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Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Equideocultura www.gege.agrarias.ufpr.br/racequi Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1 (2016) Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X ESTADOS COMPORTAMENTAIS DE EQUINOS SUBMETIDOS ÀS PROVAS DE TAMBOR E BALIZA BEHAVIORAL STATES OF HORSES SUBMITTED TO DRUM TEST AND GOAL Erika Zanoni1; Barbara Hilgemberg2; Nei Moreira3; 1 Doutoranda em Zoologia – UFPR 2 Médica Veterinária autônoma 3 Professor da Universidade Federal do Paraná, Campus Palotina – PR. RESUMO Os animais possuem necessidades emocionais como os seres humanos e experimentam sofrimento físico e psicológico. O objetivo do trabalho foi avaliar o estresse e bem-estar de equinos que participam de provas de tambor e baliza através de testes de comportamento, hematologia e de bioquímica sanguínea. O experimento foi desenvolvido na cidade de Maringá-PR, utilizando oito animais da raça Quarto de Milha. A avaliação comportamental foi realizada no local da prova e os animais foram classificados em: calmo/alerta/medo/agressivo. Foram realizadas coletas de sangue para avaliação bioquímica e hematológica com os animais em repouso e após a competição. Na avaliação psicológica, observou-se que 87,5% dos animais apresentam alterações em seu comportamento (7/8). Entre as variáveis avaliadas no hemograma a única que apresentou diferença estatística significativa foi o número de neutrófilos, porém não acompanhado de linfócitos, como seria esperado. Conclui-se que as provas de tambor e baliza, podem promover alterações psicológicas nos animais atletas e que a resposta hematológica frente ao exercício pode estar relacionada ao aumento de neutrófilos. Palavras-chaves: comportamento, etologia, estresse http://www.gege.agrarias.ufpr.br/racequi 29 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X ABSTRACT Animals have emotional needs just like humans and they too experience psychological and physical pain. This work’s goal was to evaluate the stress and well-being of equine which participate in barrel and base competitions through behavior, hematology and blood biochemistry tests. The experiment was developed in the city of Maringá-PR, by using 8 Quarter Horses. The behavioral evaluation was conducted at the competition site and the animals were categorized in: calm/alert/fear/aggressive. Blood samples for biochemical and hematological evaluation were obtained with the animals at rest after the competition. On the psychological evaluation, it was observed that 87,5% of the animals presented behavior alterations (7/8). Between the variables evaluated on the CBC (Complete Blood Count) the only one which has presented significant statistical difference was the neutrophils count, not accompanied by lymphocytes however, as it would be expected. It concludes that barrel and base competitions can promote psychological alterations on the athlete animals and that the hematological response to the exercise may be related to the increased number of neutrophils. Keywords: behavior, ethology, stress INTRODUÇÃO Diversos autores relatam que os animais são considerados sencientes, ou seja, são capazes de sentir raiva, medo, alegria e compaixão (GRIFFIN & SPECK, 2004; MOLENTO, 2007). Algumas experiências emocionais intensas como nas provas de tambor e baliza podem desencadear mecanismos neurobiológicos complexos. Animais atletas apresentam frequentemente comportamentos anormais no que dizem respeito a sua resposta a um ambiente aversivo. As regiões encefálicas relacionadas com o comportamento emocional encontram-se nas estruturas que integram o sistema límbico, a área pré-frontal e o hipotálamo. Além da participação nos processos emocionais essas áreas regulam as atividades do sistema nervoso autônomo. Intimamente relacionados com essas funções estão os processos motivacionais primárias, essenciais à sobrevivência como fome, sede e sexo, que parecem também estar relacionadas com estas áreas cerebrais. (NETO, 2003) 30 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X Fowler (2008) divide os agentes estressores em 4 grupos: somáticos, psicológicos, comportamentais e mistos. Os agentes somáticos são os que produzem sensações físicas. Os psicológicos são os que provocam sentimento de frustração, rejeição, medo, ansiedade, etc. Os agentes comportamentais são ligados ao psicológicos, porém que limita os movimentos, as motivações internas e a execução do comportamento natural para a espécie. Já os agentes mistos são a diminuição da variedade de alimentos, má nutrição, intoxicações, problemas sanitários, cirurgias, queimaduras, medicamentos e contenção. Os hormônios envolvidos em situações de estresse são os glicocorticoides e catecolaminas. Esses hormônios são indicadores da atividade da adrenal e de seus distúrbios (MOSTL & PALME, 2002). A dopamina é um dos principais neurotransmissores e revela o funcionamento dos circuitos cerebrais e decisões comportamentais em equinos. O estresse cria uma superdosagem de dopamina e estas estão relacionadas com mudanças estruturais cerebrais (LESTÉ-LASSERRE 2015; HEALEY, 2014). JAIN (1993) descreveu as alterações hematológicas em equinos, tais como leucocitose com neutrofilia (sem desvio) como sendo indicadoras de estresse, fato que ocorre com os animais que participam de provas esportivas. Parâmetros bioquímicos são utilizados para se avaliar a intensidade dos treinamentos aplicados a equinos. Segundo LINDER (2000), o lactato é o melhor substrato a ser avaliado e valores dentro da referência para espécie, indicam bom condicionamento. O objetivo do trabalho foi avaliar as respostas comportamentais, hematológicas e bioquímicas de equinos submetidos ás provas de tambor e baliza e a sua relação com o bem- estar físico e psicológico dos animais. Buscamos compreender como os comportamentos de equinos estão influenciados pelo ambiente das provas de tambor e baliza. Se determinados comportamentos de equinos eram influenciados pelo estresse, então esperaríamos encontrar: emoções negativas relacionadas com parâmetros hematológicos indicadores sofrimento psicológico e físico. MATERIAL E MÉTODOS A coleta de dados foi realizada na cidade de Maringá-PR, durante a 4ª Etapa do VI Campeonato NBHA-PR no dia 23 de junho de 2013, no Parque de Exposições Francisco Feio Ribeiro. Foram utilizados oito equinos da raça Quarto de Milha, competindo nas provas dos três tambores, com idades variando de 4 a 13 anos, pesando aproximadamente 450 Kg. Os cavalos foram submetidos a avaliação comportamental durante a competição e classificados em: calmo/alerta/ medo e agressivo. A classificação do comportamento foi 31 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X realizada por meio de expressões de emoções (Tabela 1). As observações foram realizadas pelo atleta que era responsável pelo animal e por seu treino, utilizando o método animal do focal através de suas características. Tabela 1. Classificação das manifestações comportamentais em equinos. Classificação Manifestação Comportamental (Calmo-emoção positiva) Pescoço alto, vocalização, balança a cabeça, exibicionismo e forragear. (Alerta-emoção negativa) Semblante abatido, olhar sombrio, inquieto estereotipia, balança a cauda de um lado para outro, narina dilatadas e orelha para trás. Raiva (agressividade- emoção negativa) Pulos, lançar-se sobre as grades, bater, perseguir, cauda entre as pernas, narinas totalmente voltadas para trás e agressão. Medo (emoção negativa) Tentativa de fuga e pupilas dilatadas. As amostras de sangue foram colhidas da jugular dos animais em tubos com antcoagulante EDTA. As coletasocorreram em repouso e logo após o exercício. Os paramétros hematimétricos utilizados foram: contagem de eritrócitos, hematócrito (Hto), hemoglobina (Hb), volume globular médio (VGM), hemoglobina globular média (HGM), concentração de hemoglobina globular média (CHGM). Os parâmetros foram obtidos através do método BC- 2800 vet e microscopia. Para as análises de bioquímica sérica utilizou-se o soro do sangue para a mensuração de CPK (creatinina quinase) e ácido lático, através do método cinético e método enzimático, respectivamente. Os dados recolhidos das amostras foram apresentados em média (desvio padrão), de acordo com o método de Student bicaudado. 32 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X RESULTADOS Dos animais avaliados observou-se alterações de comportamento em sete deles (N=7; 87,5%), ou seja, equinos encontraram- se em situação de emoções negativas (Tabela 2). Tabela 2. Estados comportamentais dos equinos durante a competição. Animal Comportamento Véio Viola Super Moon Essência Dart Agnes Girl Violeira Calmo Alerta Medo Calmo Alerta Alerta Alerta Alerta Na avaliação hematológica foi possível verificar as diferenças entre a primeira e a segunda coletas nos animais que se mantiveram calmos e os que se mantiveram em estado de alerta, justificando que os alertas possivelmente passaram por um estresse momentâneo. O resultado do leucograma apresentou em ambas as classificações, dos animais uma leucocitose fisiológica recorrente a uma resposta à adrenalina. Os animais em alerta manifestaram um aumento não significativo de linfócitos em relação à primeira coleta, porém esse aumento foi inferior do que o apresentado nos classificados como calmos. O aumento de neutrófilos foi considerado significativo (p=0,04) e atribuído ao “pool” marginal de células no vaso sanguíneo (tabela 3). Na avaliação bioquímica em que se avaliou CPK e o ácido lático, foi observado um aumento dos valores quando comparados os momentos antes e depois da prova. Embora tenha 33 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X sido observada uma variação importante, tal diferença não atingiu o limiar de significância estatísticas e mostrou significativa (p = 0,6). Tabela 3. Resultados apresentados em média e desvio padrão das variáveis avaliadas. Calmos Outros Calmos Outro Calmos Outros n-2 n=6 p* n-2 n=6 p* n-2 n=6 p* Hemácias 8,58 (2,65) 8,40 (0,69) 0,9 8,36 (1,61) 8,60 (1,09) 0,8 - 0,22 (1,03) 0,20 (1,13) 0,7 Hematócrito (%) 40,1 (10) 39,7 (5) 0,4 38,6 (5,44) 42 (5,44) 0,5 - 1,45 (4,5) 2,33 (4) 0,3 Neutrófilos 1109 (9,9) 4080 (1538) 0.04 1613 (1232) 4603 (2294) 0,1 504 (1242) 519 (1948) 0,9 Linfócitos 4482 (4840) 3882 (2522) 0,8 6722 (3984) 4116 (1615) 0,1 2240 (855) 234 (1513) 0,1 CPK (UI/l) 221 (17) 208 (47) 0,7 223 (24) 247 (65) 0,6 1,5 (6,3) 39,3 (42,8) 0,2 Ácido lático (mmol/l) 4,4 (0,7) 5 (6,3) 0,8 4 (0,8) 6,8 (4,5) 0,4 - 0,4 (0,14) 1,78 (9,2) 0,7 Antes do exercício Após o exercício Variação Dados apresentados em média (desvio-padrão). Teste t de Student bicaudado DISCUSSÃO O estudo teve por objetivo avaliar as respostas emocionais e físicas dos equinos de provas de tambor e baliza. Sabe-se que o bem-estar é uma ciência voltada para o conhecimento e a satisfação das necessidades básicas dos animais. Este determina o grau em que as necessidades físicas, psicológicas, comportamentais, sociais e ambientais de um animal são satisfeitas, bem como sua capacidade de se adequar a situações. Por meio de sinais fisiológicos ou do comportamento eles demonstram o que estão sentindo. Os distúrbios comportamentais, portanto, teriam como função inicial uma compensação para a frustração ou inadequação do meio (BROOM & MOLENTO, 2004) A avaliação dos aspectos emocionais, a partir de um instrumento padronizado que deve levar em conta o contexto de expressão corporal e facial é capaz fornecer informações sobre o bem-estar. Sabe-se que esses ambientes podem promover mudanças fisiológicas no organismo, 34 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X porém existe um número reduzido de trabalhos com relação a expressão de emoções desses animais. No presente estudo observa-se que o comportamento é influenciado pelo estresse. É preciso conhecer quais os efeitos do estresse aos animais e investigar se existe uma justificativa fisiológica para os diversos comportamentos enfatizando a importância dos componentes emocionais para a constituição da preservação do bem-estar psicológico. A criação de instrumentos para avaliar qualidade de vida psicometricamente é bastante utilizada na psicologia e psiquiatria humana, porém não há relatos da sua utilização na medicina veterinária. A escassez de instrumentos nacionais parece refletir a dificuldade da comunidade científica em desenvolver instrumentos de avaliação de qualidade de vida que se apliquem aos equinos. O medo foi observado em um dos animais avaliados e ocorre quando um animal é confrontado com uma ameaça ao seu bem-estar ou à sua própria sobrevivência, ele apresenta um conjunto de respostas comportamentais. Nessa situação o perigo é real e definido. A ocorrência repetida do medo pode provocar uma reatividade neuroendócrina ou autonômica intensa e duradoura. O medo é um tipo de emoção que provoca a ação do simpático (MELO, 2015; BRANDÃO, 2004). Há várias teorias para explicar as alterações no leucograma e estas dependem da intensidade e duração do exercício, bem como do grau de estresse ao qual o animal atleta é submetido. Após análise de outros estudos, observa-se que a leucocitose é fisiológica ocorre com frequência, junto com neutrofilia e linfocitose (CAPELLETO et al,2009; TRALL et al, 2007; MIRANDA et al, 2011). No presente trabalho, encontra-se apenas um aumento significativo de neutrófilos. Atribui-se esse efeito ao compartimento marginal de neutrófilos e/ou linfócitos que são mobilizados para a circulação geral, aumentando a contagem total de leucócitos e o número de neutrófilo absoluto e de linfócitos nos cavalos. A dosagem de lactato é largamente utilizada como informativa do desempenho negativo de cavalos de desporto na prática e sobre condições de treinamento desses animais (LINDNER, 2000). A CPK reflete o metabolismo muscular esquelético e cardíaco (CÂMARA E SILVA et al, 2007). Os valores elevados observados nesse trabalho são devido ao esforço físico em que os cavalos foram submetidos. São necessários mais estudos para confirmar os efeitos psicológicos e físicos das provas de tambor e baliza, com maior número de indivíduos, principalmente com o objetivo de avaliar de maneira mais precisa a duração do efeito do estresse. É preciso conhecer também o 35 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X papel do cortisol no funcionamento neuropsicológico e sua a relação com o comportamento em equinos. A simples avaliação da expressão da emoção associada a hematologia e bioquímica a campo utilizada nesta pesquisa, mostra que se pode acompanhar o desempenho de cavalos e se existe sofrimento físico e psicológico. CONCLUSÃO Frente ao objetivo desta pesquisa, concluiu-se que os equinos que participam das provas de três tambores e três balizas sofrem alterações psicológicas e físicas durante as competições esportivas. A resposta hematológica frente ao exercício pode estar predominantemente relacionada ao aumento de neutrófilos (pool de células marginais) recorrente a uma resposta à adrenalina desencadeada por distúrbios emocionais e físicos durante as provas. AGRADECIMENTOS As autoras gostariam de expressar gratidão ao Dr. Marcelo Derbli Schafranski, da Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR, pela ajuda com a análise estatística.Agradecem também à Karla Capição, da Universidade Federal do Paraná, pelo incentivo à publicação e à Carla Grasiele Zanin Hegel que ofereceu comentários proveitosos para a melhoria do manuscrito. COMITÊ DE ÉTICA E BIOSSEGURANÇA Aprovado pelo Subcomitê de Ética e Pesquisa Animal, do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais, município de Ponta Grossa – PR. REFERÊNCIAS BROOM, D.M ; MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: Conceito e questões relacionadas- revisão. Archives of Veterinary Science v.9, n.2, p.1-11, 2004. CÂMARA E SILVA,I.A; DIAS, R.V.C; SOTO-BLANCO, B. Determinação das atividades séricas de creatina quinase, lactato desidrogenase e aspartato aminotransferase em eqüinos de diferentes categorias de atividade. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.59, n.1, p.250- 252, 2007 36 Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 28-36 (2016) ISSN 2526-513X CAPELLO, E.C; ANGELI, A.L; HENRIETE, G. Respostas fisiológicas em quarto de milha após prova de tambor. Rev. Acad., Ciênc. Agrár. Ambient., Curitiba, v. 7, n. 3, p. 299-304, 2009 BRANDÃO, M.L. As bases biológicas do comportamento: introdução a neurociência. São Paulo:EPU 2004.244p FOWLER, M.E. Behavioral clues for detection of illness in wild animals: models in camelides and elephants. In: FOWLER, M.E; MILLER, R.E. Zoo and wild animal medicine. Current terapy. 6 ed. 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