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2 7 - Os desafios na inserção do homem nos serviços de saúde da atenção primária


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Brazilian Journal of health Review 
 
Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 
 
 
3021 
Os desafios na inserção do homem nos serviços de saúde da atenção 
primária 
 
The challenges in the insertion of man in health services in primary care 
 
DOI:10.34119/bjhrv3n2-141 
 
Recebimento dos originais: 05/03/2019 
Aceitação para publicação: 08/04/2020 
 
Aline Brito Nunes 
Enfermeira Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade 
Estadual do Ceará–UECE, 
Instituição: Universidade Estadual do Ceará–UECE 
Endereço Institucional: Avenida Dr. Silas Munguba, 1700 – Itaperi, Fortaleza – CE, Brasil. 
E-mail: enfermagemalinebrito@gmail.com 
 
Idenilce Coelho da Silva Matos 
Enfermeira Mestranda em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade 
Estadual do Ceará–UECE, 
Instituição: Universidade Estadual do Ceará–UECE 
Endereço Institucional: Avenida Dr. Silas Munguba, 1700 – Itaperi, Fortaleza – CE, Brasil. 
E-mail: idenilcecoelho@yahoo.com.br 
 
Manoel Wladner Marques de Souza 
Enfermeiro Especialista em Auditoria de Sistemas de Saúde Público e Privado pelo Instituto 
de Educação e Tecnologias–INET 
Endereço Institucional: Rua Barão do Rio Branco, s/n - Centro, Fortaleza – CE, Brasil. 
E-mail: akiwladner@yahoo.com.br 
 
Lucilane Maria Sales da Silva 
PhD em Enfermagem na Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de 
Janeiro–UFRJ 
Instituição: Universidade Estadual do Ceará–UECE 
Endereço Institucional: Avenida Dr. Silas Munguba, 1700 – Itaperi, Fortaleza – CE, Brasil. 
E-mail: lucilanemaria@yahoo.com.br 
 
Maria Verônica Sales da Silva 
Doutora em Enfermagem Saúde Comunitária pela Universidade Federal do Ceará–UFC. 
Instituição: Av. Antônio Justa, 3161 - Meireles, Fortaleza - CE, Brasil. 
E-mail: versalles57@hotmail.com 
 
RESUMO 
No ano em que o Sistema Único de Saúde (SUS) completa vinte e um anos, o Ministério da 
Saúde estabelece como prioridade a proteção à população jovem e adulta masculina, lançando 
a Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem (PNAISH). Este estudo objetiva 
analisar as dificuldades da população masculina de se inserir nos serviços de atenção primária 
à saúde. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa e descritiva. A coleta 
das informações se deu por meio da revisão de artigos pesquisados nas bases de dados BDENF. 
Foram identificados 06 artigos que atendem aos critérios de inclusão e que foram publicados 
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entre 2016 e 2017. Com base na análise de conteúdo, observa-se que os serviços de saúde não 
parecem adequados para a população masculina, pois os profissionais fragmentam a assistência 
e não trazem benefícios à população. Conclusão: o estudo permitiu compreender que a criação 
da política foi crucial para que se iniciasse uma modificação na maneira de tratar e acolher os 
homens nos serviços de saúde; porém, ainda há necessidade de se investir na divulgação dessa 
política tanto para a população quanto para os profissionais. 
 
Palavras–chave: Saúde do homem, atenção primária à saúde, política de saúde. 
 
ABSTRACT 
In the year in which the Unified Health System (SUS) turns twenty-one, the Ministry of Health 
establishes as a priority the protection of the young and adult male population, launching the 
National Policy for Integrated Attention to Men's Health (PNAISH). This study aims to analyze 
the difficulties of the male population in inserting themselves in primary health care services. 
It is a bibliographic research, of a qualitative and descriptive nature. The information was 
collected through the review of articles researched in the BDENF databases. 06 articles were 
identified that meet the inclusion criteria and were published between 2016 and 2017. Based on 
the content analysis, it is observed that health services do not seem adequate for the male 
population, as professionals fragment care and do not bring benefits to the population. 
Conclusion: the study made it possible to understand that the creation of the policy was crucial 
in order to initiate a change in the way of treating and welcoming men in health services; 
however, there is still a need to invest in disseminating this policy to both the population and 
professionals. 
 
Keywords: Men's health, primary health care, health policy. 
 
1 INTRODUÇÃO 
Segundo Gomes e Nascimento (2006), apesar da saúde masculina ser bastante discutida 
atualmente, diferente de tempos anteriores, ainda, assim, é pouco abordada se comparado com 
a saúde da mulher. Somente na década de 70, nos Estados Unidos, os estudos acerca da saúde 
do homem tiveram destaque. Nos anos 90, a temática em questão começou a ser abordada sob 
uma perspectiva diferenciada, focalizando na ressignificação do masculino para buscar a saúde 
integral do homem. 
No ano em que o Sistema Único de Saúde (SUS) completa vinte e um anos, o Ministério 
da Saúde estabelece como prioridade a proteção à população jovem e adulta masculina, 
lançando a Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem (PNAISH), 
desenvolvida em parceria entre os gestores do SUS, sociedades científicas, sociedade civil 
organizada, pesquisadores, acadêmicos e agências de cooperação internacional. 
Os tempos mudaram e o sistema de saúde observou que o modelo básico de atenção aos 
quatro grupos populacionais – crianças, adolescentes, mulheres e idosos – não é suficiente para 
tornar o país mais saudável, principalmente porque deixa de fora nada menos do que 27% da 
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população: os homens de 20 a 59 anos de idade que no Brasil são, até o ano de 2009, nada 
menos que 52 milhões de indivíduos que são, na prática, pouco visibilizados ainda nas 
estratégias políticas de atenção à saúde (BRASIL, 2009). 
Ao longo das duas últimas décadas, pesquisadores de diferentes campos disciplinares 
buscam entender os riscos diferenciados de adoecimento e morte para homens e mulheres. O 
foco específico na relação homem e saúde vem ocorrendo, nos últimos anos, tanto nos meios 
acadêmicos quanto no âmbito dos serviços de saúde. Incluir a participação do homem nas ações 
de saúde é, no mínimo, um desafio por diferentes razões; razões estas que aos poucos vem 
fazendo do homem o foco de estudos acerca do processo saúde-doença desses sujeitos 
(SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005). 
Nesse sentido, este estudo tem por objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a 
saúde do homem na atenção primária, analisar as dificuldades da população masculina de se 
inserir nos serviços de atenção primária à saúde e buscar na literatura a vivência da política de 
atenção integral à saúde do homem na atenção primária. 
Segundo Schraiber et al. (2010), nas perspectivas de seus modelos de masculinidade, os 
homens muitas vezes assumem um comportamento considerado pouco saudável, sendo assim, 
considerados comportamentos de risco. Associadas a isso se encontram fortalecidas suas 
dificuldades de verbalizar as próprias necessidades de saúde, pois falar de seus problemas de 
saúde pode significar uma possível demonstração de fraqueza. 
São a partir dessas considerações que serão trabalhadas questões de prevenção e de 
promoção de saúde masculina, a fim de incluir o homem no debate sobre saúde, já que a 
proposição da Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem é de qualificar a 
saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integridade 
da atenção. 
De acordo com Carrara, Russo e Faro (2009), do ponto de vista da história das políticas 
de saúde voltadas a “populações específicas”, pode-seconsiderar a recente criação, pelo 
Ministério da Saúde brasileiro, de um Programa de Saúde do Homem como um momento 
significativo no longo e paradoxal processo que se desenrola em torno da medicalização do 
corpo masculino. Não se pode dizer que, ao longo do último século, médicos e sanitaristas não 
tenham percebido que algumas prerrogativas de gênero fazem dos homens seres humanos 
especialmente perigosos (e em perigo) do ponto de vista da saúde pública, fazendo do Brasil o 
segundo país da América que tem um setor para a saúde do homem, pois até então somente o 
Canadá. 
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Diante da percepção da saúde do homem como uma problemática atual de saúde pública, 
consideramos ser de grande relevância compreender as questões envolvidas no seu acesso aos 
serviços de saúde e, a partir dessa perspectiva, se intencionou analisar as explicações presentes 
em discursos masculinos sobre a procura ou não dos homens por atendimentos na atenção 
básica, sendo essa análise importante para se refletir sobre as dificuldades associadas à saúde 
da população masculina. 
 
2 METODOLOGIA 
O presente artigo de natureza bibliográfica, aborda e descreve as dificuldades 
identificadas pela população masculina para se inserir na atenção primária à saúde. Busca-se, a 
partir das evidências obtidas em publicações científicas, oferecer, de forma simplificada e 
compreensiva, alguns pontos a respeito do assunto. 
O conteúdo do presente artigo origina-se de pesquisa eletrônica na base de dados do 
Banco de Dados em Enfermagem - BDENF, das quais foram levantados artigos científicos 
publicados nos últimos dois anos em Português, com texto completo disponível. Os descritores 
utilizados para a localização dos artigos foram: saúde do homem, atenção primária à saúde, 
política de saúde. A busca foi realizada pela associação entre os descritores. 
Os critérios de exclusão adotados foram: artigos publicados antes de 2015, artigos não 
publicados em periódicos indexados na base de dado supracitado, artigos com idiomas 
diferentes do Português. 
Foram selecionados os estudos cujos conteúdos dos resumos relacionam-se com o 
objetivo da presente pesquisa. Com base nos critérios de inclusão e de exclusão, foram 
selecionados 06 artigos para discussão e composição desse estudo. 
Como forma de categorização dos dados, optou-se pela análise dos seguintes aspectos: tipo de 
estudo, problema, objetivo e conclusão. Os artigos apresentados, sistematicamente, seguem a 
ordem alfabética. 
 
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
De acordo com o Ministério da Saúde, se faz necessário um fortalecimento da 
qualificação na atenção primária, para garantir a promoção da saúde e a prevenção dos 
problemas evitáveis (BRASIL, 2009). Nesse sentido, buscou-se na literatura artigos envolvidos 
diretamente com a saúde do homem na atenção primária. A tabela a seguir apresenta o resultado 
dessa pesquisa. 
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Tabela 01- Resultados da busca na base de dados BDENF e seleção de artigos pertinentes 
Título Problema Objetivo Conclusão 
A percepção do 
enfermeiro da 
estratégia saúde da 
família sobre a saúde 
do homem 
Conhecer a 
percepção dos 
profissionais de 
enfermagem 
sobre o 
atendimento aos 
homens 
Analisar a 
percepção do 
enfermeiro da 
Estratégia Saúde 
da Família sobre a 
saúde do homem 
A criação da PNAISH foi crucial para a 
modificação na maneira de tratar e 
acolher os homens nos serviços de saúde; 
porém, há necessidade de 
investimento na divulgação dessa 
política para a população e para os 
profissionais 
Avaliação da política 
de atenção integral à 
saúde do homem 
Nas práticas de 
saúde existe o 
cumprimento 
dos princípios e 
diretrizes da 
Política de 
Atenção 
Integral a Saúde 
do Homem? 
 Avaliar a Política 
de Atenção 
Integral a Saúde do 
Homem no 
município de São 
Luís -Maranhão 
A organização, execução e utilização dos 
serviços de saúde para o homem não 
parecem adequados. A PNAISH deve 
estar pactuada com a Política Nacional de 
Atenção Básica, já que as unidades 
básicas de saúde são porta de entrada do 
homem ao sistema de saúde. 
Dinâmica de trabalho 
das equipes de saúde 
da família no cuidado 
ao homem 
Abordar a 
concepção dos 
profissionais de 
saúde acerca da 
Política 
Nacional de 
Atenção 
Integral à Saúde 
do Homem 
(PNAISH) 
 Descrever a 
dinâmica de 
trabalho das 
equipes de saúde 
da família no 
cuidado ao homem 
Os profissionais da PNAISH fragmentam 
a assistência e não trazem benefícios à 
população 
Política nacional de 
atenção integral a 
saúde do homem: visão 
dos gestores do SUS 
Analisar a visão 
dos gestores do 
SUS quanto a 
Política 
Nacional de 
Atenção 
Integral à Saúde 
do Homem 
(PNAISH) 
Conhecer como 
está a implantação 
da PNAISH sob a 
ótica dos gestores 
do SUS em 15 
municípios do 
oeste de Santa 
Catarina, no sul do 
Brasil. 
Evidencia-se a necessidade de capacitar 
os gestores do Sistema Único de Saúde e 
de diversos investimentos para 
implantação e consolidação da PNAISH 
na realidade pesquisada. 
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Produção científica, 
ações profissionais e 
atenção à saúde do 
homem: revisão 
integrativa 
Quais ações 
voltadas para 
saúde do 
homem são 
desenvolvidas 
ou propostas por 
profissionais? 
Identificar 
características das 
publicações na 
área da saúde 
abordando a 
atenção à saúde do 
homem e discutir 
ações voltadas à 
saúde do homem 
diante da PNAISH 
Apesar das ações serem preconizadas 
pela PNAISH, ainda são pouco 
divulgadas por pesquisadores e docentes. 
Programa nacional de 
melhoria do acesso e 
da qualidade da 
atenção básica: 
questões a 
problematizar 
Descrever o 
Programa 
Nacional de 
Melhoria do 
Acesso e da 
Qualidade da 
Atenção Básica 
(PMAQ-AB) 
Refletir sobre o 
PMAQ-AB como 
estratégia atual de 
avaliação dos 
serviços de atenção 
básica utilizada 
pelo Ministério da 
Saúde 
Apesar de sua recente implantação 
(2011), o PMAQ-AB encontra-se em seu 
segundo ciclo, o que é considerado muito 
precoce, visto que todo o processo 
nacional é bastante complexo, 
dispendioso e exaustivo, tanto para as 
equipes de atenção básica que são 
avaliadas quanto para as equipes de 
avaliadores. Além disso, é um tempo 
demasiadamente curto para identificação 
de problemas, definição de estratégias de 
intervenção e mudança de realidades. 
Fonte: Dados da pesquisa, 2018 
Segundo o Ministério da Saúde, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do 
Homem afirma que o grande desafio de uma política voltada para os homens é mobilizar a 
população masculina brasileira para a luta pela garantia de seu direito social à saúde. Para tanto, 
a política em questão pretende politizar e sensibilizar homens para o reconhecimento e a 
enunciação de suas condições sociais e de saúde para que advenham sujeitos protagonistas de 
suas demandas, consolidando seu exercício e gozo dos direitos de cidadania (BRASIL, 2009). 
Após a criação da PNAISH, a população masculina brasileira passou a ter reforços para 
o direito à saúde, no entanto muitos empecilhos surgiram em meio a esta conquista, como por 
exemplo os obstáculos que permeiam a procura e o atendimento prestado nos espaços de 
atenção à saúde. Também permitiu um novo olhar sobre as políticas específicas e as reais 
necessidades da população masculina, haja vista que os dias atuais faz do homem um sujeito 
importante nas novas políticas assistenciais. 
 
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Segundo Schraiber et al. (2005), nas perspectivas de seus modelos de masculinidade, os 
homens, às vezes, assumem um comportamento considerado pouco saudável, sendo assim, 
considerados comportamentos de risco. Associado a isso se encontram fortalecida as 
dificuldades de verbalizar as próprias necessidades de saúde, pois falar de seus problemas de 
saúde pode significar uma possível demonstração de fraqueza; são a partir dessas considerações 
que serão trabalhadas questões de prevenção e de promoção de saúde masculina, a fim de incluir 
o homem no debate sobre saúde, já que a proposição da Política Nacional de Atenção Integrada 
à Saúde do Homem é de qualificar a saúde da população masculina na perspectiva de linhas de 
cuidado que resguardem a integridade da atenção. 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca algumas publicações direcionadas às 
especificidades da saúde masculina. Na primeira publicação, defende-se uma abordagem 
específica para os rapazes nas ações da área de saúde, porque as principais causas da 
mortalidade de homens, em geral, relacionam-se com a forma de sua socialização; a segunda 
publicação da OMS se propõe a estabelecer uma base para que políticas e estratégias voltadas 
para os homens em processo de envelhecimento sejam desenvolvidas (GOMES; 
NASCIMENTO, 2006). 
O objetivo principal da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, criada 
pelo Ministério da Saúde, em 2009, é enfraquecer a resistência masculina à medicina, já que, 
segundo a portaria Nº 1944, os indicadores e os dados básicos de saúde demonstram que os 
coeficientes de mortalidade masculina são maiores em relação aos coeficientes de mortalidade 
femininos ao longo das idades do ciclo de vida. Os diferenciais de indicadores de mortalidade 
entre os sexos mostram uma situação de saúde desfavorável para os homens, da qual precisa ser 
considerada e enfrentada pelos serviços de saúde. 
Portanto, as ações educativas permitem que os homens brasileiros tenham mais acesso 
à informação e à saúde com cuidado direcionado, dissipando o pensamento retrógado que os 
desorientam e os tornam aprisionados pelo próprio preconceito. Como é evidenciado pelo artigo 
“A percepção do enfermeiro da estratégia saúde da família sobre a saúde do homem”. 
Tal artigo demostra a importância que a PNAISH promoveu na maneira de tratar e 
acolher os homens nos serviços de saúde. Porém, relata como fragilidade a necessidade de 
investimento para divulgação dessa política para a população e para os profissionais. 
Associa-se a ausência dos homens ou sua invisibilidade a uma característica da 
identidade masculina relacionada a seu processo de socialização. Nesse caso, a identidade 
masculina estaria associada à desvalorização do autocuidado e à preocupação incipiente com a 
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saúde. Por outro lado, afirma-se que, na verdade, os homens preferem utilizar outros serviços 
de saúde, como farmácia ou pronto-socorro, que responderiam mais objetivamente às suas 
demandas. (FIGUEIREDO, 2005). 
Gomes, Nascimento e Araújo (2007) afirmam que vários estudos constatam que os 
homens, em geral, padecem mais de condições severas e crônicas de saúde do que as mulheres 
e também morrem mais do que elas, sendo associado esse fato à própria socialização dos 
homens, em que o cuidado não é visto como uma prática masculina. 
A doença é considerada um sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como 
inerentes à sua própria condição biológica, assim o homem se julga invulnerável, o que acaba 
por contribuir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais às situações de risco 
(BRASIL, 2009). 
A portaria nº1944, na qual institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do 
Homem no SUS, tem como um dos objetivos promover a melhoria das condições de saúde da 
população masculina brasileira, acarretando na diminuição de morbidade e mortalidade dessa 
população. Para tanto, articula-se ações no enfrentamento racional dos fatores de risco, a 
facilidade ao acesso às ações e aos serviços de assistência integral à saúde. 
Os artigos “Avaliação da política de atenção integral à saúde do homem” e “Dinâmica 
de trabalho das equipes de saúde da família no cuidado ao homem” demostram que os serviços 
de saúde não parecem adequados para a população masculina, uma vez que os profissionais 
fragmentam a assistência e não trazem benefícios à população. 
Logo, levanta-se a hipótese das baixas taxas da população masculina na atenção primária 
à saúde estarem ligadas as dificuldades na prestação de serviços de saúde aos homens. Como 
forma de melhoria, sugere-se a associação da Política Nacional de Atenção Básica com a 
PNAISH, já que as unidades básicas de saúde são porta de entrada do homem ao sistema de 
saúde. 
Além disso, os serviços públicos costumam ser percebidos como um espaço 
feminilizado, frequentado, principalmente, por mulheres e composto por uma equipe de 
profissionais formada, em sua maioria, também, por mulheres. Essa situação provocaria nos 
homens a sensação de não pertencimento àquele espaço (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 
2007). 
Nesse sentido, uma primeira questão a ser debatida, para que a rede de unidades básicas 
de saúde amplie seu foco de atenção também para a população masculina, diz respeito à 
identificação das necessidades de saúde dos homens; o reconhecimento dessas necessidades – 
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percebidas principalmente na procura de cuidados pelos usuários – é um aspecto importante 
para organização das ações de saúde. Tal objetivo implica a discussão de estratégias que podem 
ser consideradas pelos serviços para um melhor acolhimento das necessidades em saúde dos 
homens (FIGUEIREDO, 2005). 
O reconhecimento de que os homens adentram o sistema de saúde por meio da atenção 
especializada tem como consequência o agravo da morbidade pelo retardamento na atenção e 
maior custo para o SUS. Com o fortalecimento e qualificação da atenção primária, haverá maior 
probabilidade de garantia a promoção da saúde e a prevenção dos problemas evitáveis; sendo 
assim, muitos agravos podem ser evitados caso os homens realizassem, com regularidade, as 
medidas de prevenção primária. A resistência masculina à atenção primária aumenta não 
somente a sobrecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico e 
emocional do paciente e de sua família na luta pela conservação da saúde e por uma melhor 
qualidade de vida (BRASIL, 2009). 
Essa qualificação deve iniciar com os gestores do SUS, em virtude dos mesmos 
compreenderem melhor a PNAISH e coordenarem com adequação as ações dessa política, 
como salienta o artigo “Política nacional de atenção integral a saúde do homem: visão dos 
gestores do SUS”. Além da necessidade de investimentos para implantação e consolidação da 
PNAISH. 
Por outro lado, a recente implantação do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e 
da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), deixa uma lacuna quanto identificação de 
problemas, definição de estratégias de intervenção e mudança de realidades, visto que todo o 
processo nacional é bastante complexo, dispendioso e exaustivo, tanto para as equipes de 
atenção básica que são avaliadas quanto para a as equipes de avaliadores. 
 De acordo com Figueiredo (2005), homens argumentam não procurar as unidades 
básicas de saúde, por estas não disponibilizarem programas ou atividades direcionadas 
especificamente para a população masculina, ou seja, existe carência entre as necessidades de 
saúde voltada para o âmbitomasculino e as organizações das práticas de saúde das unidades de 
atenção primária, sendo que o estudo sobre esta questão na literatura é escasso. 
Em busca de literatura acerca da PNAISH e atenção primária à saúde, verifica-se a pouca 
produção cientifica sobre o assunto. Cogita-se a possibilidade das ações preconizadas pela 
PNAISH serem pouco divulgadas por pesquisadores e docentes, como demostra o artigo 
“Produção científica, ações profissionais e atenção à saúde do homem: revisão integrativa”. O 
que demostra a necessidade de avaliar esta política em vários âmbitos: tanto na atenção 
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primária, secundária e terciária, quanto por vários pontos de vista, seja dos usuários, dos 
gestores e dos profissionais de saúde. Além da necessidade de estimular o interesse de 
pesquisadores na área da saúde do homem. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O desafio a ser lançado para a atenção primária é estudar e colocar em prática a Política 
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, para que seja modificada a realidade 
vivenciada pela população masculina. 
 Desta forma será possível aumentar a visibilidade das necessidades específicas da 
população masculina, compreendida em um contexto sociocultural, produzir ações efetivas para 
o cuidado da saúde masculina e propagar experiências eficazes. 
Verificou-se que existem falhas no atendimento, na qualidade das demandas e respostas 
assistenciais. Além de demonstrar a necessidade da produção científica quanto à assistência à 
saúde masculina. 
Os serviços básicos de saúde, ainda, são considerados pouco aptos em absorver a 
demanda apresentada pelos homens, pois sua organização não estimula o acesso. 
O estudo permitiu compreender que a criação da política foi crucial para o início da 
modificação na maneira de tratar e acolher os homens nos serviços de saúde; porém, ainda há 
necessidade de se investir na divulgação dessa política tanto para a população quanto para os 
profissionais. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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pesqui. cuid. fundam. (Online), v.7, n.2, abr.-jun. 2015. 
 
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v.5, n3, p. 1844-1854, dez. 2015. 
 
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princípios e diretrizes. 1. ed. Brasília, 2009. 
Brazilian Journal of health Review 
 
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2009. Institui no âmbito do Sistema Único de Saúde, a Política Nacional de Atenção Integral à 
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FIGUEIREDO, W. Assistência à saúde dos homens: um desafio para os serviços de atenção 
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GOMES, R.; NASCIMENTO, E. F. do; ARAÚJO, F. C. de. Por que os homens buscam 
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