Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) ISQUÊMICO AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - É a 2º maior causa de óbito no mundo (5,7 milhões por ano), sendo a 1ª causa de incapacidade - Incidência – 108 casos a cada 100.000 habitantes no Brasil - Mortalidade de 40,9 por 100.000 habitantes - O aparecimento dos sintomas e/ou sinais são súbitos causados por perda de função cerebral focal. · 80-88% são isquêmicos · 12-20% são hemorrágicos – hemorragia intraparenquimatosas e subaracnóideas - Os fatores de risco podem ser modificáveis e não modificáveis - Os principais fatores de risco são: · Idade · AVC e AIT prévio · História familiar · Hipertensão – HAS aumenta o risco de 3-4x, e a redução da PA reduz o risco em 38% de AVC (é um fator modificável) · Diabetes · Dislipidemia · Doenças cardíacas emboligênicas e fibrilação atrial · Tabagismo · Obesidade e sedentarismo FISIOPATOLOGIA - Ocorre uma obstrução ao fluxo sanguíneo, um trombo que tenha se desprendido da circulação e venha como uma fonte embólica ou uma aterosclerose in situ por uma placa instável resultando numa obstrução local. CLÍNICA - As manifestações clínicas ocorrem de acordo com o local de sofrimento isquêmico, e a distribuição dos sintomas vai depender da extensão dos eventos e localização. - AVC hemorrágico – características clínicas mais comuns: · Cefaleia · Rigidez de nuca · Vômitos · Coma - AVC isquêmico – características clínicas mais comuns: · Ataque isquêmico transitório prévio · Fibrilação atrial · Fatores de risco para aterosclerose - Apenas com a clínica, não é possível fechar a diferenciação. A definição é apenas com tomografia de crânio. · O paciente pode ter um AVC isquêmico extenso com aumento de PIC e rebaixamento, ou o paciente pode tá fazendo uma crise não convulsiva. Ou o paciente pode ter um AVC hemorrágico pequeno com apenas déficit focal. · Por isso, não se pode trombolisar apenas com a clínica. É preciso de uma tomografia antes. - Territórios arteriais · Em rosa – território da ACM · Costuma fazer mais AVC maligno (ou mais graves) quando pega tronco de ACM e tronco de carótida · Em laranja – território da ACA · Em azul – território da ACP - Quando se pensa em AVC? · Hemiplegia e hemiparesia · Hemiparesia desproporcional de braço e pernas, que predomina em perna (tanto motora, quando sensibilidade), sugere uma manifestação de ACA (giro pós-central). · Hemianestesia e hipoestesia · Hemianopsia – perda parcial ou complexa da visão em uma das metades do campo visual · Disartria – desarticulação da fala · Afasia – alteração da linguagem · Negligência – alterações corticais · Ataxia – alterações de coordenação - Prognóstico? Avaliar o grau da lesão e o de acometimento · Por exemplo – lesão proximal (parte maior da artéria) antes de fazer bifurcação o prognóstico é pior. Classificação clínica de Bamford – pela clínica do paciente, ter uma noção da extensão do evento. - Síndrome da circulação anterior total (TACS) – acometeu mais o tronco vascular · Hemiplegia; E · Hemianopsia; E · Hipoestesia; E · Disfunção cortical superior – como afasia e negligência. - Síndrome da circulação posterior (POCS) · Paralisia de NC + déficit sensitivo-motor contralateral à paralisia do NC. · Evento vascular no tronco · Déficit sensitivo-motor bilateral · Uma tetraparesia por exemplo · Disfunção cerebelar · Hemianopsia isolada ou cegueira cortical · Occipital é irrigada por ACP - Síndrome da circulação anterior parcial (PACS) – um AVC mais profundo · Déficit sensitivo-motor + hemianopsia; OU · Déficit sensitivo-motor + disfunção cortical; OU · Disfunção cortical + hemianopsia; OU · Disfunção cortical + motor; OU · Disfunção cortical isolada. - Síndrome lacular (LACS) – infarto lacunar profundo que acometeu uma área pequena. · Síndrome sensitiva pura · Síndrome motora pura · Síndrome sensitivo-motora · Disartria-clumsy hand Stroke Mimics – mimetizam um AVC, podem representar 14-30% dos casos de AVC · Hematoma Subdural · Abscesso cerebral · Tumor · Infecções · Hipoglicemia – altera os níveis de consciência e déficits neurológicos focais · Os protocolos sugerem a necessidade da glicemia capilar no atendimento · Doença desmielinizante – indivíduo jovem quadro arrastado que se manifesta com déficits focais · Migrânea – migrânea hemiplégica familiar · Crise convulsiva – crise convulsiva, e déficits focais no pós-ictal · Paralisia de Todd – fraqueza após a crise convulsiva Atenção! Embora possam mimetizar, não podemos deixar o AVC como 2ª hipótese diagnóstica. Entretanto, não podemos desconsiderar as possíveis mimetizações. NIHSS – escala de identificação e estratificação da gravidade e prognóstico do AVC - Não é preciso decorar, tem calculadoras de celular, ou vem junto do protocolo AVC. Mas sabe-se que ele varia de 0 a 42 - É uma escala mais prática, por exemplo no grau de força avalia a força útil e não importa os graus de força. No entanto, o NIHSS não substitui o exame físico neurológico, e é um exame que subestima circulação posterior · Um indivíduo com AVC em circulação posterior pontua pouco no NIHSS - Pontuação total de 0-3 – provavelmente terão bons resultados clínicos no seguimento · Pontuação <5 – déficit leve - Pontuação total de 4-21 – avaliar quanto à possibilidade de terapia fibrinolítica · Pontuação 5-17 – déficit moderado - Pontuação total >22 – avaliar caso a caso quanto à possibilidade de terapia fibrinolítica, possui maior risco de sangramento. · Pontuação >22 – déficit grave - AVC Extenso · Acima de 13 do lado direito · Acima de 18 do lado esquerdo AVALIAÇÃO - Paciente com déficit neurológico com início súbito, é feita uma coleta de história direcionada (visto que estou numa emergência), com: · Horário de início dos sintomas · Que horas começou vai determinar a conduta que eu preciso tomar · Pensando na trombólise, saber se o paciente é elegível ou não, faço as perguntas a respeito das: · Comorbidades · Uso de medicações · AVC/IAM recente · Sangramentos - Conduta geral · Monitorização, O2 se necessário e acesso calibroso (MOV) · ABC – Via aérea, respiração e circulação · Glicemia capilar – obrigatório · Exames laboratoriais · Hemograma, Ureia, Creatinina, TP, TTPA, Na, K, VHS, enzimas cardíacas e ECG · Tomografia computadorizada de crânio e AngioTC cerebral e cervical · Se a AngioTC não estiver disponível, faça a TC. - Dúvidas eventuais sobre a TC · Se nem a TC estiver disponível? Se ele estiver em janela (período em que é possível fazer a trombólise), transferir para local mais próximo que faça TC e trombólise. E fazer o tratamento de suporte. · Janela – tempo entre o início dos sintomas e o tempo máximo que se pode aplicar o trombolítico. Em média, é de 4,5h. · Não estou autorizado fazer a trombólise sem a TC, o resultado pode ser catastrófico. · Os achados de TC servem apenas para descartar ou confirmar a presença de sangramentos. O objetivo quando eu solicito uma TC não é confirmar AVC, o objetivo, portanto, é afastar um AVC hemorrágico. DIAGNÓSTICO - Tomografia de crânio sem contraste – achados possíveis iniciais (precocemente): · Normal; OU · Sinais precoces de isquemia; OU · Perda da diferenciação entre a substância branca e cinzenta · Apagamento/redução dos sulcos · Indicam que tem sofrimento, mas não tem lesão estabelecida · Hipodensidade/hipoatenuante. - Sinal de hemorragia na TC – hiperdensidade característica mal delimitada, ou esbranquiçada. · A hemorragia pode ser intraparenquimatosa, como na imagem A (acima); OU cortical na imagem abaixo. · Nem tudo que é branco é hemorragia, na imagem A há dois achados de calcificação de plexo (comum em idosos). - Hemorragia subaracnóidea (HSA) abaixo · HSA cursa com uma cefalia súbita de forte intensidade, explosiva como um trovão, ou Thunderclap Headache. Além de uma rigidez de nuca. - Paciente idoso pós-queda faz um hematoma subdural, e chega com uma hemiparesia súbita (SIC), mas na verdade a instalação da hemiparesia é insidiosa que quando muito intensa, o paciente nota como algo súbito, mas que na verdade já vinha se arrastando. · Por isso da importância da TC, pois podemos trombolisarde forma inadequada. - A sensibilidade da TC para sangramento é muito boa, o que fornece uma alta taxa de segurança em excluir sangramento. - Achados da TC que me ajudam a confirmar o diagnóstico de AVC isquêmico · ACM hiperdensa (‘dot sign’) – obstrução ou trombo · Hipodensidades – perda da diferenciação entre substância branca e cinzenta nas regiões insulares, opercular e gânglios da base. · São achados mais tardios, e muita hipodensidade contraindica trombolisar. Pois indica que morreu muito tecido, e não adianta recanalizar o vaso se o tecido não está mais viável. ASPECTS – Alberta Stroke Program Early CT Score - Foi criado para simplificar e avaliar as alterações isquêmicas precoces na TC de crânio sem contraste - Avalia 10 áreas em 2 cortes axiais na TC de crânio, cada área equivale a 1 ponto, e o escore vai de 0 a 10. · Cada região sem alteração na TC pontua 1 ponto, então o normal é o ASPECTS 10. · Se 2 regiões apresentam hipodensidade ou edema cerebral, o ASPECTS será de 8. - É um instrumento com grande variabilidade interobservador. A alguns programas que fazem o cálculo, para reduzir a variabilidade interobservador. · Regiões subcorticais analisadas · C: caudado; · L: lentiforme; · IC: cápsula interna; · Regiões corticais analisadas · M1: córtex ACM anterior; · M2: córtex ACM lateral à fita insular; · M3: córtex ACM posterior; · M4, M5 e M6 são territórios ACM anterior, lateral e posterior imediatamente superiores a M1, M2 e M3, rostral aos gânglios basais; · I: Ínsula. TRATAMENTO DO AVC AGUDO - Princípios · Recanalização da artéria ocluída e reperfusão do tecido isquêmico · Otimizar fluxo colateral · Evitar danos neurológico secundário - Pronta reperfusão é o tratamento mais eficaz para pacientes com AVC isquêmico. TERAPIA TROMBOLÍTICA - “Time is Brain” - Mudou o tratamento do AVC · Alteplase – rtPA – Ativador do plasminogênio tecidual recombinante, · Grande estudo NINDS 1995 que mudou o tratamento do AVC, e depois veio o estudo ECASS III que ampliou a intervenção para o AVC. - A terapia trombolítica aumenta em 30% chance de nenhuma ou mínima incapacidade. - O NNT* para independência funcional é 3,6 quando administrado em até 90 minutos. · *O NNT é o número necessário de pacientes que precisarão ser tratados que 1 paciente apresente no contexto em questão independência funcional. Resumindo, a chance é de 1/3,6 de independência funcional se o trombolítico é feito em até 90 minutos. - Embora, o benefício seja tempo dependente, ou seja, vai se perdendo com o tempo. De modo que após 4h e 30 minutos, o risco e benefício ficam muito próximos com uma tendência maior de risco. · Enquanto eu preciso tratar 3,6 para que 1 tenha independência funcional. Após 4,5h, eu precisaria tratar 30 para cada 1 paciente fique bem, por exemplo. - Quem é o indivíduo que vai para trombólise? · AVC isquêmico · Idade superior a 18 anos · Início dos sintomas <4,5h · Ausência de sangramento em TC de crânio · Ausência de contraindicação - Qual a dose? · Alteplase rt-PA (Ativador do plasminogênio tecidual humano recombinante) 0,9mg/kg 10% in bolus, restante (90%) em 60 minutos. - Contraindicações · Uso de anticoagulantes orais (INR>1,7) · AAS não é contraindicação, pois é um antiplaquetário. Antiplaquetário é permitido trombólise. Você não faz a trombólise se o paciente fizer uso de Marevan, Pradaxa, Xarelto que são anticoagulantes, por exemplo. · AVC isquêmico ou TCE grave nos últimos 3 meses · História de MAV ou hemorragia cerebral · TC de crânio com hipodensidade >1/3 do território vascular · Risco de transformação hemorrágica por recanalização · PA >185x110 refratária ao tratamento · Se o paciente chega com uma pressão de 190x110mg, por exemplo, vou precisar abaixar a pressão e mantê-la mais baixa durante a trombólise e preferencialmente mais baixa nas primeiras 24 horas. Geralmente, se usa o nitroprussiato (190 -> 160) efeito rápido, e dá para suspender de forma rápida também. Evita-se Atensina (Clonidina) ou Losartana VO, pois causam um regime de hipotensão que é mais difícil de suspender. · Num paciente que não é candidato à trombólise, podemos tolerar uma PA um pouco mais elevada, ou hipertensão permissiva nas primeiras 24 horas. · Melhora rápida e completa dos sintomas ou déficit leve · Cirurgia de grade porte ou procedimento invasivo nos últimos 14 dias · Hemorragia geniturinária ou GI nos últimos 21 dias · Punção lombar nos últimos 7 dias ou arterial em local não compressível · INR >1,7, plaquetas <100.000 ou TTPA elevado · Êmbolo séptico, gravidez · Glicemia <50 · IAM <3 meses · Suspeita de HSA - Cuidados pós-trombólise · A trombólise por si só, aumenta o risco de sangramento. Mesmo que eu não faça nada no AVC isquêmico, há um risco de transformação hemorrágica pela própria recanalização. · Em 24 horas, devo fazer a tomografia. · O paciente que faz uso de AAS não contraindica a trombólise. Mas assim que você parte para a trombólise, deve-se suspender nas primeiras 24 horas. Não posso fazer nem heparina nada durante essas primeiras 24 horas. - Indivíduo não candidato à trombólise · Hipertensão permissiva – podemos tolerar uma PA até 220 x 120mg para perfusão na área de penumbra. - Recanalização após trombólise · Só 33% dos pacientes com AVC carótida + cerebral média (M1) respondem à trombólise. · 63% com AVC na ACM respondem · E 81% com AVC na ACM M2, ramos distais de ACM e ACA ou oclusão de ACA (p=0,002). · A trombólise responde melhor em AVC distais com trombos menores - Só a trombólise não é suficiente, alguns estudos sustentam o uso da trombectomia: MR CLEAN (2014), EXTEND-IA (2015), ESCAPE (2015), SWIFT PRIME (2015). - Thrombectomy for Stroke in the Public Health Care System of Brazil (2020) - RESILIENT · O tratamento endovascular dentro de 8 horas após o início dos sintomas de AVC em conjunto com o tratamento padrão resultou em melhores resultados funcionais aos 90 dias do que o tratamento padrão sozinho. TROMBECTOMIA MECÂNICA - Indicado? · Oclusão de artéria carótida interna ou M1 ACM · Rankin prévio menor que 2 horas · Idade maior que 18 anos · NIHSS maior ou igual a 6 · ASPECTS maior ou igual a 6 · Tempo do início dos sintomas menor que 6h - É feito a trombólise e encaminha para hemodinâmica, o benefício já é algo constado em literatura. - NNT de 3 a 7 para independência funcional SITUAÇÕES - Estou num ambiente, sem trombolítico, sem TC, sem trombectomia. Até quero mandar o paciente para outra cidade com os recursos, mas a ambulância não chegou, não houve comunicação com o diretor do hospital ou família está incomunicável. Nessa situação, não tenho como recanalizar a artéria, então só me resta otimizar o fluxo colateral, um dos princípios do tratamento do AVC agudo. - O que seria então essa otimização do fluxo colateral? · Mantê-lo numa hipertensão permissiva, isso para manter um fluxo adequado para região de penumbra que é uma área que recebe fluxo de artérias colaterais adjacentes, mas que suprem pouco essa região ao redor. · Uma hipotensão deve ser evitada, pois isso iria reduzir a perfusão ainda mais das artérias colaterais nessa região de penumbra, e contribuiria para a morte de tecido nessa região. - Numa situação de trombólise ou trombectomia, eu preciso controlar a pressão, pois são situações que recanalizam o vaso, e o que estiver ao redor do vaso vai ser suprido. - Pacientes que não são candidatos à recanalização devem ser mantidos em: · Repouso · Dieta zero · Insulina regular se GC >140-180 · Glicose se GC<80 · Dipirona 500mg 1 ampola IV, se TºC axilar >37,5ºC · Nitroprussiato de sódio se a PAS >220 mmHg ou PAD >120mmHg · Nesse caso, a hipertensão permissiva é até 220mmHg, se passar disso, precisamos tratar. · Ou eu vou tratar se ele estiver entrando numa emergência hipertensiva, nesse caso precisamos tratar pela emergência (dor torácica, edema de pulmão, dispneia, dessaturação, piora do nível de consciência, cefaleia...) · O2 sob cateter nasal se SatO2 >94% · Clexane 40mg, SC, 1x/dia – o paciente que não trombolisou, é feito uma dose de ataque de antiagregante. · Soro Cloretode sódio 0,9% 250mg, IV, ACM · AAS 100mg · Atorvastatina 80mg - A trombectomia pode ser autorizada em até 24 horas do início do quadro desde que comprovada nos exames de perfusão a existência de área viva, embora não funcionante na área de penumbra. - Os exames de perfusão – mostra as áreas hipoperfundidas e de sofrimento isquêmico em comparação com a área que realmente infartou. RESUMO · AAS dose de ataque + dose de manutenção 100mg · Estatina – Atorvastatina 80mg de manutenção
Compartilhar