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Sociologia Contemporânea

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SOCIOLOGIA 
CONTEMPORÂNEA
Aline Michele 
Nascimento Augustinho
As origens da sociologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer o objeto de estudo da Sociologia.
  Descrever a perspectiva sociológica sobre a realidade.
  Distinguir ciências naturais de ciências sociais.
Introdução
Neste capítulo, você vai ver como a sociologia se constituiu como ciên-
cia e como o campo se estabeleceu no Brasil. A partir da influência de 
pensadores clássicos europeus, o Brasil teve atores pioneiros na análise 
da sociedade e das interações sociais com uma óptica próxima a das 
ciências da natureza. 
Ao longo do texto, você vai conhecer os objetos de estudo e interesse 
da sociologia, bem como as leituras dessa ciência sobre a realidade e 
os contextos analisados. Por fim, você vai ver como a sociologia se po-
siciona diante das ciências que lhe deram origem, as ciências naturais e 
as ciências sociais.
A formação da sociologia e a identificação 
de seus objetos
As refl exões sobre o comportamento humano sempre estiveram presentes em 
sociedades e comunidades ao redor do mundo e ao longo do tempo, em épocas 
e confi gurações sociais distintas. As pinturas rupestres feitas em cavernas e 
elaboradas por hominídeos expressavam as formas de organização dos grupos 
sociais que surgiam, as caças, os perigos vividos, os espaços visitados, as 
viagens empreendidas. As representações pictóricas podem datar do período 
Paleolítico, que se estendeu da origem do homem até 10.000 a.C. Ou seja, o 
desejo de expressar, gravar e compreender a história humana está presente entre 
indivíduos desde os primórdios das organizações sociais mais elementares. 
É possível que a identifi cação do indivíduo como parte de um grupo seja um 
fator preponderante para a inclinação à refl exão a respeito dos contextos em 
que o grupo se insere.
A expressão livre dos laços entre humanos deu espaço à reflexão, elaborada 
pelos filósofos da Antiguidade Clássica, sobre a pureza, a moral e a função 
de cada comportamento. Esse tipo de pensamento norteou as leituras sobre 
interações sociais até meados do século XVIII. O Iluminismo, também cha-
mado de Século das Luzes, trouxe novas possibilidades de interpretação da 
natureza do comportamento humano. Nesse período, passa-se a considerar a 
complexidade das relações humanas, normalmente baseadas na estrutura de 
organização política do Estado.
Mas são as rápidas transformações decorrentes da Revolução Industrial 
as responsáveis pelo grande interesse em medir, projetar e identificar formas 
de relações e comportamentos sociais. Devido à Revolução, se altera o modo 
de produção, consumo e organização social e política. E isso tem um motivo: 
o caos e os desequilíbrios sociais, desencadeados por situações nunca antes 
conhecidas. Por isso, pensadores passaram a observar os comportamentos 
sociais em busca de uma resposta para as transformações que se sucediam. 
As dinâmicas sociais passaram a ser foco não apenas de observação, mas de 
estudo. Por que essas dinâmicas acontecem da forma como acontecem? Quais 
são os elementos que incidem sobre as organizações sociais? Quais elementos 
as tornam estáveis, lineares, ou quais incitam o desejo por ruptura, por revo-
luções? E, para os pensadores cujos trabalhos deram origem à sociologia, a 
questão preponderante era: como reorganizar ou reestabelecer as sociedades 
após o caos?
Esses são alguns dos questionamentos que nortearam a definição de meto-
dologias para a observação e a análise de dinâmicas sociais e que culminaram 
na delimitação de um campo científico específico, a sociologia. A ciência 
das relações sociais nasce com o estigma de pousar o olhar sobre um objeto 
instável, abstrato, difícil de ser controlado. Por isso, alguns autores que anali-
saram brilhantemente seus contextos sociais e históricos tiveram seus estudos 
utilizados como base para a construção da sociologia como campo científico, 
e seus métodos foram considerados integrantes do aporte que deu origem a 
essa área de estudo. 
Entre eles, destacam-se Auguste Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e 
Max Weber. Desses autores, apenas Karl Marx não define claramente etapas 
ou métodos de análise e interpretação de interações sociais com o objetivo 
de criar uma abordagem científica a ser retomada por futuros pesquisadores. 
Mas a forma de organização de sua leitura sobre as estruturas sociais oferece 
As origens da sociologia2
tantos dados para o fortalecimento da sociologia como ciência que sua obra 
se equipara, nesse sentido, às dos outros três estudiosos.
A seguir, você vai conhecer melhor a contribuição de cada um deles para 
o estabelecimento e o fortalecimento da sociologia como campo científico. 
Tenha em mente que, com exceção de Durkheim e Weber, os autores mais 
importantes para a formação das teorias sociológicas clássicas não faziam 
parte da mesma geração e analisavam contextos sociais, políticos e históricos 
distintos.
Auguste Comte (1798–1857)
O francês Auguste Comte inicia seus estudos na Escola Politécnica ainda 
adolescente, mas há uma pausa entre o início de seus estudos e a sua conclusão. 
Tal pausa foi causada pelo fechamento temporário da Escola e depois por sua 
expulsão. Após concluir os estudos, ele vive uma grave crise psicológico-
-emocional e se afasta da pesquisa por algum tempo. Sua primeira obra, 
Plano de Trabalho Científi co para Reorganizar a Sociedade, realizada em 
1822, demonstra como imaginava recompor a sociedade num período de 
intensas rupturas, em que a Europa vivia alternâncias de poder entre regimes 
despóticos e revoluções. Comte foi secretário e amigo do Conde de Saint-
-Simon, nobre francês teórico do socialismo utópico. Contudo, rompeu com 
o Conde após alguns anos, por não considerar defi nitivas as suas teorias sobre 
as organizações sociais.
O positivismo comtiano define os parâmetros empíricos para a observação 
das dinâmicas sociais. Além disso, é a teoria que define o objeto sociológico 
como elemento próprio da ciência. Para Comte, se existiam leis que regiam 
as ciências naturais, também existiam leis que regiam os objetos sociais. Para 
conhecê-las, as etapas empíricas da observação à comparação deveriam ser 
respeitadas. Foi Comte o teórico que definiu o termo “sociologia”.
Karl Marx (1818–1883)
De origem judaica, o alemão Karl Marx estudou direito, fi losofi a e história, 
concluindo o doutorado ainda bem jovem, aos 23 anos. Voltado à fi losofi a 
hegeliana, o jovem Marx escrevia artigos jornalísticos que questionavam a 
organização política alemã e enfatizavam o aporte democrático. Por isso, foi 
expulso e se mudou para a França, onde conheceu Engels. Seu posicionamento 
político o levou a ser expulso também da França, então ele foi para a Ingla-
terra, onde permaneceu até a sua morte. O primeiro trabalho em que aparece 
3As origens da sociologia
sua marca metodológica mais importante para a sociologia, o materialismo 
histórico, é O Manifesto do Partido Comunista, escrito em parceria com 
Friedrich Engels, em 1848.
O materialismo histórico é uma teoria que entende que as relações entre 
a produção e o consumo de mercadorias é o que determina as estruturas e 
organizações sociais. Por isso, as grandes transformações históricas foram 
pautadas pela alteração na forma de produção, do feudalismo para o mercan-
tilismo e depois para o capitalismo. Para Marx, o capitalismo causaria tensões 
ininterruptas entre as classes, trabalhadores e burgueses, e essas tensões 
levariam à tomada de poder pelos trabalhadores, que colapsariam o sistema 
e estabeleceriam o comunismo. Para o autor, a marcha para o comunismo era 
inevitável, por isso o materialismo histórico possui um viés determinista.
Émile Durkheim (1858–1917)
O francês Émile Durkheim também tinha origem judaica, mas declarava não 
praticar nenhuma religião. Assim como Marx, estudou fi losofi a, porém seus 
trabalhos se voltavam inteiramente à defi nição das metodologias de pesquisase aportes técnicos da sociologia. Sua carreira acadêmica se inicia com estudos 
voltados para a ciência da educação. Criador da chamada “escola de sociologia 
francesa”, Durkheim foi o primeiro acadêmico a ocupar a cátedra de ciências 
sociais na Universidade de Sorbonne.
Durkheim dialoga em seus trabalhos com Comte e Marx, mas tem um 
alinhamento maior com as teorias positivistas. Ele compreende que a socio-
logia tem objetos próprios e diferentes daqueles do direito, da filosofia e da 
economia. Mas, diferente de Comte, Durkheim não acreditava em leis sociais, 
e sim na determinação de métodos e etapas para a observação, a classificação 
e a comparação dos fenômenos sociais, o que constituiria a verdadeira ciência 
sociológica. A tipificação de comportamentos é um dos elementos usados pelo 
pensador para chegar à observação científica dos fenômenos sociais.
Max Weber (1864–1920)
O alemão Max Weber estudou história, economia e direito. Sua origem foi 
intelectualmente privilegiada, já que, como fi lho de um político do Partido Na-
cional Democrata alemão, pôde ter contato com estudiosos e intelectuais de seu 
tempo. Weber foi para os Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. 
Lá, passou a analisar aspectos de uma sociedade capitalista, comparando-os 
às estruturas tradicionais morais e culturais da Alemanha, cuja corrupção 
As origens da sociologia4
ou enfraquecimento durante a República de Weimar o preocupava. Weber 
transcende o positivismo de Comte, o materialismo de Marx e o funciona-
lismo de Durkheim, mas admite as contribuições de cada um desses aportes, 
dialogando com seus teóricos em alguns trabalhos.
O pensador alemão criou a chamada sociologia compreensiva, um método 
de análise que compreende as construções simbólicas de maneira subjetiva. 
Ou seja, é um método que admite que o aparato sistêmico de significação 
de fenômenos sociais é o que dá sentido à ação, e ele pode ser diferente em 
contextos sociais, políticos e históricos distintos. Por isso, Weber contraria 
o determinismo do materialismo histórico de Marx e a impossibilidade de 
transcendência das estruturas sociais de Durkheim. Para ele, o espaço que 
Marx deu aos conflitos entre classes como motor da história foi dado aos pro-
cessos de racionalização dos fenômenos sociais, em associação às dinâmicas 
de dominação social.
Comte viveu todo o processo de erosão do poder da nobreza e da monarquia 
francesa, bem como os impactos resultantes dos movimentos que culminaram 
na Revolução Francesa, na ruptura da monarquia e na constituição da república 
no país. Revoluções não são transições, não são alterações que ocorrem aos 
poucos; não há espaço ou tempo para acomodações de mudanças. Para que 
eclodam, é preciso que haja um momento anterior de caos. E os momentos 
subsequentes à ruptura e à instalação de um novo modelo de organização 
política e social costumam também ser pautados por desorganização e incer-
teza. Para Comte, porém, independentemente dos objetivos de um movimento 
político e das alterações que ele poderia trazer às organizações sociais, deveria 
haver espaço para se pensar em planejamento social e organização, pilares que 
construiriam o bem-estar social. A racionalidade deveria nortear as ações e, 
assim, estabeleceriam-se planos e etapas que ordenariam e manteriam seguras 
e controladas quaisquer alterações na organização social.
Como você viu, Marx, Weber e Durkheim buscavam compreender as 
causas e consequências das interações sociais. Eles verificavam o modo 
como tais interações se conectavam com um contexto histórico comum e 
avassalador para as estruturas tradicionais de organização social: a moder-
nidade. Por isso, alguns elementos estão presentes nas abordagens desses 
autores. Entre eles, você pode considerar: as características estruturais e a 
expansão do capitalismo, o processo de urbanização, a expansão da produ-
ção, a saturação do consumo doméstico e as expansões territoriais. Essas 
transformações deram novas formas e sentidos às interações sociais. Os 
mesmos elementos também tiveram impacto na organização, na estrutura e 
5As origens da sociologia
na função do Estado, de modo que a democracia e o liberalismo são pautas 
para as análises sociológicas.
Como você pode perceber, a sociologia percorreu um longo caminho 
para se estabelecer. Ela se fortaleceu a partir de teóricos com formação em 
áreas diversas, que procuraram explicar ou dar sentido ao caos social que 
acreditavam existir, ou às transformações que vivenciaram. Sua origem, 
portanto, é resultado de um processo de construção de leituras sociais de 
aproximadamente um século. Seu objeto de estudo, porém, é algo mais claro 
de se observar nesse processo. A sociologia deixa de lado os impactos das 
organizações do Estado ou de elementos sobrenaturais para se concentrar nas 
práticas sociais que permitem a manutenção, a organização ou a ruptura de 
sistemas de organização social, política e econômica.
Os interesses científicos não são inalteráveis, não permanecem os mesmos através 
dos tempos. Os teóricos clássicos da sociologia estavam inseridos num contexto de 
supervalorização das relações e dos padrões de comportamento social, nos períodos 
subsequentes ao Iluminismo e à Revolução Industrial. O panorama contemporâneo 
é bem diferente e há uma tendência social à individualização. A chamada geração Y 
prefere estar sozinha, mas conectada a portais e plataformas digitais. 
A realidade e a perspectiva sociológica
A defi nição da realidade e as interações estabelecidas dependem, para a 
sociologia, das leituras possíveis para cada indivíduo. Essas possibilidades 
seriam delimitadas pelas técnicas e comportamentos defi nidos e adquiridos 
pelo convívio com o grupo social de origem. Veja, por exemplo, a pesquisa 
sociológica sobre a memória realizada por Silva (2005). Ao se inserirem 
numa sociedade que preza mais os valores de troca do que os valores de uso 
dos objetos, os sujeitos da pesquisa perderam o objetivo principal da feitura 
de cerâmica e, com ele, a matéria-prima das lembranças. Não estavam mais 
no lugar onde nasceram e, se a sociabilidade se ancorava nas relações de 
reconhecimento e pertencimento, desejar os mesmos utensílios utilizados pela 
comunidade local era uma forma de não fi car à margem.
As origens da sociologia6
Além disso, o espaço do assentamento já não era o mesmo do passado; 
não havia homogeneidade na origem dos moradores. Eles vinham do Vale 
do Jequitinhonha, em Minas Gerais, do interior de estados do Nordeste, 
especialmente Bahia, Pernambuco e Alagoas, e de estados do Centro-Oeste 
e do Sul do País, como Mato Grosso do Sul e Paraná. Essa gama de origens 
diferentes fomentava conflitos e grupos rivais se punham em atrito devido 
ao “desconhecimento prévio”. Assim, Silva (2005) observou dois desafios 
metodológicos.
O primeiro desafio era fazer com que os depoentes compartilhassem o 
mesmo objetivo da pesquisa: o resgate da memória. Aqui está o ponto-chave 
que torna essa pesquisa tão interessante. A socióloga despiu-se dos conceitos 
amplamente difundidos sobre o distanciamento demandado do pesquisador e 
adotou uma metodologia que aproximava pesquisador e pesquisado por meio do 
diálogo. A situação que inicialmente causou estranhamento e desconfiança por 
parte dos sujeitos da pesquisa, especialmente dos líderes políticos (que tendiam 
a generalizar as falas e, com isso, elevavam o risco de enviesar a pesquisa), 
mostrou-se eficiente quando a autora seguiu um conceito de W. Mills que ela 
mesma cita em seu texto: a imaginação sociológica tornou-se sua guia. Tomando 
o diálogo como fonte de troca e saberes, Silva (2005) ministrou uma palestra 
aos alunos do curso noturno do assentamento. Ela falou sobre a memória e a 
sua importância para o processo de reconstrução da identidade e mesmo para a 
constituição dos alunos como sujeitos históricos de uma nova história.
Já o segundo desafio girava em torno do caráter teórico-metodológico da 
pesquisa. Como interpretar narrativasorais, interpretar silêncios, identificar 
esquecimentos ou resistências? Como transformar falas em dados a serem 
analisados, constituintes de uma trajetória? Como afirma Benjamin (1994):
A alma, o olho e a mão estão assim inscritos no mesmo campo. Interagindo, 
eles definem uma prática. Essa prática deixou de nos ser familiar. O papel da 
mão no trabalho produtivo tornou-se mais modesto e o lugar que ela ocupava 
durante a narração está agora vazio. (Pois a narração, em seu aspecto sensível, 
não é de modo algum o produto exclusivo da voz. Na verdadeira narração, a 
mão intervém decisivamente com seus gestos apreendidos na experiência do 
trabalho, que sustentam de cem maneiras o fluxo do que é dito.)
A interpretação é de que a relação entre pesquisado e pesquisador é artesanal, 
é feita pelo trabalho das mãos. Inseridos num meio em que o objetivo era a pro-
dução dos objetos, os depoentes talvez se expressassem mais espontaneamente. 
Se a ideia inicial da oficina de cerâmicas em argila se mostrou infrutífera, o 
7As origens da sociologia
mesmo não aconteceu com a oficina de fuxicos (pequenos círculos de tecido 
franzido nas bordas por meio de um alinhavado simples que se assemelham a 
pequenas flores e são matéria-prima para colchas, tapetes, toalhas e almofadas 
artesanais, entre outros produtos). Nessa oficina, aprendendo uma arte nova, ou 
relembrando os ensinamentos das mães e avós, as mulheres do assentamento 
viram-se num ambiente em que as memórias puderam emergir por meio das 
canções entoadas na execução do trabalho, que as lembravam de sua terra de 
origem, suas famílias, suas tradições.
O estudo da história de uma vida não é a finalidade da sociologia. Ele leva à 
construção da noção de trajetória como uma série de posições sucessivamente 
ocupadas por um mesmo agente (ou um mesmo grupo) em um espaço de devir 
e submetido a transformações incessantes. Os acontecimentos biográficos 
definem-se antes como “alocações” e como “deslocamentos” no espaço social, 
isto é, nos diferentes estados sucessivos da estrutura da distribuição dos diferentes 
tipos de capital que estão em jogo no campo considerado.
Assim, diferente das biografias comuns, a trajetória descreve a série de 
posições sucessivamente ocupadas pelo mesmo indivíduo em estados sucessivos 
do campo social. É apenas nas estruturas de um campo que se define o sentido 
dessas posições sucessivas: as atitudes, o trabalho e tudo aquilo que torna o campo 
interessante o suficiente para ser objeto de uma pesquisa. A coerência teórica 
dessa metodologia se dá pelo fato de que o tempo do devir social dos indivíduos 
e dos grupos já está estruturado por normas, definições sociais, representações 
ou oportunidades típicas socialmente condicionadas de desenvolvimento ou de 
orientação biográfica.
Apesar de muito elucidativas, é preciso estar atento ao fato de que as biogra-
fias, autobiografias e histórias de vida não revelam toda a vida de um indivíduo, 
mas apenas uma versão selecionada de como ele deseja se apresentar. Natural-
mente, esse não é um processo descartável, já que também é importante conhecer 
e verificar as interpretações que as pessoas fazem de sua própria experiência 
para explicar parte do comportamento social.
Uma das maiores dificuldades das ciências humanas ao se estabelecerem 
como disciplinas foi a criação e a adequação de ferramentas metodológicas 
para tratar de seus objetos de pesquisa. A ideia era que, ao mesmo tempo em 
que normatizassem a produção científica e acadêmica, as ferramentas também 
legitimassem tais disciplinas, mostrando normatização e controle da pesquisa. 
Havia grande dificuldade em mostrar que, embora afastadas das ciências na-
turais, necessitando de abordagens diferentes, as ciências cujos objetos eram 
os homens e seus pensamentos, suas construções e interações sociais, podiam 
As origens da sociologia8
ser confiáveis; a volatilidade do objeto consistia mais em uma oportunidade do 
que em um problema. Foi preciso construir modelos de certa forma rígidos, que 
conferissem legitimidade às pesquisas das novas disciplinas que se formavam — 
por muitas vezes, a quebra desses modelos mostrava certos vieses nas pesquisas.
Depois da criação da sociologia como disciplina, ocorreu o processo de 
distinção entre ela e as demais ciências, a partir da formulação de metodologias 
próprias ainda no século XIX. A interdisciplinaridade é retomada a partir de 
fins do século XX, tornando as análises mais ricas e aprofundadas. Mas qual 
é a trajetória da sociologia como disciplina? De acordo com Candido (2006), 
pode-se dividir o processo de constituição da sociologia brasileira como ciência 
em dois períodos.
No primeiro, entre 1880 e 1930, a sociologia seria “[...] praticada por intelec-
tuais não especializados, interessados principalmente em formular princípios 
teóricos ou interpretar de modo global a sociedade brasileira” (CANDIDO, 
2006, documento on-line). Nesse período, não haveria ensino nem pesquisa 
empírica acerca de aspectos delimitados da realidade contemporânea. O 
segundo período se construiria após a década de 1940, e nesses 10 anos entre 
uma fase e outra é que a sociologia se incorpora ao ensino superior e passa 
a ser tratada como instrumento de análise social. Nessa fase, surgem os pri-
meiros sociólogos de formação brasileira, que fomentam o segundo período 
da sociologia no País.
Ainda segundo Candido (2006), a sociologia como campo científico sofre 
duas influências tão decisivas que a marcam permanentemente: a do direito e a 
do evolucionismo. No século XIX, o esforço de compreender o Estado, o universo 
econômico e as estruturas políticas do País foi, essencialmente, do jurista, que 
o autor determina como “[...] o intérprete por excelência da sociedade, que o 
requeria a cada passo e sobre a qual estendeu o seu prestígio e maneira de ver 
as coisas” (CANDIDO, 2006, p. 273). Contudo,
[...] como as teorias dominantes na segunda metade do século se achavam 
marcadas pelo surto científico de então, notadamente a Biologia, que saiu dos 
laboratórios para se divulgar de maneira triunfante, os juristas mergulharam 
na fraseologia científica e se aproximaram, neste terreno, dos seus pares 
menos aquinhoados, médicos e engenheiros, que com eles formavam a tríade 
dominante da inteligência brasileira. Vemos então, na Sociologia, os juristas 
inaugurarem uma orientação cientificista, como se dizia, que contou desde 
logo com a cooperação de engenheiros e sobretudo médicos. A sociologia 
brasileira formou-se, portanto, sob a égide do evolucionismo e recebeu dele 
as preocupações e orientações fundamentais, que ainda hoje marcam vários 
dos seus aspectos (CANDIDO, 2006, p. 273).
9As origens da sociologia
De fato, os pensadores mais influentes do período, como Sílvio Romero e 
Fernando de Azevedo, tiveram e assumiram influência darwinista e jurista. 
Azevedo, um dos fundadores da disciplina no Brasil, foi influenciado por um 
caldo de cultura científica — que ia dos juristas aos filósofos, passando pelos 
defensores da biologia. No texto A Ciência da Humanidade: Sociologia... 
Seu lugar entre a ciência, seu método, pode-se perceber em Sílvio Romero a 
influência evolucionista, a partir da óptica jurista de análise social. 
O direito constitui-se de fatos observáveis: as leis. Mas as leis existem 
para regimentar uma sociedade, um corpo social que age, vive e discute; que, 
portanto, está em constante movimento. Num Estado, cidadãos estão sob suas 
leis, mas as leis não são as mesmas em países diferentes, nem se apresentam 
a todos os cidadãos da mesma maneira. A ciência jurídica, portanto, pode 
ser subdividida em vários ramos, que entram numa mesma variável geral: 
a sociologia. Mas a sociologia é uma ciência? Esse questionamento sobre a 
legitimidade da sociologia como ciência é para onde o olhar de Romero (2001) 
se direciona, criticando os opositores da “ciência da sociedade”. 
O maior crítico da sociologia brasileira é o poeta e jurista Tobias Barreto. 
A críticado jurista sergipano estaria especialmente desenvolvida em “estudos 
alemães” e é apresentada no ensaio Variações antissociológicas. Seus argu-
mentos contrários à “ciência da sociedade” eram os seguintes:
  o estudo dos fenômenos sociais culminaria numa “pantosofia” (uma 
ciência do “tudo”), que não é compatível com o espírito humano;
  culminaria também em sociolatria, ou seja, a exaltação da grandeza 
humana, algo que para Barreto era inconciliável com uma ciência social;
  a liberdade invalidaria a sociologia: “Enquanto não se provar que a 
vontade humana é uma força natural [...] como o calor e a eletricidade, 
a sociologia nada vale” (BARRETO, 1962, p. 42);
  se a sociologia trata da sociedade, então seu objeto seria uma abstração 
sem objetivo e haveria tantas sociologias quanto existem grupos sociais;
  homem, família e Estado não poderiam ter explicações e mecanismos, 
como existem nos objetos das ciências naturais;
  a sociologia derivaria da ideia errada de que a sociedade é um indivíduo 
diferente do Estado, assim sociologia e ciência política seriam ciências 
diferentes;
  para Barreto (1962), a mania da “lei”, que regularia normas e épocas, 
exposta com a estatística como prova para o fenômeno social, não 
provaria nada;
As origens da sociologia10
 o emparelhamento da sociologia com as ciências naturais não fun-
cionaria, pois não há uma ciência da natureza parecida com o que a
sociologia procurava ser em relação à sociedade.
Segundo Romero (2001, p. 54), “[...] não há dúvida de que o jurista de 
Estudos de Direito tem em grande parte razão. Mas não se deve concluir do 
abuso para a condenação geral da coisa. Porque alguns fantasistas andam por aí 
a inventar engraçadas e insustentáveis leis sociológicas”. O trabalho do pesqui-
sador está em constante construção e transformação. O objeto demanda sempre 
uma forma de olhar única, particular. Assim, transportar métodos de análises 
conhecidos, eficazes anteriormente, nem sempre mostra-se eficiente. Mas o 
trabalho dos sociólogos que se seguiram à delimitação do campo científico 
mostra que, muito mais do que encaixar um objeto num tipo de abordagem 
ou análise preexistente, é ofício do pesquisador procurar, desbravar, produzir 
novos meios de se chegar ao seu tema, ao seu objeto.
Ciências naturais e sociologia: o trabalho de 
Spencer na legitimação do campo sociológico
É interessante você observar que os pensadores da sociologia empreenderam 
uma luta árdua para desenvolver metodologias próprias, e a ciência política 
trava hoje a mesma batalha. Defi nida por alguns autores apenas como um 
desdobramento ou uma ramifi cação da sociologia, já que seu foco é uma parte 
importante da estrutura de qualquer sociedade (o Estado e as relações sociais 
que advêm dele), a ciência política busca ainda hoje estabelecer metodologias 
particulares, que a legitimem como ciência diversa da sociologia. Nesse cami-
nho, muitos criticam seus pensadores por utilizarem métodos quantitativos e 
estatísticos em demasia, como numa clara oposição às experiências qualitativas 
11As origens da sociologia
mais utilizadas pela sociologia contemporânea, transformando-a, talvez, 
numa ciência “dura”.
Mas, se para se opor à sociologia é preciso adotar metodologias quantita-
tivas, isso não poderia classificar a ciência política quase como uma ciência 
matemática? É possível relacionar o modo como a ciência política trabalha 
hoje para se diferenciar da sociologia com o modo como a sociologia trabalhou 
para se diferenciar das ciências naturais no século XIX. Naquele período, a 
classificação das ciências se dava em função de uma suposta complexidade, 
como no modelo a seguir:
1. matemática
2. astronomia
3. física
4. biologia
5. sociologia
Aqui, a sociologia já se encaixava no plano das ciências, mas no menor 
grau de complexidade. Para Spencer, o quadro não se definia em ordem de 
importância, mas da seguinte maneira:
1. ciências abstratas
2. ciências abstrato-concretas
3. ciências concretas
Ou seja, para Spencer, haveria particularidades em cada ciência prove-
nientes da natureza de seus objetos, mas o rigor metodológico asseguraria a 
sua classificação como ciência. Por isso, não poderia haver ciência mais ou 
menos complexa, mais ou menos importante, ainda que houvesse diferenças 
ocasionadas pelos objetos de estudo. O evolucionismo moderno quebrou 
essas barreiras, como mostra Spencer na sua delimitação dos processos do 
método de pesquisa:
1. observação
2. observação artificial
3. experimentação
As origens da sociologia12
4. comparação
5. classificação
6. indução
7. dedução
O autor definiu e categorizou passos e assegurou que não haveria outros, 
nem ciência que não precisasse deles. E a sociologia não fugiria à regra. 
Spencer relata que, como cientista e sociólogo, seu objeto foi o próprio ato 
de observar e desenvolver o método da sociologia. A partir de comparações 
com temas e objetos da física, da biologia, da astronomia, da anatomia e da 
química, ele chegou à conclusão que buscava: o método da sociologia é o 
mesmo de todas as outras ciências.
Como você viu, a sociologia surgiu como uma “resposta científica” às 
questões sociais que emergiram no século XIX, especialmente com o desenrolar 
da Revolução Industrial. A sociedade em crise, desorganizada e em situação 
de caos, levou pensadores a trabalharem numa resposta, numa saída para os 
problemas sociais como a fome, a violência e o desemprego. 
Comte e Durkheim trabalharam para que a ciência pudesse dar respostas e 
direções para o restabelecimento da ordem. Já Marx viu no caos a expressão 
de que as sociedades estavam inevitavelmente se transformando, e o desper-
tar das classes trabalhadoras levaria o processo em direção ao comunismo 
mais objetivo. Mas todos os teóricos se fundamentaram nos diálogos com os 
parâmetros empíricos das ciências naturais para a definição das práticas de 
análise dos fenômenos sociais, pavimentando o caminho para os chamados 
“sociólogos profissionais” do século XX.
13As origens da sociologia
BARRETO, T. Estudos de sociologia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Livro-Ministério 
da Educação e Cultura, 1962.
BENJAMIN, W. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: BENJAMIN, 
W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São 
Paulo: Brasiliense, 1994.
CANDIDO, A. A sociologia no Brasil. Tempo Social, v. 18, n. 1, jun. 2006. Dispo-
nível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
-20702006000100015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 3 dez. 2018.
ROMERO, S. Ensaio de filosofia do direito. São Paulo: Landy, 2001.
SILVA, M. A. P. M. Das mãos à memória. In: MARTINS, J. S; ECKERT, C; NOVAES, S. C; (Org.). 
O imaginário e o poético nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 2005.
Leituras recomendadas
AZEVEDO, F. Princípios de sociologia: pequena introdução ao estudo da sociologia geral. 
7. ed. rev. e amp. São Paulo: Melhoramentos, 1958.
CANAL FUTURA. Geração Z Com Dado Schneider | Entrevista. Youtube, jul. 2017. Dis-
ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Y-FVrsdpYj4&feature=youtu.be>. 
Acesso em: 3 dez. 2018.
SOARES, G. A. D. O calcanhar metodológico da ciência política no Brasil. Sociologia, n. 
48, p. 27-52, maio, 2005. 
SOCIOLOGIA é a ciência que estuda os chamados fatos sociais. G1, 2016. Disponível em: 
<http://g1.globo.com/educacao/enem/2016/videos/t/todos-os-videos/v/sociologia-e-
-a-ciencia-que-estuda-os-chamados-fatos-sociais/2891781/>. Acesso em: 3 dez. 2018.
SVITRAS, C. História da sociologia: a origem. 2018. Disponível em: <http://sociologia-
cienciaevida.com.br/historia-da-sociologia-a-origem/>. Acesso em: 3 dez. 2018.
As origens da sociologia14
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