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Universidade de Brasília Instituto de Artes Departamento de Artes Visuais CIRO NAUM ROCKERT DOS SANTOS Brasília-DF 2014 CIRO NAUM ROCKERT DOS SANTOS A arte de ensinar Arte Propostas para inclusão do mundo virtual e tecnológico no ensino de Arte na Era , e A arte de ensinar Arte Propostas para inclusão do mundo virtual e tecnológico no ensino de Arte na Era , e Trabalho de conclusão do curso de ArtesPlásticas apresentado aoDepartamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília como requisito parcial para a obtenção do grau de LICENCIADO EM ARTES. Orientadora: Professora Doutora Lisa Minari BRASÍLIA, 2014 À minha família, ao mestre espiritual SrilaPrabhupada, aos amigos que fiz e aqueles que terão proveito com este trabalho que conclui uma importante etapa de vida. AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos à Profª. Drª. Ana Beatriz de Paiva Costa Barroso pelos devaneios poéticos e oportunidade de pesquisa, à Profª. Mª. Vera Marisa Pugliese de Castro pelas divagações filosóficas e ensinamentos sutis que levarei para a vida. Agradeço à Profª. Drª. ThérèseHofmann Gatti R. da Costa pela oportunidade de estágio e ao Prof. Dr. Sérgio Rizo Dutra pelo aprimoramento de meu aperfeiçoamento no desenho e amor ao Clássico, à Profª. Mª. Rosana Andréa Costa de Castro pelas reflexões no ensino de arte e à Profº. Drª. Lisa MinariHargreaves pela amabilidade e solicitude, provando que é possível ensinar com carinho e alegria. Dedico este trabalho de conclusão de curso especialmente à Tize pela sua recuperação e superação. Sumário 1. Introdução.......................................................................................................07 2. Panorama Geral da Educação em Arte..........................................................08 2.1. O espaço físico da escola....................................................................09 2.2. A sala de aula.......................................................................................09 2.3. A falta de materiais artísticos...............................................................11 2.4. Livros de arte e de História da Arte......................................................12 3. O Professor.....................................................................................................12 3.1. A motivação do professor....................................................................13 3.2. Do entusiasmo – a alegria de ensinar..................................................16 3.3. Proposta para inclusão do mundo virtual e tecnológico na aula de Artes Visuais.........................................................................................20 4. O Aluno............................................................................................................24 5. Proposta Metodológica – Os Sete Pilares.......................................................27 5.1. A Sensibilização....................................................................................27 5.2. A Linguagem Visual..............................................................................28 5.3. Os Materiais Artísticos..........................................................................29 5.4. O Artista................................................................................................29 5.5. O Período Histórico...............................................................................29 5.6. A Criatividade........................................................................................30 5.7. O Motivo................................................................................................32 Considerações Finais............................................................................................33 Referências Bibliográficas.....................................................................................34 RESUMO O objetivo deste trabalho é trazer uma proposta didática e metodológica que inclua o mundo virtual e tecnológico, transformando em sala de aula qualquer lugar em que o aluno estiver conectado. Tornando cada vez mais plataformas como Google, Youtube, Facebook e demais sites como ferramentas de aprendizado, pesquisa e estudo. A metodologia utilizada para isso foi o embasamento de livros e análises feitas nos estágios de curso e no meu trabalho como professor de curso preparatório para o vestibular. Concluo que o professor terá que se tornar mais amigo da tecnologia e mostrar sua enorme potencialidade, não deixando de tratar das formas cristalizadas de arte como pintura, escultura e desenho, porém mostrar os outros campos da arte que mais estão na vida dos alunos e das pessoas em geral como filmes, documentários, HQs ( Histórias em Quadrinhos), videogames, seriados, desenhos animados, animês, mangás e grafite. O trabalho também demonstra a importância do professor em seu papel como encantador, provocador e entusiasta para provocar a curiosidade e as tensões necessárias para desenvolver a criatividade dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: tecnologia, ensino, arte virtual, arte educação, vídeo-aula. 7 1. Introdução O tema desta monografia será uma proposta metodológica com enfoque na educação criativa e transformadora e na inclusão de tecnologias e do mundo virtual dentro da didática do professor. O recorte desse trabalho será principalmente para o Ensino Médio. Tentarei escrever de forma simples, objetiva e direta; o que não é tão fácil já que trabalhamos com a subjetividade e a criatividade. Porém, coloco essa proposta em um sistema aristotélico para se compreender as etapas e progressos de que trato neste texto. Para ensinar é preciso de paixão por aprender e passar o conhecimento para frente, com paciência, cuidado, entusiasmo e amabilidade. Por isso, precisa-se mudar a atual mentalidade dos professores e suas práticas didáticas. Porém, não só de paixão, elemento motivador e animador, se faz um professor (mesmo sendo o ponto mais importante). É preciso uma estratégia que guie o professor e que possa guiar seus alunos rumo ao conhecimento mais amplo e completo, por isso, uma metodologia (estratégia) que não seja também ampla e que não abarque todas ou o máximo de questões humanas e do universo da arte, não será completa e por isso, não será muito útil. Este trabalho consiste em estimular o futuro professor a ter prazer em ensinar e em aperfeiçoar as suas técnicas de ensino, pois ensinar é uma arte, logo, precisamos de uma arte (técnica) específica para ensinar sobre Arte. Este trabalho não é um fim, mas uma metodologia que está em constante aperfeiçoamento, pois, assim como um professor deve se ver como um contínuo estudante, indagando, refletindo, questionando, pesquisando e aprendendo, assim deve ser visto este trabalho. Também quero de antemão dizer que o trabalho foi desenvolvido apenas no campo teórico. Precisando para sua real avaliação a experiência. A compreensão do mundo, do homem e de si próprio nos proporciona encontrar a paz, o fim da ignorância, do medo, da superstição, do erro e da ilusão. Pois, não basta apenas viver, mas viver bem e com retidão. 8 2. Panorama Geral da Educação em Arte Todo diálogo ou debate que se toca no assunto de Educação em Arte traz para os alunos de licenciatura (futuros professores) e bacharéis desconforto, más lembranças, em sua maioria, medo e insegurança de saber o que passar para os futuros alunos e como fugir do modo comum, caducado e fraco de ensinar arte. Baseado em cópias de obras famosas, leitura da vida dos artistas enenhum esforço para o desenvolvimento e excitação do eu-criador. Criticamos a falta de aprofundamento nas aulas, assim como a falta de materiais de arte, as mínimas ou nenhumas saídas para exposições, museus e galerias, além de criticarmos, e com razão, o uso de apenas um livro didático (geralmente da autora Graça Proença) e de não tornarmos os alunos sensíveis à arte. Vejam que esse quadro medíocre do ensino público (mais presente neste) só pode gerar por consequência cidadãos de visão medíocre sobre a arte e o travamento de seu espírito criativo e inovador. É comum vermos os mesmos exercícios de copiar uma obra de arte de um artista tal, fazer trabalhinhos com papel crepom, fazer objetos com garrafas, folhas, massinha e outros. Isso está sendo passado para todos os alunos tanto dos que são de escola pública quanto de escola particular. O que vemos nitidamente é que os alunos não aprendem a serem sensíveis à produção artística humana, nem a terem um conhecimento visual e, principalmente, perdem a chance de utilizarem a capacidade de criar e se expressarem. O Plano Nacional de Educação junto com as Diretrizes Nacionais da Educação estipulam as metas de uma educação de bom nível que contemple todos os estudantes dando-lhes educação de qualidade e um ambiente escolar seguro, higiênico e adaptado. Precisa-se mudar o método “conteúdo de vestibular”, pois no campo da arte, principalmente, é necessário desenvolver a capacidade estética, sensível, imaginativa e musical. Não podemos nos limitar ao conteúdo de prova como algo que se decora e não se compreende nem se sente. Sei que os problemas e temas são bem repetidos e de conhecimento geral por parte dos alunos e professores, entretanto, enquanto as soluções não aparecem teremos que continuar nesta discussão para chegarmos enfim a uma ação. Para ser ensinado é preciso ter um espaço limpo, digno, seguro e apropriado para as aulas. Não se tem, por exemplo, o mesmo tipo de carteira que as outras disciplinas, pois se trabalha com desenho, tinta, papéis e telas grandes. Precisa-se 9 de cavaletes e espaços próprios para armazenar tudo isso. E é também necessário computadores, vídeos, projetores e televisões. Uma escola com a falta disso compromete o ensino. 2.1.O ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA A falta de uma sala de vídeo, de um auditório ou teatro, de recursos para fazer exposições das obras dos alunos, prejudica muito. Ensinar arte não é algo feito só dentro de uma sala de aula. Só que se fazem necessários recursos para que se desenvolva o conteúdo, o que pode conseguir pela própria instituição quanto pelo esforço do professor. Esse esforço não significa que o professor deve fazer tudo. É preciso cobrar do Estado, Distrito Federal e Municípios os deveres que esses têm com a Educação. O que vem ocorrendo, e isso direi em capítulos mais a frente, é que o uso de vídeo-aulas está aumentando, podendo o aluno estudar arte como se estivesse dentre de um Museu do Louvre ou Museu do Prado. 2.2. A SALA DE AULA Imagem 1 – Péssimas condições das salas de aula no Brasil Fonte:http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/alunos-guarda-chuvas-escola-sem- teto-maranhao.html http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/alunos-guarda-chuvas-escola-sem-teto-maranhao.html http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/11/alunos-guarda-chuvas-escola-sem-teto-maranhao.html 10 A importância de se refletir o aspecto físico da sala de aula é de suma importância. Primeiro, porque o ambiente influencianosso aprendizado. Um espaço bem higienizado, limpo, bem iluminado, com uma boa climatização é agradável e tornam as aulas menos cansativas, possibilitando que o aluno se preocupe apenas com as atividades de sala e com os conteúdos. Do contrário, ficará o aluno reclamando do calor da sala, do ventilador (velho) que não funcionada, das carteiras que estão quebradas e são desconfortáveis, da falta de giz, da falta de água no bebedouro, das péssimas condições dos banheiros e da falta dos materiais como cola, lápis, tinta, durex, tesoura e demais materiais utilizados nas aulas de arte. Sem contar a falta dos instrumentos mais importantes hoje que são os computadores, tablets e o acesso à internet. Imagem 2 – Sala de aula de uma escola particular com boas condições para os alunos Fonte: http://colegiomcrsjv.blogspot.com.br/2013/04/sala-de-aula-ontem-e-hoje.html A sala de aula deve ser vista como um ambiente de descobrimento, de estranheza, de espanto. Onde a curiosidade e o respeito estejam sempre presentes, junto com o debate, o diálogo e a pesquisa. O professor precisa desenvolver nos alunos a visão de que a sala de artes será o ‘porto seguro’ deles e de que é o lugar http://colegiomcrsjv.blogspot.com.br/2013/04/sala-de-aula-ontem-e-hoje.html 11 onde há disciplina e ao mesmo tempo descontração. Onde eles poderão exercitar a imaginação e desenvolver assim aquilo que é intrínseco a eles e é a qualidade mais importante. O aluno precisa sentir prazer e alegria ao pensar que está indo para aula. Achar gostoso aquela aula onde ele pode ser ele mesmo e se descobrir. Prazer em ir para escola, em rever o professor que irá tirar suas dúvidas e gerar mais inquietações. A liberdade dada dentro de sala serve para a própria educação sobre o que é liberdade, como aproveitá-la e como utilizá-la de maneira construtiva. Não precisa ser um caos ou uma baderna. As crianças não são tão diferentes dos jovens e estes dos adultos. Nos cansa ficar mais de uma hora só ouvindo, em cadeiras desconfortáveis e ouvindo algo desinteressante. Por isso, fica este ponto importante para o aqueles que querem ser professores: como tornar a minha aula mais interessante? Como ouvir e usar aquilo que os alunos gostam para trazê-los para o conteúdo? Mas isso traz consigo outra questão: a arte está apenas naqueles conteúdos internos da disciplina? Acredito que não e isso faz com que o professor possa envolver as mentes de todos os alunos simplesmente descobrindo quais matérias os alunos gostam ou o que eles mais gostam de fazer e explicar que arte (técnica – em grego) é fazer da melhor forma aquilo que gostam. Assim, mesmo que eles não busquem a criação nas artes, irão vê-la na Matemática, na Física, na Literatura, na Poesia e demais áreas do conhecimento. 2.3. A FALTA DE MATERIAIS ARTÍSTICOS Outro problema sério nas escolas públicas é a falta de recursos para a aquisição de materiais de arte comuns, como tesoura, cola, cartolina, fita adesiva, réguas, mesas próprias e específicas, lápis, tinta, blocos de papéis de diferentes gramaturas e computadores para trabalhar com arte digital. Essa falta de material traz desconforto e atraso nas aulas tanto para os alunos quanto para o professor. Não se pode ter uma aula plena de experiências criativas sem os materiais que as proporcionarão. Como é o foco desse trabalho, os materiais tecnológicos e digitais podem ser bem usados. Um smartphone hoje vem com tantas funcionalidades que os alunos podem muito bem trabalhar com curtas, stopmotion, arte sonora, projeção, montagens digitais ou de tratamento de imagens 12 e outras que os alunos poderão criar. Atrair os jovens para a Arte pelos meios que eles já manipulam e se sentem confortáveis, de forma quase orgânica, é uma forma de deixá-los animados e confiantes que algo interessante poderá sair dali. 2.4. LIVROS DE ARTE E DE HISTÓRIAS DA ARTE Graça Proença. Mal se fala o nome e já se traz um franzir de testas e resmungos. Não é um livro ruim, mas só ele basta? O professor não pode passar apenas um livro sobre arte como se isso seria o necessário para sabermos tudo sobre o que é arte, os artistas mais talentosos e a história por trás de cada obra. Precisamos, portanto, de que o professor leve mais livros e o que mais puder para que o aluno tenha uma visão muito mais ampla eprofunda de Arte – que o aluno aprenda a história da arte e como apreciá-la. Analisemos os livros de História de Arte criticamente: há neles obras de arte, filmes, animações ou videogames da cultura jovem? Não. Não há algo com o que os jovens possam se identificar. O que proponho é a inversão disso. O professor precisa captar o universo dos alunos para, a partir dele, apresentar a origem deles e relacioná-los com o passado. 3. O Professor Tem ser mais santo? Nossos primeiros professores são nossos pais. Com eles aprendemos a falar, andar, se expressar e demais funções. Em um pensamento aristotélico do qual compartilho, toda criança aprende primeiro pela imitação. Imitam os pais, parentes, amigos e demais pessoas que as cercam. O aprendizado por imitação continua sendo o mais forte tipo de educação. Aquilo que vemos ser praticado por outros e que vemos vantagem nisso, queremos para nós. Esse pensamento inicial é importante para compreendermos como que um professor deve ter a consciência, a atenção e o cuidado com o que faz e fala. Ele deve ser não só um exemplo de conhecimento, mas de caráter, pois não há vantagem em formar alunos sem virtude e insensíveis, ainda mais no campo da arte. Porém as coisas não são tão belas assim. Há uma maioria de professores que não quiseram estar em sala de aula. É de senso comum dentro das universidades que a maioria não quer licenciatura ou ser professor e se o faz é por falta de opção, de mercado de trabalho ou vocação. Isso gera professores frustrados 13 e que acabam transferindo essa frustração e nenhum amor pela pedagogia aos alunos. Acredito que esse seja um dos maiores males de que sofremos atualmente. A razão disso nós sabemos: a não valorização do professor, seja ele de fundamental ou de universidade. 3.1. A MOTIVAÇÃO DO PROFESSOR Magister discit, diziam os romanos – o Mestre falou. Era a instância máxima em qualquer assunto. Hoje o professor desceu de seu pedestal. Segundo os romanos, o trabalho é entre todos e o saber de todos. Google, Youtube, Facebook, Khan Academy, Blogs, Vlogs, sites, aplicativos para smartphones e programas de televisão ensinam. Por outro lado, o professor tem a capacidade de se integrar ao mundo do aluno que ele deve buscar conhecer, entender e compreender mais do que qualquer programa no mundo virtual ou televisivo. Vai nisso uma grande reflexão: Antes de ensinarmos um conhecimento ao aluno, devemos antes conhecer nossos alunos, assim como um marceneiro precisa conhecer a madeira que irá talhar e moldar ou um topógrafo que precisa analisar e conhecer o terreno para dizer que tipo de edificação ele suporta. Na hora de dar aula, o professor perderá a atenção dos alunos se ele concentrar-se em si mesmo, concentrar-se no texto didático, no papel e se ele concentrar-se nos objetivos não primordiais para os alunos. Portanto, o professor precisa ser direto ao mais importante e ir em direção ao seu público. “O aluno só ouve o que quer ouvir” – nem sempre. E, se assim for, o que nós professores devemos fazer para apresentar um conteúdo desejável ou do gosto do aluno? O professor deve despertar o aluno e não querer que o aluno absorva e decore os conteúdos de forma mecânica. Eles não são autômatos, mas é preciso dizer isso, pois parece que muitos se esqueceram disso. “Só vai para a memória aquilo que é objeto do desejo. A tarefa primordial do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda” (Alves, 2000, p. 81). Para ser esse “professor instigador e provocador”, ser simpático, usar de cortesia, ser amável e ter entusiasmo são ações chaves e que devem ser rotina. Amor em fazê-los pensar por si mesmos mais do que ensinar algo. Pois a finalidade do professor é justamente ensinar às crianças, jovens e adultos a pensarem por si próprios nos seus próprios 14 contextos sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais. É fazer com que eles encontrem o seu lugar no mundo. A sinceridade do professor conquista o aluno. A sua competência completa a abordagem. A dedicação coroa o êxito. O que se vê generalizado, tanto em professores “espetáculos” de cursinhos pré-vestibulares quanto em escolas é a obrigação de eles ensinarem todo um currículo pré-estipulado sem interessar-se com o processo criativo de cada aluno, assim como suas experiências na arte. O professor deve ser criativo. Variar é o segredo. Utilizar todos os meios. A transformação começa pela palavra, por isso, não use e nem permita termos que os rebaixem como “burro”, “imbecil”, “tolo”, “ignorante”, “lerdo”, “sonso”, “mongol”, etc. Deve-se construir verbalmente o que os alunos sonham para si mesmos. Transformá-los primeiro por dentro, na essência. Use “inteligente”, “esforçado”, “esperto”, “sagaz”, “estudioso”, “educado”, “disciplinado”, “criativo”, “dedicado”, “alegre”, “confiante”, etc. Deve-se gerar a curiosidade no estudante e o seu incessante questionamento sobre tudo. Utiliza-se o bom-humor e a comicidade para gerar uma aula mais cômica e com isso, mais leve, a mímica, a imitação que é tão comum nas crianças e jovens. Já dizia o filósofo pré-socrático Demócrito “É preciso ou ser bom ou imitar quem o é”. Buda, assim ensinou aos seus discípulos: “Se é o fato de eu ser o Professor que os inibe de me dirigirem suas dúvidas, então, veem-me como um amigo.” A Verdade não é uma coisa que um tenha e outro não, por isso não se fala o que sabe para o que não sabe, pois isso seria supor que um dos dois a possui. Mas, se ambos buscarem a Verdade de dentro um do outro surgirá uma concepção mais geral e comum a ambos. Eles precisam sentir os riscos e a adrenalina de se aventurarem em suas próprias divagações e reflexões. O professor não deve esperar do aluno uma resposta esperada e considerada “certa” e “ideal”, mas buscar novas ideias, novas sugestões e conjeturas para os fatos. Precisa-se mostrar que o mais importante é a criatividade e a imaginação. Para os alunos do ensino médio é a reflexão profunda que vale. Não basta termos escolas com toda a estrutura e salas de aula com data show, computadores e todo o tipo de conforto e tecnologia se os alunos não usarem das ferramentas que lhe são dadas para pensar e discutir os temas. Um trecho que 15 ilustra bem isso éo exemplo que o professor Rubem Alves (2000, p. 66) dá em seu livro A Alegria de Ensinar: “Quando eu era menino, na escola, as professoras me ensinaram que o Brasil estava destinado a um futuro grandioso porque as suas terras estavam cheias de riquezas: ferro, ouro, diamantes, florestas e coisas semelhantes. Ensinaram errado. O que me disseram equivale a predizer que um homem será um grande pintor por ser dono de uma loja de tintas. Mas o que faz um quadro não é a tinta: são as ideias que moram na cabeça do pintor. “São as ideias dançantes na cabeça que fazem as tintas dançarem sobre a tela”. Na visão Kantiana, a finalidade da educação é proporcionar o desenvolvimento total das potencialidades do indivíduo. A finalidade é oferecer no nosso campo da arte a experiência criativa e a experiência da arte que é enriquecedora. Essa experiência estética que o professor de artes deve se importar em proporcionar para seus alunos. Todo objeto causa uma sensação no sujeito, não importando a priori se é bom ou ruim. Pode-se experimentar esteticamente todo objeto, seja ele natural ou feito pelo homem. Entender a construção das formas por meio da Linguagem Visual ensina o aluno a “ver” o mundo, pois é o olhar treinado que enxerga, assim como um botânico percebe centenas de espécies numa floresta ou num parque e onde a maioria não alfabetizada visualmente perceberia apenas mato. “A vista é o que nos faz adquirir mais conhecimentos, nos faz descobrir mais diferenças.” Aristóteles Portanto, o ato de “olhar” também significa “distinguir”, “examinar”, “compreender”. Tudoisso implica em um conhecimento visual, porém é necessário explicar ao aluno que há várias outras formas de se expressar e cada um tem seu próprio universo técnico e que é único: saber ler, escrever e se expressar pelas letras está ligado à comunicação escrita. Saber desenhar, pintar, fotografar, filmar, e se expressar pelas imagens está ligado à comunicação visual. Saber se expressar pela voz, rosto, gestos e do corpo está ligado á comunicação teatral. Saber se expressar pelos instrumentos musicais é comunicação musical. “O que a pintura diz, a música não diz. O que a poesia diz, a pintura não diz, pois são linguagens diferentes e, consequentemente, são universos diferentes de beleza, de criatividade e de ideias.” (Gullar, 2011, p. 102). 16 3.2. DO ENTUSIASMO – A ALEGRIA DE ENSINAR O trabalho do professor é estimular a observação, o questionamento e a reflexão sobre os assuntos tratados tanto em sala quanto aqueles que os alunos tragam de suas casas ou de experiências que estes tiveram. É dessa forma que eles serão conquistados pelo doce prazer do conhecimento. As pessoas não se importam com o que fazemos, mas pelo que fazemos. É essencial que o professor demonstre sua paixão e motivação pelo saber e pelo universo da arte para que os alunos sintam isso, pois um aluno só não gosta de alguma matéria se ele não se sente bem com ela, se ele não se diverte ou sente que suas capacidades emocionais e intelectuais estão sendo aprimoradas e úteis. Irão ver que todo o conhecimento adquirido serve para mudar o mundo e vê-lo de diferentes aspectos. Verão um prédio histórico e se lembrarão do período em que este foi construído, da arte de sua época, da música culta e popular que faziam as pessoas dançarem e sorrirem, flertando nos salões. Pensarão na arquitetura que ditava o que era o belo para tal período, assim como na língua em que se escrevia sobre os acontecimentos e as expressões que permearam até nós. O professor precisa gerar estranhamento, espanto e entusiasmo! Quantos são os casos de alunos que decidiram entrar em determinado curso devido à influência de um professor que consideravam alegres, inteligentes, educados e que lhes despertavam a vontade de seguir os mesmos passos? Porque é o que nos agrada que queremos ter sempre perto de nós e fazer. Por isso William Shakespeare em A megera domada (1593-1594), Ato I – Cena I: Trânio, estava certo ao dizer: “Onde não há prazer não há proveito”. Aulas prazerosas sempre serão prazerosas, ainda mais se o professor conciliar o prazer emocional com o intelectual. Em suma, devemos pensar no professor como um aluno. Como um aluno gostaria que a aula fosse? Como fazer para que o aluno ache interessante a aula e se interesse pelos assuntos? Alguém pode questionar o porquê de se preocupar tanto no que o aluno quer ou precisa. Bem, para essa pessoa eu retrucaria com algumas perguntas: pode um pai não se preocupar em como educar o filho? Qual educação é a melhor para ele, quais os melhores métodos, como fazer para que seu filho se interesse e se divirta enquanto aprende? Ninguém vai se importar com você a menos que você se interesse por elas. É relevante deixar explícito que o professor 17 não deve se achar no mesmo patamar que o aluno, mas que não deve tratá-lo como uma criança, principalmente quando este já estiver na pré-adolescência, pois não há nada que irrite mais um adolescente que está se achando maduro do que rebaixá-lo para criança. Imagem 3 – Professor John Keating (interpretado pelo ator Robin Williams), carismático, cômico, inquisitivo e transformador do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989). Fonte: http://ummomentoumpensamento.blogspot.com.br/2013/05/sociedade-dos-poetas- mortos-frases.html Não fazemos com prazer o que não gostamos e isso é um fato. O contrário disso são pessoas que mudam o seu meio social e o mundo. Não aceitando as condições dadas, não acreditando que não se pode ir mais além. Precisamos colocar desafios constantes para os alunos. Desafios grandes, pois devemos acreditar na capacidade deles. Sempre. Desafiá-los é também motivá-los. Por isso coloquei a imagem desse professor fictício do filme Sociedade dos Poetas Mortos, pois desde que o vi quando ainda no ensino médio sonhava em ser um professor http://ummomentoumpensamento.blogspot.com.br/2013/05/sociedade-dos-poetas-mortos-frases.html http://ummomentoumpensamento.blogspot.com.br/2013/05/sociedade-dos-poetas-mortos-frases.html 18 “louco” como ele. Instigar os alunos, tirar deles a vergonha e o medo de viverem e seguir seus sonhos. Ajudá-los com a minha arte e minha aula para que eles desenvolvessem seus potenciais latentes dentro deles. O que foi bastante engraçado, pois em fevereiro desse ano (2014) quando substitui o professor em uma escola fiz exatamente o que o professor John faz no filme: na primeira aula pedia aos alunos que subissem em suas carteiras e eu fazia o mesmo. Depois discursava em como eles deveriam ver tudo o que lessem ou estudassem de todos os ângulos e que pensassem de forma diferente, pois cada um ali era único. Passava a mão na superfície do suporte das lâmpadas e nas pás dos ventiladores no teto e dizia “vocês até verão sujeiras onde nem imaginam” – a turma caía na risada. Na segunda aula eles já estavam todos animados e dispostos a participar da aula e dizer o que pensavam. O que me dava muito prazer, pois alguns vinham até mim para dizer que queriam que os outros professores fossem mais animados assim como eu, ou seja, eles percebem quando um professor se esforça e quando o professor prepara uma aula medíocre ou excelente. Em suma, o entusiasmo trará mais disposição tanto para o professor que ministrará as aulas quanto para os alunos que assistirão. Os alunos não são o futuro, são o presente. O problema estará em colocarmos nossa motivação esperando ânimo dos alunos. Temos que ter consciência que a recíproca nem sempre é possível. Pode demorar meses ou um semestre inteiro, mas não podemos perder a fé. Não se devem fazer monólogos. Passou de dez ou quinze minutos falando, os alunos já estarão entediados. Questione-os, levante dúvidas e reflexões. Não dê nada pronto, acabado. Deixe-os construírem as ideias e o seu próprio raciocínio. Use sempre o bom-humor. Não há nada que os desperte mais e os cative como uma boa dose de situação cômica. Também é útil alterar o tom da voz e se movimentar pela sala quando notar que está se tornando monótono. Leia seus rostos. Leve músicas, vídeos, instrumentos musicais, livros, histórias em quadrinho e deixe os alunos também levarem suas referências. Isso fará com que eles participem e se sintam felizes por participarem e mostrarem o que gostam. Alguns professores podem ter dúvidas em como conhecer os seus alunos para melhor pensar em estratégias de educação. Para você conhecer alguém, não pergunte o que ele pensa, mas o que ele ama. É assim que nos aproximamos dos 19 alunos, descobrindo o que eles gostam e colocando tarefas que incluam esses objetos de desejo e prazer deles. Além disso, também é preciso saber qual é a vocação de cada um. Saber as qualidades e possíveis defeitos de cada um, contados por eles mesmos para que você como professor saiba como ajudá-los a se aperfeiçoarem cobrando ações que o façam mudar seus hábitos. “Nós somos aquilo que fazemos repetidas vezes, repetidamente. A excelência, portanto, não é um fruto, mas sim, um hábito” Aristóteles. O segundo passo é aumentar a autoestima dos alunos. Precisamos dar-lhes coragem e fazê-los acreditar que eles se tornarão os melhores em tudo o que foram fazer e o farão sempre com excelência, pois na fase de infância e muito mais forte, na adolescência, muitos passam por problema de baixa-estima e não creem em si mesmos. Por isso o maior discípulo de Platão estava certo em dizer quea coragem é a virtudeque torna os Homens capazes de grandes ações. E essa coragem precisa servir também para ensiná-los a nunca desistirem diante de uma dificuldade. Ensinar que a perseverança é o caminho do êxito. Vai nisso uma sabedoria de vida, não só educacional. Outro ponto importante é reconhecermos quando um aluno faz algo de bom, com zelo ou se interessa na aula. Presenteá-lo com algum prêmio não é só uma técnica behaviorista, mas sim o que de fato fazemos na vida: os bons (excelentes) naquilo que fazem são presenteados e parabenizados. “Se você deseja 1 ano de prosperidade, cultive grãos. Se você deseja 10 anos de prosperidade, cultive árvores. Mas se você quer 100 anos de prosperidade, cultive pessoas.” Ditado chinês. Uma excelente técnica e muito simples e antiga é: esteja sempre com um sorriso no rosto! Muitos problemas poderão ser resolvidos com isso. Ninguém quer olhar para cara de um professor mal-encarado e mal-humorado. O riso é contagiante e o bom-humor idem. Não há nada melhor do que ir para aula desejando aprender e contribuir com as suas ideias e opiniões. A forma de apresentar a aula é muito importante. Uma boa apresentação utilizando data show para apresentações com uma boa carga de imagens impressiona e denota cuidado e trabalho por parte do professor. Devem-se passar vários documentários relacionados com o tema da aula, é uma boa técnica também para que eles não se enfezem e se cansem com a disciplina. 20 3.3. PROPOSTA PARA INCLUSÃO DO MUNDO VIRTUAL E TECNOLÓGICO NA AULA DE ARTES VISUAIS “Enquanto o mundo requer gente criativa e com alta capacidade inovadora, o modelo vigente reforça a passividade.” (2011) Critica o fundador da revolucionária Khan Academy, Salman Khan cujo objetivo é criar uma sala de aula global. Imagem 4 – Professor Salman Khan 1 Fonte:http://jpalfrey.andover.edu/ Para ter como base em minha proposta, nada melhor que procurar o que há de mais revolucionário atualmente. O modelo da Khan Academy é fazer o aluno aprender matemática ou qualquer disciplina como se aprende a andar de bicicleta. Cair e se levantar e repetir o processo até ter o domínio. No modelo tradicional se um aluno tenta experimentar e falha, ele penaliza-o, não esperando o aluno alcançar o domínio. Já no Khan Academy, ele encoraja o aluno a experimentar, a tentar, a falhar, mas espera o domínio no final do processo. A ideia é usar os recursos educacionais recentemente popularizados pela tecnologia, como as vídeo-aulas ou ambientes virtuais de determinados cursos, para 1Detém quatro graus: bacharel em matemática, bacharelado em engenharia elétrica e ciência da computação, bem como um mestrado em ciência da computação do Massachusetts Instituteof Technology, e possui MBA pela Harvard Business School http://jpalfrey.andover.edu/ 21 que o aluno tenha contato com o conteúdo em casa. Assim, o tempo da sala de aula fica liberado para que professores e alunos avancem no aprendizado, seja fazendo exercícios, tirando dúvidas ou promovendo debates. “Quando fiz as videoaulas não sabia como isso teria uma penetração na escola. Então comecei a receber cartas de professores que diziam estar invertendo a lógica da sala de aula: os vídeos estavam virando lições de casa e na escola o que antes era dever de casa agora estava virando aula”, disse o educador Khan, em sua apresentação no TED Talks (acrônimo para Technology, Entertainment, Design – em português: Tecnologia, Entretenimento, Design) de 2011 “Salman Khan: Vamos usar o vídeo para reinventar a educação”. Imagem 5 – Logo da Khan Academy Fonte: https://www.youtube.com/user/khanacademy Está mais fácil estar conectado à internet. Os jovens podem pesquisar livremente, ler o acham mais interessante ou mais parecido com eles, podem ver vídeos, fotos, gráficos e aulas online ou gravadas. Trazer isso para o uso em sala de aula e fora dela para o aprendizado do aluno será o próximo passo para essa geração e as próximas. O professor não pode ter medo da tecnologia, da internet ou dos computadores e smartphones. https://www.youtube.com/user/khanacademy 22 Ao contrário do que muitos temem as vídeo-aulas não diminuem nem a necessidade de um bom professor nem a importância dos momentos presenciais de interação. O que ocorre é a valorização de todos e o uso de diversas formas para que o aluno aprenda e seja criativo. “Os professores estão usando tecnologia para humanizar a sala de aula. Eles pegam uma situação fundamentalmente desumanizada e sem interação e a transformam num espaço de troca.” Afirma Khan (2011). O aluno tem seu próprio tempo e pode estudar onde quiser e estiver, podendo rever os vídeos quantas vezes quiser. Compartilhar com amigos, conversar com tutores online e avançar para níveis mais complexos assim que for completando as etapas anteriores. Imagem 6 – Alunos aprendendo com iPads Fonte:http://salaaberta.com/2013/12/09/texto-critico-abrindo-caminhos-para-as-tecnologias-na- aprendizagem/ A imagem acima ao mesmo tempo em que traz um belíssimo vislumbre da ferramenta tecnológica (iPad) sendo utilizado para educar com suas centenas de aplicativos e programas, tendo o mundo de informações em suas mãos também nos http://salaaberta.com/2013/12/09/texto-critico-abrindo-caminhos-para-as-tecnologias-na-aprendizagem/ http://salaaberta.com/2013/12/09/texto-critico-abrindo-caminhos-para-as-tecnologias-na-aprendizagem/ 23 traz o choque e tristeza de saber que isso não ocorre com nem 2% dos estudantes brasileiros que ficam à margem dos avanços tecnológicos e analfabetos ao mundo virtual. Onde, sabemos que nem todas as escolas ainda têm computadores nas salas ou salas de informática e profissionais especializados para ensinar às crianças e jovens em como operar o computador e seus diversos programas. Estou dizendo em ir além do uso do Word, o Excel, o Google e o Facebook. Esta talvez seja a realidade inegável de que ainda somos um país muito atrasado nas áreas mais fundamentais de um país. É justamente por esse motivo que meu trabalho visa a demonstrar que mesmo não tendo os computadores mais modernos ou aplicativos próprios para educação, dispomos de excelentes materiais, como o Khan Academy para estudar praticamente todas as áreas do conhecimento apenas sendo necessário uma internet e um computador razoável ou um smartphone. Assim, poderá o aluno ter acesso aos milhares de vídeo aulas. O que eu busco com esse trabalho é inverter a velha ideia: “Ensinarei aos alunos o que eles precisam saber” para “Irei ajudá-los a descobrir o que eles desejam aprender e mostrar outros mundos e caminhos” e tudo isso graças às aulas que podem ser vistas no monitor de um computador ou tela de um celular. Nos EUA há outro projeto visa o ensino da própria plataforma digital, a programação, e está surgindo com grande investimento nos Estados Unidos e se espalha no resto do mundo, se fazendo incrivelmente necessário a sua adesão em todo o nosso país. Esse projeto pioneiro de alfabetização digital se chama Code.org e o site é Hour ofCode. A alfabetização digital é tão importante em nosso tempo quanto saber ler e escrever, pois o trabalho e o envolvimento com os meios digitais e tecnológicos exigem isso. “Code.org” é uma organização sem fins lucrativos e liderado pelos irmãos Hadi e Ali Partovi que visa incentivar as pessoas, principalmente estudantes de escolas nos Estados Unidos (mas que é aberto para qualquer pessoa do mundo com internet) para aprender a codificar.O site inclui aulas de codificação livres, e a iniciativa também tem como alvo as escolas na tentativa de incentivá-las a incluir mais aulas de informática no currículo. Tudo isso dito demonstra o quanto o mundo virtual e tecnológico precisa fazer parte da aula hoje. Se usamos o Google para pesquisas,desde as superficiais até as acadêmicas e mais densas, por que não utilizar plataformas virtuais focadas 24 diretamente no estudo? O Youtube EDU é uma plataforma de vídeo aulas também, só que voltadas para o público brasileiro. Ainda é pouco divulgado e não há todas as matérias ofertadas como no Khan Academy, mas já há mais de 65.700 inscritos no canal ( dados referentes a maio de 2014). São vídeos feitos por professores que exploram desse espaço aberto para ensinar. Os alunos podem assistir quantas vezes quiserem, onde quiserem e compartilhar o ensinamento com outros amigos. Ficam bem claros os benefícios que essas plataformas proporcionam, mas ainda não há uma cultura para que isso seja incorporado nas escolas, o que acredito ser apenas uma simples questão de tempo. Imagem 7 – Facebook sendo usado para compreender a 2º Guerra Mundial Fonte: http://www.cutucanao.com.br/wp-content/uploads/2013/04/guerra1.jpg http://www.cutucanao.com.br/wp-content/uploads/2013/04/guerra1.jpg 25 Uma boa utilização do Facebook para trabalhos foi desse exemplo acima, onde alunos se dividiram em grupos para representarem os países que participaram na Segunda Guerra Mundial e postavam fotos e comentavam como se fossem os líderes dos países, como EUA, Japão, Inglaterra, Alemanha e URSS. E que pode ser adaptada essa ideia facilmente para outras disciplinas. É justamente isso que quero demonstrar com esse trabalho, de que é possível e divertido utilizar as plataformas virtuais mais acessadas e úteis que temos hoje para usá-las para o ensino. Imagem 8 - Facebook sendo usado para compreender a 2º Guerra Mundial Fonte: http://profwladimir.blogspot.com.br/2013_04_01_archive.html http://profwladimir.blogspot.com.br/2013_04_01_archive.html 26 Outra coisa interessante é que os alunos usam expressões que são comuns a eles e eles assim entendem a mensagem sobre o que foi determinado fato. Tal exemplo pode ser aplicado para diversas matérias se utilizando de uma boa dose de humor e criatividade. Há diversas páginas do Facebook que tratam de assuntos relacionados à educação, ciência, tecnologia, filmes e muitas outras áreas. O professor precisa usar dessa ferramenta para que o aluno passe a usá-la em busca de conhecimentos e não só para fotos e chats. 4. O Aluno Como o foco desse trabalho é o ensino médio, falarei desses alunos distintos que estão entre a criança e o cidadão formado. É fácil percebermos a diferença de alunos do primeiro ano que acabaram de sair do fundamental, que são muito brincalhões e despreocupados com os campos do conhecimento ainda, não sentem com tanta intensidade o prazer intelectual. Já os alunos do terceiro ano são mais sérios, mais organizados, com uma visão mais ampla, global e com mais preocupação com questões éticas, políticas e sociais. Nestes, encontramos a insatisfação diante do mundo e rebeldia. Negando várias coisas para se afirmar em outras. Encontrando a sua própria identidade, tribo e vocação. Para eles é mais fácil para o professor propor desafios e trabalhos em grupo que tenham uma proposta de impacto social, pois poderá cobrar mais postura, disciplina, organização e uma incipiente consciência política. No campo da arte, o professor pode exigir mais dos alunos de todas as séries do ensino médio, trabalhos que os forcem a criar algo bem feito, bem finalizado e com mais rigor estético – se esse for o foco do trabalho. Exercícios de experimentação e sensibilização em passeios a exposições é uma grande chance de ouvirmos o que os alunos pensam sobre a arte e se eles absorveram o que foi ensinado dentro da sala de aula. Lembremos que para sermos ouvidos por eles, precisamos aprender a ouvir, ainda mais eles que têm tanta coisa para contar. Somos todos alunos. É isso o que devemos ter em mente. Aluno é aquele que está sempre aprendendo. Até mesmo um sábio continua tirando sabedoria e 27 aprendizado das coisas e é dessa forma que devemos agir, caso contrário nos tornamos vulgares e orgulhosos do pouco conhecimento que temos. Não podemos nos acomodar. Um professor que sempre dá esse exemplo para os seus alunos formará pesquisadores sem ter que ensinar o que é um pesquisador, pois isso já terá sido ensinado pelo seu exemplo. Ele é um universo capaz de aprender tudo e propor soluções inovadoras para o mundo. A ele pertencerá o futuro assim como ao professor. Cabe ensinar pelo seu exemplo, a se ter ética e respeito pelos seus semelhantes, animais e o meio-ambiente, completando em si o saber pleno. E isso começa respeitando os alunos e seus colegas de trabalho. 5. Proposta metodológica - Os Sete Pilares No ensino de arte sete são os pilares propostos por mim: 1° A Sensibilização, 2° A Linguagem Visual, 3° Os Materiais Artísticos, 4° Os Artistas, 5° O Período Histórico, 6° A Criatividade e 7º O Motivo. Esses sete pilares correspondem às sete perguntas básicas para ter uma compreensão mais completa do assunto. Imaginemos um aluno observando um quadro de Caravaggio. Poderemos questioná-lo: O que esse quadro expressa? Qual o efeito estético que ele lhe passa? (sensibilização) Como ele é? (linguagem visual) Com o que ele foi feito? (material artístico) Quem o fez? (artista/biografia) Quando foi feito? (aspecto histórico-social-cultural-econômico-religioso da época) Por que ele o fez assim e não de outra forma? (criatividade/ genialidade) Para que ele fez isso? (motivação/ inquietação, conflitos, tensões psíquicas, intensidade emocional e intelectual). Percebam como fica claro compreender a arte dessa forma em todos os seus aspectos. Fica completo. Como esse é apenas um trabalho de monografia e não poderei me aprofundar tanto na pesquisa e detalhamento de cada um desses pilares, irei apenas fazer uma breve introdução do que cada um deles será. 5.1. A SENSIBILIZAÇÃO No primeiro pilar, o aluno aprenderá sobre si mesmo e a perceber os efeitos sensoriais e emotivos que os objetos provocam. Uma introdução à Estética pode ser 28 dada para os alunos do ensino médio. Aprenderão as diferentes escolas filosóficas de estética de tal forma com que quebrem seus preconceitos e ampliem sua visão sobre os objetos. 5.2. A LINGUAGEM VISUAL “Alfabetismo visual significa inteligência visual” (DONDIS, 1997, p. 231). E não há órgão do ser humano que usamos mais para diferenciar, discernir, avaliar e julgar. O segundo pilar serve para treinar o olhar – aprender a ver. Entra nesse campo o estudo das formas, cores, ponto, linha, textura, brilho, perspectiva, luz e sombra. Aqui é importante reforçar que não se deve fazer um ensino voltado apenas para as formas já consagradas como pintura, escultura, arquitetura e desenho, mas acolher a cultura dos alunos como HQs, filmes, desenhos animados, seriados, fotos de celulares – cada vez com melhores câmeras de vídeo e lentes fotográficas, vídeo clipes etc, pois como escreve a professora Dondis (1997, p. 4), atual professora de comunicação na Boston UniversitySchoolofCommunicatio: “A força cultural e universal do cinema, da fotografia e da televisão, na configuração da auto-imagem do homem, dá a medida da urgência do ensino de alfabetismo visual, tanto para os comunicadores quanto para aqueles aos quais a comunicação se dirige. Em 1935, Moholy-Nagy, o brilhante professor da Bauhaus, disse: “Os iletrados do futuro vão ignorar tanto o uso da caneta quanto o da câmera.” O futuro é agora.” Baseado no livro do Professor Dr. João Gomes Filho Gestald do Objeto podemos colocar nesse pilar o estudo das Leis da Gestalt:Unidade, Segregação, Unificação, Fechamento, Continuidade, Proximidade, Semelhança e Pregnância da Forma; da Conceituação da Forma/ Propriedades:Forma, Ponto, Linha, Plano, Volume, Configuração Real e Configuração Esquemática; das Categorias Conceituais/ Fundamentais :Harmonia, Harmonia/Ordem,Harmonia/ Regularidade, Desarmonia, Desordem, Irregularidade, Equilíbrio/ Peso e Direção entre outras ; das Categorias Conceituais/ Técnicas Visuais Aplicadas: Clareza, Simplicidade, Complexidade, Minimidade, Profusão, Coerência, Incoerência, Exageração, Arredondamento, Transparência Sensorial, Opacidade, Redundância, Ambiguidade, Espontaneidade, Aleatoriedade, Fragmentação, Sutileza, Difusidade, Distorção, Profundidade, Superficialidade, Sequencialidade, Sobreposição, Correção Óptica e Ruído Visual. 29 5.3. Os MATERIAIS ARTÍSTICOS Buris, goivas, pincéis, lápis, tinta de diversas formas, guache, aquarela, nanquim, carvão vegetal, caneta, spray, papel, tela de algodão, parede, gesso, concreto, madeira, mármore, aço, bronze, ouro, computadores, tablets e smartphones, etc. Aqui o professor poderá explorar os materiais e suportes que os artistas utilizaram no decorrer da história e permitir que os alunos os criem ou os compre e o mais importante: os experimentem. Caberá ao professor decidir por fazer com que os alunos manufaturem seus próprios materiais ou os comprem. Deixando é claro a última opção para quando houver mais dificuldade, como para goivas e buris. 5.4. OS ARTISTAS “A arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente” (FISCHER, 1987, p. 20). Neste pilar, o professor apresentará a biografia dos artistas. A sua importância é para que os alunos vejam o lado humano deles, com seus problemas comuns a todos os homens, como problemas com a família, com chefes, com namoradas, esposas, com dinheiro ou a falta dele e com as soluções para poder ganhar espaço no mundo sempre concorrido da arte. Dessa forma, os alunos poderão vê-los de forma menos deificada e etérea, mas sim, mostrando problemas que todos nós passamos e temos. Isso servirá de incentivo para os alunos se sentirem capazes de dispostos a se arriscarem no mundo da arte. 5.5. O PERÍODO HISTÓRICO Este pilar trará de contar a história da época. Aqui o professor colocará o fluxo histórico, com todas as suas peculiaridades, cultura, política, pessoas eminentes, reis, governantes em geral, arquitetura do lugar, localização e curiosidades. Servirá para situar o artista na sua época, ou seja, o aluno saberá onde e quando o artista apareceu, como era esta época em particular mais o que 30 isso influenciou na vida do artista e como este reagiu provocado pelas tensões para poder criar suas obras. Claramente o aluno poderá compreender mais claramente qualquer época, artista e obra seguindo esse processo. 5.6. A CRIATIVIDADE Por que criamos? Porque precisamos encontrar uma solução para um problema. “Invenção é o produto mais importante da mente criativa do homem” dizia o grande inventor Nikola Tesla (1856-1943). O conflito é a condição de crescimento. Para o processo criativo é necessário tensão psíquica, uma vez que não há crescimento sem conflito. As molas motrizes da criatividade são: a intensidade emocional e intelectual e todas precisam da motivação. A inquietação do artista o faz criar. É o árduo trabalho dialético de tese-antítese-síntese. Deve-se como professor desenvolver a competência e a capacidade de cada aluno, tornando-o proficiente e isso virá se o professor o colocar para experimentar diferentes materiais artísticos e suportes. O aluno precisará ser prolífico para perceber o desenvolvimento de suas técnicas. Como técnica, entende-se o conjunto de processos de uma arte ou ciência. Esses processos são frutos de experimentação das velhas técnicas e criação de novas com a tecnologia que se dispõe na atualidade. Não há apenas uma solução possível para um problema. Pensar em outros caminhos possíveis é parte da criatividade e isso força a se “debruçar sobre o problema” até encontrar uma resposta. No nosso caso, o professor precisa perceber que estamos na era da informática e tecnologias digitais, não podendo se abster de falar de ponto sem falar de pixel. Isso implica na educação das artes computacionais e digitais, pois dessa forma chamará a atenção dos alunos e o interesse deles por criarem um objeto estético de tecnologias que lhe são cotidianas e mais interessantes. Conseguirão ver essas soluções nos filmes, desenhos, clipes musicais e videogames. 31 Imagem 9 -PixarStudios, fundada por Steve Jobs Fonte: http://collider.com/pixar-sequels-every-other-year/ Há algo realmente importante e que não podemos esquecer. Podemos pedir a eles ou a qualquer um: “Crie! Vamos, crie!” Mas nada sairá de imediato ou mesmo que se deem horas. O motivo é que não há conflitos ou problemas para que possam criar algo. “A tensão e a contradição dialética são inerentes à arte” (Fischer, 1987, p.14). Motivar. Esse é o verbo que temos que lembrar e nunca esquecer. Vejam então que o fato do professor incentivar deve vir junto com o levantamento de problemas e tensões para que os alunos possam se sentir motivados a criar algo. É por isso que as aulas precisam ser provocativas! Os professores precisam levar os alunos a refletirem sobre determinadas situações, sejam elas sociais, artísticas, históricas ou ecológicas, o que for. Isso serve para todas as demais disciplinas. Com essa explicação fica mais fácil agora compreendermos porque os artistas e gênios da música, da física, da matemática e qualquer área do conhecimento vivem em constantes conflitos e tensões. Provoquemos os alunos! Lancemos problemas a eles! Eles compreenderão que há no processo criativo um incessante e árduo trabalho mental, reflexivo, imaginativo e inovador. “Para ser um artista, é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma.” (Fischer, 1987, p. 14). http://collider.com/pixar-sequels-every-other-year/ 32 O atual método de ensino é especializante, mecânico, pouco reflexivo e que cobra pouco uma postura diante da realidade, incapacitando esses alunos de terem ideias inovadoras e com elas soluções para a transformação e melhoria do mundo. Eles precisam pensar para ver, refletir para poder prever e prever para poder prover. “Mesmo no âmbito conceitual ou intelectual, a criação se articula principalmente através da sensibilidade.” (Ostrower, 1987, p. 12). Não basta os alunos só tomarem consciência dos problemas da arte ou de sua realidade. O aluno que não se sentir sensibilizado pelos problemas nada fará para solucioná-los. A falta de sensibilidade no ensino é o que está prejudicando os alunos de se comoverem com a realidade e, sem a provocação e exercício imaginativo para a inovação, não buscam soluções e não conseguem enxergar àquelas encontradas pelos artistas e cientistas. Percebemos que surpreendente e importantíssimo papel é o do professor para que essas transformações dos alunos e consequentemente da realidade moldável. “A percepção delimita o que somos capazes de sentir e compreender, porquanto corresponde a uma ordenação seletiva dos estímulos e cria uma barreira entre o que percebemos e o que não percebemos”. (Ostrower, 1987, p.13) Dessa citação podemos inferir duas coisas: a primeira é que quanto maior a percepção mais nós seremos capazes de sentir e compreender. A segunda é de que necessitamos de estímulos para isso. E de onde esse estímulo vem? O professor é a principal fonte para isso. O meio. Precisamos, portanto, de vários conhecimentos para enxergarmos a realidade em suas várias camadas. Com todos esses estímulos o aluno começa a intuir mais fácil a arte. “A intuição vem a ser dos mais importantes modos cognitivos do homem.” (Ostrower, 1987, p. 56). (Grifo do autor) O instinto está para o animal o que a intuição está para o homem. Aquele é um reflexo, enquanto esta é reflexão. “A intuição está na base dos processos de criação”(idem).E com essa intuição do aluno a criatividade vem por si. 5.7. O MOTIVO “Tudo é incerto. Só a Vontade é certa”. Ciro Rockert Neste pilar, o professor irá explicar e buscar com os alunos os motivos que levam os artistas a criarem e o que os levam a fazer de um jeito e não de outro. É 33 sobre a genialidade de cada um. Aqui o aluno entrará na mente e no coração dos artistas. Paixões, amores proibidos, mortes, guerras, fama etc. Aqui será a parte emocional e que caminhará junto com o 5.4. Os Artistas e o 5.5.Período Histórico. O que os move, o que os impulsiona, o que provoca os artistas. Esses são os objetos de estudo que o professor levará para dentro e fora de sala de aula. Achar os porquês e assim dar aos alunos reflexões sobre o que também os move o que os deixa apaixonados, o que amam fazer. Considerações Finais Não podemos reproduzir aquilo que vemos de errado. Isso se aplica a continuar reproduzindo o modelo educacional vigente o qual herdamos do período Industrial do século XIX, onde há uma hierarquia das disciplinas mais relevantes (leia-se “útil”) para a sociedade: Matemática, Física, Química, Biologia, Economia etc até enfim, por último, Artes Visuais, Música e Artes Cênicas. Esse modelo mecânico e utilitarista de educação é linear, consumista, não apaixonante, não criativo, padronizador, conformista e sua metodologia de educação segue o exemplo do processo em série de fábricas industriais. O processo humano assim como o educacional deve ser orgânico para poder criar condições que permitam o crescimento individual em todas as potencialidades latentes que são inerentes ao ser humano. O mercado está saturado academicamente. Estamos passando por uma “inflação acadêmica”, onde a graduação de hoje é o ensino médio de anteontem e o mestrado de hoje é a graduação de ontem. Pelo próprio cenário da realidade não podemos mais seguir nesse caminho infértil. Devemos desobedecer a uma lei injusta assim como um método que não serve para tornar os alunos inteligentes, virtuosos e conhecedores do mundo que os cerca e deles mesmos. Não podemos permitir uma educação que os torne heterônomos. Não faço com isso uma dura crítica ao sistema de hoje, haja vista que desenvolvi minhas reflexões dentro dele, porém um diferencial foi à vasta leitura e momentos dedicados à reflexão que se deram fora da escola por horas a fio nas mesas e sofás de bibliotecas, parques e cafés. O mistério é o que faz o aluno arregalar os olhos. O entusiasmo para descobrir, saber como algo funciona. Curiosidade! É disso que os alunos precisam e 34 é disso tudo que disse que os professores precisar estar cientes e motivados para poder gerar esses encantos aos alunos. Espero que minhas incipientes soluções possam cumprir com o seu papel e que tenha proporcionado prazer na leitura e reflexões para você leitor. Referências Bibliográficas ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. Campinas: Papirus, 2000. 93 p; ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos / Giulio Carlo Argan ; tradução Denise Bottmann e Frederico Carotti. 2ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 709 p. ARNHEIM, Rudolf.Arte & Percepção Visual - Uma Psicologia da Visão Criadora. São Paulo: Pioneira, 2005. 503 p. ARNHEIM, Rudolf. Poder do centro: Um estudo da composicao nas artes visuais(o). Lisboa: Ed 70, 1990. 301 p. BACHELARD, Gaston 1884-1962. 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