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Efeito do tipo de tarefa de ensino na aquisição de relações de identidade por pessoas com autismo Kelvis Rodrigo Sampaio da Cruz Orientadora: Profa. Dra: Raquel Maria de Melo Co-Orientadora: Profa. Dra: Camila Graciella Santos Gomes Brasília, Julho de 2014 Universidade de Brasília Instituto de Psicologia Departamento de Processos Psicológicos Básicos Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento Efeito do tipo de tarefa de ensino na aquisição de relações de identidade por pessoas com autismo Kelvis Rodrigo Sampaio da Cruz Orientadora: Profa. Dra Raquel Maria de Melo Co-Orientadora: Profa. Dra Camila Graciella Santos Gomes Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento, departamento de Processos Psicológicos Básicos, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ciências do Comportamento. Brasília, Julho de 2014 Universidade de Brasília Instituto de Psicologia Departamento de Processos Psicológicos Básicos Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento Banca Examinadora Profa. Drª. Raquel Maria de Melo (Presidente) Universidade de Brasília (UnB) Profa. Dra. Rachel Nunes da Cunha (Membro Efetivo) Universidade de Brasília (UnB) Prof. Dr. Márcio Borges Moreira (Membro Efetivo) Centro Universitário de Brasília (UniCeuB) e Instituto Wanden IV Profa. Dra. Laercia Vasconselos - Suplente Universidade de Brasília (UnB) iv Agradecimentos A minha família pelo amor incondicional e o companheirismo que me enriquecem a cada dia com valores humanos de caridade e compaixão, minha mãe Maria José e meu pai Antonio Francisco, minhas maiores inspirações. Aos meus irmãos Keyson e Kelly, meus sobrinhos Noah e Leonel. Agradeço eternamente ao amor e carinho de Aída Brito, por me ensinar constantemente a contemplar a vida com mais suavidade e perseverança, você é a heroína nos meus romances favoritos. Aos meus tios e primos que entenderam e me incentivaram de tantas maneiras, não poderia deixar de mencionar: Tia Ozana e Tio Gilvan que tanto cuidaram de mim, Tia Santidade e Tia Socorro que estiveram sempre do meu lado e no meu coração, me encorajando nas horas difíceis. Aos meus Eternos amigos: Luana, Virlania, Estela, Fernanda, Gustavo, Gabriela, com vocês eu me apaixonei pela Análise do Comportamento e dela fizemos nossa filosofia de vida. A Kol que chegou e ficou, que gentilmente divide comigo um sonho musical. Aos meus Grandes amigos: Anderson, Ana, Lais e Debora, com quem eu divido histórias lindas e aventuras inimagináveis, a vocês eu devo as minhas melhores ideias, confabulações e tramas. Aos meus amigos e parceiros da Desenvolver Instituto Terapêutico em Teresina: Danilo, Danielle, Renato e Clarissa, meus amigos do peito que são inenarráveis, o mundo é pequeno quando estou com vocês; aos demais: Vanessa, Irancarla, Iane e Nazaré, que também tornam os dias de trabalho tão mais emocionantes. Aos meus tão amados amigos que fiz na UnB, com quem eu dividi experiências riquíssimas e que melhoraram muito minha estadia em Brasília: Isis, Nagi, Izabel e Marília (minhas princesas); Larissa, Paulo Lira, Fabio, Paulo Cavalcante, Ana Fernandes, Ana Paula, Louise, Tiago França, Thiago Cavalcante, Renata, Monique, Paula, Dafne, Ligia, Flávia, fomos sempre muito parceiros, guardarei todos vocês com muito calor no fundo do meu coração. v Aos colaboradores do Instituto de Psicologia em nome de Joice e Daniel, por toda a gentileza e carinho com que dedicam seus trabalhos. Ao instituto por ter me apoiado, também, de forma financeira em algumas etapas importantes desse estudo. Aos professores do mestrado Jorge Oliveira Castro, Eileen Flores, Dida, Rachel Nunes, Timothy Mulholland, Antonio Ribeiro, Goiara Castilho, que me enriqueceram de conhecimento científico, filosófico e ético. Em especial à professora Elenice Hanna pela valiosa ajuda ao longo da programação das tarefas experimentais que foi essencial para essa pesquisa. As professoras e aos pais da AMA - Teresina (Assossiação de Amigos dos Autistas) por me receberem tão gentilmente e acreditarem no meu trabalho; ao Colégio Santa Marcelina por sempre me apoiar e me ensinar. Aos profissionais do CEI Desenvolvimento Humano de Belo Horizonte, em nome de Analice Dutra. Com vocês eu pude aprender, principalmente, a ser um profissional ainda mais empenhado. Não poderia deixar de agradecer minha orientadora Raquel Melo que foi uma grande guia nesse etapa da minha vida, e a minha co-orientadora e amiga Camila Gomes, que foi uma grande inspiração ao longo de todo esse processo, seus conselhos sempre foram motivacionais. Agradeço com toda gratidão a todas as crianças que avaliei (de Belo Horizonte e Teresina) e os pais com quem conversei que me ensinaram valores que vou carregar comigo por toda a vida. Obrigado a todos aqueles que tiveram uma colaboração indireta neste projeto, no fim eu não cheguei aqui sozinho. Por fim agradeço ao CNPq por auxílio parcial por meio de bolsa de estudos. Com muito amor, Obrigado! vi Índice Agradecimentos...............................................................................................................iv Lista de Figuras ..............................................................................................................vii Lista de Tabelas................................................................................................................ix Resumo..............................................................................................................................x Abstract.............................................................................................................................xi Introdução........................................................................................................................ 1 Método Participantes....................................................................................................................16 Local, Material e Equipamento.......................................................................................18 Estímulos.........................................................................................................................19 Procedimento...................................................................................................................21 Resultados.......................................................................................................................30 Discussão.........................................................................................................................40 Referências......................................................................................................................53 Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.................................................59 Anexo 2: Termo de Autorização e Ciência Institucional.................................................61 Anexo 3: Termo de Autorização para Utilização de Imagens e Sons de Voz.................63 Lista de Figuras Figura 1. Categorias de estímulos utilizados nas tentativas de treino e teste de Pareamento Típico, Pareamento Multimodelo, e tentativas misturadas..........................20 Figura 2. Tentativas de treino de Pareamento Típico da Condição 1. No painel superior é apresentada a sequência de telas (a, b, c e d) para uma resposta de seleção correta e no painel inferior, a sequência de telas (e, f, g e h) para uma resposta incorreta. Cada resposta de clicar é indicada por uma seta preenchida na cor azul. A figura do altofalante indica a apresentação de sons de notasmusicais e de reforço social (por parte do experimentador)..........................................................................................................25 Figura 3. Tentativas de treino de Pareamento Multimodelo da Condição 1. O painel superior apresenta a sequência de telas para o pareamento correto do primeiro estímulo (telas a, b e c), e a tentativa seguinte na qual o estímulo pareado corretamente foi removido da coluna da esquerda (tela d); no painel central são apresentadas as telas para o pareamento correto do terceiro estímulo (telas e, f e g) e da tela de consequências para os três pareamentos corretos (tela h); e no painel inferior é apresentada a sequência de telas para o pareamento incorreto do segundo estímulo (telas i, j e k), seguida da apresentação dos estímulos nas colunas, com a mesma disposição que precedeu a resposta incorreta (tela l).................................................................................................27 Figura 4. Tentativas de treino de Pareamento Típico da Condição 2. No painel superior é apresentada a sequência de telas para uma resposta de seleção correta (telas a, b, c e d); no painel central, a sequência de telas para o terceiro pareamento (telas e, f e g), com a consequência para o pareamento correto dos três estímulos de um mesmo conjunto (tela h); e no painel inferior, a sequência de telas para uma resposta incorreta (telas i, j, k e l)....................................................................................................................................28 Figura 5. Tentativas de treino de Pareamento Multimodelo da Condição 2. No painel superior é apresentada a sequência de telas para o pareamento correto do primeiro estímulo (telas a, b e c), e a tentativa seguinte com a inclusão do estímulo composto, com dois elementos iguais (pareados corretamente) na coluna da esquerda; no painel central são apresentadas as telas para o pareamento correto do terceiro estímulo (e, f, g); e a tela h apresenta as consequências para os três pareamentos corretos (h); e no paine l inferior são apresentadas as telas para a resposta de pareamento incorreto do segundo estímulo (telas i, j e k), seguida da apresentação dos estímulos nas duas colunas, com a mesma disposição que precedeu a resposta incorreta (tela l)..........................................29 Figura 6. Porcentagem de acerto nos blocos de teste com tentativas separadas de Pareamento Típico e Multimodelo (gráficos à esquerda) e no bloco de teste com os dois tipos de tentativas misturadas (gráficos à direita) da Condição 1. No painel superior são apresentados os gráficos dos participantes do Grupo 1, expostos a sequência de tentativas de pareamento Típico-Multimodelo-Misturadas e no painel inferior, os gráficos do Grupo 2, expostos a sequência Multimodelo-Típico-Misturadas.................33 Figura 7. Porcentagem de acerto nos blocos de testes com tentativas separadas de Pareamento Típico e Multimodelo (gráficos à esquerda) e no bloco de teste com os dois tipos de tentativas misturadas (gráficos à direita) da Condição 2. No painel superior são apresentados os gráficos dos participantes do Grupo 3, expostos a sequência de tentativas de pareamento Típico-Multimodelo-Misturadas e no painel inferior, os gráficos do Grupo 4 expostos a sequência Multimodelo-Típico-Misturadas..................35 Figura 8. Porcentagem média de acerto na Condição 1 (grupos 1 e 2) e na Condição 2 (grupos 3 e 4) nos blocos com tentativas isoladas de teste de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo (barras à esquerda da linha tracejada) e no bloco com tentativas misturadas dos dois tipos de pareamento (barras à direita).............................39 Lista de Tabelas Tabela 1. Características gerais dos participantes: idade, sexo, classificação de acordo com a CARS, presença ou não de repertorio verbal vocal e tipo de instituição de ensino/Estado da Federação.............................................................................................18 Tabela 2. Distribuição dos grupos de participantes por condição experimental e ordem das tarefas de Pareamento Típico, Multimodelo ou os dois tipos de pareamento misturados........................................................................................................................21 Tabela 3. Quantidade de exposições para atingir o critério nas tentativas de treino dos blocos de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo, para cada grupo de participantes das condições 1 e 2.....................................................................................31 Tabela 4. Quantidade de acertos e de erros por tentativas, de acordo com cinco categorias de estímulos, e de respostas irrelevantes em janelas inativas do centro e das colunas da esquerda e direita, nas tentativas de Pareamento Multimodelo isoladas e misturadas........................................................................................................................36 Tabela 5. Resultados do tratamento estatístico com o Teste de Wilcoxon: condição experimental, tipo de bloco analisado (tentativas isoladas ou misturadas), porcentagem média de acerto nas tentativas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo, e valores de p. ....................................................................................................................40 Resumo A aprendizagem de relações de identidade pode ser considerada um desempenho pré- requisito para a aquisição de relações mais complexas entre estímulos. Entretanto, a literatura destaca que pessoas com autismo apresentam dificuldade para aprender relações condicionais com o procedimento de Pareamento Típico. O presente estudo avaliou o efeito de dois tipos de tarefas de ensino de pareamento de identidade, Típico (um modelo e três comparações) e Multimodelo (três modelos e três comparações, ao mesmo tempo, e em duas colunas distintas). Participaram do estudo 24 indivíduos com autismo, divididos em quatro grupos, sendo que metade foi exposto à Condição 1 e os demais à Condição 2. As duas condições se diferenciavam pela apresentação de um estímulo composto formado por elementos iguais, lado-a-lado, após cada pareamento correto nas tarefas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo. Cada condição era composta por três blocos de tentativas: Pareamento Típico, Pareamento Multimodelo, e tentativas misturadas dos dois tipos de pareamento. Os dois primeiros blocos continham tentativas de treino e de teste e o terceiro bloco apenas tentativas de teste. A ordem de exposição as tentativas de Pareamento Típico e Multimodelo variava entre os dois grupos de cada condição. Os resultados demonstraram que, independentemente da condição experimental e da ordem de exposição as tarefas de pareamento, os participantes obtiveram percentagem de acerto maior nas tentativas de de teste de Pareamento Típico do que nas tentativas de Pareamento Multimodelo. A porcentagem média de acerto para os participantes da Condição 2 foi maior do que na Condição 1 nos dois tipos de tarefa, o que sugere o efeito da apresentação do estímulo composto com elementos iguais. Esses resultados não replicam aqueles obtidos por Gomes (2011; Experimento 1) que verificou melhor desempenho dos participantes em tarefas de Pareamento Multimodelo. É possível que, além da organização visual diferente de cada tipo de tarefa de pareamento, a variável topografia da resposta (clicar ou arrastar) possa ser uma variável que afete o controle pela relação de identidade. Sugere-se que tal possibilidade seja avaliada em estudos futuros. Palavras-chave: pareamento de identidade, Pareamento Multimodelo, Pareamento Típico, relações condicionais, autismo. Abstract Learningidentity relations may be considered a pre-requisite for the acquisition of more complex relations between stimuli. However, literature has emphasized that people with autism have trouble learning conditional relations with a Typical Matching procedure. The present study has evaluated the effects of two types of tasks that involved teaching identity matching: Typical (one sample and three comparisons) and Multi-sample (three samples and three comparisons displayed simultaneously in two different columns). Twenty four autistic individuals were divided into four groups, half of whom were exposed to Condition 1 and the other half to Condition 2. Both conditions differed regarding the presentation of a stimulus composed of two equal elements, placed side- by-side, after each correct matching in the Typical and Multi-sample Matching tasks. Each condition was composed of three blocks of trials: Typical Matching, Multi-sample Matching and trials that mixed both types of matching. The first couple of blocks contained training and test trials and the third block contained only test trials. The order of exposure to Typical and Multi-sample Matching trials varied among both groups in each condition. Results showed that, regardless of experimental condition and order of exposure to matching tasks, participants had higher percentages of correct responses in Typical Matching test trials than in Multi-sample trials. Mean percentage of correct responses for participants in Condition 2 was higher than in Condition 1 for both types of tasks, suggesting an effect of displaying the stimulus composed of equal elements. These results do not replicate those from Gomes (2011; Experiment 1), which showed better participant performance in Multi-sample Matching tasks. It is possible that the different visual placement for each type of matching task as well as the response topography (clicking or dragging) may be variables affecting control over the identity relation. It is suggested that such a possibility is evaluated in future studies. Keywords: identity matching, Multi-sample Matching, Typical Matching, conditional relations, autism. A política de educação especial adotada pelo Ministério da Educação, fundamentada na Constituição Federal de 1988, estabelece que a educação inclusiva é um direito de todos os cidadãos. Essa perspectiva educacional resultou, em 2008, na elaboração da Política Nacional de Educação Especial, a qual prioriza a educação inclusiva, uma vez que está centrada na valorização das diferenças individuais, na consideração das necessidades de cada aluno, no planejamento do ensino e em mudanças na oferta de vagas na educação básica (Nunes, Azevedo & Schmidt, 2013). Algumas reformulações foram realizadas para efetivar a prática inclusiva, como é o caso da lei No 12.764 de 27 de dezembro de 2012, sancionada em benefício de pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo. Segundo essa lei, a qual foi denominada de Lei Berenice Piana, o indivíduo com autismo é considerado uma pessoa com deficiência para todos os efeitos legais, o que possibilita o acesso aos benefícios existentes na legislação brasileira. Em uma análise sobre o panorama inclusivo da educação brasileira, Nunes et al. (2013) verificaram que houve uma ampliação do ingresso de estudantes com autismo em classes comuns após o advento da política educacional de 2008. De acordo com dados do Censo Escolar do Ministério da Educação, em 2006 foram inseridos no ensino regular 2.204 estudantes com diagnóstico de autismo e no ano de 2012 esse número aumentou para 25.624. A expectativa é que nos próximos anos ocorra um aumento ainda maior na inclusão de pessoas com autismo no sistema formal de ensino. Para assegurar a efetividade do processo inclusivo, a lei Berenice Piana estabelece que a escola tem o dever de proporcionar infraestrutura e recursos humanos para garantir a permanência do estudante com autismo na escola regular. No âmbito escolar esse processo pode ser favorecido por meio do incentivo à formação e à capacitação de 2 profissionais especializados, enquanto que no âmbito das políticas públicas é necessário que ocorra a ampliação de recursos para o desenvolvimento de pesquisas científicas. O interesse em pesquisas com o objetivo de identificar características de pessoas com autismo não é recente. A primeira publicação, que consistia em estudo de casos psiquiátricos, foi feita por Kanner em 1943 para descrever um grupo de 11 crianças com um padrão semelhante de déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados, e um repertório restrito de interesses em atividades. Segundo Rosenberg (2011), o trabalho pioneiro de Kanner desencadeou estudos adicionais com o objetivo de validar as características comportamentais de pessoas com autismo, as quais foram incorporadas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM). O Transtorno do Espectro do Autismo, na categoria diagnóstica revista pela quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psicologia (The American Psychological Association - APA, 2013), é descrito como um transtorno neurobiológico de desenvolvimento, ou seja, que afeta o funcionamento do cérebro, e se caracteriza por alterações graves e generalizadas em habilidades sociais e de comunicação, interesses fixados e comportamentos repetitivos. As dificuldades na interação social podem manifestar-se de formas variadas, como isolamento ou comportamento social impróprio, pouco contato visual, dificuldade em participar de atividades em grupo, com melhoras significativas na vida adulta, indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto, e falta de empatia social ou emocional. A denominação Transtorno do Espectro do Autismo pelo DSM-5 envolve quatro alterações comportamentais que apresentam vários aspectos em comum: o 3 Autismo Infantil, a Síndrome de Asperger, o Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outras Especificações (APA, 2013). O Transtorno do Espectro do Autismo é uma condição em que os sintomas são reconhecidos a partir do segundo ano de vida (12 - 24 meses de idade) e os deficit comportamentais podem comprometer o desenvolvimento do indivíduo, sendo verificada variabilidade na intensidade e forma de expressão da sintomatologia nas áreas que definem o diagnóstico (Czermainski, Bosa & de Salles 2013). Pode ocorrer variação no grau em que o comportamento do indivíduo se afasta do esperado para uma criança da mesma idade até deficit comportamentais mais graves (Pereira, 2007). Em um estudo aplicado, Ferster (1961) argumenta que as alterações comportamentais de pessoas com diagnóstico de autismo, além de uma determinação biológica, podem ser influenciadas por contingências ambientais inconsistentes, como atenção diferencial dos cuidadores para comportamentos inadequados e estereotipias. Sendo assim, Ferster propôs que os comportamentos de indivíduos autistas poderiam ser analisados a partir da aprendizagem de comportamentos operantes. Esse foi um contexto favorável para o desenvolvimento de estratégias educacionais e comportamentais à pessoas portadoras de necessidades especiais e, em especial, para o autismo. Um dos principais objetivos dos primeiros estudos aplicados era a redução de comportamentos disruptivos e o ensino de comportamentos verbais, como tatos e mandos (Cautilli, Hancock, Thomas & Tillman, 2002). Apesar dos resultados positivos dos estudos aplicados em relação ao ensino de desempenhos que favorecem a interação social (e.g., Krantz & McClannahn, 1993; Stahmer, 1995), a aquisição de repertórios verbais (e.g., Carr & Durand, 1990; Charlop & Trasowech,1991) e a redução de comportamentos auto e heteroagressivos (e.g., Iwata Dorsey, Slifer, Bauman & Richman, 1994; Lovaas & Simmons, 1969), são 4 relatados na literatura dificuldades na condução de atividades experimentais com pessoas com autismo, uma vez que podem ocorrer: respostas emocionais aversivas a mudanças de rotina (Pierce & Schreibman, 1994), alterações comportamentais (e.g., birras, estereotipias) e movimentos auto-estimulatórios (Cautilli, Hancock, Thomas & Tillman, 2002). Para minimizar tais problemas, uma estratégia utilizada é o planejamento de treinos de habilidades básicas para a realização das tarefas experimentais, como por exemplo, manter contato visual, seguir instruções gestuais e verbais simples do experimentador e permanecer sentado na cadeira (Carr & Durand, 1985; Lovaas 1993; Lovaas, Koegel, Simmons & Long 1973; Martins, 2010). Pessoas com autismo têm dificuldade de se comportar de modo diferente diante de dois ou mais estímulos diferentes, ou seja, demonstram dificuldade para aprender repertórios operantes discriminados, ou discriminação (Dube, 1996; Serna, Dube & McIlvan, 1997). Demonstram também dificuldade para emitir um comportamento aprendido em um determinado contexto, ou na presença de estímulos específicos, em novos contextos ou diante de estímulos similares, o que indica pouca generalização (Charlop & Trasowech, 1991; Kelly, Green & Sidman, 1998; Taylor & Harris, 1995). Dube (1996) descreveu um programa de pesquisa com o objetivo de ensinar habilidades de discriminação para indivíduos com dificuldade de aprendizagem e pessoas com deficiência intelectual e/ou autismo. O programa caracteriza-se como uma rota de ensino, em que os participantes são, inicialmente, expostos ao ensino de habilidades discriminativas mais simples e, na medida do seu progresso, realizam tarefas que envolvem habilidades discriminativas cada vez mais complexas. A rota de ensino consiste na seguinte sequência: discriminação simples, pareamento de identidade generalizada, pareamento ao modelo arbitrário, pareamento ao modelo multielemento e pareamento ao modelo com resposta construída. De acordo com essa proposta, o ensino 5 do repertório discriminativo de identidade e a verificação de identidade generalizada (identificar quaisquer estímulos iguais e não apenas os que foram explicitamente ensinados) deveriam ocorrer antes de se iniciar o ensino de relações arbitrárias, tais como relações entre palavras ditadas e figuras e entre palavras ditadas e palavra impressas (Dube, 1996; Kelly et. al., 1998). Procedimentos de pareamento ao modelo são frequentemente utilizados para ensinar relações de identidade e relações arbitrárias para indivíduos com desenvolvimento típico e com atraso no desenvolvimento (e.g., Barros, Lionello- DeNolf, Dube & McIlvane 2006; Dube & Serna, 1998; LeBlanc, Miguel, Cumming, Goldsmith & Carr, 2003; O’Connor, Rafferty, Barnes-Holmes & Barnes-Holmes, 2009; Sidman & Tailby, 1982). Em uma tarefa de pareamento de identidade, diante da apresentação de um determinado estímulo modelo, somente a resposta de seleção do estímulo de comparação com características físicas similares ao modelo (idêntico), dentre as alternativas disponíveis, é que será reforçada (Albuquerque & Melo 2005; Stromer & Stromer, 1989). Por exemplo, se o estímulo modelo for A1, somente a seleção do estímulo de comparação A1, dentre as alternativas de escolha (A1 e A2), resultará na apresentação do reforço. Quando o estímulo modelo muda para A2, a resposta de seleção da comparação A2, e não mais de A1, é que será reforçada. Em tarefas de pareamento ao modelo arbitrário são ensinadas relações condicionais entre estímulos modelo e de comparação que não apresentam similaridade física. A tarefa consiste em apresentar, a cada tentativa, um estímulo modelo e, pelo menos, dois estímulos de comparação, sendo que a função discriminativa dos estímulos de comparação muda de acordo com o modelo apresentado, estabelecendo assim uma discriminação condicional a partir de uma contingência de quatro termos (Albuquerque 6 & Melo 2005; Debert, Matos & Andery, 2006). Por exemplo, dado dois estímulos de comparação, B1 e B2, a resposta de seleção de B1 na presença do modelo Al, e de B2 na presença do estímulo modelo A2 seriam consideradas corretas e seguidas por determinadas consequências (e.g., “Muito bem!”, “Ótimo!”), mas seleções de B2 na presença do modelo A1 e de B1 na presença de A2 seriam consideradas incorretas e não resultariam na apresentação das mesmas consequências. Sidman (1971) utilizou o procedimento de pareamento ao modelo arbitrário para ensinar relações condicionais entre estímulos auditivos e visuais a um participante com deficiência intelectual severa. Foram ensinadas relações envo lvendo palavras ditadas, palavras impressas e suas figuras correspondentes na língua inglesa. Foi verificado que o participante aprendeu as relações ensinadas e foi capaz, também, de relacionar as palavras impressas com as figuras, desempenho esse que não foi explicitamente ensinado. Diferentemente do resultado obtido no estudo de Sidman (1971), há relatos na literatura sobre dificuldades no ensino de relações condicionais para pessoas com autismo. Eikeseth e Smith (1992) utilizaram um procedimento de pareamento ao modelo para ensinar relações auditivo-visuais para quatro participantes com autismo. Foi verificado que na primeira fase do experimento os participantes necessitaram de 360 a 1546 tentativas de treino para aprenderem as relações condicionais. Estudos adicionais também verificaram a necessidade de uma grande quantidade de tentativas de treino, como por exemplo, Kelly et. al. (1998) que ensinaram habilidades pré-acadêmicas com o procedimento de pareamento de identidade entre estímulos visuais (números, letras e figuras). Em outro estudo, Williams, Pérez-Gonzáles e Queiroz (2005) ensinaram uma participante com autismo grave a diferenciar as cores preto e branco, em um treino onde, inicialmente, os dois cartões com as cores foram colocados em locais fixos sobre 7 a mesa e o experimentador solicitava, repetidamente, ao participante que tocasse uma das cores; após 10 seleções corretas consecutivas, foi solicitado ao participante que tocasse na outra cor; e, posteriormente, a localização dos cartões foi sistematicamente alternada até que o participante fosse capaz de tocar o cartão que era solicitado. Os autores verificaram que foram necessárias 798 tentativas de treino para que a participante selecionasse a cor que era solicitada. Em um estudo recente, Langsdorff (2013) investigou o número de tentativas necessárias para que sete participantes, com diferentes perfis de desenvolvimento e aprendizagem, aprendessem relações auditivo-visuais entre nomes ditados (e.g., “Bola”, “Gato” e “Casa”) e as respectivas figuras. Foi utilizado um procedimento de pareamento ao modelo com exclusão em que diante de uma palavra ditada não familiar, o participante deveria selecionar a figura correspondente, dentre três estímulos de comparação (uma figura não familiar e duas figuras familiares, para as quais os participantes já tinham aprendido a relação com as respectivas palavras ditadas). Quatro participantes com histórico de intervenção comportamental precoce aprenderam todas as relações ensinadas com o número mínimo de tentativas (duas para cada relação); três participantes sem intervenção precoce apresentaram os piores desempenhos, sendo que dois demonstraram aprendizagem das relações apenas após 20 tentativas de exclusão, e um participante não aprendeu nenhuma relação. Os estudos previamente descritos mostram que, em geral, pessoas com autismo necessitam de um número maior de tentativas de treino para aprender relações condicionais com o procedimento de pareamento ao modelo, em comparação com pessoascom desenvolvimento típico. Outros estudos mostram que pessoas com autismo podem responder a apenas um dos elementos de estímulos compostos, o que é denominado de “superseletividade de estímulos” (e.g., Lovaas, Schreibman, Koegel & 8 Rehm, 1971; da Hora & Benvenuti, 2007). Em uma tarefa de pareamento de identidade, por exemplo, diante da palavra impressa BOLO como modelo, o participante pode selecionar, dentre duas palavras (e.g., BOLO e FACA), a palavra impressa BOLO apenas sob controle da sílaba BO, uma vez que todas as letras são diferentes. Tal controle por partes dos estímulos pode dificultar a aprendizagem de relações condicionais, pois o participante pode também ficar sob o controle de dimensões irrelevantes, tais como a posição dos estímulos (modelo ou comparações) ou alguma característica física dos estímulos (e.g., cor, parte arredonda do estímulo). Um aspecto que pode favorecer o desempenho de pessoas com autismo em programas de ensino é a utilização de pistas visuais, como por exemplo figuras que representam objetos ou alimentos requeridos ou ações a serem executadas (Mesibov, 1994; Pierce & Scheibman, 1994 e Marques & de Melo, 2005). Instituições especializadas em atendimentos de pessoas com autismo frequentemente utilizam procedimentos de ensino que incluem pistas visuais, como é o caso do programa TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication- handicapped Children; para conhecer exemplos de tarefas, consulte o endereço eletrônico http://www.pinterest.com/dalelevenson/teacch-activities-autism/). Com o objetivo de avaliar o efeito da utilização de pistas visuais, para a realização de atividades cotidianas (e.g., por a mesa, almoçar, lavar roupa) de três crianças autistas graves, Pierce e Scheibman (1994) ensinaram desempenhos apropriados diante de figuras que ilustravam cada passo das atividades. Como resultado, foi observado que após o treino de repertórios discriminados diante das figuras, os participantes realizaram as atividades sem a ajuda do instrutor. Também foi verificada diminuição considerável dos comportamentos estereotipados de cada participante. 9 Para avaliar o efeito da organização visual em tarefas de pareamento ao modelo, Gomes (2007; Experimento 1) comparou o desempenho de vinte pessoas com autismo (leve/moderado e grave) em dois tipos de procedimentos de pareamento de identidade. As tentativas de cada tarefa foram organizadas em um fichário composto por divisórias (páginas), nas quais eram apresentados cartões com os estímulos (figuras familiares, palavras, sequências de letras e símbolos abstratos). Na tarefa de Pareamento Típico, em cada tentativa eram apresentados, na página à direita, o estímulo modelo fixo na parte superior e três estímulos de comparação fixos na parte inferior, sendo que abaixo de cada estímulo de comparação havia um pedaço de velcro; e na página à esquerda estava localizado um palito de madeira, preso com velcro. Nessa tarefa, a resposta de seleção do participante consistia em pegar o palito do lado esquerdo e colocá- lo sobre o velcro abaixo do estímulo de comparação selecionado. Na tarefa de Pareamento Multimodelo, em cada tentativa eram apresentados na página da direita, alinhados horizontalmente e na parte central, três estímulos modelos fixos, que continham uma fita de velcro na parte da frente superior e inferior; na página da esquerda, eram apresentados três estímulos de comparação, dispostos na vertical, sendo que o estímulo do centro ficava deslocado para a direita, os quais possuíam velcro na parte detrás e podiam ser movimentados. Nessas tentativas, o participante deveria pegar cada um dos três estímulos da página da esquerda e colocá- lo sobre o estímulo igual localizado na página da direita. O Experimento 1 de Gomes (2007) foi conduzido em três blocos: o primeiro bloco era composto por 10 tentativas de Pareamento Multimodelo; o segundo bloco continha 10 tentativas de Pareamento Típico; e o terceiro bloco era formado por 20 tentativas com os dois tipos de tarefas de pareamento misturadas, 10 de cada. Os blocos de Pareamento Multimodelo e de Pareamento Típico incluíam tentativas de treino e de teste. As tentativas de treino destinavam-se a ensinar os repertórios necessários para 10 executar a tarefa, sendo que o participante deveria atingir o critério de dois acertos consecutivos em um bloco de 10 tentativas, sem a ajuda da pesquisadora, para prosseguir para o teste. As tentativas de teste tinham como objetivo avaliar se, com um mínimo de treino, o participante era capaz de executar corretamente a tarefa de pareamento. Nas tentativas de teste não havia consequências diferenciais programadas para respostas corretas e incorretas e nenhum procedimento de correção foi utilizado. O bloco com os dois tipos de tentativas misturadas era composto apenas por tentativas de teste. Nos blocos com tentativas de um mesmo tipo ou misturadas, foi verificado que a porcentagem média de acerto na tarefa de Pareamento Multimodelo foi significativamente maior do que nas tentativas de Pareamento Típico. Entretanto, ocorreu variabilidade inter-individual e as maiores diferenças entre os desempenhos nas duas tarefas foram observadas para os participantes não verbais, com autismo grave. Adicionalmente, os participantes apresentaram tendência a aumento na quantidade de erros quando havia mudança da tarefa de Pareamento Multimodelo para a tarefa de Pareamento Típico. Gomes e de Souza (2008) sugerem que a disposição dos estímulos na tarefa de Pareamento Multimodelo e o tipo de resposta requerida, mover o estímulo de comparação e colocá- lo sobre o estímulo modelo correspondente, podem “favorecer o direcionamento da observação para todos os estímulos” (p.426). No estudo de Gomes (2007), a ordem de exposição às tarefas pode ter favorecido o melhor desempenho nas tentativas de Pareamento Multimodelo (sempre a primeira tarefa). Uma outra limitação está relacionada com o perfil dos participantes, pessoas com autismo, o que não permite a generalidade dos resultados para outras populações. Em uma replicação sistemática do estudo de Gomes (2007), Gomes (2011; Experimento 1) comparou o desempenho de 40 pessoas com autismo e 40 com 11 deficiência intelectual em tentativas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo. Metade dos participantes com autismo e metade com deficiência intelectual realizaram as tarefas em papel e os demais participantes realizaram as tarefas no computador. Tanto para os participantes que realizaram as tarefas em papel como no computador, a ordem de exposição aos dois tipos de pareamentos foi balanceada: Pareamento Multimodelo seguido de Pareamento Típico ou ordem invertida, Pareamento Típico seguido de Pareamento Multimodelo. Todos os participantes foram expostos a um terceiro bloco formado pelos dois tipos de tentativas misturadas. Essa modificação em relação ao Experimento 1 de Gomes (2007) foi realizada com o objetivo de minimizar um possível efeito de história da ordem de apresentação dos dois tipos de tarefas de pareamento. Os resultados demonstraram variabilidade no desempenho individual dos participantes com autismo e deficiência intelectual, tanto em tarefas de pareamento de identidade realizadas em papel como no computador. Para a maioria dos participantes foi observada porcentagem de acerto mais alta nas tentativas de Pareamento Multimodelo do que nas tentativas de Pareamento Típico. Foi verificada diferença estatisticamente significativa entre as porcentagens médias nos dois tipos de pareamento, independente da ordem de exposição a cada tarefa de pareamento. Desta forma, os desempenhos dos participantes replicaram os resultados obtidos no Experimento 1 de Gomes (2007). Na análise das filmagens das sessões, foi verificado que na tarefa Pareamento Típico em papel,cerca de metade dos participantes com autismo e com defici ncia intelectual apresentou controle pela posição dos estímulos de comparação. Quando a tarefa de Pareamento Típico foi realizada no computador, os participantes apresentaram um maior n mero de respostas de escolha em uma mesma 12 tentativa, provavelmente sob controle da borda vermelha que era apresentada após a resposta de seleção. Gomes (2011) sugeriu que a maior porcentagem de acerto nas tentativas de Pareamento Multimodelo, bem como o estabelecimento de controle de estímulo mais preciso, podem estar relacionados à organização dos estímulos modelo e de comparação e a topografia da resposta requerida. Na tarefa de Pareamento Multimodelo, o participante deveria colocar cada estímulo de comparação sobre seu respectivo modelo, o que pode ter favorecido a resposta de olhar tanto para os estímulos de comparação quanto para os estímulos modelo, aumentando a probabilidade de acerto e o controle pela relação de igualdade. Além disso, a cada pareamento correto diminuía o número de alternativas de escolha e aumentava a probabilidade de acerto, de 33,33% para 100%, uma vez que após o segundo pareamento, permanecia disponível apenas um estímulo de comparação. Shimizu, Twyman e Yamamoto (2003) avaliaram o desempenho de sete crianças, com atraso no desenvolvimento, em tarefas de Pareamento Típico com e sem a resposta de arrastar (delineamento do tipo ABAB). Na Condição A, a resposta requerida consistia em clicar sobre o estímulo de comparação correspondente ao modelo, e na Condição B a resposta a ser emitida era clicar sob o estímulo modelo, localizado na parte superior da tela, e arrastá-lo, com o uso mouse, até posicioná- lo abaixo do estímulo de comparação correspondente. Foi verificado aumento na porcentagem de acerto quando ocorria a mudança da Condição A para a Condição B e diminuição na porcentagem de acerto quando a condição mudava de B para A. Em outro estudo, com três crianças com deficiência intelectual, de Freitas (2012; Experimento 2) utilizou um procedimento de apoio para ensinar pareamento de identidade entre palavras com três letras, apenas quando eram verificados muitos erros com a utilização do Pareamento 13 Típico. A criança deveria executar uma sequência de respostas: olhar para o modelo, clicar sobre um dos estímulos de comparação, arrastá- lo até o modelo e soltá-lo. Ao longo das etapas de treino, era requerido que o estímulo de comparação fosse movimentado por distância cada vez menores até que não fosse mais necessário arrastá- lo, mas apenas clicar. Com a utilização desse procedimento de apoio no treino de uma relação de identidade, todos os participantes apresentaram porcentagem de acerto alta (superior a 80%) e mantiveram desempenhos similares nos treinos de novas relações de identidade com apenas o Pareamento Típico. A investigação de variáveis de procedimentos que afetam a aquisição de relações de identidade, por pessoas com autismo, é relevante, pois tais relações são a base para a aquisição de relações arbitrárias (Dube, 1996), que estão envolvidas em comportamentos simbólicos, tais como linguagem e conceitos (de Rose, 1994; de Rose & Bortoloti, 2007; Smith, 2001). Comportamentos simbólicos são adquiridos através de relações arbitrarias entre estímulos, logo, deficit no funcionamento simbólico implicam em habilidades disfuncionais de comunicação, desenvolvimento atrasado de linguagem, fracasso em competências básicas em leitura, escrita e matemática, entre outros (de Sousa, Cortez, Aggio & de Rose, 2012). Conforme previamente descrito, a utilização do procedimento de Pareamento Típico pode resultar na aquisição de relações condicionais, mas com treinos longos, ou seja, com quantidade excessiva de tentativas e com erros. Procedimentos de ensino que resultam na ocorrência de muitos erros podem interferir na precisão de desempenhos já aprendidos, gerar comportamentos de esquiva, tanto da tarefa quanto do professor, e respostas emocionais (Melo, Carmo & Hanna, 2014; Stoddard, de Rose & McIlvane, 1986). Logo, estudos que investiguem procedimentos de ensino de relações condicionais, para pessoas com autismo, que possibilitem a aquisição em menor número de tentativas, com nenhum ou poucos erros, 14 podem fornecem contribuições potenciais, em contextos aplicados, para o ensino de repertórios iniciais para o desenvolvimento de comportamentos simbólicos. Nesse sentido, características do procedimento de Pareamento Multimodelo, utilizado nos estudos de Gomes (2007; 2011), devem ser avaliadas de forma mais detalhada. Os desempenhos mais precisos no procedimento de Pareamento Multimodelo podem estar relacionados com a formação de pares de estímulos idênticos e não apenas com a resposta de arrastar e a organização dos estímulos (três modelos e três comparações simultaneamente disponíveis). A topografia de resposta requerida no Pareamento Multimodelo envolve movimentar um estímulo em direção à outro, o que faz com que fiquem lado-a-lado. Quando os estímulos modelo e de comparação estão próximos, pode-se considerá- los como um estímulo composto com dois elementos iguais. A proximidade entre os estímulos favorece a comparação e o controle pela similaridade física, ou igualdade, nas tarefas de pareamento de identidade. Os resultados dos estudos anteriores (de Freitas, 2012; Gomes, 2011; Shimizu, Twyman & Yamamoto, 2003), entretanto, não permitem afirmar qual a característica da tarefa é a variável crítica: movimentar cada um dos estímulos de comparação até posicioná- los sobre os modelos (com resposta de arrastar) ou formar pares entre os estímulos idênticos correspondentes (modelo e comparação). Nos estudos previamente descritos, essas duas variáveis ocorriam de maneira conjunta, uma vez que somente a partir da resposta de arrastar era possível movimentar um estímulo para próximo do outro, o que gerava a formação do par. No presente estudo foi realizada uma replicação parcial do Experimento 1 de Gomes (2011) com o objetivo de avaliar o efeito da formação de pares no desempenho de participantes com autismo em tarefas de Pareamento Típico e Multimodelo. Considerando que no estudo de Gomes (2011) não houve diferença entre os 15 desempenhos dos participantes nas tarefas realizadas em papel e no computador, optou- se pela utilização de um procedimento informatizado a fim de garantir o controle, nos dois tipos de tarefas, da topografia de resposta de seleção requerida (apenas clicar com o uso do mouse), do tempo de exposição aos estímulos, do intervalo entre as tentativas, das consequências apresentadas para respostas corretas e incorretas, e das instruções por parte do experimentador. Para tanto, foi necessário selecionar participantes com repertórios básicos para manuseio do computador com a utilização do mouse, o que dificultou a inclusão de crianças com autismo mais grave e sem repertório verbal oral. Grupos de participantes diferentes foram expostos a duas condições experimentais, que diferiam em relação a apresentação de um estímulo composto com dois elementos iguais (modelo e comparação), após cada pareamento correto, tanto no Pareamento típico como no Pareamento Multimodelo. Assim, na tarefa de Pareamento Multimodelo da Condição 1, cada estímulo da coluna da esquerda (modelo) pareado corretamente com um estímulo da direita (comparação) era omitido da tela do computador. Na Condição 2, após cada pareamento correto era apresentado um par de estímulos iguais lado-a-lado ou um estímulo composto com dois elementos iguais. Nos dois tipos de tarefas de pareamento os estímulos compostos eram apresentados na tela de reforço, sendo que nas tentativas de Pareamento Multimodelo os estímulos compostos permaneciam na tela para sinalizar cada pareamento correto na coluna dos estímulos modelos. Adicionalmente,foi utilizado um critério mais rígido nas tentativas de treino, três tentativas corretas consecutivas em um conjunto de dez tentativas, sem dica ou ajuda física do experimentador, e em cada tentativa não era possível mudar a resposta de seleção do estímulo de comparação. No estudo de Gomes (2011) foi utilizado o critério de duas respostas corretas consecutivas e era permitido alterar o estímulo de comparação selecionado várias vezes, uma vez que a mudança de uma tentativa para 16 outra ocorria apenas a após o participante tocar na figura de uma mão, localizada na parte inferior direita da tela. O presente estudo, portanto, teve como objetivo geral investigar o efeito do tipo de tarefa de Pareamento de Identidade, Típico e Multimodelo, no desempenho de participantes com autismo. Os objetivos específicos consistiram em: (1) avaliar o efeito da formação de pares de estímulos iguais no desempenho dos participantes em tarefas de pareamento Típico e Multimodelo; e (2) avaliar o efeito da ordem de exposição as tarefas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo no desempenho dos participantes. Método Participantes Participaram do estudo vinte e quatro pessoas com diagnóstico de autismo, com idades entre cinco a treze anos, matriculadas na rede regular de ensino: quatro do sexo feminino e vinte do sexo masculino. Dezessete participantes eram provenientes de salas de atendimento educacional especializado de uma instituição pública de ensino da cidade de Teresina (PI), e sete crianças eram atendidas em instituição de ensino privada da cidade de Belo Horizonte (MG). Dentre os participantes apenas quatro não utilizavam a fala para se comunicar e um apresentava deficiência auditiva (Tabela 1). O recrutamento, a seleção dos participantes e os procedimentos experimentais somente foram iniciados após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (CAAE: 21717013.8.0000.5540). Os participantes foram indicados pelos professores a partir dos critérios de seleção que incluíram: diagnóstico prévio de autismo; repertórios básicos para manuseio de computador com a utilização do mouse; ausência de história anterior de participação em 17 pesquisa com o procedimento de pareamento ao modelo; e disponibilidade e autorização dos responsáveis. Antes dos participantes serem expostos aos procedimentos experimentais, o consentimento dos responsáveis para a participação foi requisitado através de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Autorização para Utilização de Imagem e Som de Voz (Anexo 1). Posteriormente, foi realizada a aplicação da escala CARS (Childhood Autism Rating Scale - Schopler, Reichler & Renner, 1988), por meio de uma entrevista com os pais ou cuidadores. A aplicação da escala CARS teve como objetivo identificar o perfil de habilidades gerais dos participantes, uma vez que trata-se de um instrumento padronizado de avaliação para a caracterização do grau de autismo. Considerando que o diagnóstico de autismo dos participantes foi realizado em momentos diferentes e, para muitos deles, na ausência de avaliações periódicas, optou-se pela aplicação da CARS que permite avaliar 15 itens, os quais envolvem habilidades que são comumente ensinadas no contexto de intervenções para pessoas com autismo. Os itens avaliados são: relacionamento interpessoal; imitação; resposta emocional; expressão corporal; uso de objetos, adaptação a mudanças; uso do olhar; uso da audição; uso do paladar, olfato e tato; medo ou nervosismo; comunicação verbal; comunicação não verbal; nível de atividade; grau e consistência da resposta intelectual; impressões gerais (Pereira, 2007). A partir da avaliação desses itens, a pontuação obtida pelo participante é classificada em: Comportamento Apropriado à idade e situação (15 - 29,5), autismo Leve/Moderado (30 - 36,5) e autismo Grave (superior a 37). A Tabela 1 apresenta, para cada participante, a idade, o sexo, a pontuação e a classificação de acordo com a CARS, a presença ou não de repertório verbal vocal, o 18 tipo de instituição na qual o participante estava vinculado, com o respectivo Estado da Federação. Tabela 1. Características gerais dos participantes: idade, sexo, classificação de acordo com a CARS, presença ou não de repertorio verbal vocal e tipo de instituição de ensino/Estado da Federação. Condição Grupo Part. Idade Sexo CARS Fala Instituição Pont. Class. C1 1 P3 8 F 27 C.A Sim Pública (PI) P5 8 F 17 C.A Sim Pública (PI) P6 5 M 32 L/M Não Pública (PI) P9 7 M 20 C.A Sim Pública (PI) P13 7 M 28 C.A Não Pública (PI) P21 10 M 22 C.A Sim Privada (MG) 2 P2a 6 M 26 C.A Sim Pública (PI) P10 9 M 24 C.A Sim Pública (PI) P14 7 M 26 C.A Sim Pública (PI) P17 12 F 27 C.A Não Pública (PI) P18 9 M 36 L/M Sim Privada (MG) P22 10 M 25 C.A Sim Privada (MG) C2 3 P1 6 M 31,5 L/M Não Pública (PI) P7 10 M 23 C.A Sim Pública (PI) P11 13 M 20 C.A Sim Pública (PI) P15 11 M 32 L/M Sim Pública (PI) P19 9 M 30 L/M Sim Privada (MG) P23 6 M 37,5 G Sim Privada (MG) 4 P4 9 M 18 C.A Sim Pública (PI) P8 6 M 31 L/M Sim Pública (PI) P12 10 M 26 C.A Sim Pública (PI) P16 12 M 35,5 L/M Sim Pública (PI) P20 7 M 37,5 G Sim Privada (MG) P24 10 F 22 C.A Sim Privada (MG) Nota. C.A- Comportamentos Apropriado à situação; L/M- Leve/Moderado; e G- Grave a Participante com deficiência audit iva Local, equipamentos e materiais A coleta de dados foi realizada em salas disponibilizadas pelas instituições de ensino, com dimensões aproximadas de 3 x 4 m, arejadas com ventilador de teto e iluminadas por luz natural e artificial. As salas eram equipadas, geralmente, com duas mesas e duas cadeiras, sendo uma cadeira para o participante e outra para o 19 experimentador. As mesas eram posicionadas em um canto da sala, o participante sentava-se na cadeira em frente à mesa com o computador, e o experimentador ficava na cadeira atrás do participante. Na outra mesa eram expostos brinquedos (e.g., carrinhos, bonecos, ursos de pelúcia, bolha de sabão), livros de histórias infantis e vídeos. Para a programação e execução das tarefas experimentais foi utilizado um computador portátil Sony Vaio com tela de 10,3”, processador Intel® Core i5-4200U, 1,6 GHz, memória RAM 750 GB, sistema operacional de 8192 MB e Windows 7. O computador foi acoplado a um monitor LCD (17”) Sony. Foi utilizada uma câmera digital Sony cyber-shot LCD 2,7”, acoplada a um tripé, para a filmagem das sessões. O software Contingência Programada versão 2.0, desenvolvido por Batitucci, L., Batitucci, J., e Hanna, E.S. (2007), foi utilizado para a programação das sessões experimentais e registro dos dados. Esse software permite a programação de tarefas de pareamento ao modelo, a apresentação de estímulos visuais e auditivos e de consequências diferenciais para as respostas corretas e incorretas, e o registro das respostas de seleção dos participantes. Estímulos Foram utilizados estímulos visuais organizados em cinco categorias: 21 Símbolos Abstratos (SA), 27 Figuras em Preto e Branco (FPB), 24 Palavras impressas com uma e duas sílabas (P), 15 Sequências Numéricas de quatro dígitos (SN), 30 Figuras Coloridas (FC), conforme Figura 1. As figuras foram selecionadas em um sítio de acesso livre (Google Imagens) por meio de busca através do nome de cada figura (e.g., “abacaxi”, “picolé”, “cadeira”). Todos os estímulos foram editados no programa Paint 6.1. As palavras e as sequências numéricas foram confeccionados com fonte Times New Roman e tamanho 60. Todos os estímulos foram apresentados no centro de um retângulo branco com 4 x 6 cm. 20 Símbolos Abstratos Figuras em Preto e Branco Palavras Sequências Numéricas Figuras ColoridasEstímulos de Treino (Pareamento Típico e Multimodelo) Estímulos de Teste (Pareamento Típico e Multimodelo) Estímulos de Teste (Tentativas Misturadas) Figura 1. Categorias de estímulos utilizados nas tentativas de treino e teste de Pareamento Típico, Pareamento Multimodelo, e tentativas misturadas. 21 Procedimento Geral O estudo foi composto por duas condições experimentais para avaliar o efeito de dois tipos de procedimento de ensino de relações de identidade: Pareamento Típico e Pareamento Multimodelo. Na Condição 1, os dois procedimentos foram similares aos utilizados no estudo de Gomes (2011) e na Condição 2, nos dois procedimentos de pareamento, Típico e Multimodelo, após a escolha do estímulo de comparação igual ao modelo, era apresentado na tela do computador, na janela onde o estímulo de comparação selecionado estava localizado, um estímulo composto, formado por dois elementos iguais, lado-a-lado. Os participantes foram divididos em quatro grupos, sendo que dois grupos foram expostos à Condição 1 e dois à Condição 2. Cada condição era composta por três blocos de tentativas: Pareamento Típico, Pareamento Multimodelo, e tentativas misturadas de Pareamento Típico e Pareamento Multimodelo. Para controlar a ordem de exposição aos blocos de tentativas, foi realizado o contrabalanceamento entre os grupos de uma mesma condição. Assim, um grupo foi exposto à sequência de tarefas de pareamento Típico-Multimodelo-Misturadas e o outro grupo foi exposto à sequência Multimodelo- Típico-Misturadas (Tabela 2). Tabela 2. Distribuição dos grupos de participantes por condição experimental e ordem das tarefas de Pareamento Típico, Multimodelo ou os dois tipos de pareamento misturados. Condições Típico-Multimodelo-Misturadas Multimodelo-Típico-Misturadas 1 Grupo 1 Grupo 2 2 Grupo 3 Grupo 4 Em todas as condições experimentais foi requerida a respostar de selecionar os estímulos com o uso do mouse (resposta de clicar). Em cada tipo de pareamento (Típico e Multimodelo) foram utilizados conjuntos formados por três estímulos, sendo que 22 ocorria a mudança do conjunto somente após o participante efetuar o pareamento dos três estímulos de cada conjunto. Os blocos de tentativas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo eram formados por dois tipos de tentativas: tentativas de treino e tentativas de teste. Nas tentativas de treino dos blocos de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo foram utilizados os mesmos estímulos. Entretanto, foram utilizados estímulos novos nas tentativas de teste desses blocos e no bloco de tentativas misturadas. Os estímulos utilizados na Condição 1 eram iguais aos estímulos da Condição 2 (Figura 1). Nas tentativas de treino, o experimentador apresentava instruções verbais de como realizar a tarefa e, quando necessário, fornecia ajuda física para o participante emitir as respostas necessárias para executar a tarefa. As respostas corretas resultavam na apresentação da figura de um smile na tela do computador, juntamente com uma sequência de três notas musicais e reforço social provido pelo experimentador. As respostas incorretas eram seguidas por uma tela cinza com um “X” vermelho no centro. Foi utilizado como critério de encerramento do treino, e início das tentativas de testes, três acertos consecutivos em um conjunto de 10 tentativas, sem correção ou ajuda do experimentador. Caso esse critério não fosse atingido, a sessão era repetida por, no máximo, três vezes. Os participantes que não atingiram o critério dos treinos na terceira exposição foram excluídos do estudo. Nas tentativas de teste não foram programadas consequências diferenciais para respostas corretas e incorretas. Reforço social (e.g., “Voc está indo muito bem!” “Bom trabalho!” “Ótimo!”) era, eventualmente, apresentado ao longo das tentativas de teste para manter o engajamento do participante na tarefa, mas sem relação de contingência com acertos ou erros. 23 Em qualquer momento da atividade, uma dica verbal poderia ser utilizada, caso o participante permanecesse por um tempo, de até 15 s, sem emitir uma resposta (e.g., “Qual figura voc vai escolher agora?”). Durante as tarefas, a sessão poderia ser interrompida por até 5 min, caso o participante apresentasse algum comportamento disruptivo (e.g., ecolalias, levantar-se da cadeira, estereotipias motoras). Nessas ocasiões, o experimentador apresentava um brinquedo, oferecia ao participante e estabelecia, pelo menos, duas regras (e.g., “Voc precisa sentar nessa cadeira para poder brincar”, “... responda essa que voc poderá brincar”). Ao final da tarefa no computador o participante era convidado a escolher entre brincar com um dos brinquedos ou assistir a algum dos vídeos infantis disponibilizados sobre uma das mesas. Essa atividade tinha a duração máxima de 5 min e era independente do desempenho na tarefa e da quantidade de acertos. Com cada participante foi realizada apenas uma sessão, com tempo de duração que poderia variar, de 30 a 50 min, em períodos que não comprometiam a participação dos alunos em suas atividades escolares rotineiras. A maioria dos participantes foi acompanhada por um professor auxiliar, ou estagiário de seu convívio, disponibilizado pela instituição, que permanecia sentado em um canto da sala e era instruído a intervir somente se fosse solicitado. A permanência desse auxiliar tinha o objetivo principal de conduzir o participante para a sessão e ajudar, caso necessário, na condução de procedimentos para eliminar ou reduzir a ocorrência de comportamentos disruptivos, já que o experimentador era uma pessoa que não estava presente nas atividades rotineiras da instituição. A seguir serão caracterizadas as tarefas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo de cada condição experimental. 24 Condição 1 Pareamento Típico: As tentativas de Pareamento Típico foram organizadas em um bloco de 20 tentativas, 10 de treino e 10 de teste. Em todas as tentativas, inicialmente era apresentado o estímulo modelo na parte superior da tela do computador (tela a; Figura 2). A resposta de clicar sobre o estímulo modelo resultava na apresentação de três estímulos de comparação na parte inferior da tela (telas a e b). A tarefa do participante consistia em selecionar o estímulo de comparação que fosse idêntico ao modelo. Para os três primeiros pareamentos, o experimentador apresentava instruções verbais (e.g., “Primeiro voc clica nessa figura aqui”; “agora vamos encontrar a figura igual aqui embaixo”; “então voc clica aqui”), à medida que apontava para os estímulos na tela que deveriam ser selecionados (primeiro o estímulo modelo e depois o de comparação) e, quando necessário, fornecia ajuda física para a resposta de clicar. Nas tentativas seguintes as dicas e ajuda física eram gradualmente removidas e utilizadas somente se necessário. Respostas corretas e incorretas resultavam na apresentação de consequências diferenciais (telas c e g, respectivamente), por 1,5 s, e, posteriormente, eram seguidas pelo intervalo entre tentativas (ITI) de 1,5 s (telas d e h) e por uma nova tentativa. Após atingir o critério de 100% de acerto com três conjuntos de estímulos distintos, ou seja, parear corretamente três estímulos de comparação com os respectivos modelos de cada conjunto, era iniciado o teste. Nas tentativas de teste, não eram apresentadas consequências diferenciais para acerto ou erro e cada resposta de seleção de uma das comparações resultava na apresentação do ITI por 3,0 s. 25 Figura 2. Tentativas de treino de Pareamento Típico da Condição 1. No painel superioré apresentada a sequência de telas (a, b, c e d) para uma resposta de seleção correta e no painel inferior, a sequência de telas (e, f, g e h) para uma resposta incorreta. Cada resposta de clicar é indicada por uma seta preenchida na cor azul. A figura do altofalante indica a apresentação de sons de notas musicais e de reforço social (por parte do experimentador). Pareamento Multimodelo: As tentativas de Pareamento Multimodelo eram apresentadas em um bloco de 20 tentativas, sendo 10 de treino e 10 de teste. Para cada conjunto de três estímulos, eram apresentados, inicialmente, três estímulos na coluna à esquerda (modelos) e três estímulos fixos na coluna à direita da tela (comparações). A tarefa do participante consistia em clicar sobre um dos estímulos da coluna da esquerda e, posteriormente, selecionar o estímulo igual na coluna da direita. Na primeira tentativas de treino o experimentador apresentava instruções verbais (e.g., “Primeiro você escolhe e clica em uma figura deste lado”; “agora voc precisa encontrar a figura igual nesse outro lado”; “então você clica aqui”), enquanto isso apontava para os estímulos na tela e fornecia ajuda física. Nas tentativas seguintes as dicas e ajuda física eram utilizadas apenas quando necessário. Conforme a Figura 3, a resposta de clicar sobre um dos estímulos da coluna da esquerda (tela a) produzia a sua remoção e posterior apresentação na janela superior central da tela (tela b). A seleção do estímulo da coluna da direita (tela b) igual ao da coluna da esquerda, previamente selecionado, resultava na apresentação das consequências para respostas corretas (tela c): um estímulo composto formado por dois elementos iguais juntamente com a apresentação da figura de um smile, acompanhado por notas musicais. Posteriormente, eram 26 apresentados os estímulos modelos ainda não pareados na coluna da esquerda e os três estímulos da coluna da direita (tela d), ou seja, cada estímulo corretamente pareado era removido da coluna da esquerda. O painel central da Figura 3 apresenta a disposição dos estímulos após a seleção correta do segundo estímulo da direita igual ao da esquerda (tela e) e o pareamento correto do terceiro estímulo do conjunto formado pelas figuras: martelo, boné e maçã (telas e, f e g). Posteriormente, eram apresentadas as consequências para a finalização dos três pareamentos: tela contendo três estímulos compostos na coluna da esquerda, a figura de um smile na parte central, acompanhado por notas musicais e reforço social por parte do experimentador (tela h), por 1,5 s, e posteriormente, por uma nova tentativa. Respostas de seleção de um estímulo da coluna da direita incorreto (telas i e j) resultavam na apresentação de um “X” no centro da tela (tela k), por 1,5 s, seguido da reapresentação dos estímulos de acordo com a disposição em colunas que precedeu a seleção incorreta (tela l). Não foi utilizada tela de ITI após as telas de consequências para respostas corretas, incorreta e de finalização dos três pareamentos com o objetivo de tornar a tarefa mais dinâmica, o que permitiu reduzir a duração da tarefa de pareamento dos três estímulos de cada conjunto. Figura 3. Tentativas de treino de Pareamento Multimodelo da Condição 1. O painel superior apresenta a sequência de telas para o pareamento correto do primeiro estímulo (telas a, b e c), e a tentativa seguinte na qual o estímulo pareado corretamente foi removido da coluna da esquerda (tela d); no painel central são apresentadas as telas para o pareamento correto do terceiro estímulo (telas e, f e g) e da tela de consequências 27 para os três pareamentos corretos (tela h); e no painel inferior é apresentada a sequência de telas para o pareamento incorreto do segundo estímulo (telas i, j e k), seguida da apresentação dos estímulos nas colunas, com a mesma disposição que precedeu a resposta incorreta (tela l). Nas tentativas de teste, cada resposta de pareamento (seleção de um estímulo da coluna da esquerda e de um estímulo da coluna da direita) resultava na apresentação da tela de ITI por 1,5 s, seguida de uma tela contendo os estímulos ainda não pareados, mas sem a apresentação dos estímulos previamente selecionados, de modo similar ao que ocorria nas tentativas de treino (tela d). Ao término do pareamento dos três estímulos de cada conjunto era apresentada a tela de ITI por 3,0 s. Tentativas misturadas de teste de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo: As 10 tentativas de teste de Pareamento Típico e as 10 de Pareamento Multimodelo eram apresentadas de forma randômica. As tentativas desse teste apresentavam as mesmas características das tentativas de teste de Pareamento Típico e Multimodelo previamente descritas. Entretanto, foram utilizados estímulos diferentes para a composição dos 10 conjuntos de três estímulos de cada tipo de tarefa de pareamento (conforme Figura 1). Condição 2 Pareamento Típico: As tentativas de treino de Pareamento Típico da Condição 2 apresentavam características similares às do Pareamento Típico da Condição 1. Entretanto, nas tentativas de treino da Condição 2 (Figura 4), cada resposta de seleção do estímulo de comparação igual ao estímulo modelo, resultava na apresentação das consequências para acerto da Condição 1 com o acréscimo de um estímulo composto formado por dois elementos iguais (o modelo e a comparação previamente pareados), que indicava a formação do par (telas a, b e c). Posteriormente, era apresentado o ITI de 1,5 s (tela d). Após completar o pareamento dos três estímulos de um mesmo conjunto (telas e, f e g; painel central), eram apresentadas as consequências para a finalização dos 28 três pareamentos (tela h): três estímulos compostos na parte inferior da tela (três pares com elementos iguais), juntamente com a figura do smile, sons de notas musicais e reforço social. Posteriormente, era apresentado o ITI de 1,5 s (tela d), seguido por uma nova tentativa. Respostas incorretas resultavam na apresentação de um “X” na parte central de tela por 1,5 s e a seguir pelo ITI (telas i, j, k e l). As tentativas de teste da Condição 2 apresentavam as mesmas características das tentativas de teste da Condição 1, previamente descrita. Entretanto, para manter o mesmo intervalo entre o término de uma tentativa e o início da próxima utilizado nas tentativas de treino, após o pareamento do terceiro estímulo de cada conjunto foi utilizado um ITI era de 3,0 s. Figura 4. Tentativas de treino de Pareamento Típico da Condição 2. No painel superior é apresentada a sequência de telas para uma resposta de seleção correta (telas a, b, c e d); no painel central, a sequência de telas para o terceiro pareamento (telas e, f e g), com a consequência para o pareamento correto dos três estímulos de um mesmo conjunto (tela h); e no painel inferior, a sequência de telas para uma resposta incorreta (telas i, j, k e l). Pareamento Multimodelo: As tentativas de treino de Pareamento Multimodelo da Condição 2 apresentavam características similares às do Pareamento Multimodelo da Condição 1. Entretanto, após cada resposta de seleção correta do estímulo da coluna da direita igual ao estímulo da coluna da esquerda previamente selecionado (Figura 5 - telas a, b e c), era apresentado um estímulo composto formado por dois elementos iguais (os estímulos pareados) na coluna da esquerda (tela d - um estímulo composto; tela e – 29 dois estímulos compostos). No painel central, é ilustrada a sequência de telas do pareamento correto do terceiro estímulo do conjunto formado por martelo, maça e boné (telas e, f e g) e na tela h as consequências para o pareamento correto dos três estímulos de um mesmo conjunto. No painel inferior é apresentada a sequência de telas para o pareamento incorreto do segundo estímulo (telas i, j, k), seguida da reapresentação dos estímulos deacordo com a disposição em colunas que precedeu a seleção incorreta (tela l). Nas tentativas de teste, independente de acerto ou erro, após cada resposta de pareamento era apresentada a tela de ITI 1,5 s, seguida da apresentação, por 1,5 s, de uma tela contendo retângulos em branco no lugar dos estímulos da coluna da esquerda (modelos) previamente selecionados. Figura 5. Tentativas de treino de Pareamento Multimodelo da Condição 2. No painel superior é apresentada a sequência de telas para o pareamento correto do primeiro estímulo (telas a, b e c), e a tentativa seguinte com a inclusão do estímulo composto, com dois elementos iguais (pareados corretamente) na coluna da esquerda; no painel central são apresentadas as telas para o pareamento correto do terceiro estímulo (e, f, g); e a tela h apresenta as consequências para os três pareamentos corretos (h); e no painel inferior são apresentadas as telas para a resposta de pareamento incorreto do segundo estímulo (telas i, j e k), seguida da apresentação dos estímulos nas duas colunas, com a mesma disposição que precedeu a resposta incorreta (tela l). Em todas as tentativas de treino e teste com os procedimentos de Pareamento Típico e Multimodelo da Condição 2 os estímulos compostos eram inoperantes, não 30 produziram alteração na tela e as respostas de seleção não eram registradas como acerto ou erros. Tentativas misturadas de teste de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo: Esse teste foi composto por 10 tentativas de Pareamento Típico e 10 tentativas de Pareamento Multimodelo da Condição 2, apresentadas de maneira randômica. Esse teste apresentava as mesmas características do teste de tentativas misturas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo da Condição 1. Resultados A coleta de dados teve duração mínima de 30 min e máxima de 60 min, tempo esse que dependia do tempo de tolerância do participante para permanecer sentado, interagir com o experimentador e realizar a atividade no computador. Serão analisadas a quantidade de exposições necessárias para atingir o critério nas tentativas de treino e a porcentagem de acerto nas tentativas de teste dos participantes de cada grupo, de acordo com a condição experimental a que foram expostos. Para os dados de teste serão analisados os desempenhos individuais nos blocos de tentativas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo apresentadas separadas e misturadas. Serão também comparadas a porcentagem média de acerto na Condição 1 (grupos 1 e 2) e na Condição 2 (grupos 3 e 4). Para os participantes que apresentarem porcentagem de acerto inferior a 30% nos testes, serão categorizadas e analisadas as respostas incorretas e irrelevantes para a tarefa. A Tabela 3 apresenta a quantidade de exposições a tentativas de treino necessárias para que os participantes atingissem o critério de três acertos consecutivos, em um conjunto de dez tentativas, nos blocos de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo, para os grupos de participantes das condições 1 e 2. Pode-se verificar que ocorreram mais exposições ao bloco de treino de Pareamento Multimodelo do que de 31 Pareamento Típico nas duas condições, sendo que a quantidade de exposições variou de 1- 3. Na Condição 1, dois participantes do Grupo 1 (P6 e P13) foram expostos duas vezes aos blocos de treino de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo, e um participante do Grupo 2 (P18) necessitou de três exposições para atingir o critério nas tentativas de treino de Pareamento Multimodelo. Na Condição 2, três participantes (P1 e P23 - Grupo 3; P8 - Grupo 4) foram expostos duas vezes ao treino de Pareamento Multimodelo. Tabela 3. Quantidade de exposições para atingir o critério nas tentativas de treino dos blocos de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo, para cada grupo de participantes das condições 1 e 2. Condição Grupo Participante Exposição P. Típico P. Multimodelo 1 1 P3 1 1 P5 1 1 P6 2 2 P9 1 1 P13 2 2 P21 1 1 2 P2 1 1 P10 1 1 P14 1 1 P17 1 1 P18 1 3 P22 1 1 2 3 P1 1 2 P7 1 1 P11 1 1 P15 1 1 P19 1 1 P23 1 2 4 P4 1 1 P8 1 2 P12 1 1 P16 1 1 P20 1 1 P24 1 1 32 As Figuras 6 e 7 apresentam a porcentagem de acerto nas tentativas de teste dos blocos de Pareamento Típico (barras pretas) e de Pareamento Multimodelo (barras cinza), apresentados separadamente (gráficos à esquerda), e no bloco de tentativas misturadas dos dois tipos de pareamento (gráficos à direita), para os grupos 1 e 2 da Condição 1 e para os grupos 3 e 4 da Condição 2, respectivamente, de acordo com a ordem de exposição aos dois tipos de tarefas de pareamento de identidade. Na Condição 1 (Figura 6), verifica-se que, para as tentativas separadas (gráficos à esquerda), os participantes dos grupos 1 e 2 apresentaram porcentagem de acerto igual ou maior nas tentativas de teste de Pareamento Típico do que nas tentativas de Pareamento Multimodelo (gráficos à esquerda), independente da ordem de exposição aos blocos. Pode-se observar que, nas tentativas de Pareamento Típico, cinco participantes do Grupo 1 (P3, P5, P9, P13 e P21) e três do Grupo 2 (P2, P14 e P22) apresentaram 100% de acerto. Nas tentativas de Pareamento Multimodelo, quatro participantes apresentaram porcentagem de acerto inferior a 50%, sendo um do Grupo 1 (P6), que realizou primeiro o bloco de tentativas de Pareamento Típico, e três do Grupo 2 (P14, P17 e P18), que realizaram primeiro o bloco de tentativas de Pareamento Multimodelo. Apenas P18 (Grupo 2) apresentou desempenho inferior a 50% de acerto nas tentativas de Pareamento Típico. No bloco de teste com os dois tipos de tentativas de pareamento misturadas (gráficos à direita), os desempenhos dos dois grupos foi similar aos desempenhos nas tentativas de pareamento Típico e Multimodelo que foram apresentadas em blocos separados (gráficos à esquerda): Porcentagem de acerto maior ou igual nas tentativas de Pareamento Típico. Cinco participantes do Grupo 1 (P3, P5, P9, P13 e P21) e quatro do Grupo 2 (P2, P10, P14 e P22) apresentaram porcentagem de acerto superior a 85% de acerto nas tentativas de Pareamento Típico. Verifica-se que um participante (P14 - 33 Grupo 2) aumentou a porcentagem de acerto nas tentativas de Pareamento Multimodelo no bloco com tentativas misturadas em relação ao bloco com apenas tentativas de Pareamento Multimodelo, enquanto que três participantes (P6 - Grupo 1; P17 e P18 - Grupo 2) mantiveram desempenhos igual ou inferiores a 40% de acerto. Figura 6. Porcentagem de acerto nos blocos de teste com tentativas separadas de Pareamento Típico e Multimodelo (gráficos à esquerda) e no bloco de teste com os dois tipos de tentativas misturadas (gráficos à direita) da Condição 1. No painel superior são apresentados os gráficos dos participantes do Grupo 1, expostos a sequência de tentativas de pareamento Típico-Multimodelo-Misturadas e no painel inferior, os gráficos do Grupo 2, expostos a sequência Multimodelo-Típico-Misturadas. O desempenho dos participantes dos grupos 3 e 4 na Condição 2 (Figura 7), foram similares ao dos participantes da Condição 1. A porcentagem de acerto nas tentativas de Pareamento Típico foram iguais ou maiores que nas tentativas de Pareamento Multimodelo, tanto nos blocos com tentativas separadas (gráficos à esquerda) como nos blocos com tentativas misturadas (gráficos à direita), independente 34 da ordem de exposição. Pode-se verificar 100% de acerto nas tentativas de Pareamento Típico e de Pareamento Multimodelo isoladas (gráficos à esquerda) e misturadas (gráficos à direita), para três participantes do Grupo 3 (P7, P11 e P15) e três do Grupo 4 (P4, P16 e P24), sendo que para P12 apenas com tentativas misturadas. Porcentagem de acerto igual ou inferior a 60% ocorreu somente nas tentativas