Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Educação Física Licenciatura Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal do Espírito Santo www.neaad.ufes.br (27) 4009 2208 FISIOLOGICOS CORPO, MOVIMENTO E CONHECIMENTOS Luciana Carletti C orpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos é uma das disciplinas que se apropriaM dos saberes das áreas biológicas e � siológicas para promover o conhecimento das minúcias do funcionamento do corpo humano ao movimentar-se. Adentraremos na última disciplina de estudo do organismo humano de nosso currículo vigente, mas esperamos convencê-los de que este não deve ser o término dos investimentos nessa área de estudo, pois o conhecimento da dinâmica � siológica humana é certamente mais profundo e mutável do que imaginamos. Organizamos esta disciplina em quatro unidades. Na primeira estudaremos o metabolismo energético para o movimento, enfatizando os processos de transferência e mensuração da energia para a contração muscular. Em seguida será abordado o sistema neuromuscular e o controle do movimento, com destaque para a � siologia da contração muscular. Na terceira unidade nos dedicaremos ao sistema cardiovascular no exercício, viabilizando a compreensão de respostas � siológicas mensuráveis ao esforço, tais como pressão arterial e frequência cardíaca. Finalmente, vamos nos debruçar no estudo do sistema respiratório durante o esforço, interpretando variáveis ventilatórias e de troca gasosa. Como podem vislumbrar, há muito trabalho pela frente, mas a motivação em nos apropriar de novos saberes certamente será o nosso guia. Profª Luciana Carletti Luciana Carletti Graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (1991); mestrado (1998) e doutorado (2005) em Ciências Fisiológicas (PPGCF) pela Universidade Federal do Espírito Santo; professora da disciplina Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos (Licenciatura em Educação Física) e da disciplina Corpo, Movimento e Fisiologia Aplicada I (Bacharelado em Educação Física) do Centro de Educação Física e Desportos da UFES. Atualmente é coordenadora do Laboratório de Fisiologia da UFES (LAFEX), desenvolvendo pesquisa na área de Fisiologia cardiorrespiratória do exercício em adolescentes e também estudos epidemiológicos de atividade física e sedentarismo em crianças. 2 Educação Física Licenciatura Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal do Espírito Santo www.neaad.ufes.br (27) 4009 2208 FISIOLOGICOS CORPO, MOVIMENTO E CONHECIMENTOS Luciana Carletti C orpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos é uma das disciplinas que se apropriaM dos saberes das áreas biológicas e � siológicas para promover o conhecimento das minúcias do funcionamento do corpo humano ao movimentar-se. Adentraremos na última disciplina de estudo do organismo humano de nosso currículo vigente, mas esperamos convencê-los de que este não deve ser o término dos investimentos nessa área de estudo, pois o conhecimento da dinâmica � siológica humana é certamente mais profundo e mutável do que imaginamos. Organizamos esta disciplina em quatro unidades. Na primeira estudaremos o metabolismo energético para o movimento, enfatizando os processos de transferência e mensuração da energia para a contração muscular. Em seguida será abordado o sistema neuromuscular e o controle do movimento, com destaque para a � siologia da contração muscular. Na terceira unidade nos dedicaremos ao sistema cardiovascular no exercício, viabilizando a compreensão de respostas � siológicas mensuráveis ao esforço, tais como pressão arterial e frequência cardíaca. Finalmente, vamos nos debruçar no estudo do sistema respiratório durante o esforço, interpretando variáveis ventilatórias e de troca gasosa. Como podem vislumbrar, há muito trabalho pela frente, mas a motivação em nos apropriar de novos saberes certamente será o nosso guia. Profª Luciana Carletti Luciana Carletti Graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (1991); mestrado (1998) e doutorado (2005) em Ciências Fisiológicas (PPGCF) pela Universidade Federal do Espírito Santo; professora da disciplina Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos (Licenciatura em Educação Física) e da disciplina Corpo, Movimento e Fisiologia Aplicada I (Bacharelado em Educação Física) do Centro de Educação Física e Desportos da UFES. Atualmente é coordenadora do Laboratório de Fisiologia da UFES (LAFEX), desenvolvendo pesquisa na área de Fisiologia cardiorrespiratória do exercício em adolescentes e também estudos epidemiológicos de atividade física e sedentarismo em crianças. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Núcleo de Educação Aberta e a Distância Luciana Carletti Vitória 2011 FISIOLOGICOS CORPO, MOVIMENTO E CONHECIMENTOS LDI coordenação Heliana Pacheco, Hugo Cristo e Ricardo Esteves Gerência Isabela Avancini Editoração Thiago Dutra Ilustração Leonardo Trombetta Amaral e Gustavo Rodrigues Capa Gustavo Rodrigues Impressão GM Gráfica e Editora Presidente da República Dilma Rousseff Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky DED - Diretoria de Educação a Distância Sistema Universidade Aberta do Brasil Celso José da Costa Reitor Prof. Rubens Sergio Rasseli Vice-Reitor Prof. Reinaldo Centoducatte Pró-Reitor de Graduação Prof. Sebastião Pimentel Franco Diretor-Presidente do Núcleo de Educação Aberta e a Distância - ne@ad Prof. Reinaldo Centoducatte Diretora Administrativa do Núcleo de Educação Aberta e a Distância - ne@ad Maria José Campos Rodrigues Coordenadora do Sistema Universidade Aberta do Brasil na Ufes Maria José Campos Rodrigues Diretor Pedagógico do ne@ad Julio Francelino Ferreira Filho Diretor do Centro de Educação Física e Desporto Valter Bracht Coordenação do Curso de Educação Física EAD/UFES Fernanda Simone Lopes de Paiva Revisora de Conteúdo Silvana Ventorim Revisora de Linguagem Alina Bonella Design Gráfico LDI- Laboratório de Design Instrucional ne@ad Av. Fernando Ferrari, n.514 - CEP 29075-910, Goiabeiras - Vitória - ES (27)4009-2208 A reprodução de imagens de obras em (nesta) obra tem o caráter pedagógico e cientifico, amparado pelos limites do direito de autor no art. 46 da Lei no. 9610/1998, entre elas as previstas no inciso III (a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra), sendo toda reprodução realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil. Copyright © 2010. Todos os direitos desta edição estão reservados ao ne@ad. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Coordenação Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física, na modalidade a distância. Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) Carletti, Luciana. Corpo, movimento e conhecimentos fisiológicos / Luciana Carletti. - Vitória : UFES, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011. 66, [2] p. : il. Inclui bibliografia. ISBN: 1. Fisiologia humana. 2. Movimento. 3. Exercícios físicos - Aspectos fisiológicos. I. Título. CDU: 612.766.1:796 C281c “Vivo em mim próprio como num trem em movimento. Não entrei nele por livre e espontânea vontade, não pude escolher e sequer conheço o local de destino. Um dia, num passado distante, acordei no meu compartimento e sentio movimento. Era excitante, escutei o barulho das rodas, pus a cabeça para fora da janela, senti o vento e me deliciei com a velocidade com que as coisas passavam por mim. Eu queria que o trem jamais interrompesse a sua viagem. De maneira nenhuma eu queria que ele parasse para sempre em algum lugar.” Gregórius, personagem de Pascal Mercier no romance “Trem Noturno para Lisboa”, 2004. SUMÁRIO UNIDADE 1 Metabolismo energético para o movimento humano UNIDADE 2 O sistema neuromuscular e o controle do movimento humano UNIDADE 3 O sistema cardiovascular no exercício UNIDADE 4 O sistema respiratório no exercício 06 07 CARTA AO ALUNO CONSIDERAÇÕES FINAIS APÊNDICE A REFERÊNCIAS GLOSSÁRIO INTRODUÇÂO65 68 66 Para melhor aproveitamento dos recursos oferecidos pelo EAD nesta dis- ciplina, seguem algumas orientações: 1- Ao final do fascículo, na página 66, disponibilizamos um glossário de termos que no decorrer da leitura dos capítulos aparecerão sinalizados na cor azul. 2- Observe também os ícones que aparecem ao lado do corpo de texto. Veja a seguir: Conteúdos audiovisuais na plataforma - Este ícone sinaliza que um conteúdo audiovisual sobre o assunto abordado poderá ser visto na plataforma. Os conteúdos disponíveis por meio da plataforma constituem uma forma dinâmica e interativa de suporte ao conteúdo es- crito e merecem sua atenção. Também estão disponíveis no Apêndice A, devidamente identificados segundo a página em que se encontram e acompanhados por um link que pode ser digitado no browser do seu navegador de internet para acesso direto. Sugestões de leitura - No decorrer do fascículo este ícone virá acompanhado de um número. Acesse cada sugestão de leitura pelo número correspondente na pla- taforma ou diretamente no browser do seu navegador de internet pelo link disponível no Apêndice B. MANUAL DO FASCÍCULO CARTA AO ALUN O Queridos alunos e alunas, sejam todos bem–vindos aos estudos da disciplina “Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos”. Sou a professora Luciana, atualmente responsável pela mesma disciplina presencial do curso de Licenciatura em Educação Física da UFES. Sinto um enorme prazer em participar deste desafio de estudar os conhecimentos fisiológicos à distância, junto com vocês. Acredito no nosso potencial para avançarmos neste trajeto, e por isso cunhei um material diferenciado para atender as necessidades do curso à distância. Nesta disciplina estudaremos os fenômenos fisiológicos que ocorrem no corpo em movimento, desbravando as aventuras dos movimentos internos dos nossos sistemas fisiológicos – metabólico, neuromuscular, cardiovascular e respiratório. Pretendo conduzi-los ao desfrute desta interessante disciplina, focalizando tópicos básicos e atuais de estudo. Mas tudo isso só se tornará útil na formação de vocês se eu conseguir envolver-lhes na tradução destas informações em conhecimento aplicado. Imagino que o trajeto percorrido por muitos de vocês, na atuação com a área de Educação Física Escolar, já foi capaz de enriquecê-los com experiências acerca da resposta fisiológica do corpo em movimento. Por isso, esperamos continuar alimentando-os em suas curiosidades, bem como despertá-los para analisar com mais propriedade este foco. Compreender a produção do movimento e os fenômenos fisiológicos atrelados é um estudo bastante excitante! Portanto convido-os para iniciarmos a nossa jornada. Um abraço apertado, Luciana Carletti | 7 Iniciaremos os estudos dos fenômenos fisioló- gicos que ocorrem no corpo em movimento re- metendo-os a pensarem na célula humana, por onde a vida começa. Vamos fazer a leitura da citação seguinte. A célula, ao adquirir a capacidade de se dupli- car, tornou-se capaz de formar um ser humano com aproximadamente 10 trilhões de unidades celulares. Bryson (2006, p. 379), em seu livro Breve história de quase tudo, retrata brilhante- mente a fisiologia celular quando sugere: Suas células são um país de 10 mil tri- lhões de cidadãos, cada um dedicado de forma intensivamente específica, ao seu bem-estar geral. Não há nada que elas não façam por você. Elas permitem que você sinta prazer e formule pensamen- tos. Graças a elas, você se levanta, se espreguiça ou dá cambalhotas. Quando você come, são as células que extraem os nutrientes, distribuem a energia e eli- minam os resíduos [...], mas também se lembram de deixá-lo com fome, antes de mais nada, e o recompensam com uma sensação de bem-estar depois, de modo que você não esquecerá de comer nova- mente. Mantêm seus cabelos crescendo, seus ouvidos com cera, seu cérebro ron- ronando. Administram cada cantinho de seu ser. Virão em sua defesa no instante em que você estiver ameaçado. Não hesi- tarão em morrer por você – bilhões delas fazem isso diariamente. E durante toda a sua vida você jamais agradeceu a uma delas que fosse. Dessa forma, percebemos que, pela capacidade funcional complexa dos organismos celulares, alcançamos a harmonia para o adequado fun- cionamento de nosso corpo, até mesmo em situ- ações intensamente estressantes, como é o caso do exercício físico. Foss e Keteyian (1998) re- tratam essas adaptações com informações sobre a dinâmica cardiovascular durante exercícios de intensidade leve, moderada e máxima. Fa- çam a leitura do parágrafo abaixo para auxiliar essa compreensão. Sabe-se que, quando executamos pequenos es- forços como aqueles das tarefas cotidianas de deslocamentos, serviços domésticos, ou de lazer, ocorrem alterações na dinâmica do fluxo san- guíneo com elevações no fornecimento de san- gue pela bomba cardíaca de 5.000ml/min em re- pouso para até cerca de 9.000ml/min, dadas as alterações substanciais de demandas energéticas do metabolismo humano. Agora, se pensarmos em atividades motoras de alto rendimento, como provas de corrida e natação, que são duradouras e extenuantes, o aporte sanguíneo exigido pode ser superior a 25.000ml/min! Ademais, os mús- culos em atividade, que são os principais con- sumidores dessa demanda aumentada, alteram o seu fluxo de 1.200ml/min, em repouso, para INTRODUÇÃO 8 | cerca de 22.000ml/min, no exercício máximo (FOSS; KETEYIAN, 1998). Todas essas modificações e tantas outras mais que ocorrem nos sistemas fisiológicos são possí- veis, uma vez que a lógica dos organismos vivos é buscar a homeostase, ou seja, “[...] a capacidade de manter o meio interno relativamente estável” (SILVERTHORN, 2003, p. 6). Segundo a mesma autora, homeostase é um processo contínuo que envolve o monitoramento de múltiplos parâme- tros, acompanhado da coordenação de repostas adequadas para minimizar quaisquer distúrbios. As modulações de fluxo sanguíneo anteriormente citadas configuram um processo de adaptações de homeostasia com características sistêmicas e propagadas com o intuito de prover os músculos esqueléticos com os nutrientes necessários para a realização de esforço físico. Vamos pesquisar sobre homeostase apresentando outros exemplos e discutindo sobre eles? UM POUCO DE HISTÓRIA - Atualmente o estudo da Fisiologia se ampliou consideravel- mente ao associar as técnicas de biologia celu- lar e molecular. Tem sido possível compreender como os sinais químicos no corpo são recebi- dos e interpretados pelas células, e isso permite desvendar os mistérios de muitos processos. Porém, nem sempre tivemos o privilégio atual de dominar tantas técnicas de investigação, porque tudo que se produziu inicialmente nessa área se deve às observações de causa e efeito, bem como de intervenções com dissecação de animais. O interesse pela Fisiologia do Exercício surgiu principalmente na Grécia antiga e na Ásia Me- nor, porém a influência para a civilização oci- dental veio dos médicos gregos daAntiguidade – Herodicus (5º século a.C.), Hipócrates (460- 377 a.C.) e Cláudio Galeno (131-201 d.C.). Os te- mas de interesse na época eram voltados à me- dicina preventiva, com ênfase na alimentação saudável, treinamento físico e medidas higiê- nicas nas quais se destacam as leis da saúde de Galeno que preconizavam benefícios da prática de exercícios físicos (McARDLE et al., 2003). Galeno dizia que as finalidades do exercício era garantir dureza aos órgãos, o que resultaria, de acordo com o entendimento da época, em be- nefícios individuais, como: maior força para as tarefas; metabolismo acelerado; melhor difusão de todas as substâncias, resultando daí que os sólidos são amolecidos, os líquidos diluídos e os ductos dilatados (McARDLE et al., 2003). Se refletirmos sobre essas descobertas, vamos constatar que é notável a influência desses grandes estudiosos na Fisiologia do Exercício, mesmo que tenham se passado mais de mil e quinhentos anos! METABOLISMO ENERGÉTICO PARA O MOVIMENTO HUMANO UNIDADE INTRODUÇÃO A TRANFERÊNCIA DE ENERGIA 11 TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA PARA O MOVIMENTO HUMANO 13 MEDIDA DO CONSUMO DE ENERGIA HUMANA 18 Ao observarmos crianças se movimentando com tanta “energia” durante suas horas de lazer, é comum mencionarmos: “Quanta energia tem esses pequenos!”. Então, podemos nos perguntar: “De onde vem tanta energia?”. Essas e tantas outras perguntas devem ser estudadas pelos profissionais de Educação Física, a fim de compreenderem com mais propriedade o metabolismo energético e sua importância para o funcionamento do corpo em movimento. Vamos começar nos fazendo alguns questionamentos: a) De onde provém a energia para a contração muscular e o funcionamento dos órgãos? b) Todos os movimentos humanos utilizam as mesmas fontes energéticas? c) Como é possível mensurar o gasto energético no movimento humano? Essas perguntas serão nosso direcionamento para nos aprofundarmos na compreensão do metabolismo energético durante o movimento humano. METABOLISMO ENERGÉTICO PARA O MOVIMENTO HUMANO UNIDADE 1 - Metabolismo energético para o movimento humano | 11 De onde provém a energia? O movimento humano gera um trabalho biológico, nem sempre per- ceptível, mas que consome muita energia. Esse trabalho biológico pode ser de três tipos: Trabalho mecânico traduzido pelo esforço da contração muscular, solicitado em todas as tarefas motoras, bem como para a contração dos músculos cardíaco e liso, que compõem as paredes musculares dos órgãos internos; Trabalho químico dispêndio energético para a síntese de molécu- las celulares. Para ilustrar esta via, podemos citar a conversão de moléculas de glicose em glicogênio, para servirem de estoques he- páticos e musculares; a síntese de triglicerídeos a partir dos ácidos graxos e glicerol, a fim de ser depositado no adipócito; e a formação de proteínas pelos aminoácidos, que irão catalisar inúmeras reações químicas no nosso organismo, ou servir como transportadores de moléculas no sangue e na célula; Trabalho de transporte consiste no gasto de energia para trans- porte de substâncias de ambientes intra ou extracelulares nos quais a molécula se direciona contra um gradiente de concentração. Po- demos ilustrar o transporte de sódio (Na+) para o meio extracelular e o de potássio (K+) para o meio intracelular, que são cruciais para manter o potencial de repouso da célula. A energia necessária para a realização de trabalho mecânico, químico e de transporte provém da molécula de ATP (trifosfato de adenosina). O ATP, que se encontra estocado especialmente nas células, possui moléculas de adenosina e ribose, bem como ligações entre fosfatos que concentram grande quantidade de energia. A presença da água (H2O) associada a uma enzima, ATPase, provoca a reação de hidrólise do ATP, liberando uma molécula de fosfato mais energia, formando o ADP (adenosina trifosfato). Veja o esquema da Figura 1. INTRODUÇÃO A TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA 12 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Pi ade rib P P P ATP Ligação de alta energia Molécula de ATP Liberação de energia pelo ATP ATP = Adenosina Energia Pi Energia Pi Energia Adenosina Pi Pi Pi Adenosina Pi Pi Pi Energia++ ATP ADP ATPase ade - adenosina rib - ribose Pi - fosfato inorgânico O ATP não é encontrado na corrente sanguínea. Existe em peque- nas quantidades nas células, por isso ele precisa ser constante- mente ressintetizado. Diariamente, ressintetiza-se ATP correspondente a cerca de 75% da massa corporal Isso significa dizer que o organismo de uma criança de 15kg tra- balha diariamente para ressintezar cerca de 11kg de ATP; ou que um adulto de 75kg ressintetizaria cerca de 56kg de ATP (McARDLE et al., 2003). Como não é possível estocar grandes quantidades de ATP nas célu- las, o sistema energético humano funciona voltado a dois objetivos: 1 formar e conservar ATP; 2 utilizar a energia química do ATP para o trabalho biológico. Veja no esquema da Figura 2 o fornecimento de energia pelo ATP e o processo inverso de ressíntese de energia, demonstrado pela reação da direita para a esquerda, na qual o ADP sofre fosforilação. Miosina ATPase ATP +H2O ADP + P(7,3 Kcal/mol) Figura 1 A molécula de ATP liberando energia Figura 2 Hidrólise do ATP Nota: O ATP encontra a molécula de água, e mediante ação da enzima miosina ATPase, presente no músculo, sofre fracionamento em ADP e fornece energia para a movimentação dos músculos. UNIDADE 1 - Metabolismo energético para o movimento humano | 13 Energia para ressíntese de ATP A formação da molécula de ATP necessita da energia proveniente dos alimentos, que serão digeridos e armazenados na forma de subs- tratos energéticos. Os estoques de substratos são assim distribuídos no organismo: FosFatos de alta energia ATP e Fosfocreatina (PC). Os estoques de ATP são de 3 a 8 mMol/kg de músculo, e os de PC são 4 a 5 vezes dos de ATP; Carboidratos glicose plasmática (15g), glicogênio hepático (110g) e muscular (250g); gorduras reservas musculares (161g) e subcutâneas (7.800g). TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA PARA O MOVIMENTO HUMANO A formação do ATP, a partir dos substratos energéticos disponíveis – fosfatos de alta energia, carboidratos, gorduras e proteínas – se dá por meio de processos bioquímicos complexos. Nessa etapa, vamos apenas apresentar uma síntese de alguns elementos importantes a serem recordados (Quadro 1), para que, em seguida, seja detalhado o metabolismo energético no movimento humano. Quadro 1 – Sistemas de fornecimento de energia Energia imediata (ATP-PC) Energia de curta duração (anaeróbico lático) Energia de longa duração (aeróbico) ATP e PC (fosfagênios) Glicogênio e Glicose Glicogênio, ácidos graxos e proteínas SubstratosSistema energético Via bioquímica Potência máxima (moles de ATP/min) Potência máxima (moles de ATP/min) Anaeróbica alática Anaeróbica lática ou glicolítica Aeróbica ou oxidativa 3,6 1,6 1,0* 0,7 1,2 90* *A partir da molécula do glicogênio Essa estimativa foi baseada num indi- víduo com peso corporal médio de 65kg e 12% de gordura corporal, conforme Wilmore e Costill (2001). 14 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Todos os tipos de movimentos utilizam as mesmas fontes energéticas? Para analisar essa questão, vamos compreender o movimentar-se do ser humano na especificidade dos esportes e atividades lúdicas. Como vislumbrado no Quadro 1, existem três vias para ressíntese de ATP. A contribuição de cada uma dessas vias depende primaria- mente do requerimento de intensidade e duração do esforço físico realizado. Sendo assim, vamos fazer uma breve análise de cada uma dessas vias. Sistema de EnergiaImediata – ATP-PC Para realizar esforços intensos e de curtíssima duração, é preciso utilizar uma via energética de ressíntese de ATP que ofereça uma grande produção por minuto, mesmo que a capacidade total seja limitada. Essa via consiste na cisão anaeróbica da molécula de fos- focreatina (PC). Veja a reação esquematizada abaixo: CP C + P = Energia ATP + H2O ADP + P + Energia Contração muscular Assim que aumenta a disponibilidade de ATP, como é o caso do perí- odo de recuperação do esforço, a reação segue no sentido oposto, e a molécula de ATP é clivada para ressintetizar a fosfocreatina. Essa via de ressíntese é bastante rápida, mas de duração muito breve, alcançando seu potencial máximo de produção em cerca de dez se- gundos após a solicitação. Sendo assim, podemos exemplificar alguns tipos de atividades que predominam na utilização dessa via, tais como: 1 corridas de 100m, natação de 25m, levantamento de peso; 2 brincadeiras, como pular corda e amarelinha, e estafetas, desde que executadas por período breve. Figura 3 Sistema de energia imediata Nota: A fosfocreatina sofre cisão por ação da enzima creatina quinase, liberando energia da ligação fosfato (1). Essa energia será aproveitada pela célula para a ressíntese do ATP a partir da molécula de ADP (2). Finalmente, o ATP será disponibilizado para o processo de contração muscular (3). UNIDADE 1 - Metabolismo energético para o movimento humano | 15 Faz-se necessário relatar que, nas transições de intensidades de es- forço, como acontece em muitas modalidades esportivas, como fute- bol, vôlei, handebol, e na maioria das brincadeiras de crianças, o sis- tema ATP-CP é que garante a maior parte da transferência de energia. Para depletar os estoques intramusculares de fosfatos de alta energia (ATP-PC), é necessário: 1 minuto de caminhada; 20 a 30 segundos de cor- rida num ritmo de maratona; ou 5 a 8 segundos de corrida máxima? Sistema de Energia de Curta Duração - Anaeróbico Lático Para que o exercício extenuante possa continuar após 10 a 15seg, o ATP deve ser ressintetizado por outra via com maior capacidade. Essa via, conhecida como anaeróbica lática ou glicolítica, é mais duradoura que a via alática, predominando a partir de 40seg de exercício e permanecendo como principal via de ressíntese de ATP até cerca de 2min a 3min. Como pode ser observado no Quadro 1, esse sistema de ressíntese de ATP apresenta capacidade e potência intermediárias, quando com- parado com o sistema ATP-PC e com o sistema aeróbico. O único substrato energético metabolizado nesta via são os carboidratos, por isso é denominada via glicolítica. O esquema a seguir apresenta resumidamente o trajeto bioquímico deste sistema de ressíntese de ATP (Figura 4). Glicose (6 carbonos) Glicogênio Glicose - 6 - fosfato (2 moléculas de 3 carbonos) 2 Ácido pirúvico + 2NADH + 2ATP Ciclo de Krebs mitocôndrias Ácido lático Cascata de reações Produto final Divisão Glicólise anaeróbica Figura 4 Reação da glicólise anaeróbica Nota: Etapa citoplasmática de produção de energia com concomitante formação de ácido lático. 16 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Observe que a molécula de glicose é fosforilada e clivada em duas moléculas de três carbonos cada uma que darão origem a duas mo- léculas de ácido pirúvico, que carregarão com elétrons (H) duas coenzimas nicotinamida-adenina dinucleotídeo (NAD+ → NADH) e formarão dois ATPs. Na ausência de oxigênio, que é o caso desta via, o ácido pirúvico se liga a dois íons hidrogênios do NADH, convertendo-se em ácido lá- tico, com o auxílio da enzima desidrogenase lática. No sangue e nos músculos, o ácido lático se desvincula de um íon hidrogênio e se converte para lactato. O lactato produzido é prontamente oxidado pelas células musculares vizinhas com uma alta capacidade oxida- tiva, ou nos tecidos mais distantes, como o coração. Dessa forma, o acúmulo de lactato não se torna significativo nos exercícios de intensidade leve a moderada, uma vez que seu ritmo de produção se equilibra com a capacidade de remoção. Entretanto, nos esforços mais duradouros, a capacidade do orga- nismo de oxidar o lactato é inferior à sua produção do mesmo. O acúmulo torna-se, então, significativo e impacta no nível de aci- dose muscular causando fadiga. As atividades de intensidade elevada e duração entre 40seg e 2min estão relacionadas com a alta produção de lactato, resultando, con- sequentemente, em fadiga muscular, como as corridas de 400m, as provas de 200m de nado livre, muitas brincadeiras infantis e ativi- dades esportivas que se enquadram nas características de intensi- dade e duração requeridas por esse sistema de fornecimento de ATP. Sistema de Energia de Longa Duração - Aeróbico A energia aeróbica é derivada de um espectro mais amplo de subs- tratos energéticos – carboidratos, gorduras e proteínas. É conside- rada uma fonte de ressíntese de ATP ilimitada, dada a sua grande capacidade de produção. As demandas advindas do metabolismo de repouso são quase total- mente supridas pela via aeróbica. Nossos músculos respiratórios, os batimentos cardíacos, a sustentação da postura e o movimento dos UNIDADE 1 - Metabolismo energético para o movimento humano | 17 órgãos internos são alguns exemplos do contínuo suprimento de energia solicitado por nosso organismo em repouso. Como observado no Quadro 1, a via aeróbica requer a presença de oxigênio para as suas reações catabólicas e possui velocidade de res- síntese de ATP bastante lenta. Os movimentos corporais que solicitam duração de esforço superior a 3min se enquadram nesta categoria, como provas de corrida 2 milhas (3km), nado livre de 1.500m e ativi- dades contínuas de duração prolongada, como caminhada e ciclismo. As reações do metabolismo aeróbico são apresentadas na Figura 5, destacando alguns trajetos bioquímicos que ajudam os alunos na sequência do nosso estudo. Essa figura retrata as etapas me- tabólicas do fracionamento de gorduras, carboidratos e proteínas. A etapa anaeróbica da reação compõe todas as fases que ante- cedem o ciclo de Krebs. Observa-se que, a partir da molécula de glicose/glicogênio, é possível formar duas moléculas de ATP, com fracionamento incompleto da glicose. A partir da conversão do ácido pirúvico em acetil e da acoplagem da coenzima A, forma-se a acetil-coA que dará prosseguimento às reações de fracionamento da molécula de glicose. Esta etapa, composta do Ciclo de Krebs e cadeia de transporte de elétrons, é denominada fase aeróbica e acontece no interior da mitocôndria. GORDURAS CARBOIDRATOS PROTEÍNA ácidos graxos + glicerol Glicose/ glicogênio aminoácidos GLICÓLISE DESAMINAÇÂO Acetil-CoA BETA OXIDAÇÃO Piruvato Formação de 2 ATPs na etapa anaeróbica da glicólise Ciclo de Krebs Oxalacetato Liberação de CO2 Formação de 2 ATPs Carregamento do NAD e FAD com elétrons do hidrogênio Figura 5 Vias metabólicas de fracionamento dos carboidratos, gorduras e proteínas Lactato 18 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Em síntese, até esta etapa de nossos estudos, compreendemos que a energia química dos alimentos é transferida para o nosso organismo a fim de ressintetizar moléculas de alta energia – o ATP. Aprende- mos também que o consumo de energia é variável de acordo com a intensidade e duração do exercício e que a energia do nosso corpo, embora não seja estocável em quantidades suficientes para o nosso esforço diário, é continuamente reciclada por meio das vias metabó- licas de ressíntese de ATP. MEDIDA DO CONSUMO DE ENERGIA Como é possível mensurar o gasto energético no movimento Humano? Agora que entendemos um pouco mais das necessidades energéticas para o movimento humano, vamos aprender sobre as formas de ava- liaro consumo energético. Sabe-se que todos os processos metabólicos humanos resultam em produção de calor. Portanto, a mensuração do calor produzido é utilizada para a determinação da taxa metabólica. A essa técnica denominamos calorimetria direta (Figura 6). Água fria Isolamento Calor Calor Entrada de ar Saída de ar Absorvedor de CO2 Suprimento de O2 Circuito de resfriamento Água aquecida Assista ao vídeo sobre o processo de ressíntese aeróbica do ATP e em seguida responda as questões postadas na plataforma Moodle. 1 Figura 6 Câmara de mensuração do metabolismo humano, por meio de calorimetria direta Nota: O calor produzido pelo corpo é transferido para o ar e para as paredes da câmara. Esse calor é mensurado pelo registro da alteração da temperatura no ar e na água que fluem em volta da parede da câmara. UNIDADE 1 - Metabolismo energético para o movimento humano | 19 Outra medida laboratorial do metabolismo se baseia na premissa de que todas as reações que liberam energia no corpo dependem essen- cialmente da utilização de oxigênio. A mensuração do consumo de oxigênio de uma pessoa durante as atividades físicas fornece uma estimativa indireta, porém altamente precisa do dispêndio energé- tico – calorimetria indireta (teste cardiopulmonar). O teste cardiopulmonar, aplicado num esforço progressivo, vem sendo uma boa alternativa na prática clínica para avaliação das condições do sistema cardiorrespiratório em fornecer oxigênio para as funções fisiológicas. Quando a mensuração da capacidade de produzir energia é aplicada para atividades duradouras, referimo-nos à medida da capacidade aeróbica, classificada pelo consumo máximo de oxigênio – VO2 máx. No entanto, a energia pode ser proveniente de reações rápidas e de grandes intensidades de esforço físico. Neste caso, dizemos que a mensuração é da capacidade anaeróbica – lática ou alática. Embora muito eficientes, os métodos laboratoriais de mensuração da capacidade energética humana são bastante onerosos e pouco acessí- veis aos profissionais que atuam no campo da Educação Física Escolar. Contudo, conhecer e aplicar esses testes de medidas fisiológicas torna- se importante aos profissionais da Educação Física, uma vez que eles lhes permitem apropriar-se de informações relacionadas com a apti- dão física e melhorias nas condições físicas advindas do treinamento, que são necessárias para a utilização no âmbito educativo. 20 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos O SISTEMA NEUROMUSCULAR E O CONTROLE DO MOVIMENTO HUMANO MÚSCULO ESQUELÉTICO: ESTRUTURA E FUNÇÃO 23 A TEORIA DOS FILAMENTOS DELIZANTES 26 CONTROLE NEUROMUSCULAR DO MOVIMENTO 27 CONTRAÇÃO MUSCULAR 29 TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES 31 UNIDADE O estudo do controle do movimento humano é fascinante! Pense no emaranhado de conexões neuromusculares que envolve o controle motor durante uma partida de futebol. Enquanto o jogador se desloca no campo, ao mesmo tempo, é necessário dominar o movimento da bola, protegê-la da abordagem do adversário, manter a visão de seu posicionamento no campo e de seu alvo... Tudo isso somado ao som e à visão da multidão que esbraveja, do técnico que orienta... (grita!) Enfim, são múltiplas as informações sensoriais e as respostas motoras que dependem de aprendizagem e controle emocional. Vamos agora, então, adentrar por esse interessante campo de estudo, iniciando pelo (re)conhecimento das características morfológicas e funcionais dos músculos e do sistema nervoso. Vamos lá! O SISTEMA NEUROMUSCULAR E O CONTROLE DO MOVIMENTO HUMANO UNIDADE 2 - O sistema neuromuscular e o controle do movimento humano | 23 MÚSCULO ESQUELÉTICO: ESTRUTURA E FUNÇÃO Como é organizado o tecido muscular? No fascículo de Corpo, Movimento e Conhecimentos Biológicos, vocês viram que existem três diferentes tipos de tecidos muscula- res com características morfológicas e fisiológicas diferenciadas: os músculos liso, cardíaco e esquelético. Neste capítulo, vamos abordar especialmente o músculo esquelético, uma vez que se trata do tecido muscular responsável pelo movi- mento locomotor humano. No entanto, destacamos que muitas in- formações que aqui serão tratadas servem de base para a compreen- são da funcionalidade dos outros tipos musculares. A constituição da fibra muscular A organização do tecido muscular pode ser compreendida melhor no detalhamento da Figura 7, na qual se observa um músculo em um corte transversal, recoberto externamente por um envoltório de tecido conjuntivo – epimísio; mais internamente veem-se feixes de fibras musculares envoltos pelo perimísio; e cada fibra muscular, por sua vez, é recoberta pelo endomísio. Essa organização interna do músculo garante a perfeita fixação do tecido muscular nas alavan- cas ósseas, pela formação dos tendões, e ainda favorece a contração do músculo esquelético em conjunto, visto que as fibras musculares que estão em contração arrastam as demais para o encurtamento, pois se encontram ancoradas umas às outras. Epimísio Perimísio Endomísio Sarcolema Sarcômero Miofibrila Miofilamento Músculo Feixe Muscular Fibra Muscular Figura 7 Organização estrutural da fibra muscular 24 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Debaixo do endomísio e circundando cada fibra muscular, existe o sarcolema, que é constituído da membrana plasmática (plasmalema) estrutura responsável por envolver o conteúdo celular, permitindo o transporte seletivo de íons e substâncias para o interior e exterior da célula (Figura 7). Dessa forma, a fibra muscular conduz uma onda eletroquímica capaz de produzir a contração muscular, como vere- mos mais adiante. O interior aquoso da célula, denominado sarcoplasma, é composto de enzimas, íons, substratos energéticos, vesículas e uma organela importante no processo contrátil – o retículo sarcoplasmático. O retículo sarcoplasmático (RS), ilustrado na Figura 8, é essencial para o armazenamento e fornecimento de cálcio (Ca++), um íon cru- cial para disparar o processo de contração muscular. Essa organela encontra-se dilatada nas suas extremidades, formando as cisternas terminais, que interagem com o plasmalema na região dos túbulos transversos (túbulos “T”). Miofibrila Sarcolema Túbulo Transversal Cisterna terminal do retículo sarcoplasmático Túbulos do retículo sarcoplasmático Zona Z Zona Z Zona H Banda I Banda A Banda I Figura 8 O sistema de condução eletroquímica da fibra muscular Nota: Cada miofibrila possui retículos sarcoplasmáticos muito desenvolvidos que terminam em cisternas terminais, que interagem com invaginações do plasmalema (túbulos transversos) UNIDADE 2 - O sistema neuromuscular e o controle do movimento humano | 25 Cada fibra muscular é formada pela agregação de unidades funcio- nais menores, localizadas paralelamente ao eixo longitudinal da fi- bra – as miofibrilas (Figura 9) – que são constituídas principalmente por filamentos de proteínas motoras (85%) actina e miosina; e em sua menor parte, por proteínas estruturais ou proteínas modulató- rias da contração muscular. As proteínas estruturais (nebulina, proteína C, proteína M, α-actinina, desmina e titina) mantêm a integridade do sarcômero; enquanto as prote- ínas modulatórias (troponina e tropomiosina) formam um complexo pro- teico que libera a interação entre a actina e miosina. As miofibrilas apresentam faixas claras e escuras, que conferem um aspecto estriado para o músculo. Na Figura 10, observa-se a menor unidade contrátil do músculo – o sarcômero que é delimitado por duas linhas “z” nas extremidades, formando as faixas “I” ou isotró- picas, constituídas de filamentos finos de actina, que apresentam coloraçãomais clara, e as faixas “A” ou anisotrópicas, formadas por filamentos grossos de miosina e actina, e com coloração escura. No centro do sarcômero na faixa “A”, encontra-se a zona “H”, que é uma região onde se concentra a parte filamentosa da miosina. A compreensão da organização dos componentes da fibra muscular, das proteínas contráteis (actina e miosina), da existência de prote- ínas modulatórias (troponina e tropomiosina) e proteínas estrutu- rais (nebulina, proteína C, proteína M, α-actinina, desmina e titina) certamente facilitará o entendimento do mecanismo de contração muscular, que é sem dúvida um evento fisiológico muito importante para o nosso aprofundamento acadêmico. Disco Z Disco Z Filamento grosso (miosina) Filamento fino Membrana Capilares Músculo Tendão Fibras musculares Feixe de fibras Miofibrila Molécula de miosina Cabeça de miosina Molécula de actina Filamento grosso Figura 9 Esquema da estrutura microscópica do músculo Nota: Observa-se a fibra muscular extensivamente capilarizada e as miofibrilas, constituídas das proteínas contráteis actina e miosina, que formam os sarcômeros Sarcômero Figura 10 O sarcômero e sua organização estrutural em faixas claras e faixas escuras, dada pela distribuição das proteínas actina e miosina. 26 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos A TEORIA DOS FILAMENTOS DELIZANTES Como o músculo contrai? Muito bem! Agora que vocês leram com atenção o assunto anterior, e após analisarem com muito cuidado cada uma das figuras apre- sentadas, podemos nos concentrar em compreender o mecanismo da contração muscular. A teoria dos filamentos delizantes Inicialmente, é necessário escla- recer que a explicação para o processo de contração muscular ainda é considerada uma teoria, uma vez que não há comprovações con- clusivas para explicar o fenômeno. No entanto, as evidências que sustentam a teoria do “Modelo do filamento deslizante” proposto por Hugh e Andrew Huxley, na década de 1950, são consideráveis (SILVERTHORN et al., 2003). A teoria propõe que um músculo se encurta ou se alonga porque os filamentos espessos (miosina) e finos (actina) deslizam uns sobre os outros. As pontes cruzadas de miosina, que se fixam à actina, rodam e se separam ciclicamente dos filamentos de actina com a energia proveniente da hidrólise do ATP. Isso modifica o tamanho dentro das zonas e faixas do sarcômero, produzindo força ao nível da linha “z” (Figura 11). Zona H Faixa A Linha Z Linha Z Repouso: comprimento do sarcômero = 4,0 μm Contração: comprimento do sarcômero = 2,7 μm Filamento fino Filamento espesso Figura 11 Arranjo estrutural das proteínas motoras actina e miosina no repouso e em níveis diferentes de encurtamento muscular UNIDADE 2 - O sistema neuromuscular e o controle do movimento humano | 27 Medula espinhal Sistema nervoso periférico Cérebro CONTROLE NEUROMUSCULAR DO MOVIMENTO A inervação do músculo Agora que já entendemos o processo mecânico da contração muscu- lar, precisamos compreender como é disparado o estímulo nervoso que permite a propagação de potencial elétrico no músculo (despo- larização) para iniciar a contração muscular. O sistema nervoso é didaticamente dividido em sistema nervoso central (SNC), compreendendo as regiões protegidas pelo esqueleto da calota craniana e coluna vertebral (encéfalo e medula espinhal) e sistema nervoso periférico (SNP), no qual se incluem todos os nervos sensoriais ou aferentes, que levam informações sensitivas para o SNC; e os nervos motores ou eferentes, que executam as or- dens do SNC, ou seja, levam informações motoras para a periferia do corpo (Figura 12). Figura 12 Organização do sistema nervoso. No sistema nervoso central, mais especificamente no córtex motor, é disparado um estímulo nervoso que trafega por um nervo motor até a unidade motora que, por sua vez, distribui para as diversas junções mio- neurais ou placas motoras, que consistem no ramo de um nervo motor em co- nexão com uma única fi- bra muscular (Figura 13). A porção neural da placa motora e é constituída de vesículas sinápticas que armazenam o neurotrans- missor acetilcolina, que irá interagir com receptores na fibra muscular, despo- larizando-a (Figura 14). Sistema nervoso central 28 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Córtex motor Córtex sensitivo Cérebro Medula espinhal Nervo motor Nervo sensitivo Pele Receptores sensitivos MúsculosPlaca motora Figura 13 O trajeto sensitivo e motor cortical Nota: O córtex motor envia um estímulo através de um nervo motor para a unidade motora, e esta distribui para cada fibra muscular, através da placa motora ou junção neuromuscular Vesículas sinápticas Bulbo axônio Fenda sináptica Neurotransmissores Figura 14 A placa motora (junção mioneural) UNIDADE 2 - O sistema neuromuscular e o controle do movimento humano | 29 A CONTRAÇÃO MUSCULAR Sequência de eventos da contração muscular Assim que o estímulo chega à placa motora, é liberado o neuro- transmissor acetilcolina, que se encontra armazenado na porção terminal do nervo motor. A acetilcolina age em receptores de mem- brana na fibra muscular, abrindo canais iônicos de sódio (Na+), despolarizando a fibra, ao longo de toda a membrana, inclusive nos túbulos transversos. A mudança de voltagem interna da célula favorece a liberação de cálcio, armazenado no retículo sarcoplas- mático, e a entrada de cálcio (Ca++) extracelular. Essa abrupta alte- ração na concentração intracelular de íons Ca++ estimula a proteína troponina, que possui um sítio de ligação para esse íon. A tropono- nina, que é ligada à tropomiosina, ao ser ativada, movimenta este complexo (troponina-tropomiosina) liberando o sítio de ligação da actina com a miosina, favorecendo a interação para a formação das pontes cruzadas (actina-miosina), que irão se movimentar, en- curtando o músculo. Além da ativação das proteínas motoras, mediada pelo Ca++, outro elemento essencial para a contração muscular é a presença de ener- gia (ATP). A hidrólise do ATP ocorre continuamente na cabeça da miosina, mediada pela enzima miosina ATPase, liberando energia para a movimentação da miosina e interação com a actina. Portanto, sem a presença de Ca++, mesmo que haja energia suficiente para movimentar a miosina sobre a actina, não há interação entre elas, pois é esse íon que permite a liberação da área de acoplagem. Os eventos elétricos e mecânicos responsáveis pelo processo de con- tração muscular podem ser sintetizados na Figura 15. Vamos agora assistir a alguns Vídeos sobre o sistema muscu- lar e a teoria da contração? em seguida, retomem a Figura 15 para VeriFicar a compreensão do assunto. Este vídeo está dividido em 4 partes 2 30 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Ca2+ Ca2+ Ca2+Ca 2+ Ca2+ Ca 2+Ca2+ Ca2+Ca2+ Ca2+ A ponte cruzada se dissociaATP ATP Miosina ATPase ATPADP Movimento da ponte cruzada Locais de fixação da miosina Filamento de actina Filamento de miosina Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ As vesículas saciformes dentro do axônio terminal liberam ACh que se difunde através da fenda sináptica e se fixa aos receptores especializados de ACh sobre o sarcolema. 1 Receptor de ACh ACh O potencial de ação do músculo despolariza os túbulos transversos na junção A-I do sarcômero. 2 A despolarização do sistema de túbulos T acarreta a libaração de Ca2+ pelos sacos laterais do retículo sarcoplasmático. 3 Ca +2 fixa-se à troponina-tropomiosina nos filamentos de actina. Isso elimina a inibição que impedia a combinação de actina com miosina. 4 Complexo troponina Durante a contraçãomuscular, a actina combina-se com miosina ATPase para fracionar o ATP com liberação de energia. A tensão produzida pela liberação de energia produz movimentação das pontes cruzadas de miosina 5 O ATP une-se à ponte cruzada de miosina, rompendo a ligação actina-miosina permitindo que a ponte cruzada se dissocie da actina. Isso dá origem ao deslizamento dos filamentos espessos e finos, que acarreta o encurtamento do músculo 6 A ativação das pontes cruzadas prossegue quando a concentração de Ca2+ continua alta (em virtude da despolarização da membrana) para inibir a ação do complexo troponina-tropomiosina 7 Quando a estimulação muscular cessa, a concentração de Ca2+ cai rapidamente e o Ca2+ desloca-se de volta para os sacos laterais do retículo sarcoplasmático graças ao transporte ativo que depende da hidrólise do ATP. A remoção de Ca2+ restaura a ação inibitória de troponina-tropomiosina. Na presença de ATP, actina e miosina continuam no estado dissociado e relaxado. Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+Ca2+ Ca2+ Vesículas sinápticas Fenda sinápticas Onda de despolarização Retículo sarcoplasmático Túbulo T Figura 15 Eventos elétricos e mecânicos da contração e relaxamento muscular. Nota: O neurotransmissor acetilcolina (ACh) é liberado pelas vesículas saciformes dentro do axônio terminal, facilitando a transmissão nervosa na junção neuromuscular; o sinal eletroquímico “salta” através da fenda sináptica chegando à fibra muscular, na junção da banda A e I (A-I); ativando a liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, que vai acionar a maquinaria contrátil do músculo. 8 9 UNIDADE 2 - O sistema neuromuscular e o controle do movimento humano | 31 TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES Todas as fibras musculares possuem as mesmas características? Nossos estudos, até o momento, esclareceram sobre o mecanismo da contração muscular em sua base molecular. No entanto, podemos observar que, no cotidiano, somos capazes de realizar diferentes in- tensidades e durações de contração muscular. Quando trabalhamos em nossas aulas de Educação Física atividades, por exemplo, o fu- tebol, notamos que nossos alunos correm mais intensamente nos momento de contra-ataque e que eles se deslocam mais lentamente para movimentar-se e posicionar-se no jogo. Vemos ainda que o chute para marcação de um pênalti pode ser mais forte que um passe para um colega que está próximo. Todo esse controle motor é ditado por estruturas do SNC que são capazes de interpretar o ambiente e a situação do jogo para solicitar as fibras musculares mais capacitadas para essa ação. Portanto, ao seguir esta lógica, somos capazes de concluir que exis- tem diferentes tipos de fibras musculares, que exibem o mesmo me- canismo de contração muscular, mas com capacidades energéticas e contráteis diferenciadas. No Quadro 2, são apresentadas as características das fibras muscula- res, de acordo com a capacidade contrátil – contração lenta (tipo I) e contração rápida (tipo II A e IIB). a análise do quadro 2 deste capítulo reVela a presença de diFerentes tipos de Fibras musculares. com base nesse conteúdo, Faça uma lista de pelo menos três atiVidades que podem ser trabalhadas nas aulas de educação Física, ca- racterizando o tipo de Fibra muscular mais solicitada em cada uma delas. 32 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Quadro 2 - Características morfológicas, histoquímicas e contráteis das fibras musculares Morfologia Cor Diâmetro Volume mitocondrial Capilares (mm2) HISTOQUÍMICA/BIOQUÍMICA Miosina ATPase Capacidade manipular Ca++ Capacidade glicolítica Capacacidade oxidativa FUNÇÃO E CONTRATILIDADE Velocidade contração Velocidade relaxamento Resistência à fadiga Capacidade força I Vermelha Pequeno Alto Altos Baixa Baixa Baixa Alta Lenta Lenta Alta Baixa Contração rápidaContração Lenta IIA Vermelha/branca Intermediário Intermediário Intermediários Alta Intermediária Alta Intermediária Rápida Rápida Intermediária Intermediária IIB Branca Grande Baixo Baixos Alta Alta Alta Baixa Rápida Rápida Baixa Alta O SISTEMA CARDIOVASCULAR NO EXERCÍCIO UNIDADE O SISTEMA CARDIOVASCULAR NO EXERCÍCIO ESTRUTURA E FUNÇÃO CARDIOVASCULAR 35 DISTRIBUIÇÃO DO DÉBITO CARDÍACO NO REPOUSO E NO EXERCÍCIO 42 PRESSÃO ARTERIAL NO REPOUSO E NO EXERCÍCIO 45 A evolução da vida se configurou pela associação dos organismos unicelulares em colônias cooperativas, que passaram a ter maior facilidade de sobrevivência nessa relação simbiótica e evoluíram posteriormente para organismos multicelulares. Embora essa evolução representasse um extraordinário avanço, que culminou na formação do fabuloso organismo humano, um problema foi instalado: esses seres multicelulares precisavam trocar nutrientes e oxigênio com o ambiente, e o processo de difusão tornara-se bastante limitado, dado o aumento de tamanho dos organismos. A solução encontrada pela natureza foi o desenvolvimento evolutivo do sistema cardiovascular, uma vez que a centralização das estruturas corporais que ocorreu nesse trajeto de aprimoramento da vida exigiu um sistema de distribuição de elementos vitais e integração entre os sistemas corporais. Atualmente sabemos que o sistema cardiovascular se constitui de uma bomba cardíaca que propulsiona o sangue através de um sistema de vasos arteriais fechados, onde o fluxo sanguíneo tramita numa rota unidirecional, distribuindo nutrientes, gases, moléculas sinalizadoras e removendo resíduos das células e líquidos corporais. UNIDADE 3 – O sistema cardiovascular no exercício | 35 No entanto, na Antiguidade, acreditava-se que o sangue era produzido pelo fígado e distribuído pelo corpo através das veias, e que os pulmões recebiam o ar atmosférico e enviavam ao coração, onde era digerido e transformado em “espíritos vitais” a se- rem distribuídos para o corpo pelas artérias. Essa teoria foi contestada por William Harvey (Figura 16) que calculou a quantidade de sangue bombeada pelo coração em uma hora, constatando que o peso dessa produção era superior ao peso corporal, e com isso comprovou a incapacidade do fígado de produzir essa quantidade total de sangue para prover o corpo com os elementos vitais. Atualmente muitos conhecimentos foram produ- zidos, o que nos permite conhecer, com bastante propriedade, o funcionamento do sistema cardio- vascular. Portanto, eu os convido a percorrermos algumas trilhas deste fascinante campo de estudo. considerando a teoria antiga de que todo o sangue necessário ao corpo era continuamente produzido pelo Fígado, analisem, assim como harVey, o total de sangue necessário para uma hora de Vida. como reFerência, Vamos considerar que o coração bombeia cerca de cinco litros de sangue por minuto. ESTRUTURA E FUNÇÃO CARDIOVASCULAR O sistema cardiovascular é formado por uma conexão contínua de uma bomba – o coração; um circuito de distribuição de sangue com alta pressão – as artérias e as arteríolas; os canais de permuta – os capilares; e um circuito de coleta e de retorno do sangue, de baixa pressão – as vênulas e veias. Esse circuito disposto em linha reta pode atingir uma extensão de 160.000km de vasos sanguíneos (McARDLE et al., 2003) figura 17. Figura 16 William Harvey (1578 – 1657) Nota: Esse cientista descreveu detalhes do sistema cardiocirculatório no século XVII 36 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Cabeça e braços Veias provenientes da parte superior do corpo Artérias para a parte superior do corpo Veia cava superior Aorta Artéria pulmonar Veia pulmonar Pulmão PulmãoLegenda 1 - Átrio esquerdo 2 - Ventrículo esquerdo 3 - Átrio direito 4 - Ventrículo direito 1 2 3 4 Veia cava inferior Veias hepáticas Veia porta Artérias hepáticas Fígado Canal alimentar Rins Veias provenientes da parte inferior do corpo Artérias para a parte inferior do corpo Pernas Figura 17 O sistema cardiovascular Nota: A bomba cardíaca direciona o sangue para os vasos arteriais onde seguirá para a circulação sistêmica ou pulmonar UNIDADE 3 – O sistema cardiovascular no exercício | 37 Cada um dos constituintes do sistema cardiovascular esboça proprie- dades funcionais importantes para garantir a homeostasia do sistema. O coração O coração é o órgão central do sistema cardiovascular, também cha- mado de bomba cardíaca. Localiza-se na região ventral da cavidade torácica, entre os dois pulmões (Figura 18). A parte inferior do coração é denominada ápice e a parte superior é a base. Externamente, o órgão é envolvido por uma membrana de tecido conjuntivo com fluido, que permite a movimentação da bomba cardíaca reduzindo o atrito. Glândula tireóide Pulmão Diafragma Traqueia Primeira costela Ápice do coração A O coração está na parte ventral da cavidade torácica, posicionado entre os pulmões. Diafragma Pericárdio B O coração está envolvido dentro de um saco embranoso, preenchido com fluido, o pericárdio. O coração é constituído de quatro câmaras, os átrios direito e es- querdo, e os ventrículos direito e esquerdo (Figura 19). Os átrios estão posicionados na base do coração e recebem o sangue prove- niente do retorno venoso da circulação sistêmica (veias cavas su- periores e inferiores), ou dos pulmões (veias pulmonares direita e esquerda), após o processo de hematose. Na Figura 19, é possível observar ainda as grandes artérias pulmo- nares, a aorta ascendente e descendente, as válvulas atrioventricula- res (tricúspide e mitral), válvulas pulmonares e aórtica. Figura 18 A bomba cardíaca Nota: Localizada na cavidade torácica entre os dois pulmões (A), e o coração envolvido pelo pericárdio (B). 38 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos Veia cava superior Artéria pulmonar direita Átrio direito Válvula átrio-ventricular direita-tricúspide Veia cava inferior Ventrículo direito Aorta descendente Ventrículo esquerdo Válvula átrio-ventricular esquerda-mitral (bicúspide) Veia pulmonar esquerda Artéria pulmonar esquerda Válvula pulmonar Aorta Miocárdio - o músculo cardíaco O músculo cardíaco, denominado miocárdio, possui propriedades contráteis semelhantes às do músculo esquelético, ou seja, é consti- tuído de proteínas motoras que deslizam umas sobre as outras para promover a contração do miocárdio – sístole; ou relaxam para ocor- rer a diástole. As duas etapas, sístole e diástole, são respectivamente os momentos de ejeção cardíaca e enchimento cardíaco. A contração do miocárdio é também mais dependente de cálcio extracelular, uma vez que o retículo sarcoplasmático cardíaco não apresenta capacidade suficiente de armazenamento de cálcio. Sendo assim, o coração é mais sensível a alterações de cálcio plasmático. Apesar de muitas similaridades entre o miocárdio e o músculo es- quelético, é necessário destacar também particularidades importan- tes que favorecem o funcionamento do órgão cardíaco. O coração exibe fibras musculares mais curtas que se organizam à maneira de uma treliça, favorecendo o contato entre as células do miocárdio – os cardiomiócitos. Existem ainda as junções comunicantes, que são canais proteicos continuados entre dois cardiomiócitos (Figura Para complementar os seus estudos, veja alguns vídeos sobre o ciclo cardíaco disponíveis na plataforma. Esse conteúdo encontra-se dividido em 3 partes. 3 Figura 19 Anatomia cardíaca: ventrículos, átrios, artérias pulmonares e aorta, veias cava superior e inferior, veias pulmonares e válvulas cardíacas. UNIDADE 3 – O sistema cardiovascular no exercício | 39 20). Essas características permitem a propagação da estimulação, ou seja, a despolarização de uma única célula se difunde para as seguin- tes. Consequentemente, o coração funciona tal como uma unidade, bombeando o sangue com eficiência. Desmossomos Junções comunicantes Túbulos “T” Retículo sarcoplasmático Sarcômero Zônulas de adesão A condução elétrica cardíaca o sistema de His- Purkinkje Vocês observaram, no vídeo indicado, que o coração possui um sistema especializado para condução do impulso elétrico. É como se o impulso, à semelhança de uma via de tráfego urbana, devesse seguir por ruas e avenidas específicas para chegar mais rapida- mente ao seu destino. Esse sistema denominado sistema de His-Purkinkje, consiste em um trajeto de células especializadas do miocárdio que possuem capaci- dade de despolarização mais rápida, e por isso coordena a condução do impulso cardíaco e, consequentemente, a contração sincrônica do miocárdio (Figura 21). O sistema de condução elétrico-cardíaca se inicia no nodo sinu- sal ou sinoatrial (SA), posicionado junto à entrada da veia cava (átrio direito), e é considerado o marca-passo cardíaco, pois é nele que se inicia o impulso de propagação. Em seguida, o impulso é distribuído aos átrios direito e esquerdo pelas vias internodais; Figura 20 Ilustração esquemática do músculo cardíaco com as junções comunicantes e zônulas de adesão. 40 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos passando para o nodo atrioventricular (AV), que retarda o estímulo para permitir que a contração atrial anteceda a contração ventricu- lar. Posteriormente, o estímulo tramita pelo septo interventricular e adentra para o interior das paredes ventriculares, favorecendo a contração ventricular. Nodo sinusal - SA Ramos atriais Nodo atriventricular Feixe de HIS Ramos direito e esquerdo de purkinje Ramos direito e esquerdo de HIS Eletrocardiograma A condução elétrico-cardíaca é registrada na clínica médica por meio dos sinais eletrocardiográficos. A observação do eletro- cadiograma (ECG) nos permite identificar se há anormalidades no ritmo cardíaco, revelando importantes patologias que podem ser tratadas por intervenções dos profissionais de saúde. Os vasos sanguíneos Os vasos sanguíneos constituem o sistema de transporte e distribui- ção do sangue. A estrutura dos componentes vasculares é variável de acordo com a solicitação hemodinâmica imposta. Sendo assim, encontramos nas artérias, que são tubos de alta pressão para impulsão do sangue para os tecidos, uma espessa camada de músculo liso, que garante o controle da tonicidade vascular e, con- sequentemente, do diâmetro da luz vascular, ou lúmen (Figura 22). A tonicidade vascular diz respeito ao nível de contração sustentada do músculo liso vascular. Pode ser modulada por mecanismos neurais, hormo- Veja a animação da condução cardíaca e a relação desta com os sinais eletrocardiográficos. 4 Figura 21 Sistema de condução elétrica do coração UNIDADE 3 – O sistema cardiovascular no exercício | 41 nais ou parácrinos, determinando o aumento da luz vascular – vasodilata- ção ou a redução da luz vascular – vasoconstrição. Capilares Do coração - Artéria Para o coração - Veia Adventícia Músculo liso vascular Endotélio Lúmen vascular À medida que se progride em direção aos tecidos, os vasos tornam- se menos calibrosos e mais ramificados – são as arteríolas que for- mam uma extensa rede de distribuição sanguínea em direção aos capilares teciduais. Nos capilares, encontramos vasos com parede muito delgada, de- nominada endotélio, e ainda mais ramificados. É nos capilares que ocorre o processo de troca entre os elementos vasculares e intersti- ciais, para provimento dos tecidos corporais.Após passagem pelos capilares, o sangue reduz seu estoque de oxi- gênio, uma vez que uma importante fração desse gás é destinada aos tecidos, tais como: músculos esqueléticos, músculos lisos do trato gastrointestinal, rins, cérebro, fígado, pele e demais vísceras e glândulas corporais. Você sabia que alguns tecidos extraem uma fração pequena de oxigênio do sangue arterial? É o caso do músculo esquelético, que geralmente apro- veita apenas 20% a 25% do oxigênio circulante, enquanto o miocárdio, em geral, extrai cerca de 70% a 80% de oxigênio ofertado. O retorno do sangue é garantido pelos vasos venosos, ou seja, as vênulas e veias. As veias possuem camadas teciduais semelhantes Figura 22 Os vasos sanguíneos provenientes do coração - artérias, arteríolas e capilares; e de retorno cardíaco – vênulas e veias 42 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos às artérias, porém mais delgadas. O fluxo sanguíneo que passa pelos vasos venosos segue de maneira unidirecional para o coração, uma vez que existem válvulas que impedem o contrafluxo de sangue causado por ação gravitacional. DISTRIBUIÇÃO DO DÉBITO CARDÍACO NO REPOUSO E NO EXERCÍCIO A cada batimento cardíaco, o coração de um homem adulto, de esta- tura mediana, ejeta cerca de 71ml de sangue na circulação sistêmica; e, a cada minuto, o coração é capaz de contrair e, consequentemente, ejetar em torno de 70 vezes. Então, conforme ilustrado, podemos di- zer que, por minuto, a bomba cardíaca trabalha com a capacidade de ejetar cerca de 4.970ml de sangue, ou seja, quase 5l/min! Esse parâmetro é denominado débito cardíaco, que consiste na quantidade de sangue bombeada pelo coração durante o período de um minuto. Débito Cardíaco = Frequência Cardíaca x Volume Sistólico É importante ressaltar que o débito cardíaco é um parâmetro bas- tante variável, que se adapta às solicitações metabólicas de nosso corpo. Portanto, quando observamos elevações da frequência cardí- aca de nossos alunos durante as aulas de Educação Física, podemos concluir que isso ocorre para elevar a quantidade de sangue dispo- nibilizada pelo coração – o débito cardíaco. Então, se o coração responde às necessidades sanguíneas do corpo, como é distribuído o débito cardíaco ao longo dos sistemas corporais? Para responder a essa pergunta, vamos observar o quadro 3, que apresenta a distribuição do débito cardíaco através dos órgãos cor- porais, no repouso e no esforço físico. Observa-se que, no repouso, a região do abdome, que representa uma área corporal pequena, comparada com a massa muscular de todo o corpo, recebe cerca de 24% de todo o débito cardíaco. Nesse UNIDADE 3 – O sistema cardiovascular no exercício | 43 mesmo raciocínio, nota-se que os rins são também claramente mais perfundidos, com um fluxo de 19%, assim como o cérebro (13%). Quadro 3 - Distribuição do débito cardíaco nos órgãos e áreas corporais, em repouso, no exercício leve, extenuante, e máximo Cérebro Coração Músculo Pele Rim Abdôme Outros Total 750 (8%) 350 (3,5%) 4500 (47%) 1500 (16%) 900 (9,5%) 1100 (11,5%) 400 (0,5%) 9500 (100%) 750 (4%) 750 (4%) 12500 (72%) 1900 (11%) 600 (3,5%) 600 (3,5%) 400 (2%) 17500 (100%) Repouso 750 (3%) 1000 (4%) 22000 (88%) 600 (2,5%) 250 (1%) 300 (>1%) 100 (<1%) 25000 (100%) Exercício extenuante Exercício máximoExercício leve 750 (13%) 250 (4%) 1200 (21%) 500 (8,5%) 1100 (19%) 1400 (24%) 600 (10,5%) 5800 ml (100%) Esse privilégio na perfusão sanguínea desses órgãos (vísceras gas- trintestinais e rins) se justifica pela intensa atividade metabólica dessas áreas no processo de digestão e filtragem sanguínea. Quanto ao cérebro, é perceptível a necessidade de maior aporte sanguíneo, em qualquer situação (repouso ou esforço físico), uma vez que se trata do sistema primário à manutenção da coordenação de todas as demais funções fisiológicas. No entanto, à medida que nos movimentamos da intensidade leve até o esforço máximo, observa-se que ocorre aumento expressivo do débito cardíaco de até cerca de 25.000ml (FOSS; KETEYIAN, 1998). Um aumento de quase cinco vezes do parâmetro de repouso! E para onde se destina esse aumento do débito cardíaco? E para quê? continue obserVando o quadro 3, para analisar quais órgãos e estruturas corporais são mais priVilegiados com aporte sanguí- 44 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos neo durante o exercício. discuta com os colegas sua interpre- tação. sugestão de leitura: mcardle et al. (2003, cap. 17). As adaptações de fluxo sanguíneo decorrentes do exercício físico não poderiam ser explicadas apenas pelas alterações na capacidade de bombeamento cardíaco, uma vez que o território vascular tam- bém interfere na distribuição de sangue para os tecidos corporais. Então, precisamos entender ainda o que acontece com os vasos san- guíneos durante o esforço físico. Como mencionado, os vasos arte- riais exibem capacidade de se dilatarem ou contraírem, modulando a passagem do sangue pelo lúmen. Dessa forma, o mecanismo de vasodilatação torna-se predominante nas áreas onde o metabolismo se encontra mais elevado. No caso do exercício, podemos desta- car os músculos esqueléticos ativos e o miocárdio como as regiões preferenciais para desvio seletivo do fluxo sanguíneo mediado pelo mecanismo de vasodilatação (Figura 23). Luz arterial Células endoteliais Células musculares lisas Tecido conjuntivo fibroso Óxido nítrico (ON) Ao contrário, nas áreas de menor atividade metabólica (vísceras ab- dominais), o fluxo sanguíneo encontra-se limitado pelo mecanismo de vasoconstrição. Portanto, mesmo com o aumento do débito car- díaco, essas áreas passam a receber menor quantidade de sangue por restrição mecânica do vaso sanguíneo. A vasodilatação metabólica é um mecanismo miogênico, ou seja, acontece apenas no músculo liso vascular, mediado pela liberação de fatores relaxantes derivados do endotélio, por exemplo, o óxido Figura 23 Mecanismo de regulação local do fluxo sanguíneo. Vasodilatação mediada por fatores relaxantes derivados do endotélio (óxido nítrico) UNIDADE 3 – O sistema cardiovascular no exercício | 45 nítrico, enquanto o mecanismo de vasoconstrição é de ordem neural, controlado pelos estímulos do sistema nervoso autônomo simpático. PRESSÃO ARTERIAL NO REPOUSO E NO EXERCÍCIO Agora que já conhecemos as alterações cardiovasculares do exercício, vamos estudar um importante parâmetro clínico que tem merecido a atenção dos profissionais ligados à área de saúde - a pressão arterial. A pressão arterial é a tensão gerada no sistema arterial quando da passagem do sangue. Dessa forma, a cada contração do ventrículo esquerdo, uma onda de sangue é impulsionada através da aorta. Os vasos periféricos não permitem o escoamento do sangue para dentro do sistema arterial com a mesma rapidez com que é ejetado pelo co- ração, e isso faz com que a aorta, que é distensível, armazene parte do sangue, criando uma pressão no sistema arterial (Figura 24). Válvula pulmonar fechada Diástole ventricular Sístole atrial Válvula aórtica fechada Abertura das válvulas atrioventriculares Sístole ventricular Diástole Válvula aórtica aberta Fechamento das válvulas Válvula pulmonar aberta Nos vasos arteriais, é possível mensurar duas fases distintas de pres- são arterial – sistólica e diastólica - que são apresentadas grafica- mente na Figura 25. Portanto, podemos concluir que a pressão arterial reflete os efeitos combinados do fluxo sanguíneo arterial por minuto (débito cardíaco) Figura 24 O ciclo cardíaco e a pressão arterial Nota: no momento do relaxamento ventricular (diástole) A, a válvula aórtica está fechada e o sistemaarterial, que se inicia na aorta, exibe a mais baixa pressão de todo o ciclo cardíaco – pressão arterial diastólica. Assim que o ventrículo se contrai (sístole), a aorta recebe bruscamente uma onda de sangue, gerando a mais alta pressão do ciclo cardíaco – pressão arterial sistólica. 46 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos e da resistência a esse fluxo oferecida pela árvore vascular periférica: Pressão arterial = Débito cardíaco X Resistência periférica total. 1 73 4 5 62 8 9 Pressão arterial diastólica Pressão arterial sistólica 1 7 3 4 5 6 2 8 9 Legenda Aorta Artérias grandes Artérias pequenas Arteríolas Capilares Vênulas Veias pequenas Veias grandes Veia cava 0 20 40 60 80 100 120 Distância do ventrículo esquerdo Pr es sã o ar te ria l s is tê m ic a (m m H g) Pressão arterial no exercício Agora, vamos compreender as alterações de pressão arterial decor- rentes do exercício físico, para identificarmos a importância fisioló- gica desse parâmetro. Para tal tarefa, sabemos que será necessário relembrar as alterações do débito cardíaco e da resistência vascular ao exercício. O débito cardíaco, como visto no quadro 3, aumenta progressivamente com a elevação da intensidade do esforço, estabelecendo uma relação es- treita com as demandas metabólicas corporais, enquanto a resistên- cia vascular periférica, determinada pela vasodilatação nos grandes vasos arteriais dos músculos em atividade, tende a reduzir. Dessa forma, temos mecanismos concorrentes a modulação da pressão ar- terial no exercício, pois, enquanto o aumento de débito cardíaco se torna favorável à elevação da pressão arterial, especialmente a sis- tólica, a redução da resistência vascular pode favorecer a queda da Assista as animações disponíveis na plataforma para conhecer mais sobre a técnica de medida da pressão arterial. 5|6 Figura 25 Medida intra-arterial da pressão arterial ao longo do sistema arterial e venoso UNIDADE 3 – O sistema cardiovascular no exercício | 47 pressão arterial, especialmente a diastólica. O que temos, durante o exercício, é a elevação da pressão arterial, mais nítida no momento da sístole, acompanhada de uma alteração discreta da pressão dias- tólica, geralmente na cifra de 15mmHg. O aumento da pressão arterial durante o exercício tem importante papel na impulsão do sangue para os capilares, onde ocorre a troca de nutrientes e gases. Volte para o quadro 5 e observe como a pressão nos capilares é proporcional à pressão arterial gerada nos grandes vasos. Portanto, a elevação da pressão arterial no exercício, dentro de limites aceitáveis, é um mecanismo favorável à perfusão vascular dos tecidos corporais. Entretanto, não podemos confundir a elevação aceitável da pressão arterial, durante o exercício, com a hipertensão. Esta se trata de uma doença crônica que causa intensos danos à estrutura vascular, ao coração e aos demais órgãos do corpo, como rins, pulmões, cérebro e olhos. aValiação níVel ii Ver atiVidade aValiatiVa na plataForma moodle. Para complementar seus estudos, veja este pequeno documentário sobre a hipertensão arterial. 7 O SISTEMA RESPIRATÓRIO NO EXERCÍCIO O sistema respiratório dos mamíferos terrestres surgiu a partir da necessidade de se manter uma área de troca gasosa com uma membrana aquosa a qual os gases hidrossolúveis que mantêm a vida podem atravessar. Segundo McArdle et al. (2003, p. 259): Se o suprimento de oxigênio aos seres humanos dependesse apenas da difusão através da pele, não se poderia atender à demanda energética basal, e muito menos os 4 a 5 litros de consumo de oxigênio por minuto e de eliminação de dióxido de carbono necessários para correr uma maratona [...]. A função respiratória é essencial à vida, ou seja, garante a homeostase dos sistemas corporais, pois realiza a difusão do gás oxigênio (O2) advindo do ar fresco, e do dióxido de carbono (CO2) proveniente das reações químicas do corpo. Nesta unidade vamos transitar pelos conhecimentos básicos que nos permitem interpretar melhor as funções respiratórias e sua importância para prover o corpo durante o movimento humano. ESTRUTURA E FUNÇÃO PULMONARES 51 MECÂNICA RESPIRATÓRIA 52 VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES 55 PERMUTA E TRANSPORTE DE GASES 57 RESPOSTAS VENTILATÓRIAS NO EXERCÍCIO 60 UNIDADE O SISTEMA RESPIRATÓRIO NO EXERCÍCIO UNIDADE 4 - O sistema respiratório no exercício | 51 ESTRUTURA E FUNÇÃO PULMONARES As estruturas pulmonares atuam para garantir o processo de ventila- ção, ou seja, o processo pelo qual o ar ambiente penetra nos pulmões e é permutado pelo ar existente em seu interior. Didaticamente, são compreendidas três vias morfofuncionais vincu- ladas ao processo de ventilação (Figura 26): Vias de transporte ou condução cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos; Vias de transição bronquíolos respiratórios; Vias de troca gasosa pulmões (alvéolos). Cavidade nasal Faringe Laringe Traqueia Brônquios principais Pulmão Bronquíolo Alveólo Capilares pulmonares Rede capilar sobre a superfície alveolar O ar que penetra nas vias de condução é aquecido para se ajustar à temperatura corporal, e umedecido devido à intensa rede vascular que perfunde a cavidade nasal. Também é filtrado pelos cílios que com- Figura 26 Estrutura morfofuncional do sistema respiratório. 52 | Corpo, Movimento e Conhecimentos Fisiológicos põem a mucosa das vias de condução. Quando chega à traqueia, o ar está quase completamente preparado para o processo de troca gasosa. Ao longo dos dois brônquios, o ar continua sendo condicionado e propulsionado em direção aos numerosos bronquíolos que o condu- zem aos microscópios alvéolos que compõem o tecido pulmonar. Os pulmões proporcionam a superfície de permuta gasosa, essencial para a aeração do sangue. A superfície úmida e altamente vasculari- zada dos pulmões se encaixa dentro da cavidade torácica, envolvida pela pleura – uma dupla membrana (parietal e visceral) constituída entre elas de uma cavidade (cavidade pleural), que é ocupada por uma pequena quantidade de líquido para a lubrificação das pleuras, denominado de líquido pleural (Figura 27). Pleura A função do líquido pleural é a lubrificação e facilitação dos mo- vimentos dos pulmões durante a mecânica da ventilação pulmonar. MECÂNICA RESPIRATÓRIA O processo de inspiração e expiração do ar depende de mudanças de pressão na cavidade torácica, provocadas pela expansão ou pela retração do tecido pulmonar, garantido pela contração dos músculos da ventilação (Figura 28). Figura 27 Vista frontal dos dois pulmões envolvidos pela pleura. UNIDADE 4 - O sistema respiratório no exercício | 53 Esternocleidomastóide Escalenos Intercostais internos Intercostais externos Abdominais Diafragma Inspiração Expiração Durante a inspiração, a cavidade torácica aumenta de tamanho no sentido anteroposterior e vertical, porque as costelas sobem, por ação dos músculos intercostais externos; e o diafragma desce, ao se con- trair. Isso reduz a pressão intratorácica, comparada com a pressão atmosférica, fazendo com que o ar penetre nos pulmões (Figura 29). Durante a expiração, as costelas oscilam para baixo e o diafragma retorna a uma posição relaxada. Isso reduz a cavidade torácica, au- mentando a pressão intratorácica, e o ar é expelido. Costelas e o esterno se elevam com a contração dos intercostais externos O diafragma se move inferiormente durante a contração Figura 28 Músculos da ventilação. Nota: Do lado esquerdo, os músculos inspiratórios (diafragma, intercostais externos, escalenos, esternocleidomastoides);
Compartilhar