Buscar

Maconaria_no_Brasil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 280 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 280 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 280 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

©2015 Michel Silva (Org.)
Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra 
pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, 
em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a 
permissão da editora e/ou autor.
S5861 Silva, Michel
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade/Michel Silva (Org.). 
Jundiaí, Paco Editorial: 2015.
280 p. Inclui bibliografia. 
ISBN: 978-85-8148-876-9
1. Maçonaria 2. Processos históricos 3. Contribuição social I. Silva, Michel.
CDD: 360
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi feito Depósito Legal
Índices para catálogo sistemático:
Serviço social. Associações e instituições 360
Maçonaria 366.1
Conselho Editorial 
Profa. Dra. Andrea Domingues
Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna
Prof. Dr. Carlos Bauer
Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha
Prof. Dr. Fábio Régio Bento
Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa
Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes
Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira
Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins
Prof. Dr. Romualdo Dias
Profa. Dra. Thelma Lessa
Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt
Av. Carlos Salles Block, 658
Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21
Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100
11 4521-6315 | 2449-0740
contato@editorialpaco.com.br
Sumário
Apresentação.......................................................................................5
Capítulo 1 Michel Silva
Por uma história da Maçonaria no Brasil........................................7
Capítulo 2 Françoise Jean de Oliveira Souza
Organização, Preceitos e Elementos da Cultura Maçônica: 
fundamentos para a introdução aos estudos da Maçonaria.......17
Capítulo 3 Bruna Melo dos Santos
Hipólito José da Costa, a sociabilidade maçônica e a (re) 
construção da memória...................................................................39
Capítulo 4 hiago Werneck Gonçalves
A imprensa maçônica da Corte imperial brasileira na década 
de 1870: alguns apontamentos........................................................57
Capítulo 5 Berenice Abreu de Castro Neves
A Maçonaria no Ceará: “Os intrépidos romeiros do 
progresso”...........................................................................................75
Capítulo 6 Luaê Carregari Carneiro Ribeiro
A Maçonaria e a formação do Partido Republicano 
Paulista............................................................................................103
Capítulo 7 Milena Aparecida Almeida Candiá
“A instrução do povo pelo povo”: a Maçonaria e o movimento 
associativista pela expansão da educação popular no Brasil 
(1870–1889)...................................................................................137
Capítulo 8 Marcelo Freitas Gil
Trabalhadores, Maçonaria e Espiritismo em Pelotas 
(1877-1937).....................................................................................167
Capítulo 9 Marcos José Diniz Silva
“A democracia liberal em face das ideologias dissolventes”: a 
Maçonaria cearense frente à Aliança Nacional Libertadora e 
ao Integralismo em 1935...............................................................189
Capítulo 10 Tatiana Martins Alméri
A Maçonaria na ditadura militar brasileira (1964)....................211
Capítulo 11 Luiz Mário Ferreira Costa
A Maçonaria e a antimaçonaria no interior de Minas Gerais: 
o “Culto ao Dever” em Rio Novo.................................................235
Referências......................................................................................251
Sobre os autores..............................................................................275
5
Apresentação
Este volume reúne um conjunto de textos que sistematizam 
as mais recentes pesquisas acerca da Maçonaria realizadas em 
âmbito acadêmico no Brasil, especialmente nas áreas de His-
tória, Educação e Sociologia. De forma geral, compõem a co-
letânea artigos que se utilizam dos resultados de pesquisas re-
alizados em dissertações de mestrado e teses de doutorado, em 
diferentes estados do país, abordando temas como a relação da 
Maçonaria com diferentes governos, a atuação da instituição na 
imprensa, suas possíveis relações com movimentos sociais, entre 
outras temáticas.
O volume procura, principalmente, ser uma forma de difusão 
dessas pesquisas, que guardam enorme importância para a histó-
ria social e política do Brasil, na medida em que abordam as ações 
de uma das mais antigas instituições atuantes no país. Por outro 
lado, os textos evitam fazer uma propaganda ufanista da Maçona-
ria e, principalmente, estão longe de reproduzir os discursos que 
demonizam a instituição.
Os autores, em sua maioria, são jovens pesquisadores que, ao 
longo de sua atuação acadêmica, enfrentaram todos os problemas 
possíveis em relação à pesquisa sobre a Maçonaria, seja a dii-
culdade em acessar documentos ou pessoas, seja o olhar curioso 
de colegas e amigos que acreditam que falar em Maçonaria se 
resume a investigar conspirações ultrassecretas que supostamen-
te visam à tomada do poder mundial. Se este volume contribuir 
para ajudar as pessoas a olharem a Maçonaria como um fenôme-
no sociopolítico inerente à sociedade moderna, e não como uma 
seita ultrassecreta, terá cumprido um papel fundamental.
Michel Silva (Org.)
6
Este volume constitui-se em uma pequena contribuição que 
tenta lançar algumas luzes para compreender essa complexa ins-
tituição, que, embora controversa, tem papel fundamental para a 
História do Brasil.
Michel Silva
Blumenau, junho de 2014.
7
Capítulo 1
Por uma história da Maçonaria no Brasil
Michel Silva
Na década de 1990, as pesquisas acerca da Maçonaria ganha-
ram força, devido ao crescimento na quantidade de trabalhos rea-
lizados e à qualidade apresentada por estes, geralmente de caráter 
regional, procurando utilizar como fontes ou jornais ou outros 
documentos produzidos pela Maçonaria que estivessem com 
acesso livre em acervos públicos. Assim, se na década de 1990 as 
pesquisas buscaram identiicar a participação da Maçonaria no 
interior dos movimentos de mudança política no século XIX, na 
década seguinte, os pesquisadores procuraram analisar o papel da 
Maçonaria como agente político público em diferentes espaços de 
sociabilidade, como a imprensa, o movimento operário ou mes-
mo a política institucional do século XX1. O período também está 
marcado pelo surgimento de historiadores dentro da própria Ma-
çonaria, mesmo que não tenham alcançado expressão acadêmica2.
No Brasil, entre os escritores maçons que se dedicaram à nar-
rativa histórica, destaca-se nome de José Castellani, autor de uma 
vasta obra, dentre as quais se destaca História do Grande Oriente 
do Brasil, originalmente publicada em 1993. Essa obra aborda a 
1. Entre outros, são destacáveis os seguintes trabalhos produzidos nas Ciências Hu-
manas: Azevedo (2010), Barata (1999), Barata (2006), Colussi (1998) e Silva (2007). 
Entre os trabalhos acadêmicos não publicados, pode-se destacar Alméri (2007), Cos-
ta (2009), Gonçalves (2012) e Santos (2012).
2. Podemos destacar entre os trabalhos produzidos por pesquisadores maçons, todos 
com diferentes formações acadêmicas e proissionais: Castellani (2001), Castellani; 
Carvalho (2009), Costa (1999) e Schüler Sobrinho (1998).
Michel Silva (Org.)
8
trajetória da Maçonaria brasileira nos séculos XIX e parte do XX, 
podendo ser considerado um dos trabalhos mais completos pu-
blicados a respeito da Maçonaria no Brasil. Nessa obra narram-
-se os eventos que marcaram a trajetória do Grande Oriente do 
Brasil (GOB), obediência maçônica nacional mais antiga do país, 
fundada em 1822, e sua atuação em importantes acontecimentos 
políticos e sociais, como a Independência do Brasil (1822), Aboli-
ção da Escravatura (1888), a Proclamação da República (1889), a 
ascensão do governo de Getúlio Vargas (1930) e o golpe civil-mi-
litar (1964). Pode ser considerada uma espéciede “história oi-
cial” do GOB, o qual, inclusive, detém os direitos de publicação.
José Castellani, falecido em 21 de novembro de 2004, exerceu 
os cargos de Secretário de Cultura e Relações Públicas no Grande 
Oriente de São Paulo. No GOB foi Secretário-Geral de Educação 
e Cultura e Presidente do Conselho Federal de Cultura. Fundou 
a Associação Brasileira de Imprensa Maçônica e a Academia Ma-
çônica de Artes, Ciências e Letras. Entre muitos outros textos, 
escreveu os livros A ciência maçônica e as antigas civilizações 
(1980), Os maçons na independência do Brasil (1993) e A ação 
secreta da maçonaria na política mundial (2001).
Em História do Grande Oriente do Brasil, Castellani apresenta 
os acontecimentos considerados mais relevantes desde a criação 
das primeiras lojas maçônicas no Brasil, antes mesmo da fun-
dação do GOB, a consolidação dessa obediência e sua atuação 
política nos séculos XIX e XX, mostrando (e destacando) a par-
ticipação da Maçonaria em diferentes segmentos da sociedade 
brasileira. Em sua narrativa utiliza um tom bastante eloquente e 
apaixonado, evidenciando seu estreito vínculo com a obediência, 
que, nas palavras de José Castellani, foi “partícipe dos grandes 
acontecimentos político-sociais da história do Brasil” (Castellani; 
Carvalho, 2009, p. 20).
Castellani se preocupa em narrar os acontecimentos que con-
sidera “portadores de futuro” relacionados ao GOB, bem como 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
9
sua dinâmica sociopolítica interna e a relação estabelecida entre 
as lojas maçônicas e delas com o restante da sociedade. Segundo 
o próprio Castellani, a obra não “se limita aos fatos e atos inter-
nos”, também “analisando os externos, ou seja, aqueles advindos 
da atividade político-social dos maçons”. O autor também airma 
que entende a Maçonaria como “uma instituição eminentemente 
política, atuando dentro de padrões éticos, consubstanciados na 
própria essência sociológica da política, no sentido da manutenção 
das grandes conquistas sociais da Humanidade e da defesa do libe-
ralismo e das ideias libertárias” (Castellani; Carvalho, 2009, p. 15).
Pode-se perceber a estruturação da narrativa em dois eixos 
paralelos. De um lado, descreve-se o desenvolvimento do GOB 
enquanto obediência maçônica nacional, citando e transcrevendo 
documentos como atas, discursos, boletins, relatórios, publicações, 
entre outros. Por outro lado, identiica-se de que forma a Maçona-
ria atuou em processos políticos relevantes para as mudanças na 
situação política do Brasil, como a Proclamação da República.
O texto de José Castellani foi escrito com bastante luidez. 
Sua narrativa estabelece uma clara diferenciação entre o cotidia-
no da Maçonaria e a política profana, embora procure perceber 
de que forma a ordem está inserida em cada um dos contextos 
especíicos. Mostra-se, por exemplo, que o GOB não saiu ileso do 
golpe civil-militar que derrubou o presidente João Goulart, no 
ano de 1964, ao qual se seguiu vinte anos de ditadura. Embora a 
posição majoritária dentro do GOB, tenha sido de defesa ao mo-
vimento golpista, aderindo ao discurso de que estava em marcha 
uma tentativa golpista por parte dos comunistas, havia maçons 
progressistas que defendiam as reformas de base e a política de 
desenvolvimento econômico baseada na intervenção estatal, pro-
postas pelo presidente João Goulart.
Por outro lado, durante a própria ditadura, o imaginário anti-
comunista que permeou a sociedade brasileira desde a década de 
1920, também se fez sentir na Maçonaria. Um dos antecedentes 
Michel Silva (Org.)
10
da cisão de 1973, considerada uma das mais longas da maçonaria 
brasileira e que deu origem à Confederação Maçônica Brasileira 
(Comab), foi justamente a acusação de “iniltração comunista” 
no GOB. Em 1970, José Castellani, então Secretário de Educação 
e Cultura do GOB, levou ao público maçom um conjunto de efe-
mérides, dentre as quais os aniversários de nascimento de Friedri-
ch Engels e Vladmir Lênin, líderes do movimento comunista de 
suas respectivas épocas. Esse documento motivou a impetração 
de inquérito policial, o que afetou a intimidade das lojas sem que 
os resultados almejados pelos acusadores fossem alcançados, na 
medida em que foi provada a inexistência da suposta iniltração.
Percebe-se na obra de Castellani a predominância de uma 
concepção tradicional de História, na forma de historia magistra 
vitae, ou seja, da história como “mestra da vida”. Inclusive, o livro 
traz como epígrafe uma frase de Marco Túlio Cícero, que airma: 
“a História é a testemunha dos tempos, a luz da verdade, a vida da 
memória, a mestra da vida, a mensageira da antiguidade” (Cas-
tellani; Carvalho, 2009, p. 13). Nessa concepção, criticada desde 
pelo menos o século XIX, “a história seria um cadinho contendo 
múltiplas experiências alheias, das quais nos apropriamos com 
um objetivo pedagógico”, ou seja, “a história deixa-nos livres para 
repetir sucessos do passado, em vez de incorrer, no presente, nos 
erros antigos” (Koselleck, 2006, p. 42).
Essa compreensão da História por parte do autor se eviden-
cia de diferentes formas, como no entendimento de que os do-
cumentos possibilitariam conhecer a verdade acerca do passado. 
Para José Castellani, “diante do complexo drama da história, o 
historiador deve, muito humildemente, compreender e explicar a 
documentação dos arquivos. Fora daí, ele será apenas intelectual 
ou escritor literário” (Castellani; Carvalho, 2009, p. 14). Para o 
autor, os documentos não são fragmentos que, ao trazerem in-
formações acerca de acontecimentos passados, possibilitam ao 
historiador contar uma narrativa o mais verossímil possível. Para 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
11
Castellani, os documentos utilizados como fontes são eles pró-
prios o passado, cabendo ao historiador apenas reproduzir o que 
eles contam. Castellani toma como ponto de partida o desejo de 
escrever a verdade, como se os fatos falassem por si, pressupondo 
que citar uma quantidade abundante de documentos seria garan-
tir uma escrita iel ao que “realmente aconteceu”. Segundo Cas-
tellani, sua obra “apenas registra os fatos e suas consequências, 
sem pretender fazer julgamento dos atos ou dos homens que des-
ilam por suas páginas” (Castellani; Carvalho, 2009, p. 14).
Em sua obra constrói uma narrativa linear, pressupondo que 
a organização cronológica dos documentos e dos fatos garanta 
que a escrita histórica não distorça o passado que se pretende res-
gatar. Portanto, o livro acaba se tornando uma crônica que enu-
mera alguns acontecimentos relacionados ao GOB, narrando os 
fatos tidos como “portadores de futuro” e apresentando uma série 
de documentos que visam provar a veracidade do que é dito. Não 
é, portanto, uma obra histórica que visa problematizar a consti-
tuição e consolidação do GOB enquanto obediência maçônica ou 
a atuação da Maçonaria na política brasileira, mas uma tentativa 
de contar a história de forma panorâmica e neutra, utilizando-se 
da citação iel de documentos e da narrativa linear que se limita a 
apresentar os acontecimentos.
Inclusive, a proposta de trabalhar uma história de quase dois 
séculos, procurando narrar eventos que poderiam “eternizar” os 
homens que os realizaram, pouco dialoga com as inovações histo-
riográicas das últimas décadas. Além disso, tal proposta não ex-
pressa os avanços nas pesquisas a respeito da Maçonaria no Brasil 
realizadas por historiadores maçons ou profanos, destacando-se 
nomes como o de Alexandre Mansur Barata e Eliane Lucia Colussi. 
Nesse sentido, o próprio Castellani alerta que “esta obra não pre-
tende esgotar um assunto presumidamente inesgotável, deixando 
campo aberto para outras, mais abrangentes e especíicas. Por isso, 
ela é sintética, panorâmica” (Castellani; Carvalho, 2009, p. 15).
Michel Silva (Org.)
12
Em âmbito acadêmico, uma síntese da produção bibliográica 
dessas últimas décadas pode ser encontrada no livro O poder da 
maçonaria, escrito peloshistoriadores Marco Morel, doutor em 
História pela Universidade de Paris, e Françoise Jean de Oliveira 
Souza, doutora em História do Brasil pela UERJ. Nessa obra, os 
autores procuram descrever a trajetória da Maçonaria na história 
do Brasil, principalmente nos séculos XIX e XX, enfatizando em 
especial sua atuação política nesse período, “para compreender a 
maçonaria não de uma maneira isolada da sociedade, mas como 
forma de associação presente em diferentes situações históricas” 
(Morel; Souza, 2008, p. 9-10). Trata-se, segundo os autores, de 
uma pesquisa histórica destinada ao leitor que tenha curiosidade 
sobre tema, ao público maçom e a pesquisadores universitários.
O livro estrutura-se em sete capítulos. O primeiro está dedi-
cado à discussão das possíveis “origens” da Maçonaria, mostran-
do, principalmente, a impossibilidade de delinear um momento 
em que surge essa associação e, em especial, como se misturam 
nessa discussão elementos míticos e literários. Nesse capítulo são 
discutidas as tradições esotéricas antigas, as práticas dos pedrei-
ros-livres das corporações medievais, o surgimento das primei-
ras lojas entre os séculos XVII e XVIII, a formação da Grande 
Loja de Londres, as perseguições da Igreja Católica, os mitos dos 
complôs relacionados à Maçonaria, a constituição de narrativas 
antimaçônicas a partir do século XVIII e, nesse período, a ini-
ciação maçônica tanto de nobres e monarcas como de ilósofos e 
revolucionários.
Nos capítulos seguintes discute-se a inserção da Maçonaria 
no Brasil. Os autores discutem, por exemplo, a polêmica de que 
Tiradentes era maçom e de que a Inconidência Mineira teria sido 
um projeto maçônico de emancipação. O terceiro capítulo é de-
dicado à discussão acerca da Independência do Brasil, no qual 
os autores realizam uma revisão historiográica, demonstrando 
a presença de diversas “maçonarias”, suas contradições políticas 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
13
expressas nas divergências entre lideranças como José Bonifácio 
de Andrada e Gonçalves Ledo, além da proliferação de lojas e 
de Grandes Orientes (instituições que reuniam várias lojas) e da 
iniciação de Dom Pedro. Os autores também destacam Muniz 
Barreto, um personagem do movimento de independência pou-
co conhecido, que, diferente dos membros mais conservadores da 
Maçonaria, também foi pioneiro na luta contra a escravidão. Este 
personagem, segundo os autores, “não foi coberto de glória, nem 
em vida, nem pela posteridade: sofreu, após 1822, prisão, perse-
guições e perseverou na pregação maçônica, mesmo quando esta 
se encontrava proibida” (Morel; Souza, 2008, p. 105).
Os autores discutem as atividades maçônicas em associações 
políticas, ilantrópicas, educacionais e econômicas, bem como nas 
próprias lojas maçônicas que, entre outras coisas, possibilitavam 
condições para a ascensão social de mulatos e descendentes de 
escravos que entravam para a Ordem3. Os autores também obser-
vam o acirramento das divergências políticas dentro da própria 
Maçonaria, ao longo do século XIX. Em 1831, conforme destacam 
os autores, registrou-se a existência de cinco Grandes Orientes. 
Entre essas instituições, a principal foi o Grande Oriente do Brasil, 
fundado em 1822, em funcionamento ainda hoje. Outros Grandes 
Orientes se constituíram nas décadas seguintes, como o Grande 
Oriente do Vale dos Beneditinos, sob a liderança de Saldanha Ma-
rinho, em 1863. No interior dessas associações confrontavam-se, 
de um lado, republicanos, abolicionistas e radicais e, de outro, 
conservadores e defensores da neutralidade política dos maçons. 
Por outro lado, na década de 1870, a Maçonaria agregaria à sua 
história a oposição da hierarquia da Igreja Católica, quando esta 
resolveu punir os sacerdotes católicos maçons, episódio conhecido 
como Questão Religiosa. Nesse processo colocava-se outro campo 
de confronto, ainal “a luta maçônica contra o conservadorismo 
3. Essa temática da iniciação maçônica de mulatos e descentes de escravos é discuti-
da em Azevedo (2010).
Michel Silva (Org.)
14
católico acabou por ganhar a simpatia dos segmentos liberais da 
sociedade, o que atraiu muitos desses homens para a iniciação” 
(Morel; Souza, 2008, p. 160). Paralelamente, “do lado católico con-
servador, importantes setores das camadas populares sensíveis à 
pregação clerical ultramontana passaram a compartilhar a repulsa 
à maçonaria” (Morel; Souza, 2008, p. 160).
Os dois últimos capítulos tratam da Maçonaria brasileira 
na República, período no qual, segundo os autores, a Maçona-
ria “tornou-se guardiã da ordem e do progresso” (Morel; Souza, 
2008, p. 179). Uma das consequências disso, na década de 1960, 
se manifestou no que os autores chamam de “guinada conserva-
dora” da Maçonaria (Morel; Souza, 2008, p. 228-36). Trata-se não 
apenas dos esforços de participar das instituições do Estado, mas 
também de intervir politicamente na própria sociedade, seja por 
meio da ilantropia, como vinha fazendo desde o século XIX, seja 
pelo diálogo com ideologias das mais diversas, difundidas nas 
primeiras décadas do século XX, como o anarquismo, o comu-
nismo, o integralismo e as diversas expressões do autoritarismo. 
Por outro lado, certas elaborações nacionalistas produzidas no 
seio da Maçonaria levaram membros da ordem a se aproxima-
rem do discurso conservador das Forças Armadas e da Doutrina 
de Segurança Nacional (DSN) no contexto da Guerra Fria, como 
Golbery do Couto e Silva, maçom e principal ideólogo da Escola 
Superior de Guerra (ESG)4. Em função dessa guinada conserva-
dora, procurou-se reforçar o cuidado com o perigo de uma possí-
vel “iniltração comunista” nas lojas. 
O livro de Morel e Souza apresenta uma contribuição funda-
mental ao campo da historiograia ao apresentar alguns elemen-
tos de estudo acerca da atuação política da Maçonaria no século 
XX, temática pouco estudada nas pesquisas acadêmicas. Muitos 
dos acontecimentos conhecidos desse período foram narrados 
4. Embora não seja citada por Morel e Souza, essa discussão é realizada de forma 
mais aprofundada por Alméri (2007).
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
15
de dentro da Maçonaria, especialmente por meio dos textos com 
pretensões historiográicas, como os de José Castellani.
O livro de Morel e Souza, ao ser escrito a partir de uma pers-
pectiva acadêmica e externa à Maçonaria, conforme esclarecem 
seus autores nas primeiras linhas do livro, consegue escapar da 
narrativa ufanista e parcial escrita por maçons, na qual todas as 
ações empreendidas pelos maçons são encaradas como algo po-
sitivo, mesmo que seja, por exemplo, o golpe de 1964. Os livros 
de Castellani conseguem dar um olhar um pouco mais crítico 
às ações maçônicas, contudo sua narrativa se limitava ao apoio 
aberto a certas tendências políticas internas da Maçonaria, da 
qual era simpático, principalmente a partir da cisão que deu ori-
gem à Confederação Maçônica Brasileira (COMAB), em 1973. 
José Castellani manteve-se como membro do Grande Oriente do 
Brasil durante toda a sua vida maçônica.
Essas duas obras, seja pelo panorama produzido de dentro 
da Maçonaria, seja pela síntese acadêmica, contribuem para as 
pesquisas acerca da Maçonaria. Uma, por apresentar fatos e do-
cumentos aos quais os historiadores acadêmicos não possuem 
acesso. Quanto à outra, organiza e sistematiza os avanços das 
pesquisas da Maçonaria, especialmente a partir das análises que 
tomam como ponto de partida os conceitos de sociabilidade e 
cultura política. Com isso, os historiadores mais jovens podem 
dar novos passos de modo a enriquecer a história da Maçonaria 
no Brasil, não se limitando a descrever os acontecimentos “porta-
dores de futuro”, como pretendia Castellani, mas problematizan-
do os diferentes processos sociais e políticos e as diferentes forças 
que neles atuaram.
Nesse sentido, compreendendo os limites de seu texto, o pró-
prio José Castellani airmou: “Outras obras virão. Outros autores. 
A aprofundar a análise dosfatos antigos e a relatar os novos. Por-
que a história não para!” (Castellani; Carvalho, 2009, p. 15). Essa 
escrita da História, que nos últimos anos possibilitou a numero-
Michel Silva (Org.)
16
sos pesquisadores desenvolver pesquisas de fôlego a respeito da 
Maçonaria, pode aprofundar o conhecimento que temos a respei-
to das contribuições dos maçons brasileiros para a política e para a 
cultura no Brasil, mostrando-os como sujeitos históricos, embora 
tendo o cuidado de não confundir a ação individual de alguns ma-
çons em processos históricos com os momentos em que os ma-
çons coletivamente tomaram posição e atuaram politicamente.
17
Capítulo 2
Organização, Preceitos e Elementos da Cultura 
Maçônica: fundamentos para a introdução aos 
estudos da Maçonaria
Françoise Jean de Oliveira Souza
Introdução
Nas últimas décadas, a Maçonaria tem se tornado objeto de 
estudo de inúmeras áreas do conhecimento. No campo da histó-
ria, a emergência de novos trabalhos nos quais a Maçonaria i-
gura como tema principal de pesquisa apresenta-se como conse-
quência dos avanços obtidos pela renovação da história política. 
Por longo tempo, a política, sob inluência da escola francesa dos 
Annales, esteve relegada à situação de mero apêndice da História. 
Criticada por sua supericialidade, a tradicional história políti-
ca caracterizava-se pela defesa do trinômio: narrativa, crônica e 
acontecimento, estando aprisionada em uma visão centralizada 
e institucional do Estado. Contudo, a partir da década de 1970, 
a política voltou a assumir um lugar de destaque na historiogra-
ia ao tomar para si métodos e abordagens oriundos das ciências 
sociais. Este fenômeno de renovação, chamado de “nova história 
política”, permitiu a abertura dos estudos para novos objetos e 
novos enfoques que, até então, não eram encarados e nem trata-
dos como parte do político. Em meio às inúmeras tendências e 
variações ocorridas nesse movimento de renovação historiográ-
ica, destacam-se algumas temáticas novas, tais como os poderes, 
os saberes enquanto poderes, as instituições supostamente não 
Michel Silva (Org.)
18
políticas, as práticas discursivas (Falcon, 1997), bem como o es-
tudo do político a partir das representações e imaginários sociais, 
das mentalidades, das simbologias e das memórias coletivas.
A renovação dos objetos e das visões da história acerca do 
político tem incitado inúmeros estudos da Maçonaria, sobretudo, 
nas linhas de pesquisa de história e cultura política. Cada vez mais, 
a dimensão política da sociabilidade – característica constituinte 
da Maçonaria – vem sendo apreendida. Antes negligenciada como 
um detalhe da vida privada, o pesquisador da Maçonaria, Maurice 
Aguilhon, defende a sociabilidade como um estimado objeto de 
relexão social, psicológica e política (Aguilhon, 1984). Em con-
sonância com este autor, René Remond reforça a importância de 
a história política abrir-se para pesquisas sobre a sociabilidade, a 
socialização e o fato associativo (Remond, 1998).
Igualmente importantes para a eleição da Maçonaria como 
tema da história política foram os trabalhos que, nesse movimen-
to de renovação historiográica, propuseram abordar as relações 
de poder para além do aparelho do Estado. Encontrado em lu-
gares menos auspiciosos como a família, a escola, os asilos, as 
prisões, ou seja, no cotidiano de cada indivíduo e grupo social, o 
poder deixa de ser percebido como exclusivamente exercido pelo 
Estado para ser visto como algo que permeia todas as relações 
sociais (Foucault, 1979).
Com base no exposto acima, a temática da Maçonaria sur-
ge como mais uma possibilidade de compreensão das inúmeras 
relações de poder que perpassam as sociedades. Ao conigurar 
um modelo de sociabilidade próprio baseado na ilantropia, na 
rede de solidariedade entre os pares, nos juramentos e rituais que 
criam laços de pertencimento, percebe-se, na Maçonaria, a exis-
tência de mecanismos próprios de dominação, constituindo-se 
em um dos espaços, fora do domínio direto do Estado, por onde 
o poder circulava e os homens faziam política.
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
19
Todavia, uma sólida investigação da temática da Maçonaria 
e de suas múltiplas relações com a sociedade e seus espaços de 
poder exige um conhecimento profundo da complexidade da 
natureza maçônica, isto é, dos fundamentos e preceitos desta 
instituição e do processo histórico pelo qual ela se organizou e 
se ressigniicou. Do contrário, incorre-se seriamente no erro de 
tomá-la como uma instituição monolítica, a-histórica e com uma 
capacidade de atuação superdimensionada.
1. Os Preceitos Maçônicos 
A Maçonaria considera a si mesma como uma instituição uni-
versal e composta de um corpo de doutrinas acabadas, que perma-
neceram imutáveis através dos tempos. Entretanto, foi justamen-
te a realidade idiossincrática, assumida pela ordem nas diversas 
partes do mundo, que diicultou, por vezes, a tarefa de demarcar 
o campo conceitual maçônico. Não obstante tal diiculdade, é pos-
sível buscar no texto primeiro da Maçonaria, ou seja, na Consti-
tuição de Anderson, e em vários outros escritos, ideias recorrentes 
que nos apontam os preceitos fundamentais da instituição. Com 
base neste levantamento, identiicamos como principais compo-
nentes desse fundo comum teórico as divisas do progresso, da ra-
zão, da liberdade, da igualdade, da moral e da fraternidade.
Antes, contudo, acreditamos ser importante ressaltar que o 
processo de elaboração das divisas e dos preceitos maçônicos 
encontra-se intimamente vinculado à história sóciopolítica da 
Inglaterra. Já as divergências relativas à interpretação e imple-
mentação deste corpo teórico reletem as turbulências europeias 
dos séculos XVIII e XIX, período no qual formam elaboradas, 
inúmeras e variadas propostas para a civilização humana, bem 
como as diferentes demandas impostas à Maçonaria pelas con-
junturas nacionais. A constituição histórica da Maçonaria nada 
mais é do que fruto da soma destes fatores.
Michel Silva (Org.)
20
Embora o pensamento iluminista do século XVIII tenha se 
desenvolvido em direções várias, podemos perceber, na base das 
investigações cientíicas e ilosóicas da época, algumas ideias re-
correntes. Muito comum era a noção de que o espírito huma-
no, ou a natureza humana, possuía uma estrutura fundamental e 
invariável, independentemente do tempo e do espaço. O caráter 
imutável da natureza humana permitiria não apenas explicar a 
sua essência, mas também chegar, através de uma argumentação 
racional, a conclusões indiscutíveis que prescreveriam aos ho-
mens a melhor forma de se organizarem. À luz desta premissa, 
os fenômenos humanos foram entendidos como sujeitos a leis 
veriicáveis e, logo, susceptíveis de um tratamento similar ao das 
ciências naturais (Gardiner, 1995). 
Ao interpretarem a história humana sob o ponto de vista 
acima descrito, os pensadores iluministas chegaram à conclusão 
de que esta história não poderia ser um mero agregado de fatos 
aleatórios, ao contrário, ela deveria seguir um padrão passível de 
compreensão por meio de leis gerais. Todavia, embora a razão 
tenha sido apreendida como principal instrumento de domínio 
do homem sobre a natureza e, logo, sobre a sua própria histó-
ria, a emancipação das concepções morais e metafísicas não foi 
completa. A crença num padrão teleológico subjacente aos fatos 
da história humana foi explicitamente sustentada. Em conformi-
dade com um modelo préestabelecido, postulava-se que a his-
tória se movia rumo a uma inalidade, a uma direção especial, 
moralmente aceitável. Em síntese, acreditava-se que “o homem 
é ou contém em si mesmo algo e valor absoluto, de modo que o 
processo da natureza, na sua evolução, tem sido um progresso, 
na medida em que tem sido um processo ordenado, conduzindo 
a existência humana” (Collingwood, 1986, p. 386). Surge, daí, a 
fé na perfectibilidade humana e na inevitabilidade do progresso.
O pensamento maçônico, organizado no contexto dasluzes, 
mostra-se herdeiro da crença escatológica do progresso, visto 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
21
que elaborou para si uma cosmovisão que prevê uma idade de 
ouro, quando, enim, o homem atingirá sua plenitude moral. O 
preâmbulo do Código Maçônico brasileiro de 1914 apresenta os 
objetivos da Maçonaria como sendo “o aperfeiçoamento mate-
rial, moral e intelectual da humanidade, por meio da investiga-
ção constante da verdade cientíica, do culto inlexível da moral 
e da prática desinteressada da solidariedade” (Código Maçônico, 
1914, p. 5). Para a Maçonaria, a razão e a ciência são tidas como 
os principais instrumentos que levarão a humanidade a atingir 
um futuro de moral e virtudes que são certos e comuns a todos 
os povos, uma vez que se crê na unicidade da natureza humana. 
Contudo, se os instrumentos que levam ao futuro são de base ob-
jetiva e cartesiana, este futuro utópico a que se acredita chegar é 
essencialmente de caráter subjetivo, uma vez que se sustenta em 
valores (moral e virtude) histórica e culturalmente construídos. 
Além disto, a sociedade maçônica aproxima as modernas crenças 
na razão e na ciência a valores, tais como o respeito à hierarquia e 
o culto ao passado, cuja origem e sustentação datam das tradições 
dos ofícios medievais.
Todavia, mais do que simplesmente acreditar na evolução da 
humanidade rumo a um futuro determinado, a Maçonaria ex-
prime-se como a instituição de vanguarda responsável por guiar 
os homens rumo à civilização. A passagem abaixo elucida bem a 
visão que os maçons nutrem de si próprios: 
A única lei da vida é o progresso: progresso indeinido, su-
cessivo em todas as manifestações do ser, sob todas as fases 
de sua existência.
Cremos que infalivelmente devem cumprir-se as leis do pro-
gresso, porém cremos também que, tendo-nos a missão de re-
alizá-lo como obra nossa, devemos consagrar nossa liberdade, 
utilizando o tempo e o espaço que nos estão cedidos, de manei-
ra que sua aceleração ou atraso dependam de nós, segundo nos-
so mérito ou demérito. (Boletim do GOB, 1872, n° 6, p. 194).
Michel Silva (Org.)
22
Analisando alguns periódicos maçônicos publicados no Bra-
sil, no século XIX, observa-se que a Maçonaria atribuía a si uma 
missão de tamanha importância, ao se apresentar à sociedade 
profana como “A guarda avançada do progresso da humanidade” 
(Boletim do GOB, 1872, n° 6, p. 187), “Anjos Tutelares do Pro-
gresso” (Noticiador de Minas, 1872, n° 422, p. 2), “Estrela Dalva 
que anuncia a madrugada da civilização” (Boletim do GOB, 1873, 
n° 4, p. 237), dentre outros títulos. Tendo conseguido demons-
trar à humanidade os ins aos quais a Maçonaria se propõe, a im-
prensa Maçônica airma que a instituição “[...] se recomendará à 
posteridade por relevantes serviços em prol da civilização” (Bole-
tim do GOB, 1872, n°6, p. 194). Sustentando esta posição, os pe-
dreiros livres assumem o papel de guias, vanguarda e tutores dos 
profanos, acreditando-se conhecedores de uma verdade absoluta 
acerca da humanidade e só acessível aos iniciados nas luzes. Tal 
atitude, além de valorizar o papel da instituição perante a socie-
dade, investe a Maçonaria de poderes, uma vez que esta se torna, 
por princípio, o lugar do saber.
Em consonância com o discurso do progresso, a Maçonaria 
mantém a liberdade de consciência como uma de suas divisas ca-
pitais. Airmando-se como um espaço onde os homens colocam 
suas ideias e opiniões sem nenhuma restrição, a Maçonaria aca-
bou por constituir-se numa escola de formação política, na me-
dida em que permitia e estimulava o livre debate e a deliberação. 
Esta característica da sociabilidade maçônica, aliada ao seu cará-
ter secreto, levou muitos pensadores a procurá-la como abrigo, 
em diferentes contextos de perseguição.
Ressalta-se que a liberdade de consciência preconizada pela 
Maçonaria apresenta-se como corolário do liberalismo inglês, 
surgido no bojo dos embates políticos e religiosos do inal do 
século XVII, e que tinha como pilares a tolerância religiosa e a 
expansão da liberdade civil. O fato de a Inglaterra haver conse-
guido refrear a arbitrariedade do poder político, não obstante este 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
23
ainda estivesse restrito a uma oligarquia, e ter conquistado mais 
liberdade geral do que em qualquer outra parte da Europa, é de 
fundamental importância para a compreensão das razões que le-
varam os primeiros maçons modernos a elaborarem preceitos de 
natureza liberal (Merquior, 1991, p. 16).
A liberdade de culto e a tolerância foram, dos conceitos ima-
nentes à liberdade de consciência, os que mais repercutiram nos 
séculos XVIII e XIX. Evidenciando sua herança moderna e ilumi-
nista, a Constituição de Anderson airma que “seja qual for a reli-
gião de um homem, ou sua forma de adorar, ele não será excluído 
da ordem, se acreditar no glorioso Arquiteto do céu e da terra” 
(Castellani; Rodrigues, 1995, p. 53).
A liberdade de expressar uma fé, bem como de conviver com 
pessoas de credos diferentes foi, sem dúvida, um dos principais 
responsáveis pela espantosa expansão da ordem pelo mundo, bem 
como pelas ferozes críticas a ela remetidas. Não seria equivocado 
airmar que, no contexto setecentista, a Maçonaria constituiu-se 
numa das primeiras instituições ecumênicas do mundo, criando 
um novo espaço de convívio social onde são suspensas as barrei-
ras religiosas que, até então, segregavam os povos e os encerra-
vam em comunidades naturais às quais eles deveriam pertencer, 
sem possibilidade de escolha. Lançavam-se, assim, os fundamen-
tos das futuras organizações internacionais de caráter laico.
Entretanto, a modernidade Maçônica encontra seus limites 
no próprio texto da sua Constituição. Se a maçonaria postula a li-
berdade de culto, por outro lado, ela estabelece que “um maçom é 
obrigado por seu título, a obedecer à lei moral e, se compreender 
bem a arte, nunca será um ateu estúpido, nem libertino irreligio-
so [...]” (Castellani & Rodrigues, 1995, p. 53). Deste modo, um 
dos pré-requisitos para a entrada na ordem é possuir uma religião 
e crer em um princípio criador, expresso na linguagem dos pe-
dreiros livres, como o Grande Arquiteto do Universo. Tal princí-
pio criador não passa por uma visão deísta, baseada na crença em 
Michel Silva (Org.)
24
um Deus sem atributos morais e intelectuais, como apregoavam 
muitos iluministas. Ao contrário, a Constituição de Andersom 
refere-se a um Grande Arquiteto que, baseado em valores e prin-
cípios morais, intervém providencialmente no universo. Por im, 
além da imposição da crença em um princípio teísta, os maçons 
devem prestar juramento sobre o Livro Sagrado da lei. Este, no 
entanto, pode ser a Bíblia, como em geral o é, ou qualquer outro 
livro religioso como o Corão, a Torá, etc.
É fundamental, todavia, não tomar as proposições estabele-
cidas pela Constituição como sendo um relexo da realidade ma-
çônica em seus múltiplos lugares e tempos históricos. No que se 
refere à posição da ordem em relação à religião, por exemplo, esta 
variou conforme a tendência maçônica de cada país, a obediência 
à qual pertencia e o contexto religioso preponderante. A Maçona-
ria francesa, por exemplo, foi considerada irregular pela Grande 
Loja de Londres, por repudiar as exigências de caráter religioso 
e metafísico. Também a Maçonaria portuguesa do século XVIII, 
em parte, afastou-se do cristianismo e do catolicismo tradicional, 
preferindo outras crenças menos organizadas, deuses mais “ilo-
sóicos”, próprios de pensamentos religiosos panteístas (Marques, 
1990, p. 28). Conclui-se, assim, que a relação da Maçonaria com 
a religião mostrou-se possuidora de múltiplas facetas, sendo a 
instituição mais teísta e conservadora nos países britânicos, mais 
laica na França e nos países de sua inluência e, até mesmo, parti-
dária de segmentos religiosos especíicos, como o protestantismo, 
no caso de algumas lojas latino-americanas, no período áureo da 
perseguição católicado século XIX (Bastian, 1990).
A liberdade de consciência ecoou, também, no relaciona-
mento da Maçonaria com a política profana. Na medida em que 
postula o direito dos homens de expressarem-se livremente e di-
vergirem uns dos outros, a Maçonaria acabou acolhendo, em seu 
interior, homens de diferentes convicções políticas. Assim, com o 
intuito de evitar que questões não maçônicas perturbem as boas 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
25
relações entre os obreiros, a Constituição de Anderson proíbe as 
discussões de caráter político dentro das lojas, devendo os ma-
çons submeterem-se às leis do seu país e não tomar parte em ne-
nhuma conspiração ou motim (Castellani; Rodrigues, 1995). 
As lojas britânicas, sempre próximas do trono e da nobreza, 
foram as que mais primaram pela defesa do caráter apolítico da 
instituição e de sua inalidade puramente ilantrópica e ilosói-
ca, embora, em muitos casos, a própria defesa do não compro-
metimento com o jogo político apresente-se como uma maneira 
particular de realizá-lo (Morel, 2001). Entendemos, todavia, que, 
à exceção do caso inglês, este princípio recebeu múltiplas inter-
pretações ao longo da história maçônica, sendo, inclusive, motivo 
para a cisão de muitas obediências.
Antônio H. Marques (1990) argumenta que a sujeição aos go-
vernos estabelecidos foi considerada, por vários maçons, como 
mais de caráter teórico e geral do que prático e aplicável a todos 
os países. Pedreiros livres de diferentes lugares interpretaram tal 
exigência como sendo anacrônica, uma vez que o maçom deve 
defender a legitimidade do poder político. No caso de sistemas 
políticos despóticos, nos quais a liberdade individual e coletiva 
encontra-se cerceada, não só pertenceria ao maçom o direito de 
rebelar-se, como lhe caberia o papel de vanguarda nessa rebelião. 
Assim, enquanto algumas lojas, na tentativa de escapar do con-
trole absolutista, optaram por conquistar a adesão dos monarcas 
e dos nobres à ordem maçônica, outras, por sua vez, apostaram 
numa intervenção política direta, como por exemplo, no caso dos 
movimentos de independência das colônias americanas. O fato é 
que, nas inúmeras disputas políticas que marcaram a história dos 
povos, maçons e Maçonaria encontraram-se presentes nos dois 
lados dos campos de batalha.
Outra divisa bastante propagada pela ordem dos pedreiros 
livres diz respeito às “virtudes” maçônicas. A loja é entendida, 
antes de tudo, como um local de aperfeiçoamento moral de seus 
Michel Silva (Org.)
26
homens. Assim, ao adentrar a ordem, o membro é instruído acer-
ca da “moral universal”, terminologia maçônica referente a um 
conjunto de virtudes as quais se vê obrigado a praticar, tais como 
a bondade, lealdade, honra, honestidade, amizade, tranquilida-
de, obediência, fraternidade, etc (Marques, 1990). A prática das 
virtudes deve reletir-se no modelo de vida adotado pelos ma-
çons fora das lojas. Assim, o maçom virtuoso deve, por exemplo, 
santiicar a família e o lar, sendo um bom pai, um bom ilho ou 
um bom esposo, condenando o vício do jogo e do álcool e insur-
gindo contra a imoralidade das modas e divertimentos nocivos 
(Regulamento Particular da Aug. Bem. e Benef. Loj. Cap. Estrella 
Caldende, 1934). A “moral universal” maçônica, além de preten-
der nortear a conduta dos maçons, é também apresentada como 
parâmetro para a humanidade profana que, ainda em processo de 
evolução, deverá um dia alcançá-la plenamente. Deste modo, as 
lojas maçônicas desejam apresentar-se como um prenúncio des-
se mundo perfeito e virtuoso e, aos olhos do mundo profano, os 
maçons devem possuir uma conduta exemplar. 
A fraternidade, entendida como auxílio mútuo, ilantropia 
e um modo de convívio entre os irmãos, corresponde à virtu-
de mais associada à sociabilidade maçônica. Diz a Constituição 
de Anderson que os maçons devem “praticar a caridade frater-
nal, que é a pedra fundamental, a chave, o cimento e a glória” da 
antiga confraria (Castellani; Rodrigues, 1995). Percebe-se que a 
Maçonaria, apresentada como uma associação de socorro mútuo, 
encontra na fraternidade a essência da instituição. Foi justamente 
esta concepção ampla de uma fraternidade que ultrapassa frontei-
ras internacionais e as barreiras religiosas e culturais que tornou a 
Maçonaria uma organização sui generis no contexto histórico em 
que foi constituída. Finalmente, comportando dois signiicados – 
a ajuda entre os irmãos da ordem e o socorro aos necessitados em 
geral –, a ilantropia subjacente à noção de fraternidade tornou-se 
um instrumento de coesão entre os maçons, bem como a base de 
sustentação da instituição no mundo profano.
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
27
A fraternidade propalada pela Maçonaria dá-se, primeira-
mente, entre os irmãos da ordem. Em caso de vários necessitados 
em igual situação, o ato de caridade deve ter como alvo prioritário 
o iniciado na Maçonaria (Castellani; Rodrigues, 1995). De modo 
geral, a ajuda prestada aos irmãos corresponde ao auxílio material, 
em contexto de carestia, e o socorro às viúvas e órfãos de maçons 
que passaram para o “Grande Oriente Eterno”1. Os maçons vêem-
-se, também, obrigados a acolher, proteger e ajudar da melhor ma-
neira, os irmãos que, devidamente identiicados enquanto mem-
bros da ordem, provierem de outras regiões ou países. Por im, 
a solidariedade maçônica relete-se nas inúmeras outras relações 
estabelecidas entre os obreiros em espaços profanos. Ao fecharem 
acordos comerciais, por exemplo, os pedreiros livres são orien-
tados a darem preferência ao elemento maçônico (Regulamento 
Particular da Aug. Bem. e Benef. Loj. Cap. Estrella Caldende, 
1934). Frente a isto, parece-nos claro que a estrutura de ajuda mú-
tua, criada dentro da ordem maçônica, acabou por representar um 
importante instrumento de cooptação de homens para dentro da 
instituição, o que, por vezes, gerou distorções sobre o verdadeiro 
propósito da iniciação nas lojas (Barata, 1998, p. 159).
A fraternidade entre os irmãos pode também ser entendida 
como uma nova proposta de convívio entre os homens, pautada 
na cordialidade, no respeito e na conduta pacíica dos membros. 
A loja deve ser um lugar de harmonia, sendo proibidos qualquer 
palavra ofensiva e atos que interrompam a reciprocidade das 
boas relações (Castellani; Rodrigues, 1995). Contudo, caso haja 
alguma querela entre os maçons, estas devem ser submetidas a 
um júri maçônico, nunca sendo levadas ao mundo profano. A 
história, todavia, demonstra o quanto este preceito vem sendo 
desrespeitado, não sendo incomum a intervenção da justiça pro-
fana em questões maçônicas, bem como as cisões no interior de 
obediências e lojas. 
1. Terminologia maçônica referente aos casos de falecimento.
Michel Silva (Org.)
28
No que concerne à beneicência para com os não iniciados, 
percebemos a constante colaboração da Maçonaria na implan-
tação de creches, asilos, escolas e hospitais, além da presença de 
maçons no próprio gerenciamento destas instituições, muitas das 
quais, de caráter para-maçônico2. Além da ajuda material, a ca-
ridade maçônica é entendida também como colaboração para o 
aperfeiçoamento intelectual e moral da humanidade. Neste caso, 
cabe aos iniciados levarem as luzes do saber aos despossuídos, 
guiando-os, pela via da instrução, rumo às ideias mais elevadas. 
É importante destacar que a ilantropia conigurou-se como um 
instrumento de aceitação dos pedreiros livre e de sua ordem por 
parte da sociedade, principalmente, em momentos nos quais a 
Igreja radicalizou sua condenação às atividades maçônicas. Por-
tanto, a ilantropia pode ser entendida como um mecanismo de 
divulgação e enaltecimento da ordem que lhe garante um legiti-
mado espaço de atuação. Mais do que isto, ela cria redes de poder 
e laços de clientelismo que garantem a inluência da instituição 
e de seus membros em importantes círculos do mundo profano.
Finalmente, o último preceito maçônico, por nós analisado, 
corresponde ao da igualdade entreos homens. Todos os obrei-
ros, diz a Maçonaria, “consideram-se iguais entre si e irmãos, só 
havendo entre eles as diferenças que decorrem da prática da vir-
tude” (Código Maçônico, 1914, p. 6). A Maçonaria pretende ser 
um espaço de encontro onde os homens veriam anuladas suas 
diferenças provenientes do nascimento, da classe, da religião ou 
da nacionalidade, havendo, como único critério de diferencia-
ção, o mérito individual. Dentro da loja, homens de diferentes 
posições no mundo profano, sentariam, comeriam e cantariam 
juntos, sem distinção. Todavia, vale ressaltar que a dimensão da 
igualdade maçônica encontrou inúmeras oscilações ao longo da 
2. A Instituição par-maçônica caracteriza-se por ser criada, fomentada ou dirigida 
pela Maçonaria e estruturada dentro dos preceitos da ordem, embora possua pro-
fanos dentre seus componentes e seja administrativamente autônoma em relação à 
ordem maçônica.
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
29
história, sendo que as hierarquias e distinções do mundo profano, 
por vezes, reletiram-se no interior das lojas. Antônio H. Mar-
ques, ao analisar a Maçonaria portuguesa do século XVIII, ressal-
ta que a indistinção entre ordens e classes não ocorria de forma 
absoluta. Diz o autor que “a maçonaria portuguesa discriminava 
em termos sociais, surgindo como união entre nobreza, clero e 
burguesia e não como uma sociedade cem por cento democráti-
ca” (Marques, 1990, p. 291), o que, segundo ele, seria consequên-
cia mais da realidade objetiva da sociedade portuguesa naquele 
tempo do que de uma discriminação de princípio.
Os pré-requisitos exigidos para que um homem adentrasse 
na Maçonaria mantiveram, principalmente ao longo do século 
XVIII e XIX, aspectos excludentes, uma vez que seus critérios ul-
trapassavam as questões do mérito pessoal. Segundo o texto da 
Constituição de Anderson, “as pessoas admitidas na qualidade de 
membros das lojas devem ser homens bons e leais, de nascimento 
livre, de idade madura e razoável, de boa reputação, sendo proibi-
do admitir na maçonaria, escravos, mulheres e homens imorais, 
cuja conduta seja motivo de escândalo” (Castellani; Rodrigues, 
1995, p. 41). Aproximando-se do texto citado, a Maçonaria bra-
sileira no século XIX estabelecia como requisitos mínimos para 
pertencer à ordem: ser homem, ter 21 anos de idade, instrução 
primária, reputação de bons costumes, ter ocupação livre e de-
cente, meios suicientes de subsistência, estar isento de crime e 
não possuir nenhum defeito físico (Barata, 1998).
É importante, todavia, não negligenciarmos a dimensão 
histórica da instituição maçônica. Seria anacrônico exigirmos 
que a Maçonaria, nos séculos XVIII e XIX, atribuísse ao conceito 
de igualdade o mesmo sentido que lhe é dado nos dias atuais. É 
preciso termos em mente que as sociedades que elaboraram os dois 
textos acima citados, isto é, a inglesa e a brasileira, encontravam 
limites para a efetiva implantação de novos modelos e valores 
sociais. José Guilherme Merquior, por exemplo, ao analisar o li-
Michel Silva (Org.)
30
beralismo inglês, demonstra que, no século XIX, os privilégios 
aristocráticos ainda não haviam sido completamente superados. 
Do mesmo modo, as elites brasileiras oitocentistas ainda demons-
travam um profundo apego aos valores nobiliárquicos herdados 
da cultura ibérica (Merquior, 1991). Diante do exposto, é possí-
vel airmar que a igualdade preconizada pela Maçonaria, embora 
não tenha sido implementada de modo absoluto, apresentou-se 
como uma proposta inovadora em meio a seu contexto histórico.
Por im, Marco Morel (2001) chama-nos a atenção para a 
verdadeira incoerência do discurso igualitário maçônico. Funda-
mentando-se sobre uma forma aguda de distinção: os iniciados e 
os não iniciados, os que habitam as luzes e os que se mantêm nas 
trevas, a Maçonaria acaba por colocar seus obreiros como quali-
tativamente superiores aos profanos.
2. A maçonaria e sua linguagem simbólica
Diferentemente de outras organizações sociais, não há na 
Maçonaria um conjunto de escritos que contenham e traduzam 
todos os seus preceitos, ilosoias, normas e ritos. Embora a Cons-
tituição de Anderson seja ainda uma referência para a Maçona-
ria e seus estudiosos, a simplicidade e a objetividade de seu texto 
não lhe permitem esgotar toda a riqueza da cultura maçônica. De 
fato, o cerne da ilosoia maçônica vem sendo transmitido e per-
petuado entre as gerações por meio de uma linguagem não tex-
tual, mas, sim, simbólica, baseada em mitos, rituais e alegorias. 
Esta linguagem simbólica constituiu-se no principal instrumento 
pedagógico adotado pela Maçonaria com o propósito de inculcar 
entre seus membros os preceitos e as divisas da ordem.
O corpo simbólico maçônico foi alimentado por elementos 
culturais múltiplos, advindos da cultura grega, egípcia, oriental e, 
principalmente, judaico-cristã. O mito de origem da ordem, bem 
como a base do ritual maçônico, giram em torno do personagem 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
31
bíblico de Hiram, o arquiteto chefe da construção do templo de 
Salomão. Já os graus simbólicos (aprendiz, companheiro e mes-
tre), os ornamentos e insígnias maçônicas (esquadro, compasso, 
prumo, malhete, trolha, etc) aludem à cultura medieval das anti-
gas corporações de construtores (Naudon, 1968). 
Faz-se necessário ressaltar que os mitos, os símbolos e os ritos 
não são privilégios do pensamento e das culturas religiosas. Ao 
contrário, eles correspondem aos ingredientes vitais da civiliza-
ção humana, permitindo-lhe expressar o desejo quase inato do 
homem de saber cada vez mais acerca do mundo e de si próprio. 
Na busca pela compreensão do mundo em sua totalidade, da sua 
signiicação e de sua ordenação de forma coerente, o ser humano 
encontra na simbologia uma forma de falar, ver e sentir dimen-
sões da realidade que são inatingíveis racionalmente e de difícil 
apreensão de modo direto pela consciência discursiva. Em outras 
palavras, a linguagem simbólica exprime, em planos diferentes e 
meios que lhe são próprios, um complexo sistema de airmações 
coerentes sobre a realidade última das coisas (Eliade, 1969).
Diante dos anseios humanos acima referidos, a Maçonaria 
construiu em torno de sua simbologia e da fábula capital de Hi-
ram, não só um mito de origem que explica e legitima sua insti-
tuição, mas, também, uma ilosoia própria que tem como escopo 
dar coerência e propósito à existência do ser humano.
O poder de inluência de um mito sobre uma comunidade 
encontra força na sua ininita repetição, no seu eterno recontar. 
Desse modo, cada vez que se realiza um ritual maçônico, a lenda 
de Hiram é rememorada e sua lição moral introjetada. Na narra-
tiva lendária, os maçons encontram o exemplo de idelidade, de 
nobreza e de respeito às hierarquias, isto é, os valores e virtudes 
que todo membro da ordem deve resguardar:
A lenda de Hiram continua a ser uma das pedras simbóli-
cas da franco-maçonaria atual.[...] Tendo cessado para nós a 
arte operativa (a construção de edifícios materiais) nós, en-
Michel Silva (Org.)
32
quanto mações especulativos, simbolizamos o trabalho de um 
templo espiritual em nossos corações, templo puro e sem má-
cula [...] Essa espiritualização do templo de Salomão é a pri-
meira das instruções da Franco-maçonaria. (Naudon, 1968) 
Os mitos, além de estabelecerem modelos de comportamen-
to, possuem a importante função de legitimar instituições, uma 
vez que constroem uma explicação de suas origens. Relatando 
algo fabuloso, que se supõe acontecido num passado remoto, o 
mito estabelece uma relação de continuidade entre este momento 
fundador, normalmente perfeito, com uma instituição ou socie-
dade do momento presente. No caso da Maçonaria, a legitimi-
dade da instituição é dada por uma narrativa que parte de uma 
referência bíblica – II livro de Crônicas, capítulo 2 – portanto, 
sagrada e irrefutável.
Finalmente, é preciso ressaltar que a linguagem simbólica 
instituídapela Maçonaria, o compartilhamento de rituais, mitos 
e alegorias decodiicadas apenas pelos irmãos da ordem, favorece 
a identiicação e a coesão do grupo. A linguagem simbólica apro-
xima os homens de uma maneira mais eicaz e real do que a lin-
guagem analítica. Para Mircea Eliade (1968, p.13), “se existe uma 
solidariedade total do gênero humano, ela só pode ser sentida e 
“atuada” no nível das imagens”. Em um raciocínio próximo, Eric 
Hobsbawm lembra-nos como o compartilhamento de signos, si-
nais, toques, rituais de iniciação, isto é, de “tradições inventadas” 
que se dão a partir da continuidade com um passado histórico, 
inculcam normas de comportamento e criam sentimentos de 
identidade coletiva (Hobsbawn; Ranger, 1984). 
Frente ao que foi demonstrado até agora, chama-nos atenção 
a complexidade da natureza maçônica. Se, por um lado, entende-
mos a Maçonaria como um espaço propiciador da liberdade de 
expressão, das práticas representativas e do culto à razão, valores 
típicos das sociedades modernas, por outro, encontramos, tam-
bém, uma instituição com uma reinada cultura ritualística e um 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
33
apego às tradições, à mística, à hierarquia e aos princípios mo-
rais. A Maçonaria especulativa é fruto da mistura do pensamento 
medieval, renascentista e iluminista. Diante disto, percebemos a 
coniguração de uma instituição que relete em suas estruturas 
o espírito progressista da época das luzes, ao mesmo tempo em 
que se mantém carregada de valores e simbologias medievais. Os 
preceitos maçônicos são, assim, fruto da interação entre o tradi-
cional e o moderno, o racional e o mítico.
Todavia, não acreditamos haver incoerência nesta consti-
tuição, ao mesmo tempo moderna e tradicional da Maçonaria. 
Tampouco, seu apego à tradição e a um passado místico nega ou 
inviabiliza seu projeto progressista. Inúmeras foram as ideologias 
modernas e progressistas que se inspiraram nos sublimes tem-
pos do começo ou, em outras palavras, poucas foram as visões 
do futuro que não se apoiaram em referências do passado (Gi-
rardet, 1987). A modernidade também necessita estabelecer com 
um passado ou com uma determinada tradição, uma relação de 
continuidade para se legitimar, sendo que, as inovações não se 
tornam menos novas ao revestirem-se de um caráter de antigui-
dade. Diante disto, pessoas ou instituições progressistas, tal como 
a Maçonaria, podem, frequentemente, agir de modo tradiciona-
lista, sem cair em contradição.
3. Cultura e subculturas maçônicas 
Uma instituição formada por um corpo sagrado de crenças e, 
ao mesmo tempo, historicamente remoldável. É assim que deini-
mos a Maçonaria, a partir da análise até aqui realizada.
O estudo da formação e da organização da Maçonaria pelo 
mundo revela-nos uma história marcada por abalos, cisões, ir-
rupções e conlitos. Do mesmo modo, a análise dos preceitos que 
a fundamentam denuncia menos uma essência maçônica profes-
sada universalmente, e mais um conjunto de normas e valores 
Michel Silva (Org.)
34
passíveis de interpretações e apropriações múltiplas. A maioria 
dos pesquisadores da Maçonaria, todavia, já é unânime em ad-
mitir a impossibilidade de se pensar em uma instituição unívo-
ca e coesa. Marco Morel, por exemplo, defende que a Maçonaria 
constitui-se muito mais em uma concepção de organização do 
que numa entidade monolítica ou portadora de uma visão de 
mundo especíica (Morel, 2001). Em raciocínio semelhante, Fer-
rer Benimeli, um dos maiores estudiosos da Maçonaria na atua-
lidade, fala-nos da diiculdade em deinir esta sociedade de ma-
neira precisa, abrangendo-a em toda a sua extensão. Ao destacar 
os inúmeros desvios, abusos e subdivisões surgidas no interior da 
instituição, o autor ressalta que “nem sequer se pode falar de uma 
maçonaria única, dados os seus múltiplos ritos, obediências e ins 
diametralmente opostos, embora se sirvam de uma terminolo-
gia e de uma forma de organização idênticas” (Benimeli, 1983, p. 
246). Frente a estas observações, Eliane Colussi (1998) conclui ser 
mais coerente, historicamente, falar em maçonarias.
No presente texto demonstramos a existência de um fundo 
teórico comum que orienta e estrutura todos os discursos maçô-
nicos e que se pauta em ideias próximas às do movimento ilus-
trado, tais como a do progresso, da razão, da universalidade da 
natureza humana, etc. Entretanto, é preciso ter em mente que o 
uso em comum de um discurso não garante que ele esteja sendo 
compreendido e instrumentalizado da mesma maneira. Roger 
Chartier, a partir do estudo das práticas de leituras, ajuda-nos a 
pensar a questão aqui colocada. Segundo ele, não existe um senti-
do intrínseco, absoluto, único do texto, ou seja, suas ideias não se 
apresentam como categorias universais de interpretação (Char-
tier, 1990). Ao contrário, seu sentido é construído historicamen-
te. Embora os autores de um discurso queiram mantê-lo sujeito a 
um sentido único, a aceitação de uma mensagem opera-se sem-
pre através de desvios e reempregos singulares. Em síntese, cada 
leitor, a partir de suas próprias referências, individuais ou sociais, 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
35
históricas ou existenciais, dá um sentido mais ou menos singular, 
mais ou menos particular, ao texto de que se apropria.
A liberdade ou o poder que o receptor tem de atribuir senti-
do a uma ideia que lhe foi lançada mostra-se clara na análise das 
inúmeras interpretações que as divisas e proposições maçônicas 
receberam. Conforme explicitado anteriormente, o entendimen-
to acerca do caráter apolítico da ordem ou de sua relação com a 
religião, por exemplo, ganhou formas diversas a partir do con-
texto histórico-cultural das maçonarias nacionais. Até mesmo os 
mitos e símbolos maçônicos foram decodiicados de maneiras di-
ferentes, o que não nos causa estranhamento, uma vez que o mito 
é fundamentalmente polimorfo e ambivalente, estando suscetível 
às numerosas ressonâncias e signiicações, por vezes opostas.
A potencialidade de se conferirem sentidos múltiplos aos pre-
ceitos maçônicos é ampliada pela natureza vaga e subjetiva de mui-
tos deles, tal como o discurso da moral, da virtude e do progresso. 
A concepção de progresso, por exemplo, não carrega consigo um 
sentido único, tendo sido, por isto, apropriada por diferentes agen-
tes discursivos. Embora partam de um mesmo fundamento – a 
humanidade, que, possuidora de uma natureza comum, caminha, 
linearmente, rumo a níveis mais avançados de desenvolvimento 
–, as teorias progressistas elaboraram diferentes modelos de so-
ciedades utópicas. A cultura socialista, por exemplo, vislumbra, a 
partir de uma revolução proletária, uma sociedade sem classes. Já 
os positivistas projetavam, para o inal do processo evolutivo, uma 
ditadura republicana. A Maçonaria, por sua vez, entrevê para o 
futuro uma humanidade unida e aperfeiçoada intelectual, moral 
e materialmente. Todavia, quando chega a hora de se deinir em 
que consiste este aperfeiçoamento ou este progresso, quais seriam 
os ins a serem alcançados por eles, bem como o caminho a seguir 
para atingi-los, não faltam dissensões. Traduzidas para o plano da 
organização efetiva das sociedades ou da política de um Estado, 
as divisas maçônicas fundamentaram propostas as mais variadas, 
quando não, díspares (Morel; Souza, 2008).
Michel Silva (Org.)
36
Conclui-se, portanto, que a Maçonaria não se conigura 
como uma instituição acabada e passível de deinição a partir de 
um modelo explicativo único. Ao contrário, ela vem assumindo 
múltiplas feições, em diferentes épocas e lugares, e que vão sen-
do construídas a partir de ininitos arranjos entre suas divisas e 
preceitos e as resigniicações a eles impostas pelas necessidades e 
anseios de determinados contextos históricos.
Após levantarmos a possibilidade de serem realizadas dife-
rentes leituras e instrumentalizações dos preceitos maçônicos, 
uma incômoda indagação reclama-nos uma resposta: é ainda 
possível pensarmosna existência de uma cultura maçônica? 
Uma Cultura corresponde a um conjunto complexo de lin-
guagens, comportamentos, valores, crenças, representações e 
tradições partilhadas por um determinado grupo humano e que 
lhe conferem uma identidade. Frente a tal deinição, todavia, é 
importante guardar o cuidado de não estabelecermos uniformi-
zações exageradas. Rodrigo Patto Sá Motta lembra-nos que as 
sociedades, principalmente as complexas, são marcadas por nu-
anças, particularidades e divisões internas. Nesse sentido, suas 
estruturas culturais podem não ser partilhadas por toda a coleti-
vidade (Motta, 1996).
Diante do exposto acima, forjou-se o conceito de subcultura 
para dar conta da complexidade cultural. Deste modo, as forma-
ções sociais podem ser compostas de subculturas que partilham 
de alguns elementos da cultura mater, ao passo que mantêm ca-
racterísticas próprias (Motta, 1996). Acreditamos que este mo-
delo explicativo aplique-se corretamente à cultura maçônica. 
Neste caso, a sua cultura mater fundamenta-se numa estrutura 
organizacional típica e num corpo simbólico, mítico e ritualístico 
responsável por conferir às várias subculturas maçônicas, isto é, 
às várias expressões e formatos assumidos pelas lojas maçônicas, 
um sentimento recíproco de identiicação, uma noção de perten-
cimento a um grupo maior e, por im, uma diferenciação em re-
lação à cultura e à sociedade profana. 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
37
Isto posto, torna-se importante elencar, rapidamente, os ele-
mentos que, ao nosso entender, dão consistência à identidade 
maçônica. Todas as lojas, independente do rito, obediência ou 
nacionalidade às quais pertençam, compartilham um mesmo 
passado mítico, isto é, um mesmo marco fundador, percebendo-
-se como herdeiras da arte e dos valores do emblemático Hiram. 
Também, os símbolos de reconhecimento maçônico são sempre 
os mesmos, o que permite a uma loja maçônica ser identiicada 
como tal em qualquer lugar do mundo. Do mesmo modo, a ter-
minologia maçônica, os toques e os sinais empregados, dentro e 
fora das lojas, possibilitam aos obreiros, em qualquer lugar em 
que estejam, reconhecerem-se em meio aos profanos. Os elemen-
tos de identiicação maçônicos são tão poderosos que possuem 
a capacidade de levar pessoas de diferentes nacionalidades, que 
jamais se encontraram e nem se encontrarão, a sentirem-se pos-
suidoras de vínculos que as fazem iguais e comprometidas umas 
com as outras. Tais homens, iniciados nos mesmos mistérios e 
conhecedores dos mesmos segredos, embora não convivam dia-
riamente e tampouco dividam o mesmo espaço físico, compõem 
uma única comunidade que ganha existência no nível do imagi-
nário. Por im, cabe ressaltar que o próprio fundamento teórico 
maçônico atua como elemento uniicador, na medida em que di-
ferentes homens, ao propalarem preceitos comuns, mesmo que 
só em sua forma, consideram-se agentes de uma mesma causa. 
Os maçons, por exemplo, são unânimes em se airmarem como 
os maiores defensores da liberdade, igualdade e fraternidade, ain-
da que estas bandeiras, em diferentes contextos, assumam signi-
icados diversos.
Cabe destacar que para a compreensão do que seja uma cul-
tura, mais importante do que se constituir, concretamente, como 
uma comunidade coesa, homogênea e universal, é a imagem que 
os indivíduos alimentam da coletividade à qual pertencem. Os 
maçons, de modo geral, sentem-se efetivamente ligados a um 
Michel Silva (Org.)
38
agrupamento de homens que, embora não visíveis no plano do 
olhar, encontram-se “lá”, conscientes da existência uns dos ou-
tros. São estes sentimentos de identidade, de comunidade e de 
pertencimento, não explicados apenas pelo plano da razão, mas 
também da tradição, do costume e do imaginário, que nos permi-
te airmar a existência de uma cultura maçônica.
Por im, a constatação da existência de uma cultura maçôni-
ca, subdividida em várias subculturas, leva-nos à associação da 
Maçonaria a um longo tecido que, visto por um olhar distancia-
do, aparenta possuir forma e cor homogênea. Analisado de perto, 
entretanto, o tecido maçônico revela-nos um entrecruzamento de 
diferentes matizes que se mantêm unidos por pontos de inter-
seção, que nada mais são do que os elementos constitutivos da 
identidade maçônica. Deste modo, a cultura mater da Maçonaria 
corresponde aos liames que impedem o total esgarçamento deste 
tecido e, consequentemente, o surgimento de instituições com-
pletamente distintas.
39
Capítulo 3
Hipólito José da Costa, a sociabilidade maçônica 
e a (re)construção da memória
Bruna Melo dos Santos
Introdução
Hipólito José da Costa, redator do Correio Braziliense (1808-
1822), primeiro jornal brasileiro, atuou em dois importantes 
campos de sociabilidades: a Imprensa e a Maçonaria, que contri-
buíram para as transformações do espaço público no contexto de 
transição do absolutismo para os liberalismos e as novas formas 
de liberdades. Hipólito é uma personagem com muitas facetas, 
aqui interessa destacar a sua faceta maçônica e, consequentemen-
te, sua posição diante desta rede de sociabilidade, que, em sua 
concepção, era muito útil às nações pelo fato de polir os costu-
mes, fomentar virtudes patrióticas e algumas morais aos homens 
que faziam parte dela.
Antes de prosseguirmos com as discussões acerca da socia-
bilidade e da (re)construção da memória maçônica de Hipólito 
da Costa, faz-se necessário uma breve exposição da trajetória de 
vida do redator do Correio Braziliense. 
Hipólito nasceu em 1774 na Colônia do Sacramento, uma 
região que ainda não tinha “domínio” deinido. A região teve 
sua colonização iniciada por Portugal nos idos de 1718, quando 
casais oriundos da região portuguesa de Trás-os-Montes foram 
levados para lá com a inalidade de ocupar o território, que já 
estava sendo reivindicado pela Espanha. No ano de 1777, iniciou-
-se uma disputa entre Espanha e Portugal sobre a região e, com a 
Michel Silva (Org.)
40
assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, icou registrada a posse 
da Espanha sobre a Colônia de Sacramento. 
Várias famílias, oriundas da colonização portuguesa, dentre 
elas a família de Hipólito, tiveram que deixar a região e se abriga 
na parte meridional do Rio Grande do Sul, mais especiicamente 
na vila de Rio Grande, território espanhol que havia sido con-
quistado pelos portugueses.
Hipólito passou parte da adolescência no Rio Grande do Sul 
e o resto da vida como um cosmopolita. Começou cedo nos es-
tudos. Aos 18 anos de idade, matriculou-se na Universidade de 
Coimbra, em 1796 já estava formado em Filosoia e, no de ano de 
1798, aos 24 anos, formava-se, também, em Leis.
Esse foi um caminho trilhado por muitos ilhos da elite colo-
nial brasileira, que depois de formados passavam a fazer parte do 
grupo dos homens letrados nascidos no Brasil, que gravitavam 
em torno da igura de D. Rodrigo de Souza Coutinho, ministro 
e secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos de 
Portugal. Sem ter muitas escolhas, já que o contexto social acaba-
va lhes impondo esse caminho para alcançarem o status de “esta-
belecido” na sociedade de letras, Hipólito também fez parte desse 
grupo, o qual Kenneth Maxwell chamou de “geração de 1790” 
(Maxwell, 1990, p. 90).
De fato, Hipólito não demorou muito para se estabelecer 
dentro do grupo dos letrados e ser patrocinado pela Coroa de 
Portugal. Em 1798, seguiu para os Estados Unidos da América, 
onde icou até 1800, pesquisando técnicas agrícolas, do comércio 
e da indústria, que pudessem contribuir para o desenvolvimento 
do Império português e seus reinos. Segundo o próprio Hipólito, 
foi durante esse período que fez sua iniciação na Maçonaria, na 
cidade de Filadélia.
Ao cumprir a missão cientíica, retornou a Portugal, onde 
assumiu o cargo de diretor da Impressão Régia de Lisboa, anti-
ga Casa Literária do Arco do Cego. Já em posse do novo cargo, 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
41
seguiu em 1802 para Londres, a pedido deD. Rodrigo de Souza 
Coutinho, para adquirir material tipográico para a Impressão 
Régia. Aproveitando-se da oportunidade, Hipólito da Costa deu 
andamento às negociações para uniicar e organizar as maçona-
rias de Portugal, que estavam enfraquecidas por conta das inú-
meras perseguições empreendidas pelos poderes conservadores 
do mundo luso-brasileiro, mais precisamente pelo Intendente 
Geral de Polícia, Pina Manique (Marques, 1990, p. 80).
No entanto, a atitude ousada de Hipólito foi descoberta e de-
nunciada à Coroa portuguesa, que ordenou sua prisão assim que 
retornou de Londres. No momento da prisão, alguns papéis que 
conirmavam as suspeitas da Inquisição do envolvimento com a sei-
ta diabólica foram apreendidos com Hipólito. Com tantas evidên-
cias, o destino de Hipólito não podia ser outro, dentro de um país 
atrasado e que ainda mantinha um processo arcaico de julgamento. 
A acusação que recaía sobre o réu Hipólito José da Costa era 
de pertencer à sociedade maçônica. Hipólito questionou inúme-
ras vezes essa acusação, uma vez que sua iliação à Maçonaria 
ocorreu em Filadélia, Estados Unidos, onde não era crime algum 
alistar-se nesta ordem e que, portanto, não podia ser julgado por 
algo que fez em outro país. Além do mais, não havia em Portugal 
lei alguma que proibisse a Maçonaria, portanto, não era crime 
pertencer à ordem maçônica, pois o cidadão livre pode obrar 
tudo o que não é proibido pelas leis (Costa, 2009, p. 33).
Pelo seu pertencimento à Maçonaria, Hipólito da Costa 
amargou quase três anos na prisão, de 1802 a 1805, pelo crime de 
pertencimento a esse tipo de conventículo que era proibido pelas 
leis canônicas. Porém, como airma o próprio, diante da Inquisi-
ção não negou ou se arrependeu de pertencer a essa “sociedade 
de homens, que não tem outro im senão fazer bem às famílias 
consternadas; cujo símbolo é a caridade, principal virtude da re-
ligião” (Correio Braziliense, 1816, p. 781).
Michel Silva (Org.)
42
Muito pelo contrário, após fugir dos cárceres da Inquisição e 
se estabelecer em Londres – sob a proteção de Duque de Sussex, 
grão-mestre da Maçonaria e membro da Família Real Inglesa –, 
Hipólito saiu em defesa da Maçonaria e fez saber ao público as 
virtudes maçônicas que orientavam e davam coesão às Lojas. 
Em diversas oportunidades, seja no Correio Braziliense, na 
Narrativa da Perseguição ou nas Cartas sobre a Framaçonaria, 
discorreu sobre a utilidade da sociabilidade maçônica e, ainda 
que qualquer tipo de sociedade pudesse trazer às nações, desde 
que não fosse para ins criminosos, como criar vínculos fraternos 
entre os cidadãos. Além das utilidades de polir os costumes, as 
sociedades eram muito úteis por fazer aumentar a sociabilidade 
entre os homens e intensiicar o amor que eles possuíam pela pá-
tria; e este era maior quanto fossem maiores e mais numerosas as 
relações de amizade e parentesco; em uma palavra, quanto maior 
fosse a sociabilidade dos cidadãos, maiores seriam suas virtudes 
patrióticas (Costa apud Guimarães, 2000, p. 68).
Para Hipólito, as sociedades maçônicas, assim como as so-
ciedades literárias, também deviam ser incentivadas como for-
ma de instruir os cidadãos sobre os bons costumes e a moral. 
Sinalizava que, além da sua utilidade para a nação, a Maçonaria 
também se encarregava da educação e “arrumação dos órfãos” de 
seus membros, estimulando, dessa forma, as virtudes do socorro 
mútuo quando um ou outro irmão vivenciava situação de apuros. 
Com o discurso de exaltação da fraternidade, da beneicência, da 
observância das leis, entre outros princípios, legitimava a impor-
tância da Maçonaria na missão de levar a civilização aos homens.
[...] a utilidade da sociedade ou se pode considerar relativa-
mente à nação, ou relativamente aos indivíduos, membros da 
sociedade. Se a considerarmos pela utilidade que dela pode 
resultar à nação, não pode chamar-se inútil; visto que, ica 
provado que todas as sociedades particulares, que não são 
para maus ins, são úteis; porque aumentam a sociabilidade 
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
43
entre os homens, [...] e fomentam as virtudes patrióticas e 
ainda algumas morais. (Correio Braziliense, 1809, p. 269)
A mesma visão sobre a Maçonaria é encontrada no contem-
porâneo de Hipólito, o jornalista José Liberato Freire de Carvalho, 
que também fez parte da sociabilidade maçônica. Em suas memó-
rias, José Liberato relata que a sua iniciação se deu pela curiosi-
dade em descobrir o que havia naquela sociedade tão perseguida 
pelo Estado e pela Igreja, mas que, ao mesmo tempo, era composta 
por vários homens honestos. Ao ser iniciado na Loja Fortaleza re-
latou que encontrou ali “não só homens honestos, mas até virtuo-
sos, e de costumes os mais puros” (Liberato, 1855, p. 30).
A justiicativa da curiosidade, como um motivador para per-
tencer à Maçonaria, foi utilizada também por Hipólito da Costa. 
Dessa forma, ele explicou ao presidente da Inquisição, Manuel 
Estanislau Fragoso, que pelo motivo de ter acompanhado:
[...] o funeral e enterro de um pedreiro-livre, bastantemen-
te [sic] numeroso dos membros daquela sociedade, e com 
os aventais, e insígnias que correspondiam aos seus graus e 
representações, se lhe animou pela referido objeto o desejo, 
e curiosidade de querer indagar de mais perto o misterio-
so segredo com que se cobriam os ins e procedimentos da 
mesma sociedade [...]. (ANTT, n.17981, p. 12)
As acusações que a Igreja e o Estado faziam à Maçonaria não 
condiziam com a realidade desta associação que era “a mais justa, 
a mais bem imaginada, e mais útil para a humanidade de quantas 
se têm formado no mundo”. Para Liberato, a deinição da ordem 
maçônica estava intimamente relacionada à prática de caridade, 
portanto ela “é toda humanitária, e ilantrópica; é toda de cari-
dade, e a sua caridade é universal, porque se estende a todas as 
crenças, e a todos os povos do mundo” (Liberato, 1855, p. 33).
Michel Silva (Org.)
44
Além do caráter ilantrópico, Liberato ainda ressaltou o prin-
cípio de socorro mútuo que existia entre os maçons, pois em 
qualquer lugar do mundo o maçom é socorrido por outro, sendo 
isto uma obrigação e um dever da Maçonaria. Assim, ele citou 
como exemplo D. Pedro, que sendo “Imperador do Brasil e Rei 
de Portugal, os conheceu [pedreiros-livres] bem de perto, e quais 
eram as suas leis, e as suas intenções”, quando foi aceito maçom 
no Rio de Janeiro, alcançando o degrau maior de Grão-Mestre 
(Liberato, 1855, p. 33).
Como podemos observar, a defesa de José Liberato em prol 
da Maçonaria em muitos pontos se confunde com o próprio dis-
curso maçônico de Hipólito da Costa. Na realidade, não se trata 
de uma coincidência, mas sim de um pensamento típico do re-
formismo ilustrado e estava em concordância com o pensamen-
to maçônico emergido do contexto iluminista, que se propagava 
dentro das Lojas. 
Hipólito da Costa e José Liberato izeram parte dos mesmos 
espaços de sociabilidade: a Maçonaria e a Imprensa, importantes 
locais de reunião dos homens letrados do oitocentos. Portanto, 
é interessante analisar a obra Memórias da vida de José Liberato 
Freire de Carvalho como fonte para se compreender algumas la-
cunas que ainda não foram preenchidas na trajetória de vida do 
maçom Hipólito José da Costa.
Liberato, por meio de suas memórias, narrou fatos que, co-
mumente, se repetem acerca da vida do redator do Correio Bra-
ziliense como, por exemplo, a sua fuga, no mínimo suspeita, dos 
cárceres da Inquisição, pelo portão da frente. Esta ocorreu em um 
dia em que Hipólito, percebendo que havia apenas um guarda 
para vigiar toda cadeia, ingiu uma forte dor na barriga solicitan-
do assim que o guarda aquecesse um pouco de água para ele. As-
sim este o fez, deixando o prisioneiro sozinho e ao seu alcance o 
molho de chaves que fechava as portas do cárcere. Foi então que:
Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade
45
[...] descalçando as botas, e eniando-as nos braços,

Continue navegando