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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Filosofia da Educação UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Créditos e Copyright Vanessa Laurentina Maia Crb8 71/97 Bibliotecária Unimes Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários. A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos. Copyright (c) Unimes Virtual É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato. SANTOS FILHO, João Vieira dos. Filosofia da Educação. / Prof. João Vieira dos Santos Filho. Santos, 2007. 83F. Universidade Metropolitana de Santos, Pedagogia, 2007. 1. Pedagogia. 2. Filosofia da Educação. 3. História da arte. CDD 370.1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM SUMÁRIO Aula 01_ Conceito e Definição .................................................................................... 5 Aula 02_ Preconceitos sobre a filosofia ...................................................................... 7 Aula 03_Filosofia e Ciência ......................................................................................... 8 Aula 04_ Filosofia, saber e valor ................................................................................. 9 Aula 05_ A filosofia e a verdade ................................................................................ 11 Resumo Unidade I .................................................................................................... 13 Aula 06_ Educação, definição e abrangência ........................................................... 14 Aula 07_ A ação sensata e ação e instrução ............................................................ 18 Aula 08_ Modalidades de Tratamento ...................................................................... 20 Aula 09_ A ação insensata ....................................................................................... 22 Resumo Unidade II ................................................................................................... 24 Aula 10 - Perspectiva essencialista ........................................................................... 25 Aula 11_ Perspectiva Naturalista .............................................................................. 31 Aula 12_Perspectiva Histórico Social ........................................................................ 33 Aula 13_Perspectiva positivista ................................................................................. 35 Aula 14_Perspectiva Reconstrutivista ....................................................................... 37 Resumo Unidade III .................................................................................................. 40 Aula 15_ Problemas filosóficos na educação ............................................................ 41 Aula 16_Relações políticas e de poder na educação ............................................... 44 Aula 17_O Educador e o exercício do poder ............................................................ 46 Aula 18_Ideologia na educação ................................................................................ 48 Aula 19_Educar para a cidadania: a contra ideologia ............................................... 50 Aula 20_Filosofia da Educação nas perspectivas técnico-científico, política e filosófica. ................................................................................................................... 52 Aula 21_Concepções de ética e moral conforme a visão essencialista e existencialista ............................................................................................................ 55 Aula 22_Caráter universal da ética ........................................................................... 57 Aula 23_A legitimação da educação pelo projeto ético da sociedade ....................... 59 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 24_A ética formal .............................................................................................. 63 Aula 25_A ética existencialista .................................................................................. 64 Aula 26_Os problemas epistemológicos da educação: o racionalismo, o empirismo e o ceticismo ................................................................................................................ 67 Aula 27_Dogmatismo, criticismo e dialética .............................................................. 69 Aula 28_O trabalho como identidade humana .......................................................... 71 Aula 29_Concepção de trabalho ............................................................................... 72 Aula 30_Distinção entre trabalho e labor .................................................................. 73 Resumo Unidade VII ................................................................................................. 76 Aula 31_Cultura, dificuldade de definição ................................................................. 77 Aula 32_Cultura e educação ..................................................................................... 79 Resumo Unidade VIII ................................................................................................ 83 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 5 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 01_ Conceito e Definição Como primeira aula, um primeiro contato, seria interessante iniciarmos por meio de um diálogo que possa esclarecer alguns termos. Escolhemos os substantivos conceito e abrangência para contrapor a um outro substantivo que é definição. A palavra definir dá uma sensação de definitivo, que termina, que é final. A busca do saber e o processo educativo são dinâmicos. Defini-los seria engessá-los. Empobreceria a ideia de filosofia e de educação. A palavra conceito parece-nos mais adequada para começarmos a dialogar. Ela é mais geral, em que pese ser abstrata. Contudo, possibilita-nos agrupar e unificar alguns elementos. Sendo assim, a palavra filosofia nos dá a ideia de saber, não um saber qualquer, próprio do senso comum, mas um saber sistemático, rigoroso, reflexivo e crítico; não um saber com um único objeto de estudo, mas um saber dinâmico que procura em sua própria atividade energética demonstrar sua força e poder. É um saber sistemático porque reúne o conjunto de partes similares, princípios que regulam certa ordem de fenômenos; rigoroso, porquanto procede de modo exigente, minucioso, reflexivo; uma vez que é comunicativo, estabelece relações; crítico, dado que provoca a crise, a alteração, um ponto de transição decisivo. Mas isto não nos impede de apresentarmos uma definição etimológica da palavra filosofia. Etimologicamente a palavra filosofia vem do grego: filosofia (Philosophia), sendo filo (Philo) amigo, amor e sofia (Sophia) saber. Portanto, filosofia (Philosophia) é amor à sabedoria ou amigo do conhecimento. O que sabemos até agora? Que a filosofia tem uma identidade: ela é grega; que a palavra filosofia significa amor à sabedoria; sabemos também o significado da palavra, mas não oque a filosofia é. Talvez agora seja a ocasião de perguntarmos, conforme o filósofo alemão Martin Heidegger: Que é isto – a filosofia? O que queremos saber quando, perguntamos o que é isto para as coisas? O que é isto, uma mesa, cadeira, caneta, lápis etc? Parece-nos que queremos saber o que as coisas são, isto é, queremos saber o Ser das coisas. O Ser de uma coisa, qualquer coisa, é sua Essência. A essência é a natureza íntima das coisas; é aquilo que faz com que uma coisa seja o que é; o que faz com que esta coisa seja ela mesma e não outra. Exemplo: a essência da mesa é ser ela UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 6 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM mesma, portanto a ideia de mesa, sua forma. Se a mesa é quadrada, redonda, retangular, de vidro, madeira, aço, pequena, grande etc., são acidentes, vale dizer, não a caracteriza como mesa, não é necessário para o seu ser, é contingente. Então, a essência é a estrutura própria de uma coisa. É a estrutura da educação que, junto com a filosofia e juntamente com vocês pretendemos refletir juntos. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 7 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 02_ Preconceitos sobre a filosofia Alguns de vocês podem objetar que a filosofia é difícil. Queremos dizer que há, em torno disso, certo preconceito. No dizer de Gramsci: Deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. Deve-se, portanto, demonstrar, preliminarmente, que todos os homens são “filósofos”, definindo os limites e as características desta “filosofia espontânea” peculiar a “todo o mundo”, isto é, da filosofia que está contida: 1) na própria linguagem, que é um conjunto de noções e de conceitos determinados e não, simplesmente, de palavras gramaticalmente vazias de conteúdos; 2) no senso comum e no bom-senso; 3) na religião popular e, conseqüentemente, em todo o sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ver e de agir que se manifestam naquilo que se conhece geralmente por “folclore”. Após demonstrar que todos são filósofos, ainda que a seu modo, inconscientemente (porque, inclusive na mais simples manifestação de uma atividade intelectual qualquer, na “linguagem”, está contida uma determinada concepção do mundo), passemos ao segundo momento, ao momento da crítica e da consciência, ou seja, ao seguinte problema: é preferível “participar” de uma concepção do mundo “imposta” mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (e que pode ser a própria aldeia ou a província, pode se originar na paróquia e na “atividade intelectual” do vigário ou do velho patriarca, cuja “sabedoria” dita leis, na mulher que herdou a sabedoria das bruxas ou no pequeno intelectual avinagrado pela própria estupidez e pela impotência para a ação) ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho do próprio cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade? (Gramsci, 1987 p. 11-12). Como vocês puderam observar pela leitura do texto de Gramsci, somos todos filósofos. Isto porque vocês, como eu, temos uma concepção de mundo. Todavia, quando no texto Gramsci nos pergunta o que é preferível, a escolha deve recair no segundo momento, o momento de reflexão crítica e da autonomia do pensar. Com Gramsci vamos trilhar o caminho da reflexão filosófica ao alcance de todos e que, conforme Epicuro, (341-270 a. C.) filósofo do período helenístico, em sua Carta sobre a Felicidade (A Meneceu), ao enviar suas saudações ao mesmo diz: “Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito”. (Epicuro, 1997, p. 21) Filosofar sobre a educação é rejuvenescer o espírito. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 8 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 03_Filosofia e Ciência Será que a filosofia é uma ciência? Ou ela é um saber? Se é uma ciência, então que tipo de ciência? Se for um saber, então que espécie de saber? Uma ciência, para ser ciência, tem que ter um objeto particular de estudo. O objeto particular de estudo de uma ciência é aquilo com que ela se ocupa, estuda, particularmente. Exemplo: o objeto de estudo da matemática, isto é, aquilo com que a matemática se ocupa são os números e suas relações; a biologia, a vida e suas relações; a física, a natureza etc. Por isso são chamadas de ciências particulares. E a filosofia? Será que a filosofia tem um objeto particular de estudo? Se ela tem, então é uma ciência? Analisemos o texto a seguir e vejamos se ele atende a definição técnica de uma ciência. Segundo Jaspers, a filosofia não tem objeto. Querer apontar-lhe um, a não ser em sentido metafórico, seria identificá-la desastradamente com as ciências que, para existir, necessitam de objeto definido. Nem se pode afirmar que a filosofia toma por objeto o todo. O que é um objeto senão aquilo que é posto diante da atividade de conhecimento, a certa distância do sujeito? Mas o todo não pode ser posto diante do conhecimento filosófico como uma realidade distinta. O próprio filósofo faz parte dele. Qualquer que seja o modo como eu o compreenda, este todo não se reveste jamais das características de um puro objeto. Pode-se retrucar que a filosofia escolhe como objeto um princípio supremo: o Eu, o Espírito, Deus, no qual o resto se vê integrado? Mas, segundo Jaspers, isto não nos autoriza ainda a falar de objeto da filosofia e também, o princípio assim aceito arriscaria encobrir a idéia de totalidade, pois ele seria uma realidade particular deste mundo e nunca o conjunto dos seres. É necessário interpretar as observações de Jaspers. Por enquanto retenhamos um aspecto talvez essencial: mesmo se não é objeto, no sentido técnico do termo, o todo constitui o domínio da filosofia. A filosofia aparece como um esforço para abarcar a realidade inteira, independentemente do modo como, finalmente, se há de conceber o todo em questão. A filosofia quer ser uma explicação completa. Se o filósofo renuncia, decididamente, a interpretar o todo ele dá aos outros – e tem pessoalmente – a impressão de ser infiel à sua vocação. Desqualifica-se. ( VANCOURT,R. p. 10-11) O que podemos observar no pensamento de Jaspers? Ele emprega a palavra objeto no sentido técnico. Neste sentido, segundo Jaspers, a filosofia não é uma ciência. Não obstante, ao fazer suas ressalvas, o autor do texto, Vancourt, procura mostrar que esta discussão não é tão relevante. O importante é que a filosofia persiga a visão da totalidade, ou seja, o conjunto de todas as partes. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 9 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 04_ Filosofia, saber e valor Será que a filosofia é um saber? A palavra saber (Sapere) tem vários sentidos: conhecer, estar informado, estar a par de alguma coisa. Assim sendo, todos possuem um saber. Tanto o senso comum quanto o intelectual são detentores de um saber. Não obstante, cabe aqui uma reflexão. Se a filosofia é um saber, então seria ela um saber comum ou é possível que se faça uma distinção? Tomemos a palavra saber como substantivo. Como substantivo é o que se sabe, o conjunto do conhecimento sistemático,rigoroso.Aqui já encontramos uma distinção.O senso comum não possui um saber sistemático, rigoroso, de conjunto. Seu saber é prático, empírico, istoé, está fundamentado apenas na experiência. Já o saber filosófico é um saber teórico, especulativo, sistemático, rigoroso, de conjunto, mas nem por isso divorciado da vida. Por estas características, parece que a filosofia é um saber, mas não um saber qualquer, comum. É um saber rigoroso, de conjunto, como já mencionamos. Mas mesmo assim a filosofia é vista de forma preconceituosa, como sendo inútil. Útil é tudo aquilo que pode ter algum uso, ou que serve para algumas coisas, portanto, o que é proveitoso. Como a filosofia não tem uma utilidade imediata de proveitoso, ao contrário, ela é mediata, parece que não tem valor. Onde está o valor da filosofia? O valor da filosofia, em grande parte, deve ser buscado na sua mesma incerteza. Quem não tem umas tintas de filosofia é homem que caminha pela vida afora sempre agrilhoado a preconceitos que se derivaram do senso-comum, das crenças habituais do seu tempo e do seu país, das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão deliberada. O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele, os objetos habituais não erguem problemas e as possibilidades familiares são desdenhosamente rejeitadas. Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente caímos na conta (...) de que até os objetos mais ordinários conduzem o espírito a certas perguntas a que incompletíssimamente se dá resposta. A filosofia, se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha a ser a verdadeira resposta às variadas dúvidas que ela própria evoca, sugere numerosas possibilidades que nos conferem UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 10 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM amplidão aos pensamentos, descativando-nos da tirania do hábito. Embora diminua, por consequência, o nosso sentimento de certeza no que diz respeito ao que as coisas são, aumenta em muitíssimo o conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; varre o dogmatismo, um tudo-nada arrogante, dos que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica o sentimento de admiração, porque mostra as coisas que nos são costumadas num determinado aspecto que o não é. ( RUSSELL, 1977, p. 236) Vocês já devem ter percebido que são nas incertezas e não nas certezas que reside o valor da filosofia. Talvez seja por isso que as pessoas têm certa ojeriza pela filosofia. Elas querem tudo dado, pronto e acabado, sem o esforço da reflexão. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 11 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 05_ A filosofia e a verdade Por ser um saber teórico, a filosofia incomoda. Isto porque ela busca a verdade. Reparem que dissemos que ela busca a verdade e não que ela é detentora da verdade. A verdade incomoda. Então, a solução simples é dizer que a filosofia não serve para nada. Não se trata apenas de preconceito. Há uma espécie de orquestração ideológica. Ideologia que falaremos em outra unidade. Assim, Seja a filosofia o que for, está presente em nosso mundo e a ele necessariamente se refere (...). Mas como se põe o mundo em relação com a filosofia? (...). A opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece de qualquer utilidade prática. É nomeada em público, mas – existirá realmente? Sua existência se prova, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar. A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além de meu alcance; não tenho vocação para ela e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capítulo qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter "opiniões" e contentar-se com elas (...).Muitos políticos vêem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão- somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia. Assim, a filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição (...). O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz. E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser-verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 12 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM e definitiva, mas movimento incessante, que penetra no infinito. (JASPERS, 1980, p. 138-140) A verdade, como vocês puderam notar, é dinâmica. Manifesta-se de várias formas: nas ciências, na arte, literatura, educação etc. Eleger uma delas como sendo o conhecimento mais verdadeiro é entendê-lo como retilíneo. Esta prática educativa deve estar atenta para não se cair no imediatismo de que a apropriação do conhecimento nos qualifica a formas de tratamento especializado. O pensamento especializado engessa a ação, provocando a ação insensata. . UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 13 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Resumo Unidade I Nesta unidade procuramos mostrar a distinção entre conceito e definição, à vista de que tanto a filosofia como a educação são termos que possuem uma amplitude englobando várias concepções do saber. Com isto, a filosofia parece ser difícil e se envolve em preconceitos do senso comum que, destituído da noção própria de reflexão, crítica, sistema, rigor, confunde o saber filosófico com o conhecimento científico, aceitando este último como forma única de conhecimento. Vimos, também, que a filosofia é um saber cujo valor não está nas certezas que possa proporcionar, mas em suas próprias incertezas, na busca da verdade, sem ser ela mesma detentora de uma verdade única, pronta e acabada. Tal como a filosofia, a educação também é abrangente e por esta razão não se pode apresentar uma definição completa e acabada para seu dinamismo. Ela vai se construindo e no momento mesmo de construção vai se revelando. Referências DESCARTES, René. Discurso do Método. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. EPICURO, Carta sobre a felicidade (a Meneceu). São Paulo: Unesp, 1997. GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987. HAMELINE, Daniel. Les objectifs pédagogiques: en formation initiale et en formation continue suivi de l’éducateur et l’action sensée. Paris: ESF, 1979. JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 4. ed. São Paulo, 1980. RUSSELL, Bertrand. Os problemas da filosofia. 4. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1977. VANCOURT, R. A estrutura da filosofia: filosofia e fenomenologia. São Paulo: Duas Cidades, 1964 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 14 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 06_ Educação, definição e abrangência Podemos entender também a educação como desenvolvimento geral do ser humano. Assim, a palavra educação pode ser considerada, não só como algo externo que se acrescenta ao sujeito indivíduo, procurando dar-lhe condição para o cultivo de aspectos espirituais e realizações materiais. Educar, em sentido amplo, é desenvolver e orientar aptidões. Em seu sentido estrito, pode-se dizer educāre (= alimentar, amamentar, criar) e educĕre (= que expressa a ideia de conduzir para fora, fazer sair, tirar de). Educārenos transmite o sentido de algo externo que se acrescenta ao indivíduo procurando dar-lhe condições para seu desenvolvimento, e aí percebemos um movimento externo em direção ao sujeito; educĕre (= expressa a ideia de conduzir para fora, fazer sair, tirar de) e aqui percebemos as potencialidades latentes no sujeito. Estes dois momentos são importantes para que possamos entender melhor como se processa a epistemologia do conhecimento que trataremos na última unidade. Para o momento serve a indicação. O Homem é o único animal que necessita ser educado. Desde que nasce é submetido a um processo intensivo de aprendizagem. Esta aprendizagem nem sempre é percebida quando realizada. Cabe à filosofia da educação refletir de forma racional, crítica e reflexiva seus pressupostos. Os pressupostos da aprendizagem é seu desígnio, isto é, seu plano, seu projeto, aquilo que se pode esperar para o vir a ser do educando. Esse projeto é de construção. Como tal, não podem prescindir dos aspectos históricos, políticos, econômicos e sociais nos quais educadores e educandos estão inseridos. Todavia, no que diz respeito ao educador, sua formação não pode deixar de estar presente à ação e reflexão; as questões políticas, sociais, filosóficas; as relações de poder, conhecimento e reconhecimento desse conhecimento como emancipação". O conhecimento emancipativo é o que confere maioridade, liberdade para que, tanto educadores quanto educandos, possam evadir-se da autoridade de tutoria. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 15 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Este é o caráter abrangente que esperamos que vocês reflitam. A Filosofia da Educação tem uma extensão ampla cuja compreensão deve ser sistematizada para sua melhor compreensão. A Filosofia da Educação requer uma prática educativa reflexiva e uma ação sensata. Sendo a educação uma ação entrelaçada, há de se considerar sua história que também passa pela Educação a Distância, EaD. No Brasil, pode-se indicar o Instituto Universal Brasileiro (IUB) como sendo o pioneiro a apresentar essa modalidade. Desde 1941 oferece os mais variados cursos, mesmo antes das modernas TIC, (tecnologias da informação e comunicação). A informação e comunicação inicial eram veiculadas por correspondência. Sendo assim, o texto a seguir é ilustrativo. Educação à distância, educação virtual Desde a última década do passado século XX, a educação à distância (EaD) viveu um verdadeira explosão tanto em âmbitos educativos formais como não formais. Três factores foram os principais impulsionadores desta realidade: em primeiro lugar, as oportunidades que hoje em dia nos proporcionam as tecnologias da informação e a comunicação (TIC). Em segundo lugar, a procura de novos mercados por parte das instituições educativas, em todos os níveis e espaços formativos. Em terceiro lugar, a própria complexidade da nossa sociedade, que exige uma aprendizagem permanente e ao longo da vida perante a celeridade das mudanças tecnológicas, econômicas, científicas, etc. Como consequência de todas estas transformações, a EaD experimentou, neste últimos anos, uma evolução vertiginosa, que se concretiza em quatro gerações claramente definidas a partir da utilização do desing tecnológico dominante em cada momento, que abrange desde o material impresso à interactividade que proporcionam os meios telemáticos (Garcia Aretio, 2001). Nas primeiras gerações, os alunos assumem um papel baseado na comunicação unidirecional, fundamentado na aprendizagem individual, repetindo esquemas já estabelecidos, onde a implicação pessoal e a criatividade não têm lugar e em que o docente cumpre tarefas meramente transmissivas e avaliadoras de um sistema preestabelecido. Nestas, propugnam-se UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 16 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM modelos fundamentados no estudo independente (Wedemayer) ou no autônomo (Moore) por parte dos estudantes e no uso de materiais programados ou de pacotes autoinstrutivos muito estruturados (Fainholc), pelo que se reserva ao professor, de forma prioritária, uma presença centrada em funções tutorais ou de apoio (Sígales, 2001). A partir das possibilidades facultadas pelos progressos tecnológicos, foi-se obtendo, de forma efectiva e eficaz, uma comunicação bidireccional, o que gera uma retroalimentação muito mais fluida e rica, favorecendo, especialmente, a interacção entre professor e aluno(s) e entre os alunos entre si, o que supôs a abertura para uma nova geração de EaD, que denominamos como o "modelo flexível e inteligente de aprendizagem", caracterizado pela aplicação de sistemas inteligentes de respostas que permitem fazer mais efectivos os sistemas de tutoria, favorecer economias de escala e custo de efectividade associados, em grupos numerosos de estudantes (Casas Armengol, 2005). Nesta mudança, surpreende-nos como a EaD deixou de ser considerada uma modalidade meramente instrutiva, de duvidosa validez e eficácia, em que era praticamente impossível o estabelecimento de uma relação educativa, para passar a ser qualificada de grande "futuro", dadas as possibilidades que oferece para que todos possam aceder à formação, tanto inicial como permanente, em qualquer momento e lugar, independentemente dos condicionamentos espaciotemporais. Sem dúvida, as TIC favoreceram muito a interactividade e a interacção. Ao longo de todo este processo, a EaD foi levada a cabo sob denominações muito diversas, dependendo da característica que se desejava distinguir (Garcia Aretio, 2004), pelo que , hoje em dia, encontramo-nos com três grandes grupos de designações que se estão a fazer de forma paralela. No primeiro grupo encontramos o ensino que assenta de forma prioritária nos meios impressos: ensino por correspondência e ensino multimédia à distância. No segundo grupo estão aqueles que incluem sistemas que permitem a combinação de diversos elementos: ensino aberto, aprendizagem flexível, aprendizagem guiada, ensino semipresencial oublended learning e autoformação. E, por último, um terceiro grupo, que inclui aquelas propostas em que intervêm, de uma forma ou de outra, as TIC nas suas mais diversas concreções: UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 17 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM ensino assistido por computador,Computer-Based Multimedia, Web-Based Learning, educação virtual, ensino n, eLearning, mlearning educação distribuída, teleformação, etc. Ora bem, sob todas estas denominações está sempre a EaD, já que todas elas apresentam traços comuns que se definem como formação à distância. Logicamente,os elementos que as diferenciam são a utilização dos meios, o apoio da tecnologia, a inclusão da presença ou a ênfase em alguns dos agentes do processo educativo. Mas, em suma, em todas elas, ainda que se incida mais num fator ou noutro, cumpre-se sempre com os traços que caracterizam uma formação à distância. Se não fosse assim, não poderíamos falar de um ensino à distância, ainda que estivéssemos a utilizar tecnologias avançadas. [...] (CARVALHO, Adalberto Dias de.(coord.) Dicionário de Filosofia da Educação. Portugal: Porto Editora, 2006, p.99-100) UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 18 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 07_ A ação sensata e ação e instrução Na primeira parte do Discurso do Método, Descartes inicia dizendo que "O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm". O bom senso é o uso da razão que todos possuem. Mas o que é importante destacar no discurso de Descartes é que, depois de considerar a maneira de cada um conduzir seus pensamentos, ele acrescenta: "Pois não é suficiente ter o espíritobom, o principal é aplicá-lo bem" (Descartes, 1987, p.29). Para a educação e formação do professor, não é suficiente que se tenha "o espírito bom", faz-se necessário "aplicá-lo bem", ou seja, é necessária uma ação sensata, uma prática educativa reflexiva. A ação sensata do professor tem como origem sua própria vivência. Sua prática anuncia o caminho que deve perseguir. É no cúmulo de suas experiências – e esse máximo de experiências não é o resultado da somatória de experiências, mas das ações e vivências construídas a partir do real – que está presente a ação sensata reflexiva que é comunicativa, meditada e pensada com o real e a partir do real. Se for desejável que o professor deva ser educado e formado no exercício de ser organizador intelectual da cultura, não menos é que essa educação venha acompanhada de uma ação que seja uma "ação sensata", equilibrada, ponderada. A metáfora que o texto a seguir apresenta é elucidativa: O ACTOR E O SEU LEME A metáfora da "pilotagem" continua a desfrutar nos nossos dias do grande prestígio que, no seu tempo, lhe foi concedido pela cibernética. O "leme" dá instruções permanentes ao "piloto", que, apetrechado com instrumentos mais ou menos sofisticados, corrige, rectifica, "negoceia", como se diz actualmente a propósito das relações dos veículos automóveis com as curvas... Todos os pilotos, e talvez mais particularmente os que praticam vela, sabem que a boa condução é condicionada por milhares de impulsos contrariadores. A acção contrariada por um vento, precisamente designado por "vento contrário", pode UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 19 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM transformar-se numa acção eficaz, devido ao bordejar, isto é, à navegação em ziguezague contra o vento, táctica que torna útil uma situação hostil. Tudo isto é bem conhecido e permite transposições instrutivas para o domínio do comportamento humano. O mérito de toda esta imagética marítima é de nos fazer recordar quanto uma noção racional, como, por exemplo, a de objectivo, confrontada com a de pilotagem, que frequentemente lhe está adstrita, deve de uma vez para sempre libertar-se da ingenuidade do percurso rectilíneo. Não são apenas os constrangimentos que conduzem aos desvios. Todo o actor se afasta dos seus objectivos, pelo simples motivo de se ter posto em marcha. E isso de sua livre iniciativa. A acção concentra, mas também dispersa. E é importante frisar que a diferença existente entre cada uma das referidas facetas não segue a ordem do "mais bem" ao "menos bem". A única imoralidade é a idolatria do rectilíneo. O actor instruído pela acção, e por isso mesmo sensato, é aquele que, compreendendo o que de facto construiu, se liberta dessa devoção. (HAMELINE, Daniel. O Educador e a acção sensata. In: NÓVOA, António (org.) Profissão Professor. Portugal: Porto Editora, 1995, p. 43) A alegoria acima apresentada mostra como uma ação racional objetiva pode levar a uma adoração do que é “rectilíneo”. Esta idolatria não permite que se perceba que a educação, como processo, é um desenvolvimento que requer a arte de encaminhar- se. http://campus20182.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=61281 http://campus20182.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=61281 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 20 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 08_ Modalidades de Tratamento A realidade não é retilínea. A ação na educação e formação do professor é ação humana que ao mesmo tempo em que concentra também se dispersa. "E a diferença de um e de outro caráter não é a ordem do mais bem ou menos bem. A única imoralidade – mas que é, ainda, mais simplória – é a idolatria do retilíneo" (HAMELINE, 1979, p. 201). É nessa ação contraditória, real e concreta, que se dá a instrução, o conhecimento. É a ação que "induz o ator a tornar-se ‘conhecedor’" (HAMELINE, 1979, p. 202). O conhecedor, contudo, se apresenta em três modalidades: doctus, peritus e sapiens. É a essas modalidades que se deve estar atento para que não se caia na desmedida. "Portanto um risco de desmedida paira por várias razões sobre o doctus, o peritus e o sapiens" (HAMELINE, 1979, p. 202). A palavra latina doctus é o particípio passado de doctus, (doutor) que enquanto tal significa fazer, aprender, ensinar. Mas como adjetivo faz referência a instruído, sábio, prudente. Como sábio, o doctus (doutor) pode, no dizer de Hameline, "fazer gala da sua ciência". Ao fazer gala de sua ciência, sua ação é de regozijo consigo mesmo. Isso o leva a querer ensinar. Como já é senhor dos fins, deduz os meios, desconsidera "o homem e a sociedade" e faz de sua gala uma fraude, pois o faz sem conhecimento de causa. Discorre sobre a ação sem compreendê-la, em outras palavras, sem vivenciá-la. Aí reside a desmedida. A desmedida também está presente na figura do peritus (perito). A palavra peritus (perito) em sentido próprio faz referência ao que tem a experiência de algo, ou seja, é o experimentado, o hábil que, por sê-lo, está habilitado. O peritus (perito) é também o expertus (experiente), isto é, o experimentado, o que sabe. Sendo perito, é o sabedor prático, o que em matéria de conhecimento qualifica- o como conhecedor cuja última palavra é a sua. A experiência prática do perito é técnica ou científica. Sua habilidade e competência técnica bastam para desqualificar qualquer outra experiência, mesmo que vivenciada há anos. O expertus (experiente) sabe tudo e porque tudo sabe sua perícia é incontestável, criando-se assim um mito. É da característica mítica o dogmatismo. Sua verdade é aceita pela fé ou crença. A ação do perito é uma ação que tem por base a crença de que ele é detentor do conhecimento. Longe de opor-se ao conhecimento do perito, o que vamos discutir aqui é sua prática, sua ação. Numa UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 21 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM série de coisas e de fatos sua ação é imediata, destituída de ação reflexiva mediatizada pela realidade concreta. Falta-lhe a ascese. Há ascese em todo exercício perseverante que, recorrendo a uma interação combativa com o humano simultaneamente conhecido e desconhecido, procura impedir que se realize a insuficiência da prática e a suficiência do pensamento. (HAMELINE, 1979, p. 203) Isso, no dizer de Hameline, não é uma “questão de perito”. O perito desconsidera a ascese por receio de perder a objetividade racional necessária ao seu ofício. Com isso ele cai na desmedida. Resta considerar a desmedida do sapiens. O sapǐēns é o homem prudente, discreto e sábio. Como homem prudente ele tem o privilégio de discorrer sobre seu conhecimento sem que alguém o interpele sobre o objeto de seu conhecimento. Esse é fruição, no sentido de posse, usufruto. Como usufruto o sapiens se dá o direito do conhecimento alheio. Sua ação instrui-se, mas não instrui. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 22 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 09_ A ação insensata A desmedida do doctus, peritus e sapiens estão na ação sobrevalorizada do conhecimento. É a ação insensata. A ação insensata é a ação que pula de um extremo a outro sem buscar o equilíbrio. O salto de um extremo a outro é o "máximo indesejável". A educação e formação do professor devem estar atentas para os perigos dos excessos da trilogia doctus, peritus e sapiens. Mas também devem estar atentas para o "máximo indesejável". Por quê? Porque "Do máximo ao exagero só vai um passo. E toda reflexão sobre a ação, a ação educativa em particular, é uma variação sobre o demais." (HAMELINE, 1979, p. 204) A educação e formação do professor não podem prescindir da excelência. Contudo, seria conveniente que essa excelência mantivesse o sinal diferenciador do discurso mercantilista de excelência, a maximização, o que é mais, o que é aumentado, acrescido. O excelente não deveser apreendido como acúmulo. "A marca da excelência não é a maximização dos recursos... É produzir recursos a partir dos constrangimentos..." (HAMELINE, 1979, p. 205). A excelência é produzir o ótimo, isto é, o melhor possível. Produzir o melhor possível a partir dos constrangimentos, das situações de embaraço. "A excelência só se conjuga no condicional. Nunca se pode considerar uma coisa ‘completamente boa, sob todos os pontos de vista’" (HAMELINE, 1979, p. 205). Por isso é desejável que esteja presente na ação do educador a atitude de circunspeção. O circunspēcto é o que olha frequentemente em torno de si, está atento, considera e examina com atenção ou com desconfiança e por isso pondera. Considera as ações, as circunstâncias e as pessoas. Pode-se observar, no texto a seguir, como Hameline define o insensato. DEFINIR O INSENSATO Já estaremos, então, em condições de dar uma definição provisória da acção que se pode qualificar de insensata? Toda a acção é insensata a partir do momento em que a pessoa já não é capaz de a dizer aos outros, expondo de que modo as suas intenções estiveram sujeitas a uma paixão essencial. A acção põe sempre em causa as intenções. A língua corrente permite-nos compreender estas coisas muito simples, graças às variações que nos leva a fazer quando falamos de alguém que está "dentro dos acontecimentos", "fora dos acontecimentos", "sob o efeito dos acontecimentos"... O isensato julga-se "dentro dos acontecimentos", quando está, desde logo, "fora dos acontecimentos": o "pós-acontecimento" surpreende-o, mas não o ensina. Se está fora dos acontecimentos é porque está, antes de mais, fora de si mesmo. A insensatez deste actor consiste em crer que podemos estar "dentro dos acontecimentos" sem, ao mesmo tempo, nos encontrarmos "sob a acção desses mesmos acontecimentos". Apenas aquele que tem consciência de estar sob a acção dos acontecimentos provocados pela sua própria acção beneficiará do enriquecimento trazido pelo pós-acontecimento. É escusado dizer que o indivíduo que está "fora de si" se encontra igualmente "sob a acção dos acontecimentos" provocados por aquilo que está a fazer, mas UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 23 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM ignora-o e, por conseguinte, será um exemplo perfeito do conhecido aforismo: "andar com a cabeça no ar". Há no entanto, uma figura que escapa paradoxalmente a este encerramento "fora de si", na medida em que se ergue como uma estátua no limite extremo da sua lógica. O encantado, como o seu próprio nome indica, sente-se feliz por ter sido posto "fora de si", sob a acção de um êxtase permanente. Aconteça o que acontecer, o pós-acontecimento virá confirmar as suas inabaláveis certezas. Porque estas são "vidência" e não "previdência". Nos presépios da Provença, o encantado é representado pela figura do pobre inocente da aldeia, o insanus, ao mesmo tempo alvo de troça e de respeito. Não gastemos o nosso latim com o encantado. Noutras circunstâncias, seria altamente louvável fazê-lo, mas, na presente conjectura, é demasiado fácil. Bastava canonizá-lo e tomar a defesa do encantamento, contra os pés assentes na Terra e firmados na força da realidade. Pois gostaria de lembrar aqui que há uma espécie de encantamento pernicioso: aquele em que o encantado apareceria como o contramodelo. Por outras palavras, atingiríamos o encantamento através da desmedida. (HAMELINE, Daniel.O Educador e a acção sensata. In: NÓVOA, António (org.) Profissão Professor. Portugal: Porto Editora, 1995, p. 39 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 24 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Resumo Unidade II A unidade dois procurou apresentar uma fundamentação teórica sobre a abrangência da educação que, por ser abrangente, possui uma extensão maior do que sua compreensão. É por isso que se faz necessária na prática educativa a ação sensata. A ação sensata é o cuidado que devemos ter na aplicação dos conhecimentos de que nos apropriamos. Sendo a educação um processo, é o próprio processo em seu movimento que deve nos instruir, isto é, a própria prática educativa nos proporciona meios diferentes de conduzir o aprendizado. Isto porque a realidade não é retilínea, uma reta. Ela é como um nó que, na medida em que vamos desatando, vamos percebendo várias possibilidades que estão contidas no próprio nó e não fora dele. O que se busca fora do processo é a ação insensata que se caracteriza como desmedida. Referências CARVALHO, Adalberto Dias de.(coord.) Dicionário de Filosofia da Educação.Portugal: Porto Editora, 2006. DESCARTES, René. Discurso do Método. 4. ed. São Paulo : Nova Cultural, 1987. HAMELINE, Daniel. Les objectifs pédagogiques: en formation initiale et en formation continue suivi de l’éducateur et l’action sensée. Paris: ESF, 1979. 217 p. NÓVOA, António. (org.) Profissão Professor. Portugal: Porto Editora, 1995. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 25 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 10 - Perspectiva essencialista A Educação como processo é uma realização histórico-cultural. Isto significa dizer que não podemos prescindir do historicismo. Japiassú nos diz que o historicismo é o: [...] método filosófico que tenta explicar sistematicamente pela história, isto é, pelas circunstâncias da evolução das idéias e dos costumes ou pelas transformações das estruturas econômicas, todos os acontecimentos relevantes do direito, da moral, da religião e de todas as formas de progresso da consciência." (JAPIASSU. 1996, p.129). A educação é uma dessas formas de progresso. Então, vamos fazer uma linha do mesmo. Comecemos pela leitura essencialista. O essencialismo desconsidera os seres reais considerando-os em seus aspectos ideais. O ideal de bondade, justiça, felicidade etc. São ideais que transcendem o aspecto natural, isto é, que não é acessível a um conhecimento por meio da experiência. A leitura essencialista de mundo se estabelece no período da Antiguidade grega, século V a.C. e Idade Média. Para o essencialismo há uma substância, uma essência humana que identifica cada espécie e tem por característica ser universal, vale dizer, que se estende a tudo, por toda parte e que tem o caráter de absoluta generalidade. Nesta perspectiva existe uma natureza humana, desde sempre dada, sendo que a ação humana é resultado desta necessidade intrínseca, ou seja, desde sempre estabelecida e dada. Em outras palavras, já nascemos com certa potencialidade que deve passar por um trabalho em direção a um fim que seria a perfeição. O homem, nessa perspectiva é um ser educável. Sua essência é a racionalidade. Trata-se, portanto, de uma educação dirigida ao espírito. Podemos destacar como principais representantes desta filosofia educacional os filósofos Platão (428-347 a.C.), Aristóteles (384-324 a.C.), Santo Agostinho, (354- 430 d.C.) e Santo Tomás de Aquino ( 1227-1274 d.C.). Na perspectiva essencialista O real constitui uma ordem ontológica: tanto o mundo como o homem são vistos como entes/substâncias que realizam uma essência. A essência de cada ente contém e define as características específicas de cada um, que são universais e comuns a todos os indivíduos da mesma espécie. A perfeição de cada ente se avalia pela plenitude de realização dessas potencialidades intrínsecas. (SEVERINO, 1994, p. 35). Assim sendo a educação tem características essencialista. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 26 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM ...a educação é concebida como processo de atualização da potência da essência humana, mediante o desenvolvimento das características específicas contidas em sua substância, visando sempre um estágio de plena perfeição e atualização total. (Severino, 1994, p. 35) É a educação no sentido, como já foi dito de educĕre, na medida em que forças latentes são liberadas cabendo ao educador estimulá-lasvir à tona. O texto a seguir é um excerto de um dos diálogos menores de Platão chamado Mênon onde se procura demonstrar que nos recordamos de conceitos a priori, isto é, já existente em nossa alma. MÊNON: - Seja, Sócrates! Entretanto, o que é que te leva a dizer que nada aprendemos e que o que chamamos de saber nada mais é do que recordação? Poderias provar-me isso? SÓCRATES: - Não faz muito, excelente Mênon, que te chamei de habilidoso! Perguntas se te posso ensinar, quando agora mesmo afirmei claramente que não há ensino, mas apenas reminiscência; estás procurando precipitar-me em contradição comigo mesmo! MÊNON: - Não, por Zeus, caro Sócrates! Não foi com essa intenção que fiz a pergunta, mas apenas levado pelo hábito. Todavia, se te é possível mostrar- me de qualquer modo que as coisas de fato se passam assim como o dizes, demonstra-mo, pois esse é o meu desejo! SÓCRATES: - Não é uma tarefa fácil o que pedes; fá-la-ei, entretanto, de boa grego? MÊNON: - Sim; nasceu em minha casa. SÓCRATES: - Então, caro Mênon, presta bem atenção, e examina com cuidado se o que ele faz com meu auxílio é recordar-se ou aprender. MÊNON: - Observarei com cuidado. SÓCRATES: - (Voltando-se para o escravo ao mesmo tempo que traça no solo as figuras necessárias à sua demonstração): Dize-me, rapaz: sabes o que é um quadrado? ESCRAVO: - Sei. SÓCRATES: - Não é uma figura, como esta, de quatro lados iguais? ESCRAVO: - É. SÓCRATES: - E estas linhas, que cortam o quadrado pelo meio, não são também iguais? ESCRAVO: - São. SÓCRATES: - Esta figura poderia ser maior ou menor, não poderia? ESCRAVO: - Poderia. SÓCRATES: - Se, pois, este lado mede dois pés e este também dois pés, quantos pés terá a superfície deste quadrado? Repara bem: se isto for igual a dois pés e isso igual a um pé, a superfície não terá de ser o resultado de uma vez dois pés? ESCRAVO: - Terá. SÓCRATES: - Mas este lado mede também dois pés; portanto a superfície não é igual a duas vezes dois pés? ESCRAVO: - É. SÓCRATES: - A superfície por conseguinte mede duas vezes dois pés? ESCRAVO: - Mede. SÓCRATES: - E quanto iguala duas vezes dois pés? Conta e dize! ESCRAVO: - Quatro, Sócrates. SÓCRATES: - E não nos seria possível desenhar aqui uma outra figura, com área dupla e de lados iguais como esta? ESCRAVO: - Sim, seria. SÓCRATES: - E quantos pés, então, mediria a sua superfície? ESCRAVO: - Oito. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 27 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM SÓCRATES: - Bem; experimenta agora responder ao seguinte: que comprimento terá cada lado da nova figura? Repara: o lado deste mede dois pés, quanto medirá, então, cada lado do quadrado de área dupla? ESCRAVO: - É claro que mede o dobro daquele. SÓCRATES: - (A Mênon): Vês, caro Mênon, que nada ensino, e que nada mais faço do que interrogá-lo? Este rapaz agora pensa que sabe quanto mede a linha lateral que formará o quadrado de oito pés. És da minha opinião? MÊNON: - Sou. SÓCRATES: - Mas crês que ele de fato saiba? MÊNON: - Não, não sabe. SÓCRATES: - Mas ele está convencido de que o quadrado de área dupla tem também o lado duplo, não é? MÊNON: - Está, sem dúvida. SÓCRATES: - Observa como ele irá recordando pouco a pouco, de maneira exata. Responde-me (disse voltando-se para o escravo): tu dizes que uma linha dupla dá origem a uma superfície duas vezes maior? Compreende-me bem: não falo de uma superfície longa de um lado e curta de outro. O que procuro é uma superfície como esta, igual em todos os sentidos, mas que possua uma extensão dupla, ou mais exatamente, de oito pés. Repara agora se ela resultará do desdobramento da linha. ESCRAVO: - Creio que sim. SÓCRATES: - Será, pois, sobre esta linha que se construirá a superfície de oito pés, se traçarmos quatro linhas semelhantes? ESCRAVO: - Sim. SÓCRATES: - Desenhemos então os quatro lados. Esta é a superfície de oito pés? ESCRAVO: - É. SÓCRATES: - E agora? Não se encontram, porventura, dentro dela estas quatro superfícies, das quais cada uma mede quatro pés? ESCRAVO: - É verdade!... SÓCRATES: - Mas então? Qual é esta área? Não é o quádruplo? ESCRAVO: - Necessariamente. SÓCRATES: - O duplo e o quádruplo são a mesma coisa? ESCRAVO: - Nunca, por Zeus! SÓCRATES: - E que são, então? ESCRAVO: - Duplo significa duas vezes; e quádruplo, quatro vezes. SÓCRATES: - Por conseguinte, esta linha é o lado de um quadrado cuja área mede quatro vezes a área do primeiro? ESCRAVO: - Sem dúvida. SÓCRATES: - E quatro vezes quatro dá dezesseis, não é? ESCRAVO: - Exatamente. SÓCRATES: - Mas, então, qual é o lado do quadrado da área dupla? Este lado dá o quádruplo, não dá? ESCRAVO: - Sim. SÓCRATES: - A superfície de quatro pés quadrados tem lados de dois pés? ESCRAVO: - Tem. SÓCRATES: - O quadrado de oito pés quadrados é o dobro do quadrado de quatro e a metade do quadrado de dezesseis pés, não é? ESCRAVO: - É. SÓCRATES: - E seu lado, então, não será maior do que o lado de um e menor do que o de outro desses dois quadrados? ESCRAVO: - Será. SÓCRATES: - Bem; responde-me: este lado mede dois pés e este quatro? ESCRAVO: - Sim. SÓCRATES: - Logo, o lado da superfície de oito pés quadrados terá mais do que dois e menos do que quatro pés. ESCRAVO: - Tem. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 28 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM SÓCRATES: - Experimenta, então, responder-me: qual é o comprimento desse lado? ESCRAVO: - Três pés. SÓCRATES: - Pois bem: se deve medir três pés, deveremos acrescentar a essa linha a metade. Não temos três agora? Dois pés aqui, e mais um aqui. E o mesmo faremos neste lado. Vê!, agora temos o quadrado de que falaste. ESCRAVO: - Ele mesmo. SÓCRATES: - Repara, entretanto: medindo este lado três pés e o outro também pés, não se segue que a área deve ser três pés vezes três pés? ESCRAVO: - Assim penso. SÓCRATES: - E quanto é três vezes três? ESCRAVO: - Nove. SÓCRATES: - E quantos pés deveria medir a área dupla? ESCRAVO: - Oito. SÓCRATES: - Logo a linha de três pés não é o lado do quadrado de oito pés, não é? ESCRAVO: - Não, não pode ser. SÓCRATES: - E então? Afinal, qual é o lado do quadrado sobre que estamos discutindo? Vê se podes reponder a isso de modo correto! Se não queres fazê-lo por meio de contas, traça pelo menos na areia a sua linha. ESCRAVO: - Mas, por Zeus, Sócrates, não sei! SÓCRATES: - (Voltando-se para Mênon): Reparaste, caro Mênon, os progressos que a sua recordação fez? Ele de fato nem sabia e nem sabe qual é o comprimento do lado de um quadrado de oito pés quadrados; entretanto, no início da palestra, acreditava saber, e tratou de responder categoricamente, como se o soubesse; mas agora está em dúvida, e tem apenas a convicção de que não o sabe! MÊNON: - Tens razão. SÓCRATES: - E agora não se encontra ele, não obstante, em melhores condições relativamente ao assunto? MÊNON: - Sem dúvida! SÓCRATES: - Despertando-lhe dúvidas e paralisando-o como a tremelga, acaso lhe causamos algum prejuízo? MÊNON: - De nenhum modo! SÓCRATES: - Sim, parece-me que fizemos uma coisa que o ajudará a descobrir a verdade! Agora ele sentirá prazer em estudar este assunto que não conhece, ao passo que há pouco tal não faria, pois estava firmemente convencido de que tinha toda razão de dizer e repetir diante de todos que a área dupla deve ter o lado duplo! MÊNON: - É isso mesmo. SÓCRATES: - Crês que anteriormente a isto ele procurou estudar e descobrir o que não sabia, embora pensasse que o sabia? Agora, porém, está em dúvida, sabe que não sabe e deseja muito saber! MÊNON: - Com efeito. SÓCRATES: - Diremos, então, que lhe foi vantajosa a paralisação? MÊNON: - Como não! Sócrates: - Examina, agora, o que em seguida a estas dúvidas ele irá descobrir, procurando comigo. Só lhe farei perguntas; não lhe ensinarei nada! Observa bem se o que faço é ensinar e transmitir conhecimentos, ou apenas perguntar-lhe o que sabe. (E, ao escravo): Responde-me: não é esta a figura de nossoquadrado cuja área mede quatro pés quadrados? Vês? ESCRAVO: - É. SÓCRATES: - A este quadrado não poderemos acrescentar este outro, igual? ESCRAVO: - Podemos. SÓCRATES: - E este terceiro, igual aos dois? ESCRAVO: - Podemos. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 29 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM SÓCRATES: - E não poderemos preencher o ângulo com outro quadrado, igual a estes três primeiros? ESCRAVO: - Podemos. SÓCRATES: - E não temos agora quatro áreas iguais? ESCRAVO: - Temos. SÓCRATES: - Que múltiplo do primeiro quadrado é a grande figura inteira? ESCRAVO: - O quádruplo. SÓCRATES: - E devíamos obter o dobro, recordaste? ESCRAVO: - Sim. SÓCRATES: - E esta linha traçada de um vértice a outro da cada um dos quadrados interiores não divide ao meio a área de cada um deles? ESCRAVO: - Divide. SÓCRATES: - E não temos assim quatro linhas que constituem uma figura interior? ESCRAVO: - Exatamente. SÓCRATES: - Repara, agora: qual é a área desta figura? ESCRAVO: - Não sei. SÓCRATES: - Vê: dissemos que cada linha nestes quatro quadrados dividia cada um pela metade, não dissemos? ESCRAVO: - Sim, dissemos. SÓCRATES: - Bem; então quantas metades temos aqui? ESCRAVO: - Quatro. SÓCRATES: - E aqui? ESCRAVO: - Duas. SÓCRATES: - E em que relação aquelas quatro estão para estas duas? ESCRAVO: - O dobro. SÓCRATES: - Logo, quantos pés quadrados mede esta superfície? ESCRAVO: - Oito. SÓCRATES: - E qual é seu lado? ESCRAVO: - Esta linha. SÓCRATES: - A linha traçada no quadrado de quatro pés quadrados, de um vértice a outro? ESCRAVO: - Sim. SÓCRATES: - Os sofistas dão a esta linha o nome de diagonal e, por isso, usando esse nome, podemos dizer que a diagonal é o lado de um quadrado de área dupla, exatamente como tu, ó escravo de Mênon, o afirmaste. ESCRAVO: - Exatamente, Sócrates! SÓCRATES: - Que te parece, meu caro Mênon? Este rapaz, acaso, não me disse em resposta o que justamente pensava? MÊNON: - Sim, o que ele próprio pensava. SÓCRATES: - Mas já não se achavam esses conhecimentos no seu íntimo? MÊNON: - Achavam-se. SÓCRATES: - Portanto, em todos aqueles que não sabem o que são certas coisas, se encontra o conhecimento verdadeiro dessas coisas. MÊNON: - Assim parece. SÓCRATES: - E tais conhecimentos foram despertados nele como de um sonho; e creio que se alguém lhe fizer repetidas vezes e de várias maneiras perguntas a propósito de UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 30 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM determinados assuntos, ele acabará tendo uma ciência tão exata como a de qualquer pessoa da boa sociedade. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 31 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 11_ Perspectiva Naturalista Fruto da idade moderna, o naturalismo contrapõe-se ao essencialismo naturalizando a racionalidade humana. É a crença de se conceber a natureza pela razão e conforme a razão. Estabelece-se aqui uma nova visão do homem. Este é parte da natureza e tal como ela sujeita a leis. O real não é mais idealizado. O modo de apropriá-lo passa a ser científico. Valorizam-se alguns aspectos que se negam na visão essencialista, a corporeidade do homem, por exemplo. A corporificação, o corporificar dá consistência material ao real. Não há uma separação alma e corpo. O homem é seu próprio corpo e sua própria alma. Deve-se educar a ambos para que haja uma harmonia no desenvolvimento natural. Vocês devem ter notado que falamos de ideal e real livremente. Faz-se necessário um esclarecimento. O ideal representa, a partir de nossas experiências vivenciadas dia a dia, o imaginário, objeto da nossa mais alta aspiração, ou seja, a perfeição. Já o real o que existe efetivamente. Faz-se aqui uma distinção que deve ser norteadora, daqui para frente, do nosso diálogo. Tomaremos os termos no sentido filosófico. Assim, conforme Japiassu, o Ideal é [...]“o que se refere a uma idéia e não a uma realidade empírica”, ou [...] “modelo perfeito que se postula como guia ou orientação para uma determinada conduta ou ação” ( JAPIASSU, p., 134). Já o real é [...] “ o que existe, que diz respeito às coisas, aos fatos.” (JAPIASSU, p.230) A distinção que queremos fazer é para estarmos atentos em que sentido tomamos os dois termos. Isto porque, pode haver uma realidade não empírica no ideal. E quando dizemos não empírica queremos indicar que se trata de uma realidade cuja experiência se dá de forma abstrata, racional e não por meio de nossos sentidos, audição, visão, tato, paladar e olfato. Destacamos como representantes da visão naturalista alguns filósofos como Francis Bacon (1561-1626 d.C), John Locke (1632-1704 d.C) entre outros. O naturalismo também é, uma Concepção filosófica que não admite a existência de nada que seja exterior à natureza, reduzindo a realidade ao mundo natural e a nossa experiência deste. O naturalismo recusa, portanto, qualquer elemento sobrenatural ou princípio transcendente. (JAPIASSU, 1996, p. 192) UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 32 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Na perspectiva naturalista, conforme o professor Severino, O real se esgota na ordem natural do universo físico, à qual tudo se reduz, incluídos o homem e a própria razão, que é razão natural. O homem se constitui, então, num organismo vivo, regido pelas leis da natureza, leis estas que determinam sua maneira de ser e de se desenvolver, tanto no plano individual como no plano social. (SEVERINO, 1994, p. 35) Isto significa dizer que, Na perspectiva naturalista, a educação é concebida como processo de desenvolvimento de um organismo vivo, cujas potencialidades físico- biológicas e sociais já se encontram inscritas no homem, como ser natural que é, sempre visando um aumento individual e social da vida. (SEVERINO, 1994, p. 35) O que indica uma educação no sentido de educāre. Isto é, algo externo é acrescentado ao sujeito indivíduo, proporcionando-lhe os meios para o seu desenvolvimento. Tanto a visão essencialista como a naturalista ainda se prestam para a fundamentação de algumas práticas educacionais. O que se faz necessário é vocês identificá-las para fazer uma reflexão crítica sobre seus pressupostos. Isto nos leva a Perspectiva histórico-social. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 33 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 12_Perspectiva Histórico Social O homem ganha uma nova visão. Deixa de ser uma essência espiritual (metafísica) e natural (cientificista) e passa a ser visto a partir das condições concretas, reais, existenciais. A relação sujeito-objeto já não se dá de forma excludente, isso é, ou uma coisa ou outra, mas em sua dinâmica histórica. Parte-se da historicidade. A historicidade é, conforme Japiassú, a [...] “condição da existência humana que, embora comprometida com o tempo e solidária com seu passado histórico, define-se por sua projeção livre no futuro”. (JAPIASSÚ, 1996, p. 129) A historicidade do real já encontramos em Heráclito de Éfeso ( 540-480 a.C.), pré-socrático, como eram chamados os pensadores da Physis (física=natureza) que precederam o pensamento de Sócrates. Ele já havia percebido que há um movimento eterno da realidade, bem como os contrários que se hamonizavam, dialética. Contudo, é em Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831 d.C.) e Einrich Karl Marx (1818-1883 d.C.) que a historicidade dialética, história cujo movimento se desenvolve a partir de contradições, que os contrários ganham forma sistemática e metódica. A distinção que se faz é que Hegel parte do universo das ideias (idealismo) e Marx da matéria (materialismo). A perspectiva histórico-social da educação é a afirmação da dialética. Nega as leituras essencialistas, que na relação sujeito-objeto prioriza o sujeito, e a naturalista, que, nessa mesma relação, ressalta o objeto. Só há conhecimentose houver relação. A relação sujeito-objeto se dá de forma dialética, vale dizer, nem sujeito nem objeto tem prioridade. Não se privilegia um em detrimento do outro. Eles só têm sentido em suas relações e funções. O que determina essas relações são as condições objetivas e materiais da existência dos homens situados historicamente no mundo. Sendo assim, na perspectiva histórico- social, O real se constitui da totalidade do universo e se realiza num processo histórico, resultante a cada momento de múltiplas determinações naturais, sociais e culturais; o processo histórico de constituição do real segue “leis” que não se situam mais nem no plano da determinação metafísica, nem no plano da necessidade científica e que não se formalizam mais com base numa pura lógica de identidade. Dessa forma o homem também é entidade natural histórica, determinada pelas condições objetivas de sua existência ao mesmo tempo em que atua sobre elas por meio de suas práxis. (SEVERINO, 1994, p. 35). Portanto, UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 34 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Na perspectiva histórico-social, a educação é concebida como processo individual e coletivo de constituição de uma nova consciência social e de reconstituição da sociedade pela rearticulação de suas relações políticas. (SEVERINO, 1994, p. 35) Estas informações serão norteadoras para uma posterior reflexão, quando então vocês terão mais informações sobre a unidade que tratará da epistemologia do conhecimento. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 35 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 13_Perspectiva positivista O positivismo de Augusto Comte (1798-1857) também está presente na educação. O positivismo entende que a educação deve ser reformada sob bases científicas. Para isso faz-se necessário uma teoria científica social (chamada de física social) e histórica. Em seu Curso de Filosofia Positiva, ao expor o primeiro objetivo do curso, Augusto Comte disse que: [...] a fundação da física social completa o sistema das ciências naturais, torna-se possível e mesmo necessário resumir os diversos conhecimentos adquiridos que atingiram então, um estado fixo e homogêneo a fim de coordená-los, apresentando-os como diferentes ramos dum tronco único, ao invés de continuar considerando-os apenas como vários corpos isolados. Para esse fim, antes de proceder ao estudo dos fenômenos sociais, considerarei sucessivamente, na ordem enciclopédica anunciada mais acima, as diferentes ciências positivas já formadas.(COMTE, In Coleção Os Pensadores, 1978 p. 10) Entendendo que o espírito humano se desenvolve por meio de fases, estabelece a lei dos três estados. Teológico, o estado inicial da humanidade onde os fenômenos são produções de agentes sobrenaturais; Metafísico, estado abstrato, onde se especula sobre o incognoscível e Positivo, fundado em fatos sensíveis ou reduzido a leis naturais. Este último estado é o que seria científico, final de desenvolvimento do espírito humano. O conhecimento humano deve dirigir-se na busca de relações invariáveis que os fenômenos naturais proporcionam em suas leis. O modelo é o das ciências naturais, física, química, biologia. Não interessa para o espírito humano ficar especulando, questionando como é possível essa lei, portando, querer saber de suas causas, isto é, o estado metafísico que a humanidade já deve ter superado. O que interessa é saber como os fenômenos se relacionam. Vocês já perceberam que o aspecto da educação positivista é de caráter cientificista. Por esta e outras razões é que privilegia as ciências naturais, física, química, biologia. O positivismo está presente em nosso sistema educacional. Na educação positivista, UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 36 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM O currículo escolar enfatiza o conhecimento científico, o conhecimento passível de experimentação e caracterizado pela absolutização da linguagem científica e da matematização das ciências, decretando, dessa forma, a “morte da metafísica” [...] Esse tipo de educação incentiva de tal forma o especialismo que os alunos se tornam incapazes de qualquer julgamento crítico sobre a realidade que os cerca. (OLIVEIRA (org.), p.101) A educação positivista presta-se a divisões onde se estabelecem áreas: exatas, humanas e biológicas, onde as “científicas” são privilegiadas em detrimento das “humanas”. . UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 37 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 14_Perspectiva Reconstrutivista O reconstrutivismo tem como vocação a “reconstrução” da sociedade como para fazer frente ao que se entende por crise sociocultural, Reconstrutivismo Social ou Cultural. Os reconstrutivistas entendem que escola e os educadores devem eleger planos de ação que possam reformar a sociedade. Para tanto, procuram aplicar o príncípio Deweyano da “reconstrução da experiência” Os princípios fundamentais do reconstrutivismo, segundo Theodore Brameld, são: • qualquer que seja a filosofia da educação adotada, esta surge e se desenvolvem a partir de determinados padrões culturais que se encontram subordinados às contingências de tempo e de espaço; • o processo cultural, devido ao seu dinamismo e crescimento constantes, encontra-se em mudanças ininterruptas; • o homem é capaz de criar e recriar a sua própria cultura e pode, portanto promover o seu autodesenvolvimento. (OLIVEIRA, (org.), 1993, p. 112) Portanto, cabe à educação o papel de repensar a ordem social vigente a partir e com as forças sociais, econômicas, políticas atuais, propondo novos valores para que a mesma não se autodestrua. A educação deve conduzir o homem a uma profunda transformação de mentalidade para que o enorme poder tecnológico à sua disposição seja usado para criar em vez de destruir e matar. A sociedade deve ser transformada, não apenas por meio de ações políticas, mas também através da educação de todos os seus O educador reconstrutivista crê que o papel da educação não é apenas transmitir os conhecimentos de nossa herança cultural, mas também desenvolver certas habilidades intelectuais capazes de transformar a estrutura social à luz das necessidades emergentes da vida moderna. (OLIVEIRA(org), 1993, p. 113) A filosofia por ser reflexiva, crítica, porta os instrumentos que o educador reconstrutivista deve ter para fazer uma análise da existência humana, suas necessidades e posteriores planos de ação que possam concretizar as transformações sociais. É salutar observar, no trecho que se segue, o que John Dewey (1859 – 1952), filósofo, educador e ativista social, pensa sobre a natureza da filosofia. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 38 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM A natureza da filosofia Nossa próxima tarefa é extrair e explicar a idéia de filosofia implícita nessas considerações. Praticamente já descrevemos filosofia no que diz respeito aos problemas de que ela trata, ainda que sem defini-la. Esses problemas se originam nos conflitos e dificuldades da vida social e se referem a aspectos como as relações entre mente e matéria, corpo e alma, humanidade e natureza física, indivíduo e coletividade, teoria e prática, saber e fazer. Os sistemas filosóficos que formulam tais problemas refletem os principais traços e dificuldades da prática social contemporânea. Eles trazem à consciência explícita o que os homens, em virtude da qualidade de suas experiências presentes, pensam sobre a natureza, eles mesmos e a realidade que concebem para envolver ou governar a ambos. Como era de esperar, então, a filosofia tem sido geralmente definida de maneiras que implicam certa totalidade, generalidade e finalidade última, tanto acerca de determinado assunto quanto do método. Em relação ao assunto, a filosofia é uma tentativa de abarcar – isto é, reuniros variados detalhes do mundo e da vida em um todo inclusivo e único, que pode consistir em uma unidade ou, então, reduzir os muitos detalhes a um pequeno número de princípios finais, como ocorre nos sistemas dualísticos. Já o filósofo e os que aceitam suas conclusões se esforçam para atingir um ponto de vista sobre a experiência que seja o mais unificado, consistente e completo possível. Esse aspecto é expresso na palavra “filosofia” – amor à sabedoria. Toda vez que a filosofia foi levada a sério, assumiu-se que ela significava alcançar uma sabedoria capaz de influenciar a condução da vida. É o que se constata no fato de que quase todas as antigas escolas de filosofia eram também maneiras organizadas de viver, e os que se submetiam a suas doutrinas estavam comprometidos com certos modos distintos de conduta; isso é confirmado pela íntima ligação da filosofia com a teologia da Igreja Romana na Idade Média, sua frequente associação com interesses religiosos e, nas crises nacionais, sua ligação com as lutas políticas. Essa ligação direta e íntima da filosofia com uma opinião sobre a vida diferencia, obviamente, a filosofia da ciência. Os fatos particulares e as leis da ciência influenciam a conduta. Eles sugerem coisas por fazer e não fazer e fornecem meios de execução. Quando a ciência não denota simplesmente um relato dos fatos particulares descobertos sobre o mundo, mas uma atitude geral em relação ao mundo – como distinta das coisas especiais a fazer -, ela é absorvida pela filosofia. Isso porque se trata de uma disposição subjacente que representa uma atitude não em relação a essa ou aquela coisa, nem mesmo ao conjunto das coisas conhecidas, mas às considerações que governam a conduta. Assim, a filosofia não pode ser definida simplesmente pelos temas a que se dedica. Por esse motivo, a definição de concepções como generalidade, totalidade e finalidade última é atingida mais prontamente pelo ângulo da disposição diante do mundo que elas exprimem. Em qualquer sentido quantitativo e literal, esses termos não se aplicam à matéria do conhecimento, pois inteireza e finalidade estão fora de questão. A própria natureza da experiência, como processo em andamento, em mudança, o proíbe. Em um sentido menos rígido, tais termos se aplicam à ciência, e não à filosofia. É óbvio que devemos recorrer à matemática, à física, à química, à biologia, à antropologia, à história etc., e não à filosofia, para descobrir os fatos do mundo. Cabe à ciência dizer quais generalizações sobre o mundo são sustentáveis e o que, precisamente, elas são. Contudo, quando perguntamos sobre o tipo de disposição permanente para agir diante do mundo, as descobertas científicas exigem que levantemos uma questão filosófica. [...] Qualquer pessoa sem preconceitos, sensível a novas percepções, com concentração e responsabilidade para correlacioná-las tem temperamento filosófico. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 39 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM (DEWEY, John. Democracia e educação: capítulos essenciais; apresentação e comentários Marcus Vinícius da Cunha. São Paulo: Ática, 2007, p. 75-77). UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 40 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Resumo Unidade III Esta unidade procurou fazer a leitura de concepções educacionais tais como o essencialismo, que concebe o real de forma idealizada e metafísica, onde a atualização de potências é o enfoque principal. Fizemos uma ligeira distinção entre real e ideal contrapondo o naturalismo ao essencialismo. O naturalismo sai do universo das ideias e transforma o real no universo do mundo físico. A perspectiva histórico-social, sendo dialética, vem propor a superação do essencialismo e naturalismo bem como o positivismo, que vê na lei natural, na experiência, a fonte confiável do conhecimento. Sendo a sociedade dinâmica, a leitura reconcrutivista se propõe a fazer uma crítica social e cultural para poder reconstruí-la em conformidade com a ordem social moderna. Referências COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva; Discurso sobre o espírito positivo; Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. São Paulo: Abril Cultura, 1978. (Os pensadores) DEWEY, John. Democracia e educação: capítulos essenciais; apresentação e comentários Marcus Vinícius da Cunha. São Paulo: Ática, 2007. JAPIASSÚ, Hilton.Dicionário básico de filosofia. 3. ed. ver. e ampliada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. OLIVEIRA, Admardo Serafim de. (org.) Introdução ao pensamento filosófico.São Paulo: Loyola, 1993. PLATÃO. Diálogos I. Mênon, Banquete, Fedro. 21. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. (Clássicos de bolso) SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1994. (Magistério 2º Grau. Formação Geral). UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 41 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 15_ Problemas filosóficos na educação Um problema é sempre uma questão proposta para que se dê solução, isto é, um obstáculo. Sendo assim, temos vários obstáculos filosóficos na educação. Não vamos resolvê-los. Eles deixariam de ser problemas e não necessitariam da filosofia para refletir sobre eles. E porque são problemas é que se faz necessário uma análise filosófica. É tarefa do educador ter consciência quanto aos ideários que fundamentam suas ações pedagógicas. Ele não pode deixar de ter clareza sobre os fundamentos de sua prática. Sua prática não é somente mais uma técnica desenvolvida do como fazer, mas a consciência do porque fazer. Sendo assim, vocês já podem perceber que a práxis (= prática) humana educativa é constituída por justificativas teóricas que cabem à filosofia fazer. Quando citamos Gramsci a respeito do preconceito existente da filosofia como algo muito difícil e que associada à educação parece ainda mais difícil, queríamos dizer também que há pouca clareza do seu papel educacional político, epistemológico e cultural. Assim, não raro a pergunta do para que estudar filosofia da educação. A pergunta é tão imediatista quanto a resposta: para ter notícias do que os filósofos andaram pensando a respeito da educação. Sendo a educação dinâmica, responsável pelo desenvolvimento do sujeito e preparando-o para a cidadania, vocês vão perceber que não se pode desprezar a História da Educação, a Sociologia da Educação entre outras reflexões. Vamos retomar o pré-socrático Heráclito que citamos anteriormente. Ele nos diz que tudo está em eterno movimento. Mas a despeito disso há algo que permanece. Podemos dizer, por enquanto, que somos os mesmos permanecendo outro. Mas somos os mesmos com nossas circunstâncias, vale dizer, com as condições particulares que acompanham os fatos. A circunstância de vocês é diferente da minha, e é bom que seja. Então, não podemos utilizar-nos de um único instrumento para analisar as variadas circunstâncias. Quando os filósofos pensam a educação, pensam, salvo melhor juízo, de maneira abrangedora, isto é, capaz de compreender e perceber não só como se dá o conhecimento para o sujeito, mas um sujeito circunstancializado pelas relações UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 42 Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM histórica, política e cultural. É isto que aqui denomino como sendo a consciência filosófica da prática humana. A ausência desta consciência é a ausência da filosofia. Se nós não desenvolvermos a consciência filosófica educativa de forma séria e rigorosa, corremos o risco de cairmos no canto das sereias, imagem que um grande educador da antiguidade, Homero, nos traz. As sereias sinalizam e nos induzem ao fácil, à resolução de dificuldades imediatas. A consciência filosófica educativa requer engajamento, isto é, estar situado no mundo e comprometido com sua realização. Assim, entre vários problemas da educação de que a filosofia se ocupa e que serve para nossa reflexão
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