Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 Tatiane Pacheco de Mattos Doutoranda e Mestre em Educação (PPGEduc/UFRRJ 2018; 2022), especialista em Política de Promoção a Igualdade Racial na Escola (UFRRJ, 2016), especialista em História da África e do Negro no Brasil (UCAM, 2015), especialista em Gestão Integrada (ISEAC, 2013), graduada em Pedagogia (UNINTER, 2018), graduada em Educação Física (UNIABEU, 2006). Tem atuado em todos os níveis da Educação Básica e na Educação Superior com questões pedagógicas relacionadas aos campos da Educação Física e da Pedagogia, inclusive, nas dimensões da modalidade EaD, das relações étnico-raciais e das demandas infantis que envolvem o desenvolvimento psicomotor, bem como das demandas juvenis, dentre as suas perspectivas e desafios JOGOS E BRINCADEIRAS 1ª edição Ipatinga – MG ANO 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza Perboyre Campos Taisser Gustavo de Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS ....................................................................... 7 1.1 O PENSAMENTO FILOSÓFICO SOBRE O CORPO ............................................... 7 1.2 EPISTEMOLOGIA DA PALAVRA PSICOMOTRICIDADE ..................................... 13 1.3 PSICOMOTRICIDADE E SUAS ÁREAS ................................................................ 16 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................... 21 PSICOMOTRICIDADE E AS CONCEPÇÕES DE IMAGEM DO CORPO ......................................................................................................... 25 2.1 PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM NEUROFISIOLÓGICA ............................ 25 2.2 PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA ............................. 29 2.3 PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM RELACIONAL ......................................... 31 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................... 34 PRINCÍPIOS E CONCEITOS BÁSICOS DA ÁREA DE DESENVOLVIMENTO MOTOR ......................................................... 38 3.1 PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL DE LURIA ...................................................... 38 3.2 SEGUNDA UNIDADE FUNCIONAL DE LURIA ..................................................... 41 3.3 TERCEIRA UNIDADE FUNCIONAL DE LURIA ...................................................... 44 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................... 48 DESENVOLVIMENTO MOTOR E DESENVOLVIMENTO HUMANO ... 52 4.1 CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR ...................................... 53 4.2 ABORDAGEM DO MOVIMENTO REFLEXO, DO MOVIMENTO RUDIMENTAR E AS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO .......................................... 55 4.3 ABORDAGEM DO MOVIMENTO FUNDAMENTAL, DO MOVIMENTO ESPECIALIZADO E AS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO ...... 58 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................... 63 APRENDIZAGEM MOTORA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ..................... 67 5.1 PRESSUPOSTOS DE PIAGET, WALLON E VIGOTSKY .......................................... 67 5.2 A EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO FUNDAMENTAL I .................................. 71 5.3 ENSINO FUNDAMENTAL II E ENSINO MÉDIO .................................................... 77 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................... 83 EDUCAÇÃO, MOVIMENTO, DIVERSIDADE E INCLUSÃO............... 87 6.1 AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS ....................................................................... 87 6.2 AS RELAÇÕES DE GÊNERO ................................................................................ 93 6.3 AS RELAÇÕES PARA A INCLUSÃO .................................................................... 95 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................. 100 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: LAZER E RECREAÇÃO ................. 105 7.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 105 7.2 UMA ABORDAGEM HISTÓRICA (LAZER, RECREAÇÃO E LUDICIDADE) ........ 105 7.3 PERSPECTIVAS SOCIAIS ................................................................................... 110 7.4 MARCADORES LEGAIS DO LAZER: DIÁLOGO ENTRE A CF/88 E OS ESTATUTOS .......................................................................................................................... 112 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 UNIDADE 06 UNIDADE 07 6 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................. 117 LAZER E RECREAÇÃO NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO 123 8.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 123 8.2 O LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO HUMANO .............................................. 123 8.3 A RELAÇÃO ENTRE A ESCOLA E O LAZER ...................................................... 125 8.4 RECREAÇÃO COM BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS ..................................... 127 8.5 O LAZER E A RECREAÇÃO NO PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ................... 132 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................. 136 AS DIVERSAS TEORIAS DO JOGO ................................................ 140 9.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 140 9.2 O PAPEL DO JOGO E DO LAZER NA INCLUSÃO SOCIAL .............................. 140 9.3 OJOGO SOB AS PERSPECTIVAS DE FROEBEL ................................................ 143 9.4 O JOGO SOB AS PERSPECTIVAS DE BRUNER ................................................. 145 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................. 148 OS TIPOS DE JOGOS E PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ............ 153 10.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 153 10.2 JOGOS ARTÍSTICOS: ARTES PLÁSTICAS, TEATRO E MÚSICA.......................... 153 10.3 JOGOS DESPORTIVOS ..................................................................................... 156 10.4 JOGOS EXPRESSIVOS: DANÇA ....................................................................... 158 10.5 O JOGO NO PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ................................................ 160 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................. 163 LAZER E RECREAÇÃO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA . 167 11.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 167 11.2 O LAZER E A RECREAÇÃO NA TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ........... 167 11.3 LAZER E RECREAÇÃO: ESPAÇOS PÚBLICOS E PRIVADOS E EQUIPAMENTOS .......................................................................................................................... 169 11.4 LAZER E MEIO AMBIENTE ................................................................................. 172 11.5 QUEM É O PROFISSIONAL HABILITADO? ........................................................ 176 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................. 179 PLANEJAR E AVALIAR: AÇÕES NECESSÁRIAS PARA UM EVENTO ....................................................................................................... 184 12.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 184 12.2 POR QUE PLANEJAR?....................................................................................... 184 12.3 PARA QUÊ AVALIAR? ...................................................................................... 187 12.4 ATIVIDADES RECREATIVAS .............................................................................. 190 FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................. 196 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO .................................... 200 REFERÊNCIAS................................................................................. 202 UNIDADE 08 UNIDADE 09 UNIDADE 10 UNIDADE 11 UNIDADE 12 7 PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS Nesta Unidade vamos fazer as primeiras aproximações, entre você e o título da disciplina, indo ao encontro do pensamento filosófico a.C, onde já se existia uma discussão entre o corpo e a alma/mente; não obstante, vamos avançar até a idade moderna, buscando compreender como o movimento do cientificismo contribui para a construção do conhecimento contemporâneo sobre a psicomotricidade e suas áreas de atuação. Nesta direção, você já deve ter percebido que o conteúdo em questão, em grande medida, está comprometido com a visão ocidental. Não temos o objetivo que trazer uma verdade única, mas sim, compartilhar um lado da história para ampliar o seu arcabouço teórico. Esperamos que o seu espírito pesquisador promova novas formações acadêmicas. 1.1 O PENSAMENTO FILOSÓFICO SOBRE O CORPO Você deve está se perguntando: Será mesmo possível compreender a psicomotricidade a partir do pensamento filosófico? Sim... é um bom início de partida, pois como sabemos, o pensamento grego antes de Cristo (a.C) é dividido em fases, sendo as primeiras caracterizadas pela ideia do culto ao corpo, entre o cuidado, a estética e a sua força física. Daniach (2019) acrescenta que a prática de exercícios, também era tida “como meio de formação intelectual, moral e espiritual” (p. 13). Afinal, quem não se lembra dos incríveis textos literários que imprimem os feitos heroicos e de guerras, a exemplo, o exército de Esparta durante a guerra de Tróia, anunciada com grande bravura nos poemas de Homero, relatados em nossas aulas de história ou nos filmes da sessão da tarde? Mas será que esses personagens da mitologia de fato existiram? Bem, segundo Aranha e Martins (1997) há controvérsias se de fato existiram, já Soares e Pichler (2008) arriscam dizer que apesar da incerteza, há afirmações de que Homero UNIDADE 8 teria vivido durante a segunda metade do século VIII a.C, Jônia, uma colônia da Grécia localizada a época na Ásia Menor. É importante fazer este marco de espaço e tempo, para pensarmos o quanto esta cultura impacta na sociedade contemporânea e na educação física. Queremos levantar dois pontos para elucidar esta afirmação: 1. Observe a imagem que representa a Educação Física, também, adotada como símbolo do respectivo Conselho Regional: Fonte: CREF1 (2021, online) O símbolo adotado pelo Conselho representa o corpo em ação, baseado na escultura esculpida por Miron no século V a.C. (ROCHA, 2020). A imagem permanece no imaginário coletivo e instituído onde recebemos de forma direta e indiretamente a informação de cuidado com o corpo, o que implica no segundo ponto: 2. Este imaginário instituído vem modelando por tempos a sociedade, deixando marcas até os dias de hoje, inclusive, representado nos métodos de ensino da educação física, expressos nas tendências pedagógicas da educação física no Brasil. Mas destacamos que a relação corpo e mente, eram compreendidas como intrínseca, ou seja, nas palavras de Daniachi (2019) “um corpo somente alcançaria sua plenitude se estivesse harmonizado com a mente” (p. 14), por isso quero chamar a sua atenção para o pensamento filosófico Socrático (V e IV a.C) que não deixou conceber a ideia da promoção do corpo saudável, articulando-o com a alma. A tríade Sócrates, Platão e Aristóteles, é fundamental para a compreensão da relação corpo e mente, contudo, destaco estes dois últimos, apesar de termos Figura 1: Discóbolo de Mirón 9 grande estima com Sócrates, o mesmo suscitava questões mais voltadas para o campo da moral, justiça etc, contribuindo para o pensamento de Platão e Aristóteles. Platão (428-347 a.C), discípulo de Sócrates (469-399 a.C), vê o corpo como um elemento separado da alma, ou seja, defendia a dicotomia entre estes elementos, e como forma de afirmar tal tese, anunciava que a alma vive em um outro plano, sendo imortal, ou seja, “ela sempre existiu e sempre vai existir”, já o corpo, “ é mortal” (VASCONCELOS, 2012, p. 29) mas estes são ligados pelo o que chamamos de medula (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2002). A imortalidade da alma a faz transitar em muitos corpos, e por Platão acumular estudos sobre a anatomia do corpo, emite preocupação com a boa condição física dos corpos, pois na fala de Vasconcelos (2012) “o corpo serve de prisão para a alma” (p. 29), e como forma de cuidar destes dois elementos, orientava a prática da atividade física e da música (DANIACHI, 2019). Para o filósofo, o conhecimento pode ser compreendido por: a) sensível, obtido pelos sentidos de cunho subjetivo; b) intelectual, considerado legítimo e verdadeiro, podendo ser representados pelos conceitos de doxa (opinião) e episteme (ciência), onde devemos fazer a passagem da primeira para a segunda. Em direção oposta, Aristóteles (384-322 a.C) discípulo de Platão, apresenta um importante pensamento sobre esta dicotomia. Rompeu com a ideia de seu mestre e apresenta a alma e o corpo como elementos indissociáveis, refutando a concepção de uma realidade com mundo separado. É importantedestacar que: A teoria aristotélica valoriza em certa medida o corpo. Para Aristóteles, corpo e alma estão unidos em um vínculo de dependência recíproca, isto é, para existirem, um depende dos outros. Os apetites do corpo, portanto, devem ser satisfeitos, pois a saúde e o vigor do corpo contribuem também para a saúde e o vigor da alma (VASCONCELOS, 2012, p. 31). Percebam que ainda há um intenso zelo pelo corpo saudável. Embora tenhamos lido perspectivas diferentes, temos aí como aspecto comum, desde o início do capítulo, a valorização do corpo. Mas Aristóteles vai além, retomando o discurso de Platão, reforça a necessidade da “ciência como conhecimento verdadeiro, conhecimento pelas causas, capaz de superar os enganos da opinião” (ARANHA; MARTINS, 1997, p. 97). Aristóteles, aqui, me parece um homem afrente do seu tempo, 10 suas discussões e defesas não permaneceram estanques. O pensamento filosófico da Antiguidade sofreu críticas no período da Idade Média, mas não vamos adentrar neste período devido a poucas contribuições dadas aos estudos sobre o corpo, tendo em vista que o mesmo era considerado sagrado e , elemento da religiosidade. Adentraremos, assim, no cientificismo, elemento propulsor na Educação Física, principalmente nos estudos das propriedades do corpo, partindo de uma imagem emblemática do Renascimento científico. A imagem, Figura 2, rompe com a concepção de corpo sagrado e demonstra interesses na anatomia e fisiologia humana. Guilhermett (1990) atribui essa nova especulação aos interesses da nova sociedade em composição, neste sentido, a Educação Física se torna veículo importante na Educação. Fonte: Fazer história (2017, online) A educação passa a pregar ao longo da modernidade os preceitos científicos e racionais, onde temos em destaque as contribuições de René Descartes pela corrente filosófica do racionalismo, que baseava-se pela lógica da razão, mas avança com as concepções de Immanuel Kant (1724-1804), onde pontua que o conhecimento envolve sempre o relacionamento entre sujeito e objeto (VASCONCELOS, 2012). Observe que há sob o olhar de Kant a ação do homem, o que nos leva a concluir a necessidade do movimento, manipulação e experiência para a aprendizagem. No entanto, queremos chamar a atenção para um nome importante Figura 2: O Renascimento Científico 11 relacionado a este período, que oportuniza um grande salto para a fisiologia do corpo, é Francis Bacon. Segundo a SHIRAYAMA (2016), o filósofo que agregava as contribuições de Platão e Aristóteles, foi um dos pioneiros que promoveram as mudanças nos métodos e práticas científicas, grande defensor do método indutivo, pois como os demais, buscava uma verdade absoluta, por meio da observação, experiência e hipóteses. Foi neste período que a Educação Física foi instituída como disciplina na escola, recebendo contribuições de Vittorino da Feltre onde foi equiparada às disciplinas intelectuais, não se excluindo, claro, a prática de exercícios físicos. (SANTOS, 2006; DANIACHI, 2019). Sendo assim, uma importante ferramenta de dominação do corpo na dimensão de uma sociedade capitalista, frente aos modelos de produção que necessitava de um corpo mecânico e fabril, que por sua vez, reforça a dualidade entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, conforme avalia Silva e Haetinger (2013): Frente a essa perspectiva de intervenção direta sobre o corpo, com o objetivo de normatizá-lo e classificá-lo de acordo com as necessidades dos modos de produção de determinada sociedade, que a Psicomotricidade, no contexto capitalista, é uma das áreas que muito tem colaborado para a sistematização de saberes e técnicas corporais, amplamente utilizados e expandidos pelas instituições educacionais, fato que explicita sua organicidade com o modo de produção de nossa sociedade (p. 8). O pensamento moderno contribuiu muito para o atual campo escolar, mas hoje, é visto como uma concepção impopular na Educação Física, as tendências mais progressistas têm sido acolhidas para um processo educacional democrático, incumbindo a disciplina de tornar o aluno um sujeito participante na sociedade. Veja como a disciplina é compreendida a luz da Base Nacional Comum Curricular: O movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo. Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos alunos a (re) construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma confiante e autoral na sociedade. É fundamental frisar que a Educação Física oferece uma 12 série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas, que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica dos saberes científicos que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na escola (BRASIL, 2017, p. 215). Foi possível compreender a nova concepção de educação física instituída para os dias atuais. Uma disciplina aberta ao diálogo, que considera o aluno como sujeito histórico-cultural, participativo e criativo, superando o caráter arraigado, perfeitamente compreendido visto o contexto histórico e político. Decerto muitas conquistas vieram, devido à uma agenda de reivindicações, todavia, ainda, não é possível considerar que atravessamos a linha de chegada, pois a todo tempo, mais e mais pessoas se tornam filósofas, nasce um há um novo estudo, uma nova pesquisa e sempre está na hora do recomeço. 13 1.2 EPISTEMOLOGIA DA PALAVRA PSICOMOTRICIDADE Na unidade anterior foi possível compreendermos como a relação corpo e alma (mente) vem sendo concebida ao longo da história, o que é condição fundamental para caminharmos em direção ao conceito de psicomotricidade. Para tanto, é necessário recorrermos à compreensão do seu significado, do seu contexto da sua implementação, bem como os seus principais teóricos. Na busca etimológica da palavra psicomotricidade percebemos que esta é uma palavra híbrida, ou seja, é constituída por elementos de origens diferentes. Conforme anuncia Fonseca (2012), psichê, é uma palavra grega, significa alma, e moto, palavra em latim, significa movimentar-se. Neste sentido, a palavra mente é colocada no mesmo campo semântico de alma. Sendo assim, conseguimos definir psicomotricidade como uma palavra que representa a integração entre o movimento e a mente, ou melhor, a integração do movimento com o seu intelecto onde coadunam em prol de um objetivo, que neste caso, nos referimos à aprendizagem. Para esta literatura, avançaremos por vias da modernidade, a qual deu à psicomotricidade o status de ciência, no entanto, não deixaremos de inferir sobre a dualidade corpo e mente, deixada como dogma pelo pensamento de Rene Descartes. Partiremos de um novo paradigma, o mesmo que contribuiu em grande medida para os nossos referenciais teóricos. Este conceito destaca-se no campo da neurofisiologia durante o século XIX e na neuropsiquiatria no século XX, ganhando espaço com Ernest Dupré, quando inicia estudos na França, em 1911 no campo da debilidade motora, instabilidade psicomotora, distúrbios tônicos,tiques, ou seja, uma série de situações que envolvem a organização do cognitivo, a organização motora, não obstante, a dimensão afetiva. (ARAÚJO, 1992). O trabalho de Dupré, sendo um dos pioneiros, abriu portas para novos estudos acerca da psicomotricidade. Teremos como direção para o nosso percurso, os pressupostos europeus como 14 o de Wallon, Piaget e Ajuriaguerra, bem como de Vygostky como contraponto russo, que é melhor examinado na Unidade 5. Enquanto isso, vamos tomar como ponto de partida para a definição conceitual o entendimento do Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação (ISPE), o qual considera dois grandes teóricos neste campo de pesquisa, Julian Ajuriaguerra e Vitor da Fonseca. Ajuriaguerra (apud ISPE, 2019).é um teórico do século XX que considera a psicomotricidade “como ciência da saúde e da educação, [...], ela visa a representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo”. Conclui-se, então, que a ação é resultado da relação intrínseca entre corpo e mente em um movimento intencionado, veja: A criança descobre o mundo dos objetos por meio do movimento e da visão; mas sua descoberta de objetos só será frutífera quando ele for capaz de pegar e largar, quando tiver adquirido o conceito de distância entre ele e o objeto manipulado, e quando isso não mais fizer parte da sua atividade corporal simples e indiferenciada (AJURIAGUERRA, 1996, p. 212, tradução nossa) Nesta perspectiva, podemos considerar que a criança constrói seu aprendizado por sua manipulação aos objetos, sendo a sua experiência condicionada a tal virtude. A visão citada pelo autor pode ser compreendida como a percepção, a qual vai gerar a intencionalidade de experienciar determinado objeto. Mas percebam que o aprendizado é constante. A criança abandona determinado objeto por já ter adquirido habilidades e se tornado “independente”, no entanto, o aprendizado ocorre ao longo da vida, tendo em vista que estamos constantemente atravessando desafios, que nos requer, sempre novos conhecimentos. É importante lembrarmos que este aprendizado não ocorre de forma isolada, em etapas separadas, e sim, de maneira harmoniosa e sincrônica, não podendo definir qualquer nível hierárquico entre corpo e mente. Retomando a outra perspectiva apontada pelo ISPE (2019), uma segunda definição dada à psicomotricidade é apontada por Fonseca: A Psicomotricidade visa privilegiar a qualidade da relação afetiva, a mediatização, a disponibilidade tônica, a segurança gravitacional e o controle postural, à noção do corpo, sua lateralização e direcionamento e a planificação práxica, enquanto componentes 15 essenciais e globais da aprendizagem e do seu ato mental concomitante (apud ISPE, 2019). Temos, aqui, situações imbricadas, que reforçam a ideia de sintonia corpo e mente, sendo este último considerado por Fonseca (2008; 2018), o psiquismo, lócus, onde se reúnem os desejos, medos, fantasias, sensações que se relacionam à afetividade. Refere-se, ainda, a motricidade como resultado desta reunião entre corpo e mente que implica a questão tônica, desencadeando a ação intencionalizada, ou seja, esse complexo de conceitos é força motriz para o movimento do corpo, que vai requerer que tenhamos a consciência sobre este. Neste sentido, a psicomotricidade entra em cena, pois vai ser base para a educação do corpo no espaço, tornando este corpo consciente. No entanto, a psicomotricidade marca sua presença no Brasil somente na metade no século XX, em defesa da relação intrínseca entre o cognitivo, a motricidade e o psiquismo, atualizando as concepções do corpo onde paulatinamente, passou-se da era do corpo neurológico, isolado e do movimento condicionado para a era do movimento consciente, no qual o próprio indivíduo, pelo ato voluntário, é levado a colaborar para a sujeição de seu corpo. Nessa perspectiva, a Psicomotricidade do segundo período, descrita por Le Camus, constituiu-se como a ciência do esquema corporal ou, como prefere este autor, do corpo consciente (SILVA, HAETINGER (2013, p.21). As concepções apontam que aprendemos por meio da vivência, experiência e envolvimento entre o sujeito e o objeto, em defesa da proposta do corpo consciente. Essas ideias, por sua vez, são recebidas nas diferentes áreas do campo da Psicomotricidade: estimulação, educação, reeducação e terapia, as quais serão objetos de aprendizagem em seguida. 16 1.3 PSICOMOTRICIDADE E SUAS ÁREAS Na seção anterior, observamos que os conceitos dados à psicomotricidade perpassam diferentes compreensões, mesmo havendo aspectos muito comuns, os aspectos individuais vão ao encontro da pesquisa de cada autor e a sua atuação, demonstrando não haver um consenso ou uma definição estática sobre a psicomotricidade. Sendo assim, constata-se que há diferentes linhas que defendem este campo, entretanto, vamos afunilar nossos olhares para, apenas, quatro áreas: estimulação, educação, reeducação e terapia psicomotora, pois compreendemos estas como as principais, dando conta da questão preventiva e de intervenção terapêutica. A seguir, abordaremos cada uma destas áreas, ao longo da seção e vamos perceber o quanto as áreas estão imbricadas, como um processo espiral, considerado, também, como sequencial por Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) que defendem que o desenvolvimento motor segue uma aprendizagem progressiva conforme os aspectos biológicos e interação do sujeito com o ambiente. 17 Começando pela infância, podemos afirmar que este é um período vital para o desenvolvimento da criança. É nesta etapa que tomamos consciência do corpo e formamos a sua personalidade, sendo a fase de muitas descobertas no mundo externo, o que justifica a mesma ser estimulada, principalmente quando a criança está no início da vida, onde suas experiências exigem o movimento do corpo. Para Bueno (2014) é necessário um programa lúdico que possa assistir a criança de forma que desperte e desabroche os seus movimentos, destacando como estimulação essencial, o qual reitero sua importância devido ao um processo complexo entre o sistema nervoso central e sistema nervoso periférico, compreendido pela lei céfalo-caudal e lei próximo-distal que se desenvolve cada vez mais a partir da exploração das potencialidades da criança. Sobre a colocação do autor, inferimos, ainda, que a criança nesta fase da vida encontra-se na creche, espaço formal que leva em conta estas considerações, havendo profissionais com funções específicas. Mas não se pode entender a estimulação como exclusiva da escola, este programa “informal” também, pode ser promovida pela instituição mais próxima, a família, onde se há o primeiro contato com o mundo externo. Como Bueno (2014), percebemos a estimulação muito associada à educação psicomotora, onde vai além da educação infantil, chegando ao ensino fundamental. Neste segundo contexto, para o autor a educação psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança e do sujeito, processando-se por etapas progressivas e específicas conforme o desenvolvimento geral de cada indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da vida através de percepções vivenciadas, como uma intervenção direta em nível cognitivo, motor e emocional, estruturando o indivíduo como um todo. A educação passa pela facilitação das condições naturais e prevenção de distúrbios corporais (p. 352). Ao mencionar um desenvolvimento progressivo e específico, e a atenção a prevenção de distúrbios corporais, levamos em consideração os limites que confere à cada grau de maturação natural, ou seja, ficando explícito ao nosso entendimento que este contexto é implicado às crianças que se encontram sem acometimentos que impossibilitama sua frequência regular a escola, todavia, não é possível fechar a educação psicomotora em si mesma, pois vamos ver até o final desta seção que ela contribui para as outras áreas. Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) destacam que nesta fase escolar, 18 competências básicas são desenvolvidas pelo menos até os 7 anos de idade e as competências de maior complexidade, pelo menos até os 12 anos, o que coaduna com as perspectivas de Le Boulch: “a educação psicomotora deve ser considerada como uma base na escola elementar, ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares e escolares” (1981, apud BUENO, 2014, p, 353). Diante da defesa dos autores, relacionamos a educação psicomotora como uma ação preventiva de distúrbios motores. Mas no caso em que a criança apresenta perturbações e distúrbio psicomotores, ausência de domínio sobre o corpo, recorremos à área de reeducação. Silva e Haetinger (2013, p. 11) apontam que é “retomar as vivências anteriores com falhas ou as fases de educação ultrapassadas inadequadamente. Em termos gerais, reeducar significa educar o que o indivíduo não assimilou adequadamente em etapas anteriores”. Sendo assim, é um trabalho que propõe organizar os aspectos psicomotores da criança, - tonicidade, equilíbrio, lateralidade, esquema corporal, estruturação espaço-temporal, praxia fina e global -, considerando as expectativas gerais para a harmonia do corpo. Segundo Fonseca (2008, p. 59), “os processos motores exigem o concurso de representações mentais”, logo, tais acometimentos impactam no déficit de aprendizagem, o que provavelmente justifica-se em grande medida problemas na escrita, a exemplo, uma escrita espelhada. Para auxiliar na observância de tais perturbações e distúrbios nos aspectos psicomotores, além das atividades lúdicas propostas, Fonseca (2012) propõe a implementação da Bateria Psicomotora (BPM), sendo “um dispositivo diferente das escalas de desenvolvimento motor. Um conjunto de tarefas que permite detectar déficits funcionais” (p. 127). Este modelo requer a observação na execução dos movimentos da criança, onde se permite sugerir atividades de reeducação, que atentam para ações diretivas e não diretivas, não se confundindo com a terapia psicomotora, entretanto, este instrumento será explorado no capítulo 3. Na área terapêutica há grande preocupação com duas dificuldades, as relacionais, que implicam em aspectos psicológicos, como a agressividade, timidez excessiva, etc. e as funções estruturais que desarmonizam os movimentos do corpo. Para o trabalho terapêutico se requer a construção de uma relação dialógica pela interlocução afetiva entre a criança/adulto e o terapeuta, distinguindo-se da reeducação psicomotora, e vivências corporais (BUENO, 2014). 19 A atuação nesta área vai exigir uma formação sólida em muitos componentes curriculares, além da paciência devido não ser possível predizer o tempo de terapia, pois, leva-se em consideração o tempo da criança/adulto de manifestar-se, atentando a todo tempo para não ocasionar um bloqueio da parte assistida. A terapia pode ocorrer de maneira individual e também, em grupo. Bueno (2014) considera que a evolução pode caminhar para um trabalho de reeducação e posteriormente, de educação. As áreas que apresentamos são bem interessantes e apresentam-se promissoras. Em 2003 a Câmara dos Deputados recebe o Projeto de Lei nº 795 que dispõe sobre a regulamentação da atividade profissional de Psicomotricista e autoriza a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Psicomotricidade, que após amplamente analisada pelas Comissões de Seguridade Social e Família, Trabalho, Administração e Serviço Público, Constituição e Justiça e de Cidadania, diante de muitos vetos, é publicada na Lei nº 13.794/2019, podendo exercer a função além dos graduados em Psicomotricidade, os pós-graduados nas áreas de saúde ou de educação, desde que possuam, em quaisquer dos casos, especialização em Psicomotricidade (BRASIL, 2019). 20 21 FIXANDO O CONTEÚDO 1. O pensamento filosófico é fundamental para a compreensão da relação corpo e mente nos tempos de hoje. Desde a Antiguidade estes elementos são pautas de muitas reflexões. Dentre estas reflexões, temos: I - Para Aristóteles, o corpo é compreendido como um elemento separado da alma, habitando em outro plano, devendo o corpo ser bem cuidado, apesar de sua mortalidade. II- Para Aristóteles o corpo é visto de forma indissociável da alma, que ao nutrir o corpo, estará nutrindo a alma. III- Platão, apesar, de conceber o corpo um elemento separado da alma, considerava a medula como um elo de ligação entre estes dois elementos. Os itens que são considerados verdadeiros, são: a) I, II e III b) II e III c) Apenas III d) Apenas I e) Apenas II 2. Como na Antiguidade, o Renascimento científico buscava pela verdade, entretanto, fundamentado em uma série de estudos sobre as propriedades do corpo baseado no método indutivo, distante da concepção metafísica. Neste sentido, teve como precursor _______, que desenvolveu um importante método pautado na observação, coleta de informações, levantamento de hipóteses e comprovação por experiências. O filósofo que preenche a lacuna corretamente é: a) Immanuel Kant b) Rene Descartes c) Platão joser Realce 22 d) Francis Bacon e) Aristóteles 3. (Professor de Educação Física – UFSC/UFSC, adaptada) considerando os pressupostos da BNCC e sobre o papel da Educação Física no contexto de uma escola democrática, deve-se: A alternativa que corresponde ao enunciado é: a) Reduzir o corpo a um artefato mecânico sobre o qual deve imprimir gestos motores visando à superação individual. b) Preparar o aluno para o exercício da cidadania, conformando-o com seu papel no estrato social na busca pelo sucesso. c) Preparar o aluno para o exercício da cidadania, mostrar as possibilidades e oferecer condições de participação nas instâncias sociais. d) Tematizar práticas corporais sob o viés do liberalismo, reproduzir as desigualdades sociais e educar o corpo para suportá-las. e) Reduzir o corpo a um artefato mecânico e privilegiar os gestos motores de determinadas manifestações da cultura corporal dominante, como os esportes e as lutas. 4. As quatro áreas da psicomotricidade: estímulo, educação, reeducação e terapia psicomotoras possuem zonas que se encontram, todavia, é preciso perceber os espaços fronteiriços que existem entre as suas respectivas especificidades. Observamos, então, que a __ busca retomar “as vivências anteriores com falhas ou as fases de educação ultrapassadas inadequadamente” (BUENO, 2014, p. 356), com um trabalho focado nos aspectos psicomotores da criança. Considerando o exposto, a alternativa que preenche a lacuna corretamente é: a) Educação psicomotora b) Psicomotricidade c) Estimulação psicomotora d) Terapia psicomotora joser Realce joser Realce 23 e) Reeducação psicomotora 5. (Professor de Educação Física, PMS-PA/IMA, adaptada) Diante de diferentes concepções ao longo da história sobre o corpo, na atualidade, entende-se que: Marque a alternativa que corresponde a concepção de Corpo em Educação Física. a) Máquina Biológica que agrupa órgãos e partes capazes de produzir funcionamento e movimento. b) Estrutura de movimento mecânico que conservar e agrupa um conjunto de órgãos e reações químicas, capazes de proporcionar; movimento, pensamento, sentimento. c) O Corpo é o próprio ser; que pensa, sente, se movimenta e funciona a partir da própria atividade corporal, relaciona ao funcionamento do organismo, como um todo. d)É o conjunto formado por Estrutura Mecânica e Funcional que permite o funcionamento e movimento do organismo. e) Todas as alternativas estão corretas. 6. (Professor de Educação Física - PM JI-PARANÁ - RO/FUNCAB, adaptado) O corpo hábil com o propósito de servir ao contexto político, é concebido na escola. Neste sentido, o esporte caracteriza-se como um fenômeno cultural de fortes vínculos com a lógica do sistema capitalista. Marque a alternativa que relaciona as suas práticas com as considerações acima: A) Lazer, recreação e ludicidade. B) Divertimento, inclusão e participação. C) Rendimento, performance e produtividade. D) Educação, aprendizagem e reflexão. E) Cooperação, semicooperação e solidariedade. joser Realce joser Realce joser Realce 24 7. Fonseca (2012) propõe a implementação da bateria psicomotora (BPM), sendo esta, composta por testes que requerem a observação na execução de alguns movimentos da criança. A BPM possui um caráter objetivo e pode ser considerada um instrumento de avaliação ______. Marque a alternativa que corresponde à lacuna: a) De reeducação psicomotora b) De terapia psicomotora c) De estimulação psicomotora. d) De educação psicomotora e) De aprendizagem psicomotora. 8. A psicomotricidade no Brasil tem sua presença mais intensa no campo escolar a partir de 1950, pois os estudos já relacionavam a relação entre o cognitivo, a motricidade e o psiquismo. Esta concepção do corpo é considerada: a) Corpo hábil b) Corpo neurológico c) Corpo dinâmico d) Corpo consciente e) Corpo estático joser Realce joser Realce 25 PSICOMOTRICIDADE E AS CONCEPÇÕES DE IMAGEM DO CORPO Nesta Unidade abordamos a concepção sobre o corpo, por três vertentes: a neurofisiologia, que segue uma análise mecânica do movimento desde o córtex até a contração da musculatura; a fenomenologia, que aponta o aprendizado e conhecimento como resultado das associações do que é percebido e vivido pelo sujeito histórico; e por último, a relacional que também volta-se para o corpo vivido, porém acentua o corpo como veículo e comunicação com o mundo, demonstrando pela sua espontaneidade o que o cerca no mundo interno. 2.1 PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM NEUROFISIOLÓGICA Com temos acompanhado, há uma relação muito íntima entre corpo e mente, e para exemplificar, lembre-se das vezes em que foi fazer uma self. Queremos ilustrar de forma simples, que a ação só foi possível de ser iniciada devido à sua intenção, a de fazer a self. O braço que foi suspenso voluntariamente é resultado da integração entre o Sistema Nervoso Central (SNC) e o Sistema Nervoso Periférico (SNP), em um sistema complexo que será simplificado didaticamente pela Figura 3, para demonstrar o percurso do movimento coordenado. Erro! Fonte de referênci a não encontra joser Realce joser Realce joser Realce 26 Fonte: Esquema elaborado pela autora com imagens de Brain made simple , Santos e OCW (2019; 2021; 2009, online). A sequência no esquema elaborado demonstra que na intenção de realizar o movimento coordenado, ativamos a área do córtex. O córtex se programa a partir do límbico com as informações sensoriais relevantes e o desejo motor. Fairbrother (2012) nos lembra que que temos 6 fontes de informações sensoriais: a visão, a audição, o equilíbrio, o tato, a propriocepção e por último, a cinestesia, que apesar da hierarquia, trabalham de forma integrada. Tais informações servirão para o planejamento do gesto motor e a sua avaliação do controle, considerando início, meio e fim, dando sequência à ativação do córtex motor. O estímulo lançado pelo córtex motor ativa o potencial de ação, ou seja, são lançados os impulsos nervosos para a musculatura, e em paralelo, encaminha também para o cerebelo a projeção do movimento. Assim, o cerebelo recebe duas informações, a real, que está em execução e a informação intencionada, para o estado do movimento, fazendo a correção e o refinamento, sempre que necessário pelo feedback (FONSECA, 2012; FONSECA, 2008; MAGILL, 2000). Agora, imagine que a prática de fazer selfs tenha feito com que você aprendesse o movimento coordenado (por repetição), a partir disso, ao realizar tal movimento, você recorrerá aos engramas, pulando a etapa do planejamento, tendo apenas a seção de programação e execução. Magill (2000) aponta que engramas são as memórias automáticas que adquirimos com o treinamento, você já executa Figura 3: O Movimento Voluntário Coordenado 27 uma ação, o movimento coordenado, sem consciência. Como menciona Magill (2000), em primeiro momento, as unidades motoras são os elementos a serem controlados, e que em nível mais elevado, a musculatura passa a ser o elemento a ser que precisa ser controlado na execução do movimento. Neste sentido, podemos explicar este controle por duas dimensões: sistema de controle de circuito aberto e sistema de controle de circuito fechado, como mostra a Figura 4. Fonte: MAGILL (2000, p. 40). Cada sistema de controle (aberto/fechado) possui o seu centro de controle do movimento com importante função, “gerar e enviar comando de movimento aos executores, que no ser humano são os músculos e as articulações envolvidas na execução do movimento desejado” (MAGGIL, 2000, p. 40). No sistema aberto há todas as informações que são relevantes para que a realização do movimento planejado, sem interferência do feedback. Neste caso o feedback não é necessário, embora, esteja disponibilizado, ou não tenha sido requisitado ao curto tempo de duração do movimento. O comando é enviado e o movimento é realizado independendo de novas informações sensoriais (MAGIL, 2000). Em colaboração, Fairbrother (2012) diz que Figura 4: Controle Do Movimento Coordenado 28 a informação criada pelo movimento não alcança o executor a tempo de ser utilizada durante o movimento; portanto o “circuito” permanece aberto. Ao planejar com antecedência um movimento discreto rápido, criamos o que se denomina programa motor, um conjunto de comandos pré-estruturados que específica o padrão de movimento a ser executado. Ainda utilizamos a informação sensorial controle sem feedback, porém a usamos antes e não durante o movimento. Por exemplo, usamos a visão para avaliar a distância de que necessitamos para bater na bola de golfe e a direção que precisamos batê-la. (p. 60). Veja que esta avaliação não interfere na correção do movimento de maneira direta. Já no sistema fechado o feedback é requisitado, sendo as mensagens enviadas pelos receptores sensoriais para o centro de controle, com o objetivo iniciar e dar continuidade, bem como de fazer a correção do movimento, como ocorre no termostato de ar condicionado, que capta as informações para ajustar a programação registrada (MAGILL, 2000). Logo, a execução do movimento coordenado é dependendo de novas informações sensoriais. 29 2.2 PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA Para abordarmos a imagem do corpo pela concepção fenomenológica, é imprescindível ressaltar Edmund Husserl, intitulado pai da fenomenologia, o qual tem relevantes estudos no campo abstrato entre ideias e pensamentos. Para Husserl “a consciência é intencional, assim a intencionalidade pode ser entendida como o que a mente conhece e registrou como característica da experiência de vida”, fazendo associações que se reverberam em suas convicções e pensamentos (DUARTE; CALDIN, 2019, p. 320). Perceba que sua perspectiva é transcendental, porém, é mantida no campo do idealismo. Não obstante, é necessário destacar Merleau-Ponty(1999), teórico que amplia a concepção, trazendo uma realidade mais concreta, se distanciando do plano das reflexões. Colocando o corpo como interlocutor das ideias e da percepção deste. Sendo a percepção e a experiência o pilar para a construção do conhecimento, preconizando-se para a essência. O fato de suspender pensamento e convicções permite o movimento ser colocando em de dialogo com o mundo, onde se obtém as experiências reais, servindo de base para o seu desenvolvimento motor e cognitivo. Neste sentido, é possível trazer como elementos da fenomenologia, “as essências, o caráter intencional da consciência, os objetos como coisas tanto reais quanto ideais, a percepção que cada um tem de suas experiências” (DUARTE; CALDIN, 2019, p. 317). Tais experiências concretas possuem valor singular, ou seja, é relacionada à percepção de cada um, daí encontramos a essência citada, todavia, não podemos considerá-la um mundo privado, ao contrário, é na relação com o outro que é construída. A interação é fundamental para que o sujeito possa se perceber e compreender o que se revela, atribuindo significados. Como menciona Merleau- Ponty (1999, 569) “é comunicando-nos com o mundo que indubitavelmente nos comunicamos com nós mesmos. Nós temos o tempo por inteiro e estamos presentes a nós mesmo por que estamos presentes no mundo”. Assim, Merleau-Ponty (1999) reverencia o corpo pela perspectiva de corpo 30 próprio, corpo vivido e corpo consciente. Ou seja, apresenta um corpo que não é algo engessado e que nem se esgota na observação de plano cartesiano. Ao contrário, é sensível, com intencionalidades e encarnado, que se relaciona com o mundo e se estende a ele, onde é capaz de aprender não somente sobre si. Uma ideia de corpo que transcende a objetividade e a concepção a-histórica. Em contribuição, Le Boulch (1987) aponta que “a criança delimita seu “corpo próprio” do mundo dos objetos através da ação e da aquisição das praxias. Daí a importância de permiti-lhe a confrontação global com o mundo dos objetos”. Nesta direção, “o esquema corporal é, portanto, a base fundamental da função de ajustamento e o ponto de partida necessário de qualquer movimento” (p. 176-177). Em uma concepção em que Merleau-Ponty (1999) considera o corpo respondende ao em torno pelo movimento intencional, colocando os dois elementos em condição indissociável, corpo e a realidade do mundo externo, concluímos, portanto, que a fenomenologia é ligada à subjetividade, tendo em vista que a percepção das coisas são sensíveis à variáveis como, espaço, ocasião, etc. Sendo assim, chamamos a atenção para a necessidade de refletir sobre o que nos cerca. A privação das experiências também diz muito sobre este conhecimento em construção e desenvolvimento, estendemos as nossas provocações à construção do conhecimento em meio a desigualdade social. 31 2.3 PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM RELACIONAL A abordagem relacional tem um sentido muito peculiar para compreender a psicomotricidade. Datada como destaque na década de 1970 com André Lapierre, teórico francês, passou por outros conhecimentos para chegar aos achados que vamos apresentar. Segundo Gusi (2020), sua teoria é mergulhada nas concepções de Henri Wallon, pioneiro nos estudos do século XX, que parti em defesa de um olhar de afetividade ao corpo. Esta perspectiva tem busca pelas limitações de aprendizagem cognitiva, relacional e motora que as crianças apresentam. Gusi (2020) apresenta a teoria com intima relação a questão simbólica, permitindo observar aspectos importantes em suas limitações. Pensando no campo do simbolismo, destacamos a espontaneidade da criança como elemento base no desenvolvimento da teoria psicomotora relacional, pois demonstra o que é sentido, e o que não é pronunciado por muitos motivos, sendo em nossas percepções, mais comuns, a timidez e a agressividade, que trazem consequências ao desenvolvimento. A psicomotricidade relacional consiste em possibilitar espaços de liberdade para a criança, propícios aos jogos e às brincadeiras, fazendo com que, por meio deles, a criança manifeste seus conflitos e consiga compreendê-los. No campo educacional, esta ferramenta serviria de prevenção contra o surgimento de distúrbios emocionais, motores e de comunicação, que geralmente são entraves para a aprendizagem (LEITE, 2019, p. 89). Neste contexto, devemos criar oportunidades da criança se manifestar, oferecer espaço e materiais. A observação se faz importante. Perceber o que se revela ou o que se esconde, traz a tona ricas informações. Essa perspectiva é totalmente contrária aos mecanismos de repressão, como o apelo ao silêncio e ao imobilismo, que se escondem no discurso da disciplina. O que não quer dizer que não 32 há regras, porque elas existem. Conviver com o outro e dividir os espaços, exigem regras. Em concordância com Mastrascusa (2012), vemos a linguagem como “basicamente corporal, em que o participante “fala” por meio da sua expressão corporal espontânea, por suas atitudes, imobilidades, agitação, mímicas, olhar, tônus, respiração, suas aproximações e distanciamentos, seus atos” (p. 56). A comunicação verbal não é privilegiada nesta abordagem, pois arriscamos em concluir que a comunicação verbal poderia induzir a reprodução de gestos ou ações, enquanto o que se busca com o método, também é a promoção da autonomia. Esta concepção de psicomotricidade permite estimular as capacidades e potencialidades apresentadas como meio de propor novas aprendizagens, por exemplo, o conceito de direita e esquerda; de em cima e embaixo, atentando para um olhar que supere as limitações da criança. Neste sentido, nada mais coerente que o psicomotricista relacional fique atento e sensível para perceber as demandas dos alunos e direcionar atividades livres e dirigidas que vão ao encontro das respectivas necessidades. Leite (2019) vai além, apresenta nuances de uma psicomotricidade relacional que tem uma prática além de educativa, mas preventiva e terapêutica. Essa perspectiva se diferencia do que Bueno (2014) apresenta ao situar as áreas do psicomotricista, - estimulação, educação, reeducação e terapia -. Para Lapierre, segundo Mastrascusa (2012) a área de atuação é atravessada por concepções do Real, do Simbólico e do Imaginário de Lacan, reunindo assim, releituras da discussão de Bueno (2014) Há uma profunda preocupação com o aparelho psíquico da criança, entre consensos e dissensos nas teorias dos psicanalistas Freud e Lacan, a psicomotricidade relacional busca trazer para fora o que se colocado como fantasma para a criança. A criança adquire confiança, o que, impacta diretamente no seu desenvolvimento motor e cognitivo. 33 34 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Um estudante, ao correr para pegar o ônibus avistou uma bolsa de lama, e para dar continuidade à ação, fez uma rápida mudança no movimento. A mudança no movimento foi possível devido ao feedback recebido das informações sensórias, demonstrando alto controle motor, porque: Marque a opção que explica a situação hipotética. a) O cerebelo atua na correção do movimento, até a aprendizagem da execução. b) Enquanto o movimento é realizado, vamos recebendo feedbacks durante toda a realização do movimento. c) O córtex límbico participa da programação fazendo o planejamento do novo movimento, mediante as informações sensoriais. d) O córtex límbico é responsável por lançar impulsos nervosos para a musculatura. e) O córtex associativo ativa o potencial de ação lançando os impulsos nervosos para a musculatura, o que colaborou para a mudança do movimento. 2. O centro de controle do movimento é o responsável pelasdecisões motoras, sendo que o __ não depende de feedbacks para a respostas motora, todavia, o __ é dependente de novos estímulos. O __ faz com que as respostas se ajustem ao ambiente. Marque a opção que completa s lacunas corretamente. a) Circuito fechado/circuito aberto/circuito aberto. b) Circuito fechado/circuito fechado/circuito aberto c) Circuito aberto/circuito aberto/circuito fechado. d) Circuito aberto/circuito fechado/circuito fechado. e) Circuito aberto/circuito aberto/circuito aberto. 3. Acerca da fenomenologia de Edmund Husserl, analise as afirmativas abaixo e marque “V" para verdadeiro e “F" para falso. joser Realce joser Realce 35 ( ) Rompe com a concepção de um corpo-objeto, reforçando a ideia de uma percepção pautada na experiência de um sujeito encarnado. ( ) A experiência perceptiva se relaciona com a experiência corporal. ( ) As concepções da fenomenologia são fundadas na perspectiva transcendental e idealista. A sequência correta de cima para baixo encontra-se em qual alternativa? a) V- V- V. b) F- V- F. c) F- V- V. d) V- F- F. e) F- F- V. 4. A percepção não é uma representação limitada ao campo das ideias, e sim um conjunto de sensações experienciadas pelo corpo. Seguindo o contexto da afirmativa apresentada, julgue a alternativa correta. a) Merleau-Ponty que defende o corpo como criador de sentidos b) Merleau-Ponty tem o entendimento de um corpo observável. c) Husserl busca o conhecimento pelas experiências corpóreas do sujeito. d) Husserl defende que o corpo não deve ser visto apenas no campo das ideias. e) Merleau-Ponty defende as experiências como forma de aprendizagem, porém, sem a necessidade do movimento. 5. (Psicomotricista – PFP/Quadrix) A psicomotricidade relacional, na perspectiva da educação, entende que a atuação se estabelece de forma mais preventiva, buscando potencializar o desenvolvimento integral das crianças, indicando e reforçando todo e qualquer aspecto positivo de sua conduta, de seu modo de ser, e trabalhando com o que há de positivo nas relações interpessoais, reforçando-as e renovando-as. Considerando essa informação, assinale a alternativa correta. joser Realce joser Realce 36 a) A relação entre a escola e a psicomotricidade dependerá das condições socioeconômicas. b) Sendo o corpo o primeiro meio disponível e utilizado para se entrar em contato com o conhecimento, a aprendizagem passa a ter uma inter-relação intrínseca com a motricidade. c) Todas as condições usadas na psicomotricidade escolar servem para os diferentes lócus de aplicação da psicomotricidade. d) As instituições escolares têm programas que identificam alunos com problema psicomotor para indicar a psicoterapia. e) As instituições de saúde pública têm programas que identificam crianças com problema psicomotor para indicar a psicoterapia. 6. (1º Tenente, PM-RJ/ CRSP, adaptada) O trabalho da psicomotricidade na vertente relacional serve de métodos não diretivos, que é a usada dentro das instituições escolares, pois usa o jogo como atividade-meio, como elemento pedagógico, propicia à criança o ato de criar, representar e usar a imaginação, porém a partir de uma ação pedagógica previamente elaborada pelo professor. São consideradas funções psicomotoras a serem desenvolvidas: I. Lateralidade; II. Esquema corporal; III. Atenção. Marque a alternativa que com os itens corretos. a) I, II. b) I, III. c) II, III. d) I. e) IIII. 7. Podemos considerar a psicomotricidade relacional como um método para que a criança se expresse. Marque a alternativa que corresponde ao método citado. a) Atividades de pintura. joser Realce joser Realce 37 b) Atividades de escrita. c) Jogo de vôlei adaptado. d) Jogo espontâneo. e) Contação de história. 8. Podemos considerar como objetivos da psicomotricidade relacional: incentivar a imaginação, a autonomia, a convivência com o próximo, ___ e ___. Marque a alternativa que corresponde às lacunas. a) Autoestima / prevenir dificuldades. b) Obediência / autoestima. c) Submissão/ prevenir dificuldades. d) Alienação/ autoestima. e) Prevenir dificuldades/ obediência. joser Realce joser Realce 38 PRINCÍPIOS E CONCEITOS BÁSICOS DA ÁREA DE DESENVOLVIMENTO MOTOR Nesta seção a proposta é apresentar a organização dos aspectos psicomotores da criança, - tonicidade, equilíbrio, lateralidade, noção corporal, estruturação espaço-temporal, coordenação motora global e coordenação motora fina -, considerando as expectativas integradas para a harmonia do corpo. Portanto, é preciso apresentá-los em paralelo à Teoria do Sistema Funcional de Luria, sendo possível ampliar os estudos no campo da neuropsicologia durante o século XX. Luria apresenta o mapeamento do cérebro, dividindo-o em três unidades funcionais, onde são relacionadas diretamente aos aspectos psicomotores, onde a primeira relaciona-se à condição de vigilância, de alerta e dos estados mentais; a segunda compromete-se com a recepção, análise e armazenamento da informação; a terceira relaciona-se com a organização da atividade consciente e a sua programação, regulação e verificação da atividade psicomotora, (FONSECA, 2012). Toda essa organização dos aspectos motores é considerada importante para o desenvolvimento da criança, sendo encontrada na BPM elaborado pele por Vitor da Fonseca, com a finalidade de observar falhas nesta organização. A seguir, vamos conhecer as três unidades em seções subsequentes, mas é importante ter a compreensão que estas estruturas complexas, trabalham de forma integrada, embora existam níveis hierárquicos entre as unidades. 3.1 PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL DE LURIA Tonicidade O desenvolvimento da criança inicia muito antes de seu nascimento, mas após sua vinda ao mundo externo, que o seu desenvolvimento tende a avançar progressivamente, inclusive a aprendizagem motora, saindo de um estágio mais simples para o complexo, ou seja, do movimento reflexo ao voluntário, em consonância com o grau de maturação. No desenvolvimento deste processo os tônus musculares é um elemento Erro! Fonte de referênci a não encontra 39 indissociável. Podemos definir este conceito como: o estado de tensão permanente dos músculos, de origem essencialmente reflexa, variável em sua intensidade, que segue as diferentes ações sinérgicas que a reforçam ou inibem e tem por função o ajustes das posturas, sendo possível distinguir, de forma semiológica, diferentes propriedades (THOMPSON, 2020, p. 94). A definição apresentada pela autora reforça a ideia de uma dinâmica que vai além de um estado de tensão permanente, sendo compreendida por estado de resistência já que somos expostas, naturalmente, pela gravidade e pelas forças que nos opomos no dia a dia, sustentando ações motoras estáticas e não estáticas. Todavia, como Ajuariguerra (1996) menciona, este processo segue uma evolução, conforme a maturação da criança. Como uma sequência, o controle postural é percebido no seu início quando o bebê mantém suas mãos fechadas, desenvolvendo-se para outros estágios, passando do engatinhar para a postura ortostática. Essa dinâmica é conhecida por Thompson (2020) como Flutuação de Tônus. Há uma compatibilidade importante entre o tônus e a dimensão emocional, requerendo um diálogo corporal, pois segundo Ajuariguerra (1996) a privação de afeto oportuniza “um atraso motor”, reverberando em outras áreas de desenvolvimento (p.217). O trabalho do tônus muscular caminha muito próximo ao outro aspecto motor, o equilíbrio, como veremos na seção seguinte. Essa aproximaçãoconsidera ambos a estarem na 1ª unidade funcional do cérebro, sendo elencados na BPM, teste elaborado por Fonseca (2012). Equilíbrio É muito provável que todos em algum momento da vida tenham brincado de estátua, e se houve algum momento em que foi preciso ficar com os pés um afrente do outro ou apenas tendo as pontas dos dedos como apoio, você possivelmente buscou muita concentração, inclusive, muscular, além de requerem bastante o equilíbrio para não perder a brincadeira. Estamos trazendo esta memória para que possamos relacionar os dois elementos. O equilíbrio em grande medida se envolve com a dimensão dos tônus musculares, pois estão colaborando para noção de eixo corporal e adoção de 40 posturas corporais, o que vai ao encontro das perspectivas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). Assim, podemos considerar o equilíbrio como uma das habilidades a ser desenvolvida para que seja capaz de sustentar o seu próprio corpo, mesmo quando é submetido a diferentes posicionamentos durante o dia a dia, ou mesmo naquela brincadeira de estátua. Ressaltamos que a criança com falha no desenvolvimento deste aspecto motor, pode gerar uma desatenção nas suas atividades, já que constantemente vai buscar uma nova posição (THOMPSON, 2020), colaborando, Neto (2002) vai considerar esse dispêndio de energia como fato gerador de estresse e ansiedade, além da fadiga. Note o quanto que em nosso cotidiano vivemos diferentes circunstâncias que exigem a habilidade do equilíbrio estático e dinâmico, que se distinguem pela imobilidade e movimentação do Centro de Gravidade (CG), respectivamente. Em contribuição, Negrine (1986) percebe que o CG se revela de forma diferente, variando entre adultos e crianças, sendo para as crianças este ponto imaginário é mais acima quando comparado a um adulto, o que vai exigir do profissional, um trabalho em prol do desenvolvimento desta estabilidade. Neste sentido, Thompson (2020) conclui, portanto, que podemos considerar que a criança já possui a habilidade de equilibrar-se quando a mesma controla o seu corpo em relação a posturas e posições. Para Fonseca (2012) a equilibração na BPM “é uma condição básica da organização psicomotora, visto que envolve uma multiplicidade de ajustamentos posturais anti-gravitícios que dão suporte a qualquer resposta motora” (p. 184-185). Thompson (2020) e Fonseca (2012) contribui para a nossa compreensão que o equilíbrio é ligado à tonicidade por, pois ambos são importantes no controle postural. 41 3.2 SEGUNDA UNIDADE FUNCIONAL DE LURIA Lateralidade Para iniciar nossas reflexões precisamos recordar das vezes que ouvimos que somos o país do futebol. É uma frase muito reproduzida, ainda mais, quando próximos de campeonatos. Entretanto, não vamos demarcar o futebol em nossas discussões, a elucidação é para demonstrar que uma cultura futebolística tão difundida, faz com que a gente chute a latinha que está no chão, ao invés de pegá- la para arremesso. Mas responda rápido: Quais dos seus pés é utilizado para chutar e por quê? A segunda pergunta é mais complicada de responder, por isso vamos explicar a lateralidade. Para tal devemos levar em conta os dois hemisférios: direito e esquerdo, os quais possuem responsabilidades diferentes, contudo, produzem uma integração harmoniosa, mesmo havendo em nós uma habilidade manual e hemisférica, como o caso da latinha. Fonseca (2012) considera que essa habilidade manual e preferência hemisférica vai tomando forma na idade escolar, onde as crianças são submetidas às estruturas prontas, majoritariamente, para destros e o perfil de quem ensina, o que 42 desestimula o desenvolvimento da ambidestria e da preferência oposta. Mas é preciso ser sensível e compreender que a predominância não se esgota nos estímulos ambientais, a condição biológica não pode ser omitida, chamado por Negrini (1986) de bagagem inata. Mesmo diante dos estímulos sociais, Negrine (1986) orienta que a criança seja exposta de maneira que consiga expressar sua preferência corporal espontaneamente. Sugerimos que observe e peça a criança pra olhar pela fechadura e contar que vê atrás da porta. O que não quer dizer que não devemos estimular os dois lados. A integração bilateral, é condição essencial ao controle postural e ao controle perceptivo-visual. “Sem esses dois lados, a lateralização como sistema funcional complexo não se diferencia”, afirma Fonseca (2012, p. 221) o que gera consequência na sua aprendizagem. Esquema corporal O esquema corporal está ligado à percepção e a consciência que a criança tem deste corpo, com as possibilidades de interagir com o meio. Para Silva e Haetinger (2013) o esquema corporal refere-se como corpo consciente, o qual acrescentamos, ainda, que este aspecto é o pilar de sustentação para as demais habilidades, bem como é o centro da formação da personalidade da criança. Em consonância com Neto (2002, p.20), “o esquema corporal é a organização das sensações relativas ao seu próprio corpo em associação com os dados do mundo exterior” Esse movimento de troca entre o mundo interno e externo vai constituindo a sua personalidade, de forma progressiva, pois o esquema corporal é desenvolvido em etapas. Seguindo Fonseca (2008), Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) e Oliveira (2020), há primeiramente, o reconhecimento das partes do corpo, em seguida, a criança tem compreensão da função, por último é quando ela sabe articular todas as partes do corpo para que possa se movimentar sem prejuízos, chegando assim, ao conceito de somatognosia: É a tomada de consciência do corpo na sua totalidade e respectivas partes, intimamente ligadas e inter-relacionadas com a evolução dos movimentos intencionais, isto é, a tomada de consciência do corpo como realidade vivida e convivida (FONSECA, 2008, p. 109) Essa tomada de consciência tem ampla relação com os aspectos 43 neurofisiológicos. Iniciada pelo córtex, a intencionalidade de execução do movimento, resulta na experiência. O acúmulo de tais experiências segue um processo didático e gradativo, para a aquisição do conhecimento sobre o corpo. Estrutura espaço temporal Imaginem se a cada vez que fossemos atravessar uma rua sem semáforo, tivéssemos que reunir uma série de fórmulas matemáticas e leis da física para verificar se estaremos atravessando com segurança. Claro, que já vivenciamos esta situação e não foi necessário elencar tantas teorias. Você saberia explicar por quê? Se formos analisar os conceitos, isoladamente, como Fonseca (2012), vamos verificar que a noção de espaço depende da visão, e a do tempo, com a audição. Dentro no nosso exemplo, a percepção visual é onde o corpo interpreta o tempo, a distância, a posição, etc., esta interpretação tem uma estreita relação entre o espaço e corpo e corpo e objeto, localizando o objeto a partir de si, o centro. Enquanto que noção temporal, não se separa da dimensão do tempo, mas volta-se para os acontecimentos. O cérebro “joga com as experiências anteriores, adapta- se às condições presentes, prediz e antecipa o futuro” (FONSECA, 2012, p. 271), apresentando a localização dos eventos no tempo, que se relaciona ao ritmo, por isso a noção temporal é mais auditiva. Estes dois conceitos, juntos, compõem a estrutura espaço temporal. Como cita Fonseca (2012, p.262), “a estruturação espaça temporal emerge da motricidade, da relação com os objetos localizados no espaço, da relação relativa que ocupa o corpo”. Nesta afirmação, conseguimos perceber como este aspecto está intimamente imbricado à lateralidade e ao esquema corporal, sendo necessário trabalhar com muita seriedade o corpo consciente para que aprendam a fazer a leitura dele no espaço e no tempo.44 3.3 TERCEIRA UNIDADE FUNCIONAL DE LURIA Coordenação motora fina e global A dimensão motora tem como elementos a coordenação motora fina e a coordenação motora global, também chamada de grossa, que podem ser sistematizadas como a coordenação dos movimentos em busca de resultados, que embora estejam na mesma dimensão, possuem aspectos particulares. Enquanto a coordenação motora fina realiza movimentos utilizando pequenos músculos, como os das mãos, dedos e pés; a outra exige a participação de grandes músculos (OLIVEIRA, 2020). Em concordância, Fonseca (2012, p. 289) aponta a coordenação motora global, intitulada também como práxia global, é relacionada à “realização e automação dos movimentos globais mais complexos” como correr, pular escalar, rolar, tornando o movimento integrado e com a harmonização do corpo, a partir do recrutamento dos músculos agonistas e antagonistas. Para o desenvolvimento da coordenação motora fina é preciso estimular o contato com os objetos, de maneira que possam manipulá-los, como picar papéis com as mãos ou pintar as unhas, recrutando pequenos músculos para a atividade especializada, manual e/ou óculo-manual. Para a ação desses dois últimos aspectos motores, é necessário que as outras 45 unidade funcionais de Luria, interajam. Veja, na Figura 5, onde é a região de cada unidade funcional: Figura 5: Unidades Funcionais de Luria Fonte: Coelho (adaptado) (2018) Ao final desta seção, esperamos que você faça a correlação entre os aspectos psicomotores, as unidades funcionais e a Figura apresentada, bem como possa compreender como é possível explorar o desenvolvimento psicomotor avaliando o Quadro síntese, abaixo, de jogos e brincadeiras, construindo variações para o exercício da profissão. 46 Quadro 1: Jogos/Brincadeiras Que Contribuem Para O Desenvolvimento Dos Aspectos Motores. Aspectos Motores Período Atividade Descrição Tonicidade 4 a 6 meses A hora da barriga Deitar o bebê em decúbito ventral sobre o colchonete e deixar os brinquedos em seu entorno, fazendo estimulação para que o bebê apoie seus cotovelos ou role para as laterais. Equilíbrio 4 a 7 anos Imitando os animais Solicitar que as crianças possam fazer a posição de determinado animal, a ser ditado, após alguns segundos, solicitar que uma das pernas seja suspensa vagarosamente, tentando manter a posição inicial. Lateralidade 4 a 12 anos O mestre mandou Os alunos deverão ouvir o comando de irem para a direita ou para esquerda. A sequência ditada deve oscilar entre as palavras e o ritmo. Esquema corporal 4 a 9 anos Balançando o esqueleto Fazer a coreografia, conforme a letra da música e a criatividade: Sacudir o esqueleto – as diferentes partes do corpo, do Quintal da Cultura. Espaço Temporal 4 a 12 anos Vôlei em dupla Em um quadrado, espaçoso, desenhado no chão, duas duplas são chamadas para jogar vôlei com balões. Cada dupla com um balão (cores diferentes). O jogador que permitir que o balão ultrapasse a linha demarcada, elimina própria dupla. Coordenação Motora Fina 3 a 5 anos Cardápio oriental Espalhar pequenos objetos no prato, em cima da mesa e pedir que os alunos retirem utilizado o conjunto de hashi com elásticos, inicialmente, para ajudar na realização do movimento de abrir e fechar Coordenação Motora Global 3 a 8 anos Percurso ao gol Os alunos deverão realizar um percurso com obstáculos de diferentes níveis, ao final, deverão chutar a bola ao gol. Fonte: Autora (2021) 47 48 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Os aspectos psicomotores foram categorizados em unidade funcionais, sendo regiões do cérebro responsáveis por determinadas funções. De acordo com a afirmativa, marque a opção que se relaciona à 1ª, 2ª e 3ª unidades funcionais respectivamente: a) Coordenação motora global, lateralidade, tonicidade. b) Tonicidade, coordenação motora fina, equilíbrio. c) Estrutura espaço temporal, esquema corporal, tonicidade. d) Equilíbrio, esquema corporal, coordenação motora global. e) Equilíbrio, esquema corporal, lateralidade. 2. (Especialista em Psicomotricidade - CFP/ QUADRIX, adaptado) A BPM de Fonseca é um instrumento que favorece a avaliação psicomotora e pode fazer parte dos processos realizados pelos psicólogos. ( ) A BPM deve ser usada para diagnosticar déficits neurológicos para diagnosticar disfunções ou lesões cerebrais. ( ) A BPM tem uma utilidade educacional por diversos profissionais, tais como educadores físicos. ( ) A BPM requer afinamentos, mas dá um suporte clínico como modelo original de observação dinâmica do potencial de aprendizagem da criança. Assinale a alternativa correta: a) V - V – V. b) F – V – V. c) F – F – V. d) F - V – F. e) V – V – F. 3. (Especialista em Psicomotricidade - CFP/ QUADRIX, adaptado) Com base nos estudos focados na educação pelo movimento, julgue os itens subsequentes. joser Realce joser Realce 49 I. O esquema corporal pode ser considerado como uma intuição de conjunto ou de um conhecimento imediato que se tem do próprio corpo, em posição estática ou em movimento, na relação de suas diferentes partes entre si, sobretudo nas relações com o espaço e os objetos que o circundam. II. O esquema corporal acontece de após a criança atingir 3 anos de idade. III. O esquema corporal mal estruturado produz um deficit na relação sujeito-mundo exterior, traduzindo-se no plano da motricidade e da relação com outrem. Assinale a alternativa correta. a) Apenas o item I está certo. b) Apenas o item III está certo. c) Apenas os itens I e II estão certos. d) Apenas os itens I e III estão certos. e) Apenas os itens II e III estão certos 4. (Professor de educação física – SEAD/SEECT-PA/AOCP). As mais variadas formas de ____ que a criança puder realizar com os conteúdos da Educação Física favorecem em sua construção ___, por ela tratar seu corpo como um organismo inteiro. Para isso, o conhecimento, que é formado na criança, deve ser um conhecimento de corpo e de ações ao corpo, em que os próprios movimentos possam ser vivenciados mais __. Preencha as lacunas e assinale a alternativa correta. a) Movimento / educativa / livremente b) Processo / normativa / elaboradamente c) Segmentos / corretiva / ordenadamente d) Elementos / normativa / repetidamente e) Movimentos / corretiva / livremente 5. Fonseca descreve as três unidades funcionais do cérebro, baseado em Luria, reunindo os aspectos motores que devem ser desenvolvidos nas áreas da psicomotricidade, a exemplos: joser Realce joser Realce 50 I. A sua ausência causa implicações no controle do corpo estático e dinâmico. II. Ocorre através de aquisições neuromusculares, muito presente do nascimento ao 1ª ano de idade. III. A função precisa ser bem estruturada para que o aluno consiga escrever sobre as linhas do caderno, na educação infantil. Considerando os conceitos de cada um, marque a alternativa que corresponda corretamente: a) Equilíbrio – tonicidade - lateralidade b) Lateralidade – equilíbrio – tonicidade c) Equilíbrio – tonicidade – estruturação espaço temporal d) Estruturação espaço temporal – tonicidade – equilíbrio e) Equilíbrio - estruturação espaço temporal – tonicidade 6. As crianças devem ficar em um determinado ponto e um adulto fica a frente deles, mantendo certa distância. Quando o adulto virar de costas, as crianças devem correr em direção à ele, porém quando ele virar de frente as crianças devem parar imediatamente.
Compartilhar