Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PRIMEIROS ATENDIMENTOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA João Francisco Barbieri Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória e acidente vascular encefálico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as desordens cardiovasculares predominantes e seus acometimentos. � Descrever o ciclo de intervenção em caso de parada cardiorrespiratória. � Discutir as formas de intervenção do profissional de educação física diante de sinais e sintomas característicos de doenças circulatórias. Introdução Como profissional da saúde, você tem uma excelente oportunidade de combater os efeitos deletérios causados por doenças crônico-degene- rativas e pela adoção de maus hábitos de vida, como dietas ricas em carboidratos simples e gorduras saturadas. Porém, ainda mais importante é o trabalho desenvolvido como medidas profiláticas, ou seja, você poderá e deverá incentivar hábitos de vida mais saudáveis como uma maneira de melhorar a qualidade de vida e evitar futuras doenças. A prescrição de exercício físico e atividades físicas será a ferramenta mais importante para esse processo, seja em forma de atividades lúdicas, como nas escolas, ou treinos em academias de ginástica. A atividade física tem o poder de cativar os alunos, fazendo com que sintam prazer e voltem a procurar, na prática de atividades, o prazer vivenciado. Porém, o tratamento de patologias desenvolvidas pela adoção de maus hábitos de vida é uma realidade crescente no mundo, e você deve estar preparado para atuar com esse público, visando sempre à segurança e à melhora da saúde. Neste capítulo, você vai estudar sobre doenças que acometem o sistema circulatório, seus sintomas e os primeiros atendimentos que deverão ser prestados em situações mais complexas. Os conhecimentos sobre os aspectos que circundam essas patologias são necessários, uma vez que são as patologias tratáveis que mais matam no mundo. Sistema cardiovascular O sistema cardiovascular é composto principalmente pelo coração e pelos vasos sanguíneos, os quais têm como função principal levar sangue rico em oxigênio e demais nutrientes para todas as partes do corpo. O sistema cardiovascular é um dos principais sistemas que podem apresentar uma série de desordens, provocadas principalmente por maus hábitos de vida, como: uma dieta rica em gorduras saturadas e carboidratos simples, inatividade física ou sedentarismo e consumo de álcool e outras drogas. Os efeitos da manutenção prolongada desses hábitos de vida são sentidos ao longo dos anos. Hipertensão arterial, hiperglicemia (diabetes), dislipidemia, sobrepeso e obesidades são algumas das manifestações mais comuns que se apresentam em pessoas com esse tipo de comportamento. No entanto, estas são apenas as manifestações primárias que se apresentam nesse tipo de população, sendo que elas podem evoluir para quadros mais complexos, como: cardiopatia coronariana (infarto do miocárdio), acidente vascular encefálico (AVE), insuficiência cardíaca, artropatia periférica (doença arterial periférica) e outras. Cardiopatia coronariana — Doença que afeta principalmente os vasos sanguíneos que irrigam o coração (artérias coronárias), fazendo com que o fluxo de sangue e nutrientes para o tecido cardíaco seja comprometido. Essa desordem cardiovascular pode levar a pequenos espaços de necroses das fibras cardíacas, situação que alterará a função cardíaca. Acidente cerebrovascular — Doença que afeta principalmente os vasos sanguíneos que irrigam o cérebro, comprometendo, assim, o fluxo de oxigênio e nutrientes para esse órgão. Esse tipo de comprometimento pode resultar Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...2 em sérias sequelas por todo o corpo, como dificuldade da marcha, falta de força muscular em um dos lados do corpo e comprometimentos da fala. Os AVEs podem ser caracterizados de duas formas distintas, dependendo de sua etiologia, sendo isquêmico ou hemorrágico. Doença arterial periférica — Doença que afeta principalmente os vasos sanguíneos que irrigam os membros superiores ou inferiores. Nessa doença, placas de ateroma prejudicam o fluxo sanguíneo, o que gera um quadro de redução de fluxo sanguíneo para o tecido periférico. Essa doença se manifesta como dor no membro, induzida pelo aumento do esforço. Os infartos e os AVEs são fenômenos agudos, ocasionados principal- mente por obstruções que impedem o fluxo adequado de sangue ao coração ou cérebro. A causa mais frequente é a formação de pequenas placas de gorduras localizadas na parte interna do vaso sanguíneo, na camada mais profunda. Essas pequenas placas de gordura recebem o nome de placas de ateroma e podem desencadear um quadro de isquemia em razão da redução da luz do vaso, pois, como reduzem o leito vascular, a quantidade de sangue com oxigênio e outros nutrientes é bastante reduzida. As placas de ateroma apresentam maior prevalência em pessoas com sobrepeso ou obesas, além das associações com os hábitos alimentares e comportamentais descritos anteriormente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia as doenças cardiovasculares como as principais causas de morte em todo o mundo, sendo que a cada ano morrem mais pessoas por essa causa que por qualquer outra enfermidade. O infarto e o AVE são as principais causas desse tipo de mortes (OMS, 2006). Os índices mais altos de morte por doenças cardiovasculares são mais fre- quentes em países de baixo e médio desenvolvimentos econômicos, atingindo principalmente indivíduos entre 45 e 69 anos. Isso se deve ao fato de países de baixa e média rendas não terem os mesmos benefícios dos programas integrados de atenção primária para a detecção e o tratamento precoces das enfermidades, assim como a qualidade e equidade do acesso a serviços, sendo que as pessoas de baixa renda nos países em desenvolvimento apresentam maior vulnerabilidade e susceptibilidade de morrerem em detrimento dessas morbidades. 3Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... Você, como profissional de educação física, tem a oportunidade de prevenir as doenças cardiovasculares, pois a atividade física é um fator-chave para a prevenção, atuando na regulação de importantes fatores de risco, como sobrepeso, obesidade, hipertensão, diabetes e dislipidemias. Infarto agudo do miocárdio O infarto caracteriza-se por uma necrose ou morte celular de algum órgão afetado, causada pela falta de irrigação sanguínea em razão de obstrução ou estenoses (estreitamento) das artérias correspondentes, causando, assim, uma redução na oferta de oxigênio. Esse quadro é tipicamente causado por cardiopatias coronarianas. Comumente é chamado infarto agudo do miocárdio, quando as células acometidas são células cardíacas, porém, isso pode acontecer em outros órgãos do corpo. O infarto agudo do miocárdio acontece quando as artérias coronárias, que são responsáveis pela nutrição e oxigenação do miocárdio, se estreitam ou obstruem a chegada de oxigênio ao músculo cardíaco. As células começam a produzir energia para suas funções na ausência de oxigênio, fenômeno que é considerado emergencial para a célula. Caso a quantidade de oxigênio seja muito baixa, pode acontecer a falência da célula, o que comprometerá o sistema. Existem dois fatores principais para o estreitamento das artérias que irrigam o coração, sendo a placa de ateroma (infiltração de gordura na parede arterial) e o coágulo de sangue os fatores preponderantes. Esses fatores de risco se apresentam por causa de elevados níveis de colesterol, tabagismo, obesidade, sedentarismo, hipertensão e idade avançada. Dentre os sintomas mais comuns de um infarto do miocárdio, encontra-se a dor no peito, que não é modificada por movimentos de respiração e costuma ser bastante intensa. Algumas vezes, essa dor pode irradiar para queixo, costas, braço esquerdoe, ainda, para o braço direito. Ainda, é comum que um indivíduo sofrendo um infarto possa apresentar suor frio e tontura. Outras vezes, podem ocorrer dor na parte alta do abdômen, dificuldade para respirar, vontade de vomitar e perda da consciência. Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...4 Quando um indivíduo apresenta o primeiro infarto, o índice para acontecer mais infartos do miocárdio aumenta, portanto, é necessário controlar todos os fatores de riscos para diminuir a probabilidade de um novo episódio. Intervenção na parada cardiorrespiratória Os infartos podem levar à parada cardiorrespiratórias, pois apresenta uma interrupção dos batimentos cardíacos e movimentos respiratórios. As pa- radas cardiorrespiratórias são caracterizadas, principalmente, por perda da consciência, ausência de movimentos respiratórios e ausência da frequência cardíaca. Em situações de parada cardiorrespiratória, é necessário ativar as cadeias de suporte básico de vida: verificar se os sinais vitais da vítima estão ausentes, iniciar imediatamente a reanimação cardiopulmonar (RCP) e acionar o sistema de emergência ou utilizar desfibrilador externo. Nessas situações, o tempo entre a ocorrência do evento e a chagada do serviço de emergência será determinante para a sobrevivência do indivíduo e a diminuição das sequelas. Passos no suporte básico de vida (SBV): � Avalie a responsividade e a respiração da vítima. � Cheque o pulso juntamente com a presença de movimentos do tórax. � Caso não encontre sinais vitais, inicie o RCP com compressões torácicas. � O RCP não deverá ser interrompido, exceto: ■ se a vítima se movimentar; ■ durante a fase de análise do desfibrilador; ■ sob comando da equipe de resgate; ■ com exaustão do socorrista. � Chame ajuda — realizar cinco ciclos de RCP e depois chamar ajuda, se estiver sozinho (socorrista). � Abertura de vias aéreas. � Ventilações. Para ventilar um paciente, existem três formas: ■ boca a boca; ■ dispositivo válvula-máscara (pocket-mask); ■ dispositivo bolsa-válvula-máscara (ambu). � Utilize, sempre que disponível, o desfibrilador externo automático (DEA). 5Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... Os socorristas devem: � Realizar compressões torácicas a uma frequência de 100 a 120/min. � Comprimir a uma profundidade de pelo menos 2 polegadas (5 cm). � Permitir o retorno do tórax após cada compressão. � Minimizar as interrupções nas compressões. � Ventilar adequadamente (2 respirações após 30 compressões, cada respiração administrada em 1 segundo, provocando elevação do tórax). Menos interrupções durante a RCP significa maior probabilidade de sobrevivência para a vítima, como também aumento da probabilidade de realizar uma RCP de alta qualidade. O infarto agudo do miocárdio é a doença cardiovascular que mais gera óbitos no mundo, mas não é a que mais deixa sequelas. Os AVEs são as pa- tologias que mais deixam sequelas em suas vítimas. Estudaremos um pouco mais sobre essa doença cardiovascular. Acidente vascular encefálico O acidente vascular encefálico (AVE) é uma síndrome neurológica, decorrente principalmente da interrupção do fluxo sanguíneo por causa de uma obstrução ou estreitamento arterial, em que algumas áreas cerebrais ficam sem irrigação, portanto, ficam sem oxigênio e sem nutrientes. A ausência de oxigênio pode provocar quadro importantíssimos de hipóxia, o que leva a morte celular ou necroses. Segundo a OMS (2006), o AVE é a segunda causa de morte principalmente em adultos de meia-idade e idosos. A maioria dessas mortes ocorre em países de baixa renda ou países subdesenvolvidos. O AVE é uma das doenças que mais deixa sequelas e compromete, principalmente, aspectos motores (função), aspecto de fala e deglutição. O AVE pode ser causado por dois mecanismos diferentes, por isquemia e por hemorragia. A maioria dos casos são causados por isquemia (85%), o qual Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...6 ocorre pela ausência de fluxo sanguíneo no cérebro, causado por uma placa de ateromatosa ou pela presença de um coágulo (trombo) que chega de outra parte do corpo. Já o AVE hemorrágico acontece em razão de uma ruptura de um vaso sanguíneo e, consequentemente, extravasamento do sangue. A hemorragia pode ser intracerebral ou subaracnoidea, pode ser causada por trauma diretor ou rompimento de aneurismas (dilatações anormais das artérias). Fatores de risco não modificáveis, como idade, etnia e histórico familiar são fatores que estão presentes e não apresentam possibilidade de mudança, no entanto, fatores de risco modificáveis, como hipertensão, diabetes, tabagismo, etilismo, obesidade e inatividade física são fatores que, como profissional de educação física, você poderá influenciar de maneira positiva. Saber reconhecer os sintomas, descritos a seguir, será fundamental para que se encaminhe o paciente o mais rápido possível para o serviço emergencial. � Diminuição ou perda súbita da força na face, no braço ou na perna de um lado do corpo. � Alteração súbita da sensibilidade com sensação de formigamento na face, no braço ou na perna de um lado do corpo. � Perda súbita de visão em um olho ou nos dois olhos. � Alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular, expressar ou para compreender a linguagem. � Dor de cabeça súbita e intensa, sem causa aparente. � Instabilidade, vertigem súbita e intensa, desequilíbrio associado a náuseas ou vômitos. Existem sistemas de identificação para acelerar o diagnóstico de AVE, como o sistema FAST. � Face (face) — Peça para a pessoa sorrir; se apresentar um rosto incomum, é sinal de AVE. � Arm (braço) — Peça para a pessoa levantar os dois braços; se um braço ficar pendendo, é sinal de AVE. � Speech (fala) — Peça para a pessoa repetir uma frase simples; se não repetir ou não pronunciar as palavras de forma coerente, é sinal de AVE. � Time (tempo) — Se você observar alguns desses sintomas descritos, chame ou procure o serviço de emergência o mais rápido possível. 7Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... As doenças cardiovasculares podem atingir qualquer parte do sistema cardio- vascular, em específico as placas de ateroma, que acometem as artérias e não são restritas às artérias coronarianas ou artérias que irrigam o cérebro, elas podem acometer qualquer artéria do corpo humano. Esse quadro clínico é conhecido como doença arterial periférica e será melhor descrito no tópico a seguir. Doença arterial periférica A doença arterial periférica é uma doença do sistema cardiovascular, causada especificamente pelo estreitamento ou pela obstrução dos vasos sanguíneos arteriais, responsáveis por levar o sangue rico em oxigênio e nutrientes para nutrir as extremidades dos membros (braços e pernas), sendo mais comum o acometimento dos membros inferiores do que os superiores. A causa mais comum dessa doença são as placas de ateroma, sendo que estas causam o estreitamento à passagem sanguínea, causando redução da oferta de oxigênio e nutrientes aos tecidos que se encontram após o estreitamento, o que obriga as células muscu- lares a trabalharem em condições semelhantes à de hipóxia, causando forte dor localizada, em razão de produtos do metabolismo celular intenso. A Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular de São Paulo (SBACV-SP) relata que a prevalência dessa doença seja entre 10 e 25% em pessoas com mais de 55 anos. A doença arterial periférica é uma doença silenciosa, sendo que 70 a 80% dos indivíduos acometidos não apresentam sintomas (SBACV-SP, 2014). É importante você ter em mente que, se um aluno apresenta dores localiza- das nos membros, principalmente inferiores, que é ocasionado pelo aumento da intensidade do exercício. Isso pode ser indício de doença arterial periférica. A doença arterial periféricaé um indicativo do estado de saúde do sistema vascular, demonstrando prognóstico de baixa saúde, sendo que outros vasos do sistema também podem estar comprometidos, como os vasos que irrigam o coração e o cérebro. Os principais sinais e sintomas da doença arterial periférica, de acordo com a SBACV-SP (2014) são: � menor pressão arterial no membro afetado pela placa de ateroma; � diminuição de pelos no membro afetado; � atrofia muscular em um dos membros, sem causa aparente; � cianose (cor azulada referente a baixa oxigenação) do membro afetado; � unhas dos dedos do pé ou da mão quebradiças. Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...8 A maioria dos casos é tratada com realização de atividade física e adoção de hábitos de vida mais saudáveis. A atividade física, em específico, ajudará a controlar os fatores colaterais que influenciam no surgimento das placas de ateroma, como elevados níveis de glicose e colesterol, além de melhorar a circulação sanguínea no membro afetado. Já os casos mais graves envolvem a realização de cirurgias abertas ou endovascular (tipo cateterismo) para remoção da placa ou aumento da vascularização por meio de pontes de safenas. Caso a doença tenha progredido a níveis críticos, ela pode necrosar tecidos abaixo do estreitamento vascular, o que causará a morte tecidual, sendo necessária a amputação do membro afetado. As doenças que acometem o sistema cardiovascular são silenciosas e costumam se manifestar tardiamente. Ficar atento a sinais e sintomas que podem ser indicativos de má circulação pode ajudar no prognóstico precoce e nas intervenções que evitem a evolução dessas doenças. Podemos destacar alguns sinais e sintomas relacionados a doenças circulatórias. São eles: � hipertensão arterial; � hipotensão arterial; � desmaios; � vertigens; � convulsões. Esses tópicos serão descritos a seguir, assim como a importância da atuação do profissional de educação física seja para impedir seu surgimento ou em uma crise. Sinais e sintomas característicos de doenças circulatórias Hipertensão arterial Para que o sangue seja enviado ao corpo todo, é necessária a ação de uma bomba cardíaca, a qual funciona num sistema fechado de tubos, composto de veias e artérias. Quando a bomba cardíaca ou o coração está relaxado, este inicia seu processo de enchimento. Esse processo é conhecido como diástole, sendo preenchido por sangue, seja o sangue que vem da periferia do corpo ou dos pulmões através das veias pulmonares. Posteriormente, o coração se contrai e expulsa o sangue para a periferia do corpo e para os 9Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... pulmões, através das artérias, num processo chamado sístole. O sangue exerce sobre as paredes das artérias certa resistência, e essa resistência chamamos de pressão arterial. Existem valores máximos de resistência que o sangue pode oferecer às artérias, sem que, com isso, seja considerado como uma circulação patológica. Uma grande parte da população com risco cardiovascular apresenta valores altos para a pressão exercida pelo sangue às artérias, fazendo com que o coração precise fazer mais força para manter a circulação do sangue. Isso sobrecarrega o coração. Esse aumento da pressão chamamos de hipertensão arterial. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de infartos, AVEs e doença renal crônica. Tem sido associada ao desenvolvimento de déficit cognitivo e demência para população idosa ou em envelhecimento (SIMÃO et al., 2013). Os maiores fatores para tornar-se uma pessoa com HAS dividem-se espe- cificamente em fatores genéticos e fatores ambientais. Os fatores genéticos são aqueles quando o indivíduo herda de seus pais ou parentes mais próximos algumas alterações hormonais, vasculares e renais que aumentam a propensão de ter altos valores na pressão arterial. Já os fatores ambientais são modificáveis e se baseiam especificamente nos hábitos alimentares, na falta de exercício físico, na obesidade, na incapacidade de relaxar ou na dificuldade para lidar com o estresse. Há, ainda, alguns medicamentos e algumas drogas que au- mentam a pressão, como: tabaco, álcool, imunossupressores, estimulantes, antidepressivos, entre outros. A HAS, por muito tempo, praticamente não causa sintomas, já que o co- ração cria estratégias para continuar trabalhando e manter o funcionamento normal da circulação, no entanto, após algum tempo, o coração começa a ter alterações funcionais por causa do excesso de força exercida, aumentando a espessura de suas paredes, gerando uma hipertrofia concêntrica, o que leva posteriormente a uma redução do espaço interno do coração (câmaras ventriculares), diminuindo finalmente a efetividade de suas funções, podendo levar a desordens e alterações finais como o infarto. No entanto, em situações graves de HAS, o indivíduo pode apresentar dores de cabeça, formigamento nas mãos e hemorragia nasal. Esses sintomas se apresentam precocemente a complicações mais graves como infartos, AVE e insuficiência renal. Observe o Quadro 1. Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...10 Fonte: Adaptado de Simão e outros autores (2013, p. 17). Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg) Ótima < 120 < 80 Normal < 130 < 85 Hipertensão estágio 1 140–159 90–99 Hipertensão estágio 2 160–179 100–109 Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Quadro 1. Classificação da pressão arterial A hipertensão arterial certamente é o maior catalizador de patologias relacionadas ao sistema circulatório, sendo a atividade física um excelente instrumento para seu controle, seja pelo efeito hipotensor do exercício físico, seu efeito sobre o remodelamento dos vasos sanguíneos e do coração, ou simplesmente seu efeito de redução do estresse. Você, como professor de educação física, deverá ter em mente que essa poderosa ferramenta também poderá agravar a situação, uma vez que a atividade física também pode au- mentar a pressão arterial. As crises hipertensivas são caracterizadas por alguns sintomas, sendo os mais comuns: � dor de cabeça forte e com tonturas; � visão duplicada; � sangramento pelo nariz. A sua atuação nessas situações será no sentido de diminuir a pressão arterial. É importante fazer que o indivíduo tome muita água, para que, de forma reflexa, ele produza muita urina e acabe eliminando uma quantidade grande de sódio. Se o aluno já tomar medicamento para controle da pressão e tiver esquecido de tomar, administre o medicamento. Coloque o indivíduo para repousar em local escuro e tranquilo até que os sintomas passem. Não passando os sintomas, procure um centro médico, pois elevados níveis de HAS podem desencadear um AVE. Os casos de hipertensão são certamente perigosos, porém não são os únicos distúrbios relacionados à pressão que podem existir. Se a pressão sanguínea se 11Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... encontrar especialmente baixa, o indivíduo pode apresentar sintomas e sinais de uma condição chamada hipotensão arterial. Hipotensão arterial A hipotensão é caracterizada como uma anomalia da pressão sanguínea. Nessa anomalia, a pressão sanguínea apresenta baixos valores, tanto a pressão sistólica (90 mmHg) quanto a diastólica (60 mmHg). Porém, é importante você ter em mente que a pressão sanguínea não se mantém a mesma ao longo do dia, ela usualmente diminui quando dormimos, sobe quando acordamos e apresenta grande variação durante a atividade física. O nosso organismo deve ser capaz de manter a pressão sanguínea estável ao longo do dia, para tal, existem diversos mecanismos de controle, como os barorreceptores carotídeos, que são responsáveis pelo ajuste da pressão ortostática. Um exemplo de controle da pressão é quando levantamos bruscamente da posi- ção sentada,nessa situação, a coluna de pressão sobre o sague se desloca, tendo este mais dificuldade de alcançar o cérebro. Essa variação na pressão é detectada pelos seios carotídeos, desencadeando um reflexo que aumentará a pressão sanguínea, mantendo assim o aporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos, incluindo o próprio cérebro. Essa condição de hipotensão pode apresentar os seguintes sintomas: � tonturas, vertigens ou desmaio; � batimento cardíaco anormal; � náuseas acompanhados ou não de vômitos; � visão embaçada; � fraqueza; � confusão; � cansaço. A maior parte dos casos de hipertensão acontece quando seu corpo não é capaz de corrigir a pressão rápido o suficiente. Alguns fatores influenciam nas causas da hipotensão. Desidratação é a causa mais comum de hipotensão ortostática. Desidratação ocorre quando o corpo perde mais água do que ganha. Essas situações são Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...12 frequentes durante a prática de atividade física, portanto, é necessário manter especial atenção sobre a hidratação dos participantes, realizando intervalos regulares e evitando exposição prolongada em dias muito quentes e secos. Outras causas que podem influenciar nesse tipo de hipotensão incluem: � doenças cardíacas, como insuficiência ou bradicardia; � anemia; � embolia pulmonar; � desordens neuromotoras como a doença de Parkinson; � medicamentos para o controle de pressão; � medicamentos para depressão, ansiedade e disfunção erétil; � condições que afetem a hidratação como vômitos e diarreia. O tratamento para a hipotensão ortostática vai depender dos sinais e da severidade dos sintomas. O objetivo do tratamento é trazer a pressão sanguínea de volta para o normal. Outro tratamento é controlar as possíveis causas da hipotensão. Na maior parte dos casos que apresentarem sintomas hipotensivos, você deve sentar a pessoa ou deitá-la no chão. Levantar os pés a uma altura maior do que o coração ajudará no retorno do sangue. Se os sintomas não passarem, será necessária a busca por suporte médico. Outros cuidados podem ser tomados para que os quadros hipotensivos sejam revertidos: � beber água ou bebidas isotônicas; � levantar-se devagar; � não cruzar as pernas enquanto estiver sentado, pois isso pode impedir o retorno do sangue venoso; � aumentar os intervalos em que fica de pé, caso passe muito tempo sen- tado, pois grandes períodos de tempo sentado fazem com que o retorno do sangue seja dificultado, fazendo com que o sangue se acumule nos membros inferiores; � comer pequenas refeições contendo carboidratos, se você tem hipo- tensão pós-prandial, pois assim você, além de manter uma quantidade de glicose sanguínea, não redireciona muito o fluxo de sangue para a digestão, como aconteceria com grandes refeições. 13Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... A prática de exercício físico pode levar a quadros de hipotensão por mais de um fator, seja pela queda da glicemia sanguínea (hipoglicemia), seja pelo reflexo simpato-vagal pós-exercício (hipotensão pós-exercício). Você deverá conhecer as características de seus alunos e saber como se comportam após os exercícios físicos. Tenha sempre em sua caixa de primeiros socorros sachês contendo glicose ou outros carboidratos de rápida absorção. Uma manifestação comum em casos de hipotensão são os desmaios. Desmaio O desmaio é caracterizado por uma perda repentina e temporária da cons- ciência, por causa da diminuição do fluxo de oxigênio para o cérebro. Diversos fatores podem desencadear um desmaio, como hipoglicemia, cansaço, fome, nervosismo excessivo, fortes emoções, dor intensa, bradi- cardia, altas temperaturas e mudança bruscas de posições (deitado para de pé, por exemplo). Existem sinais e sintomas clássicos para a identificação de situações que, usualmente, precedem um desmaio, sendo eles palidez extrema, pulso fraco, suor frio, fraqueza muscular, náuseas, enjoo, pressão arterial baixa, tonturas, escurecimento da visão e queda da temperatura das extremidades do corpo. Em casos como estes, você deve levar a vítima a uma posição confortável, sempre tentando deixar a cabeça mais baixa em relação ao resto do corpo. Para tal, as pernas da vítima poderão ser levantadas, pois é importante para aumentar o fluxo sanguíneo o mais rápido possível para o cérebro. Se for impossível deitar a pessoa no chão, você deverá colocar a vítima na posição sentada, em uma cadeira. Sente a vítima curvando-a para frente, de forma que a cabeça fique dentro dos joelhos, para tentar deixar a cabeça mais baixa que os joelhos. Se houver vômito, lateralize a cabeça da vítima para evitar sufocamento. Após a vítima apresentar sinais de melhora, pode ser oferecido a ela café, chá ou água com açúcar. Nunca dê bebida alcoólica. Se o desmaio perdurar por mais de dois minutos, procure o centro de assistência mais próximo. Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...14 Convulsões As convulsões são caracterizadas por contrações violentas dos músculos que acontecem de forma involuntária e podem causar perda da consciência, virada dos olhos para cima e dificuldade de respiração. Na maioria dos casos, as vítimas são indivíduos que já têm histórico de convulsões, mas também podemos encontrar casos por aumento da temperatura (convulsão febril), hipoglicemia, traumatismo na cabeça, edema cerebral, hemorragia intracra- niana, tumores, intoxicações e transtornos do sistema nervoso central (SNC), principalmente a epilepsia. Na maioria dos casos, a convulsão é acompanhada de perda da cons- ciência. Em alguns casos, a vítima pode se debater, o que pode ocasionar ferimentos, uma vez que superfícies externas podem ser atingidas pelos movimentos involuntários. As crises convulsivas também podem apresentar quadros de sudorese, espuma pela boca, palidez intensa, lábios cianóticos, perda do controle de esfíncteres e mordida da língua por causa dos movi- mentos involuntários. Os procedimentos que você deve adotar nos casos de convulsões são os seguintes: tenha em mente que o mais importante é proteger a vítima de qual- quer trauma que possa ocorrer em detrimento da crise; cuide principalmente da cabeça para que não sofra nenhum traumatismo por impacto; retire próteses dentárias, caso haja; tente introduzir um pano ou lenço entre os dentes para evitar mordidas; e, finalmente, vire o rosto do indivíduo para evitar qualquer asfixia por secreções de saliva ou muco. Nunca dê de beber durante a convulsão. Não force os movimentos da vítima, deixe os movimentos acontecerem com todos os cuidados adequados. Vertigens A vertigem é uma falsa sensação de movimento próprio, associada principal- mente a desequilíbrios. A definição clássica de vertigem é a ilusão do movi- mento. O principal sistema encarregado de manter nosso equilíbrio é o sistema nervosos central. Existem diversas estruturas que oferecem informações para o SNC integrar e controlar o equilíbrio, sendo eles a visão, a propriocepção advinda de sensores especiais presentes em tendões e músculos e a estrutura específica presente no ouvido interno, também conhecida como labirinto. O labirinto faz parte do aparelho vestibular e é composto por líquido em seu interior. A movimentação desses líquidos é uma forma que esse aparelho 15Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... encontra para identificar os movimentos e, dessa forma, manter o equilíbrio. Algumas doenças do sistema circulatório podem afetar esse sistema, como AVE, diabetes e distúrbios da pressão arterial. Pessoas que apresentam le- sões nesse sistema têm dificuldade na manutenção da postura. Esta pode se apresentar pelos seguintes sintomas: � vertigens; � desequilíbrio; � instabilidade; � sensação de pisar no vazio; � impressão de que vai cair; � perda da audição; � zumbido nos ouvidos;� náuseas; � vômitos; � sudorese. As crises e vertigens exigem cuidados médicos, pois a primeira coisa a ser feita é descobrir os causadores dos sintomas, que podem ser agentes bacterianos, vírus, crises alérgicas, hipoglicemia, entre tantos outros fatores. Durante as crises de vertigem, os cuidados que você deve tomar com relação ao indivíduo acometido é com relação à segurança deste, pois as crises podem gerar quedas, além do mal-estar causado. Você deve colocar o indivíduo em posição imóvel, na posição que ele achar mais confortável, seja sentado ou deitado. Deve orientar o indivíduo a voltar às atividades lentamente e procure ajudá-lo a caminhar, se ainda apresentar vertigem. Por fim, evite fontes de luz, como televisão ou celular. Procure auxílio médico para descobrir a origem do problema. O sistema cardiovascular é um sistema abrangente, integrando todo o corpo humano, portanto, suas desordens são complexas e podem se manifestar em diversas partes do corpo, assim como podem se manifestar de diferentes formas. Você deverá estar atento ao histórico familiar de seus alunos, uma questão que pode ser facilmente respondida por eles na anamnese inicial antes de iniciarem o programa de treinamento. Tenha em mente que o melhor tratamento é a prevenção. Utilize a prescrição de atividade física Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...16 Acesse o link a seguir para revisar as ações a serem toma- das em caso de hipotensão. https://goo.gl/Ekz44n Como personal trainer, você está dando um treino de musculação para seu aluno Marcos, que é assíduo, idoso e obeso. Você está fazendo um treino aeróbio na esteira e resolve aumentar a intensidade. Marcos está caminhando rápido e é acometido por fortes dores na perna. Você, conhecedor das doenças cardiovasculares, logo identifica tratar-se de uma doença vascular periférica. Você diminui a velocidade, realiza o treino convencional com Marcos e recomenda que ele busque um médico vascular para fazer exames para averiguar as condições dos vasos da perna acometida. para controlar os fatores associados ao surgimento de patologias cardiovasculares, como hipertensão, diabetes e obesidade. Porém, esteja preparado para as ocorrências que podem surgir em razão das complicações já existentes. Avalie se seu local de trabalho oferece os instrumentos necessários, como DEAs e caixas de primeiros socorros. Caso não ofereça, oriente a aquisição, uma vez que a utilização desses equipamentos pode ser decisiva para a sobrevivência dos acometidos. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS. Manual STEPS de acidentes vascular cere- brais da OMS: enfoque passo a passo para a vigilância de acidentes vascular cerebrais. Genebra: OMS, 2006. Disponível em: <https://www.scribd.com/document/46616252/ Avc-Livro-Oms>. Acesso em: 10 ago. 2018. 17Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória... https://goo.gl/Ekz44n https://www.scribd.com/document/46616252/ SIMÃO, A. F. et al. I Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular. Arquivos Brasileiros de Cardiologia: Revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia, v. 101, n. 6, supl. 2, p. 1-63, dez. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abc/v101n6s2/0066-782X- abc-101-06-s2-0001.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANGIOLOGIA E DE CIRURGIA VASCULAR DE SÃO PAULO – SBACV-SP. Doença arterial obstrutiva periférica (DAOP). 2014. Disponível em: <https:// sbacvsp.com.br/doenca-arterial-obstrutiva-periferica/>. Acesso em: 10 ago. 2018. Leituras recomendadas ALMEIDA, E. O. Frequência e fatores relacionados à disfagia orofaríngea após acidente vas- cular encefálico. 71 p. Dissertação (Mestrado em Neurociências) – Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD-8AFM2W/ disserta__o_final.pdf?sequence=2>. Acesso em: 10 ago. 2018. ALTO ASTRAL. Caiu a pressão? Saiba como agir e prestar socorro nos casos de hipotensão arterial. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CGLnV3hwL6A>. Acesso em: 10 ago. 2018. MUTIRÃO do coração: cartilha de prevenção cardiovascular. Disponível em: <http:// www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/cidadao//cartilha_prevencao_cardiovascular. pdf>. Acesso em: 10 ago. 2018. OLIVEIRA, B. F. M.; PAROLIN, M. K. F.; TEIXEIRA JUNIOR, E. V. Trauma: atendimento pré- -hospitalar. 3. ed. Atheneu, 2014. Lesões clínicas: vertigens, desmaios, convulsão, infarto, parada cardiorrespiratória...18 http://www.scielo.br/pdf/abc/v101n6s2/0066-782X- http://sbacvsp.com.br/doenca-arterial-obstrutiva-periferica/ http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD-8AFM2W/ https://www.youtube.com/watch?v=CGLnV3hwL6A http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/cidadao//cartilha_prevencao_cardiovascular. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
Compartilhar