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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA ESTUDO DA INFECÇÃO POR BABESIA SPP. EM CÃES DA REGIÃO PERIURBANA DE BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL MARTA FREITAS VASCONCELOS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM SAÚDE ANIMAL BRASÍLIA/DF FEVEREIRO/2010 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA ESTUDO DA INFECÇÃO POR BABESIA SPP. EM CÃES DA REGIÃO PERIURBANA DE BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL MARTA FREITAS VASCONCELOS ORIENTADOR: GIANE REGINA PALUDO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM SAÚDE ANIMAL PUBLICAÇÃO: 022/2010 BRASÍLIA/DF FEVEREIRO/2010 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA ESTUDO DA INFECÇÃO POR BABESIA SPP. EM CÃES DA ÁREA PERIURBANA DE BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL MARTA FREITAS VASCONCELOS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE ANIMAL, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM SAÚDE ANIMAL APROVADA POR: ___________________________________________ GIANE REGINA PALUDO, MVD, PhD (Universidade de Brasília - UnB) (ORIENTADOR) ___________________________________________ ARLETE DELL’PORTO, MVD, PhD (Universidade de Brasília - UnB) (EXAMINADOR INTERNO) ___________________________________________ NÁDIA REGINA P. ALMOSNY, MVD, PhD (Universidade Federal Fluminense - UFF) (EXAMINADOR EXTERNO) BRASÍLIA/DF, 08 de FEVEREIRO de 2010 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E CATALOGAÇÃO VASCONCELOS, M.F. Estudo da infecção por Babesia spp. em cães da área periurbana de Brasília, Distrito Federal. Brasília:Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 2010, 63 p. Dissertação de Mestrado. FICHA CATALOGRÁFICA Documento formal, autorizando reprodução desta dissertação de mestrado para empréstimo ou comercialização, exclusivamente para fins acadêmicos, foi passado pelo autor à Universidade de Brasília e acha-se arquivado na Secretaria do Programa. O autor reserva para si os outros direitos autorais, de publicação. Nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor. Citações são estimuladas, desde que citada a fonte. Vasconcelos, Marta Freitas Estudo da infecção por Babesia spp. em cães da área periurbana de Brasília, Distrito Federal / Marta Freitas Vasconcelos orientação de Giane Regina Paludo– Brasília, 2010. 85p.: il. Dissertação de Mestrado (M) – Universidade de Brasília/Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2010. 1. Babesia spp. 2. Cães. 3. Hematologia. 4. Bioquímica 5. PCR. 6. Sub-espécies I. Vasconcelos, M.F. II. Estudo da infecção por Babesia sp. em cães da área periurbana de Brasília, Distrito Federal. CDD ou CDU Agris / FAO AGRADECIMENTOS Inicio meus agradecimentos àquele que eu nuca vi, mas conheço bastante. Com ele, compartilhei meus momentos de solidão e tristeza, mas também, os de alegria e felicidade. Com ele, e muitas vezes só com ele, participei todos os piores e os melhores momentos da minha vida; e por isso eu te agradeço meu Deus. Aos meus pais, pelo apoio e confiança na minha capacidade, por estarem ao meu lado mesmo nos momentos mais difíceis. Às minhas irmãs, estrelas da minha vida! Pelos exemplos de vida e conquistas, por estarem ao meu lado incondicionalmente. À minha orientadora, Professora Dra. Giane Regina Paludo, por ser mãe e orientadora, pelo apoio, pela amizade e por estar do meu lado em todos os momentos durante esta caminhada. Ao meu noivo, Rodrigo Bittencourt, pela sua importância imensurável, pela paciência, compreensão; por estar ao meu lado compartilhando todos os momentos, pela amizade sincera, o olhar mais verdadeiro e o amor incondicional. À Aurelina, Francisco e Carmem por serem “anjos” da minha vida. Às meninas dos laboratórios e do Hvetinho, pelo apoio, amizade, lanches e almoços, idas à Fercal, por todos os momento vividos ao longo destes anos. Às minhas amigas – Tati, Fê, Anahí, Mirna, Vanessa, Cris e Karla - que sempre estiveram ao meu lado, pelas risadas, conselhos, amizade, por todos os momentos que passamos juntas. Aos meus cunhados, especialmente Henrique e Leonardo, por todo carinho, apoio e confiança depositada. À Salvina e seu Aurino, pelas comidinhas gostosas que preparam ao longos desses anos, pelo amor e atenção oferecida. Ao laboratório de Biologia Molecular da Pós-Graduação da Universidade Católica de Brasília pelos resultados de seqüenciamentos. Aos agentes comunitários e toda a população da Fercal e a Lívia, proprietária do abrigo de cães do Lago Oeste, que colaboraram com o estudo nos abrindo a porta sempre com boa vontade. Este trabalho não teria sido realizado sem vocês. Às minhas amigas e amigos, orientadas de PIBIC e estagiários: Fabíola, Fernanda, Maiana, Maia, Andréa, Ana Paula e Rodrigo pela amizade, ajuda incansável, conversas e risadas ao longo deste trabalho. Aos professores Dr. Márcio Botelho de Castro, Dra. Arlete Dell’Porto e Dra. Ângela Patrícia pelo carinho dispensado durante esses anos. À Professora Dra. Nádia R.P. Almosny pelo apoio e presença em minha avaliação. À Universidade de Brasília e Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária e todos os professores e funcionários que fizeram parte da minha vida ao longo desses anos. À Capes e FINATEC pelo apoio financeiro, sem o qual este trabalho não seria realizado. A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para este trabalho, os meus sinceros agradecimentos. “Os meus sonhos nada mais são do que objetivos a serem alcançados. Alguns estão a um passo, outros, mais distantes, além do horizonte. Distância pela qual minhas pernas fortes me guiarão, com paciência e clareza. E se no caminho houver algo, que o tempo me obste atingir não tem problema. Meus sonhos são tão belos, que do meu ofego, farei descanso, e do meu suor, farei vitória.” (Autor desconhecido) SUMÁRIO Página LISTA DE TABELAS ix LISTA DE FIGURAS xi LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES xiii PREFÁCIO xiv RESUMO xv ABSTRACT xvi CAPÍTULO I Introdução 1 Referencial Teórico 2 Objetivos 11 Referências 12 CAPÍTULO II Título do Artigo 19 Introdução 19 Material e Métodos 20 Resultados 29 Discussão 48 Conclusões 55 Referências 56 CAPÍTULO III Considerações Finais 62 ANEXOS 64 LISTA DE TABELAS Página TABELA 1 Sequências de oligonucleotídeos utilizados para PCR 23 TABELA 2 Resultados esperados dos tamanhos dos fragmentos de DNA (pb) na PCR e restrição enzimática utilizando as enzimas TaqI e HinfI para cada espécie de Babesia 25 TABELA 3 Porcentagem de animais positivos e negativos na PCR (oligonucleotídeo 455-479-F e 793-772-R) por local estudado 30 TABELA 4 Número total e porcentagem de animais positivos para Babesia spp no esfregaço sanguíneo e na PCR na região da Fercal e no abrigo do Lago Oeste 31 TABELA 5 Co-infecções dos animais positivos para Babesia spp 31 TABELA 6 Análise estatística dos hemogramas completos e das bioquímicas séricas dos animais positivos e negativos da Fercal e lago Oeste 37 TABELA 7 Valores médios e desvio padrão dos parâmetroshematológicos e bioquímico sérico nos cães positivos e negativos para a infecção por Babesia spp. do abrigo do Lago Oeste 38 TABELA 8 Valores médios e desvio padrão dos parâmetros hematológicos e bioquímico sérico apresentados pelos animais positivos e negativos para a infecção por Babesia spp. da Fercal 39 TABELA 9 Valores médios e desvio padrão dos parâmetros do hemograma completo e da bioquímica sérica apresentados por todos os animais positivos e negativos para a infecção por Babesia sp. das duas localidades 40 TABELA 10 Valores médios e desvio padrão dos parâmetros do hemograma completo e da bioquímica sérica apresentados pelos animais positivos somente para Babesia sp. sem co-infecções (G1), animais positivos para Babesia sp. com co-infecções (G2) e dos animais negativos para Babesia sp. (G3) do abrigo do Lago Oeste 41 TABELA 11 Valores médios e desvio padrão dos parâmetros hematológicos e bioquímico sérico apresentados pelos animais positivos somente para Babesia sp. sem co-infecções (G1), animais positivos para Babeisa sp. com co-infecções (G2) e dos animais negativos para Babesia sp. (G3) da Fercal 42 TABELA 12 Valores médios e desvio padrão dos parâmetros hematológicos e bioquímico sérico apresentados pelos animais positivos somente para Babesia sp. sem co-infecções (G1), animais positivos para Babesia sp. com co-infecções (G2) e dos animais negativos para Babesia sp. (G3) nas duas localidades 43 TABELA 13 Freqüência das alterações hematológicas e bioquímicas dos animais infectados somente com Babesia spp. sem co-infecção com Hepatozoon, Ehrlichia e Leishmania (G1) 44 TABELA 14 Número total e porcentagem de animais positivos para Babesia canis vogeli e Babesia canis rossi 45 TABELA 15 Número total e porcentagem de animais positivos Babesia canis vogeli e Babesia canis rossi na região da Fercal e no abrigo do Lago Oeste 45 TABELA 16 Valores médios e desvio padrão dos parâmetros do hemograma completo e da bioquímica sérica apresentados nos animais infectados com Babesia canis vogeli e Babesia canis rossi 46 TABELA 17 Frequência das alterações hematológicas e bioquímicas dos animais infectados Babesia canis vogeli e Babesia canis 47 LISTA DE FIGURAS Página FIGURA 1 Babesia spp. em eritrócito de cão (aumento de 100X-coloração panótico) 29 FIGURA 2 Resultado da PCR para o gênero Babesia sp., utlizando os oligonucleotídeos 455-479-F e 793-772-R. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb ,Invitrogen ®); 2: controle negativo (água); 3 a 7: animais positivos e 8: animal negativo. Gel de agarose a 1,5% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) 30 FIGURA 3 Gel resultante da eletroforese da PCR para o gênero Hepatozoon sp. utilizando os oligonucleotídeos Hep-F e Hep-R. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle positivo; 3: controle negativo (água); 4: animal positivo e 5: animal negativo. Gel de agarose a 1% corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) 32 FIGURA 4 Resultado da PCR para o gênero Ehrlichia sp. utlizando os oligonucleotídeos DSB 330 e DSB 728 em amostras de sangue total. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100 pb, Invitrogen ®); 2: controle negativo(água); 3 e 4: animais negativos; 5, 6: animais positivos; 7: controle positivo. Gel de agarose a 1,5% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) 32 FIGURA 5 Resultado da PCR para o gênero Leishmania sp. utilizando-se os oligonucleotídeos LFW e LBW1 e 2. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle negativo (água) 3: controle positivo; 4 e 5: animais positivos. Gel de agarose 2% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0.01% (p/v) 33 FIGURA 6 Resultado da PCR para o gênero Babesia sp. utlizando-se os oligonucleotídeos PIRO A e PIRO B. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle positivo; 3,4,5,6,7: animais positivos; 8: controle negativo (água). Gel de agarose a 1% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) 34 FIGURA 7 Resultado da digestão enzimática com as enzimas Taq I e Hinf I, dos produtos da PCR (oligonucleotídeos 445-479-F e 793-772-R). Legenda: Superior: Digestão enzimática com a enzima Taq I, 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle positivo para Babesia canis vogeli 3,4,5,6 e 7: animais positivos para digestão enzimática. Inferior: Digestão enzimática negativa para a enzima Hinf I, 1A: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2A: controle positivo; 3A,4A,5A,6A e 7A: animais positivos para Babesia canis vogeli. Gel de agarose a 2% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) 34 FIGURA 8 Resultado da digestão enzimática com as enzimas Taq I e Hinf I, dos 35 produtos da PCR (oligonucleotídeos 445-479-F e 793-772-R). Legenda: Á esquerda, digestão enzimática negativa para enzima Taq I, 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2,3,e 4: amostras negativas para enzima Taq I. À direita, digestão enzimática positiva com a enzima Hinf I, 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2,3 e 4: amostras positivas para a enzima Hinf I, compatível com o diagnóstico de Babesia cani rossi. Gel de agarose a 2% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) FIGURA 9 Resultado da PCR para o gênero Babesia spp., B. canis vogeli e B. canis rossi utlizando-se os oligonucleotídeos 445-479-F e 793-772-R, BCV-F e 793-772-R, BCR-F e793-772-R, respectivamente. Legenda: 1: controle negativo (água); 2: Amostra positiva para Babesia spp.; 3: amostra positiva para B. canis vogeli; 4: amostra positiva para B. canis rossi; 5: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); Gel de agarose a 2% (p/v) com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) 36 FIGURA 10 Resultado da PCR para o gene da enzima GAPDH, utilizando os primers GAPDH-F e GAPDH-R. Legenda: 1: controle positivo; 2: controle negativo (água); 3 a 7: animais positivos; 8:Ladder 100pb (Invitrogen ®). Gel de agarose a 1,5%(p/v) com brometo de etídeo a 0,01% (p/v) 36 LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES A/G Albumina/Globulina ALT Alanino aminotransferase AST Aspartato aminotransferase ºC Graus Celcius CHCM Concentração de hemoglobina corpusculas média DNA Ácido desoxirrinonucléico dNTP Trifosfatos de desoxirribonucleosídeos Dr. Doutor Dra. Doutora EDTA Ácido etileno diamino tetracético FA Fosfatase Alcalina GAPDH Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase g/dL Gramas por decilitro HCL Ácido Clorídrico HCM Hemglobina corpuscular média M Molar µL Microlitros PPT Proteína plasmática total PT Proteína sérica rRNA Ácido ribonucléico ribossômico VCM Volume corpuscular médio VG Volume globular PREFÁCIO O trabalho foi realizado com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre a ocorrência da infecção por Babesia spp. e suas alterações laboratoriais em cães da região periurbana de Brasília (Fercal e Lago Oeste). Essa doença é transmitida pela picada do carrapato e acomete cães de todo o mundo ocasionando principalmente febre, anorexia e icterícia. O capítulo I mostra uma breve revisão do conhecimento atual sobre a doença e seus principais agentes. Procura explorar a descoberta de novas espécies envolvidas na afecção, com importante ênfase no diagnóstico. O capítulo II tem por objetivo relatar o experimento realizado, os resultados encontrados, bem como a relevância do estudo para o conhecimento da doença, dos diferentes agentes e das técnicas diagnósticas atuais. O capítulo III levanta a relevância do presente trabalho e perspectivas futuras. RESUMO A babesiose canina é uma doença endêmica no Brasil, transmitida pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus. O presente trabalho teve por objetivos determinar a ocorrência da infecção por Babesia spp., identificaras sub-espécies infectantes, caracterizar as principais alterações hematológicas e bioquímicas, assim como verificar a freqüência de co-infecções com outros hemoparasitas em cães da região periurbana de Brasília (Fercal e Lago Oeste), Distrito Federal. Foram utilizadas 187 amostras sanguíneas de cães sendo 124 pertencentes a região da Fercal e 63 de um abrigo de cães no Lago Oeste. Os animais foram divididos em três grupos: G1 (cães infectados apenas por Babesia spp.), G2 (cães infectados por Babesia spp. e com co-infecções por Hepatozoon sp., Ehrlichia sp. e Leishmania sp.) e G3 (cães negativos para Babesia spp.). A ocorrência observada de infecção por Babesia spp. foi 22,99%. Foram identificadas B. canis vogeli e B. canis Rossi como as duas sub-espécies que acometem cães desta região, sendo que esta última, até o presente momento não haviam relatos no Brasil. As principais alterações hematológicas e bioquímicas nos cães infectados foram: anemia (65,78%), monocitose (89,47%), trombocitopenia (60,52%), hiperproteinemia (68,42%), hipoalbuminemia (60,52%) e diminuição da relação albumina/globulina. O presente estudo permitiu concluir que a babesiose canina é endêmica nas regiões periurbanas de Brasília, duas sub-espécies (B. canis vogeli e B. canis rossi) infectam os cães desta região e a infecção por B. canis rossi está presente na região de Brasília. 1. Babesia spp. 2. Cães. 3. Hematologia 4. Bioquímica 5.PCR. 6.Sub-espécies. ABSTRACT Canine babesiosis is endemic in Brazil, and transmitted by the tick Rhipicephalus sanguineus. This study aims to determine the occurrence of infection by Babesia spp., identify the infective sub-species, characterize the main hematological and biochemical changes, and determine the frequency of co-infections with other hemoparasites in the peri-urban region of Brasília ( Fercal and Lago Oeste), Distrito Federal. We used 187 blood samples from dogs, being 124 from Fercal and 63 from a rescue shelter in Lago Oeste. The animals were divided into three groups: G1 (dogs only infected by Babesia spp.), G2 (dogs infected with Babesia spp. and co-infections with Hepatozoon sp., Ehrlichia sp. and Leishmania sp.) and G3 (dogs negatives for Babesia spp.). The occurrence of Babesia spp. infection was found 22.99%. B. canis vogeli and B. canis rossi were identified as the causative agents of babesiosis in this regions, the latter until now had not been reported in Brazil. We observed the following hematological and biochemical changes in infected dogs anemia (65.78%), monocytosis (89.47%), thrombocytopenia (60.52%), hyperprotein (68.42%), hypoalbumin (60.52%) and decreased albumin / globulin. This study concluded that canine babesiosis is endemic in peri-urban areas of Brasilia, two sub-species (B. canis vogeli e B. canis rossi) infect dogs in this region, and infection with B. canis rossi is present in the region of Brasilia. 1. Babesia spp. 2. Dogs. 3. Hematology. 4. Biochemistry 5. PCR. 6. Sub-species CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Protozoários do gênero Babesia são parasitos intraeritrocitários transmitidos por carrapatos e que infectam vários hospedeiros vertebrados, podendo causar doença severa em animais domésticos, silvestres e no homem (Ristic, 1988). A babesiose canina é endêmica no Brasil, causada pela Babesia canis e Babesia gibsoni, ambas transmitidas principalmente pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus (Dantas-Torres e Figueredo, 2006). Casos de babesiose canina têm sido reportados em vários estados do Brasil, ocasionando diversos sinais clínicos como desidratação, febre, apatia, anorexia, esplenomegalia, linfadenomegalia e icterícia (Furlanello et al., 2005). Historicamente, a infecção por Babesia vem sendo identificada por meio da microscopia óptica que possibilita a visualização do piroplasma no interior do eritrócito no esfregaço sanguíneo (Boozer e Macintire, 2003). A distinção entre as duas espécies de Babesia, nos cães, era baseada na especificidade do hospedeiro e na morfologia das formas intraeritrocitárias, já que apresentam uma considerável diferença de tamanho. Dessa forma, grandes Babesias (4-5µm) eram consideradas como Babesia canis e pequenas Babesias (1-2,5µm), como Babesia gibsoni. Esse critério de caracterização era fundamentado na hipótese que nenhuma outra espécie de Babesia infectava os cães (Hauschild et al., 1995; Cacciò et al., 2002). Nos últimos anos, com o advento da biologia molecular, foi questionada a caracterização dos isolados de Babesia canis oriundos de diferentes regiões geográficas. O diagnóstico molecular da Babesia spp. tem demonstrado que a especificidade de piroplasmídeos pelos hospedeiros é menor do que se supunha anteriormente e somente o uso de técnicas sensíveis de diagnóstico poderiam caracterizar com precisão as espécies (Jefferies et al., 2003). Diante do exposto, o estudo da infecção por Babesia em cães de áreas periurbanas de Brasília se faz necessário para verificarmos a freqüência e importância da infecção nesses animais e assegurar se realmente existe apenas uma única espécie de Babesia parasitando os cães, já que a diferenciação específica de Babesia não tem apenas interesse acadêmico, mas também, em relação a sintomatologia, prognóstico, tratamento e vacinação. REFERENCIAL TEÓRICO Taxonomia A babesiose canina é uma doença causada pelo protozoário intraeritrocitário Babesia sp., classificado no Filo Apicomplexa, Classe Sporozoasida, Subclasse Coccidiasina, Ordem Piroplasmorida, Família Babesiidae e Gênero Babesia (O´Dwyer & Massard, 2002; Vial & Gorenflot, 2006). O Filo Apicomplexa, caracteriza-se pela presença de um complexo apical e citoesqueleto único e distinto de outros eucariotas (Gordon e Sibley, 2005). Desde a primeira descrição em 1910, todos os cães infectados por pequenas Babesias eram considerados como infectados por Babesia gibsoni. Zahler et al. (2000), descreveram uma pequena Babesia isolada em cães na Alemanha que são genotipicamente distintas da B. gibsoni isolada nos cães da Califórnia,este parasita foi relatado como a Babesia microti. Atualmente são reconhecidas três sub-espécies de Babesia canis: Babesia canis canis, transmitida por Dermacentor reticulatus; Babesia canis vogeli, transmitida pelo Rhipicephalus sanguineus e Babesia canis rossi (Carret et al., 1999). Novas espécies de Babesia estão sendo isoladas de hospedeiros vertebrados. Entre as Babesias recentemente descobertas estão incluídas: B. venatorum sp., Babesia sp. EU1, Babesia sp. MO-1 e B. china BQ1, consideradas zoonoses (Guan et al., 2002; Liu et al., 2007). Além dessas espécies, muitas outras já foram descritas há muito tempo, mas informações biológicas, nomenclaturas, identificação dos vetores e dados moleculares ainda são escassos (Uilenberg, 2006). Etiologia Tradicionalmente, a identificação das espécies tem sido baseada na especificidade do hospedeiro e morfologia do piroplasma intraeritrocítico. Baseado nisto, piroplasmas caninos têm sido organizados como duas espécies distintas: as grandes Babesias (4-5µm) – Babesia canis e as pequenas Babesias (1-2,5µm) – Babesia gibsoni (Hauschild et al., 1995). A Babesia canis e Babesia gibsoni são consideradas as duas espécies que causam a babesiose canina, doença hemolítica de relevâcia na clínica de cães (Lobetti, 1998). A Babesia canis é uma grande Babesia, cujas formas piriformes variam de 2,61 a 5,22 µm de comprimento. Além das formas piriformes, predominam parasitos redondos, ovais, alongados ou amebóides. Hemácias podem ser parasitadas com quatro, oito ou mais trofozoítos. Também é freqüente o encontro de formas livres no plasma, bem como hemácias fagocitadas no interior de monócitos (O´Dwyer et al., 1997). Análises moleculares têm demonstrado três sub-espécies distintas de Babesia canis: B.canis rossi, B. canis canis e B. canis vogeli. As três sub-espécies são morfologicamente indistintas e demonstram enorme variação nos sinais clínicos, distribuição geográfica e especificidade do vetor (Cacciò et al., 2002). Por outro lado, a Babesia gibsoni é um pequeno hemoprotozoário que causa anemia hemolítica em cães. Os parasitas são pleomórficos, possuem 1 a 2,5µm de diâmetro e comumente aparecem como uma forma simples nas hemácias (Macintire et al., 2002). Distribuição geográfica A babesiose foi descrita pela primeira vez em 1888, na Romênia, quando Victor Babés observou um parasita em hemácias de sangue bovino (Barreira et al., 2005). Mas a primeira observação da babesiose canina causada por B. canis deve-se, em 1895, a Piana e Galli-Valerio, na Itália (O´Dwyer et al., 1997). Babesia gibsoni foi descrita pela primeira vez na Índia, por Patton (1910), parasitando cães (Zahler et al., 2000). A B. gibsoni tem sido encontrada na Ásia, América do Norte, norte e leste da África (Kjemtrup et al., 2006), Europa (Casapulla et al., 1998) e, recentemente, no Brasil (Trapp et al., 2006). A B. canis está distribuída mundialmente, sendo descrita na África, Américas, Ásia e Europa (Abdullahi et al., 1990). As sub-espécies de B. canis ocorrem em diferentes regiões: B. canis. rossi é encontrada no sul da África (Uilenberg et al., 1989) e no Sudão (Oyamada et al., 2005); B. canis. canis é encontrada na Europa (Uilenberg et al., 1989; Cacciò et al., 2002; Criado-Fornelio et al., 2003; Foldvari et al., 2005) e B. canis vogeli, no norte e sul da África (Matjila et al., 2004), na América do Norte (Uilenberg et al., 1989), na Europa (Cacciò et al., 2002; Criado-Fornelio et al., 2003), na Austrália (Jefferies et al., 2003), no Sudão (Oyamada et al., 2005), na Turquia (Gülanber et al., 2006) e no Brasil (Passos et al., 2005, Duarte et al., 2008). A babesiose canina tem sido descrita no Brasil desde o início do século XX (Regendanz e Muniz, 1936). Casos de babesiose canina tem sido reportadas em muitos estados do Brasil, como o Rio Grande do Sul (Braccini et al., 1992), São Paulo (Dell´Porto et al., 1993), Pernambuco (Dantas-Torres et al., 2006), Rio de Janeiro (Guimarães et al., 2004), Minas Gerais (Bastos et al., 2004), Paraná (Trapp et al., 2006), Bahia (Ungar de Sá et. al., 2007), Goiás (Duarte et al., 2008) e Distrito Federal (Vasconcelos et al., 2008). A incidência da doença parece ser maior entre os cães adultos, embora cães jovens com histórico recente de visitas a praia e primeira exposição aos carrapatos também são altamente suscetíveis à infecção (Guimarães et al., 2004; Trapp et al., 2006). De acordo com os casos descritos, aparentemente não há predileções quanto a raça e sexo (Bastos et al., 2004). Transmissão No Brasil, o agente etiológico da babesiose canina é a B. canis, transmitida pela picada do Riphicephalus sanguineus, também conhecido como carrapato marrom do cão (Labruna e Pereira, 2001). O Riphicephalus sanguineus é a principal espécie envolvida na transmissão da B. canis vogeli para o cão; enquanto que a Babesia canis canis tem como vetor o carrapato Dermacentor reticulatus e B. canis rossi é transmitida pelo carrapato Haemophysalis leach (Uilenberg et al., 1989). A transmissão pode ocorrer de duas formas: transmissão transestadial ou horizontal e a transmissão transovariana ou vertical. Na transmissão transestadial ou horizontal os carrapatos adquirem Babesia como larva ou ninfa e a transmitem no estágio seguinte. A transmissão transovariana ocorre quando a fêmea infectada transmite o parasito para seus descendentes, com as larvas já eclodindo infectadas. Todos os estágios podem transmitir B. canis, sendo as ninfas e os adultos mais eficientes na transmissão (O´Dwyer & Massard, 2002; Trapp et al., 2006). Uma característica comum de transmissão dos parasitas apicomplexas é a existência de estágios específicos envolvidos na sua transmissão entre hospedeiros vertebrados e vetores. Estes estágios de transmissão são pouco conhecidos (Chauvin et al., 2009). Ciclo Biológico Os hospedeiros vertebrados são infectados por meio da picada do carrapato que introduz a saliva contendo esporozoítos. Os esporozoítos penetram diretamente as células vermelhas do sangue onde desenvolvem as fases parasitárias. No interior do eritrócito, o parasita produz dois merozoítos por fissão binária e após a lise deste, cada merozoíto infecta outro eritrócito, ocorrendo numerosas divisões e novas infecções. A multiplicação ocorre de forma assíncrona e vários estágios divisionários do parasita podem ser visualizados na corrente sanguínea ao mesmo tempo. O tamanho e a localização dos merozoítos dependem tanto da Babesia quanto da espécie hospedeira (Adachi et al., 1993; Chauvin et al., 2009). Os carrapatos se contaminam por ingestão do sangue infectado do hospedeiro vertebrado. Nas células intestinais do carrapato, ocorre a reprodução assexuada, denominada esporogonia, que origina os esporocinetos. Estes invadem a hemolinfa do artrópode e migram para outros órgãos do carrapato, incluindo glândula salivar e ovários, infectando-os. Na glândula salivar, os esporocinetos originam os esporozoítas infectantes. Os esporocinetos, presentes nos ovários da fêmea, atingirão os ovos, infectando as larvas que nascem contaminadas (Ewing, 1965; O´Dwyer et al., 1997; O´Dwyer e Massard, 2002; Vidotto & Trapp, 2004). É importante salientar que, quando os eritrócitos infectados por Babesia são ingeridos pelos carrapatos, a maioria dos parasitas são destruídos. No entanto, algumas fases específicas do parasita sobrevivem e originam gametócitos. Poucas horas depois da ingestão os organismos começam a ser visualizados na corrente sanguínea pela microscopia (Mehlhorn e Schein, 1984). Patogenia A patogenia da babesiose está relacionada com a ação hemolítica intra e extravascular, podendo variar de acordo com a espécie ou sub-espécie envolvida na infecção, imunidade e idade do hospedeiro (O´Dwyer & Massard, 2002; Boozer & Macintire, 2003). A resposta imunológica desempenha o papel mais importante da patogenia da babesiose canina. A Babesia inicia um mecanismo de destruição citotóxica de eritrócitos circulantes mediada por anticorpos (Pedersen, 1999; Irwin, 2005). Isso faz com que ocorra a hemólise intravascular e extravascular que leva a anemia e hemoglobinemia. Eritrócitos com anticorpos são destruídos pelos macrófagos do baço e do fígado (hemólise extravascular). A hemólise intravascular é resultado da reação do complemento antígeno-anticorpo de superfície (Day, 1999). Sinais clínicos Os sinais clínicos da babesiose canina podem variar de acordo com a espécie de Babesia envolvida, a imunidade do hospedeiro, idade, doenças concomitantes e localização geográfica (refletindo a distribuição de diferentes espécies de Babesia e/ou sorotipos). A babesiose canina pode ser classificada clinicamente como leve ou severa, ou pode ser classificada como hiperaguda, aguda, crônica ou subclínica. Na babesiose leve, os sinais clínicos são anemia hemolítica, febre, taquipnéia, taquicardia, esplenomegalia, icterícia e depressão. A babesiose severa é caracterizada por insuficiência renal, hepatopatia, desconforto respiratório, lesões no miocárdio e sistema nervoso central (que podem estar relacionados com a babesiose cerebral e sinais neurológicos derivados da hipoglicemia) (Lobetti et al., 2002). A identificação das espécies e sub-espécies de Babesia é importante para determinar a virulência, prognóstico e resposta a drogas anti-babesia, pois cada organismo responde de forma diferente de acordo com a sub-espécie envolvida na infecção (Kocan et al., 2001). Existe similaridade morfológica entre as sub-espécies de Babesia canis. Estudos revelaram, no entanto, uma patogenicidade maior para Babesiacanis rossi em relação a Babesia canis canis e Babesia canis vogeli, com quadros geralmente fatais (Schetters et al., 1997). Comumente há quadros de anemia hemolítica, febre e letargia, anorexia, hematúria e esplenomegalia, sendo a patogenia relacionada principalmente à multiplicação destes parasitos nas hemácias dos hospedeiros (Murase et al., 1993). A infecção por Babesia canis rossi é descrita como a mais virulenta das sub- espécies causando anemia hemolítica ou até uma resposta inflamatória aguda (Reyers et al., 1998). Por outro lado, a infecção por Babesia canis canis é capaz de causar uma gama de sinais clínicos como letargia, anorexia, febre, icterícia, anemia e trombocitopenia (Boozer & Macintire, 2003). A Babesia canis vogeli ocasiona uma doença relativamente suave, muitas vezes sem evidência de sinais clínicos (Cacciò et al., 2002). Desta maneira, apenas as técnicas de biologia molecular podem distinguir estas sub-espécies morfologicamente similares (Bourdoiseau, 2006). Patologia Clínica Alterações hematológicas Estudos realizados em diferentes regiões do Brasil tem demonstrado grande diversidade de alterações hematológicas decorrentes da babesiose canina. Dentre as alterações, podem-se verificar com maior freqüência anemia normocítica normocrômica, policromasia, anisocitose, leucocitose por neutrofilia, monocitose, linfopenia e trombocitopenia (Schetters et al., 1997; Guimarães et al., 2004; Furlanello et al.,2005). A anemia inicialmente é leve, normocítica normocrômica e pode ser observada na fase aguda da doença, quando os piroplasmas são mais facilmente visualizados no esfregaço sanguíneo ou na borda de orelha, porém ainda sem tempo de resposta medular levando a característica arregenerativa e momentânea da anemia (Vasconcelos et al., 2008) e com a progressão da doença, torna-se então macrocítica hipocrômica e regenerativa (Furlanello et al., 2005). Estas variações podem ser decorrentes do estágio da doença, da espécie e sub-espécie de Babesia que acomete cada animal (Thrall et. al., 2007; Zygner et al., 2007). Alterações leucocitárias são observadas de formas variadas, mas incluem leucopenia, leucocitose, neutrofilia ou neutropenia, linfocitose e eosinofilia (Vercammen et al., 1997). Estudos realizados por Zygner et al. (2007) indicam que há o aumento do número de bastonetes, comumente observado em infecções agudas e pode ser causado por doença imunomediada. Ainda foi relatado aumento do número total de monócitos por Guimarães et al. (2004). Em estudo recente foi verificado que a trombocitopenia moderada e severa é comum na babesiose canina independente da sub-espécie envolvida (Lobetti et al., 2002). A trombocitopenia tem sido atribuída mais comumente à ocorrência de coagulação intravascular disseminada (CID) que pode ter como causas predisponentes hemólise, vasculite, acidose, hipóxia, dentre outros, sendo estas alterações clínicas comuns na babesiose (Campos et.al., 2002). Alterações bioquímicas As alterações bioquímicas causadas pela infecção por B. canis estão relacionadas à gravidade da doença e ao grau de hipóxia. Achados comuns são aumento da atividade sérica da aspartato amino-transferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT), hiperbilirrubinemia, hipoalbuminemia, anormalidades eletrolíticas e distúrbios ácido-base (hipocalcemia, hipercloremia e acidose metabólica) (Pagès et al., 1990; Bourdeau e Guelfi, 1995; Vercammen et al., 1997; Lobetti, 2000). Babesia canis causa doença caracterizada em sua forma aguda por anemia hemolítica regenerativa, febre e hemoglobinúria, havendo, na forma severa da enfermidade, queda nos níveis séricos de proteínas e albumina (Furlanello et al. 2005). Há relatos de aumento dos níveis séricos de uréia, creatinina, elevação da atividade de AST (Scally et al. 2006), aumento da atividade de ALT e FA, hipergamaglobulinemia moderada. Contudo, na forma branda da doença os valores séricos são encontrados dentro da normalidade (Irizarry- Rovira et al. 2001). Diagnóstico Apesar dos estudos realizados, pouco se sabe sobre a epidemiologia da doença em cães residentes no país. Além disso, à alta morbidade, causada pela babesiose, vem trazendo grande preocupação aos criadores de cães, tanto pelo aspecto afetivo, quanto pelo impacto negativo na comercialização dos animais (Ungar de Sá et al., 2007). As formas de diagnóstico da babesiose canina incluem os achados clínicos, diagnóstico parasitológico, testes sorológicos e moleculares (O´Dwyer & Massard, 2002). O diagnóstico definitivo da babesiose canina, bem como a diferenciação das espécies de piroplasmas pode ser difícil para os clínicos. Historicamente, o exame microscópico em esfregaço sanguíneo e a sorologia tornaram-se o principal meio de diagnóstico da babesiose em cães. O exame microscópico direto do esfregaço sanguíneo é o método convencionalmente empregado para o diagnóstico diferencial entre B. canis e B. gibsoni, tendo como base as características morfométricas de referência para cada espécie (Kjemtrup et al., 2006). Usualmente, o diagnóstico é feito de acordo com a aparência morfológica e o tamanho das formas intra eritrocitárias no esfregaço de sangue periférico. Entretanto, as parasitemias são normalmente muito baixas ou os parasitas não são detectados nos esfregaços sanguíneos, então o sorodiagnóstico é uma opção muito boa para estudos epidemiológicos. Contudo, há relatos de cães infectados por Babesia sp. em que os piroplasmas não foram visualizados ao exame microscópico e/ou em que a sorologia obteve resultado falso-negativo (Birkenheuer et al., 1999; Macintire et al., 2002). A sorologia e o exame microscópico em esfregaço sanguíneo além de resultarem muitas vezes em diagnósticos falso-negativos, não permitem a diferenciação entre sub- espécies, para isso tem sido aplicada a metodologia com base em biologia molecular (Carret et al., 1999; Duarte et al., 2008). Métodos moleculares como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), apresenta maior sensibilidade e especificidade que a pesquisa em esfregaço sanguíneo para detectar a infecção por Babesia sp. no sangue periférico e pode diferenciar espécies morfologicamente que não são diferenciadas pelo método do esfregaço sanguíneo (Criado-Fornelio et al., 2003). A combinação da análise da sequência gênica à PCR pode aumentar as informações sobre sub-espécies, apresentando uma vantagem em estudos epidemiológicos com métodos moleculares (Inokuma et al., 2004). Tratamento O tratamento tem sido feito principalmente com derivados de diamidinas e imidocarb. Cães de áreas onde ocorrem a Babesia canis ou que viajam para áreas endêmicas podem ser tratados profilaticamente com imidocarb e doxiciclina (Urquhart et al, 1998). O imidocarb, por sua vez, é uma carbanilida, cuja ação baseia-se na alteração morfológica e funcional do núcleo e do citoplasma do parasito. Seu emprego no tratamento desta enfermidade é recomendado por alguns autores e desaconselhado por outros. Quando utilizado por longos períodos, os resíduos metabólicos deste fármaco são depositados no fígado e rim (Andrade & Santarém, 2002). O prognóstico é bom, porém muitos animais tratados permanecem como portadores da doença, podendo dessa forma ocorrer recidivas (Jones et al., 2000). O modo principal de prevenção é o controle do carrapato vetor, visto haver necessidade de pelo menos 3 dias para que ocorra a transmissão do parasita (Ettinger & Feldman, 1995). OBJETIVOS O presente trabalho teve por objetivos: Verificar a ocorrência da infecção por Babesia sp. na região periurbana de Brasília (Fercal e Lago Oeste), Distrito Federal. Identificar as sub-espécies de Babesia sp. que acometem os cães em região periurbana de Brasília. Caracterizar as principais alterações hematológicas e bioquímicas dainfecção por Babesia sp. Verificar a ocorrência de co-infecção de Babesia sp., com outros hemoparasitas como: Hepatozoon sp., Ehrlichia sp. e Leishmania sp.. REFERÊNCIAS ABDULLAHI, S.U.; MOHAMMED, A.A.; TRIMNELL, A.S.; ALAFIATAYO, R. Clinical and haematological findings in 70 naturally occurring cases of canine babesiosis. Journal of Small Animal Practice. v.31, p.145-147, 1990. ADACHI, K.; UENO, C.; MAKIMURA, S. Immunosuppression in dogs naturally infected with Babesia gibsoni. J. Vet. Med. Sci. v.55, p.503–505, 1993. ANDRADE, S.F; SANTARÉM, V.A. Endoparasiticidas e ectoparasiticidas. In: ANDRADE, S.F. 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O sucesso da evolução deste parasita é atestado pelo grande número de espécies descritas (mais de 100 espécies, com algumas que ainda não foram descobertas e/ou descritas) (Hunfeld et al., 2008). O agente da doença é um protozoário da ordem Piroplasmidae, gênero Babesia e no cão são conhecidas duas espécies Babesia canis e Babesia gibsoni (Farwell et al., 1982; Ristic, 1988). O diagnóstico da babesiose canina é usualmente baseado na presença de sinais clínicos tais como: apatia, febre, anorexia, perda de peso, palidez das mucosas; e histórico do paciente. A infecção por Babesia sp. é confirmada pela visualização do piroplasma no esfregaço sanguíneo (Dantas-Torres, 2008). O uso do diagnóstico molecular, principalmente a reação em cadeia da polimerase (PCR), aliado ao seqüenciamento genético, tem revelado grande diversidade genética dos piroplasmídeos (Criado-Fornelio et al., 2003). A PCR através da caracterização dos genes da unidade 18S do DNA, é capaz de identificar diferentes espécies e sub-espécies de Babesia spp. antes indistinguíveis, devido a similaridade morfológica dos parasitas (Birkenheuer et al., 2004; Duh et al., 2004; Matjila et al., 2004; Sá et al., 2006). Estudos moleculares realizados no Brasil apontam Babesia canis vogeli (Passos et al., 2005; Sá et al., 2006) e Babesia gibsoni (Trapp et al., 2006) como sendo as espécies envolvidas na infecção da babesiose canina. São escassos os estudos relacionados à caracterização molecular destes piroplasmídeos nas diferentes regiões do Brasil. Os objetivos deste trabalho foram: avaliar a frequência de infecção por Babesia sp., as alterações hematológicas e bioquímicas de cães naturalmente infectados da região periurbana de Brasília (Fercal e Lago Oeste); Identificar as sub-espécies de Babesia sp. que acometem os cães nesta região, assim como verificar a ocorrência de co-infecção de Babesia sp. com outros hemoparasitas como: Hepatozoon sp., Ehrlichia sp. e Leishmania sp. MATERIAL E MÉTODOS Foram colhidas 187 amostras de sangue de cães oriundos da região periurbana de Brasília (Fercal e Lago Oeste), Distrito Federal. Foram incluídos nessa amostragem cães domésticos pertencentes a um grupo de risco para infecçãopor babesiose canina, ou seja, animais de qualquer idade, raça ou sexo, apresentando ou não sintomatologia de babesiose canina, e com presença de ectoparasitas. Dos animais analisados, 124 cães eram residentes de domicílios na Fercal (Sobradinho II) e 63 cães pertenciam a um abrigo de cães, localizado no Lago Oeste. Todos os animais foram submetidos a exame físico para análise de coloração de mucosa oral, conjuntiva ocular e estado geral. Colheita de sangue e Análise Hematológica Foram colhidas amostras sanguíneas de todos os animais por punção da veia cefálica ou jugular e acondicionadas em tubos com e sem EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético), para realização do hemograma completo e testes bioquímicos para avaliar o perfil renal e hepático desses animais. Neste momento foram também preparados esfregaços sanguíneos da borda de orelha, que posteriormente foram corados com panótico rápido (Interlab®). No laboratório de Patologia Clínica do Hospital de Pequenos Animais da Universidade de Brasília (Hospital Veterinário - UnB), todas as amostras com EDTA foram processadas imediatamente para a realização de hemogramas completos. Com o auxílio de um contador semi-automático de células para uso veterinário (modelo CELM - CC550) foi determinado o número total de hemácias e leucócitos e a concentração de hemoglobina. O volume corpuscular médio (VCM), concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e hemoglobina corpuscular média (HCM) foram determinadas por cálculo padrão. O hematócrito (VG) foi determinado pela técnica do micro-hematócrito. As proteínas plasmáticas totais (PPT) foram determinadas com o auxílio do refratômetro. Foram preparados esfregaços de sangue total e capa de leucócitos corados com panótico e May Grunwald Giemsa (MGG) para a realização do diferencial leucocitário, observação morfológica das células sangüíneas e pesquisa de hemoparasitos. As plaquetas foram diluídas em solução de Brecher (oxalato de amônio a 1%) e a contagem foi realizada em câmara de Neubauer Improved®. Análise Bioquímica Para avaliação do perfil renal e hepático dos animais, foram colhidas amostras sanguíneas e acondicionadas em tubos sem anticoagulante. O soro foi obtido após a completa coagulação sanguínea, à temperatura ambiente. A seguir, as amostras foram centrifugadas a 3.000 rpm (rotações por minuto) por 10 minutos e o soro foi separado e armazenada em microtubos tipo eppendorf® . O soro foi utilizado para a determinação das concentrações séricas das proteínas totais (PT), albumina, globulinas, alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA), uréia e creatinina. Foram utilizados kits bioquímicos específicos (Labtest®), seguindo recomendações do fabricante e a leitura foi realizada em um analisador bioquímico semi-automático (Bio2000 – Bioplus). Extração do DNA Após realização do hemograma, o restante das amostras com EDTA foi congelado para posterior extração do DNA e realização da reação de polimerização em cadeia (PCR). O DNA foi extraído, no laboratório de Microbiologia Molecular e Biotecnologia (MMB), com a utilização de kits comerciais (QIAamp DNA blood mini kit - Qiagen®), seguindo-se as recomendações do fabricante. As amostras de DNA foram mantidas a -20°C até o momento da realização da PCR. PCR Todas as reações foram realizadas no Laboratório de Microbiologia Molecular e Biotecnologia (MMB) da UnB. Foi utilizada a água destilada como controle negativo para verificar se houve a contaminação de qualquer reagente, assim como o sangue de cão susceptível e não infectado, para verificar a especificidade da reação; como controle positivo foi utilizado sangue de um animal infectado com visualização do piroplasma de Babesia sp. em esfregaço sanguíneo. As sequências de oligonucleotídeos utilizados neste trabalho podem ser verificadas na Tabela1. Todas as reações foram realizadas no mesmo termociclador (Biorad®). Tabela 1. Sequências de oligonucleotídeos utilizados para PCR no referido trabalho. Primer Sequência (5´-3´) Reação utilizada 455-479 F GTCTTGTAATTGGAATGATGGTGAC Babesia spp. 793-772 R ATGCCCCCAACCGTTCCTATTA Babesia spp. BCV-F GTTCGAGTTTGCCATTCGTT B. canis vogeli BCR-F GCTTGGCGGTTTGTTGC B. canis rossi PIRO A AATACCCAATCCTGACACAGGG Babesia spp. PIRO B TTAAATACGAATGCCCCCAAC Babesia spp. GAPDH F CCTTCATTGACCTCAACTACAT Inibidores da PCR GAPDH R CCAAAGTTGTCATGGATGACC Inibidores da PCR DSB 370 F GATGATGTCTGAAGATATGAA ACA AAT Ehrlichia sp. DSB 729 R CTGCTCGTCTATTTACTTCTTAAAGT Ehrlichia sp. LFW CCTCTGGCTATAGGAAATTG Leishmania sp. LBW1 GGAGTGCTTAACGCGTTAG Leishmania sp. LBW2 CCG CCC CTATTT TAC ACC AAC CCC Leishmania sp. HEP F ATACATGAGCAAAATCTCAAC Hepatozoon sp. HEP R CTTATTATTCCATGCTGCAG Hepatozoon sp. Identificação das amostras positivas para Babesia sp. Para identificação de sequências específicas do gene 18S rRNA de Babesia sp. foram utilizados os oligonucleotídeos 455-479F e 793-772R, resultando em um produto de 340 pares de bases (pb), descritos por Birkenheuer et al. (2003). Foram adicionados os seguintes componentes a mistura da PCR: 12,5 pmoles de cada oligonucleotídeo, 1X tampão da Taq polimerase (Invitrogen®), 2 mM MgCl2 (Invitrogen®), 0,2mM de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP - Invitrogen®), 0,8 U de Taq DNA polimerase (Taq platinum - Invitrogen®) e 5 µL de DNA de cada amostra, para um volume final de 25µL. As condições de amplificação utilizadas foram: desnaturação inicial a 95°C por 5 minutos, seguidos de 50 ciclos: 95ºC por 45 segundos, 58ºC por 45 segundos e 72ºC por 45 segundos e extensão final a 72°C por 5 minutos. Produtos da PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 1,5%, corados com brometo de etídio e visualizados sob luz ultravioleta. Digestão Enzimática Das amostras positivas para Babesia sp. com os oligonucleotídeos 455-479F e 793-772R, foi realizada uma segunda PCR utilizando-se os oligonucleotídeos PIRO A e PIRO B (Carret et al., 1999). Foram adicionados os seguintes componentes à mistura da PCR: 10pmol de cada oligonucleotídeo, 1X tampão da Taq polimerase (Invitrogen®), 2,5mM de MgCl2 (Invitrogen®), 0,2mM de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP - Invitrogen®), 0,8 U de Taq DNA polimerase (Taq platinum - Invitrogen®) e 2,0µL do DNA da amostra, para um volume final de 25µL. Os ciclos de amplificação foram: desnaturação inicial a 94°C por 5 minutos, seguidos por 30 ciclos repetitivos de 94ºC por 1 minuto, 55ºC por 1 minuto e 72ºC por minuto, e uma extensão final de 72ºC por 5 minutos. Os produtos da PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 1%, corados com brometo de etídio e visualizados em luz ultravioleta revelando um produto de 400pb. Para caracterização molecular das amostras amplificadas com os oligonucleotídeos PIRO A e PIRO B, os produtos da PCR foram submetidos à digestão enzimática utilizando as enzimas Taq I e Hinf I (Solano-Gallego et al., 2008). O seguinte protocolo foi utilizado: 5 µl de produto amplificado da PCR foi utlilizado para digestão com 10U das enzimas Taq I e Hinf I, utilizando tampão apropriado de cada enzima, ajustados para um volume final de 15 µl. As misturas foram incubadas em banho Maria a 65ºC e 37°C, respectivamente, por 2 horas. Após término da incubação os produtos digeridos foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 2%, corados com brometo de etídio e visualizados em transiluminador ultravioleta. Os produtos digeridos foram analisados conforme Tabela 2. Tabela 2: Resultados esperados dos tamanhos dos fragmentos de DNA (pb) na PCR e restrição enzimática utilizando as enzimas Taq I e Hinf I para cada espécie de Babesia. Espécies de Babesia Tamanho do fragmento de DNA (pb)-PCR PCR – Restrição enzimáticaCaracterísticas da restrição enzimática Taq I (pb) Hinf I (pb) B. canis canis 408 408 408 TaqI ( - ) Hinf ( - ) B. canis vogeli 407 20 + 175 + 210 407 TaqI ( + ) Hinf ( - ) B. canis rossi 408 408 175 + 230 TaqI ( - ) Hinf ( + ) B. gibsoni 406 406 200 + 205 TaqI ( - ) Hinf ( + ) Theilleria annae 440 50 + 390 70 + 370 TaqI ( + ) Hinf ( + ) *Solano-Gallego et al., 2008. (+) ocorre clivagem, ( - ) não ocorre clivagem Identificação das sub-espécies Para identificação das amostras positivas para B. canis vogeli e B. canis rossi, foram realizadas reações de PCR utilizando-se oligonucleotídeos específicos para os gene 18S rRNA da B. canis vogeli e B. canis rossi descritos por Birkenheuer et al.,2003. Para realização da PCR foram utilizados os seguintes reagentes: 12,5 pmoles de cada oligonucleotídeo, 1X tampão da Taq polimerase (Invitrogen®), 2 mM MgCl2 (Invitrogen®), 0,2mM de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP - Invitrogen®), 0,8 U de Taq DNA polimerase (Taq platinum - Invitrogen®) e 5 µL de DNA de cada amostra, para um volume final de 25µL. As condições de amplificação utilizadas foram: desnaturação inicial a 95°C por 5 minutos, seguidos de 50 ciclos: 95ºC por 45 segundos, 58ºC por 45 segundos e 72ºC por 45 segundos e extensão final a 72°C por 5 minutos. Os produtos da PCR foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 2%, corados com brometo de etídio e visualizados sob luz ultravioleta resultando em um produto de 192pb (B. canis vogeli) e 197pb (B. canis rossi) nos animais positivos. Identificação de co-infecção dos animais positivos para Babesia spp., com Ehrlichia sp., Hepatozoon sp. e Leishmania sp. Todas as amostras positivas para Babesia spp., foram submetidas a análise através da PCR para diagnosticar possíveis co-infecções com outros hemoparasitas. Hepatozoon sp. Foram utilizados os oligonucleotídeos Hep-F e Hep-R (tabela 1), que anelam no gene 18S rRNA de Hepatozoon sp., resultando em um produto de 666 pb (Inokuma et al., 2002). Foram adicionados os seguintes componentes na mistura de PCR: 5 pmol de cada oligonucleotídeo, 1X tampão da Taq polimerase (Invitrogen®), 2,5mM de MgCl2 (Invitrogen®), 0,4mM de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP - Invitrogen®), 0,8 U de Taq DNA polimerase (Taq platinum - Invitrogen®) e 2,0µL do DNA da amostra, para um volume final de 25µL. Os ciclos de amplificação foram: desnaturação inicial a 95°C por 5 minutos, 40 ciclos repetitivos de 30 segundos em 95ºC, 30 segundos em 52ºC e 90 segundos em 72ºC, seguidos de 5 minutos de extensão final em 72ºC. Os produtos de PCR foram visualizados em gel de agarose a 1% corado com brometo de etídio, sendo fotografados em transluminador sob luz UV. Leishmania sp. Para Leishmania sp. foram utilizados 3 oligonucleotídeos (LFW e uma mistura de 1:1 de oligonucleotídeos LBW1/LBW2) que anelam na origem de replicação de ambas as fitas da molécula do minicírculo de kDNA do parasita e amplifica uma região conservada de 120 pb (Disch et al., 2003). Foram adicionados os seguintes componentes na mistura de PCR: 13pmol de cada oligonucleotídeo, 1X tampão da Taq polimerase (Invitrogen®), 3,3mM de MgCl2 (Invitrogen®), 0,4mM de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP - Invitrogen®), 1,2U de Taq DNA polimerase (Taq platinum - Invitrogen®) e 2,0µL do DNA da amostra, em um volume final de 25µL. Os ciclos de amplificação foram: desnaturação inicial a 94°C por 5 minutos, 40 ciclos de amplificação (desnaturação a 94°C por 30 segundos, anelamento a 63°C por 30 segundos, extensão a 72°C por 10 segundos) e extensão final a 72°C por 5 minutos. Produtos de PCR foram visualizados em gel de agarose a 2% corado com brometo de etídio, sendo fotografados em transluminador sob luz UV. Ehrlichia sp. Para verificar a ocorrência de co-infecção com Ehrlichia sp foram utilizados os oligonucleotídeos Dsb-330 e Dsb-728 que anelam no gene 16S rRNA e resultam em um produto de aproximadamente 400 pb (411-421pb dependendo da espécie) (Doyle et al., 2005). Foram adicionados os seguintes componentes na mistura de PCR: 10pmol de cada oligonucleotídeo, 1X tampão da Taq polimerase (Invitrogen®), 5mM de MgCl2 (Invitrogen®), 0,4mM de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP - Invitrogen®), 0,4U de Taq DNA polimerase (Taq platinum - Invitrogen®) e 5,0µL do DNA da amostra, em um volume final de 25µL. Os ciclos de amplificação foram: desnaturação inicial a 95°C por 2 minutos, 50 ciclos de amplificação (desnaturação a 95°C por 15 segundos, anelamento a 58°C por 30segundos, extensão a 72°C por 30 segundos) e extensão final a 72°C por 5 minutos. Produtos de PCR foram visualizados em gel de agarose a 1,5% corado com brometo de etídio, sendo fotografados em transluminador sob luz UV. Avaliação da qualidade do DNA das amostras utilizadas Para verificar a qualidade das amostras de DNA utilizadas foi realizado uma PCR para detectar a presença de inibidores da PCR em amostras de DNA que apresentaram resultados negativos na PCR. As amostras negativas na PCR foram submetidas a uma segunda reação, utilizando-se oligonucleotídeos específicos para o gene da enzima GAPDH (gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase) e resulta em um produto de 400pb. Foram adicionados os seguintes componentes na mistura de PCR: 10pmol de cada oligonucleotídeo, 1X de tampão da Taq polimerase (Invitrogen®), 2mM MgCl2, 0,2µl de dNTP (dATP, dCTP, dGTP, dTTP - Invitrogen®), 0,8U de Taq DNA polymerase (Taq platinum - Invitrogen®) e 2,0µl do DNA da amostra, em um volume total de 25µl. Os ciclos de amplificação foram: desnaturação inicial a 95°C por 5 minutos, 40 ciclos de amplificação (desnaturação a 94°C por 30 segundos, anelamento a 52°C por 1 minuto, extensão a 72°C por 1 minuto) e extensão final a 72°C por 5 minutos. Os produtos da PCR foram visualizados em gel de agarose a 1,5% corado com brometo de etídio, sendo fotografados em transluminador sob luz UV. Análise Estatística Para análise estatística, as amostras foram separadas primeiramente em animais positivos e negativos para a infecção por Babesia spp., de acordo com as localidades (Fercal e Lago Oeste) e em uma segunda análise estes grupos foram separados nas mesmas categorias, sem considerar a localidade (Fercal e Lago Oeste). Após a identificação das co-infecções, os animais foram divididos em três grupos: G1, grupo dos animais positivos somente para Babesia spp., sem co-infecções com Ehrlichia sp., Hepatozoon sp., e Leishmania sp.; G2, grupo dos animais positivos para Babesia spp. apresentando co-infecções, com Ehrlichia sp., Hepatozoon sp.e Leishmania sp. e G3, grupo dos animais negativos para Babesia sp. Estes grupos foram separados por localidade (Fercal e Lago Oeste) e em uma segunda análise foram agrupados seguindo as mesmas categorias anteriores, sem considerar o efeito local. As variáveis, VG, número de hemácias, VCM, CHCM, número de leucócitos, bastonetes, segmentados, linfócitos, monócitos, eosinófilos, basófilos, PPT, número de plaquetas, ALT, AST, FA, uréia, creatinina, proteína total sérica, albumina, globulina, razão A/G foram comparados, nos diferentes grupos (positivos e negativos e G1 e G2 e G3), por meio do PROC GLM, utilizando-se o teste de Duncan, com intervalo de confiança de 95%. RESULTADOS Foram utilizadas 187 amostras de sangue de cães, sem raça definida, independente do sexo e idade. Destes animais, 124 pertenciam a região da Fercal e 63 a um abrigo de cães no Lago Oeste. Na pesquisa de hemoparasitas nos esfregaços sanguíneos dos animais da Fercal foram encontradas 3 amostras no positivas no esfregaço sanguíneo (2,41%) para Babesia spp. (Figura 1), enquanto que no Lago Oeste nenhuma amostra positiva foi encontrada. Nas amostras positivas da Fercal os piroplasmas foram visualizados tanto nos esfregaços sanguíneos quanto nas bordas de orelha, contudonos esfregaços sanguíneos foram visualizados poucos piroplasmas, indicando baixa parasitemia. Figura 1. Babesia spp. em eritrócito de cão (aumento de 100X-coloração panótico). Na PCR, quando se utilizou os oligonucleotídeos 455-479-F e 793-772-R foram observados produtos no tamanho de 340 pb, conforme o local de anelamento destes oligonucleotídeos no gene 18S rRNA da Babesia spp. (Figura 2). Para confirmar a especifidade da reação, uma amostra foi enviada para o sequenciamento genético e a sequência de bases obtida foi comparada com aquelas de outros genes no Genbank utilizando-se o programa BLAST (Basic Local Alignment Search Tool) disponível em http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/, resultando em 99% de similaridade com vários genótipos de Babesia canis. Figura 2. Resultado da PCR para o gênero Babesia sp., utlizando os oligonucleotídeos 455-479-F e 793-772-R. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb ,Invitrogen ®); 2: controle negativo (água); 3 a 7: animais positivos e 8: animal negativo. Gel de agarose a 1,5% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). Os resultados dos animais positivos e negativos em ambos os locais estão apresentados na Tabela 3. Todos os animais positivos no esfregaço sanguíneo foram positivos também na PCR. Tabela 3. Porcentagem de animais positivos e negativos na PCR para o gênero Babesia spp. (oligonucleotídeo 455-479-F e 793-772-R) por local estudado (Fercal e Lago Oeste). Animais Fercal Lago Oeste Número/Total % Número/Total % Positivos 21/124 16,93 22/63 34,92 Negativos 103/124 83,07 41/63 65,08 Conforme pode ser observado na Tabela 4, a PCR se mostrou quatorze vezes mais sensível que a pesquisa de hemoparasita no esfregaço sanguíneo. Tabela 4. Número total e porcentagem de animais positivos para Babesia spp no esfregaço sanguíneo, borda de orelha e na PCR na região da Fercal e no abrigo do Lago Oeste. Técnica Animais positivos/Total de animais estudados % Esfregaço Sanguíneo 3/187 1,60 Borda de orelha 3/187 1,60 PCR 43/187 22,99 As co-infecções observadas nos animais positivos estão apresentadas na Tabela 5 e Figuras 3, 4 e 5. Tabela 5. Co-infecções dos animais positivos para Babesia spp. Co-infecções Fercal Lago Oeste Número/Total % Número/Total % Leishmania spp. 15/21 71,42 11/22 50,00 Hepatozoon sp. 3/21 14,28 16/22 72,72 Ehrlichia sp. 4/21 19,04 14/22 63,63 Figura 3. Gel resultante da eletroforese da PCR para o gênero Hepatozoon sp. utilizando os oligonucleotídeos Hep-F e Hep-R. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle positivo; 3: controle negativo (água); 4: animal positivo e 5: animal negativo. Gel de agarose a 1% corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). Figura 4. Resultado da PCR para o gênero Ehrlichia sp. utlizando os oligonucleotídeos DSB 330 e DSB 728 em amostras de sangue total. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100 pb, Invitrogen ®); 2: controle negativo(água); 3 e 4: animais negativos; 5, 6: animais positivos; 7: controle positivo. Gel de agarose a 1,5% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). Figura 2. Resultado da PCR para o gênero Leishmania sp. utilizando-se os oligonucleotídeos LFW e LBW1 e 2. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle negativo (água) 3: controle positivo; 4 e 5: animais positivos. Gel de agarose 2% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0.01% (p/v). Todas as amostras dos cães que foram positivas (43) com o primeiro conjunto de oligonucleotídeos utilizado (455-479-F e 793-772-R) também foram positivas com o segundo conjunto de oligonucleotídeos (PIRO A e PIRO B). Os produtos resultantes da PCR utilizando-se os oligonucleotídeos PIRO A e PIRO B (Figura 6), do Lago Oeste e Fercal, submetidos à digestão enzimática com as enzimas Taq I e Hinf I foram digeridos em dois sítios diferentes, resultando em fragmentos de produtos de 175 pb e 210 pb , para enzima Taq I e em um fragmento de 407 pb para a enzima Hinf I (Figura 7), conforme o esperado para Babesia canis vogeli; enquanto que cinco amostras apresentaram um padrão de digestão enzimática diferente, apresentando produtos de 408 pb para a enzima Taq I e produtos de 175 pb e 230 pb para a enzima Hinf I (Figura 8), conforme esperado para Babesia canis rossi. Figura 3. Resultado da PCR para o gênero Babesia sp. utlizando-se os oligonucleotídeos PIRO A e PIRO B. Legenda: 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle positivo; 3,4,5,6,7: animais positivos; 8: controle negativo (água). Gel de agarose a 1% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). Figura 7. Resultado da digestão enzimática com as enzimas Taq I e Hinf I, dos produtos da PCR (oligonucleotídeos 445-479-F e 793-772-R). Legenda: Superior: Digestão enzimática com a enzima Taq I, 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2: controle positivo para Babesia canis vogeli 3,4,5,6 e 7: animais positivos para digestão enzimática. Inferior: Digestão enzimática negativa para a enzima Hinf I, 1A: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2A: controle positivo; 3A,4A,5A,6A e 7A: animais positivos para Babesia canis vogeli. Gel de agarose a 2% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). Figura 8. Resultado da digestão enzimática com as enzimas Taq I e Hinf I, dos produtos da PCR (oligonucleotídeos 445-479-F e 793-772-R). Legenda: Á esquerda, digestão enzimática negativa para enzima Taq I, 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2,3,e 4: amostras negativas para enzima Taq I. À direita, digestão enzimática positiva com a enzima Hinf I, 1: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); 2,3 e 4: amostras positivas para a enzima Hinf I, compatível com o diagnóstico de Babesia canis rossi. Gel de agarose a 2% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). As amostras positivas para B. canis vogeli na digestão enzimática, foram confirmadas em uma nova PCR utilizando oligonucleotídeos específicos (BCV-F e 793- 772-R), assim como as amostras positivas para B. canis rossi na digestão enzimática, foram confirmadas através de uma nova PCR utilizando oligonucleotídeos específicos (BCR-F e 793-772-R), conforme Figura 9. Figura 9. Resultado da PCR para o gênero Babesia spp., B. canis vogeli e B. canis rossi utlizando- se os oligonucleotídeos 445-479-F e 793-772-R, BCV-F e 793-772-R, BCR-F e793-772-R, respectivamente. Legenda: 1: controle negativo (água); 2: Amostra positiva para Babesia spp.; 3: amostra positiva para B. canis vogeli; 4: amostra positiva para B. canis rossi; 5: marcador de peso molecular (100pb, Invitrogen ®); Gel de agarose a 2% (p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). Todas as amostras negativas para Babesia spp. que foram testadas com os oligonucleotídeos GAPDH-F e GAPDH-R, que amplificam uma parte do gene da enzima gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase, apresentaram uma banda de 400 pb, indicando êxito nas extrações de DNA (Figura 10). Figura 10. Resultado da PCR para o gene da enzima GAPDH, utilizando os oligonucleotídeos GAPDH-F e GAPDH-R. Legenda: 1: controle positivo; 2: controle negativo (água); 3 a 7: animais positivos; 8:Ladder 100pb (Invitrogen ®). Gel de agarose a 1,5%(p/v) corado com brometo de etídeo a 0,01% (p/v). Os resultados das análises estatísticas dos hemogramas e análises bioquímicas dos animais negativos e positivos estão apresentados na Tabela 6. Tabela 6. Análise estatística dos hemogramas completos e das bioquímicas séricas de todos os animais positivos e negativos para Babesia spp. da Fercal e Lago Oeste. POSXNEG Média R2 Coef. de variação Valores de Referência Grupo Local Grupo x Local H em og ra m a VG (%)
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