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Aulas de antropologia 6 a 10

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Aula 06 - A Teoria Marxista e as Práticas de Educação
Na concepção de Marx, as ideias que os indivíduos incorporam, na sociedade capitalista, implicam numa visão imprecisa ou falsa da realidade. Isto acontece na medida em que a consciência que os trabalhadores constroem sobre o seu próprio modo de vida tende a ser profundamente influenciada pelos valores das elites burguesas. 
Numa posição diferente daquela assumida por Durkheim, Marx não percebe as representações coletivas como produto do conjunto da sociedade. Para ele, estas ideias — às quais chamou de ideologia — são o fruto de um processo de dominação, que leva as classes oprimidas a perceberem o mundo com as lentes de seus opressores, processo este denominado de alienação. 
Esta aula aborda o projeto de educação de Marx, que busca superar esta ausência de consciência, ou seja, um projeto que possa construir indivíduos integralmente desenvolvidos e emancipar os trabalhadores do seu processo de alienação.
Na concepção marxista, a partir da lógica do pensamento dialético, haveria uma reciprocidade de influências entre a consciência e as condições materiais da vida em sociedade.
Indivíduo - Por um lado, o mundo das ideias é influenciado de forma determinante pela realidade material.
Meio social - Por outro lado, esta mesma base material da sociedade pode ser transformada pela ação consciente dos indivíduos.
A particularidade da concepção de Marx está no fato de ele perceber este grande conjunto das ideias representado pelos valores e crenças predominantes, no caso da sociedade capitalista, como o fruto de um processo de dominação das elites burguesas. Como consequência, por terem perdido o controle sobre a organização da produção, os trabalhadores teriam perdido, também, a possibilidade de construir uma visão adequada sobre a sua própria realidade. Eles perceberiam o mundo a partir dos valores da burguesia, como se esta fosse a única forma possível de trabalhar e viver.
Burguesia X Proletariado
Segundo Marx, no capitalismo existem os burgueses, proprietários dos meios de produção e aqueles que vendem o único bem que possuem, ou seja, a sua força de trabalho, em troca do pagamento de salário. Estes seriam os proletários, classe que representaria a maioria da sociedade. Para eles, o modo de vida estabelecido na sociedade capitalista parece algo natural. É como se trabalhar em troca de um salário fosse uma espécie modo de vida que sempre existiu e sempre existirá.
Um conceito fundamental, na concepção marxista, é o de alienação.
O trabalho na sociedade capitalista é considerado como algo sobre o qual o próprio trabalhador não possui nenhum controle. Ou seja, um operário numa determinada linha de montagem executa muito bem a sua função, por exemplo, encaixar amortecedores na carroceria do veículo, sem ter a menor ideia sobre o procedimento para construir, de modo completo, um automóvel. Este saber lhe foi expropriado num processo histórico, juntamente com os meios de produção. Este mecanismo é definido por Marx como alienação.
A organização do trabalho social na sociedade capitalista, segundo Marx, possuiria, portanto, uma considerável diferença em relação ao que era feito na sociedade feudal.
Naquele período, em que predominavam as oficinas artesanais nas vilas e pequenas cidades, o Mestre Artesão era ao mesmo tempo executor e organizador do processo produtivo.
Essa situação difere profundamente daquela presente na sociedade capitalista, na qual o dono da fábrica, que organiza e planeja a produção, não é quem executa o trabalho.
No modelo civilizatório marcado pela presença do capitalismo, a fragmentação das atividades profissionais é a marca registrada. A divisão entre aqueles que realizam trabalhos exclusivamente intelectuais e a grande maioria que executa tarefas manuais e repetitivas, sem a exigência de uma elaboração mais complexa é, de fato, a regra.
A causa da consciência distorcida construída pela grande maioria dos trabalhadores acerca do seu próprio modo de vida, é justamente esta divisão qualitativa do trabalho.
Marx considerava esta situação, além de injusta, a causa de todo o processo de alienação presente na sociedade de sua época, a Europa do século XIX. 
Para resolver este problema, além da ação de conscientização das massas pelos integrantes do partido comunista (que ele considerava o partido revolucionário da causa dos trabalhadores) Marx imaginou um projeto de educação que pudesse compensar estas diferenças.
Marx e Engels percebiam as práticas de educação escolar como uma importante ferramenta que poderia ser utilizada, tanto para perpetuar o processo de alienação e de dominação existente na sociedade capitalista, quanto para emancipar os trabalhadores desta realidade.
É fundamental que você procure deslocar o pensamento para o século XIX e tente imaginar como viviam as pessoas nas cidades industriais naquele momento, para poder entender o raciocínio de Marx com relação ao seu projeto educacional.
Em algumas citações de O Capital, sua obra mais importante, Marx relata algumas visitas a escolas localizadas em cidades na Inglaterra, cujas condições de ensino eram tão precárias, que só poderiam servir como espécie de engodo, para a nova legislação inglesa de 1844, que determinava que as crianças ao serem contratadas pelas fábricas deveriam estar devidamente matriculadas em algum estabelecimento de ensino.
Projeto Educacional de Marx
Sugerido para solucionar o problema educacional, o projeto de Marx certamente seria alvo de certa estranheza nos dias atuais. Para ele:
 - as escolas deveriam formar indivíduos integralmente desenvolvidos, isto é, que ao longo da sua formação dividissem seu tempo entre o trabalho manual, as atividades intelectuais e o lazer;
 - as crianças de até 12 anos deveriam passar ao menos 2 horas por dia trabalhando de modo a combinar o trabalho braçal com prática intelectual. Esta jornada de trabalho associada à educação deveria ser elevada até um período de 6 horas por dia, quando a criança completasse 16 anos. 
O Projeto Educacional de Marx pode ser representado pela equação abaixo.
Projeto Educacional de Marx = Educação Intelectual + Educação Profissional + Educação Física
Para Marx era fundamental que todos os indivíduos combinassem educação intelectual, educação profissional e educação física, na sua formação. Só assim, todos se tornariam indivíduos integralmente desenvolvidos, capazes de desenvolver diferentes tarefas e atividades sociais. Ele considerava injusto que alguns indivíduos trabalhassem apenas com a mente, desenvolvendo seu intelecto, enquanto outros passassem toda a vida presos a atividades manuais repetitivas e embrutecedoras, no que se refere ao espírito humano. 
Mesmo para os membros da burguesia, a educação fragmentada era considerada por Marx como prejudicial, na medida em que o indivíduo se via desprovido daquilo que ele considerava como conhecimento tecnológico.
É importante ressaltar que este projeto de educação sugerido pela teoria marxista se apresentava para a realidade europeia no século XIX. 
Neste momento o acesso a escola, mesmo num sentido tradicional, era restrito a um pequeno número de crianças originárias das classes mais favorecidas. 
Além disso, a possibilidade de automação do processo produtivo, como conhecemos hoje, era algo inconcebível em termos tecnológicos. Sendo assim, na visão de Marx, a ideia de que todos pudessem, ao longo de seu dia, compartilhar todas as funções existentes na sociedade, tanto as mais enaltecedoras quanto as mais laboriosas, se apresentava como a alternativa mais justa.
Aula 07 - A Sociologia de Max Weber
O sociólogo Max Weber parte do princípio de que a sociedade não é apenas algo exterior aos indivíduos. Ao contrário, ela seria o resultado de uma imensa rede de interações entre os seus membros. 
Para analisar esta rede de relações não basta observá-la de modo distante, é necessário se aproximar, interagir e, a partir daí, assimilar os diferentes tipos de racionalidade que motivam as ações sociais. 
 
Esta compreensão do sentido subjetivodas ações dos indivíduos que se relacionam com os demais membros da sociedade ou grupo é a base da sociologia weberiana, que será abordada nesta aula.  
Um importante conceito que é a base a partir da qual a sociologia weberiana pode ser estruturada é o conceito de ação social. 
Ação social, segundo Weber, é todo tipo de conduta humana relacionada a outros indivíduos e dotada de um sentido subjetivamente elaborado. 
Para Weber, a sociedade não seria um organismo com uma espécie de complementaridade entre as suas partes, como postulava Durkheim, tampouco uma espécie de prisão para as classes menos favorecidas, como imaginava Marx. 
Para ele, a sociedade se apresentava como uma grande teia formada por diversos tipos de ações sociais. A identificação do sentido subjetivo dessas ações, ou seja, do tipo de racionalidade que as motiva e que leva a este ou àquele comportamento é o que define a sociologia weberiana como compreensiva.
De um modo diferente daquele empregado por seus contemporâneos, Weber rompe de forma mais sistemática com o cientificismo de influência positivista, muito presente nas obras de pensadores do século XIX, como Émile Durkheim. 
 
Um traço marcante do pensamento weberiano é a sua ruptura radical com a lógica do cientificismo positivista.
Auguste Comte definia a sociologia como a física social. Segundo ele, a lógica de pesquisa desta disciplina seria destinada a conhecer os processos sociais, para poder prever os seus desdobramentos.
Ao contrário, Weber, ao perceber a sociedade como uma teia constantemente renovada de ações sociais, afirma ser esta realidade hipoteticamente infinita e que apenas um fragmento de cada vez pode ser objeto de conhecimento sistematizado, no sentido da pesquisa científica.
É na simples escolha de uma das partes deste todo para ser estudada, que se encontram envolvidos os valores do pesquisador. 
A escolha de um caminho para a pesquisa envolve um tipo de racionalidade e, consequentemente, também se caracteriza como uma ação social.
Com o objetivo de qualificar estas ações sociais, Weber desenvolve o conceito de tipos puros ou tipos ideais, sabendo que estas construções não espelhariam de forma fiel a realidade. Elas se apresentariam como pontos de referência, a partir dos quais seria possível se estabelecer níveis de comparação com o mundo concreto, funcionando, na prática, como um importante método de investigação para as ciências sociais.
Todas as ações praticadas em sociedade implicam em um determinado nível de racionalidade, por parte do sujeito que as executa. Justamente a partir do seu caráter mais ou menos racional, Weber estabelece uma classificação para as ações sociais, segundo o princípio dos tipos ideais.
Ação Social racional com relação a afins - São aquelas cujo sentido subjetivo envolve os meios adequados para se atingir determinados objetivos, previamente estabelecidos. Ex.: uma pesquisa científica, um projeto econômico, fazer um curso de graduação etc.
Ação social afetiva - São aquelas cujo sentido subjetivo racional se mistura a uma forte carga emocional, muitas vezes comprometendo a própria análise da racionalidade em questão. Ex.: ações motivadas por ciúme, cólera, paixão etc.
Ação social racional com relação a valores - São aquelas cujo princípio racional não se vincula tanto ao objetivo a ser alcançado, mas à afirmação de determinados valores. Ex.: participar de uma manifestação em defesa da natureza ou em prol dos direitos humanos, ou entrar para a universidade porque a família considera este um ponto importante.
Ação social racional com relação ao regular ou ação social tradicional - São aquelas cujo sentido subjetivo se constrói com vistas à observação de costumes ou tradições.  Ex.: o casamento religioso ou o batismo dos filhos em determinada igreja, para quem não é praticante daquela crença. Ir para a universidade porque todos na família assim o fizeram etc.
Para finalizar esta aula, vale ressaltar que a afirmação de que Weber considerava as situações descritas como tipos ideais, construídas para simples efeito de comparação é porque elas não representam a realidade num sentido fiel, mas sim para efeito de aproximação.
Um rapaz pode ingressar na universidade para se graduar em Medicina, o que seria uma ação social racional com relação a fins. Entretanto, ao se matricular escolhe uma turma da manhã com o intuito de reencontrar uma ex-namorada. Além disso, todos na família são médicos e isto o faz sentir na obrigação de dar continuidade a esta cultura familiar. Neste caso, seriam misturadas à ação racional outras de caráter afetivo e tradicional.
Aula 08 - As Práticas de Educação para a Sociologia Weberiana
Nesta aula estudaremos a história humana, que segundo Max Weber, poderia ser definida como um processo crescente de racionalização das relações sociais. O agir em sociedade pressupõe determinadas normas, que se enraízam e institucionalizam. Na medida em que as relações sociais se tornam mais complexas, maiores os desafios para se estabelecer níveis de consenso que possam abrigar as diferentes relações sociais. 
Com o estabelecimento do Estado Moderno e as formas de dominação legítima que lhe são correspondentes, a efetivação da autoridade nacional passa a depender de um quadro administrativo profissional e hierarquizado, o que Weber definia como burocracia. 
Neste momento o exercício da autoridade passa a depender, de forma crescente, da legitimidade estabelecida pelo direito racional. É justamente a partir da necessidade de formação deste quadro de funcionários, que se submetem à autoridade por meio de princípios cada vez mais racionais, que as práticas de educação assumem importância crucial para a análise desenvolvida pela sociologia weberiana.
A história humana, segundo Max Weber, poderia ser definida como um processo crescente de racionalização das relações sociais.
O agir em sociedade pressupõe determinadas normas, que se enraízam, institucionalizam e em seguida assumem a forma de leis. 
Na medida em que as relações sociais se tornam mais complexas, maiores também se tornam os desafios para conciliar os diferentes interesses em jogo.  
É neste sentido que Weber imagina a sociedade humana como inserida num processo contínuo de aprimoramento da subjetividade ou racionalidade, que envolve as relações sociais.
Este movimento implicaria no crescente abandono de concepções místicas e tradicionais, no que se refere à constituição dos diferentes princípios de autoridade, incluindo-se aí o próprio Estado.
Para explicar este movimento, Weber constrói novamente uma tipologia, num sentido ideal, destinada a analisar as diferentes formas de dominação legítima. Segundo este autor, existiriam três tipos puros ou ideais de dominação legítima.
Dominação tradicional - É baseada nas tradições e mais diretamente relacionadas às monarquias absolutistas do período conhecido como idade moderna.
Dominação carismática - É baseada no carisma do líder e geralmente se caracteriza por períodos de ruptura institucional. 
Dominação racional legal - É baseada na racionalidade e nas disposições legais, como no caso do Estado Moderno. Essa dominação é relacionada ao Estado de Direito e à presença de uma burocracia em termos administrativos.
É neste momento que a sociologia weberiana atribui um significado relevante para as práticas de educação.
Para Weber, a educação é o modo pelo qual os indivíduos são preparados para exercer funções, relacionadas à nova realidade caracterizada pela racionalização da vida, tanto na administração do aparelho de estado, quanto nas empresas capitalistas.
Segundo a sociologia weberiana, as práticas de educação passariam a se caracterizar por um conjunto de conteúdos voltados para o treinamento de indivíduos, a fim de que se tornassem aptos a desempenhar variadas funções tanto no Estado, quanto nas empresas.  Neste sentido, a própria condução do processo político se daria em moldes mais racionais.
A sociedade capitalista, segundo Weber, teria desenvolvido práticas de educação cujo objetivo seria treinar o indivíduo,ao invés de simplesmente cultivar o seu intelecto.
Educar de modo a desenvolver um sentido mais racional, nas diferentes relações sociais passou a ser fundamental para o Estado na sociedade capitalista, uma vez que este “novo” homem não deveria mais obediência a princípios místicos e sobrenaturais, mas sim ao direito racional.
Para refletir sobre a sociologia da educação, Weber constrói alguns conceitos como o da Pedagogia do Cultivo e o da Pedagogia do Treinamento.
Pedagogia do cultivo - É um conjunto de práticas destinadas a formar um tipo de indivíduo culto, o que implica transformações no seu comportamento interior e exterior. Este processo assumiria o sentido de uma “qualificação cultural” no sentido de uma educação de caráter abrangente, o que traria implicações no sentido do status e da própria qualidade de vida do indivíduo. Nas sociedades pré-industriais estas práticas estariam restritas às elites sociais e intelectuais.  
Pedagogia do treinamento - São as práticas de educação dominantes do Capitalismo. Segundo o autor, com a racionalização da vida social e a crescente burocratização do Estado moderno, a educação deixa gradualmente de ter como objetivo a “qualidade da posição do homem na vida” e passa a se constituir num projeto especializado com o objetivo de formar peritos e especialistas com vistas ao mercado de trabalho. Weber percebia com certa melancolia esta relação com o conhecimento, que poderia ser percebida como uma espécie de “depressão intelectual”.
Para Weber, a Pedagogia do Treinamento, imposta pela racionalidade da sociedade capitalista, se apresentava como um forte obstáculo ao desenvolvimento do talento e da própria realização pessoal dos homens, de um modo geral.
Esta era uma racionalidade que mantinha uma relação utilitarista com o conhecimento, destinada apenas à obtenção de poder e dinheiro.
Aula 09 - As Contribuições de Bourdieu, Gramsci e Mannheim
O comunista italiano Antonio Gramsci nunca publicou um livro, mas encontramos suas ideias em periódicos de partidos políticos e da imprensa e, sobretudo, nos famosos Cadernos do Cárcere, produzidos durante a sua prisão durante o governo fascista de Mussolini. 
É importante ressaltar que Gramsci sofreu muita influência de Karl Marx, porém, foi adiante, pois atualizou a teoria de Marx para analisar as sociedades capitalistas da Europa na primeira metade do século XX.
Em sua obra, Gramsci faz distinção entre Oriente e Ocidente. Essa não é apenas uma distinção geográfica, mas, política.
Por Oriente ele entendia os países onde o Estado é poderoso e a Sociedade Civil é fraca, dotada de pouca organização e de pouca capacidade de fazer frente ao Estado.
Por Ocidente ele entendia aqueles países em que a sociedade civil é estruturada, múltipla, organizada, e compartilha com o Estado a administração da vida social. São os países de capitalismo avançado, cujo mercado interno é forte e a vida política é plural.
Ao contrário do Oriente, no Ocidente o poder encontra-se diluído entre o Estado e a Sociedade Civil. Sendo assim, não é suficiente que os grupos políticos revolucionários se voltem apenas contra o Estado. É preciso empreender uma “revolução no cotidiano” a partir de uma política feita na sociedade. Para chegar a tal intento, não basta o uso da força, é necessário alcançar a consciência das pessoas. É preciso ganhar a “batalha das ideias”.
Entenda a diferença entre os pensamentos de Marx e Gramsci.
Marx afirmava que o proletariado deveria abolir a exploração econômica de uma classe sobre a outra, eliminando a propriedade privada dos meios de produção.
Para Gramsci, eliminar a propriedade privada dos meios de produção não seria suficiente, pois precisariam lutar também contra a “apropriação privada, ou elitista, do saber e da cultura”.
De acordo com Gramsci, era necessário desfazer a separação entre “intelectuais” e “pessoas simples”, porque apenas aqueles tidos como intelectuais ocupavam postos de administração do Estado e da sociedade civil, concentrando mais poder. 
Para este autor, a luta pela hegemonia, ou seja, o processo lento e complexo pelo poder político nas sociedades complexas, não é vencida através do golpe de Estado ou pelo êxito nas eleições. É necessário convencer as pessoas, conseguir um consenso social em torno de suas concepções. Nesses termos, ele considerava o convencimento mais adequado do que a força.
No processo da hegemonia pelo poder político, os intelectuais têm um papel muito importante, pois são eles que organizam a cultura. 
Para eliminar as desigualdades e as injustiças, é necessário fazer uma “reforma intelectual e moral”. Contudo, lutando pelo poder existem aqueles grupos que querem manter a sua hegemonia e aqueles que buscam uma nova hegemonia. Esses grupos representam as diversas classes e frações de classes que disputam o poder na sociedade. 
Nos momentos em que a disputa se torna mais acirrada, há uma tendência de polarização entre os interesses dos que desejam mudar e os dos que querem manter seu poder.
Blocos históricos
A partir de alianças internas, as classes dominantes e as classes dominadas acabam se organizando em blocos, chamados por Gramsci de “blocos históricos”. 
Cada bloco tem seus próprios intelectuais que brigam para organizar a cultura de determinado contexto histórico a partir de seus interesses.
Segundo Gramsci, existem dois tipos de intelectuais, o intelectual orgânico que tem como função fazer com que todos na sociedade adotem as ideias e concepções da classe dominante e os intelectuais tradicionais, que em outros tempos, também, podem ter desempenhado o papel de intelectuais orgânicos na medida em que representassem os interesses daquelas que seriam as classes dominantes, em modos de produção anteriores.
A questão das características do sistema escolar se torna importante para Gramsci, porque o intelectual é formado na escola. 
Através da análise do sistema escolar italiano de sua época, Gramsci notou que a ciência havia se misturado à vida cotidiana de uma maneira inédita na história e as atividades práticas, como a construção de casas, a cura das pessoas e as artes, foram transformadas em atividades complexas e especializadas.
Esse movimento de Gramsci teve como consequência a criação de um sistema educacional híbrido, no qual há dois tipos de escola: a “humanista” e a especializada.
Escola Humanista - Fornece uma formação “clássica” (baseada nos valores da cultura greco-romana) que deve desenvolver nos indivíduos uma cultura geral, dando a cada indivíduo, nas palavras de Gramsci, “o poder fundamental de pensar e se orientar na vida”.
Escola especializada - Fornece uma formação específica dos diferentes ramos profissionais ou baseadas na necessidade de operacionalizar os conteúdos específicos. Essa distinção, na concepção de Gramsci, tem um conteúdo de classe. A formação geral obtida na escola “humanista” é dada aos filhos das classes dominantes, formando os seus próprios intelectuais orgânicos.
Com o desenvolvimento industrial e a urbanização, o perfil da formação desses intelectuais se transformou. 
Ao lado da escola “clássica”, desenvolveu-se uma escola técnica que substituiu a clássica, pois era mais adequada à formação dos intelectuais orgânicos das classes dominantes.
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron - A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino (1970)
O sociólogo francês Pierre Bourdieu baseou-se nas concepções de Émile Durkheim e no Estruturalismo para fazer a sua análise sobre a educação contemporânea. É importante saber que, para o Estruturalismo de Bourdieu, os sujeitos sociais são vistos como marionetes das estruturas dominantes.
Em 1970, Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, sob a influência de Durkheim, Karl Marx, Max Weber e com o intuito de construir uma teoria sobre o sistema escolar, partem do princípio de que toda e qualquer sociedade estrutura-se como um sistema de relações de força material entre grupos e classes.
Para Bourdieu e Passeron, a força material, ou seja, o capital econômico, é a base que determina a forçasimbólica ou capital cultural. O papel deste é reforçar, por dissimulação, as relações de força material.
Dito de outra forma, a classe que possui o capital econômico produz e reproduz o capital cultural e faz isso escondendo (dissimulação) o seu caráter de violência simbólica (dominação cultural).
A violência simbólica pode se manifestar de várias maneiras: formação da opinião pública pelos meios de comunicação de massa, discurso religioso, artes plásticas e literatura, propaganda e moda, educação familiar, sistema escolar etc. 
É assim que Bourdieu e Passeron consideram a ação pedagógica como a imposição arbitrária da cultura dos grupos ou classes dominantes aos grupos e classes dominados. A utilização da autoridade pedagógica é fundamental para que se exerça essa imposição, criando no educando um habitus.
A função da educação é a de reprodução das desigualdades sociais. Pela reprodução cultural, a educação contribui para a reprodução social.
Despossuídas de força material e força simbólica, as classes dominadas não escapam dessa imposição. Segundo Saviani, para Bourdieu e Passeron, a educação, não se configura como um fator de superação da dominação, mas, ao contrário, constitui-se como um elemento reforçador da mesma. Toda tentativa de usá-la como instrumento de superação da dominação é apenas ilusão. É a forma pela qual ela dissimula e, por isso, cumpre eficazmente a sua função de dominação.
À luz da teoria da violência simbólica, a classe dominante exerce um poder de tal modo absoluto que se torna inviável qualquer reação por parte da classe dominada.
Karl Mannheim
 
Karl Mannheim também recebeu influências dos clássicos. Segundo Rodrigues, Mannheim retomou a formulação de Max Weber sobre os tipos de educação e tem por objetivo fornecer um programa para a mudança da educação.
Na sua concepção, era necessário regenerar a sociedade e o homem através de uma educação sadia. Para tanto, era preciso criar uma pedagogia, a partir da compreensão dos diferentes tipos históricos de educação (construídos por Weber), que educasse o homem moderno sem tirar dele as possibilidades oferecidas por uma educação mais integral. Na sua visão, era um erro separar a pedagogia do cultivo e a pedagogia do treinamento.
De acordo com Mannheim, a sociedade regenerada estava ligada ao advento da democracia moderna. A modernidade, para ele, não tinha apenas custos ou ameaças à liberdade, mas trazia também esperanças e valores sociais solidários, abertos. A principal ajuda que a moderna democracia era capaz de oferecer consistia na possibilidade de que todas as camadas sociais viessem a contribuir com o processo educacional. Nesse sentido, duas ciências são fundamentais: a psicanálise e a sociologia.
Psicanálise - É responsável por um novo padrão de vida pautado pela saúde mental e pela libertação das repressões adquiridas na formação do homem.
Sociologia - Era vista como a disciplina capaz de sintetizar as contribuições de todas as camadas sociais para o processo educacional. A Sociologia devia, então, servir de base à Pedagogia. Assim, Mannheim defendia uma sociedade essencialmente democrática, uma democracia de bem-estar social dirigida pelo planejamento racional e governada por cientistas.   
Conforme Rodrigues (2007), “Em suma, Mannheim era um homem de seu tempo, em busca de um programa de estudos em sociologia da educação que possibilitasse a formulação de projetos educacionais que ampliassem o horizonte do homem, que superasse as divisões em blocos políticos e ideológicos, que não o satisfaziam”.
Aula 10 - A Cultura da Escola em um Espaço Multicultural
Nos dias atuais, a consciência de que a realidade se transforma de modo constante e profundo se torna bastante generalizada. O mundo globalizado, profundamente influenciado pelos interesses presentes no mercado de consumo, permite que as diferentes realidades socioculturais estabeleçam pontos de contato, numa intensidade jamais registrada na história humana. 
Em regiões como a América Latina, assistimos a um processo de hibridização cultural, que ressalta a consciência do caráter multicultural das diferentes sociedades latino-americanas. Contudo, nem sempre a evidência desta diversidade tem apontado num sentido de um convívio mais democrático entre as diferentes realidades culturais. Isto significa que, paralelamente a esta diversidade, em muitos segmentos da realidade social continua-se a reproduzir um discurso “engessado” e monocultural, marcado por um sentido de exclusão e com um caráter autoritário.
Estas práticas são encontradas, inclusive, ao nível da cultura escolar.
Esse tema será abordado nesta aula.
Refletir sobre o papel da educação em uma sociedade marcada pela multiculturalidade é algo recente no mundo ocidental e, de modo particular, na América Latina. 
 
Na verdade este é um processo que não surge a partir de questões exclusivamente pedagógicas, uma vez que sua origem está relacionada a questões de natureza política, ideológica e cultural, decorrentes, em muitos casos, a conflitos étnico-culturais.
O que pode ser percebido, como consequência inclusive de nossa herança colonial, é que as relações étnicas nas sociedades contemporâneas da América Latina apresentam-se como reflexos de estruturas de dominação e disputa pelo poder político. 
Neste sentido, mesmo constatando a presença de uma realidade social marcada pela multiculturalidade, é possível identificar um sentido homogeneizador na cultura escolar, o que estabelece uma desconexão entre esta e a cultura da sociedade, num sentido mais generalizado.
A cultura escolar, de um modo predominante, se apresenta como engessada, no sentido da reprodução de um único discurso, que seria aquele dos segmentos mais elitizados da sociedade. Desta forma criam-se verdadeiros aparteids socioculturais, ou processos de guetificação.
De modo conclusivo, fica evidente que a simples consciência do caráter multicultural da sociedade não estabelece, por si só, uma perspectiva mais democrática no que se refere às relações entre os diferentes grupos étnicos.
 A construção de um sentido intercultural para as relações sociais envolve o diálogo e uma concreta inter-relação, entre as diferentes realidades culturais.
1. Que se abandone a perspectiva etnocêntrica, que tem caracterizado as relações sociais, por exemplo, na sociedade brasileira;
2. que o “outro” seja percebido apenas como diferente e não como algo “menor” em função da diferença.  
Sintetizando, a perspectiva intercultural para a educação envolve uma efetiva relação dialógica entre os diferentes segmentos sociais e grupos étnicos.
Para isto, é fundamental a existência de um espaço democrático, em que se possa fomentar a solidariedade e o respeito à diferença nas relações entre as diversas etnias.
É importante construir, ao nível das políticas educacionais, a valorização da diversidade cultural, garantindo a todos, em igualdade de condições e de forma digna, o direito à educação.
É relevante enfatizar, também, que esta perspectiva intercultural para a educação não pode ser reduzida a algumas atividades realizadas de modo esporádico. 
Este projeto deve assumir um sentido generalizado e abrangente, ao nível da cultura escolar e da cultura da escola, envolvendo todos os atores e todas as dimensões do sistema de ensino.

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