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Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3021 Os desafios na inserção do homem nos serviços de saúde da atenção primária The challenges in the insertion of man in health services in primary care DOI:10.34119/bjhrv3n2-141 Recebimento dos originais: 05/03/2019 Aceitação para publicação: 08/04/2020 Aline Brito Nunes Enfermeira Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará–UECE, Instituição: Universidade Estadual do Ceará–UECE Endereço Institucional: Avenida Dr. Silas Munguba, 1700 – Itaperi, Fortaleza – CE, Brasil. E-mail: enfermagemalinebrito@gmail.com Idenilce Coelho da Silva Matos Enfermeira Mestranda em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará–UECE, Instituição: Universidade Estadual do Ceará–UECE Endereço Institucional: Avenida Dr. Silas Munguba, 1700 – Itaperi, Fortaleza – CE, Brasil. E-mail: idenilcecoelho@yahoo.com.br Manoel Wladner Marques de Souza Enfermeiro Especialista em Auditoria de Sistemas de Saúde Público e Privado pelo Instituto de Educação e Tecnologias–INET Endereço Institucional: Rua Barão do Rio Branco, s/n - Centro, Fortaleza – CE, Brasil. E-mail: akiwladner@yahoo.com.br Lucilane Maria Sales da Silva PhD em Enfermagem na Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro–UFRJ Instituição: Universidade Estadual do Ceará–UECE Endereço Institucional: Avenida Dr. Silas Munguba, 1700 – Itaperi, Fortaleza – CE, Brasil. E-mail: lucilanemaria@yahoo.com.br Maria Verônica Sales da Silva Doutora em Enfermagem Saúde Comunitária pela Universidade Federal do Ceará–UFC. Instituição: Av. Antônio Justa, 3161 - Meireles, Fortaleza - CE, Brasil. E-mail: versalles57@hotmail.com RESUMO No ano em que o Sistema Único de Saúde (SUS) completa vinte e um anos, o Ministério da Saúde estabelece como prioridade a proteção à população jovem e adulta masculina, lançando a Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem (PNAISH). Este estudo objetiva analisar as dificuldades da população masculina de se inserir nos serviços de atenção primária à saúde. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa e descritiva. A coleta das informações se deu por meio da revisão de artigos pesquisados nas bases de dados BDENF. Foram identificados 06 artigos que atendem aos critérios de inclusão e que foram publicados Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3022 entre 2016 e 2017. Com base na análise de conteúdo, observa-se que os serviços de saúde não parecem adequados para a população masculina, pois os profissionais fragmentam a assistência e não trazem benefícios à população. Conclusão: o estudo permitiu compreender que a criação da política foi crucial para que se iniciasse uma modificação na maneira de tratar e acolher os homens nos serviços de saúde; porém, ainda há necessidade de se investir na divulgação dessa política tanto para a população quanto para os profissionais. Palavras–chave: Saúde do homem, atenção primária à saúde, política de saúde. ABSTRACT In the year in which the Unified Health System (SUS) turns twenty-one, the Ministry of Health establishes as a priority the protection of the young and adult male population, launching the National Policy for Integrated Attention to Men's Health (PNAISH). This study aims to analyze the difficulties of the male population in inserting themselves in primary health care services. It is a bibliographic research, of a qualitative and descriptive nature. The information was collected through the review of articles researched in the BDENF databases. 06 articles were identified that meet the inclusion criteria and were published between 2016 and 2017. Based on the content analysis, it is observed that health services do not seem adequate for the male population, as professionals fragment care and do not bring benefits to the population. Conclusion: the study made it possible to understand that the creation of the policy was crucial in order to initiate a change in the way of treating and welcoming men in health services; however, there is still a need to invest in disseminating this policy to both the population and professionals. Keywords: Men's health, primary health care, health policy. 1 INTRODUÇÃO Segundo Gomes e Nascimento (2006), apesar da saúde masculina ser bastante discutida atualmente, diferente de tempos anteriores, ainda, assim, é pouco abordada se comparado com a saúde da mulher. Somente na década de 70, nos Estados Unidos, os estudos acerca da saúde do homem tiveram destaque. Nos anos 90, a temática em questão começou a ser abordada sob uma perspectiva diferenciada, focalizando na ressignificação do masculino para buscar a saúde integral do homem. No ano em que o Sistema Único de Saúde (SUS) completa vinte e um anos, o Ministério da Saúde estabelece como prioridade a proteção à população jovem e adulta masculina, lançando a Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem (PNAISH), desenvolvida em parceria entre os gestores do SUS, sociedades científicas, sociedade civil organizada, pesquisadores, acadêmicos e agências de cooperação internacional. Os tempos mudaram e o sistema de saúde observou que o modelo básico de atenção aos quatro grupos populacionais – crianças, adolescentes, mulheres e idosos – não é suficiente para tornar o país mais saudável, principalmente porque deixa de fora nada menos do que 27% da Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3023 população: os homens de 20 a 59 anos de idade que no Brasil são, até o ano de 2009, nada menos que 52 milhões de indivíduos que são, na prática, pouco visibilizados ainda nas estratégias políticas de atenção à saúde (BRASIL, 2009). Ao longo das duas últimas décadas, pesquisadores de diferentes campos disciplinares buscam entender os riscos diferenciados de adoecimento e morte para homens e mulheres. O foco específico na relação homem e saúde vem ocorrendo, nos últimos anos, tanto nos meios acadêmicos quanto no âmbito dos serviços de saúde. Incluir a participação do homem nas ações de saúde é, no mínimo, um desafio por diferentes razões; razões estas que aos poucos vem fazendo do homem o foco de estudos acerca do processo saúde-doença desses sujeitos (SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005). Nesse sentido, este estudo tem por objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a saúde do homem na atenção primária, analisar as dificuldades da população masculina de se inserir nos serviços de atenção primária à saúde e buscar na literatura a vivência da política de atenção integral à saúde do homem na atenção primária. Segundo Schraiber et al. (2010), nas perspectivas de seus modelos de masculinidade, os homens muitas vezes assumem um comportamento considerado pouco saudável, sendo assim, considerados comportamentos de risco. Associadas a isso se encontram fortalecidas suas dificuldades de verbalizar as próprias necessidades de saúde, pois falar de seus problemas de saúde pode significar uma possível demonstração de fraqueza. São a partir dessas considerações que serão trabalhadas questões de prevenção e de promoção de saúde masculina, a fim de incluir o homem no debate sobre saúde, já que a proposição da Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem é de qualificar a saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integridade da atenção. De acordo com Carrara, Russo e Faro (2009), do ponto de vista da história das políticas de saúde voltadas a “populações específicas”, pode-seconsiderar a recente criação, pelo Ministério da Saúde brasileiro, de um Programa de Saúde do Homem como um momento significativo no longo e paradoxal processo que se desenrola em torno da medicalização do corpo masculino. Não se pode dizer que, ao longo do último século, médicos e sanitaristas não tenham percebido que algumas prerrogativas de gênero fazem dos homens seres humanos especialmente perigosos (e em perigo) do ponto de vista da saúde pública, fazendo do Brasil o segundo país da América que tem um setor para a saúde do homem, pois até então somente o Canadá. Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3024 Diante da percepção da saúde do homem como uma problemática atual de saúde pública, consideramos ser de grande relevância compreender as questões envolvidas no seu acesso aos serviços de saúde e, a partir dessa perspectiva, se intencionou analisar as explicações presentes em discursos masculinos sobre a procura ou não dos homens por atendimentos na atenção básica, sendo essa análise importante para se refletir sobre as dificuldades associadas à saúde da população masculina. 2 METODOLOGIA O presente artigo de natureza bibliográfica, aborda e descreve as dificuldades identificadas pela população masculina para se inserir na atenção primária à saúde. Busca-se, a partir das evidências obtidas em publicações científicas, oferecer, de forma simplificada e compreensiva, alguns pontos a respeito do assunto. O conteúdo do presente artigo origina-se de pesquisa eletrônica na base de dados do Banco de Dados em Enfermagem - BDENF, das quais foram levantados artigos científicos publicados nos últimos dois anos em Português, com texto completo disponível. Os descritores utilizados para a localização dos artigos foram: saúde do homem, atenção primária à saúde, política de saúde. A busca foi realizada pela associação entre os descritores. Os critérios de exclusão adotados foram: artigos publicados antes de 2015, artigos não publicados em periódicos indexados na base de dado supracitado, artigos com idiomas diferentes do Português. Foram selecionados os estudos cujos conteúdos dos resumos relacionam-se com o objetivo da presente pesquisa. Com base nos critérios de inclusão e de exclusão, foram selecionados 06 artigos para discussão e composição desse estudo. Como forma de categorização dos dados, optou-se pela análise dos seguintes aspectos: tipo de estudo, problema, objetivo e conclusão. Os artigos apresentados, sistematicamente, seguem a ordem alfabética. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com o Ministério da Saúde, se faz necessário um fortalecimento da qualificação na atenção primária, para garantir a promoção da saúde e a prevenção dos problemas evitáveis (BRASIL, 2009). Nesse sentido, buscou-se na literatura artigos envolvidos diretamente com a saúde do homem na atenção primária. A tabela a seguir apresenta o resultado dessa pesquisa. Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3025 Tabela 01- Resultados da busca na base de dados BDENF e seleção de artigos pertinentes Título Problema Objetivo Conclusão A percepção do enfermeiro da estratégia saúde da família sobre a saúde do homem Conhecer a percepção dos profissionais de enfermagem sobre o atendimento aos homens Analisar a percepção do enfermeiro da Estratégia Saúde da Família sobre a saúde do homem A criação da PNAISH foi crucial para a modificação na maneira de tratar e acolher os homens nos serviços de saúde; porém, há necessidade de investimento na divulgação dessa política para a população e para os profissionais Avaliação da política de atenção integral à saúde do homem Nas práticas de saúde existe o cumprimento dos princípios e diretrizes da Política de Atenção Integral a Saúde do Homem? Avaliar a Política de Atenção Integral a Saúde do Homem no município de São Luís -Maranhão A organização, execução e utilização dos serviços de saúde para o homem não parecem adequados. A PNAISH deve estar pactuada com a Política Nacional de Atenção Básica, já que as unidades básicas de saúde são porta de entrada do homem ao sistema de saúde. Dinâmica de trabalho das equipes de saúde da família no cuidado ao homem Abordar a concepção dos profissionais de saúde acerca da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) Descrever a dinâmica de trabalho das equipes de saúde da família no cuidado ao homem Os profissionais da PNAISH fragmentam a assistência e não trazem benefícios à população Política nacional de atenção integral a saúde do homem: visão dos gestores do SUS Analisar a visão dos gestores do SUS quanto a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) Conhecer como está a implantação da PNAISH sob a ótica dos gestores do SUS em 15 municípios do oeste de Santa Catarina, no sul do Brasil. Evidencia-se a necessidade de capacitar os gestores do Sistema Único de Saúde e de diversos investimentos para implantação e consolidação da PNAISH na realidade pesquisada. Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3026 Produção científica, ações profissionais e atenção à saúde do homem: revisão integrativa Quais ações voltadas para saúde do homem são desenvolvidas ou propostas por profissionais? Identificar características das publicações na área da saúde abordando a atenção à saúde do homem e discutir ações voltadas à saúde do homem diante da PNAISH Apesar das ações serem preconizadas pela PNAISH, ainda são pouco divulgadas por pesquisadores e docentes. Programa nacional de melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica: questões a problematizar Descrever o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) Refletir sobre o PMAQ-AB como estratégia atual de avaliação dos serviços de atenção básica utilizada pelo Ministério da Saúde Apesar de sua recente implantação (2011), o PMAQ-AB encontra-se em seu segundo ciclo, o que é considerado muito precoce, visto que todo o processo nacional é bastante complexo, dispendioso e exaustivo, tanto para as equipes de atenção básica que são avaliadas quanto para as equipes de avaliadores. Além disso, é um tempo demasiadamente curto para identificação de problemas, definição de estratégias de intervenção e mudança de realidades. Fonte: Dados da pesquisa, 2018 Segundo o Ministério da Saúde, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem afirma que o grande desafio de uma política voltada para os homens é mobilizar a população masculina brasileira para a luta pela garantia de seu direito social à saúde. Para tanto, a política em questão pretende politizar e sensibilizar homens para o reconhecimento e a enunciação de suas condições sociais e de saúde para que advenham sujeitos protagonistas de suas demandas, consolidando seu exercício e gozo dos direitos de cidadania (BRASIL, 2009). Após a criação da PNAISH, a população masculina brasileira passou a ter reforços para o direito à saúde, no entanto muitos empecilhos surgiram em meio a esta conquista, como por exemplo os obstáculos que permeiam a procura e o atendimento prestado nos espaços de atenção à saúde. Também permitiu um novo olhar sobre as políticas específicas e as reais necessidades da população masculina, haja vista que os dias atuais faz do homem um sujeito importante nas novas políticas assistenciais. Brazilian Journal ofhealth Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3027 Segundo Schraiber et al. (2005), nas perspectivas de seus modelos de masculinidade, os homens, às vezes, assumem um comportamento considerado pouco saudável, sendo assim, considerados comportamentos de risco. Associado a isso se encontram fortalecida as dificuldades de verbalizar as próprias necessidades de saúde, pois falar de seus problemas de saúde pode significar uma possível demonstração de fraqueza; são a partir dessas considerações que serão trabalhadas questões de prevenção e de promoção de saúde masculina, a fim de incluir o homem no debate sobre saúde, já que a proposição da Política Nacional de Atenção Integrada à Saúde do Homem é de qualificar a saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integridade da atenção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca algumas publicações direcionadas às especificidades da saúde masculina. Na primeira publicação, defende-se uma abordagem específica para os rapazes nas ações da área de saúde, porque as principais causas da mortalidade de homens, em geral, relacionam-se com a forma de sua socialização; a segunda publicação da OMS se propõe a estabelecer uma base para que políticas e estratégias voltadas para os homens em processo de envelhecimento sejam desenvolvidas (GOMES; NASCIMENTO, 2006). O objetivo principal da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, criada pelo Ministério da Saúde, em 2009, é enfraquecer a resistência masculina à medicina, já que, segundo a portaria Nº 1944, os indicadores e os dados básicos de saúde demonstram que os coeficientes de mortalidade masculina são maiores em relação aos coeficientes de mortalidade femininos ao longo das idades do ciclo de vida. Os diferenciais de indicadores de mortalidade entre os sexos mostram uma situação de saúde desfavorável para os homens, da qual precisa ser considerada e enfrentada pelos serviços de saúde. Portanto, as ações educativas permitem que os homens brasileiros tenham mais acesso à informação e à saúde com cuidado direcionado, dissipando o pensamento retrógado que os desorientam e os tornam aprisionados pelo próprio preconceito. Como é evidenciado pelo artigo “A percepção do enfermeiro da estratégia saúde da família sobre a saúde do homem”. Tal artigo demostra a importância que a PNAISH promoveu na maneira de tratar e acolher os homens nos serviços de saúde. Porém, relata como fragilidade a necessidade de investimento para divulgação dessa política para a população e para os profissionais. Associa-se a ausência dos homens ou sua invisibilidade a uma característica da identidade masculina relacionada a seu processo de socialização. Nesse caso, a identidade masculina estaria associada à desvalorização do autocuidado e à preocupação incipiente com a Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3028 saúde. Por outro lado, afirma-se que, na verdade, os homens preferem utilizar outros serviços de saúde, como farmácia ou pronto-socorro, que responderiam mais objetivamente às suas demandas. (FIGUEIREDO, 2005). Gomes, Nascimento e Araújo (2007) afirmam que vários estudos constatam que os homens, em geral, padecem mais de condições severas e crônicas de saúde do que as mulheres e também morrem mais do que elas, sendo associado esse fato à própria socialização dos homens, em que o cuidado não é visto como uma prática masculina. A doença é considerada um sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como inerentes à sua própria condição biológica, assim o homem se julga invulnerável, o que acaba por contribuir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais às situações de risco (BRASIL, 2009). A portaria nº1944, na qual institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem no SUS, tem como um dos objetivos promover a melhoria das condições de saúde da população masculina brasileira, acarretando na diminuição de morbidade e mortalidade dessa população. Para tanto, articula-se ações no enfrentamento racional dos fatores de risco, a facilidade ao acesso às ações e aos serviços de assistência integral à saúde. Os artigos “Avaliação da política de atenção integral à saúde do homem” e “Dinâmica de trabalho das equipes de saúde da família no cuidado ao homem” demostram que os serviços de saúde não parecem adequados para a população masculina, uma vez que os profissionais fragmentam a assistência e não trazem benefícios à população. Logo, levanta-se a hipótese das baixas taxas da população masculina na atenção primária à saúde estarem ligadas as dificuldades na prestação de serviços de saúde aos homens. Como forma de melhoria, sugere-se a associação da Política Nacional de Atenção Básica com a PNAISH, já que as unidades básicas de saúde são porta de entrada do homem ao sistema de saúde. Além disso, os serviços públicos costumam ser percebidos como um espaço feminilizado, frequentado, principalmente, por mulheres e composto por uma equipe de profissionais formada, em sua maioria, também, por mulheres. Essa situação provocaria nos homens a sensação de não pertencimento àquele espaço (GOMES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007). Nesse sentido, uma primeira questão a ser debatida, para que a rede de unidades básicas de saúde amplie seu foco de atenção também para a população masculina, diz respeito à identificação das necessidades de saúde dos homens; o reconhecimento dessas necessidades – Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3029 percebidas principalmente na procura de cuidados pelos usuários – é um aspecto importante para organização das ações de saúde. Tal objetivo implica a discussão de estratégias que podem ser consideradas pelos serviços para um melhor acolhimento das necessidades em saúde dos homens (FIGUEIREDO, 2005). O reconhecimento de que os homens adentram o sistema de saúde por meio da atenção especializada tem como consequência o agravo da morbidade pelo retardamento na atenção e maior custo para o SUS. Com o fortalecimento e qualificação da atenção primária, haverá maior probabilidade de garantia a promoção da saúde e a prevenção dos problemas evitáveis; sendo assim, muitos agravos podem ser evitados caso os homens realizassem, com regularidade, as medidas de prevenção primária. A resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a sobrecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família na luta pela conservação da saúde e por uma melhor qualidade de vida (BRASIL, 2009). Essa qualificação deve iniciar com os gestores do SUS, em virtude dos mesmos compreenderem melhor a PNAISH e coordenarem com adequação as ações dessa política, como salienta o artigo “Política nacional de atenção integral a saúde do homem: visão dos gestores do SUS”. Além da necessidade de investimentos para implantação e consolidação da PNAISH. Por outro lado, a recente implantação do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), deixa uma lacuna quanto identificação de problemas, definição de estratégias de intervenção e mudança de realidades, visto que todo o processo nacional é bastante complexo, dispendioso e exaustivo, tanto para as equipes de atenção básica que são avaliadas quanto para a as equipes de avaliadores. De acordo com Figueiredo (2005), homens argumentam não procurar as unidades básicas de saúde, por estas não disponibilizarem programas ou atividades direcionadas especificamente para a população masculina, ou seja, existe carência entre as necessidades de saúde voltada para o âmbitomasculino e as organizações das práticas de saúde das unidades de atenção primária, sendo que o estudo sobre esta questão na literatura é escasso. Em busca de literatura acerca da PNAISH e atenção primária à saúde, verifica-se a pouca produção cientifica sobre o assunto. Cogita-se a possibilidade das ações preconizadas pela PNAISH serem pouco divulgadas por pesquisadores e docentes, como demostra o artigo “Produção científica, ações profissionais e atenção à saúde do homem: revisão integrativa”. O que demostra a necessidade de avaliar esta política em vários âmbitos: tanto na atenção Brazilian Journal of health Review Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 2, p. 3021-3032 mar/abr. 2020. ISSN 2595-6825 3030 primária, secundária e terciária, quanto por vários pontos de vista, seja dos usuários, dos gestores e dos profissionais de saúde. Além da necessidade de estimular o interesse de pesquisadores na área da saúde do homem. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O desafio a ser lançado para a atenção primária é estudar e colocar em prática a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, para que seja modificada a realidade vivenciada pela população masculina. Desta forma será possível aumentar a visibilidade das necessidades específicas da população masculina, compreendida em um contexto sociocultural, produzir ações efetivas para o cuidado da saúde masculina e propagar experiências eficazes. Verificou-se que existem falhas no atendimento, na qualidade das demandas e respostas assistenciais. Além de demonstrar a necessidade da produção científica quanto à assistência à saúde masculina. Os serviços básicos de saúde, ainda, são considerados pouco aptos em absorver a demanda apresentada pelos homens, pois sua organização não estimula o acesso. O estudo permitiu compreender que a criação da política foi crucial para o início da modificação na maneira de tratar e acolher os homens nos serviços de saúde; porém, ainda há necessidade de se investir na divulgação dessa política tanto para a população quanto para os profissionais. REFERÊNCIAS ADAMY, E. K.; TRINDADE, L. de L.; TEIXEIRA, D. C. ; BRAMBILLA, D. K.; GALLI, K. B. Política nacional de atenção integral a saúde do homem: visão dos gestores do SUS. Rev. pesqui. cuid. fundam. (Online), v.7, n.2, abr.-jun. 2015. AGUIAR, R. S.; SANTANA, D. C; SANTANA, P. C. A percepção do enfermeiro da estratégia saúde da família sobre a saúde do homem. Revista enfermagem do Centro Oeste Mineiro, v.5, n3, p. 1844-1854, dez. 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. 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