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1 SUMÁRIO 1 HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE ..................................................... 3 2 O QUE É PSICOMOTRICIDADE ................................................................ 5 3 A PSICOMOTRICIDADE NO ÂMBITO ESCOLAR ..................................... 6 4 QUAL A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E PARA APRENDIZAGEM? .................................. 8 5 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA E SEUS BENÉFICOS .............................................................................................................. 12 6 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA EDUCAÇÃO INFANTIl .................................................................................................................. 17 6.1 Determinante para a vida da criança .................................................. 17 6.2 O desenvolvimento psicomotor na educação infantil ......................... 18 6.3 O que acontece quando a psicomotricidade não é desenvolvida de maneira eficaz? ..................................................................................................... 18 7 ELEMENTOS CONSTITUINTES DA PSICOMOTRICIDADE ................... 19 7.1 ESQUEMA CORPORAL .................................................................... 21 7.2 A organização do corpo no espaço .................................................... 23 7.3 Dominância lateral .............................................................................. 24 7.4 Equilíbrio ............................................................................................ 25 7.5 A organização latero-espacial ............................................................ 26 7.6 Diferença entre a lateralidade e o conhecimento "esquerda-direita" .. 26 7.7 Orientação espacial ............................................................................ 27 7.8 Orientação temporal ........................................................................... 27 8 A COORDENAÇÃO DINÂMICA ................................................................ 28 8.1 Estratégias psicomotoras e consequências educativas ..................... 28 9 A EVOLUÇÃO PSICOMOTORA DA CRIANÇA ........................................ 29 9.1 Evolução psicomotora até os três anos de idade ............................... 29 2 9.2 Características psicomotoras da criança de 0 a 3 anos ..................... 30 9.3 Evolução psicomotora dos três aos seis anos .................................... 34 9.4 A evolução da motricidade gráfica ..................................................... 35 10 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 37 3 1 HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE1 Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada. Fonte: neurosaber.com.br São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica (apraxia). Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, a palavra psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico. 1 Texto extraído do link: http://psicomotricidade.com.br/historico-da-psicomotricidade/ 4 A figura de Dupré, neuropsiquiatra, em 1909, é de fundamental importância para o âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora (antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato neurológico. Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo. Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo. Em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico. Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particularidades. É ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia. Na década de 70, diferentes autores definem a psicomotricidade como uma motricidade de relação. Começa então, a ser delimitada uma diferença entre uma postura reeducativa e uma terapêutica que, ao despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao ocupar-se do "corpo de um sujeito" vai dando progressivamente, maior importância à relação, à afetividade e ao emocional. Para o psicomotricista, a criança constitui sua unidade a partir das interações com o mundo externo e nas ações do Outro (mãe e substitutos) sobre ela. A especificidade do psicomotricista situa-se assim, na compreensão da gênese do psiquismo e dos elementos fundadores da construção da imagem e da representação de si. O sintoma psicomotor instala-se, quando ocorre um fracasso na integração somatopsíquica, consequente de fatores diversos, seja na origem do processo de constituição do psiquismo, ou posteriormente em função de disfunções orgânicas e/ou psíquicas. A patologia psicomotora é, portanto, uma patologia do continente psíquico, dos distúrbios da representação de si cuja sintomatologia pode se apresentar no somático e/ou no psíquico. 5 2 O QUE É PSICOMOTRICIDADE Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Fonte: www.clinicaoficinadocorpo.com.br Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.” (Associação Brasileira de Psicomotricidade) “A Psicomotricidade baseia-se em uma concepção unificada da pessoa, que inclui as interações cognitivas, sensório-motoras e psíquicas na compreensão das capacidades de ser e de expressar-se, a partir do movimento, em um contexto psicossocial. Ela se constitui por um conjunto de conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com o intento de favorecer a integração deste sujeito consigo e com o mundo dos objetos e outros sujeitos.” (Costa,2002) “Em razão de seu próprio objeto de estudo, isto é, o indivíduo humano e suas relações com o corpo, a Psicomotricidade é uma ciência encruzilhada... que utiliza as 6 aquisições de numerosas ciências constituídas (biologia, psicologia, psicanálise, sociologia, linguística...) Em sua prática empenha-se em deslocar a problemática cartesiana e reformular as relações entre alma e corpo: O homem é seu corpo e NÃO - O homem e seu corpo”. (Jean-Claude Coste, 1981) A psicomotricidade pode também serdefinida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade. Baseada numa visão holística do ser humano, a psicomotricidade encara de forma integrada as funções cognitivas, sócio emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial. A psicomotricidade possui as linhas de atuação educativa, reeducativa, terapêutica, relacional, aquática e ramain. 3 A PSICOMOTRICIDADE NO ÂMBITO ESCOLAR2 No cotidiano das salas de aula, professores buscam formas para tornar o ensino mais estimulante e, consequentemente, mais eficaz. Uma das alternativas encontradas pelos profissionais que lidam diretamente com a educação, em especial nas séries iniciais é a contribuição da Psicomotricidade, ciência que integra corpo e mente de maneira global, além de ser uma valiosa ferramenta a ser utilizada nas salas de aula. Aliada ao olhar lúdico direcionado para a aprendizagem, essa ciência ganha amplitude quando pensada sob o aspecto do desenvolvimento de potencialidades e habilidades motoras, afetivas, cognitivas e sociais. No caso específico da Psicomotricidade, a possibilidade de avanços na aprendizagem da leitura e da escrita é de extrema importância, pois os aspectos psicomotores necessários para tais aptidões vêm do desenvolvimento psicomotor de qualidade, como a lateralidade, coordenação visual e motora, noção de tempo e espaço, entre outras. Os professores podem se questionar a respeito dessas aprendizagens que normalmente são vistas como de responsabilidade das aulas de Educação Física, 2 Texto extraído do link: http://universidadebrasil.edu.br/portal/a-psicomotricidade-no-ambito- escolar/ 7 quando na verdade devem ser trabalhadas também do ponto de vista da sala de aula por meio de jogos, brincadeiras, jogos dramáticos, ou seja, o movimento precisa ganhar o seu espaço também dentro da sala de aula, sobretudo nas séries iniciais, pois é na instituição escolar onde as crianças passam o maior tempo. Fonte: blog.opovo.com.br A Educação Psicomotora visa o melhor desenvolvimento da criança através do movimento, levando em consideração suas funções psicomotoras, coordenações globais, lateralidade, equilíbrio e plena consciência do movimento. A ação motora deve ser prioridade e ser vivenciada pela ação corporal espontânea que vai ao encontro de uma pedagogia que permite a descoberta, a criatividade e a ação consciente sobre os fatos. Sendo o corpo, o principal canal de conhecimento e de leitura do mundo, o desenvolvimento psicomotor é o ponto de referência para que o professor saiba avaliar qualquer atraso na motricidade, que poderá comprometer todo o desempenho escolar da criança. Cabe salientar que uma atividade bem planejada e intencionada almeja não só o envolvimento do cérebro, mas dos músculos que se influenciam juntamente com a mente. Torna-se essencial o redirecionamento da prática educativa voltada para esse olhar de vincular o trabalho escolar ao movimento, envolvendo raciocínio e ações cognitivas, afetiva, sociais e motoras. 8 A Psicomotricidade está presente no brincar e quando a criança brinca, ela aprende, se desenvolve, cresce, se socializa, aprende a respeitar os limites, assimila e incorpora dados da própria cultura. Brincar é coisa séria, e por isso é importante o aprofundamento do papel de todos os elementos que compõem o brincar, de forma clara e consciente, devendo pais e educadores ser os mediadores das ações, participando ativamente do processo, pois o brincar auxilia no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. Brincando, a criança gradativamente vai se apoderando do próprio corpo, conhecendo sua potencialidade, seus limites, se colocando adequadamente no espaço que a circula, descobrindo esse espaço, os elementos que o compõe, conhece formas, cores, palavras, gestos, movimentos, constroem ações, descobre, inventa e criam outras. E este universo é rico no desenvolvimento da Psicomotricidade e, consequentemente no universo da Aprendizagem que acontece de forma mais fácil, interessante e eficaz. No entanto, caberá a cada profissional aprofundar-se ainda mais no assunto para que possa sentir-se maravilhado com as conquistas possibilitadas pela Psicomotricidade, pois “Valorizar e libertar o corpo seja ele social, cultural ou marginal é o que se pretende com um fazer pedagógico alicerçado pelo compromisso com o ato de educar (FREIRE, 1991)”. 4 QUAL A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E PARA APRENDIZAGEM?3 Nos movimentos das crianças se articula toda sua afetividade, desejos e suas possibilidades de comunicação. O que é psicomotricidade? Sua definição. No princípio, a psicomotricidade era utilizada apenas na correção de alguma debilidade, dificuldade, ou deficiência ainda está em formação, já que à medida que avança e é aplicada, vai-se estendendo a distintos e variados campos. 3 Texto extraído do link: http://www.inttegrare.com.br/novidades/noticia/57/qual-a-importancia- da-psicomotricidade-para-o-desenvolvimento-infantil-e-para-aprendizagem 9 Fonte: www.estudecei.com.br Hoje, vai mais longe: a psicomotricidade ocupa um lugar importante no desenvolvimento infantil, sobretudo na primeira infância, em razão de que se reconhece que existe uma grande interdependência entre os desenvolvimentos motores, afetivos e intelectuais. A psicomotricidade é a ação do sistema nervoso central que cria uma consciência no ser humano sobre os movimentos que realiza através dos padrões motores, como a velocidade, o espaço e o tempo. A psicomotricidade, como estimulação aos movimentos da criança, tem como meta: Motivar a capacidade sensitiva através das sensações e relações entre o corpo e o exterior (o outro e as coisas). Cultivar a capacidade perceptiva através do conhecimento dos movimentos e da resposta corporal. Organizar a capacidade dos movimentos representados ou expressos através de sinais, símbolos, e da utilização de objetos reais e imaginários. Fazer com que as crianças possam descobrir e expressar suas capacidades, através da ação criativa e da expressão da emoção. Ampliar e valorizar a identidade própria e a autoestima dentro da pluralidade grupal. Criar segurança e expressar-se através de diversas formas como um ser valioso, único e exclusivo. Criar uma consciência e um respeito à presença e ao espaço dos demais. 10 Considerando-se que na primeira infância existe uma forte correlação entre os desenvolvimentos motores e intelectuais, e de suma importância a estimulação do desenho infantil, que representa seu primeiro “tesouro” expressivo, que muito irá contribuir para o desenvolvimento infantil e consequentemente para a construção de sua linguagem / aprendizagem. O desenho é uma atividade espontânea e como tal, deve-se respeitá-la e considerá-la como a grande obra das crianças. Se a criança tem vontade de desenhar, anime-a sempre que o faça. O ideal seria que todas as crianças pudessem ter, desde cedo, algum contato com o lápis e o papel. Começarão com rabiscos e logo estarão desenhando formas mais reconhecíveis. Quanto mais a criança desenhar, ela se aperfeiçoará, e mais benefícios se notará no seu desenvolvimento. O desenho facilita e faz evoluir a criança na: - psicomotricidade fina; - aprendizagem (leitura e escrita); - confiança em si mesma; - exteriorização de suas emoções, sentimentos e sensações; - comunicação com os demais e consigo mesma - criatividade - formação da sua personalidade - maturidade psicológica A Psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporale tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. Por meio das atividades, as crianças, além de se divertirem, criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem. Por isso, cada vez mais os educadores recomendam que os jogos e as brincadeiras ocupem um lugar de destaque no programa escolar desde a Educação Infantil. 11 Fonte: babydicas.com.br A Psicomotricidade nada mais é que se relacionar através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o ser corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade. A Psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente. Vitor da Fonseca (1988) comenta que a "PSICOMOTRICIDADE" é atualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio. Na Educação Infantil, a criança busca experiências em seu próprio corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal. A abordagem da Psicomotricidade irá permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio desse corpo, localizando-se no tempo e no espaço. O movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante. É necessário que toda criança passe por todas as etapas para o desenvolvimento da linguagem. O trabalho da educação psicomotora com as crianças deve prever a formação de base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando oportunidade para que por meio de jogos, de atividades lúdicas, se conscientize sobre seu corpo. Através da recreação a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor. Para que a criança 12 desenvolva o controle mental de sua expressão motora, a recreação deve realizar atividades considerando seus níveis de maturação biológica. A recreação dirigida proporciona a aprendizagem das crianças em várias atividades esportivas que ajudam na conservação da saúde física, mental e no equilíbrio sócio afetivo. Segundo Barreto (2000), “O desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da direcional idade, da lateralidade e do ritmo”. A educação da criança deve evidenciar a relação através do movimento de seu próprio corpo, levando em consideração sua idade, a cultura corporal e os seus interesses. A educação psicomotora para ser trabalhada necessita que sejam utilizadas as funções motoras, perceptivas, afetivas e sócio motoras, pois assim a criança explora o ambiente, passa por experiências concretas, indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual, e é capaz de tomar consciência de si mesma e do mundo que a cerca. Bons exemplos de atividades físicas são aquelas de caráter recreativo, que favorecem a consolidação de hábitos, o desenvolvimento corporal e mental, a melhoria da aptidão física, a socialização, a criatividade; tudo isso visando à formação da sua personalidade. 5 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA E SEUS BENÉFICOS A infância atual para muitas crianças se faz com a tecnologia em brincadeiras, pouco espaço para brincar, pois a maioria das crianças são criadas em apartamentos e com os pais cada vez menos atuantes no processo de amadurecimento e desenvolvimento. Neste cenário, um dos desafios que o desenvolvimento infantil enfrenta, é a necessidade de preparar as bases e alicerces que serão determinantes na aquisição do desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo. 13 Fonte: www.escuelainfantilatlantico.blogsek.es A psicomotricidade é um instrumento facilitador e importante nesse processo, uma vez que, por meio de atividades corporais, trabalha-se a consciência corporal, a afetividade, maturação e cognição. Sabemos que a criança aprende através do movimento e que um movimento global bem estruturado vai promover um movimento fino, mais preciso e correto. Segundo Victor da Fonseca “a criança deve viver seu corpo através de uma motricidade não condicionada em que os grandes grupos musculares participem e preparem os pequenos grupos musculares, responsáveis por tarefas mais precisas e ajustadas. Antes de pegar no lápis, a criança já deve ter, em termos históricos, uma grande utilização da sua mão em contato com inúmeros objetos”. A educação psicomotora deve ser realizada diariamente nos colégios. O ideal é que as crianças realizam as aulas de psicomotricidade, desde o berçário, já que os padrões básicos da motricidade humana têm seu momento privilegiado de desenvolvimento, justamente até os 7 anos. Estes padrões são o fundamento da competência motora posterior. Além do mais, a organização dos movimentos integrados a esses padrões, assim como a estimulação sensorial que os acompanha, são elementos imprescindíveis para o processo de organização funcional neurológica. Os exercícios motores praticados desde a primeira infância estimulam a organização funcional dos neurônios, de modo que gerem outros circuitos, permitindo a assimilação de aprendizagens cada vez mais complexas. A geração de novas redes 14 neuronais, ou o aumento de sinapses nas redes já existentes, depende da variedade e da progressiva complexidade das atividades que sejam praticadas, na etapa em que é possível a geração de novas estruturas, ou seja, até os oito anos. O desenvolvimento motor é a raiz do desenvolvimento intelectual das crianças. A educação do movimento faz com que a criança tome consciência de si e do seu corpo, e do ambiente que vive. As aulas de psicomotricidade, desenvolvem-se através de estimulações em padrões psicomotores, que são: tonicidade, equilíbrio, lateralidade, noção corporal, noção espacial, estrutura espaço-temporal, praxia fina e praxia global. A atuação de um psicomotricista em uma instituição escolar é avaliar, prevenir e pesquisar como a criança se movimenta perante o outro, o meio que explora e, a partir daí estimulá-la para obter um bom processo de desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo. De acordo com Oliveira (apud COSTA, 2011:27): “A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na pré-escola. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situação no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilidades de coordenação de seus gestos e movimentos”. Sempre que se fala em Psicomotricidade o primeiro pensamento que vem à mente relaciona-se com a capacidade que o ser humano tem para executar um movimento e, por conseguinte, o desenvolvimento do corpo, muitas vezes associada à prática do desporto e da Educação Física. Mas, na realidade, a Psicomotricidade é uma ciência que está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas, sendo, deste modo, sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. A psicomotricidade é atualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio. É um instrumento privilegiado através do qual a consciência se forma e se materializa. A educação psicomotora é fundamental na vida da criança, e está refletida no histórico de vida do sujeito, podendo observar-se a PARTIR daí, o desenvolvimento da criança, o seu relacionamento com o mundo, a sua interação com as pessoas, a 15 forma como pensa e como atua, expressando as suas sensações e sentimentos, e utilizando o corpo como instrumento rico e significativo para a comunicação. Este trabalho inicia-se na Educação Infantil, ondeas crianças ainda se encontram em fase de experimentações corporais, onde iniciam as descobertas espaciais, temporais e tónicas. Todas as atividades devem trabalhar as bases psicomotoras, sendo estas: a tonicidade, a noção do corpo, a equilibração, a lateralidade, a estruturação espaciotemporal, a praxia global e a praxia fina. Estas devem ser inseridas e integradas de acordo com a faixa etária. Fonte: www.escolapaulofreire.com.br O desenvolvimento dos fatores psicomotores, permite à criança uma melhoria da postura, da dissociação dos movimentos, da coordenação global dos movimentos, da motricidade fina, do ritmo discriminação táctil, visual e auditivo, da integração das estruturas espaciais e temporais, do aumento da capacidade de atenção e concentração. A educação psicomotora deve incidir, essencialmente, para crianças até aproximadamente os 7/8 anos de idade, sendo um período fundamental do desenvolvimento infantil, no qual a criança tem necessidade de agir e experimentar para adquirir o conhecimento, favorecendo a maturação psicológica por meio da motricidade, do agir e do brincar, que são a base do desenvolvimento do pensamento. 16 A Psicomotricidade nas Dificuldades de Aprendizagem pode trabalhar os seguintes fatores, com os seus objetivos: Tonicidade: relaxação ativa e passiva; Equilibração: equilíbrio estático e dinâmico; Noção do corpo: conhecimento do próprio corpo e do corpo de outrem; noções espaciais do próprio corpo e do de outrem; interiorização da imagem corporal; coordenação, caligrafia, leitura harmoniosa, gestual, ritmo de leitura (frase, palavra), imitação, entre outros; Fonte: www.colegiologosofico.com.br Lateralidade: identificação da dominância lateral; reconhecimento da direita e da esquerda; ordenação espacial, direção gráfica, ordem das letras e dos números; discriminação visual; estruturação espaciotemporal; noções espaciais e temporais; estruturação rítmica; perceção visual e auditiva; identificação de ruídos e sons; identificação e combinação de letras e números (modalidades visuais, auditivas e cinestésicas); noções de esquerda e direita, alto e baixo (b / p; n / u; ou / on), dentro e fora (espaço para escrita: progressão/grandeza, classificação/seriação, orientação/cálculos); Praxia global e fina: perturbações do grafismo (motora fina); manipulação / preensão. 17 No que se refere à aprendizagem da leitura e da escrita, as relações existentes, entre estas e o aumento do potencial psicomotor da criança proporcionam condições favoráveis às aprendizagens escolares. A aprendizagem da escrita é especialmente, um processo de relação preceptivo-motora, pois os sinais gráficos devem ser transcritos para o papel de forma organizada, seguindo o tempo e o espaço. Pode-se concluir, portanto, que as contribuições da psicomotricidade na aquisição da pré-escrita estão relacionadas com o domínio do gesto, com a estruturação espacial e a orientação temporal que são os três fundamentos básicos da escrita, os quais supõem: uma direção gráfica (escrevemos horizontalmente da esquerda para a direita); noções de cima e baixo (n e u); de esquerda e direita e de oblíquas e curvas (g); e noção de antes e depois. A realização de exercícios de pré-escrita e de grafismo são necessários para a aprendizagem das letras e dos números, com a finalidade de permitir à criança atingir o domínio do gesto e do instrumento, a perceção e a compreensão da imagem a reproduzir. Esses exercícios são desenvolvidos através de atividades puramente motoras ou de grafismo. 6 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA EDUCAÇÃO INFANTIL Dentre vários estudos, a psicomotricidade é conceituada como uma ação de finalidade pedagógica e psicológica a utilizar os parâmetros da educação física com a intenção de melhorar o comportamento da criança com seu corpo. Há quem defina a psicomotricidade como uma ciência que estuda o indivíduo por meio de seu movimento e a interação social. 6.1 Determinante para a vida da criança Em meio a tantos conceitos, um ponto converge para o consenso: a importância da psicomotricidade para que a criança tenha noção do seu corpo, do espaço e de como o ato da criança, quando está no processo de aprendizagem, precisa interagir com outros coleguinhas. Para isso, ela necessita estabelecer comunicação, que não se dá apenas pela forma oral, mas pelos gestos também. 18 Fonte: escolaespaconatural.com.br 6.2 O desenvolvimento psicomotor na educação infantil É indispensável que a escola trabalhe esse lado com os pequenos, pois é a partir disso que as crianças podem elaborar melhor seus movimentos e tudo que se refere ao que está em volta, inclusive. Na sala de aula, fatores como a lateralidade, organização e noção espacial; esquema corporal e até mesmo a estruturação espacial devem ser trabalhadas em prol do aluno. 6.3 O que acontece quando a psicomotricidade não é desenvolvida de maneira eficaz? É inegável que a falta de um acompanhamento da psicomotricidade acarreta consequências danosas ao desenvolvimento da criança. Um dos casos que podem ser notados é a lateralidade pouco trabalhada no aluno. Isso pode causar problemas de ordem espacial, por exemplo. A utilização dos termos direita e esquerda fica prejudicada. O pequeno apresenta certa dificuldade para acompanhar a direção gráfica de leitura e escrita. Outro problema é o fato de a criança encontrar obstáculos quanto ao entendimento 19 na distinção de letras específicas como ‘p’ e ‘b’, entre vários transtornos que podem aparecer no período pré-escolar. Muitas pessoas pensam equivocadamente que a psicomotricidade esteja relacionada somente ao movimento, mas não é isso. Um estudo definiu muito bem qual o valor de todo esse processo, no qual diz que “a motricidade é a faculdade de realizar movimentos e a psicomotricidade é a educação de movimentos que procura melhor utilização das capacidades psíquicas”. Ou seja, o ato de movimentar-se está diretamente ligado ao aspecto mental. 7 ELEMENTOS CONSTITUINTES DA PSICOMOTRICIDADE A Psicomotricidade preocupa-se com o desenvolvimento neuromuscular que, mais tarde, subsidiará a motricidade e por consequência, a execução de tarefas motoras e cognitivas bem-sucedidas. Dentro do estudo da psicomotricidade temos como elementos constituintes o esquema corporal, representa a imagem que a criança tem de seu próprio corpo. Estuda o surgimento de alguns distúrbios como a asquematia que é a perda da percepção topológica do corpo, parasquematia que é a confusão de diferentes regiões do corpo ou a representação de partes que não existem. O esquema postural para a psicomotricidade é a imagem tridimensional do nosso corpo e a imagem do corpo humano é a imagem do nosso próprio corpo que formamos em nosso espírito, que por outras palavras é o modo como o nosso corpo se apresenta a nós mesmos. A psicomotricidade interessa-se pelo movimento que certo comportamento tônico subentende, quanto pela relação à diminuição do tono trará a descontração muscular. 20 Fonte: www.colegiointerviva.com.br As manifestações emocionais que implicam a problemática da emoção, pois toda e qualquer emoção tem sua origem no domínio postural, por exemplo, como para uma criança de 6 anos receber um grito de um adulto, fará com que ocorra um aumento da tensão, por conseguinte desencadeará reações emocionais que são traduzidas como mal-estar ou como sentir-se meio mole, sem coordenação nas pernas. A comunicação é uma função essencial na reeducação psicomotora, uma vez que a psicomotricidade leva em conta o aspecto comunicativo do ser humano, do corpo, da gestualidade, ela resiste a ser uma educação mecânica do corpo. Assim, graças a linguagem, o homem vive num mundo de significações, os gestos querem dizer alguma coisa, ocorpo tem um sentido que ele pode sempre interpretar e traduzir. Existem os comportamentos inatos que a criança manifesta, pois variadas formas desde o seu nascimento, por exemplo, o grito pode ser interpretado como dor que pode também não ser de sofrimento. Por exemplo, bocejo, espirro, salivação que são manifestações primitivas, também de emoções que devem ser orientadas e educadas no sentido de controle das próprias modalidades do meio-familiar e social da criança. Por entender que o corpo traduz os nossos desejos, e que o desenvolvimento psicomotor da criança é de fundamental importância, para que possamos nos inserir 21 no meio ao qual pertencemos, de acordo com nossas potencialidades e destrezas, apresentaremos os elementos constituintes da psicomotricidade que colaboram para o desenvolvimento integral da criança. 7.1 ESQUEMA CORPORAL Conhecer as partes do corpo, suas funções e interações com ele mesmo e com o meio que o cerca é de fundamental importância na construção do esquema corporal e no desenvolvimento normal no âmbito motor, social e afetivo da criança para que suas ações futuras sejam orientadas com sucesso. O esquema corporal pode ser definido como “uma intuição de conjunto ou um conhecimento imediato que temos de nosso corpo estático ou em movimento, na relação de suas diferentes partes entre si e, sobretudo, nas relações com o espaço e com os objetos que o circundam” (FONSECA, 2008). Podemos dizer que o esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança, uma vez que é a representação da imagem que a criança tem de seu próprio corpo. A criança se sentirá bem na medida em seu corpo lhe obedece, em que o conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também para agir. Fica nítido para o professor diagnosticar a criança que se encontra com seu esquema corporal mal constituído, ela não coordena bem os movimentos, sua grafia é “feia”, na leitura não demonstra harmonia, o que significa dizer que não segue o ritmo da leitura ou então, simplesmente, para no meio de uma palavra. Segundo De Meur (1989), uma criança que domina o seu corpo sente-se à vontade em explorar seu potencial, pois demonstra desenvoltura e eficácia para realizar as tarefas que lhes são ofertadas, o que lhe proporciona bem estar, tornando fáceis e equilibrados seus contatos com os outros. Fazendo com que os desafios não sejam vistos apenas como dificuldades, mas como uma forma de demonstrar suas habilidades e potencialidades. 22 Fonte: www.colegiointerviva.com.br O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação física e psicológica da criança. Nesse sentido, pode-se considerá-lo como sendo a representação relativamente global, científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo. A importância em se trabalhar com o esquema corporal persiste no fato de que quando a criança conhece seu corpo, seus limites, potencialidades e dificuldades, reconhece e sabe que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também para agir, expressar-se, comunicar-se com o mundo que o cerca, sem medos e frustrações. Portanto, para auxiliar no desenvolvimento do esquema corporal da criança devemos considerar: a) Domínio Corporal Referimo-nos a capacidade da criança apresentar domínio e controle sobre suas ações corporais. Por exemplo, uma criança corre durante o recreio e choca-se, constantemente, contra seus companheiros. A tendência dessa criança é que em pouco tempo não se sentirá à vontade em continuar no jogo, na brincadeira. Logo, não ousará mais correr por não dominar bem seu corpo. b) Conhecimento Corporal Conhecer seu corpo e suas dimensões. Imagine a seguinte situação: uma criança quer passar por baixo de um banco, mas, esquecendo-se de dobrar as pernas, acaba batendo as nádegas contra o banco. Possivelmente essa criança ainda não 23 conhece o seu corpo enquanto objeto que ocupa lugar no espaço, e o quão espaço se faz necessário para deslocar-se ou realizar uma determinada ação. c) Passagem para a Ação A criança não transfere líquidos de uma vasilha para outra para brincar? Mas, então por que ela entorna um copo de limonada para beber? A explicação é simples, a ação motora, o gesto motor, possivelmente, ainda não foi transferida de uma ação para outra. Nesse sentido, é por meio do desenvolvimento do esquema corporal e de seus constituintes que possibilitamos que a criança se sinta bem disposta e capaz de situar seu corpo em relação aos outros, aos objetos que a cercam e, portanto, terá condições para transpor suas descobertas, pois a tendência é que ela, progressivamente, localizará os objetos, as pessoas, os acontecimentos em relação a si, depois entre eles. 7.2 A organização do corpo no espaço Referimo-nos aqui a capacidade de movimentar o próprio corpo de forma integrada, dentro de um ambiente contendo obstáculos, desviando, locomovendo-se ou passando por eles. Movimentos simples como o rastejar, engatinhar, e andar propiciam a criança o desenvolvimento das primeiras noções espaciais: perto, longe, dentro, fora. Descobrir e ter a noção de em cima, embaixo, acima, para a criança implica em dizer que ela está apresentando um desenvolvimento integral de suas ações. Para De Meur (1989), os problemas relacionados à orientação temporal e espacial, como por exemplo, com a noção “antes-depois”, acarretam, principalmente, confusão na ordenação dos elementos de uma sílaba. A criança sente dificuldade em reconstruir uma frase cujas palavras estejam misturadas, sendo a análise gramatical um quebra-cabeça para ela. Uma má organização espacial ou temporal poderá, por exemplo, acarretar fracasso na matemática, uma vez que para calcular a criança deve ter pontos de referência, colocar os números corretamente, possuir noção de “fileira”, de “coluna”; deve conseguir combinar as formas para fazer construções geométricas. 24 Diante de problemas de percepção espacial, uma criança não é capaz de distinguir, por exemplo, um “b” de um “d”, um “p” de um “q”, “21” de “12”, caso não perceba a diferença entre a esquerda e a direita. Se não se distingue bem o alto e o baixo, confunde o “b” e o “p”, o “n” e o “u”, o “ou” e o “on”, ou seja, não consegue perceber, no abstrato, as questões que não lhe foram supridas no concreto. Portanto, para trabalharmos com a organização do corpo no espaço devemos considerar a estruturação espacial, que nada mais é do que a orientação, a estruturação do mundo exterior referindo-se ao eu referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento. É nesse sentido, a tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas e coisas, pode ser considerado a tomada de consciência da situação das coisas entre si, ou ainda a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar ou de movimentá-las. Resumindo, o esquema corporal é a tomada de consciência, pela criança, de possibilidades motoras e de suas possibilidades de agir e de expressar-se. 7.3 Dominância lateral A dominância lateral é uma característica que buscamos perceber desde a mais tenra idade, mas essa se refere muito mais do que escolher a mão (direita ou esquerda) para escrever ou comer, refere-se ao esquema do espaço interno do indivíduo, que o capacita a utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço do que outro, em atividades que requeiram habilidade, caracterizando-se por uma assimetria funcional. O que significa dizer que a definição da lateralidade ocorre à medida que a criança se desenvolve e, portanto, a lateralidade na criança não deve ser estimulada até que nãotenha sido definida, ou seja, quando a criança é forçada a usar um lado do corpo torna-se prejudicial para a lateralidade. 25 Fonte: d8vlg9z1oftyc.cloudfront.net Quem nunca ouviu histórias de pais e mães, ou até mesmo de professores que forçavam a criança a segurar o lápis ou o copo com a mão direita. Isso porque, achavam errado, talvez por fatores culturais, escrever com a mão esquerda. Forçavam a criança a utilizar a mão direita para tal ação, isso sim é errado, os pais devem favorecer a escolha feita pelas crianças. Isto porque hoje sabemos que não existe certo ou errado, e que a própria criança tem sua preferência, sua dominância lateral, portanto, temos apenas que possibilitar a criança a desenvolver suas habilidades, mas as escolhas devem ser feitas por ela. No início da idade escolar ainda prevalece a bilateralidade na criança, mas se ela ainda apresentar a tendência para o sinistrismo e os pais tentarem fazer algo para que a frustre, possivelmente essa criança poderá apresentar danos na sua motricidade, possibilitando o surgimento de possíveis problemas de aprendizagem. 7.4 Equilíbrio Referimo-nos aqui a função em que os indivíduos mantêm sua estabilidade corporal durante os movimentos e quando em estado de imobilidade. Fonseca (2009) e Rosa Neto (2002) mencionam que obter um bom equilíbrio é essencial para a conquista da locomoção e a independência dos membros superiores. 26 A dificuldade em equilibrar-se produz estados de ansiedade e insegurança, pois a criança não consegue manter um estado estático ou de movimento e isto atrapalha a relação entre equilíbrio físico e psíquico. Pick e Vayer (1985) afirmam que, na presença de algum distúrbio do equilíbrio, pode-se observar uma indisponibilidade imediata dos movimentos, desequilíbrio corporal global, marcha não harmoniosa, tensões musculares locais, desalinhamentos anatômicos e imprevisibilidade de atitudes. Socialmente, a criança pode apresentar tendência à inibição ou desejo de esconder, e falta de confiança em si mesmo. Nesse sentido, podemos dizer que o equilíbrio não se resume, exclusivamente, a uma atitude referente ao tônus muscular, mas que afeta psicologicamente a criança em suas relações sociais. 7.5 A organização latero-espacial Durante o crescimento, naturalmente, se define uma dominância lateral na criança, resultando na tendência de ter maiores destrezas e habilidades de um lado de seu corpo (poderá ser mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo) em relação ao outro, isso ocorre porque mesmo a lateralidade correspondendo a dados neurológicos, também é influenciada por certos hábitos sociais. 7.6 Diferença entre a lateralidade e o conhecimento "esquerda-direita" Não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em relação ao outro, a nível de força e da precisão) e conhecimento "esquerda-direita" (domínio dos termos "esquerda" e "direita"). O conhecimento "esquerda-direita" decorre da noção de dominância lateral. É entendido como sendo a generalização, da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a criança. Esse conhecimento será mais facilmente apreendido quanto mais acentuado e homogêneo for a lateralidade da criança. Com efeito, se a criança percebe que trabalha naturalmente "com aquela mão", guardará sem dificuldade que "aquela mão" é à esquerda ou à direita (FONSECA, 2008). Por essa razão não basta amarrar um lacinho ou fitinha na mão da criança e dizer-lhe que essa é a mão direita se essa não for realmente trabalhada, estimulada, 27 ela precisa conhecer a terminologia como também dominar e distinguir direita de esquerda. Lembramos que por volta dos 6 anos, a criança tem conhecimento do lado direito e esquerdo do seu corpo. Aos 7 anos reconhece a posição relativa entre dois objetos. Com 8 anos reconhece o lado direito e esquerdo em outra pessoa. Quando chega aos 9 anos consegue imitar movimentos realizados por outras pessoas com o mesmo lado do corpo no qual a pessoa realiza o movimento, isto é, transpõe o lado da pessoa para o seu. Aos 10 anos reproduz movimentos de figuras esquematizadas e com 11 anos consegue identificar a posição relativa entre 3 objetos (FONSECA, 2008). Ressaltamos que esse processo ocorre gradativamente, e depende de cada criança, de cada momento e dos estímulos que a ela são proporcionados. 7.7 Orientação espacial Quando a criança domina os diversos termos espaciais, ensinamos a orientar- se, isto é, permitimos e oferecemos situações nas quais ela pode virar-se, ir para frente, para trás, para a direita, para a esquerda, para o alto. Pode experimentar situações para poder ficar em fila, enfim, executar movimentos diversos em espaços delimitados ou não, contendo obstáculos ou não. 7.8 Orientação temporal A estruturação temporal é a capacidade de a criança situar-se e depende do entendimento e compreensão de fatores, como por exemplo: a) sucessão dos acontecimentos: antes, após, durante; b) noções de tempo longo: uma hora, um minuto, por exemplo, para uma criança de três anos, três minutos podem parecer uma eternidade, enquanto para uma criança de 10 anos, esse tempo já representa mais essa eternidade e passa muito, entende que é algo rápido; c) noções de ritmo: regular, irregular (aceleração, freada); d) noções de cadência: rápida, lenta (diferença entre a corrida e o andar); 28 e) noção de renovação cíclica de certos períodos: os dias da semana, os meses, as estações. Por exemplo, é comum vermos uma criança de 3 anos chegar na escola, na segunda feira, e contar para a professora que “amanhã” ela foi na casa da vovó. Mas, na verdade, ela está se referindo a um acontecido que já ocorreu no domingo, no dia anterior. f) noção de envelhecimento: do caráter irreversível do tempo: “já passou... não se pode mais revivê-lo”, “você tem cinco anos... vai indo para os seus seis anos... quatro anos, já passaram”. As noções temporais são muito abstratas, muitas vezes, bem difíceis de serem adquiridas por nossas crianças, por isso faz-se necessário estar constantemente estimulando a responder a essas ações. 8 A COORDENAÇÃO DINÂMICA A coordenação dinâmica geral da criança, um bom domínio do corpo suprindo a ansiedade habitual, diminui as tensões trazendo um controle satisfatório e a confiança com relação ao próprio corpo. Com relação à coordenação dinâmica das mãos, Le Boulch (1982) diz que a habilidade manual ou destreza constitui um aspecto particular da coordenação global. Reveste muita importância nas praxias, no grafismo, ao qual se deve dar uma atenção em particular. A criança, quando apresenta algum distúrbio no desenvolvimento da coordenação (tanto global como da dinâmica das mãos), poderá apresentar dificuldades escolares, como a disgrafia que ultrapassa linhas e margens do caderno, pode ter dificuldades na apreensão de dedos e nos gestos. 8.1 Estratégias psicomotoras e consequências educativas Para uma ação interventiva, coerente as atividades, devem relacionar-se a aspectos que são sempre uma constante na psicomotricidade. São eles: Qualidade física: força, flexibilidade, agilidade, velocidade, coordenação motora, equilíbrio, noções de espaço e tempo e lateralidade. 29 Aspecto afetivo e social: socialização, organização, disciplina, responsabilidade, coragem e solidariedade. Características cognitivas: capacidade de análise e desenvolvimento de memória. 9 A EVOLUÇÃO PSICOMOTORA DA CRIANÇA 9.1 Evolução psicomotora até os três anos de idade O bebê, ao nascer, tem seu primeiro contato com o mundo a partir de seu corpo, seu choro, seus movimentos, traduzem suas necessidades, desejos e angústias. A mãe reconhece o seu choro, é comum ouvir uma mãe que ao deixar a criança em meio a outras distinguirem se é o seu bebê que está chorando, isso ocorre porque se firmamlaços de afetividade e a expressão gestual é a comunicação da criança com o mundo que a rodeia. No olhar de Fonseca (2008, p. 126) sustentado por Morin, o ser humano é o único animal que se pode considerar psicomotor, por ser auto e eco-organizado no corpo e no cérebro, por ser criado em uma dimensão cultural, na qual a comunicação não verbal é um componente básico. A criança se constrói por inteiro e de forma integrada, a totalidade do mundo em que vive. A psicomotricidade, então, é a possibilidade de colaborarmos com esse processo, por meio de uma educação que se paute no movimento. De acordo com Le Boulch (1987, p. 15), o objetivo central da educação pelo movimento é “contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança”. Nesse sentido, podemos dizer que a psicomotricidade trata também das questões de uma educação, por meio do movimento no qual busca melhorar concomitantemente a utilização das capacidades psíquicas da criança. Acatando esses preceitos, nesta unidade apresentaremos as principais características psicomotoras das crianças, do nascimento até os seis anos de idade e, posteriormente, trataremos de relacionar esse desenvolvimento ao desenvolvimento do grafismo pela criança. 30 9.2 Características psicomotoras da criança de 0 a 3 anos Para Fonseca (2008, p. 23), a atividade do bebê está, essencialmente, voltada para as sensações internas, e essa interação sensorial, decorrente de sua relação com o adulto e com as experiências que o rodeiam e o envolvem se transformaram em sensações afetivas que serão expressas, posteriormente, por meio do movimento e da motricidade da criança. De acordo com Wallon (1962), a criança ao nascer se expressa por meio dos deslocamentos exógenos (maturação tônica e sinergética), suas informações são interoceptivas. Wallon afirma, ainda, que o desenvolvimento se processa a partir do Estágio impulsivo – impulsivo expressivo emocional (0 – 3 meses). Dependência total em relação à família; o bebê apresenta descargas ineficientes de energia muscular através de espasmos, movimentos desorganizados. • Estágio emocional – (3 – 9 meses) A emoção é o meio de comunicação do bebê. É o período da relação afetiva mais contundente, desempenhando papel importante para a comunicação. • Estágio sensitivo-motor – (1 - 3 anos) A criança descobre o mundo dos objetos e com o simbolismo, ela transforma esse objeto em uma imaginação. Surge a marcha, a imitação e a linguagem são ampliadas. • Estágio projetivo - (faixa etária aproximada não definida pelo autor) A criança age sobre o objeto, projetando-se nas coisas para se perceber. Piaget entende que a criança, até o primeiro mês de vida, possui ações instintivas e reflexas. Não apresenta nenhuma noção entre sujeito e objeto. A partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar o meio. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo, por exemplo, são construídos pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento. O pensar e agir estão estritamente ligados entre si. Os objetos só podem ser reconhecidos na medida em que o indivíduo pode lidar com os mesmos, agindo. A partir dos 2 aos 18 meses começa a apresentar as primeiras percepções organizadas, começa a manipular objetos. E quando chega por volto de 8-9 meses já ocorre a diferenciação entre os fins e os meios. Quando chega nos 11-12 meses 31 apresenta uma boa coordenação de esquemas secundários, domina a locomoção, explora os objetos, por isso as tentativas de subir na mesa, tentar alcançar objetos que estão no alto. Começa as tentativas intencionais, e passa a diferenciar os fins e os meios de interagir. Já dos 18-24 meses começa a apresentar, segundo Piaget, uma coordenação de ações que já exigem uma sequência espaço-temporal, possui uma inteligência prática, o gesto é utilizado como pré-linguagem, e agora o sujeito passa a tornar-se um objeto no meio dos outros. Para Wallon (1962) dos 2 aos 3 anos, a criança passa a apresentar como características as informações provenientes de dados proprioceptivos, expressa deslocamentos autógenos, ou seja, domina a locomoção e a preensão. Para Piaget (1964), nessa fase, a partir dos 2 anos, a criança torna-se pré- operacional, o que significa dizer que ela tem já uma coordenação perceptivo-motora, e interessa-se demasiadamente pelas operações concretas. Le Boulch vai além e afirma que a criança apresenta fases distintas para seu desenvolvimento, o autor considera que esse só ocorre a partir de etapas provenientes do desenvolvimento do esquema corporal, são elas: corpo submisso (0 a 2 meses); corpo vivido (2 meses a 3 anos); corpo descoberto ou percebido (3 a 6 anos) e corpo representado (6 a 12 anos). Na primeira etapa, a criança começa desenvolver sua imagem do corpo, que tem seu início por um lado com conteúdos fantasmáticos e do outro com uma imagem figurativa, sendo ainda imprecisa, e vai amadurecendo com o tempo, por meio da confrontação com o real. Logo em seguida, aparece a etapa da imagem do corpo e da estruturação espaço-temporal, na qual começa a acontecer a descentralização da criança e o início das representações mentais dos eixos, aqui a criança começa a ter noções de esquerda e direita, de acima e abaixo e de diante e atrás. E de reconhecimento de figuras geométricas, ocorrendo por meio da exploração dos objetos pelo estudo dos movimentos visuais. Na última etapa, que é do ajustamento global ao ajustamento com representação mental, a criança está enriquecendo o seu esquema corporal e, por isso, começa a ter condições de modificar os elementos de um movimento em automatismos bem estabilizados, tornando-se capaz de tomar certa distância em 32 relação ao objeto prático do movimento para voltar sua atenção perceptiva sobre as modalidades da ação, desenvolvendo, dessa maneira, sua percepção sinestésica. Nesse sentido, o explorar o ambiente para a criança é uma constante necessidade, pois isso a levará a entender e a expressar suas necessidades. Esse meio favorece para a criança firmar-se enquanto uma unidade afetiva e expressiva. Le Boulch, (2001, p.88) afirma ainda que a criança de três anos, que tem se beneficiado de um ambiente humano afetivo, tende a se confrontar com o mundo dos objetos com sucesso. A criança quando chega aos três anos apresenta características bastante distintas, se seu desenvolvimento ocorreu de forma significativa, a tendência é que ela tenha um deslocamento autônomo/seguro, um equilíbrio assegurado. E seus braços e pernas já devem apresentar uma coordenação habilidosa, bem como suas habilidades óculo manuais também devem estar já controladas. Suas mudanças são observáveis, já bebe a água no copo, sem derrubar, consegue segurar o talher entre o polegar e o indicador, começa a se vestir sozinho e começa a se prontificar para ajudar nas tarefas, pois desperta para a necessidade de explorar ainda mais suas potencialidades. Portanto, vale lembrar que até por volta dos 3 anos, os interesses da criança estão centrados no mundo exterior, principalmente, no aspecto práxico do movimento, pois nesse momento não há mudanças significativas, o aprendizado por insight é dominante. A evolução dos seus gestos incide no ajustamento de sua postura, beneficiando-se de uma regulação tônica muito Mesmo não sendo da área da Psicomotricidade, Gallaheu e Ozumn (2003) também apresentam contribuições bastante significativas, quanto ao desenvolvimento motor, conforme estágios, considerar que na 1ª fase, chamada de motora reflexiva, em que os reflexos são a base para as fases posteriores, divide-se em: a) Estágio de codificação: aqui as atividades motoras são involuntárias, do período fetal até, aproximadamente, o 4º mês. Os centros cerebrais inferiores são mais desenvolvidos do queo córtex motor; servem de meios primários pelos quais o bebê é capaz de reunir informações, buscar alimento e encontrar proteção ao longo do movimento. Por exemplo, a criança descobre que toda vez que ela chora a mãe lhe tira do berço e a coloca no colo. 33 b) Estágio de decodificação. Nesse momento, aproximadamente no 4º mês de vida, as habilidade de informações começam a ser processadas, o desenvolvimento dos centros cerebrais inferiores inibe muitos reflexos. Tem início a substituição da atividade sensório-motora por habilidade motora- perceptiva, que envolvem o processamento de estímulos sensoriais com informações armazenadas e não apenas reações aos estímulos. Nesse momento, temos, então, a utilização dos reflexos primitivos, que são os agrupadores de informações, os mecanismos de sobrevivência e os reflexos posturais, que podem ser entendidos como os equipamentos de testes neuromotores para mecanismos estabilizadores, locomotores e manipulativos. Já na 2ª fase, também conhecida como fase dos movimentos rudimentares, encontramos as primeiras formas de movimentos voluntários, podemos observar essa característica do nascimento até, aproximadamente, 2 anos de idade. A maturação sequencial que ocorre, nessa fase, varia de criança para criança, dependente de fatores biológicos, ambientais e da tarefa, o que significa dizer que cada criança tem seu tempo próprio para aprender e para se desenvolver. Compõem essa fase os movimentos voluntários, especialmente os movimentos estabilizadores, cuja função pode ser observada quando o bebê busca o controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco. Os movimentos manipulativos, referentes ao ato de alcançar, agarrar e soltar. E movimentos locomotores, próprios da criança como o arrastar, engatinhar e caminhar. Na 3ª fase dos movimentos fundamentais, observamos que a criança começa a se envolver com a exploração e experimentação das capacidades motoras de seu Corpo. Busca experiência motora, especialmente, os movimentos estabilizadores, manipulativos e locomotores, primeiro isoladamente e depois de modo combinado. Nesse momento, devemos oportunizar tarefas que levem a criança desenvolver seus movimentos fundamentais, como o correr, pular (locomotores), arremessar e apanhar (manipulativos), andar com firmeza e o equilíbrio num pé só (estabilizadores). Gallaheu e Ozumn (2003) especificam que a criança, então, desenvolve seus movimentos fundamentais a partir dos estágios inicial, elementar e maduro. No inicial ocorrem as primeiras tentativas de desempenhar uma habilidade fundamental restrita, mas ainda faz uso exagerado do corpo, com ritmo e coordenação ainda deficiente. No estágio elementar dos movimentos fundamentais, a criança já envolve maior controle 34 e melhor coordenação rítmica dos movimentos, começa o aprimoramento das estruturas espaciais e temporais, por volta dos 3 anos, o que lhe dará suporte para entrar no estágio maduro dos movimentos fundamentais, no qual a criança irá desempenhar-se mecanicamente de forma eficiente, coordenado e controlado, isso deve ocorrer por volta dos 5 ou 6 anos de idade. 9.3 Evolução psicomotora dos três aos seis anos Podemos observar que a criança, dos 3 aos 6 anos, está vivendo um momento cujo período é refletido em mudanças na sua estruturação espaço-temporal e no seu esquema corporal. Surge, nesse contexto, a ruptura do eu (individual), passando a ser valorizado o eu social. O outro começa a existir para ela, e a emoção, nesse contexto, torna-se papel essencial, faz parte do seu desenvolvimento. Para Fonseca (2008), nesse momento, a emoção ainda, é quase sempre o detonador da ação, pois esse período constitui-se por dois meios paralelos do plano afetivo, um refere-se à estruturação do espaço que permite a passagem do espaço topológico para o espaço euclidiano; e o outro, refere-se à percepção das diferentes partes do corpo e estruturação do esquema corporal, ou seja, é um período de constantes mudanças para a criança. O corpo para a criança, nesse momento, é um corpo que se comunica por meio da gestualidade e da mímica. A partir dos três aos seis anos de idade, a criança ainda está num período transitório, tanto na estruturação espaço temporal quanto na estruturação do esquema corporal. Para Piaget, a partir dos 3 anos, a criança entra no estágio pré-operacional, caracterizado pela inteligência intuitiva, sua assimilação ocorre por meio das ações, e entre 3-4 anos ocorre o início da interiorização. A preferência da criança, nesse estágio, são os jogos e imitação em diferido, diverte-se e interessa-se por jogos de imaginação. Aos 4 anos, a criança está consciente de suas atitudes, entra na fase da comédia, ou seja, multiplica sua expressão, interage com o outro de forma constante. 35 A partir desse momento, a criança já começa a pensar em coisas para além dos espaços espaciais e temporais do movimento, começa a apresentar as noções de passado e futuro, e suas regulações tendem a ser representativas. O fim deste período será mostrado pela possibilidade de uma relação coerente entre as estruturas perceptivas, graças à representação mental. 9.4 A evolução da motricidade gráfica Quem nunca viu uma mãe ficando muito brava, por chegar à sala e ver que seu lindo sofá de couro, ou sua parede que acabara de ser pintada, está toda “rabiscada”. E ao perguntar para a criança quem foi o responsável ela, simplesmente, vira e diz: “fiz um desenho”. A partir dos 2 anos, isso é bem comum, e muito saudável para o desenvolvimento infantil, claro que não precisamos deixá-la rabiscar todas as paredes da casa, mas devemos instigá-la a exercitar suas habilidades. Isso porque ao falarmos do desenvolvimento da criança devemos lembrar que o desenho e, por consequência, o grafismo, são elementos de extrema relevância para a criança, pois a evolução de seus desenhos depende de sua percepção (PILLAR, 1996). Os esquemas visuais postos em jogo no desejo estão coordenados pela conduta motora e as propriedades do campo visual. Neste campo, são evidentes os problemas encontrados no motor e no perceptivo. Estes dois planos não podem estar separados, mas podem seguir em ritmos diferentes, prevalecendo em determinada hora da evolução da capacidade de estruturação. No começo, a dificuldade de expressão gráfica predomina mais na área motora que na percepção, dando a impressão que a execução trai a intenção. Piaget considerava que a expressão mais elementar do grafismo da criança é o resultado do vaivém contínuo sobre o papel e este jogo rítmico de movimento diferencia as primeiras formas. Portanto, o grafismo pode ser considerado como um ato impulsivo, que, a partir dos dois anos e meio, o controle visual vai exercer mais precisamente o progresso do grafismo, na medida em que as coordenações motoras se desenvolvem paralelamente. É aí que o controle distal se torna proximal e permite a miniteirização de traçados. 36 Vale lembrar que para que esse processo ocorra de forma significativa faz-se necessário que se estejam já desenvolvidos a dominância lateral, a lateralidade espontânea inata e a organização da prevalência e atividade práxica. 37 10 BIBLIOGRAFIA ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. RJ: WAK, 2003; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Histórico da Psicomotricidade. Disponível em: http://psicomotricidade.com.br/historico-da- psicomotricidade/. 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