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MATERIAL DIDÁTICO LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................. 03 UNIDADE 2 – CRIMES HEDIONDOS E ASSEMELHADOS .................................. 04 2.1 Crimes hediondos – Lei nº 8.072/1990 .............................................................. 04 2.2 Crimes assemelhados aos hediondos ............................................................... 06 UNIDADE 3 – CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO ...................... 10 3.1 Sujeito ativo e passivo ....................................................................................... 12 3.2 Objeto jurídico ................................................................................................... 13 3.3 As infrações penais contra o consumidor .......................................................... 13 UNIDADE 4 – CRIMES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO ............................................ 21 UNIDADE 5 – CRIMES DA LEI DE TORTURA ...................................................... 25 UNIDADE 6 – CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE ......................................... 27 6.1 Tipicidade .......................................................................................................... 30 6.2 Bem jurídico protegido....................................................................................... 30 6.3 Elemento subjetivo ............................................................................................ 30 6.4 Sujeito ativo e passivo ....................................................................................... 31 6.5 Sanções penais ................................................................................................. 32 UNIDADE 7 – CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO .......................................... 35 7.1 Fases da lavagem de dinheiro .......................................................................... 36 7.2 Origem dos crimes de lavagem de dinheiro ...................................................... 39 7.3 Consequências do crime de lavagem de dinheiro ............................................. 40 7.4 Objeto material .................................................................................................. 41 7.5 Sujeito ativo e passivo ....................................................................................... 41 7.6 O tipo penal ....................................................................................................... 42 UNIDADE 8 – CRIMES DO ESTATUTO DO IDOSO .............................................. 45 UNIDADE 9 – LEI ANTIDROGAS E DESARMAMENTO ....................................... 51 9.1 Lei antidrogas .................................................................................................... 51 9.2 Lei do desarmamento ........................................................................................ 55 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 61 3 Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Assim como a Parte Especial do Código Penal, iremos tratar neste momento dos crimes hediondos e assemelhados; crimes contra as relações de consumo; crimes do Código de Trânsito; crimes da lei de tortura; crimes contra o meio ambiente; crimes de lavagem de dinheiro; crimes do Estatuto do Idoso, bem como falaremos da Lei antidrogas e desarmamento, sem, é claro, a pretensão de esgotar o assunto, tamanha sua extensão. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 4 UNIDADE 2 – CRIMES HEDIONDOS E ASSEMELHADOS 2.1 Crimes hediondos – Lei nº 8.072/1990 O Brasil adotou o critério legal, estabelecendo taxativamente quais os crimes considerados hediondos e assemelhados na Lei nº 8.072/1990, podendo definir os hediondos como aqueles crimes considerados repugnantes, bárbaros ou asquerosos. São hediondos: homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I a V); latrocínio (art. 157, § 3º, in fine); extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput e §§ 1º, 2º e 3º); estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º) – (nova redação dada pela Lei nº 12.015, de 7-8-2009); estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º) – (nova redação dada pela Lei nº 12.015, de 7-8-2009); epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º); falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e §§ 1º, 1º-A e 1º-B, com a redação dada pela Lei nº 9.677, de 2-7-1998); crime de genocídio previsto nos arts. 1º a 3º da Lei nº 2.889, de 1º-1O-1956, “tentado ou consumado”. Para a concepção de crime hediondo, há três sistemas básicos. São eles: a) sistema legal – cabe a lei definir quais são os crimes considerados hediondos; Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 5 b) sistema judicial – cabe ao juiz, de acordo com o caso concreto, estabelecer os delitos que serão considerados hediondos; c) sistema misto – como o próprio nome sugere, neste sistema, a lei define os crimes hediondos, facultando ao juiz diante do caso em concreto, estabelecer outros delitos (SANTOS FILHO, 2012). De forma bem clara, na legislação brasileira, o caráter hediondo de um crime depende da previsão na lei nº 8072/90. Assim, o rol não pode ser ampliado pelo juiz, que não poderá este conferir a hediondez a um crime que não conste no elenco. Tais delitos não constavam do elenco original dos crimes hediondos. O homicídio simples somente é considerado delito hediondo, quando praticado em atividadetípica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só autor. Da leitura que se faz do artigo 121 do Código Penal, percebe-se que não existe a qualificadora “atividade típica de grupo de extermínio”. Na prática, o homicídio praticado em atividade de grupo de extermínio nada mais é do que um homicídio qualificado. Para a maioria da doutrina, o homicídio privilegiado-qualificado não é crime hediondo. Assim já se posicionou a jurisprudência: STJ - HC 36317 / RJ - PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 121, §§ 1º E 2º, INCISOS III E IV, DO CÓDIGO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. CRIME HEDIONDO. Por incompatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o homicídio qualificado-privilegiado não integra o rol dos denominados crimes hediondos (Precedentes). Writ concedido. STJ - HC 41579 / SP - HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO- PRIVILEGIADO. TENTATIVA. CRIME NÃO ELENCADO COMO HEDIONDO. REGIME PRISIONAL. ADEQUAÇÃO. POSSIBILIDADE DE PROGRESSÃO. 1. O homicídio qualificado-privilegiado não figura no rol dos crimes hediondos. Precedentes do STJ. 2. Afastada a incidência da Lei nº 8.072/90, o regime prisional deve ser fixado nos termos do disposto no art. 33, § 3º, c.c. o art. 59, ambos do Código Penal. 3. In casu, a pena aplicada ao réu foi de seis anos, dois meses e vinte dias de reclusão, e as instâncias ordinárias consideraram as circunstâncias judicias Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 6 favoráveis ao réu. Logo, deve ser estabelecido o regime prisional intermediário, consoante dispõe a alínea b, do § 2º, do art. 33 do Código Penal. 4. Ordem concedida para, afastada a hediondez do crime em tela, fixar o regime inicial semiaberto para o cumprimento da pena infligida ao ora Paciente, garantindo-se-lhe a progressão, nas condições estabelecidas em lei, a serem oportunamente aferidas pelo Juízo das Execuções Penais. STJ - HC 43043 / MG - HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO. PROGRESSÃO DE REGIME. POSSIBILIDADE. 1. O homicídio qualificado-privilegiado não é crime hediondo, não se lhe aplicando norma que estabelece o regime fechado para o integral cumprimento da pena privativa de liberdade (Lei nº 8.072/90, artigos 1º e 2º, parágrafo 1º). 2. Ordem concedida. 2.2 Crimes assemelhados aos hediondos São três os crimes considerados assemelhados a hediondos: - tortura (Lei nº 9.455/1997); - terrorismo (art. 20 da Lei nº 7.170/1983); - tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (Lei nº 11.343/ 2006). Vale guardar... O crime de Tortura (Lei nº 9.455/1997) é o 1º crime do rol de assemelhados: - Art. 1º, inciso I: - Sujeito ativo – qualquer pessoa: crime comum; tratando-se de agente público (§ 4º, inciso I) a pena é aumentada de um sexto a um terço. - Sujeito passivo – crime cometido contra gestante, criança, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 anos. - A pena é aumentada de um sexto a um terço. O art. 4º da Lei nº 9.455/1997 revogou expressamente o art. 233 do ECA. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 7 - Ação típica neste tipo de crime consiste num constrangimento praticado mediante: violência ou grave ameaça. - Tem como finalidades (sempre visando uma ou mais das três) – obter declaração ou confissão da vítima; provocar ação ou omissão de natureza criminosa; em razão de discriminação racial ou religiosa. - Para que seja consumado exige-se um sofrimento físico ou mental. - Os crimes hediondos e assemelhados são insuscetíveis de fiança e liberdade provisória. Essa disposição não é inconstitucional, segundo entendimento do STJ e Tribunal de Justiça de São Paulo. Súmula nº 697 do STF: “A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes hediondos não veda o relaxamento de prisão processual por excesso de prazo”. - A pena aplicada em razão da prática de crimes hediondos e assemelhados, será cumprida integralmente em regime fechado, vedando-se qualquer espécie de progressão. Essa previsão não é inconstitucional, segundo vários entendimentos do STF e do STJ. Porém, em recente decisão, por seis votos a cinco, o Plenário do STF reconheceu a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/1990 que proibia a progressão de regime de cumprimento de pena nos crimes hediondos e assemelhados. A questão foi decidida no HC nº 82.959/SP, condenando o réu a 12 anos e 3 meses de reclusão pelo crime de atentado violento ao pudor (que não existe mais atualmente, pois foi revogado pela Lei nº 12.015, de 7-8-2009). Assim, o STF afastou a proibição da progressão do regime de cumprimento da pena aos réus condenados pela prática de crimes hediondos e assemelhados. Caberá ao juiz da execução penal, segundo o Plenário, analisar os pedidos de progressão, considerando o comportamento de cada apenado – o que caracteriza a individualização da pena. Entretanto, a decisão se deu no controle difuso de constitucionalidade, sendo certo que a decisão do STF terá de ser comunicada ao Senado para que o parlamento providencie a suspensão da eficácia do dispositivo declarado inconstitucional. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 8 O Plenário ressaltou, ainda, que a declaração de inconstitucionalidade não gerará consequências jurídicas com relação a penas já extintas. No entanto, a súmula perdeu a razão de ser com a declaração de inconstitucionalidade da vedação à progressão de regime prevista na lei dos Crimes Hediondos e a consequente alteração realizada pela Lei nº 11.464 de 2007, que traz o regime de progressão para os crimes hediondos (NEVES; LOYOLA, 2011). - Não é possível a concessão de sursis aos crimes hediondos e assemelhados. - É controvertida na doutrina e na jurisprudência a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade imposta em crime hediondo ou assemelhado por pena restritiva de direitos. - O recurso de apelação, nos crimes hediondos e assemelhados, tem como pressuposto de admissibilidade o recolhimento do réu à prisão. Somente em caráter excepcional e, motivadamente, pode o juiz autorizar o contrário. O STF já decidiu que essa proibição não afronta a presunção de inocência consagrada na Constituição Federal. Súmula nº 9 do STJ: “A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência”. Há decisões recentes do STF admitindo o apelo em liberdade, em razão do princípio da presunção de inocência (HC 85.417/RS, HC 91.232/PE). - A duração da prisão temporária, nos crimes hediondos e assemelhados, é de 30 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 30 dias e somente em casos de extrema e comprovada necessidade (Lei nº 11.464/2007). - Os condenados por crimes hediondos e assemelhados deverão cumprir pena em estabelecimentos penais de segurança máxima. - O livramento condicional, para os crimes hediondos e assemelhados, somente poderá ser concedido ante o preenchimento dos requisitos genéricos do art. 83 do CP, além de dois requisitos específicos, impostos pela Lei nº 8.072/1990: a) cumprimento de mais de dois terços da pena, em regime fechado; Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 9 b) ausênciade reincidência específica por parte do apenado. - Temos, no ordenamento jurídico brasileiro, três espécies de quadrilha ou bando (art. 8º): a) quadrilha ou bando genérica, previsto no art. 288 do CP; b) quadrilha ou bando específica para a prática de crimes hediondos ou assemelhados, previsto no art. 8º da Lei nº 8.072/1990; c) quadrilha ou bando específica para a prática de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins no art. 35 da Lei nº 11.343/2006. - A Lei nº 8.072/1990 prevê, ainda, a delação premiada para o crime de bando ou quadrilha envolvendo crimes hediondos ou assemelhados: essa causa de redução de pena somente se aplica ao crime de quadrilha ou bando para a prática de crimes hediondos e assemelhados, ou seja, o disposto no referido parágrafo único aplica-se somente ao caput do art. 8º e não ao tipo penal básico do art. 288 do CP. - O art. 9º da Lei nº 8.072/1990 previa a incidência de causas especiais de aumento de pena, previstas no art. 224 do CP, no entanto este foi recentemente revogado pelo art. 7º da Lei 12.015/2009. - O art. 10 da lei 6.368/1976 dispunha acerca da determinação da contagem em dobro dos prazos procedimentais nos casos dos crimes previstos nos arts. 12 a 14 dessa lei, no entanto, esta foi revogada expressamente pela Lei 11.343/2006, sendo que processar-se-á nos seguintes termos, Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 10 UNIDADE 3 – CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO Os crimes contra as relações de consumo estão previstos na Lei nº 8.078, de 11-9-1990 (Código de Defesa do Consumidor), e, ainda, na Lei nº 8.137, de 27- 12-1990, que define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências. Igualmente como ocorre nos crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), o Código de Defesa do Consumidor instituiu uma série de normas que visam à proteção efetiva do consumidor. A tutela no âmbito penal das relações de consumo está exposta nos artigos 61 a 80 do CDC, surgindo com o intuito de assegurar a efetividade das normas inseridas, procurando proteger o consumidor de atos lesivos não ao seu patrimônio, mas de bens que integram sua personalidade jurídica, como a vida, a saúde e a segurança. O artigo 61 enuncia que: Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes (ANGHER, 2007). Referido dispositivo dita que constituem-se crimes contra as relações de consumo, os descritos nos art. 63 a 74, do CDC, e mais aqueles descritos no Código Penal e leis especiais. Ou seja, para sua efetividade, dispôs o legislador, como forma de proteção do bem jurídico e prevenção, sobre delitos contra as relações de consumo. Na função preventiva, significa que o direito penal do consumidor não corre atrás do dano, mas a ele se antecipa. Para efeitos legais, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final (art. 2º). Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Relações de Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 11 consumo são as que se estabelecem entre fornecedor e consumidor, tendo por objeto os produtos e serviços. Os §§ 1º e 2º do art. 3º da Lei conceituam produto e serviço. Hoje, de acordo com a Lei nº 12.291/2010, é obrigatória a manutenção de exemplar do Código de Defesa do Consumidor nos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços. No CDC, os crimes contra as relações de consumo estão elencados no art. 63 e seguintes, in verbis: Art. 63 – omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade: pena – detenção de seis meses a dois anos e multa. §1º Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado. §2º Se o crime é culposo: pena – detenção de um a seis meses ou multa. O Código de Defesa do Consumidor possui uma estrutura bem definida e harmônica, tanto que no artigo 9º do mesmo Código, este exige dos fornecedores de produtos e serviços a obrigação de informar nos rótulos e mensagens publicitárias, de maneira clara, os aspectos de nocividade e periculosidade do produto ou serviço que podem colocar em risco a saúde ou segurança do consumidor. Tudo isso está intimamente ligado também aos direitos básicos do consumidor, que estão elencados no primeiro inciso do artigo 6º. ELIANA PASSARELLI (2002, p. 54) revela que doutrinariamente sua classificação é a seguinte: comum (quanto a legislação); próprio (quanto ao sujeito ativo); de perigo abstrato (quanto a lesão do bem jurídico tutelado); de mera conduta (quanto ao resultado); omissivo próprio (quanto a ação); principal (quanto a exigibilidade de consumação de outro crime); Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 12 unissubsistente (quanto ao fracionamento do iter criminis); unissubjetivo (quanto ao número de sujeitos ativos); doloso ou culposo (quanto ao elemento subjetivo); de ação única (quanto ao núcleo do tipo); de ação penal pública incondicionada (quanto à ação penal); e, instantâneo (quanto à duração). Quanto ao objeto jurídico são os direitos do consumidor de proteção a vida, saúde e segurança, contra os riscos que os produtos e serviços nocivos e perigosos possam causar, bem como o direito a informação clara e inequívoca sobre os riscos do produto e ou serviços. O sujeito ativo é qualquer fornecedor que tenha o dever de informar e que se omitiu dessa obrigação. O sujeito passivo é a coletividade e o consumidor difusamente considerado. Em relação à pena, no caso de crime doloso, observa-se a cumulatividade. Além da pena privativa de liberdade, deverá o magistrado impor o cumprimento de sanção pecuniária (AFONSO, 2004), visto abaixo em maiores detalhes. 3.1 Sujeito ativo e passivo Nos delitos contra a relação de consumo, o sujeito ativo é a pessoa física vinculada ao art. 3º do CDC, ou seja, relacionada ao termo fornecedor. Fornecedor, segundo o disposto nesse art. 3º, é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviço. Em matéria penal, entretanto, esse Código não previu a responsabilidade das pessoas jurídicas. Quanto ao sujeito passivo primário, temos na coletividade o principal. Note- se que o sujeito passivo nos crimes comuns é normalmente determinado, como é determinada a pessoa no homicídio (art. 121 do CP). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.brou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 13 Nos crimes contra as relações de consumo não existe um sujeito passivo certo, ou seja, preciso e individualizado, já que se trata de interesse coletivo ou difuso. Dilui-se a lesão entre um número indeterminado de cidadãos. Como sujeito passivo secundário temos, por exemplo, uma determinada pessoa física atingida, ou seja, venda de mercadoria imprópria ao consumo (art. 7º, IX, da Lei nº 8.137/1990). A norma penal incriminadora tutela por via reflexa o interesse individual, como, no caso, a saúde da pessoa (NEVES; LOYOLA, 2011). 3.2 Objeto jurídico Da mesma forma explicada quanto ao sujeito passivo, incide uma diferença quanto ao objeto jurídico. Nos crimes comuns da Parte Especial do Código Penal, tutela-se bem pertencente ao homem, à pessoa jurídica ou ao Estado, isto é, o bem juridicamente tutelado relaciona-se a um ente. Já nos delitos de consumo, o bem tutelado se relaciona à coletividade (não há normalmente essa individualização). Tutela-se o interesse coletivo das relações de consumo. Todavia, nada impede que indiretamente venha o tipo penal a proteger o interesse individual na relação de consumo (mas não é este o escopo), por via indireta ou reflexa (NEVES; LOYOLA, 2011). Segundo JOÃO BATISTA DE ALMEIDA (2003), a importância da tutela penal reside no fato de outorgar maior efetividade à defesa do consumidor, inibindo procedimentos reprováveis dos infratores e depurando o mercado fornecedor, além, é lógico, de punir criminalmente, com detenção, multa ou restrição de direitos (CDC, artigo 78), aqueles que se dedicam a desrespeitar os direitos do consumidor, legalmente estabelecidos, praticando as condutas sancionadas. 3.3 As infrações penais contra o consumidor Cabe salientar, à título de curiosidade, que à época da tramitação do Anteprojeto e do Projeto de Lei do Código do Consumidor, sustentou-se a ideia de Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 14 que as condutas descritas nos artigos 63 à 74 deveriam ser descriminalizadas, sob a alegação de que seriam suficientes à repressão, as penalidades administrativas e o ressarcimento civil (ALMEIDA, 2003, p. 163). Em que pese o entendimento referido, da mesma forma não entendeu o Congresso Nacional, que decidiu também incluir a tipificação penal no CDC. Reconheceu-se, portanto, a necessidade de que fossem criminalizadas as condutas, para dar maior efetividade à legislação protetiva (SANTOS, 2010). JOÃO BATISTA ALMEIDA (2003, p. 165) adverte que as condutas delituosas descritas no CDC são consideradas “crimes de perigo”, isto é, não se exige a ocorrência de efetivo dano ao consumidor, nem é este elemento constitutivo do delito. Doze condutas foram criminalizadas pelo legislador, que incluiu preceitos que criaram tipos novos, não contemplados pelo Código Penal, e preceitos que versaram sobre tipos já presentes no referido estatuto criminal referido, com a intenção de torná-los específicos para a tutela dos direitos do consumidor, a saber: a) omissão sobre nocividade ou periculosidade (art. 63) – o CDC inicia a tipificação dos crimes contra o consumidor, com o delito descrito no artigo 63, que prevê: “Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade” (ANGHER, 2007). Por conseguinte, dita no parágrafo primeiro: “Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado”. O objeto jurídico deste delito está conectado diretamente aos direitos básicos do consumidor, mais especificamente, à proteção à vida, saúde e segurança contra os riscos provocados no fornecimento de produtos ou serviços, assim como ao direito deste de obter informação adequada e clara sobre possíveis riscos de determinados produtos ou serviços, visando reforçar o disposto no artigo 9º da Lei (KRIGHER FILHO, 1998); b) omissão na comunicação às autoridades competentes sobre nocividade ou periculosidade do produto e de retirada do mercado (art. 64). Dispõe o artigo 64 do CDC: “Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 15 nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado”. Este artigo trata, como o anterior (artigo 63), de delito omissivo, formal, que não depende de resultado, e foi criado objetivando, novamente, preservar os valores inseridos no inciso I do artigo 6º do CDC, quais sejam: a proteção a vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; c) Execução de serviços perigosos (art. 65). Consta do artigo 65 do CDC: “Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente”. Trata-se de norma penal em branco, haja vista que é necessária complementação pelas “determinações de autoridades competentes”, definindo que serviço poderia ser considerado de alto grau de periculosidade, ou de que maneira isso poderia ocorrer. O dispositivo em comento possui como objeto jurídico os direitos do consumidor, presentes no inciso I do artigo 69. Como sujeito passivo, além do consumidor, tem-se a Administração Pública, haja vista o descumprimento de normas por ela baixadas. Como sujeito ativo considera-se todo fornecedor ou prestador que contrariar determinação de autoridade competente, no exercício de atividade perigosa; d) falsidade, engano e omissão em informação sobre produtos e serviços (art. 66). Extrai-se do dispositivo: fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços. O parágrafo primeiro adverte: “Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta”. Atenta-se ao fato de que, como objeto jurídico, pode-se destacar os direitos do consumidor de livre escolha e de informação adequada, já explanados. Verifica-se que existem três núcleos no artigo, sendo eles: a) fazer afirmação falsa ou enganosa em qualquer modalidade de oferta; b) omitir dizeres relevantes sobre natureza, característica, qualidade; ou, c) patrocinar a oferta nessas condições. Portanto, está-se diante de duas condutas: dois são os atos imputáveis ao fornecedor no artigo em tela; um é comissivo porque afirma ter seu produto Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 16 qualidades e características que não possui e o outro é omissivo porque não informa ao consumidor a característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho e durabilidade, preço ou garantia do produto ou serviço. Como sujeito ativo, tem-se, portanto, qualquer pessoa (anunciante), responsável pelas ideias trabalhadas e divulgadas, e como sujeito passivo, o consumidor é aquele exposto à oferta fraudulenta. A consumação ocorre através da simples veiculação da publicidade enganosa ou falsa, ou então pela omissão de informação importante, o mesmo sendo válido para a oferta do produto/serviço (SANTOS, 2010); e) publicidade enganosa ou abusiva(artigo 67). Constitui infração penal a publicidade enganosa ou abusiva, conforme previsão no caput do artigo: “Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva”. Consoante ao objeto jurídico a ser tutelado pelo presente artigo, destacam- se o direito de livre escolha e correta informação, bem como proteção do consumidor contra publicidade enganosa ou abusiva e a prevenção dos danos morais e patrimoniais; f) publicação prejudicial ou perigosa (art. 68). O artigo procura proteger o consumidor, público-alvo da publicidade tendenciosa e, portanto, sujeito passivo do delito, da publicidade prejudicial ou tendenciosa. Novamente temos como sujeito ativo o profissional de criação ou veiculação, tendo o dolo genérico ou eventual (deveria saber), ligado diretamente ao risco que propaganda pode causar. Pune-se o delito em comento com pena de detenção de seis meses a dois anos e multa, que consuma-se com a veiculação (feitura e promoção) da publicidade tendenciosa, não sendo necessário a prova de que o consumidor foi induzido ao erro; g) omissão na organização de dados que dão base à publicidade (art. 69), ou deixar de organizar dados táticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 17 Mais uma vez o legislador teve o intuito de tornar efetiva as obrigações inseridas na parte material do CDC, que no caso se relaciona com o artigo 36, §1°, que dispõe: “O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem”. In casu, trata-se de delito que viola o princípio da transparência. O dolo genérico, novamente, é o elemento subjetivo, relacionado a vontade consciente dirigida a omissão, ao deixar de cumprir obrigação instituída no artigo, independente, como nos outros artigos citados, de qualquer resultado lesivo ao consumidor. Pune-se a prática do ilícito penal em epígrafe, com pena de detenção de um a seis meses ou multa (FILOMENO, 2000). Os artigos 63 a 69 abordam os abusos na publicidade, demonstrando a preocupação do legislador em dar cumprimento aos dispositivos da parte material do CDC, tendo, como fato principal o dever de lisura do fornecedor/anunciante. Como já salientado, entenderam os autores do CDC, que as medidas administrativas e civis não seriam suficientes para barrar os abusos na publicidade, sendo essencial, portanto, as sanções penais cominadas; h) art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor: pena - detenção de três meses a um ano e multa. A Lei punirá quem, na reparação de produtos, utilizar peças ou componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor. Há cumulação de pena de detenção e multa. Esse artigo protege expressamente o que diz o art. 21 da mesma Lei, que dispõe: no fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. Esse crime é classificado como comum, próprio, de perigo, de mera conduta, comissivo, principal, simples, unissubsistente, unissubjetivo, doloso, de ação única e instantâneo. O sujeito ativo deste delito é o fornecedor de serviços. O sujeito passivo Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 18 é a coletividade de consumidores. Podemos ainda destacar que o crime possui dúbia objetividade jurídica, que são as seguintes: a proteção à tutela das relações de consumo e o patrimônio do consumidor lesado (AFONSO, 2004); i) art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: pena – detenção de três meses a um ano e multa. A ação descrita na tipificação penal acima era muito comum antes do Código de Defesa do Consumidor. Havia todo um aparato de cobrança, onde colocava o consumidor devedor em posição vexatória e de grande humilhação. Com isso, sentiu-se a necessidade de criminalizar a conduta, para coibir os abusos que eram costumeiramente cometidos. Com a tipificação, será punido cumulativamente com detenção e multa, o fornecedor (sujeito ativo) que se valer de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas, ou qualquer outro meio que exponha o consumidor (sujeito passivo juntamente com a coletividade) ao ridículo, ou que interfira no seu trabalho, descanso ou lazer, para que assim seja cobrado e impelido a pagar a dívida. Esse dispositivo veio no sentido de garantir e reforçar o que já veio disposto anteriormente no Código, mais precisamente no artigo 42: na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Sobre o crime exposto no artigo 71, ELIANA PASSARELLI (2002, p. 86) comenta que o consumidor não pode ser constrangido, indevidamente, ao pagamento de suas dívidas. Por essa razão, é válido o emprego do advérbio “injustificadamente” na letra da lei. Por ilustração, o constrangimento moral justificado em lei não é criminoso. Assim sendo, o fornecedor pode encaminhar o nome do consumidor inadimplente ao Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 19 cartório de protestos ou ao serviço de proteção ao crédito (SPC). Nessas hipóteses, obviamente, não incorrerá em crime. Pune-se na realidade, a natureza abusiva do procedimento empregado para a cobrança de dívida (AFONSO, 2004); j) art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros. Mais uma vez, procurou o legislador efetivar dispositivo contido na parte de direito material do CDC, qual seja o artigo 43, que garante ao consumidor a obtenção de informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre suas respectivas fontes. O artigo 43 assegura ainda que os registros sejam claros, verdadeiros, de fácil compreensão, sendo que não podem conter dados relacionados a período superior a cinco anos e que a abertura dos referidos cadastros deverá ser feita por escrito, quando não solicitado pelo consumidor (SANTOS, 2010). Pune-se o fornecedor (sujeito ativo) que impedir ou dificultar o acesso do consumidor (sujeito passivo juntamente com a coletividade) às informações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros. Neste caso, teremos apenas uma sanção, que será de detenção ou de multa. A proteção aqui recai sobre as relações de consumo e sobre o direito a informação por parte do consumidor. Estamos diante de um crime comum,de perigo, de mera conduta, comissivo, principal, simples, uni-subjetivo, doloso, de ação múltipla e instantânea; l) art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata: pena – detenção de um a seis meses ou multa. Esse artigo é uma forma de desdobramento do anterior. Castiga-se aqui, o fornecedor ou qualquer pessoa que seja responsável (sujeito ativo) e que não corrigir imediatamente informação sobre consumidor difusamente considerado (sujeito passivo) que conste em cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber não estar correto. Pune-se apenas com uma sanção, que pode ser de detenção ou multa. O artigo anterior se preocupou com o artigo 43 e Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 20 seus parágrafos 1º e 2º do mesmo Código. Neste delito o legislador abarcou os parágrafos 3º, 4º, e 5º do referido artigo 43. A tipificação em questão no referido artigo 73 visa proteger as relações de consumo e a dignidade do consumidor diante da proteção ao crédito. A classificação desse crime é a seguinte: é crime comum, próprio, de perigo, de mera conduta, omissivo próprio, principal, simples, unissubsistente, unissubjetivo, doloso, de ação única e instantânea; m) art. 74 – deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo. Pena – detenção de um a seis meses ou multa. Nessa tipificação criminal, pune-se quem deixar de entregar (sujeito ativo) ao consumidor (sujeito passivo junto com a coletividade) o termo de garantia adequadamente preenchido com indicação clara do conteúdo. Esse artigo corrobora com o disposto no artigo 50 da mesma Lei. Entrando na classificação doutrinária, achamos o seguinte: é crime comum, próprio, de perigo, de mera conduta, omissivo próprio, principal, simples, unissubjetivo, doloso, de conteúdo variado e instantâneo. A razão de tal dispositivo é clara: já que o termo de garantia visa a evitar dissabores futuros ao consumidor, e já que o próprio fornecedor, mediante declaração unilateral da vontade, se compromete a reparar ou mesmo trocar o bem que apresente defeito de fabricação ou vício oculto, (...) nada mais natural que proceda às instruções que devem ser por aquele seguidas. Além do mais, trata-se de assegurar o patrimônio do consumidor desde logo, não sendo justo que deva arcar com as despesas de um reparo de um produto novo, quando se sabe de antemão que os defeitos e vícios são perfeitamente previsíveis pelo fornecedor. Tem-se como sujeito ativo o fornecedor e, em segundo plano, destaca-se que pode haver concurso de agentes por parte do comerciante do produto, entregando termo de garantia lacunoso. Como sujeito passivo, novamente, temos o consumidor. Forçoso é concluir que trata-se de conduta omissiva, o ato de deixar de entregar o termo de garantia adequadamente preenchido, punida à título de dolo, com detenção de um a seis meses ou multa (SANTOS, 2010). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 21 UNIDADE 4 – CRIMES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO O art. 291, caput, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece a aplicação da Lei nº 9.099/1995 aos crimes de trânsito, “no que couber”. Entretanto, a Lei Seca (Lei nº 11.705/2008) incluiu várias exceções à aplicação da Lei nº 9.099/1995. Assim, atendendo ao conceito de infrações penais de menor potencial ofensivo estabelecido pelo art. 61 desta lei “as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 1 (um) ano”, teria esse diploma aplicação aos arts. 304, 305, 307, 310 e 3ll do CTB. Deve ser ressaltado, também, que a Lei nº 11.313, de 28-6-2006, alargou o conceito de infrações penais de menor potencial ofensivo, considerando assim “as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa” (NEVES; LOYOLA, 2011). Entretanto, antes da vigência da Lei nº 11.313/06, o parágrafo único do art. 291 do CTB já estabelecia a aplicação dos dispositivos da Lei nº 9.099/1995 (arts. 74, 76 e 88) aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa (art. 303), embriaguez ao volante (art. 306) e participação em competição não autorizada (art. 308). Portanto, forçoso é concluir que se aplicam as disposições da Lei nº 9.099/95 (com o alargamento do conceito de infrações penais de menor potencial ofensivo pela Lei nº 11.313/06). Note que, para dar como encerrado o assunto, o art. 291 da Lei nº 11.705/08, no seu § 1º, indicou expressamente as exceções dos crimes de trânsito de lesão corporal culposa para a Lei nº 9.099/1995 quando o agente estiver: I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 22 III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h. Segundo estabelece o art. 292 do CTB, a suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser aplicada como penalidade principal, isolada ou cumulativamente com outras penalidades. A suspensão ou proibição tratada, portanto, pode ser aplicada ao lado da pena privativa de liberdade prevista em cada tipo penal. Pode ser aplicada isolada ou cumulativamente com a pena privativa de liberdade ou com a pena pecuniária. Não há, entretanto, nenhuma hipótese de crime no Código de Trânsito Brasileiro em que a suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor possa ser aplicada isoladamente (NEVES; LOYOLA, 2011). De acordo com o disposto no art. 293 do CTB, a duração dessa penalidade é de dois meses a cinco anos. Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em 48 horas, a permissão para dirigir ou a Carteira de Habilitação (§ 1º). A penalidade referida não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento penal (§ 2º). Estabelece o art. 294 do CTB que, em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor ou a proibição de sua obtenção. Dessa decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 23 Conselho Nacional deTrânsito (CONTRAN) e ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente (art. 295). Se o réu for reincidente na prática de crime de trânsito, o juiz deverá aplicar a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções cabíveis (art. 296 com a redação determinada pela Lei nº 11.705/2008). A multa reparatória, prevista no art. 297 do CTB, consiste no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do CP, sempre que houver prejuízo material resultante do crime. Essa multa reparatória é prevista apenas no Código de Trânsito Brasileiro, tendo caráter eminentemente de sanção civil, visando à reparação dos danos causados pelo ilícito penal. Pode ser requerida pela vítima ou seus sucessores e será fixada pelo juiz no momento da sentença condenatória, em dias-multa, nos parâmetros fixados pelo § 1º do art. 49. A multa reparatória não impede a propositura de ação civil ex delicto pela vítima ou seus sucessores, visto que, a teor do § 3º do art. 297 do CTB, seu valor será descontado na indenização civil do dano. Por fim, aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do CP. Ao elencar as circunstâncias agravantes nos crimes de trânsito, o art. 298 do CTB utiliza o advérbio “sempre”, indicando que a exacerbação da pena-base, no caso, é obrigatória. Entretanto, cessa a obrigatoriedade de exacerbação da pena se qualquer das circunstâncias agravantes mencionadas constituir elemento integrativo da estrutura de um tipo penal (circunstância elementar) ou figura como causa especial de aumento de pena. É que, nesse caso, haveria bis in idem, valorando-se duplamente uma mesma circunstância, o que não pode ser admitido. O quantum do agravamento da pena fica a critério do juiz. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 24 O art. 301 do CTB estabelece que, ao condutor de veículo, nos casos de acidente de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela. O socorro tem de ser “pronto” e “integral”, o que significa que deve o motorista socorrer a vítima imediatamente ao acidente, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para evitar-lhe o perecimento. Visou o legislador despertar no motorista o sentimento de solidariedade e respeito à vítima, concedendo- lhe, em contrapartida, o favor processual (NEVES; LOYOLA, 2011). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 25 UNIDADE 5 – CRIMES DA LEI DE TORTURA Tortura é a imposição de dor física ou psicológica apenas por prazer, crueldade, bem como pode ser entendida também como uma forma de intimidação, ou meio utilizado para obtenção de uma confissão ou alguma informação importante. O que, diga-se de passagem, não necessariamente é elemento do tipo penal para sua caracterização. É delito imprescritível. Inafiançável, não sujeito a graça e anistia como dispõe o Artigo 5º inciso XLIII da Constituição Federal. A tortura também está incursa no Artigo 2º, I e II da lei de crimes Hediondos da qual se acresceu ser a tortura vedada a concessão de indulto (observação: Tortura é delito grave, mas não é crime hediondo). É delito equiparado a crime hediondo. A Lei nº 9.455/97 também prevê no artigo 1º, § 6º que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Independente de seu objetivo final, a tortura subsiste apenas pelo ato de se causar sofrimento a alguém. A Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes define tortura como: Artigo 1º - (...) o termo “tortura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 26 Na tortura há o dolo específico de se causar sofrimento independente de seu fim ou meio praticado. Nos maus tratos incursos no artigo 136 do Código Penal, aquele que possui a guarda, autoridade ou poder sobre a vítima tem o fim de impor sua autoridade para uma correição educacional, como forma de uma punição disciplinar, ou fim de se impor. A diferença da tipificação nos maus tratos é que este não faz o ato por prazer de fazer a vítima sofrer e sim por abusar dos meios disciplinares de conduta com o fim de punir a vítima. A tortura é uma violação de direitos humanos, afeta a integridade física, psicológica e mental e por estas razões viola o direito do cidadão de sua integridade, de sua liberdade, de sua convivência social pacífica, e seu direito a vida com dignidade humana (VASCONCELLOS, 2011). Vale guardar... De acordo com a Lei nº 9.455/97, constitui crime de Tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental; (...) II - Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - Reclusão - Pena de 2 a 8 anos. Pelo Código Penal, o artigo 136 constitui crime de maus tratos – expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. Pena – Detenção de 2 meses a 1 ano. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 27 UNIDADE 6 – CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE Na evolução histórica tratada no livro “Códigos Penas do Brasil” (PIERANGELLI, 1980), o Código Filipino ou Ordenações Filipinas, promulgado em 1603, trazia em seu bojo a tipificação de vários crimes contra o meio ambiente, como o dano causado em olivais e pomares pelo pasto de animais pertencentes a vizinhos, restrições sobre a caça e a pesca, poluição das águas, e ainda um dispositivo que proibia a qualquer pessoa jogar material nas mesmas que pudesse sujá-las ou matar os peixes. Há que se ressaltar que a aplicação da legislação extravagante penal que acompanhou o processo de desenvolvimento do Brasil colônia foi difícil, devido às extensões das terras coloniais que se faziam maioresa cada dia, com grandes distâncias a serem vencidas. CARLOS GOMES DE CARVALHO (1990, p. 98) afirma que a distância administrativa, mais até que a geográfica, foi o principal fator que levou à deficiência da aplicação e até da divulgação da norma penal que tutelava o meio-ambiente nessa fase. O primeiro Código Penal, promulgado em 1830, já continha dispositivos que puniam o corte ilegal de árvores e o dano ao patrimônio cultural, seguido, já em 1850, pela Lei 601 (“Lei das Terras”) que estabelecia sanções administrativas e penais, no seu art. 2°, para o dano causado pela derrubada das matas e queimadas. Foi em meados de 1850 que surgiu no Mundo Velho a expressão hoje tão conhecida por “ecologia”, introduzida pelo alemão Ernerst Haeckel, em 1866, figurando juntamente com ele Charles Darwin, Thomas Robert Malthus e outros cientistas que, com seus estudos, contribuíram e figuraram na história da proteção ambiental. Em 1917, o Código Civil veio dar aos bens ambientais um tratamento sob a ótica dos interesses privados. Encontramos também essa proteção em nível administrativo no Decreto nº 4.421/21, que veio a criar o Serviço Florestal do Brasil, Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 28 objetivando a conservação dos recursos florestais, já vistos como bens de interesse público. Só então, em 1934, surge o primeiro Código Florestal (Decreto nº 23.793/34), que vem tutelar juridicamente o meio ambiente, tipificar as ofensas cometidas na utilização das florestas, classificando-as como crimes e contravenções penais. Surge também a nova Constituição Federal, contendo alguns dispositivos ambientalistas (IVETE SENISE FERREIRA, 1995, p. 82); o Código de Águas (Decreto nº 24.643/34) e o Código de Caça (Decreto nº 24.645/34). Pouco tempo depois, foi promulgado um novo Código Penal (Decreto-lei nº 2.848/40), bem como a Lei das Contravenções Penais (Decreto nº 3.688/41), sendo que, quanto ao primeiro, pouca atenção foi dispensada à questão ambiental (FARIA, 2004). Mais tarde, na década de 1960, época em que houve uma intensa elaboração legislativa na área ambiental, surge uma nova reformulação no que tange à tutela penal ambiental, surgindo um novo Código Florestal (Lei nº 4.771/65). Também preocupou-se com a proteção à fauna (Lei nº 5.197/67), a pesca (Decreto lei nº 221/67) e também com a poluição das águas (Dec. nº 50.877/61, alargado pelo Decreto-lei nº 303/67), que, além das águas tuteladas pelo primeiro, passaram também ao âmbito de proteção o ar e o solo, mas foi somente com a Lei nº 6.938/81 que se promoveu a adequação do conceito às novas exigências e à nova visão da proteção ambiental, partindo, então dos efeitos que as degradações da qualidade ambiental podem causar nas condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, por cujos danos seu autor deverá ser responsabilizado, tendo como obrigação reparar tal dano. Eis que chegamos à Constituição Federal de 1988, a qual veio inovar em várias questões concernentes à proteção ambiental e tivemos ainda a elaboração de mais leis extravagantes na área ambiental, nas suas modalidades mais atuais, que expressam as necessidades ao mundo moderno frente à evolução tecnológica, como a necessidade de proteção à camada de ozônio, a regulamentação do uso de agrotóxicos, comercialização e utilização da moto-serra, a regulamentação das atividades nucleares frente aos sérios danos que possivelmente possam ser Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 29 causados, como o acidente na usina nuclear de Chernobil, há alguns anos atrás (FARIA, 2004). Como bem observa IVETE SENISE FERREIRA (1995, p. 82), ao lado dessa profusa legislação especificamente ambiental, embora não exclusivamente penal, subsistem e podem ser aplicados todos aqueles dispositivos que, tanto no Código Penal quanto na Lei das Contravenções Penais podem ser referidos às ofensas ambientais, embora não tivessem sido imaginados para tal, constituindo um conjunto legislativo de proteção ambiental por extensão ou por interpretação, já que aí foram colocados pelo legislador com outros objetivos sendo, porém, adequados à tutela nessa área, como são, principalmente, os crimes contra a saúde pública e contra a incolumidade pública. Essa interpretação coaduna-se com o espírito da lei, e serve de paliativo enquanto se aguarda o adequado cumprimento dos mandamentos constitucionais e a elaboração de uma legislação penal ambiental mais eficiente. A proteção penal do meio ambiente no Brasil dá-se, principalmente, pela Lei nº 9605/98, conhecida como Lei dos Crimes contra o Ambiente. Referida lei trouxe impactos expressivos no Direito Ambiental Penal, como reflexos na tipologia, valorização das alternativas à pena de prisão, destacada preocupação com a reparação do dano ao ambiente, transformou a transação penal e a suspensão do processo em instrumentos de efetiva proteção ambiental, bem como impactos trouxe na autoria singular e coletiva, com a concorrência por omissão do dirigente da pessoa jurídica no crime de outrem e a responsabilização criminal da própria pessoa jurídica. Dentre ditos impactos, destacamos no âmbito deste estudo, a valorização das alternativas à prisão e uma acentuada preocupação com a efetiva reparação do dano ao meio ambiente. No contexto da Lei nº 9.605/98, encontram-se descritos crimes contra a fauna, contra a flora, de poluição, contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural e contra a administração ambiental. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 30 6.1 Tipicidade O meio ambiente, pela amplitude e complexidade de seu conceito, dificulta sobremaneira a definição dos tipos penais a tutelá-lo, caracterizando-se, por vezes, a figura do tipo aberto, ou seja, aquele em que não aparece por completo a norma que o agente transgride com seu comportamento. É a chamada norma penal em branco, posto que necessita de complementação de outros dispositivos legais. A maioria das infrações penais ambientais é fato ilícito porque o agente atuou sem autorização legal, sem licença ou em desacordo com as determinações legais. Vale dizer, a punição do agente decorre não da prática do fato ou ato considerado danoso ao meio ambiente, mas sim em decorrência do descumprimento de alguma norma legal ou regulamentar necessária à mesma prática do fato ou ato. Por exemplo: caçar animais silvestres tanto pode ser crime como não, se o agente tiver autorização para tanto (ROCHA, 2007). O mesmo ocorre com a pesca. Por outro lado, há que se atentar para o fato de que o legislador, ao criar o tipo penal, o faz, principalmente, sob a ótica preventiva, razão pela qual o crime ecológico é, basicamente, crime de perigo, conquanto a norma penal deva abarcar também os riscos e não apenas os danos. 6.2 Bem jurídico protegido Nos crimes ambientais, o bem jurídico precipuamente protegido é o meio ambiente em sua dimensão global, porque é bem essencial à vida, à saúde e à felicidade da pessoa humana, valores que dizem respeito a toda a coletividade. 6.3 Elemento subjetivo A culpabilidade do agente dá o tom de sua responsabilidade, razão pela qual, nos crimes ambientais, o elemento subjetivo tanto pode ser o dolo quanto a culpa, sendo a regra a punição a título de dolo, conforme disposição do art. 18, parágrafo único, doCP. Anteriormente à edição da Lei nº 9.605/98, a punição se dava basicamente aos crimes ambientais dolosos, sendo certo que a formulação do conceito de culpa por tal diploma legal cassou o clima de impunidade que vigorava até então. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 31 6.4 Sujeito ativo e passivo O sujeito ativo nos crimes ambientais tanto pode ser a pessoa física como a jurídica. Até pouco tempo reservava-se apenas à pessoa física a possibilidade de ser sujeito ativo de crime, em face do conceito restrito de imputabilidade. Ressalte-se que os criminosos ambientais, por seu turno, destoam do perfil do criminoso comum, pois não raro são cometidos por pessoas que não oferecem nenhuma periculosidade ao meio social, tendo sido levadas à prática delituosa por circunstâncias do meio e dos costumes. Já a pessoa jurídica “ganhou” responsabilidade criminal com o advento da Lei nº 9.605/98, seguindo-se as tendências do direito penal moderno no intuito de punir não apenas o pequeno delinquente, o “pé-de-chinelo”, mas a pessoa jurídica por trás deste, que busca o lucro como finalidade precípua e para a qual pouco interessam os prejuízos causados à coletividade (ROCHA, 2007). A responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a da pessoa física autoras, coautoras ou partícipes de mesmo fato delituosos, na medida em que, por si só, a empresa não comete crime. São condicionantes para a responsabilidade penal da pessoa jurídica: que a infração tenha sido cometida em seu interesse ou benefício e por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu colegiado. A lei nº 9.605/98 erigiu a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica como preceito básico, donde se conclui que há possibilidade de responsabilização criminal tanto da pessoa jurídica de direito privado, quanto da de direito público, sempre que tal personalidade for obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados ao meio ambiente. O sujeito passivo do crime ambiental é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado de lesão pela conduta criminosa, ou seja, a coletividade, por ser o bem ou interesse tutelado considerado de uso comum do povo. Não é impossível que, indiretamente, pessoas certas e determinadas sejam também lesadas ou ameaçadas em seus bens jurídicos em face de aspectos peculiares do dano, podendo também ser sujeitos passivos. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 32 6.5 Sanções penais As penas previstas para as infrações ambientais acompanham a moldura do direito penal tradicional: privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa, sendo preferencialmente aplicadas estas duas últimas, conquanto a finalidade seja dúplice – suportar o dano e pagar a conta do prejuízo. As penas privativas de liberdade, ainda que não preferenciais, são a reclusão, a detenção e a prisão simples, ressalvando-se a aplicação dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, previstos na Lei nº 9.099/95. As penas restritivas de direitos previstas na Lei nº 9.605/98 serão aplicadas em substituição às privativas de liberdade, tendo a mesma duração, conforme a regra geral do CP, podendo ser convertidas em privativas de liberdade, caso haja descumprimento injustificado da restrição imposta ou de superveniente condenação à outras penas privativa de liberdade, mesmo que por outro delito. A pena de multa, instrumento tradicional de retribuição, pode revelar-se ineficaz, ser aumentada até três vezes o valor máximo, tendo em vista o valor da vantagem econômica obtida pelo infrator. As penas aplicáveis às pessoas jurídicas são multa, nas quais se aplica a regra geral do CP; restritivas de direitos, que pode ser a suspensão parcial ou total das atividades, interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade e proibição de contratar com o poder público, e prestação de serviços à comunidade, consistente no custeio e manutenção de programas e projetos ambientais, recuperação de áreas degradadas e contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. Existem circunstâncias atenuantes e agravantes para a aplicação das penas previstas na Lei nº 9.605/98, as quais são específicas (arts. 14 e 15), assim como as causas de diminuição e aumento de pena (art. 58). As causas excludentes de ilicitude são as mesmas previstas no art. 23, do CP, ou seja, o estado de necessidade, a legítima defesa e o estrito cumprimento do dever legal (ROCHA, 2007). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 33 O dano ambiental necessariamente precisa ser reparado. Geralmente ocorre a reparação ou pela via administrativa (poder de polícia e processo administrativo punitivo) ou pela via judicial (ações). O Direito Ambiental comporta ações Cíveis, Constitucionais, Penais e também descritas em leis especiais. Ação penal ambiental Ação penal ambiental é pública incondicionada, sendo necessariamente o autor o Ministério Público, cabendo ação privada nos casos em que não for intentada no prazo legal. O processo segue as normas do Código de Processo legal. Como Meios processuais de proteção ambiental Inquérito e ação penal pública O inquérito policial, como procedimento extrajudicial inquisitório prévio, processa-se na forma prevista no Código de Processo Penal (CPP), destinando-se a fundamentar a denúncia, já que a ação penal em matéria ambiental é sempre pública incondicionada. Pode ser dispensado nos casos já previstos na lei penal adjetiva e, ainda, se o inquérito civil contiver os elementos necessários à propositura da ação penal. Quanto à ação penal pública, inobstante a titularidade exclusiva do Ministério Público, cabe a medida de forma subsidiária em caso de inércia de tal órgão. O foro competente para a ação penal é o do lugar em que se consumar a infração ou, no caso de tentativa, do lugar em que foi praticado o último ato de execução. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo foro do domicílio do réu. Com relação à competência ratione materiae, a Justiça Estadual a terá nos casos de crimes e contravenções perpetrados contra o meio ambiente que não atinjam bens e interesses da União, conforme a regra do art. 109, da Constituição Federal que trata da competência Justiça Federal. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 34 O rito processual é o ordinário, para os crimes apenados com reclusão, ou o sumário, para os apenados com detenção. Se a parte ré for pessoa jurídica, o rito será sempre o mais amplo, ou seja, o ordinário. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo segue-se o rito especial da Lei nº 9.099/95. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 35 UNIDADE 7 – CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO Tradicionalmente, define-se a lavagem de dinheiro como um conjunto de operações por meio das quais os bens, direitos e valores obtidos com a práticade crimes são integrados ao sistema econômico financeiro com a aparência de terem sido obtidos de maneira lícita. É uma forma de mascaramento da obtenção ilícita de capitais. Segundo o Grupo de Ação Financeira (GAFI), lavagem de dinheiro é o processo que tem por objetivo disfarçar a origem criminosa dos proveitos do crime. Como bem aponta CARLA VERÍSSIMO DE CARLI (2008), a importância da lavagem é capital, porque permite ao delinquente usufruir desses lucros sem pôr em perigo a sua fonte (o delito antecedente), além de protegê-lo contra o bloqueio e o confisco. Ademais, é certo que o dinheiro em espécie é difícil de ser guardado e manuseado, pois apresenta grande risco de furto e roubo, além de chamar a atenção em negócios de alto valor, de forma que o criminoso, por tais motivos, tenta desvincular o proveito obtido com o crime de sua origem criminosa e dar-lhe aparência de ganho lícito, ou seja, “lavando” o dinheiro (BALTAZAR JUNIOR; MORO, 2007). Segundo MARCIA MONASSI MOUGENOT BONFIM e EDILSON MOUGENOT BONFIM (2008), independentemente da definição adotada, a doutrina aponta as seguintes características comuns no processo de lavagem de dinheiro: 1) a lavagem é um processo em que somente a partida é perfeitamente identificável, não o ponto final; 2) a finalidade desse processo não é somente ocultar ou dissimular a origem delitiva dos bens, direitos e valores, mas igualmente conseguir que eles, já lavados, possam ser utilizados na economia legal. Outras características seriam: 1) a complexidade, como decorrência dos altos lucros da criminalidade organizada e da implantação de medidas de controle, os quais levam à superação das formas mais rudimentares de lavagem por outras mais sofisticadas; Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 36 2) a profissionalização da atividade de lavagem, seja pela separação entre as atividades criminosas em sentido estrito e aquelas de lavagem dentro da organização criminosa, seja pela oferta de profissionais especializados em lavagem de dinheiro, que prestam serviço a mais de uma organização; 3) o caráter internacional, de modo a aproveitar-se das notórias dificuldades da cooperação judiciária internacional e dirigir a lavagem a países com sistemas menos rígidos de controle. 7.1 Fases da lavagem de dinheiro A lavagem de dinheiro tanto pode se dar mediante a utilização do sistema financeiro, quanto mediante a utilização de outros meios, como mercado imobiliário, estabelecimentos comerciais, jogos legais e ilegais, etc. Daí, destaca-se a classificação doutrinária de lavagem financeira e lavagem não financeira. O dinheiro obtido de maneira ilícita – “dinheiro sujo” – passa por um processo composto por diversas fases planejadas a disfarçar sua origem ilícita sem comprometer os envolvidos, de forma que seja considerado “limpo”. Dos vários modelos de fases existentes, o de aceitação mais ampla e adotado pela maioria da doutrina especializada é o elaborado pelo GAFI, composto por três fases: colocação, ocultação e integração. a) Colocação ou Placement Esta fase consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema financeiro, dificultando a identificação da procedência dos valores. É a fase mais arriscada para o “lavador” em razão da sua proximidade com a origem ilícita. WALTER FANGANIELLO MAIOROVITCH (s.d apud RISSI MACEDO, 2009) diz que é o momento de apagar a mancha caracterizadora da origem ilícita. Normalmente esses valores são introduzidos no sistema financeiro em pequenas quantias, que, individualmente, acabam não gerando maiores suspeitas1. 1 A Lei 9.613/98, em seus art. 10 e 11, impõe a certas pessoas físicas e jurídicas, que lidam com movimentação de grandes quantias (instituições financeiras, por exemplo), a identificação de seus Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 37 A essa técnica é dado o nome de smurfing. Daí porque existe uma preocupação muito grande com os registros das instituições financeiras. O Federal Reserve – FED, Banco Central americano, se preocupa, há algum tempo, em identificar o cliente de forma tal que ele não perceba que está sendo investigado. Outra técnica de lavagem utilizada nesta fase é a utilização de estabelecimentos comerciais que trabalham com dinheiro em espécie, a princípio insuspeitos, como cinemas, restaurantes, hotéis, casas de bingo, entre outros. b) Ocultação, Dissimulação, Transformação ou Layering Nessa fase ocorre a camuflagem das evidências, com a utilização de uma série de negócios ou movimentações financeiras, a fim de que seja dificultado o rastreamento contábil dos lucros ilícitos. É a fase da lavagem propriamente dita, pois se dissimula a origem dos valores para que sua procedência não seja identificada. Cria-se um emaranhado de complexas transações financeiras, em sua maioria internacionais, sendo que é nesta fase que os países e as jurisdições que não cooperam com as investigações referentes à lavagem de dinheiro têm papel fundamental. É a fase mais complexa do processo e a que envolve maiores riscos de vulnerabilidade aos sistemas financeiros nacionais. As transações realizadas anteriormente são multiplicadas, muitas vezes com várias transferências por cabo (wire transfer) através de muitas empresas e contas, de modo a que se perca a trilha do dinheiro (paper trail). Há o saque do dinheiro em espécie e o depósito do mesmo em uma nova instituição ou mesmo destruição dos registros de uma determinada operação em conluio com a instituição financeira. Aliás, FAUSTO MARTIN DE SANCTIS (s.d apud BALTAZAR JUNIOR; MORO, 2007) destaca que a realidade de hoje é ainda mais complexa tendo em vista que a criminalidade já está adquirindo bancos internacionais, porque todos os registros dessas instituições são manipulados, viabilizando ainda mais o que já era facilitado pelos paraísos fiscais. clientes, bem como a obrigação de comunicar ao COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras – quando da ocorrência de transações ou operações financeiras suspeitas. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 38 Segundo MÁRCIA MONASSI MOUGENOT BONFIM e EDILSON MOUGENOT BONFIM (2008), um dos métodos de ocultação mais avançados é a venda fictícia de ações na bolsa de valores (o vendedor e o comprador, previamente ajustados, fixam um preço artificial para as ações de compra). É comum nesta fase também a transformação das quantias em bens imóveis ou móveis; quanto a estes, costuma-se adquirir bens que possam ser postos em circulação rápida em diferentes países como ouro, joias e pedras preciosas (commodities). c) Integração ou Integration É a fase final do processo, muitas vezes interligada ou até mesmo sobreposta à etapa anterior. Nessa fase, já com a aparência lícita, o capital é formalmente incorporado ao sistema econômico, geralmente por meio de investimentos no mercado mobiliário e imobiliário, e é assimilado com todos os outros ativos existentes no sistema. A integração do “dinheiro limpo” através das outras etapas faz com que este dinheiro pareça ter sido ganho de maneira lícita. Entre as práticas realizadas nesta fase,
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