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Antropologia Social

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ANTROPOLOGIA 
SOCIAL 
Gabriela Felten da Maia 
O relativismo cultural
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Analisar a emergência do relativismo cultural no tensionamento dessa 
corrente com o etnocentrismo.
 � Listar as ferramentas metodológicas que permitiram praticar o rela-
tivismo cultural.
 � Descrever a noção de cultura proposta por Franz Boas, expoente do 
relativismo cultural.
Introdução
O relativismo é uma corrente que se contrapõe ao etnocentrismo a partir 
da compreensão dos comportamentos, pensamentos e sentimentos do 
outro conforme sua cultura. Trata-se de um procedimento antropológico 
por excelência, porque tenta demonstrar que toda cultura opera como 
uma lente que condiciona a visão de mundo dos indivíduos no contexto 
da cultura em que estão inseridos. Esse processo possibilita que se entenda 
que cada cultura é singular e diferente.
Neste capítulo, você estudará o relativismo cultural, uma perspec-
tiva fundamental para compreender as diferenças e a diversidade; as 
ferramentas metodológicas para praticá-la, a partir da antropologia; 
bem como a noção de cultura por Franz Boas, um importante expoente 
dessa discussão.
Descentramento do olhar
A curiosidade do ser humano sobre si mesmo sempre acompanhou a história, 
mas recentemente se tem uma consciência da alteridade que marca o surgi-
mento de um campo do saber sobre a diferença. A compreensão da diferença 
como diversidade, não hierarquia, somente será possível diante do processo 
de estranhamento e reflexividade que a acompanha (LAPLANTINE, 2003).
Uma atitude reflexiva proporciona um descentramento do olhar para que se 
entenda a cultura do outro a partir da lógica interna da cultura a ser analisada, 
porém, no olhar do outro, encontra-se o ponto de partida. De acordo com 
Laplantine (2003), o estudo de sociedades inicialmente distantes instaura um 
projeto antropológico em que:
[...] a perplexidade provocada pelo encontro das culturas que são para nós as 
mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma modificação do olhar que se 
tinha sobre si mesmo. De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas 
cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa. A experiên cia da 
alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem 
teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa aten-
ção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos “evidente”. 
[...] O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente 
pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhe-
cer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única 
(LAPLANTINE, 2003, p. 21).
Nesse contexto, a diferença torna-se diversidade, havendo a possibilidade 
de se ver o mundo com espanto e curiosidade, quando se estende o olhar como 
um binóculo para observar para além das próprias lentes.
Margaret Mead foi uma importante antropóloga e pesquisadora da escola estaduni-
dense Cultura e Personalidade, bem como está inserida na discussão sobre cultura 
e relativismo, propondo que se pense em uma etapa do curso da vida a partir da 
perspectiva transcultural. Entre suas obras, está A adolescência em Samoa, publicada 
em 1928. Em homenagem à sua contribuição para a antropologia, foi realizada a 
série televisiva Strangers Abroad, exibida na década de 1990. No link a seguir, você 
pode assistir ao episódio Maioridade (Coming of ages) e conhecer um pouco de sua 
trajetória, sua pesquisa e a forma como praticou o relativismo como uma ferramenta 
para a análise cultural.
https://qrgo.page.link/3TwrX
As correntes teóricas constituídas na antropologia pós-evolucionismo 
tentaram descrever os modos de pensar e agir que consideravam a variação 
O relativismo cultural2
cultural dentro dos próprios termos, bem como marcam a ruptura com a 
centralidade da cultura do eu no pensamento europeu sobre a diferença. Já o 
efeito epistemológico é a separação dos olhares de dois sujeitos: o de etnógrafo 
(o eu) e o do nativo (o outro).
O outro torna-se um porta-voz de sua cultura, e o etnógrafo aquele que 
olha a partir de uma perspectiva de olhar distanciado, analisando as diferenças 
culturais. Portanto, os estudos realizados começam a observar o contexto 
em que vivem as sociedades analisadas como um importante fator para a 
explicação da cultura. Assim, segundo Rocha (1988, p. 62):
[...] o “outro” começa a deixar de ser um simples retrato dos momentos pri-
mitivos do “eu” e passa a ocupar um lugar mais destacado como algo que 
transforma a teoria antropológica e pode, de muitas maneiras, servir para 
dimensionar a própria sociedade do “eu”.
No início do século XX, na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos, a 
antropologia desenvolveu importantes discussões que trouxeram a relativização 
e a ruptura com o modelo evolucionista de cultura. As escolas que emergiram 
nesse contexto criticam a antropologia de gabinete, um termo utilizado para 
designar a tradição clássica do evolucionismo, pois ela não consegue mais 
pensar os dados empíricos. A ida ao campo começa a se tornar cada vez 
mais necessária, sendo uma experiência fundamental para o conhecimento 
etnográfico.
Portanto, as escolas antropológicas posteriores criticaram os métodos 
de investigação e as conclusões de teses evolucionistas, reagindo à ideia de 
sociedades escalonadas em termos hierárquicos como superiores e inferiores. 
Elas denunciavam o etnocentrismo do pensamento antropológico ao utiliza-
rem as características da sociedade europeia como critérios comparativos 
para análise do desenvolvimento cultural de sociedades. Assim, as críticas 
revisavam a ideia de um evolucionismo cultural linear e questionavam a im-
possibilidade de encontrar as leis universais do desenvolvimento cultural ou 
que seus fenômenos tenham se desenvolvido do mesmo ponto de partida. Já 
a extensão dessas comparações era considerada muito vasta, tanto geográfica 
como temporalmente, resultando em hipóteses dedutivas bastante frágeis. Essa 
metodologia era vista como arbitrária, porque escolhia os elementos culturais 
a serem isolados para análise.
Os críticos entendiam que era necessário encontrar uma compreensão 
particular e minuciosa das culturas observadas, em vez do isolamento de 
elementos. Assim, a cultura seria uma totalidade que não poderia ser desmem-
3O relativismo cultural
brada, tornando-se possível olhar a sociedade do outro como ela se manifesta 
e a partir do ponto de vista de quem participa dela. Por isso, a ideia de contexto 
é importante para as escolas ulteriores.
Especificidade da prática antropológica
As críticas à abordagem comparativa dos evolucionistas culturais levaram à 
crítica da etnologia posterior, entre os anos de 1880 e 1920, por Franz Boas 
e Bronislaw Malinowski, a partir de uma outra compreensão do estudo das 
culturas como totalidades. A etnografia torna-se um importante método para 
desenvolver tal empreendimento, um estudo sistemático das culturas, para 
realizar a compreensão da lógica própria de cada sociedade em seus contextos.
A abordagem antropológica para o estudo dos seres humanos ocorre por 
meio dos significados, pelos quais os indivíduos produzem, percebem e in-
terpretam fatos e ações, sem os quais estes não teriam sentido para a ação 
humana. Portanto, somente é possível compreender ao se comunicar com as 
pessoas a partir da convivência por algum tempo, realizando uma experiência 
de imersão que possibilite entender as estruturas de significação que mostrem 
como e porque, em uma situação específica, determinados significados e 
ações são produzidos.
O que interessa não é a interpretação e explicação dos fatos independen-
temente do contexto de expressão, mas, sim, o modo como os fatos e ações 
estão sendo interpretados pelos sujeitos, pois nunca são analisados em sua 
forma real, senão aquilo que os indivíduos transmitem, os sentidos produzidos 
durante a enunciação. Segundo Geertz(1989), a cultura como um sistema de 
signos passíveis de interpretação não é:
[...] um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os aconteci-
mentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; ela é 
um contexto, algo dentro do qual eles (os símbolos) podem ser descritos de 
forma inteligível — isto é, descritos com densidade (GEERTZ, 1989, p. 20).
Isso significa que a compreensão ocorre a partir de dentro, tal como é 
percebida pelos atores sociais, e consiste em uma abordagem microssocioló-
gica que se atenta ao cotidiano, às práticas dos atores, aos gestos, aos hábitos 
alimentares, à higiene, às expressões corporais, etc. Trata-se de uma abordagem 
que possui um modo particular de olhar, apresentando o que não é familiar 
com curiosidade (LAPLANTINE, 2003). Esse movimento do encontro com 
O relativismo cultural4
o exótico, estranho ou diferente perpassa a ideia de uma distância que pode 
ser geográfica ou no limite da própria pele (GEERTZ, 2001).
Em um movimento, o encontro foi com sociedades ou grupos que estavam em 
outros lugares, longes do mundo social do antropólogo, e envolvia um processo 
de saída de sua sociedade, a ida a uma região distante geograficamente (outros 
países, em geral, colonizados pelo país de origem do antropólogo) e seu retorno.
O olhar distanciado
A seguir, veja o exemplo que Malinowski (1978, p. 19) trouxe em sua obra Argonautas 
do Pacífico Ocidental.
Imagine o leitor sozinho, rodeado apenas de seu equipamento, numa praia 
tropical próximo a uma aldeia nativa, vendo a lancha ou o barco que o 
trouxe afastar-se no mar até desaparecer de vista. Tendo encontrado um 
lugar para morar no alojamento de algum homem branco — negociante 
ou missionário — você nada tem para fazer a não ser iniciar imediata-
mente seu trabalho etnográfico. Suponhamos, além disso, que você seja 
apenas um principiante, sem nenhuma experiência, sem roteiro e sem 
ninguém que o possa auxiliar — pois o homem branco está tempora-
riamente ausente, ou, então, não se dispõe a perder tempo com você. 
Isso descreve exatamente minha iniciação na pesquisa de campo, no 
litoral Sul da Nova Guiné. Lembro-me bem das longas visitas que fiz 
às aldeias durante as primeiras semanas; do sentimento de desespero e 
desalento após inúmeras tentativas obstinadas mas inúteis para tentar 
estabelecer contato real com os nativos e deles conseguir material para 
a minha pesquisa. Passei por fases de grande desânimo, quando então 
me entregava à leitura de um romance qualquer, exatamente como um 
homem que, numa crise de depressão e tédio tropical, se entrega à bebida.
O relato do exemplo anterior está presente no livro Os Argonautas do Pa-
cífico Ocidental e demonstra o trabalho do etnógrafo em localidades distantes 
do contexto da pessoa branca. Tratava-se de um momento de institucionali-
zação da disciplina e afastamento dos modelos explicativos do evolucionismo 
cultural. Por isso, a distinção entre eu-outro resulta também de uma distância 
que possibilitará a criação de um contexto, uma totalidade que faz pensar em 
uma cultura e suas especificidades. Esse processo permite que o exótico se 
torne inteligível às sociedades ocidentais.
5O relativismo cultural
O descentramento radical dessa perspectiva implicava uma ruptura com o 
etnocentrismo, e esse processo tornou-se basilar para o desenvolvimento de um 
olhar para o outro que possibilita olhar para o mundo com mais curiosidade. 
Segundo Laplantine (2003, p. 160), “essa experiência de arrancamento de si 
próprio age, na realidade, como um verdadeiro revelador de si”, portanto, ao 
olhar para outra cultura, também é possível olhar para a própria cultura com 
outra perspectiva.
As transformações na forma de fazer antropologia começam com Franz 
Boas, e sua concepção de cultura consolidou o trabalho de campo como central 
para a antropologia cultural estadunidense. A aproximação empírica, a obser-
vação direta de uma realidade, o domínio da língua nativa, a disposição para 
a escuta e a descrição detalhada dos aspectos culturais foram privilegiados 
a tal ponto que se considerava difícil realizar uma síntese abrangente, como 
os evolucionistas faziam. Por isso, seu enfoque recaía sobre a compreensão 
particular e minuciosa das culturas observadas.
Já Malinowski fez trabalho de campo anos depois de Boas, mas apresentou 
as bases para a antropologia moderna, porque sistematizou a realização da 
etnografia, em que havia uma convivência intensa e de longa duração com a 
sociedade estudada. Os elementos culturais não poderiam ser desmembrados 
do contexto, e sim tomados a partir do todo. Os costumes e as crenças come-
çam a ser considerados no contexto integrado, e a pesquisa empírica surge 
como uma forma de mostrar que as sociedades possuem uma organização 
que lhes é própria.
A fim de se afastarem do etnocentrismo presente no campo antropológico, 
essas perspectivas trabalharam com a ideia de incomensurabilidade existencial 
entre eu (etnógrafo) e outro (nativo). Nessa relação, a diferença é produzida a 
partir da existência de culturas dissociadas, estando ancorada na divisão entre 
Ocidente e não Ocidente, dado que eram os outros não ocidentais os objetos 
de estudo da antropologia.
Se as fronteiras físicas constituíram esse lugar da diferença, deve-se en-
tender que não é preciso realizar essa transposição para considerar o olhar 
sobre o outro como uma diferença e diversidade. Estranhar o que é familiar, 
parece banal e constitui seu cotidiano tem sido um importante ensinamento 
da antropologia, bem como possibilita observar esse familiar e o transformar 
em exótico. Assim, a viagem pode ser simplesmente lançar um olhar curioso 
ao redor para conhecer a própria cultura.
O relativismo cultural6
Na relação entre exótico e familiar, o estranhamento emerge não apenas para os 
modos de vida considerados bizarros ou esquisitos, como também para práticas 
relativamente conhecidas, com as quais se convive na mesma cidade, região ou país. 
Pensando nessa dimensão dos estudos antropológicos, a análise da sociedade do 
antropólogo Gilberto Velho (no capítulo “Observando o familiar”, do livro A aventura 
sociológica: objetividade, paixão, improviso e método na pesquisa social, de Edson de 
Oliveira Nunes) apresenta algumas de suas experiências de pesquisas em contexto 
urbano para refletir sobre como relativizar a familiaridade. É uma leitura importante 
para compreender que estar familiarizado não significa conhecer todos os pontos de 
vista, as regras e as práticas dos atores sociais.
Cultura como particularidade — a contribuição 
de Franz Boas
Franz Boas foi expoente da antropologia norte-americana e inaugurou uma 
escola de antropologia cultural que influenciou gerações posteriores em cada 
uma das áreas estudadas por ele: psicologia, linguagem, raça e história. Pre-
cursor do relativismo cultural como princípio teórico-metodológico, ele ainda 
contribuiu para a ênfase da antropologia na complexidade de cada cultura.
A série televisiva Strangers Abroad foi exibida na década de 1990 e objetivava apresentar 
alguns antropólogos importantes que influenciaram tradições e escolas. Por meio da 
reconstituição da trajetória acadêmica deles, é possível saber mais sobre suas pesquisas, 
influências e ideias. No link a seguir, você pode assistir ao episódio “As correntes da tra-
dição” (The shackles of tradition) para acompanhar a trajetória acadêmica de Franz Boas.
https://qrgo.page.link/EFPjc
7O relativismo cultural
Na definição do objetivo da pesquisa antropológica, Boas introduz a noção 
de cultura no plural, indicando que o estudo das culturas deve considerá-las 
em sua totalidade e evitando a busca por uma causa explicativa para as for-
mas culturais, uma vez que suas diversas expressões estão integradas a uma 
complexidade. Por isso, o foco precisa ser sobre o indivíduo em sua cultura e 
o entendimento da influência desta sobre ele.
Segundo Boas, o indivíduo é influenciado pelo seu ambiente social, e sua 
atividadeinfluencia a sociedade em que vive, modificando-a, o que indica que 
os fenômenos culturais estão em fluxo constante. A dinâmica do fenômeno 
cultural começou a chamar a atenção dos pesquisadores que, cada vez mais, 
se interessavam pela forma como o sujeito reage à totalidade de seu ambiente 
cultural.
A elaboração do conceito de cultura por Boas está inserida nos debates rea-
lizados em diferentes contextos regionais, políticos, sociais e epistemológicos. 
Portanto, a acepção de cultura possui influências de Kultur, relacionada ao 
contexto do romantismo alemão, e de Civilization, ligada ao contexto inglês 
e francês, bem como aos debates do Iluminismo.
Kultur trata-se de uma noção particularista e privilegia o que é específico 
de uma localidade, em que há a valorização das tradições locais e a lingua-
gem de cada povo. A história é marcada pelo h minúsculo, pois se refere à 
história local e às particularidades desse povo. Já a cultura consiste em um 
todo complexo, um contexto limitado, considerando a história local, a língua, 
os mitos, as crenças e a tradição (CUCHE, 1999).
Essa compreensão contrapõe-se a noção de Civilization, elaborada no 
contexto francês e inglês, ligada a uma visão universalista e progressista 
da História, sempre com H maiúsculo, pois está associada à ideia de evolução. 
Já a noção de cultura nesse contexto influenciou as discussões do evolucionismo 
cultural, porque é entendida como universal, na medida em que a humanidade, 
em sua totalidade, caminha para a mesma direção evolutiva para alcançar o 
estágio de civilização (CUCHE, 1999).
Considerando a cultura como uma totalidade e no plural, holista, integrada, 
com ênfase ao particularismo histórico e associada aos aspectos particulares 
de cada localidade, aos modos de fazer, falar e pensar, Boas aproxima-se da 
noção de Kultur. Cada grupo cultural é específico, singular e coerente, porque 
possui uma história própria e única que torna impossível compreender o que 
ocorreu a um grupo a partir de um esquema cultural evolutivo.
Portanto, ele propôs um método diverso à tendência geral do pensamento 
etnológico para compreender a dinâmica da mudança cultural observada no 
presente, tornando-se um ferrenho crítico do evolucionismo cultural e difu-
O relativismo cultural8
sional. Se, para alguns antropólogos, a existência de fenômenos semelhantes 
em povos de regiões diferentes era a prova da existência de leis gerais que 
governam o desenvolvimento da sociedade, ou de um caminho evolutivo — 
pressuposto do evolucionismo cultural, Boas afirmará que as investigações 
realizadas não a haviam confirmado. Ele critica a abrangência da difusão 
ao afirmar que o mesmo fenômeno etnológico pode ter sido alcançado por 
linhas diferentes de desenvolvimento e por um número infinito de pontos 
de partida.
De acordo com Franz Boas, as hipóteses de que o desenvolvimento cul-
tural ocorreria de modo uniforme, em um esquema evolutivo, em todas as 
partes ou a partir do contato realizado pelas migrações e difusão de elementos 
culturais, não poderiam ser sustentadas. Portanto, a existência de fenômenos 
similares não é uma prova incontestável da conexão histórica, nem de que a 
mente humana obedece às mesmas leis em todos os lugares. Havia também 
investigações suficientes para afirmar que fenômenos culturais semelhantes 
têm condições de produção diferenciadas.
Contudo, isso não significa que não se considerava a possibilidade de 
que a mente humana possui essas condições, muitas vezes, fenômenos simi-
lares, como o totemismo, seriam justificados porque as condições psíquicas 
da mente favorecem a existência de determinadas formas de organização. 
Nesse sentido, os seres humanos têm uma unidade psíquica da mente. Com o 
entendimento de que todos pertencem à espécie Homo sapiens, compreende-
-se que, se os fatos culturais são diversos, a mente capaz de inventá-los é 
a mesma, nem mais avançada ou lógica. É possível realizar combinações 
espontaneamente ou aceitá-los em qualquer ocasião em que são oferecidos 
em processos de difusão ou justaposição, portanto, o ser humano tem uma 
mente complexa e variada que desenvolve fenômenos semelhantes por uma 
multiplicidade de caminhos.
Portanto, deve-se esclarecer os processos que ocorrem diante de si, abs-
tendo-se de solucionar o problema da história do desenvolvimento cultural 
geral. Isso acontece devido ao seu pressuposto do particularismo histórico, 
em que cada cultura seria produzida a partir de uma combinação dos meios 
geográfico, histórico, linguístico e psicológico. Nessa linha de discussão, 
apresenta-se os objetivos como “uma tentativa de compreender os passos pelos 
quais o homem tornou-se aquilo que é biológica, psicológica e culturalmente” 
(BOAS; CASTRO, 2004, p. 88).
Para Franz Boas, as tentativas de explicar a cultura a partir de bases 
biológicas, como a relação entre raça e cultura, sempre fracassam. Do mesmo 
modo, ao tecer críticas ao determinismo geográfico e econômico, ele aponta 
9O relativismo cultural
que o ambiente geográfico pode estimular as condições culturais existen-
tes, mas não as moldar, assim como as condições econômicas têm pouca 
força criativa para inventar a cultura. Qualquer uma dessas tentativas de 
desenvolver generalizações sobre a integração cultural produzem resultados 
infrutíferos.
Boas sustentou que as ciências sociais devem analisar os fenômenos e 
ser limitadas às formas definidas, em que há como centro de investigação o 
indivíduo que vive em determinada cultura. Essa associação ocorre devido 
à necessidade de se compreender as condições ambientais que criaram e 
modificaram os elementos culturais e fatores psicológicos que atuaram na 
sua configuração e a história de seu desenvolvimento. Por isso, passou-se 
de uma compreensão de história da humanidade para a ênfase na história 
local, particular, em curto prazo e mais próxima da história oral, a qual 
valoriza costumes, crenças, mitos, tradições e língua, associada à geografia 
e psicologia.
Nesse sentido, o material dos estudos antropológicos precisa ser baseado 
em dados históricos. Para tal, ele propõe o método histórico, porque entende 
que o objetivo último da antropologia é descobrir as razões pelas quais deter-
minados costumes e crenças existem, considerando a cultura total do grupo. 
Isso deve ser aliado à geografia e psicologia, às condições ambientais que 
criaram e modificaram os elementos culturais, aos fatores psicológicos que 
atuaram na sua configuração e à história de seu desenvolvimento. Para ele:
O estudo detalhado de costume em sua relação com a cultura total da tribo 
que os pratica, em conexão com a investigação de sua distribuição geográfica 
entre tribos vizinhas, propicia-nos quase sempre um meio de determinar 
com considerável precisão as causas históricas que levaram à formação dos 
costumes em questão e os processos psicológicos que atuaram em seu desen-
volvimento (BOAS; CASTRO, 2004, p. 33–34).
Já o resultado dessa investigação pode revelar as condições ambientais 
que criaram e/ou modificaram os elementos culturais; esclarecer os fatores 
psicológicos que atuaram na configuração da cultura; ou mostrar os efeitos 
que as conexões históricas tiveram sobre o desenvolvimento dessa cultura 
(BOAS; CASTRO, 2004).
A partir dessa perspectiva antropológica, Franz Boas levantou questões 
sobre o determinismo biológico, que envolvia as discussões acerca de carac-
O relativismo cultural10
terísticas mentais associadas às raças. Ele destacou que as formas corporais 
sofrem variações conforme uma série de influências externas, como ambiente, 
tipo de ocupação e dieta, indicando que as diferenças ocorrem devido aos 
fatores sociais e ambientais, e não biológicos.
Diante dos diferentes estudos que indicavam as influências dos contextos 
social e cultural nas funções mentais, Franz Boas teceu críticas aos testes 
de inteligência e à sua limitada capacidade de afirmar sobre a capacidade 
mental como determinada biologicamente. O conhecimento antropológicodemonstrava que os indivíduos não diferem por razões biológicas, mas, sim, 
culturais. Portanto, ele defendeu que o antagonismo racial é um fenômeno 
social que tem como objetivo a aparência, e a segregação em grupos de cará-
ter racial não tinha nenhuma base científica, tratando-se de uma construção 
histórica e cultural.
Publicado na obra Antropologia Cultural (organizada por Celso Castro), “Raça e Pro-
gresso” é uma conferência de Franz Boas no encontro da American Association for the 
Advancement of Science, sendo uma importante leitura para compreender as críticas 
ao determinismo biológico e ao racismo presente naquela época, nos Estados Unidos. 
Nessa palestra, mostra-se como os aspectos considerados científicos sobre as raças 
eram falhos, iniciando com uma desconstrução da ideia de raça e a questão da mistura 
racial, a partir de estudos etnológicos e históricos de que essa mistura em outras 
regiões do planeta não apontou evidências para uma degeneração, como as teorias 
racialistas do período defendiam.
Estas importantes reflexões metodológicas introduziram na pesquisa an-
tropológica uma crítica relativista e um combate às argumentações racistas, 
sendo ainda uma importante ruptura com a centralidade da cultura do eu na 
relação com a diferença. Isso consolidou a antropologia norte-americana e 
a antropologia cultural, o que influenciou diversos alunos em uma série de 
linhas de investigação.
11O relativismo cultural
BOAS, F.; CASTRO, C. (org.). Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. 112 p.
CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 1999. 258 p.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. 213 p.
GEERTZ, C. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 248 p.
LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. 205 p.
MALINOWSKI, B. K. Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e 
da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. 2 ed. São Paulo: 
Abril Cultural, 1978. 424 p. (Os Pensadores, 55).
ROCHA, E. P. G. O que é etnocentrismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. 95 p. (Coleção 
Primeiros Passos, 124).
O relativismo cultural12

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