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Cuppari – 4ª edição A obesidade é uma doença crônica e multifatorial, que inclui fatores nutricionais, aspectos genéticos, metabólicos, culturais dentre outros. Considerada um fator de risco para outras doenças crônicas não transmissíveis, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e cânceres. ___________________________________________ SOBREPESO: aumento exclusivo da massa corporal OBESIDADE: excesso de adiposidade (gordura) ___________________________________________ ETIOLOGIA Um doença influenciada por fatores genéticos, ambientais, socioculturais e comportamentais. Sendo os fatores genéticos mais importantes, quando o pai e mãe são obesos, a criança tem 80% de risco de ser obesa, caso nenhum seja, o risco fica em 9%. ___________________________________________ “ A relação entre obesidade e microbiota segue em estudo. Sabe- se até então que, indivíduos obesos apresentam redução nas bactérias do tipo bacteroidetes e maiores concentrações de firmicutes. ___________________________________________ COMORBIDADES ASSOCIADAS A obesidade compõe um grupo de doenças heterogêneas de distúrbios, todos associados ao excesso de peso. As possíveis complicações são: ⇒ Resistência à insulina: é a ausência de uma resposta fisiológica dos tecidos periféricos à sua ação, resultando em alterações metabólicas e hemodinâmicas. Determinante na fisiopatologia das doenças metabólicas. ⇒ Risco cardiovascular: a obesidade se torna um fator de risco independente. Além da forte associação com hipertensão arterial, dislipidemias e intolerância à glicose. ⇒ Dislipidemia: um dos primeiros fatores de risco a surgir em jovens obesos. Deve-se avaliar triglicerídeos, HDL, LDL, colesterol total e colesterol não HLD. O consumo de álcool é associado à níveis elevados de triglicerídeos. ⇒ Diabetes mellitus tipos 2: o excesso de ganho de peso em adultos, é relacionado a maiores índices de DM. Sendo o continuo ganho de peso, empecilho para o controle da glicose. ⇒ Hipertensão arterial sistêmica: os mecanismos relacionados incluem retenção do sódio, aumento da atividade do sistema nervoso simpático, disfunção endotelial vascular e resistência à insulina. ⇒ Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS): é a repetida obstrução das vias aéreas superiores. Tipicamente identificada pelo ronco, sonolência diurna e pausas respiratórias durante no sono. Sendo mais comum em obesidade classe III. ⇒ Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA): caracteriza- se como um estágio inicial de outras patologias. Ocorrendo pelo deposito de gordura nos hepatócitos de parênquima hepático. A hepatomegalia se apresenta em 75% dos portadores de obesidade. ⇒ Síndrome metabólica: caracterizado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular, relacionados ao deposito central de gordura e resistência à insulina. Sendo a circunferência abdominal um fator agravante, unindo-se a pressão arterial, triglicerídeos, HDL-c e glicemia em jejum. ___________________________________________ DIAGNOSTICO O diagnóstico deve considerar a magnitude da massa adiposa, avaliando a proporção e localização do excesso de gordura. Com a avaliação antropométrica determina-se a massa, localização, forma, tamanho e grau de adiposidade, usando as medidas de peso, estatura, circunferências do quadril, cintura, cabeça, punho, pescoço e pregas cutâneas para estimar o risco relativo a enfermidade. Sobre as medidas antropométricas: - Peso corporal: é o somatório de todos os componentes do corpo. Sendo necessária uma avaliação da composição corporal total. Para obter o “peso ideal”, calcula-se a compleição física: Compleição física = Estatura (cm)/ circunferência do punho (cm) TABELA DE CLASSIFICAÇÃO Sexo Grande Média Pequena Homens < 9,6 9,6 – 10,4 > 10, 4 Mulheres < 10,1 10,1 - 11 > 11 - Índice de massa corpórea (IMC): as relações de peso-estatura apresentam grande precisão, ofertando menor margem de erro durante a interpretação. O uso do IMC se apresenta como formula simples e rápida para detectar obesidade. Mas, é incapaz de informar a distribuição e proporção entre massa gordurosa e muscular. Ressalta-se que IMC elevado nem sempre é indicativo de obesidade. TABELA DE CLASSIFICAÇÃO DO IMC Classificação Pontos de corte Risco de comorbidades Normalidade 18,50 – 24,99 Médio Sobrepeso > 25 Aumentado Pré-obesidade 25 – 29,99 Aumentado Obesidade > 30 Moderado Obesidade I 30 – 34,99 Moderado Obesidade II 35 – 39,99 Grave Obesidade III > 40 Muito grave - Distribuição regional de gordura: na obesidade, o excesso de adiposidade dependem de sua magnitude e de sua localização anatômica, originando tipos de obesidade e riscos relacionados: Obesidade periférica/ ginoide/ ginecoide: com excesso de gordura nos quadris, com risco elevado de artroses e varizes; Obesidade generalizada/ difusa/ mista: depósitos de gordura distribuídos pelo corpo, com risco elevado de doenças cardiovasculares, endócrinas e musculoesqueléticas. Obesidade central/ troncular/ androide: maior concentração de gordura visceral, o risco se eleva para doenças cardiovasculares e metabólicas. Sendo considerado, o tipo que oferta maiores riscos à saúde. - Circunferência abdominal: é o diâmetro do ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela. Sendo um forte indicador de riscos à saúde, principalmente ao risco cardiovascular. - Razão cintura-estatura (RCE): é a medida da circunferência abdominal dividida pela estatura. O ideal é que a circunferência abdominal seja metade da estatura. Conseguindo determinar melhor os fatores de riscos cardiometabólicos. - Analise da composição corporal: as pregas cutâneas não devem ser usadas em casos de obesidade mórbida, pela dificuldade em realizar corretamente as medidas. Nesses casos, recomenda-se bioimpedância elétrica, ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética. - Circunferência do pescoço (CP): pode ser usada na triagem para detecção de excesso de peso e marcador de adiposidade central. Está associado à maiores riscos de doenças cardiovasculares, infarto agudo do miocárdio, altas concentrações de LDL-c, hipertensão arterial, hiperglicemia e síndrome da apneia obstrutiva do sono. Além de indicar a obesidade visceral e resistência a insulina. Quanto maior a CP, maior o risco de morbidades associadas. - Avaliação metabólica: o balanço energético se dar pela diferença entre a quantidade de energia metabolizável ingerida (VET) e a quantidade de energia gasta (GET). Pode ser um balanço neutro, positivo ou negativo. Para chegar ao resultado usa-se as equações preditivas. TRATAMENTO CLINICO DA OBESIDADE O tratamento clinico requer uma integração de diversas especialidades, objetivando a melhora na qualidade de vida e parâmetros clínicos, metabólicos e nutricionais. O uso de medicações e cirurgia bariátrica indica-se apenas em casos mais graves. - Tratamento farmacológico: indicado apenas em casos que se encaixem nos critérios: Insucesso nas intervenções mais simples; IMC > 30 kg/m2; IMC > 25 ou > 27 kg/m2, associados a comorbidades; IMC normal com presença de obesidade visceral. Atualmente, existem 3 tipos de medicamentos liberados para uso no Brasil: - sibutramina: atua no bloqueio da receptação de noradrenalina e serotonina, reduzindo a ingesta alimentar. Indicado para pacientes sem doenças cardiovasculares. Seus principais efeitos são: taquicardia, palpitações, constipação intestinal, boca seca, insônia e sudorese. - orlistate: é um inibidor de lipases gastrintestinais. Contribuindo para redução na absorção de gordura, eliminando-a pelas fezes. Quando há excesso do consumo de gorduras, o medicamento tem efeitos como: esteatorreia, flatulência e urgência fecal. Ressalta-seo monitoramento das vitaminas lipossolúveis, por terem suas absorções reduzidas. A suplementação pode ser indicada. - liraglutida: é injetável, atuando como agonista do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1). Elevando a secreção de insulina na presença de alta da glicose no sangue, retardando o esvaziamento gástrico. Dentre as principais reações estão: náuseas, diarreia ou constipação. As dosagens devem ser progressivas, sendo as doses aumentadas conforme a tolerância do paciente. - Tratamento dietético e nutricional: com abordagem multidisciplinar, considerando as aspectos nutricionais, comportamentais, pratica de atividade física, estado emocional e demais fatores. Nos parâmetros e princípios do manejo nutricionais em casos de excesso de peso inclui: -abordagem comportamental e estratégias nutricionais: plano de ação com foco na mudança de hábitos, promoção da alimentação saudável, pratica de atividade física, avaliação de estágio de mudança comportamental e consumo alimentar. Incluir a abordagem cognitivo- comportamental, priorizando a pratica de atitudes saudáveis e não apenas a perda de peso. - entrevista motivacional: visa trazer à consciência as principais motivações para se aderir ao tratamento. Sendo cada estágio de mudança comportamental, marcado por um tipo de entrevista. - comer intuitivo: são 10 princípios que visam uma relação saudável com a comida: 1. Rejeitar a mentalidade de dieta; 2. Honrar a fome; 3. Fazer as pazes com a comida; 4. Desafiar o policial alimentar; 5. Sentir saciedade; 6. Descobrir o fator de satisfação; 7. Lidar com as emoções sem usar comida; 8. Respeitar seu corpo; 9. Exercita-se e sentir a diferença; 10. Honrar a saúde. Ainda sobre as abordagens comportamentais inclui-se o comer com atenção plena, o qual consiste em dar atenção ao ato de se alimentar, evitando distrações, mastigando mais os alimentos e sentindo o momento. O controle de estímulos trata das fontes negativas que podem interferir no tratamento, os possíveis gatilhos que perpetuam os transtornos alimentares. E automonitoramento que consiste basicamente em, anotar ou tirar foto de todas as refeições, afim de identificar possíveis erros. - avaliação nutricional: deve-se iniciar pelo histórico clinico, diagnósticos e intercorrências já ocorridas, relacionando-os ao estado nutricional atual. Posteriormente, descrever o perfil do paciente, grau de obesidade, tipo de distribuição de gordura e presença de comorbidades. Deve-se considerar ainda: Capacidade de ingesta alimentar; Aspecto financeiro; Rotina e hábitos de vida; Mudanças corporais recentes; Uso de medicações; Transtornos alimentares; Déficits nutricionais; Alergias e intolerâncias alimentares. ___________________________________________ DESENVOLVIMENTO DO PLANO NUTRICIONAL As metas, bem como todos os processos, devem ser individualizados, voltados a melhora dos indicadores metabólicos (perfil glicêmico, lipídeos plasmáticos...). Sendo o sucesso alcançado pela manutenção dos resultados. Um processo de emagrecimento tem maiores chances de sucesso quando: 1. Se individualiza a velocidade de parda de peso ao ajuste fisiológico; 2. Manutenção das mudanças comportamentais; 3. Pratica-se e mantém uma rotina de atividades físicas. PLANOS DE RESTRIÇÃO ENERGÉTICA O conteúdo ideal de nutrientes deve ser: Carboidratos: 55 a 60% do VET; Proteínas: 15 a 20% do VET (não menos que 0,8g/kg/dia); Gorduras: 20 a 25% = 7% saturadas; 10% poli-insaturadas e 13% monoinsaturadas; Fibras: 20 a 30g/dia; Colesterol: menos que 300 mg/dia; Refeições distribuídas em 5 ou 6 vezes ao dia. Tipos de restrições que podem ser aplicadas, todas devem ser calculadas segundo a situação biológica: - restrição energética moderada: o é ideal reduzir progressivamente a ingestão. Deve-se fornecer de 15 a 20 kcal/kg do atual peso; - restrição de baixo valor energético: entre 800 a 1.200 kcal; indicada para casos onde não houve perda significativa de peso; - restrição de muito baixo valor energético: dietas abaixo de 800 kcal/dia; indicada para casos de necessidade de rápida perda de peso. ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL Instruir o paciente a manter a própria deita: ensinar a utilizar receitas saudáveis, orientar sobre porções e preparação dos alimentos; Estimular o paciente a discutir opiniões leigas e palpites; Orientar sobre a pratica de atividades físicas; Orientar sobre o reganho de peso, motivos e como evita-lo; Explanar sobre a importância da mastigação e não pular refeições; Falar que o sucesso no tratamento não é apenas perda de peso. ___________________________________________ TRATAMENTO CIRÚRGICO DA OBESIDADE Nos casos de obesidade grau III, conhecida como mórbida, onde o IMC supera 40kg/m2, a cirurgia de obesidade é indicada. Sendo considerada o método mais eficaz no combate ao excesso de peso e controle das comorbidades associadas. Atualmente, no Brasil, o terceiro pais a realizar tal cirurgia, pode-se realizar 4 tipos delas: - bypass gástrico (BGYR) ou gastroplastia com desvio intestinal em Y-de-Roux; -gastrectomia vertical ou sleeve gástrico(SG); - banda gástrica ajustável; - duodenal switch. A técnica bypass gástrico é a mais utilizada, pela sua baixa morbimortalidade e efeito metabólico. Nessa técnica o estomago é dividido em dois compartimentos por grampeamento, a maior porção é excluída do transito alimentar. A menor parte comportará de 30 a 50 ml, estará diretamente ligada ao um segmento do jejuno. ATENÇÃO DIETÉTICA - Pré-operatório: ofertar um plano de restrição energética, objetivando o emagrecimento antes da cirurgia, se necessário, incluir auxilio medicamentoso. Seus principais objetivos são: - redução de risco cirúrgico; - modificar hábitos alimentares inadequados; - tratar deficiências nutricionais; - preparar e instruir o paciente sobre a alimentação/suplementação no pós-operatório. - Pós-operatório: nos primeiros meses seguintes a operação, a alimentação terá consistência liquida e pastosa. Sendo necessário adequar os valores de fibras, resíduos, gordura dos alimentos e tempo de cocção, visando facilitar a adaptação do novo transito intestinal. Não há consenso quanto a evolução da dieta pós-operatória, havendo variação de dias entre as referências. TIPOS DE DIETA - dieta liquida de prova e liquida mínima de resíduos: primeira etapa após a cirurgia; deve permanecer por 2 a 3 dias; os líquidos devem ser fracionados, com goles bem pequenos e ao longo de todo o dia; composta por agua, agua de coco, chás claros e bebidas isotônicas. Nos próximos 3 ou 5 dias, podem ser ofertados refrescos de frutas naturais bem diluídos e coados, caldos bem cozidos de legumes com temperos naturais e o mínimo de sal. Não deve conter leite ou açúcar, bem como seus derivados. Ambas as dietas devem ser mantidas por máximo 10 dias. - dieta liquida completa: pode durar entre 1 e 2 semanas; as preparações incluem: leite, iogurtes, carnes e outras fontes proteicas, sendo liquidificadas; sem adição de açúcar e os líquidos seguem com ingesta lenta, em pequenas quantidades. Nessa fase pode-se iniciar a suplementação de micronutrientes com polivitamínicos e poliminerais mastigáveis ou líquidos. - dieta pastosa: iniciada poucos dias antes de completar do procedimento; as preparações já incluem carnes desfiadas, arroz e macarrão bem cozidos, purês de legumes, evitando ainda altas densidades calóricas. As refeições devem ser iniciadas pela proteína, respeitando o processo absortivo do paciente e adaptação a nova dieta. - dieta branda: os alimentos podem ser servidos em sua consistência solida, com limitação de fibras e lipídeos, sendo a quantidade ofertada de acordo com a capacidade do paciente.Em alguns casos, pode ocorrer intolerância a alimentos ácidos, flatulentos ou preparações mais condimentadas. Geralmente, é mantida por um mês. - dieta normal: não envolve restrições; a dieta segue fracionada, com distribuição normal de macro e micronutrientes, respeitando a capacidade gástrica, mastigando bem os alimentos, afim de evitar casos de vômitos e intolerâncias. Anotações ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________
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