físico. Em sentido impróprio ou amplo, 
abrange a lesão de todos e quaisquer bens ou interesses pessoais (exceto 
econômicos), como a liberdade, o nome, a família, a honra, a integridade 
física, etc. Na reparação do dano moral não se pede um preço para a sua 
dor (o dinheiro não age como um fator de equivalência), mas um meio para 
atenuar, ao menos em parte, as consequências do dano emocional causados 
a uma pessoa e de infligir ao causador uma sanção e alerta para que não 
volte a repetir o ato. Tem, portanto, finalidade punitiva (compensatória) e 
preventiva para caso de não se reincidir. O Juiz considera o poder econômico 
das partes e o caráter educativo da sanção. O prof. João Oreste Dalazen 
(Aspecto do Dano Moral Trabalhista) sintetiza as seguintes regras para 
dimensionar o dano pessoal: 
• compreender que o dano moral em si é incomensurável; 
• considerar a gravidade objetiva do dano; 
• levar em conta a intensidade do sofrimento da vítima; 
• considerar a personalidade (antecedente, grau de culpa, índole, etc.) e o 
maior ou menor poder econômico do ofensor; 
• não desprezar a conjuntura econômica do País; 
• pautar-se pela razoabilidade e equitatividade na estipulação (evitando-se 
de um lado um valor exagerado a ponto de levar a um enriquecimento 
sem causa e de outro lado evitando-se um valor tão baixo que seja 
irrisório e desprezível a ponto de não cumprir a função inibitória). 
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Costumamos nos indignar, quando ouvimos nos noticiários, os casos 
de homicídios, roubos, estupros, etc. Não é de nosso costume nos 
sensibilizar com os crimes contra a honra... os que afetam a moral de uma 
pessoa. Mas isso ocorre somente quando o episódio não se deu conosco ... 
só uma pessoa que já foi ofendida em sua honra sabe o quanto a dor moral 
é profunda... E nada cura essa dor moral... a condenação do ofensor apenas 
serve como satisfação aos outros, ao meio social em que se vive... mas não 
cura... no ofendido fica sempre uma “cicatriz invisível”. A propósito, vejam o 
que diz o art. 5°, inciso X, CF/88: “São invioláveis a intimidade, a vida 
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à 
indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação” (vide 
também o inciso V). 
Segundo a doutrina e a jurisprudência, as pessoas jurídicas possuem 
honra objetiva (aquilo que as outras pessoas pensam sobre ela: bom 
nome, tradição, solidez, conceito na sociedade, etc.), por isso tambémpodem pleitear ressarcimento pelo dano moral. 
 Percebam que o Código Civil não traz critérios para a quantificação 
da indenização por dano moral. No Brasil não há uma “tabela” para 
apuração decorrente do dano moral. Utiliza-se um “sistema aberto”. Deve o 
Magistrado fixá-la analisando a extensão do dano, as condições dos 
envolvidos e o grau de culpa do agente em cada caso. Isso não se avalia 
mediante simples cálculo, mas visando compensar a sensação de dor da 
vítima. Portando, isto varia de caso para caso. A compensação em dinheiro 
deve representar uma satisfação capaz de anestesiar o sofrimento impingido 
e produzir um impacto no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo 
atentado. A jurisprudência entende que se deve levar em conta a situação 
financeira do ofensor e do ofendido. Mas isso pode acarretar distorções. 
Pergunto: “a dor do pobre vale menos que a dor do rico”? 
C) DANO ESTÉTICO. Além do dano patrimonial (material) e 
extrapatrimonial (moral) a doutrina ainda se refere ao dano estético, que 
compromete a aparência (imagem física) da pessoa lesada. Para alguns 
autores, o dano estético é somente uma espécie de dano moral. Para outros 
a CF/88, em seu art. 5°, V, deixou clara a existência de três espécies de 
dano: o patrimonial, o moral e também o dano à imagem. Por este 
dispositivo o legislador não teria incluído o dano à imagem dentro do dano 
moral; o dano à imagem seria uma espécie autônoma de dano. 
Ora, o dano estético lesa um dos direitos da personalidade: a aparência 
física. Ele é conceituado como aquilo que agride a pessoa nos seus 
sentimentos de autoestima, prejudicando a sua avaliação como indivíduo; 
ele denigre a imagem que a pessoa tem de si mesma. E quando 
compromete a aparência, também fica comprometida a imagem social da 
pessoa lesada ou o modo pelo qual os outros a veem, fazendo-a se sentir 
mal, trazendo-lhe um enorme sofrimento psicológico. 
Geralmente o dano é verificado na aparência da pessoa; qualquer 
alteração que diminua a beleza que esta possuía, em virtude de alguma 
deformidade, cicatriz, perda de membros ou outra causa qualquer. No 
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entanto o dano não precisa estar exposto, nem ser de grande monta para 
que se caracterize. Mesmo deformidades em áreas íntimas da pessoa que, 
dificilmente, nas situações sociais estejam expostas à vista de terceiros, 
caracterizam o dano estético. A possibilidade de cumulação encontra suporte 
a partir da ideia que o dano estético estaria representado pela deformidade 
física propriamente dita, e o dano moral pelo sofrimento, pela vergonha, 
pela angústia ou sensação de inferioridade da vítima, comprometendo sua 
imagem social. 
Estabelece a Súmula 387 do STJ: “É possível a cumulação das 
indenizações de dano estético e moral”. Um dos casos que serviu de base 
para a edição da súmula, tratava de um acidente de carro em transporte 
coletivo. Um passageiro perdeu uma das orelhas na colisão e, em 
conseqüência das lesões sofridas, ficou afastado das atividades profissionais. 
O STJ entendeu presentes o dano material, moral e estético, sendo o 
passageiro indenizado de forma ampla. Outro caso recente foi o do ataque 
de um cachorro da raça rottweiler a uma criança de cinco anos. O incidente 
foi trágico, deixando danos estéticos graves na criança. O réu foi condenado 
expressante pelos danos materiais (internação hospitalar, remédios, 
tratamentos psicológicos e operações posteriores, etc.), morais e estéticos 
causados à criança. 
 Observações 
01. Se houver dano patrimonial e moral decorrentes do mesmo fato, há 
a possibilidade de cumulação das duas modalidades de dano, pleiteando-se 
indenizações em uma mesma ação. Súmula 37 do Superior Tribunal de 
Justiça: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral 
oriundos do mesmo fato”. 
03. A doutrina ainda menciona o chamado dano indireto (dano reflexo 
ou dano em ricochete). Trata-se do dano que inicialmente atinge 
diretamente uma pessoa. No entanto a mesma conduta afetou terceiros de 
forma indireta. Exemplo: A matou B. Este foi a vítima direta da conduta 
ilícita. Ocorre que B era divorciado e possuía dois filhos menores (C e D), 
sendo que ele pagava uma pensão mensal aos filhos. Com a morte de B, 
seus filhos, evidentemente, vão sofrer com a conduta de A. 
3. NEXO DE CAUSALIDADE  Trata-se da relação ou vinculação de causa-
efeito entre a conduta (ação ou omissão) e os danos sofridos. Não há 
responsabilidade civil sem a relação de causalidade entre o dano e a 
conduta ilícita do agente. Observem o verbo “causar” empregado no art. 
186, CC. Se houver dano, mas sua causa não está relacionada com o 
comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, não havendo a 
obrigação de indenizar. E também não haverá esse nexo se o evento se deu 
por culpa exclusiva da vítima. Exemplo: um passageiro de um ônibus 
força a porta e desce do veículo que ainda estava em movimento; com isso 
acaba caindo e se machucando; não pode pleitear indenização, pois o 
próprio passageiro agiu com culpa; e a culpa foi exclusivamente sua. Se a 
culpa for concorrente a indenização será reduzida proporcionalmente. O 
Superior Tribunal de Justiça recentemente julgou um caso em que um 
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pedestre de forma imprudente atravessou uma linha férrea e foi atropelado 
por um trem. A empresa foi considerada negligente pela má conservação do 
muro que cerca a linha, possibilitando o acesso ao pedestre. Foi condenada, 
porém de forma parcial. Também é motivo para exclusão do nexo causal se 
o fato ocorreu por caso fortuito ou força maior (art. 393, CC). 
 Resumindo Para que alguém seja responsabilizado civilmente é 
necessário se provar a conduta, o dano e o nexo de causalidade. 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL 
Conforme dissemos acima, embora o Código Civil tenha adotado, como 
regra, a teoria subjetiva para a responsabilização, possui diversos 
dispositivos em que a responsabilidade é do tipo objetiva. 
Assim, haverá obrigação de reparar o dano (independentemente de 
culpa) nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem (art. 927, parágrafo único, CC). Exemplo: os empresários 
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos 
danos causados pelos produtos postos em circulação (art. 931, CC). Do 
mesmo modo, há responsabilidade do dono de animais (art. 936, CC), do 
dono de prédios em ruína (art. 937, CC), do habitante da casa da qual 
caírem coisas (art. 938, CC), dos acidentes do trabalho, etc. Analisaremos 
todos esses itens logo mais adiante. 
BANCO. A jurisprudência é pacífica no sentido de que a responsabilidade 
pelo pagamento dos danos morais e patrimoniais causados a cliente de um 
banco por assalto que se desenrolou no interior do próprio banco é da 
instituição financeira, ainda que fora do expediente e independentemente de 
existir empresa contratada para fazer a segurança do local. Em caso de 
assalto a banco, não pode ser alegado motivo de força maior, pois o roubo é 
fato previsível na atividade bancária. Além do mais a Lei n° 7.102/83 criou 
para as instituições financeiras um dever de segurança em relação ao 
público em geral. Neste caso a responsabilidade do banco em relação a 
eventuais ferimentos de clientes no assalto funda-se na teoria objetiva do 
risco integral. 
O STJ apreciou um caso muito interessante a respeito: Um carro-forte 
foi atacado por atiradores com armas especiais, que estavam em um 
viaduto. O motorista do carro foi ferido, “perdeu a direção” e atingiu um 
pedestre que estava na calçada, matando-o. Familiares do pedestre 
ingressaram com ação contra a empresa de segurança. Foi indenizadaou 
não? A decisão foi por maioria de votos. Parte dos julgadores entendeu que 
o roubo é hipótese de força maior, que não obriga indenização. A outra parte 
(vencedora) entendeu que o transporte de valores é atividade sabidamente 
perigosa, feita com intuito de lucro e não parecia razoável mandar a família 
do pedestre morto reclamar indenização dos autores do crime de roubo (que 
sequer foram identificados). 
 
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� Questão Polêmica � Um ponto delicado é o referente à 
responsabilidade em caso de assaltos em terminais ou caixas eletrônicos 
situados fora da agência (autoatendimento 24 horas). Parte da doutrina 
entende que como a instituição financeira se beneficia com a instalação dos 
caixas eletrônicos, (facilitando seus negócios, angariando clientes, 
diminuindo seus gastos e inclusive cobrando por este serviço), deve 
responder pelo risco que decorre da instalação desses postos, alvo 
constante da ação dos ladrões. Trata-se de uma estratégia comercial que 
cria um risco pela instalação do caixa e que por este risco a empresa deve 
responder. O fundamento seria o art. 927, parágrafo único, CC 
(responsabilidade objetiva). É a minha posição. Por outro lado, há quem 
sustente que os assaltos ocorridos em terminais localizados, não na própria 
agência, mas em via pública, resultariam na responsabilidade do Estado, e 
não do banco. Isto porque tais caixas estão situadas no interior de bens 
públicos de uso comum e, portanto, sua fiscalização ficaria a cargo dos 
agentes da segurança pública (cabe ao Estado e não ao particular a 
segurança destas áreas). 
Além disso, há também responsabilidade dos fabricantes, fornecedores 
de produtos e serviços nas relações de consumo (arts. 12 e 14 da Lei n° 
8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor - CDC). A legislação de Direito 
Ambiental (Lei n° 6.938/81, entre outras) também fornece exemplos de 
responsabilidade objetiva como um meio de se coibir danos ao meio 
ambiente. A Lei n° 9.605/98, baseada no art. 225, §3o, CF/88, prevê até 
mesmo situações em que a Pessoa Jurídica pode cometer crime ao meio 
ambiente e responder por esta conduta na esfera penal. 
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR 
 Já sabemos o que é um ato ilícito na esfera do Direito Civil. Vamos ver 
agora o que obriga uma pessoa a reparar os prejuízos que sua conduta 
causou. O autor de um ato ilícito terá a responsabilidade pelo prejuízo que 
causou, devendo indenizá-lo. Como já vimos, assim determina o art. 
927, caput, CC: 
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
A obrigação de indenizar decorre da inobservância do dever geral de 
não causar danos a outrem. 
Os bens dos responsáveis pela ofensa ou violação do direito de 
outrem, ficarão sujeitos à reparação do dano patrimonial ou moral causado. 
Trata-se de uma norma de ordem pública. Se a ofensa tiver mais de um 
autor todos responderão solidariamente pela reparação (art. 942, CC). Ou 
seja, o titular de uma ação pode propô-la contra um ou contra todos os 
responsáveis pelo ato ao mesmo tempo. Além disso, no caso de 
solidariedade, aquele que pagar a indenização terá direito de regresso 
contra os demais codevedores, para reaver o que desembolsou. Acrescente-
se que o dever de reparar o dano é transmissível aos herdeiros, conforme 
veremos. 
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ABUSO DE DIREITO 
O Código Civil atual adotou, em seu art. 187, a Teoria do Abuso de 
Direito como ato ilícito. Trata-se do exercício irregular de um direito. O 
Abuso de Direito é uma grande inovação e uma boa “dica” para se pedir em 
um concurso, dada a sua novidade. Ampliou-se a noção de ato ilícito, para 
se considerar como objeto da responsabilidade civil também aquele ato 
praticado com abuso de direito, em que a pessoa, ao exercer um direito, 
excede determinadas limitações legais, lesando outrem. Por isso, traz como 
consequência, o dever de indenizar. Ou seja, o ato era originariamente 
lícito, mas foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou 
social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. Alguns autores usam o 
termo “ato emulativo” para se referir ao abuso de direito (já vi este termo 
cair em alguns concursos com este sentido). No entanto tal expressão não é 
técnica e também não é muito usada no meio jurídico. Seria aquele ato que 
a pessoa pratica, não para a sua utilidade, mas para prejudicar um terceiro. 
Segundo a doutrina majoritária a responsabilidade decorrente do abuso 
de direito independe de culpa. Portanto tem natureza objetiva. A doutrina 
costuma usar a seguinte frase: “o abuso de direito é lícito pelo conteúdo, 
mas ilícito pelas suas consequências". 
O Código de Defesa ao Consumidor (Lei n° 8.078/90) proíbe toda 
publicidade enganosa ou abusiva. É enganosa quando induz a erro o 
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade e quantidade, 
origem, preço e quaisquer outros dados sobre o produto ou serviço, até 
mesmo a omissão sobre dados essenciais. Já a publicidade abusiva é a 
discriminatória, a que incita a violência, explora o medo e a superstição, 
desrespeita valores ambientais, etc. 
� Um problema de ordem prática e que atinge tanto o Direito Civil como o 
Penal é: se uma pessoa colocar uma cerca eletrificada e esta causa a morte 
de uma criança que brincava com uma bola, tal fato é considerado abuso de 
direito? Resposta: é permitido em nosso Direito criar obstáculos para evitar 
um assalto. Exemplo: cercas com “lanças” de metal; caco de vidro nos 
muros divisórios, etc. O Direito Penal aceita isso normalmente, chamando 
essa conduta de “legítima defesa antecipada” ou de “ofendículos”. O Direito 
Civil também permite isso e chama esta conduta de “exercício regular de um 
direito”. Mas e uma cerca eletrificada? Também é legítima defesa 
antecipada? Tem se entendido, inclusive para concursos, que se a 
“voltagem” da cerca é pequena, o direito é legítimo; se há um aviso dizendo 
que a cerca é eletrificada, o direito também é legítimo. Mas se a cerca é 
disfarçada, sem avisos e com voltagem alta, capaz de matar alguém, a 
conduta é considerada como abuso de direito; é um exercício irregular do 
direito. Portanto é ato ilícito e cabe indenização. Portanto, cuidado com a 
forma de redação na elaboração da questão. 
Outra questão muito atual diz respeito ao SPAM. O que é um SPAM? 
Trata-se do envio de e-mails ou mensagens eletrônicas sem que haja 
solicitação para tanto. A doutrina vem se posicionando no sentido de que 
esta conduta se configura em Abuso de Direito. E isto por dois motivos: 
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primeiro porque há uma quebra da boa-fé objetiva; segundo porque há um 
desvio de finalidade socioeconômica da Internet. 
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA E SUBSIDIÁRIA 
Na responsabilidade solidária passiva temos um credor de um lado 
e por outro lado uma pluralidade de devedores. E o credor pode exigir a 
obrigação por inteiro de qualquer um dos coobrigados. É como se todos os 
devedores fossem apenas um. Segundo o Código Civil (art. 235) a 
solidariedade não se presume. Ela decorre da lei ou da vontade das partes 
(contrato). Assim pode o credor, à sua escolha, acionar todos ou apenas o 
devedor que possui melhores condições para honrar o compromisso. 
Já na responsabilidade subsidiária existe uma relação principal 
entre credor e devedor. Há uma preferência. O credor deve inicialmente 
acionar o devedor para o cumprimento da obrigação. Caso este assim não 
proceda, acionará o terceiro, que é o responsável subsidiário, o mero 
garantidor a obrigação. A fiança é o exemplo clássico. 
RESPONSABILIDADE POR ATOS DE TERCEIROS 
Em regra, somosresponsáveis somente pelas nossas condutas e 
atitudes. Todos os atos praticados de forma livre e consciente por uma 
pessoa capaz (ou seja, que tenha discernimento e autodeterminação) a ela 
serão imputados. No entanto, há casos em que o legislador determinou que 
pessoa diversa daquele que praticou a conduta causadora do evento 
danoso responda perante o lesado. Assim, em relação à responsabilidade 
civil do agente, temos a seguinte classificação: 
 Responsabilidade direta (ou por ato próprio): ocorre quando o autor 
do ato que causou o dano é a mesma pessoa que irá efetuar o 
pagamento de sua reparação. 
 Responsabilidade indireta (também chamada de responsabilidade 
por fato de outrem, ou por fato de terceiro, ou complexa): o ato 
lesivo é praticado por uma pessoa, mas será outra quem irá indenizar; 
uma pessoa é civilmente responsável perante terceiros por condutas 
praticadas por outra (arts. 932 a 934, CC). Ex.: uma pessoa menor de 
18 anos não é plenamente responsável; no campo do direito penal é 
considerada inimputável. Mas mesmo assim, se ela praticar um ato 
ilícito, haverá obrigação de indenização por seus pais (ou tutores). 
Lembrando que o menor entre 16 e 18 anos não pode invocar a sua 
idade para eximir-se de uma obrigação, se dolosamente a ocultou 
quando inquirido pela outra parte ou se, no ato de obrigar-se, declarou-
se maior (art. 180, CC). 
O art. 932, CC arrola diversas hipóteses de responsabilidade civil 
por atos praticados por terceiros (responsabilidade indireta ou 
complexa). Vejamos: 
 Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos menores 
que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Exemplo: pai 
permite que filho dirija sem habilitação; havendo um acidente, o pai deve 
responder pela conduta do filho. Da mesma forma o pai responde pela 
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conduta de um filho que cometeu delitos como a lesão corporal, o furto, 
etc. 
A lei deixa claro que o filho menor (de 18 anos) deve estar sob a 
autoridade e companhia dos pais. Assim, em caso de separação judicial o 
responsável é aquele que ficou com a guarda do menor. 
No entanto, pelo art. 928, CC o incapaz responde pelos prejuízos que 
causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo 
ou não dispuserem de meios suficientes. Exemplo da primeira situação: os 
pais são separados e o pai não é o que chama de “genitor-guardião”; ou 
seja, o filho está sob a custódia da mãe; nesta situação o filho pratica um 
ato ilícito; obviamente que quem irá responder por este fato é a mãe e não 
o pai, pois este não tinha a obrigação legal de fazê-lo. Exemplo da segunda 
situação: o filho menor recebeu uma grande herança de um tio muito rico, 
no entanto o pai não dispõe de posse alguma; o filho pratica um ato ilícito. 
Em tese o pai responderia. Mas como o mesmo não tem bens para tanto, a 
responsabilidade será do próprio menor. Notem que a redação do artigo “é 
meio inversa”. Na verdade o legislador quis dizer que é o responsável pelo 
incapaz quem responde por seus atos (civis), mas se este responsável não 
dispuser de meios suficientes (ou seja, não tem dinheiro) aí quem irá 
responder é o próprio incapaz. Resumindo →→→ o responsável responde de 
forma objetiva (art. 932, I, c.c. 933, CC); se ele não puder ou não tiver 
essa obrigação, o próprio incapaz responderá, pois possui 
responsabilidade subsidiária (art. 928, CC). 
Interessante acrescentar que a jurisprudência entende que o menor 
emancipado (art. 5°, parágrafo único, CC) torna-se civilmente capaz, 
respondendo por seus atos; contudo, se a decisão de emancipação partiu 
dos próprios pais (emancipação voluntária), estes não se isentam da 
responsabilidade; eles continuam responsáveis pelo menor emancipado. No 
entanto a responsabilidade neste caso será solidária (ou seja, a vítima 
pode ingressar com a ação somente contra um, somente contra o outro, ou 
contra ambos, à sua escolha). 
���IMPORTANTE ��� O parágrafo único do art. 928, CC determina que esta 
indenização deve ser equitativa e não será devida se privar do necessário o 
incapaz ou as pessoas que dele dependam. Exemplo: o menor tem uma 
renda mensal de R$ 1.000,00 e foi condenado a pagar R$ 900,00 por mês. 
Neste caso o Juiz deve abrandar, equitativamente este valor (baixando, por 
exemplo, para R$ 300,00 ao mês), pois a condenação integral irá privar o 
incapaz dos meios necessários à sua subsistência. Portanto dizemos que a 
responsabilidade do menor é subsidiária e mitigada (abrandada, diminuída) 
equitativamente em relação às suas disponibilidades. Justifica-se isto 
baseado no princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa 
humana. 
 O tutor e o curador são responsáveis pelos tutelados e curatelados que 
estiverem nas condições anteriores (ou seja, depende da relação de 
guarda e companhia). 
 O empregador ou comitente são responsáveis pelos atos de seus 
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou em razão 
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dele. Atenção quanto à expressão comitente. Os examinadores gostam 
dela, pois não é usada em nosso dia-a-dia. Comitente é a denominação 
que se dá a uma pessoa que encarrega outra de praticar algum ato sob 
suas ordens e por sua conta (geralmente há uma remuneração para isso, 
que se chama de comissão). Deve-se provar: a) relação de subordinação 
(desnecessária a prova de remuneração ou habitualidade de prestação 
de serviços por parte do preposto); b) culpa do empregado; c) ato lesivo 
foi praticado no exercício do emprego ou por ocasião dele. Como a 
responsabilidade nestes casos é objetiva, não é necessária a prova da 
culpa in eligendo ou in vigilando do empregador. 
 Os donos de hotéis, hospedaria, casas ou estabelecimentos onde se 
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, são responsáveis 
pelos atos danosos praticados pelos seus hóspedes, moradores e 
educandos. Neste caso deve-se provar: que o dano foi causado enquanto 
o aluno estava sob sua vigilância e autoridade (fora daí a escola somente 
responde se houver prova de culpa); que o aluno seja menor (o maior 
não se submete mais à vigilância); que o ensino seja remunerado 
(finalidade lucrativa). 
 A última hipótese do art. 932, CC trata da responsabilidade civil dos 
beneficiários em produtos de crime. Trata-se de responsabilidade 
objetiva, exigindo-se a obrigação de devolver a coisa à vítima com base 
no enriquecimento injusto, mesmo que tenha recebido o produto do 
crime de forma gratuita e inocente. 
A pessoa jurídica que exercer exploração industrial terá 
responsabilidade presumida pelos atos lesivos de seus empregados. Com 
isso terá de selecioná-los, instruí-los e vigiá-los, tendo a responsabilidade de 
reparar os eventuais prejuízos que causarem no exercício de suas funções 
(responsabilidade objetiva). 
��� Atenção ��� As pessoas acima apontadas (art. 932, CC), ainda que não 
haja culpa de sua parte (portanto, responsabilidade objetiva) responderão 
pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (art. 933, CC). O lesado 
deve provar a culpa do incapaz, do empregado, etc. Configurada esta há 
uma presunção absoluta (não admite prova em contrário: juris et de jure) 
de que aquelas pessoas serão as responsáveis pela indenização. 
E aquela pessoa que ressarciu o dano causado por outrem pode 
reaver o que pagou, por meio de uma ação regressiva contra quem 
realmente praticou o ilícito, salvo se o causador do dano for seu 
descendente, absolutamente ou relativamente incapaz (art. 934, CC). 
Exemplo: um hóspede alega (e prova) que foi furtado por um funcionário do 
hotel. O dono do hotel, embora não tenha praticado o ato (no caso a sua 
responsabilidade é indireta) e não tenha culpa no evento (sua 
responsabilidade é objetiva) irá responder pelaconduta de seu funcionário, 
indenizando o hóspede. No entanto, identificando o funcionário que agiu de 
forma ilícita, pode o dono do hotel propor uma ação regressiva contra este 
funcionário (que foi o real causador do dano), para se ressarcir do prejuízo 
sofrido. Outro exemplo: se uma empresa de transporte de pessoas deixa de 
levar o passageiro a seu destino são e salvo por causa de um acidente, 
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quem responde é esta empresa. No entanto se ficar comprovado que o 
motorista da empresa é que foi o causador do acidente porque estava 
embriagado, a empresa continua responsável pela indenização ao passageiro 
(responsabilidade objetiva), mas poderá acionar o motorista, que foi o 
causador do dano (responsabilidade subjetiva), para reaver o que 
desembolsou, por meio da ação de regresso. 
É interessante reforçar, deixando bem claro que o direito de regresso 
deixará de existir quando o causador do prejuízo for um descendente 
incapaz (absoluta ou relativamente), resguardando-se, assim, o princípio 
da solidariedade moral e econômica pertinente à família. Assim o pai 
que paga uma indenização por dano causado pelo filho incapaz (art. 932, 
inciso I, CC) não pode mover ação regressiva contra esse filho (parte final 
do art. 934, CC). 
EXCLUSÃO DE ILICITUDE (art. 188, CC) 
Podem ocorrer casos em que uma pessoa pratica uma conduta e a 
consequência dela causou uma lesão a terceiros. No entanto ela pode não 
ter praticado um ato ilícito, pois estava acobertado por uma causa de 
exclusão de ilicitude. Isto porque a própria norma jurídica, em casos 
especiais, retira a qualificação de ilícito. Ou seja: há situações em que uma 
pessoa pratica uma conduta, lesando terceiros, sem que tenha havido ato 
ilícito. São elas: 
1. Legítima Defesa  Trata-se do uso moderado de meios 
necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu 
(legítima defesa própria) ou de outrem (legítima defesa de terceiros). 
Faltando apenas um destes elementos, deixa de existir a legítima defesa 
Assim, se o uso dos meios necessários não foi moderado, deixa de existir a 
legítima defesa, surgindo o dever de indenizar pelo excesso. 
Exemplo: “A”, injustamente, agride “B”, visando sua morte, com uma 
barra de ferro. “B” portava uma arma de fogo e percebe que a sua única 
saída seria efetuar disparos contra “A”. Ele atira por uma única vez e acaba 
ferindo gravemente ou matando “B”. Ora, ele agiu em legítima defesa. Ele 
tem o direito de se defender, utilizando, para tanto, moderadamente, os 
meios necessários que dispunha. Nesta hipótese, quem deu causa à reação 
(“A” ou seus familiares) não pode exigir indenização. Vejam que “B” atirou 
contra “A” (ação) e o atingiu (provocou o dano). Foi o disparo da arma de 
“B” que provocou a lesão de “A” (nexo de causalidade). Apesar de estarem 
presentes os três elementos da responsabilidade (conduta, dano e nexo), 
não haverá a indenização, pois ocorreu uma causa de exclusão da 
ilicitude. 
Vamos complicar um pouco mais... Vamos supor que “B”, quando se 
defendeu da injusta agressão de “A”, acabou atirando e atingindo uma 
terceira pessoa, “C”, que apenas estava passando pelo local. Neste caso “C” 
terá direito de solicitar indenização de quem o atingiu (no caso “B”, o autor 
do disparo). No entanto “B” terá o direito de regresso contra quem deu 
causa a todo evento (“A” ou seus familiares). A legítima defesa putativa (a 
pessoa pensa que está em legítima defesa, mas na realidade não está) 
também não exclui a obrigação de indenizar. 
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Interessante acrescentar que o Código Civil também reconhece a 
chamada legítima defesa da posse (art. 1.210, §1°). 
2. Exercício Regular de um Direito Reconhecido  Se alguém no 
uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer responsabilidade 
por eventuais danos, pois se trata de um procedimento realizado em 
conformidade com o estabelecido no sistema jurídico. 
Exemplo: credor que protesta um título de crédito regular, vencido e não 
pago, prejudicando o crédito do devedor em outros negócios – o protesto é 
um direito do credor. Outros exemplos: concorrente que se estabelece na 
mesma rua; credor que penhora bens do devedor; etc. Só haverá ato ilícito 
se houver abuso de direito (ex.: vizinho que produz em sua residência ruído 
que exceda à normalidade). 
3. Estado de Necessidade  É a deterioração ou destruição de coisa 
alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, quando as 
circunstâncias a tornarem absolutamente necessária e não se exceder os 
limites do indispensável para a remoção do perigo. Trata-se de uma situação 
em que a pessoa entende que uma coisa sua pode sofrer um dano; para 
removê-lo ou evitá-lo, sacrifica a coisa alheia. 
Exemplos: na iminência de ser colhido por um caminhão, ou de atropelar 
um pedestre, arremesso meu carro contra o portão de uma casa alheia 
destruindo-o; mato o cão do vizinho atacado por hidrofobia e que ameaça 
várias pessoas. Reforçando: a conduta será legal somente quando as 
circunstâncias a tornarem absolutamente necessária para a remoção do 
perigo. 
Observem que o art. 929, CC determina que se a pessoa lesada ou o 
dono da coisa não forem culpados do perigo, elas têm direito à indenização 
do prejuízo que sofreram em face de quem praticou o ato. Porém, completa 
o art. 930, CC, prevendo que a pessoa que ressarciu os danos tem direito à 
ação regressiva contra o autor do perigo, para reaver o que desembolsou. 
Portanto, aplica-se a mesma regra da legítima defesa: se o prejudicado é o 
ofensor nada lhe será devido. Mas quando o prejudicado não é o ofensor 
(mas uma terceira pessoa), pode esta pedir indenização ao autor do ato 
(ainda que esta tenha sido lícito), tendo posteriormente direito de regresso 
contra o ofensor. Exemplificando: “A” está dirigindo normalmente, mas de 
repente surge “B”, atravessando a rua de forma displicente. Para não 
atropelar esta pessoa, “A” arremessa o carro contra o muro da casa de “C”. 
“C” (o que sofreu a lesão) irá acionar judicialmente “A” (o autor do dano), 
mesmo que ele não tenha agido de forma ilícita. E este, por sua vez, deve 
mover ação regressiva contra “B”, que foi o causador originário do dano. No 
entanto se o lesado foi o próprio causador do perigo não haverá indenização. 
 Resumindo. Pratiquei uma conduta em estado de necessidade, 
danificando patrimônio alheio. Se o lesado foi o causador do perigo (ou seu 
responsável), não haverá a obrigação de indenizar. Se o lesado foi um 
terceiro eu serei obrigado a indenizar e terei direito de regresso contra o real 
causador do dano. 
���Doutrina ���Excludente de ilicitude X Excludente de causalidade ��� 
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As excludentes da ilicitude (também chamadas de excludentes de 
imputabilidade) excluem a imputação ou atribuição de responsabilidade do 
autor da conduta praticada; estão prevista no art. 188, CC (ex.: legítima 
defesa, estado de necessidade e exercício regular de direito). Segundo a 
doutrina, estas excludentes não se aplicam à responsabilidade sem culpa 
(objetiva). Já as excludentes de causalidade são hipóteses que excluem a 
própria responsabilidade (ex.: culpa exclusiva da vítima, culpa ou fato de 
terceiro, força maior e caso fortuito, etc.). Vejamos: 
 Culpa exclusiva da vítima: não haverá responsabilidade se o evento 
ocorreu por culpa exclusiva da vítima. Atenção!! Se a culpa da vítima 
foi concorrente (ou seja, tanto o agente como a vítima agiram com 
culpa) a indenização será cabível, mas ela será reduzida 
proporcionalmente. Portanto, em caso de culpa concorrente, há 
responsabilidade e indenização, porémde forma reduzida. 
 Caso Fortuito ou Força Maior: estas situações estão ligadas a 
imprevisibilidade e inevitabilidade do evento, além da ausência de culpa 
pelo ocorrido. 
 Ausência de nexo de causalidade: não haverá responsabilidade se 
não houver uma relação de causa e efeito entre o dano e a conduta 
(ação ou omissão) do agente. 
EFEITOS CIVIS DA DECISÃO PROFERIDA NO JUÍZO CRIMINAL 
Prevê nosso Código que a responsabilidade civil é independente 
da criminal (art. 935, CC). Como vimos uma pessoa que comete um ato 
ilícito pode sofrer dois processos (penal se a conduta for crime e civil para 
reparação do dano). Às vezes até três processos (acrescente-se o 
administrativo). E a regra é que as decisões tomadas em um processo não 
vinculam as dos outros. Porém, como veremos, esta não é uma regra 
absoluta. Como quase tudo no Direito, esta regra também possui exceções. 
A regra que vigora em nosso direito é o princípio da 
independência da responsabilidade civil em relação à penal. 
Embora a regra seja a independência das esferas, não se pode mais 
questionar no juízo cível algumas questões, quando estas já foram 
decididas no juízo criminal. São duas as hipóteses que, decididas no juízo 
criminal, não se discute mais no cível: 
 Existência do fato, isto é, a ocorrência do ilícito e suas 
consequências (engloba-se aqui eventual excludente de criminalidade, 
como veremos); 
 Autoria da prática da conduta. 
Situações e Consequências 
a) Sentença criminal condenatória. Para se condenar 
criminalmente uma pessoa é imprescindível que estejam cabalmente 
demonstradas a autoria e o fato delituoso. Provando-se isto no juízo 
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criminal, tais elementos não poderão mais ser discutidos no juízo cível. 
Assim, uma decisão condenatória no juízo criminal torna certa a obrigação 
de reparar o dano. Sendo a ação (cível) proposta, não se discutirá mais se 
o autor do dano deve ou não deve indenizar (o an debeatur; o que é 
devido). Somente se discutirá o valor da indenização (o quantum debeatur; 
o quanto é devido). 
b) Sentença criminal absolutória negatória do fato e/ou da 
autoria. Existem diversas hipóteses de absolvição criminal. Elas estão 
previstas no art. 386 do Código de Processo Penal. Se o Juiz absolver com 
fundamento em que está provada a inexistência do fato ou de que o réu 
categoricamente não foi o autor do delito, estas questões também não 
poderão mais ser discutidas no juízo cível. Se uma ação cível for proposta, 
fatalmente o Juiz a julgará improcedente. 
c) Sentença criminal absolutória, reconhecendo excludente de 
ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do 
dever legal ou exercício regular de um direito). A decisão criminal também 
vincula o juízo cível. A excludente em si não poderá mais ser discutida. Mas 
em algumas situações a ação cível poderá ser proposta contra quem 
praticou o ato, mesmo que acobertado por uma excludente, sendo que este 
terá direito a ação regressiva contra o verdadeiro provocador da situação. 
d) Sentença criminal absolutória por falta de provas. Talvez este 
seja o item mais importante. Em algumas situações não há provas 
suficientes para uma condenação criminal. Em outras palavras, o Juiz 
reconhece que até há algumas provas contra o réu. Mas elas não são aptas 
para embasar uma condenação criminal. Quando a sentença não concluiu 
categoricamente se o fato ocorreu ou não, ou se o réu foi ou não o autor do 
ilícito, o Juiz o absolve por falta de provas. Neste caso a matéria pode ser 
discutida no juízo cível. Isso porque as provas que são frágeis para uma 
condenação criminal, podem ser suficientes para uma condenação no cível. 
Dizemos que na esfera criminal o Juiz deseja saber o que realmente 
ocorreu. Ou seja, o fato investigado no processo deve corresponder ao que 
está fora dele, em toda a sua plenitude, sem quaisquer artifícios, sem 
presunções ou ficções. Trata-se da chamada Verdade Real (ou material), 
onde predomina a indisponibilidade de interesses. Na dúvida o Juiz absolve 
(in dubio pro reo). 
Já no processo civil, a verdade é extraída da análise das provas e 
manifestações trazidas aos autos pelas partes, sendo que o Juiz pouco 
ou nada interfere nesta produção. Vale somente o que está nos autos, pois 
os conflitos geralmente se referem a direitos disponíveis. Trata-se da 
chamada Verdade Formal (consensual, ficta ou judicial). 
Exemplos. Uma pessoa cometeu um crime e será processada 
criminalmente. Ela foi citada e interrogada. Durante o trâmite do processo 
ela não comparece às audiências para a quais foi regularmente notificada. O 
Juiz então decreta a sua revelia. Mas não é por isso que ela será condenada 
automaticamente. O processo seguirá adiante, sendo que o réu continuará 
sendo defendido por profissional habilitado (seu próprio advogado ou um 
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defensor dativo). E, no final do processo, o réu até pode ser absolvido. Vai 
depender do que foi apurado; do que realmente ocorreu (verdade real). No 
entanto se uma pessoa é citada para um processo civil ou trabalhista e não 
comparece à audiência designada, o Juiz decreta a sua revelia, havendo a 
presunção de que todos os fatos alegados pelo autor da ação são 
verdadeiros. Não importa se estes fatos são ou não verdadeiros. Vale o que 
está no processo (verdade formal). 
e) Inimputáveis. Durante o processo criminal o réu foi considerado 
doente mental. Isto pode excluir a sua responsabilidade penal. Mas não 
exclui a responsabilidade para a reparação de danos na esfera civil. Esta 
situação se encaixa na regra de que o responsável pelo inimputável, 
responde civilmente por seus atos. 
f) No caso de questões sobre o estado das pessoas (solteira, 
casada, viúva, etc.) e sobre a posse, propriedade, etc., prevalecem as 
decisões do juízo cível, que serão “transportadas” para o juízo criminal. 
Exemplo: Um sujeito está respondendo pelo crime de bigamia (casou-se 
duas vezes) na esfera penal (art. 235, CP). Esse sujeito alega que seu 
primeiro casamento era nulo. Ora, a nulidade de um casamento não pode 
ser declarada por um Juiz criminal. Portanto, instalado o incidente, o Juiz 
suspende o processo criminal e a questão (se o primeiro casamento é nulo 
ou válido) será discutida no juízo cível. Decidida a questão, o processo 
criminal volta a tramitar: se realmente o primeiro casamento era nulo não 
haverá o crime (art. 235, §2°, CP); mas se o casamento era válido ele será 
condenado a uma pena que varia de 02 (dois) a 06 (seis) anos de reclusão. 
Costumo fornecer o gráfico abaixo para fixar bem a possibilidade ou 
não de vinculação das esferas penal e civil. Lembrem-se de que o art. 935, 
CC inicia a sua redação da seguinte forma: “A responsabilidade civil é 
independente da criminal...” Logo, a regra é a da independência. Mas 
como vimos há muitas exceções. 
Vinculação ou não das esferas penal (criminal) e cível 
JUÍZO CRIMINAL JUÍZO CÍVEL 
1. Sentença Condenatória. O 
Juiz criminal reconhece cabalmente 
provada a existência de um fato 
delituoso e reconhece o réu como 
sendo o autor deste fato. 
1. Vincula. Reconhecidas no juízo 
criminal a autoria e o fato delituoso, 
o Juiz na esfera cível deverá julgar 
procedente a ação cível contra o réu 
(condena). Discute-se apenas o 
quantum (valor) da indenização. 
2. Sentença Absolutória. O Juiz 
criminal reconhece categoricamente 
que o fato não ocorreu ou que ele 
ocorreu, mas comprovadamente o 
réu não foi o seu autor. 
2. Vincula. Em tese a ação civil 
de reparação de danos nem deveria 
ser proposta. Se o foi, o Juiz deverá 
acolher o que foi decidido no juízo 
criminal (julga improcedente a ação 
cível). 
3. Sentença Absolutória quando 3. Vincula. O Juiz cível reconhece 
DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL

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