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METODOLOGIA DO ENSINO DE FILOSOFIA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Dra. Viviane Bonfim Fernandes Indaial - 2020 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F363m Fernandes, Viviane Bonfim Metodologia do ensino de filosofia. / Viviane Bonfim Fernandes. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 106 p.; il. ISBN 978-65-5646-023-9 ISBN Digital 978-65-5646-024-6 1. Filosofia - Estudo e ensino. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 107 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO.........................................................7 CAPÍTULO 2 O ENSINO DE FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA ...........43 CAPÍTULO 3 A SALA DE AULA DE FILOSOFIA ..................................................73 APRESENTAÇÃO A disciplina de Metodologia do Ensino de Filosofia se apresenta como um importante componente curricular na formação do professor de Filosofia, não só por criar espaço para a reflexão sobre a relação entre o pensamento filosófico e a formação humana, mas por refletir os aspectos práticos da ação docente do professor de Filosofia. Pensar na ação do docente de Filosofia implica em reconhecer os passos da reflexão filosófica e seus impactos, tanto na formação da consciência crítica como na metodologia aplicada pelo docente de Filosofia. Está aí a importância do estudo da história da Filosofia: também verificar as diversas formas de se definir e fazer Filosofia. Além das questões referentes aos conceitos filosóficos propriamente ditos, pensar nas questões metodológicas do ensino de Filosofia na educação básica implica também em compreender como e quando esse espaço é concedido. Assim, faz-se necessário analisar os contextos sócio-políticos dessa concessão e suas implicações ideológicas em sala de aula. Depois de discutidas as questões conceituais e políticas que envolvem a problemática do ensino de Filosofia, cabe refletir sobre a metodologia de ensino propriamente dita, a relação entre as teorias educacionais e a Filosofia, as metodologias do ensino de Filosofia, as questões da aprendizagem, bem como a avaliação de ensino. Todas essas questões serão discutidas ao longo de três capítulos. O Capítulo 1 trata dos aspectos ligados ao campo disciplinar em questão, e sua relação com a formação crítica do homem. Procura refletir sobre o caráter eminentemente prático da Filosofia, que é o próprio pensar filosófico como parte indissociável da ação pedagógica, e sua importância na formação de cidadãos críticos e autônomos. Outro aspecto a ser abordado diz respeito à forma como o conhecimento foi tratado ao longo do tempo, suas limitações e as novas possibilidades epistemológicas. O Capítulo 2 discute os problemas políticos em torno do ensino de Filosofia e suas implicações no dia a dia da escola. Assim, procura refletir sobre a ausência e a presença do ensino de Filosofia na educação básica brasileira e sua relação com a história política do Brasil, observando os interesses em jogo e suas implicações ideológicas. O Capítulo 3 aborda as questões teórico-metodológicas do ensino de Filosofia, pontuando a relação entre teoria e prática. Discorre sobre o método dialógico como alternativa metodológica, e a importância da avaliação como ponto central da aprendizagem. Desse modo, a disciplina possibilita ao acadêmico refletir sobre sua prática docente a partir dos próprios elementos do pensar filosófico, levando-o a identificar importância da Filosofia para o desenvolvimento do pensamento e da criticidade, elementos emancipadores necessários para desenvolver sujeitos livres, autônomos e conscientes da sua própria história. CAPÍTULO 1 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender como o conceito de Filosofia se constituiu ao longo do tempo. � Identificar a importância de Filosofia para a formação do homem crítico. � Reconhecer o caráter prático da Filosofia. � Valorizar a filosofia enquanto saber prático e fundamental. 8 Metodologia do Ensino de Filosofia 9 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Tratar do ensino de Filosofia implica refletir sobre dois conceitos centrais — Filosofia e Ensino —, para só depois se estabelecer uma relação entre ambos. Compreender de maneira mais ampla os conceitos de Filosofia e de Ensino, certamente ajudará a clarear os caminhos para se estabelecer uma metodologia de ensino mais crítica e mais adequada, dentro de seu contexto do ensino. A palavra Filosofia, que significa amor pela sabedoria, representou uma mudança na forma como o homem explicava o mundo a sua volta. Seu conceito surge na Grécia, e apresenta a razão como meio mais adequado para se conhecer a verdade. Esse momento aponta a gênese da busca pelo conhecimento de modo mais apurado, mais consistente, porém ainda especulativo, no sentido de ser um conhecimento demonstrável apenas racionalmente. Desse modo, a Filosofia se coloca enquanto o ponto de partida de todas as ciências, pois chancela o uso da razão como principal instrumento para se alcançar a verdade. Estudar Filosofia implica conhecer a história do conhecimento humano. Porém, mesmo estando presente na base de todas as ciências, ela não se apresenta enquanto conhecimento científico, mas como ponto de partida do desenvolvimento da ciência, por tratar do pensamento em busca de explicações racionais. Já a palavra ensino significa educar, doutrinar, instruir, repassar ensinamentos, transmitir conhecimentos. Ensinar é educar. Em se tratando do papel do professor como mediador, e não como mero transmissor de conhecimentos, pode-se dizer que o ensino envolve a mediação entre o aprendiz e o conhecimento acerca do mundo, e serve para formar os homens para a vida em sociedade, trazendo-lhes conhecimentos de fora, como os das reflexões feitas pelos filósofos ao longo da história, e estimulando o desenvolvimento de suas capacidades internas, que dizer, sua capacidade de crítica e inquiridora do mundo, por exemplo. Levando em consideração a abordagem de Freire (1987, p. 68), “o educador já não é o que apenas educa, mas o que enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que ao ser educado também educa. ” O ato de educar se dá a partir da interação entre educador e educando, sendo o próprio processo de educar e ser educado uma via de mão dupla. É nesse sentido que o professor precisa estabelecer o diálogo como fonte primordial de acesso à informação, principalmente sobre o próprio educando, colocando-se, também, como ouvinte, para que possa aprender com o educando os caminhos necessários para a sua aprendizagem. Esse é o método dialógico de ensino proposto por Freire A Filosofia se coloca enquanto o ponto de partida de todas as ciências, pois chancela o uso da razão como principal instrumento para se alcançar a verdade. Freire (1987, p. 68), “o educador já não é o que apenas educa, mas o que enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que ao ser educado também educa. 10 Metodologia do Ensino de Filosofia — o educador e educando participamativamente do processo de ensino e aprendizagem. Já agora, ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos (FREIRE, 1987, p. 69). Conforme Freire (1987), os homens se educam em comunhão, ou seja, a educação não é um processo isolado, mas social, pois não se faz educação sozinho. Educar é uma via de mão dupla, tendo em vista que não envolve apenas a ação do professor, o qual precisa dos alunos para que a ação aconteça. A própria formação do professor depende da ação dos alunos. E para que a formação do professor se realize, é necessário dar ênfase à prática na sala de aula. Porém, vale salientar que ela nunca se esgota, porquanto, para que se melhore a ação docente, sempre há o que aprender com os alunos. Além disso, o mundo está em constante movimento, e o conhecimento acerca do mundo também. Isso tudo é resultado da própria ação dos homens no mundo. Portanto, o processo educacional segue o mesmo ritmo de mudança e atualização. Freire (1987) alerta sobre os problemas da prática docente, e tece uma crítica à concepção “bancária” de educação, que consiste na mera transmissão de conteúdos, e o educador deposita-os nos educandos. Essa prática ainda muito comum atualmente, típica da educação tradicional, trata o educando como um ser passivo, um mero receptor, não lhe dando a possibilidade de atuar e se desenvolver como sujeito no processo de aprendizagem. Entretanto, a proposta de Freire (1987) consiste justamente no contrário, numa educação que possa ser capaz de mostrar a capacidade do educando como sujeito construtor de sua própria história, capaz de ser um sujeito revolucionário, e que, em comunhão com os outros, possa se libertar das amarras da sociedade que os oprime. Para tanto, o que deve predominar na sala de aula é o diálogo entre educador e educando, de modo que os argumentos de autoridade desapareçam, dando espaço para a liberdade se manifestar, e assim conduzir à libertação social. A sala de aula de Filosofia, ao revelar a evolução do conhecimento ao longo do tempo, permite revisitar os diversos modos utilizados pelo homem para conhecer e pensar a própria realidade. Faz transparecer o aspecto didático da Filosofia, demonstrando o caminho metodológico da apreensão do conhecimento pelo homem. Da mesma forma, estimula o uso da racionalidade como modo de interagir com o mundo. Por conseguinte, a Filosofia se relaciona diretamente com a Educação, pois o passo a passo do conhecimento também é um método 11 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 de aprendizagem. Ao demonstrar o modo como o homem desenvolveu o conhecimento a partir da racionalidade, desenvolve nos educandos habilidades relacionadas ao modo de conhecer e buscar conhecimento. Filosofia e Educação convergem, haja vista que a Filosofia é a base para a promoção da consciência crítica no homem, além de um dos objetivos macros da Educação, que busca formar sujeitos críticos, conscientes, autônomos, livres, e capazes de se porem no mundo como construtores da sua própria realidade. Para tanto, muitos caminhos precisam ser percorridos, e a formação filosófica não só tem a capacidade de desenvolver as estruturas cognitivas como a de fornecer, em conjunto com as outras áreas do saber, o conteúdo necessário para o seu desenvolvimento. 2 O CARÁTER PRÁTICO DA FILOSOFIA A Filosofia ainda que se apresente de forma teórica — aspecto muito combatido atualmente —, também possui um caráter essencialmente prático, tanto por se ocupar com o levantamento de problemas relativos ao mundo e à existência como por ser necessário resolver essas questões. Um outro aspecto prático diz respeito à relação entre a forma de ensinar Filosofia e suas questões teóricas, ou seja, o ensino da Filosofia depende de sua compreensão por parte docente, e cada forma de conceituar Filosofia implica em uma forma metodológica de ensiná-la. Logo, o entendimento que o docente tem da Filosofia determina o modo como ele a ensina. “Tampouco é o mesmo ensino segundo quem seja o que ensina. E nisso influem desde os conhecimentos filosóficos e pedagógicos que se possui até o tipo de vínculo que aque le que ensina mantém com a filosofia e com o ensino” (CERLETTI, 2009, p. 8). Não existe um único caminho no ensino da Filosofia. Seu ensino depende do modo como o docente se relaciona com os conhecimentos filosóficos e educacionais que possui. A formação teórica do docente concede o tom em sua maneira de ensinar. Temos aqueles que possuem ligação mais forte com a formação filosófica propriamente dita, e outros com a formação pedagógica. Esses vínculos determinarão o tipo de professor que se sucederá. Desse modo, a prática pedagógica não se faz de forma neutra. Ela é sempre reflexo de uma concepção teórica, seja de forma consciente ou não. Somente se ensina o que se sabe, e como se sabe. Assim, o professor de Filosofia ensina o seu modo de filosofar. O ensino da Filosofia depende de sua compreensão por parte docente, e cada forma de conceituar Filosofia implica em uma forma metodológica de ensiná-la. A prática pedagógica não se faz de forma neutra. Ela é sempre reflexo de uma concepção teórica, seja de forma consciente ou não. 12 Metodologia do Ensino de Filosofia Daí a tamanha importância de o docente verificar e revisar constantemente suas próprias concepções teóricas, sobretudo quando se constata o movimento inerente à própria realidade que sempre interfere, criando a necessidade de novas sínteses teóricas. “Poderíamos perguntar-nos, antes de mais nada, se é real mente possível ensinar filosofia sem uma intervenção filosófica sobre os conteúdos e as formas de transmissão dos ‘saberes filosóficos’; ou sem responder, univocamente, que é filosofia? ” (CERLETTI, 2009, p. 7, grifo no original). Segundo Cerletti (2009), ensinar Filosofia se constitui uma tarefa subjetiva, de constante atualização, autoformação e transformação de si mesmo. A cada nova turma, a cada novo contexto, a cada nova reflexão, a ação docente se transforma. O bom professor é aquele que consegue, de forma ativa e criativa, construir a sua própria prática a partir dos instrumentos que dispõe, sendo capaz de repensá-la na medida em que esses elementos se modificam. Como as teorias filosóficas podem auxiliar na metodologia do ensino de Filosofia? Sabe-se que a Filosofia nasce com Tales de Mileto, quando ele procura a explicação do mundo no próprio mundo, e assim determina a origem de todas as coisas em um elemento da própria natureza. Dessa forma, acaba saindo da abordagem mitológica da realidade, em que a origem das coisas e do mundo se localizavam nas narrativas que misturavam deuses e homens. Tales dá um salto metodológico, buscando mais clareza nas respostas às perguntas que fazia. Porém, seu salto metodológico não é de todo absorvido pela tradição filosófica que a ele se segue. Seu método de buscar no próprio mundo a explicação para ele mesmo foi deixado de lado. Assim, a ciência empírica, pautada na observação, que mais tarde foi adiada pela tradição vinda de Parmênides, influenciou Sócrates, Platão e, por consequência, Aristóteles. 13 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 A tradição ganhou um viés metafísico, pois passou a se ocupar com uma verdade estritamente racional, que buscava a coerência lógica entre as ideias, deixando de lado a relação dessas com o mundo e o movimento a ele inerente. Passou a se apoiar nos atributos da racionalidade para conferir verdade a seus enunciados, negando tudo que é transitório, e estabelecendo critérios de veracidade que deixavam de fora o mundo em movimento, entre eles o princípio da não contradição formulado por Aristóteles: “A é A e não pode ser não A, isto é,é impossível que uma coisa seja idêntica a si mesma e contrária a si mesma, ao mesmo tempo e na mesma relação” (CHAUÍ, 2002, p. 365). Esses critérios de verdade consideram verdadeiro aquilo que é estático e fixo, deixando o movimento do real fora dos critérios de verdade. Esse princípio acabou influenciando a ciência moderna, mas está sendo criticado. Observe: O princípio de explicação da ciência clássica via no aparecimento de uma contradição o sinal de um erro de pensamento e supunha que o universo obedecia à lógica aristotélica. As ciências modernas reconhecem e enfrentam as contradições quando os dados apelam, de forma coerente e lógica, à associação de duas ideias contrárias para conhecer o mesmo fenômeno [...] (MORIN, 2010, p. 20). Assim, desde os pré-socráticos, a Filosofia foi levada para o campo estritamente racional, e acabou se distanciando da observação do mundo. A tradição ocidental passou séculos validando conceitos racionais sem se ocupar em associá-los à realidade. Partia dela, mas não necessariamente voltava a ela, e a unidade entre mundo e pensamento se perdeu. “Eis uma resposta absolutamente cristalina para nossa pergunta: ‘Por que filosofar?’ Existe necessidade de filosofar porque a unidade está perdida. A origem da filosofia é a perda do uno, é a morte do sentido” (LYOTARD, 2013, p. 45). Quanto a isso, só mais tarde a unidade entre os contrários começa a ser pensada como parte legítima do real, principalmente com o pensamento dialético proposto por Hegel, também utilizado por Marx. Mas, por que a unidade se perdeu? Por que os contrários se tornaram autônomos? Como é que a humanidade, que vivia na unidade para a qual o mundo e ela própria tinham um sentido, eram significantes, como Hegel diz na mesma passagem, pôde perder sentido? (LYOTARD, 2013, p. 46). 14 Metodologia do Ensino de Filosofia As respostas a essas questões talvez tenham sido dadas por Nietzsche, quando questiona a dualidade metafísica criada por Anaximandro, e reforçada por toda a tradição. Dualidade essa que dividiu a concepção de mundo em duas — o metafísico e o físico. Este deveria ser negado enquanto fonte da verdade, visto que se refere ao mundo marcado pelo movimento, pela contradição, pela multiplicidade. Aquele ganha os créditos da verdade, pois é o mundo sem movimento, o mundo dado racionalmente, o qual as verdades são fixas e eternas, sendo o mundo confiável. Vale observar que antes de Nietzsche, Hegel já havia apontado esse problema enquanto relacionado à concepção ligada à ideia de unidade dos contrários, que foi perdida desde os primórdios da Filosofia: [a fala de Hegel] […] afirma claramente que a filosofia nasce simultaneamente à morte de algo. Esse algo é o poder de unificar. E o que esse poder unificava eram as oposições, que, sob esse poder, mantinham relação e interação vivas. Quando esse poder perece, a vida da relação e da interação declina e aquilo que era unido se torna autônomo, quer dizer, só encontra sua lei, sua posição em si mesmo. Ali onde reinava uma lei única que governava os contrários, passa a predominar uma multiplicidade de ordens separadas, ordens, uma desordem (LYOTARD, 2013, p. 46). A multiplicidade parece ter sido o grande problema da tradição, pois a ela é inerente o movimento. Ela deixa evidente a diversidade do mundo, porém essa diversidade era vista por Heráclito como tensões opostas e necessárias para que o mundo pudesse ser harmonioso. O uno também é chamado de guerra, o que une também é chamado o que divide. Talvez seja em razão dessa oposição instalada no núcleo daquilo que rege todas as coisas que Heráclito diz no fragmento 32: “O uno não quer e quer ser recolhido e nomeado sob o nome de Zeus”. Mas é seguramente porque a conjunção do uno que une, a harmonia, e do uno que divide, da guerra, tem em todos os lugares força de lei que Heráclito diz no fragmento 54: “A harmonia invisível é mais forte que a visível” (LYOTARD, 2013, p. 51). Desse modo, o pensamento de Heráclito demonstra a necessidade da luta de forças opostas para se ter a unidade do mundo. No entanto, seu entendimento sobre a unidade dos contrários se perdeu. A partir de Anaximandro e Parmênides, a rejeição ao múltiplo e ao movimento se tornou evidente, pois passaram a compreender que os opostos se destruíam, e não mais que a tensão entre eles formava a unidade harmoniosa do mundo. Além de Hegel, um dos grandes críticos dessa tradição ocidental foi Nietzsche, acusando-a de forjar uma verdade metafísica acerca do mundo, visto que, ao considerar o princípio da não contradição como validador da verdade, acabou negando as contradições da realidade. Como para Nietzsche a realidade 15 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 se apresenta de modo contraditório, pois está sempre em movimento, essa verdade racional não contraditória não conseguiria explicar de modo satisfatório um mundo contraditório por si mesmo. Logo, Nietzsche demonstra a impossibilidade de a verdade metafísica explicar o mundo. Quer dizer, conclui que a verdade forjada pelo pensamento ocidental, que entende o verdadeiro como fixo, imutável e por isso não contraditório, dissolve-se perante a realidade da vida, como castelos de areia engolidos pelas ondas do mar. Sua crítica à tradição filosófica põe por terra os critérios de verdade até então consolidados. Assim, anuncia a crise da razão, que só se consolidou depois dos sórdidos acontecimentos do século XX. A formulação generosa de Kant, de uma razão voltada para a liberdade e que conduziria o homem para um mundo melhor, não se materializou na realidade. A ideia de um sujeito que detém a razão, que foi o sustentáculo do processo educacional e a base da modernidade, é duramente questionada pela própria complexidade do real. Perde-se a confiança na razão e no chamado progresso, que era uma espécie de mito moderno. As atrocidades do século XX, perpetradas exatamente pelas nações “educadas” - onde a escolarização e o desenvolvimento tecnológico chegaram a um patamar mais avançado – podem servir como exemplo de que a razão pretensamente emancipatória acabou por transformar-se em força de dominação e destruição (NEUKAMP, 2008, p. 15). Portanto, a razão crítica de Kant, responsável em emancipar o homem, não se consolidou como pensavam os iluministas. O que se observou foi uma extrema especialização e a perda da criticidade. Movimento que os frankfurtianos chamaram de instrumentalização da razão, ou seja, a perda da capacidade crítica, que implicou em várias outras perdas, sendo a principal delas a perda de liberdade, bem como a legitimação de atos que atentaram contra a própria vida, como as guerras pela disputa de territórios e mercados consumidores, e o holocausto, com a dizimação dos judeus em nome de uma “raça pura”. Vale destacar que os argumentos racionais e científicos participaram ativamente do massacre, e fizeram calar qualquer voz sensata, em que a defesa de interesses financeiros e a defesa da lógica e coerência dos argumentos ganharam a batalha contra a “lógica” da vida. A repercussão desses fatos colocou em xeque-mate toda a estrutura de valor construída pelo ocidente, desde o pensamento filosófico grego até aquele momento. Esses valores precisavam ser rapidamente substituídos, antes que mais genocídios voltassem a acontecer. Dessa forma, a racionalidade ocidental passou a ser fortemente criticada e combatida por muitos intelectuais. O século XX bombardeou as estruturas paradigmáticas que permitiram o bombardeamento de milhares de vidas humanas. A existência humana passa a ser o centro do debate filosófico e novas possibilidades paradigmáticas começaram a ser desenhadas. 16 Metodologia do Ensino de Filosofia A crítica de Nietzsche à racionalidade ocidental ganha espaço nos discursos filosóficos. Nietzsche já havia identificado que a cisão que a Filosofia fez entre a verdade formulada no campo racional e a verdade efetivado mundo significava a decadência do homem. Em todas as épocas, os mais sábios julgaram da mesma maneira a vida: ela não vale nada... Sempre e em toda parte se ouviu o mesmo tom de sua boca, - um tom pleno de dúvida, de melancolia, de cansaço da vida, de oposição contra a vida. Mesmo Sócrates disse quando morreu: “viver – isso significa estar doente por muito tempo: devo um galo a Asclépio salvador”. […] Esse jeito irreverente de pensar, que os grandes sábios são tipos-decadentes, ocorreu-me primeiramente em um caso em que o preconceito dos eruditos e ignorantes se opõe a ele de maneira ainda mais forte: reconheci Sócrates e Platão como sintomas de declínio […] (NIETZSCHE, 2014, p. 17-18, grifo no original). Em sua teoria, demonstrou a decadência do pensamento filosófico, pois colocavam-se negativamente diante da vida e valorizavam tudo que não era vida. Essa era a negação da vida presente, tanto na filosofia, como na ciência e na religião. Porém, vale lembrar que Nietzsche também procurou dar destaque à forma como o pensamento filosófico surgiu na Grécia, num momento de esplendor, de contemplação da vida, pois nesse momento a cisão entre pensamento e vida ainda não havia acontecido. Entretanto, o rumo que a Filosofia grega tomou depois disso foi catastrófico. A separação entre pensamento e vida implicaria para Nietzsche na decadência do mundo. Outro aspecto criticado por Nietzsche foi a mudança da forma como o homem passou a filosofar depois dos gregos, não mais pela contemplação, mas pela necessidade de resolver problemas. Assim, a Filosofia perdeu seu esplendor e passou a negar a vida, trabalhando na contramão da própria existência. Os acontecimentos do século XX chancelaram as críticas de Nietzsche à razão ocidental. Caso você queira conhecer mais sobre os pensamentos de Nietzsche, consulte a seguinte obra: NIETZSCHE, F. A filosofia na idade trágica dos gregos. Lisboa: Edições 70, 2018. 17 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 Vale destacar que as motivações filosóficas, de modo geral, partem de questões ou problemas vivenciados pelos homens. As teorias surgem das necessidades reais de cada filósofo, ao mesmo tempo em que as concepções teóricas acabam por voltar à realidade e orientar a ação dos homens, seja na política, na educação, na ação moral entre outras, o que evidencia o caráter prático da Filosofia. Por mais que a Filosofia ou o pensamento racional quisesse se afastar do real, esse sempre foi e sempre será o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada. A Filosofia procura resolver os problemas postos pelos homens, e por mais que eles não queiram enfrentar a instabilidade do movimento do real, ele sempre estará presente e sempre abalará as estruturas da estabilidade da verdade metafísica forjada pelo pensamento ocidental. 2.1 A FILOSOFIA E O FILOSOFAR Se Filosofia é o ato de buscar compreender o mundo, o ser e/ou a existência por meio de argumentos racionais, coerentes e lógicos, essa busca implica necessariamente em uma reflexão filosófica, ou seja, o ato de buscar conhecer implica no ato de refletir. Se buscar algo se constitui uma ação, por que o ato de buscar conhecer, o ato de refletir não é considerado uma ação? Ensinar Filosofia significa ensinar o ato de refletir. Filosofar é mais do que simplesmente pensar. Significa um pensar mais profundo, mais racional, mais sistemático. Um pensar que procura colocar os atributos da racionalidade em seu mais pleno funcionamento. Um pensar que se propõe a dar mais clareza às explicações acerca do mundo, a partir do uso da razão. Assim, o filosofar se caracteriza por ser um pensamento qualificado, racional ao extremo, por ser um pensamento radical, que envolve tanto o aprofundamento quanto a máxima visão de conjunto possível sobre uma determinada questão. Diante disso, será que podemos dizer que filosofar possui uma metodologia própria? Quais são os requisitos necessários para que se possa diferenciar o 18 Metodologia do Ensino de Filosofia aspecto meramente racional do homem de uma reflexão filosófica? Tais questões são cruciais para se pensar no real objetivo do ensino de Filosofia e como encaminhar seu ensino. Se ensinar Filosofia significa ensinar um determinado modo de pensar, podemos ter a seguinte dúvida: É possível ensinar um modo de pensar? O modo de pensar filosófico pode se caracterizar com um método? É importante que o docente procure ter clareza dos passos da reflexão filosófica, do que caracteriza o pensamento filosófico, para então poder refletir sobre a sua prática docente. Fazer o autoexame da própria autorreflexão filosófica contribui na elaboração de estratégias metodológicas de ensino. Quanto a isso, pode-se observar o exemplo de Sócrates e de sua insaciabilidade em querer saber. Suas perguntas não se esgotavam, pois sempre se deparava com novas questões. Seu amor à sabedoria o levava a sempre desejar saber mais, sendo seu desejo insaciável. A cada resposta uma nova pergunta emergia. O filósofo é sempre “um recriador de problemas” (CERLETTI, 2009, p. 25). Assim como no filosofar, a sala de aula de Filosofia deve valorizar e explorar o formular e o reformular perguntas, pois elas representam o desejo e a busca pelo saber. O filosofar se apoia na inquietude de formular e formular-se perguntas e buscar respostas (o desejo de saber). Isso pode sustentar-se tanto no interrogar-se do professor ou dos alunos e nas tentativas de respostas que ambos se deem, bem como no de um filósofo e suas respostas (CERLETTI, 2009, p. 20). O docente de Filosofia não deve ter medo de perguntas. Pelo contrário, elas devem constituir a essência da aula. Instigar os alunos com perguntas ajuda tanto a ensiná-los a questionar a realidade e despertar a dúvida e a curiosidade, como os ensina a formular suas próprias questões, abrindo um novo horizonte a ser desvelado. Esse perguntar-se constante ajuda a despertar nos alunos problemas filosóficos, ou seja, questões que os impulsionem a uma reflexão filosófica. 19 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 Afirmamos que a sustentação do caráter filosófico de uma pergunta é a intencionalidade de quem pergunta. Ado- tando uma terminologia de inspiração sartriana, não haveria, então, um perguntar filosófico “em si”, como se as perguntas filosóficas pudessem ser objetivadas sem o compromisso que supõe assumi-las em toda a sua magnitude. Poderíamos dizer que o perguntar filosófico é sempre “para si”. Quem pergunta e se pergunta filosoficamente intervém no mundo e nele se situa subjetivamente (CERLETTI, 2009, p. 26). Demonstrar uma reflexão filosófica em sala de aula requer despertar nos alunos o que em todo filósofo foi despertado: a intenção e a necessidade de resolver determinado problema. Portanto, ensinar Filosofia implica em despertar nos alunos o desejo de saber algo. A pergunta que se torna um problema filosófico é aquela que traz consigo a necessidade de ser respondida, que nos leva mais longe no aprofundamento da reflexão, pois quanto maior o desejo de saber, maior a profundidade da reflexão. Logo, o que realmente leva o homem a filosofar, o seu desejo de saber, é a nuance subjetiva do problema filosófico. No caso específico da filosofia, sustentaremos que há aspectos da prática do filósofo que podem ser postos de manifesto, de diferentes formas, nos diversos níveis de ensino; que poderia haver algo em comum, desde o ponto de vista qualitativo, entre a atividade de um filósofo e a de alguém que se inicia no filosofar. Isso quererá́ dizer que, sob certas condições, qualquer um poderia vir a filosofar. Isso é, qualquer pessoa poderia fazer-se certo tipo de perguntas filosóficas e tentar, em alguma medida, respondê-las (CERLETTI, 2009, p. 28). A proposta de Cerletti (2009) pode elucidar a resposta a uma das questões lançadas anteriormente, qual seja, se o ato de filosofar pode ser considerado um método. Se possuem critériosque diferenciam uma reflexão filosófica de um mero ato de pensar, se qualquer um pode executar essa reflexão independentemente do grau de profundidade das respostas e da quantidade de conhecimento que se tem. Dessa maneira, verifica-se que a reflexão filosófica possui um procedimento, um caminho a ser trilhado, independentemente do conteúdo dos conceitos, das perguntas e das respostas a que se cheguem. “Obvia mente, o grau de profundidade, de dedicação, de referência a outros problemas, de enquadre teórico, de erudição etc., que tenha essa atividade será́ seguramente diferente da de um “especialista”. Mas não o faria menos filosófico” (CERLETTI, 2009, p. 28). É possível, portanto, ensinar a filosofar. Para tanto, faz-se necessário verificar as condições pelas quais a pergunta está sendo feita, ou seja, se está favorável a um aprofundamento, e quais são os caminhos a se percorrer para aprofundar o pensamento, até que se chegue ao ato de filosofar. Se as respostas foram ou 20 Metodologia do Ensino de Filosofia não encontradas, não é o que está em questão. O prioritário é colocar a dúvida e abrir espaço para as mais diversas possibilidades de perguntas e de respostas, que levarão a novas perguntas, e, então, o caminho do conhecimento nunca se encerrará. A Filosofia foi feita a partir de perguntas, e também se constitui das respostas que os filósofos se deram. Para ensinar Filosofia, os dois caminhos precisam ser percorridos. O primeiro, da reflexão filosófica, é o ato de filosofar em si. O segundo, é o estudo das perguntas e respostas formuladas ao longo do tempo, quer dizer, o estudo da história da filosofia. Essas respostas que os filósofos se deram são, paradigmaticamente, suas obras filosóficas. Mas é muito diferente “explicar” as respostas que, em um contexto histórico e cultural determinado, um filósofo se deu, do que os estudantes e o professor tentarem se apropriar dos questionamentos desse filósofo, para que essas respostas passem a ser, também, respostas a problemas pró prios. O perguntar filosófico é, então, o elemento constitutivo fundamental do filosofar e, portanto, do “ensina filosofia”. Consequentemente, um curso filosófico deveria constituir-se em um âmbito em que possam ser criadas as condições para a formulação de perguntas filosóficas, e no qual se possa começar a encontrar algumas respostas (CERLETTI, 2009, p. 20-21). Esse exercício proporciona ao aluno se debruçar sobre a história do conhecimento humano, demonstrando como perguntas e respostas estão sendo formuladas ao longo do tempo. Assim, o aluno experimenta os caminhos trilhados pelos filósofos a partir do estudo da história da filosofia, que é de grande valia na sua formação cognitiva. Desse modo, abrem-se dois caminhos possíveis e convergentes no ensino de Filosofia: aprender a filosofar e conhecer a história da filosofia. Para que esses caminhos sejam convergentes e não divergentes, é necessário que o professor saiba utilizar a história da filosofia para ensinar seus alunos a filosofarem. Segundo Saviani (2004), devemos estudar a história da Filosofia considerando o processo de reflexão filosófica que os filósofos fizeram acerca dos problemas de sua época. De modo que, a transmissão pura e simples dos resultados da reflexão dos filósofos ao longo da história, não constitui propriamente a tarefa da Filosofia. 21 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 A questão do aprender filosofia e do aprender a filosofar é inicialmente como dois rios distintos, mas que em algum ponto se juntam em confluência, a correrem num leito comum, formando um terceiro e grande rio, que tem elementos de um e de outro, mas que já não é mais o mesmo, pois se tornou outro rio. Tratar da origem e do surgimento histórico e geográfico da filosofia, torna-se necessário para que o iniciante no aprendizado do filosofar situe essa área do conhecimento no espaço e no tempo, e não simplesmente pense nesta como algo em si. O conhecimento da história da filosofia mostrará ao estudante que a forma de conhecimento filosófico é uma construção humana e histórica, que surgiu em determinada época e lugar. Ou, por outra via, que a filosofia surgiu em diferentes épocas e lugares, que não dá para fixar a sua origem a apenas um tempo e lugar na história. Como procuram mostrar autores contemporâneos, não sem muitas controvérsias e contrariedades no meio acadêmico. O que faz da origem histórica da filosofia um ponto nem um pouco pacífico, como pode parecer à primeira vista. A introdução dos estudantes nesse debate pode ser benéfica para a sua formação filosófica, ao passo que isso irá suscitar reflexões críticas perante as quais eles terão em algum momento que se posicionar. Nesse contato com o conhecimento sobre a origem da filosofia, percebemos que esse método de produção do saber que vem sendo produzido ao longo da história, considerado hoje um dos patrimônios da humanidade, pode não ter uma origem comum, nem única. Em geral, costumamos considerar apenas a origem grega da filosofia, porém há quem apresente outras possibilidades. Por exemplo, os diferentes grupos humanos que viveram nos primórdios da humanidade os quais desenvolveram diferentes formas de fazer fogo, moradia, linguagem, também podem ter desenvolvido diferentes modos de “fazer filosofia”, de produzir este tipo de saber que é denominado de “saber filosófico” e que se diferencia substancialmente dos demais saberes humanos, não por sua origem geográfica, mas por seu método de produção do conhecimento, pelo tipo de saber que se produz, que é a metodologia da filosofia, o filosofar. 22 Metodologia do Ensino de Filosofia Uma metodologia do ensino de filosofia que tenha a história da filosofia como centro e referencial, deverá considerar a necessidade de organizar um trabalho com a história da filosofia não como simples transmissão de conhecimentos do passado, e sim estabelecer estratégias didático-filosóficas que favoreçam apropriações críticas e criativas por parte dos discentes do cabedal filosófico já existentes, para que possam refletir sobre “os problemas com os quais eles se defrontam”, tendo em vista transformá-los. É por isso que, no ensino de filosofia na escola básica, acreditamos ser possível aos estudantes assumirem a atitude filosófica em suas vidas. É possível aprender a filosofar com a história da filosofia. FONTE: Adaptado de Alves (2016, p. 49-52) 1 Por que a filosofia também possui um caráter prático? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 2 Como podemos caracterizar a reflexão filosófica? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 3 Quem está apto a fazer uma reflexão filosófica? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 4 Como o docente pode despertar o desejo de filosofar em seus alunos? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 5 Quais os dois caminhos metodológicos no ensino de filosofia e como podemos estabelecer uma relação entre eles? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 23 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 3 PARA QUE SERVE A FILOSOFIA? A Filosofia, enquanto mãe de todas as ciências, é um passo importante na busca pelo conhecimento. Ela nos conduz ao levantamento de questões e a reflexões mais profundas sobre a nossa realidade, orientando a ação dos homens. Desse modo, o caráter prático da Filosofia não se encerra na resolução ou compreensão racional dos problemas ou da realidade, pois ela também auxilia na prática. O homem, como ser dotado de racionalidade, pode utilizá-la para orientar a sua ação. O ensino de Filosofia deve caminhar nessa direção,orientado para o livre exercício do pensamento e, portanto, para o exercício da liberdade. A educação como prática da liberdade, ao contrário daquela que é prática da dominação, implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim como também a negação do mundo como uma realidade ausente aos homens. A reflexão que propõe, por ser autêntica, não é sobre este homem abstração nem sobre este mundo sem homens, mas sobre os homens em suas relações com o mundo. Relações em que consciência e mundo se dão simultaneamente. Não há uma consciência antes e um mundo depois e vice-versa (FREIRE, 1987, p. 70). A educação filosófica libertadora qualifica a vida humana, coloca o aluno no centro do processo da reflexão, faz ele vislumbrar a possibilidade de assumir as rédeas da própria realidade de forma consciente e crítica. O exercício da racionalidade possibilita a formação de sujeitos autônomos, livres. Pensar em formação humana é pensar no desenvolvimento da capacidade de se autogerir, de se pôr no mundo de modo crítico. Assim, a Filosofia cria espaço para que o indivíduo possa se perceber como “Ser” dotado de existência. A educação libertadora faz com que o homem se veja como parte viva da realidade, e não separado dela. Homem e mundo se fundem — um está contido no outro. Essa percepção integrada é que permite o exercício pleno da liberdade, pois devolve ao homem a compreensão de que ele também é sujeito participante. Fã de filosofia, jovem de Ribeirão Preto tira mil na redação do Enem ao citar Sartre para debater internet. Estudante de 19 anos levou ideias do existencialista francês para tratar de manipulação de dados do usuário: ‘é preciso ter responsabilidade’. Para verificar a notícia completa acesse: https:// 24 Metodologia do Ensino de Filosofia g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2019/01/22/fa-de- filosofia-jovem-de-ribeirao-preto-tira-mil-na-redacao-do-enem-ao- citar-sartre-para-debater-internet.ghtml. Acesso em: 11 nov. 2019. Desse modo, a Filosofia serve para despertar o senso crítico, serve para evitar que alguém seja manipulado pelas falsas ideias, serve para proporcionar ao homem meios e alternativas de lidar com os conflitos existentes na sua realidade, serve para aproximá-lo da felicidade. Esse é seu fim, levantado desde a Grécia. Dessa forma, o professor de Filosofia não deve perder de vista essa condição. O objetivo sempre presente na Filosofia é a busca de felicidade, do bem-estar, do bem viver, seja como pano de fundo ou como ponto de partida e/ou chegada do filosofar. A formação filosófica não consiste somente no conhecimento sobre a história da Filosofia, mas, sobretudo, em saber pensar a própria realidade. O estudo da história da Filosofia pode proporcionar uma fabulosa visão de conjunto sobre como a humanidade caminha e caminhou, e, ainda mais, permite identificar o quanto somos o resultado desse movimento histórico. Reconhece-se que não somos tão originais quanto pensamos, e que repetimos paradigmas milenares. Esse olhar de fora, instiga a busca de novas interpretações, e ajuda a identificar problemas conceituais históricos, os quais talvez já estejam ultrapassados. Portanto, o estudo da Filosofia permite criar algo verdadeiramente novo, por se ter consciência da construção histórica do conhecimento humano. Então, o docente de Filosofia não deve se contentar em ensinar os alunos a saberem pensar filosoficamente os problemas atuais, o que já é uma tarefa muito importante, mas consiste em promover ao aluno a possibilidade de pensar criticamente os diversos paradigmas construídos ao longo da história e que ainda estão presentes em nossa sociedade. O estudo da história da Filosofia pode proporcionar uma fabulosa visão de conjunto sobre como a humanidade caminha e caminhou, e, ainda mais, permite identificar o quanto somos o resultado desse movimento histórico. É no conhecimento de outros pontos de vista que está a possibilidade de obter maior amplitude de horizontes e maior autonomia do pensamento. Escutar as razões dos outros não é sinal de fraqueza, mas uma manifestação de abertura mental; não somos obrigados a permanecer ancorados a tais respostas, 25 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 mas não podemos nos considerar totalmente desligados delas, sob pena de atingir níveis de arrogância tais de considerarmo- nos superiores a qualquer outra visão. Estar atentos às respostas dos outros não significa, no entanto, memorizá-las, não significa, nem mesmo, renunciar à própria identidade, mas quer dizer capacidade de abertura de um debate a respeito dessas respostas e, contemporaneamente, estar disponível a possíveis refutações sobre o próprio modo de estar no mundo; o ecletismo, no fundo, não é sinal de fraqueza quando, prestando atenção às reflexões dos outros, ele se converte na capacidade de reelaboração do próprio pensamento crítico. A filosofia concebida dessa maneira é educação à liberdade e à democracia. Devemos escutar as razões dos filósofos, então, não para saber, mas para praticar essa capacidade inata de escutar. Com tal colocação sobre a educação escolar, a abordagem pragmática pode se inserir bem ao interno da forma pactual histórica, mas que, ao lugar do manual, escolha-se a palavra viva do filósofo, o seu documento textual; por meio disso, os estudantes poderão refletir filosoficamente, atingindo uma consciência mais madura do próprio tempo, das próprias problemáticas, do novo horizonte que efetivamente poderá emergir com mais facilidade a partir da aprendizagem dos filósofos, e será esse tipo de ensino que dará uma resposta à pergunta que muitos estudantes se fazem: “para que serve a filosofia?”. Saber se aproximar do mundo de modo problemático, sem preconceitos, creio que seja o início de um percurso que conduz ao amadurecimento pessoal, mantendo os jovens longe do achatado mundo do conformismo. Com muita frequência, os jovens permanecem prisioneiros dos esteriótipos, dos lugares comuns, dos preconceitos que inconscientemente agem no seu imaginário, aprisionando-os em um julgamento frequentemente sem criticidade. A escola, canalizando as suas forças, pode conduzi-los a primeiro reconhecer e depois superar os esteriótipos, ensinando-lhes não tanto as noções, mas, por meio delas, um modo de ler a realidade de forma mais crítica. A realidade, de fato, é sempre lida segundo a categoria mental do sujeito senciente. Portanto, se o estudante não amadureceu uma ductilidade mental, a sua leitura do real pode ser limitada e alterada; todas as disciplinas, então, devem ser chamadas 26 Metodologia do Ensino de Filosofia para realizar essa tarefa, da filosofia à arte, da matemática àquelas científicas, da língua, italiana ou estrangeira que seja, à história. FONTE: Adaptado de Girotti (2012, p. 42-49) Numa sociedade marcada pela massificação da cultura, faz-se necessário uma formação filosófica consistente, no intuito de combater essa triste realidade. Como o ensino de Filosofia caminha junto à formação humana, ele se torna extremamente necessário. No entanto, vale lembrar que o grande descaso que a Filosofia vem sofrendo nos últimos tempos tem relação direta com o modo pelo qual essa sociedade vem se organizando. Verifica-se que o interesse pela produção para o mercado predomina, tendo como consequência direta o restringimento da “formação humana” ao mero saber fazer, sem compreensão de mundo e sem saber o porquê do fazer. Perante esse tipo de necessidade, o ensino de Filosofia faz-se completamente desnecessário. A sociedade atual está preocupada em formar indivíduos capazes de realizar tarefas só e somente, poucos são aqueles que dispõe de uma formação que permita o desenvolvimento do senso crítico. A percepção de que a educação encontra-se em crise, neste início de século, é generalizada, ainda que esta crise já venha arrastando-se há muito tempo. […] Osproblemas econômicos da sociedade e a predominância de um discurso que ligava diretamente a educação com a obtenção de um espaço no mercado de trabalho, parecem ter agravado essa crise [...] (NEUKAMP, 2008, p. 15). Assim, a educação e o ensino de Filosofia entram em crise, que impacta diretamente o debate sobre a necessidade de se ter uma formação filosófica. Nessa sociedade, voltada para a produção e o consumo em massa, a superficialidade ganha espaço, e a formação reflexiva não é a adequada, pois a educação não mais precisa formar indivíduos críticos e conscientes. Essa sociedade fundada no efêmero não necessita de sujeitos ativos, criadores de sua realidade. “A cultura líquido-moderna não se sente mais uma cultura da aprendizagem e da aculturação, como as culturas registradas nos relatos de historiadores e etnógrafos. Em vez disso, parece uma “cultura do desengajamento, da descontinuidade, do esquecimento” (BAUMAN, 2013, p. 36). Vive-se em uma sociedade que dá ênfase ao processo científico pragmático e utilitário, que descamba para uma ciência especializada e sem visão de 27 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 conjunto. A especialização instrumentalizou a razão, retirou dela a sua roupagem crítica, passou a ser usada para a expansão da produção, foi usurpada pela necessidade de reprodução do capital. É dentro desse contexto que se insere hoje o professor de Filosofia, em meio a todo esse conflito, entre um saber especializado, instrumentalizado para o mercado, e um saber crítico, que abrange a necessidade de compreensão da totalidade da sociedade, que abrange a ideia de um sujeito que se percebe e atua no mundo. Está posto o problema entre a sociedade vigente e a formação filosófica. As questões que seguem são: Como revalorizar a reflexão num contexto em que a superficialidade prevalece? Como a formação filosófica pode ajudar a sociedade a sair do efêmero? Onde estão as bases paradigmáticas responsáveis por essa condição? Em que momento o pensamento filosófico contribuiu na construção dessa sociedade? Essa desarticulação entre o conhecimento e a vida estabelecido desde o início do pensamento filosófico gerou e ainda gera uma série de problemas. O conhecimento construído não foi capaz de explicar as atrocidades ocorridas no século XX. Logo, a dúvida e o descrédito acerca dessa razão, desvinculada e descomprometida com a vida, consolidou-se. Surgiu a necessidade de se ter outros parâmetros conceituais que colocassem o homem e a vida no centro do processo reflexivo, pois a “abstração inumana”, separada da vida, levou ao assassinato de milhares de pessoas. Em nome do quê? Que espécie de racionalidade foi capaz de patrocinar tamanha chacina? Quem seria o vilão desse desenrolar da história dos homens? A educação moderna, para Nietzsche, havia substituído os verdadeiros educadores que seriam os “modelos ilustres” por uma “abstração inumana” que é a ciência. As universidades haviam feito do ensino de ciência algo desligado da própria vida, tornando os eruditos mais preocupados com a ciência do que com a humanidade, esquecendo que sua verdadeira tarefa é “educar um homem para fazer dele um homem (NEUKAMP, 2008, p. 55) Muitos são os fantasmas que surgem para explicar as causas dessa realidade, porém um deles, como dito anteriormente, foi o caminho para o qual o capitalismo conduziu a razão humana, instrumentalizando-a, colocando-a 28 Metodologia do Ensino de Filosofia a serviço da acumulação de capital e não a favor dos interesses dos próprios homens, deixando de lado a razão crítica apontada por Kant. 1 O que significa uma formação filosófica libertadora? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 2 Como o estudo da história da Filosofia auxilia na formação humana crítica? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 3 O que significa a instrumentalização da razão e qual o seu impacto no professor de Filosofia? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 4 Como a sociedade voltada para a produção e o consumo em massa trata a educação e a formação humana? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 4 É POSSÍVEL ENSINAR FILOSOFIA? Diante de toda a problemática já apontada da atualidade, em que o descaso pela educação e pela formação filosófica ficam evidentes, o grau de dificuldade encontrado para se ensinar Filosofia aumenta. Na sociedade atual, diante da ideia de que tudo precisa ter uma utilidade imediata, o apreço por um conhecimento mais aprofundado da realidade soa como uma perda de tempo. Quanto ao ensino de Filosofia, também cabe refletir outro problema trazido pela própria tradição, que diz respeito ao significado mais singelo da palavra filosofia: amor à sabedoria. Considerando que o paradigma construído historicamente fez uma cisão entre a vida e o pensamento, falar de amor do aspecto afetivo na sala de aula pode causar um certo estranhamento por parte daqueles que só valorizam o lado estritamente racional do conhecimento. 29 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 Se considerarmos que Filosofia significa “amor à sabedoria”, a primeira dificuldade em ensinar Filosofia consiste em saber se é possível ensinar a amar. Portanto, o professor de Filosofia esbarra na seguinte questão: é possível ensinar Filosofia, já que Filosofia significa amar a sabedoria? O problema é o fato de que talvez o amor não se constitua como uma escolha racional. Partindo da hipótese de que não é possível ensinar alguém a amar, talvez seja possível, no mínimo, possibilitar o despertar desse amor. Para se despertar o amor de alguém por algo, o primeiro passo deveria ser amar a ambos, quer dizer, é preciso que o professor ame tanto o conhecimento que ensina como a quem ele ensina. Ao longo de dois milênios, o conhecimento se colocou como algo divergente aos sentimentos, mas, na prática, o conhecimento talvez nunca pôde se separar efetivamente deles. Entender essas questões aparentemente contraditórias nos remete ao pensar dialeticamente, em que o conhecimento do mundo não pode ser separado dele mesmo, como nos fez pensar a razão e a ciência ocidentais até então. A ideia de totalidade em Hegel, e depois em Marx, alerta que a abstração científica é um método do conhecimento utilizado para a análise do mundo, porém, o processo de sua compreensão não se esgota na abstração, pois é uma parte do método do conhecimento. Ela separa a parte do todo para uma análise aprofundada, mas ele precisa retornar para o real, num processo chamado de síntese. O que havia sido subtraído retorna, volta à totalidade do real, volta ao seu contexto, às suas mais diversas relações; esse retorno, depois da análise, torna a visão caótica da realidade mais clara que o momento anterior à abstração. Daí se faz uma outra abstração, e esclarece outros aspectos, retornando-se ao real, mais acessível que a visão que se tinha no momento anterior. Esse movimento se repete até que o caos do começo desapareça, e apareça aos olhos críticos do homem uma realidade mais conhecida, mais compreensível do que a do início do movimento. O problema consiste em que, na história do conhecimento, seja na filosofia ou na própria ciência, não se chega à síntese, fica-se na abstração racional, separada do mundo em sua totalidade. Se o cientista ou o filósofo não retornar com o 30 Metodologia do Ensino de Filosofia pensamento para a realidade, perde o aspecto vivo e dinâmico do conhecimento. Cristalizam os conceitos, não articulam com o real, e o conhecimento ganha um caráter estéril. A questão fundamental, neste caso, está em que, faltando aos homens uma compreensão crítica da totalidade em que estão captando-a em pedaços nos quaisnão reconhecem a interação constituinte da mesma totalidade, não podem conhecê-la. E não o podem porque, para conhecê-la, seria necessário partir do ponto inverso. Isto é, lhes seria indispensável ter antes a visão totalizada do contexto para, em seguida, separarem ou isolarem os elementos ou as parcialidades do contexto, através de cuja cisão voltariam com mais claridade à totalidade analisada (FREIRE, 1987, p. 96). A falta da compreensão crítica da totalidade resulta em uma visão fragmentada e mutilada do homem e da realidade. Nesse processo, aspectos do real vão sendo deixados de lado, pois se tornam menores, e passam a ser vistos até mesmo como capazes de impedir o conhecimento do mundo. Como é o caso das oposições: conhecimento e sentimento, razão e desejo, colocados em esferas separadas, como oposições incompatíveis. Não mais se percebia a unidade entre os dois, pois a unidade foi de fato perdida, de tal modo que não deveriam se relacionar, e tinham vida própria, independente. Um ofuscava o outro e até se excluíam, porém, é possível perceber que ambos fazem parte de uma mesma unidade, e para compreender a vida não é possível separá-los, sendo necessário perceber a relação entre eles. O ser humano sempre foi concebido de modo mutilado. Diz- se homo sapiens, dotado de razão, mas o homem é também delirante. Castorinas [pensador do século XX] adorava dizer que o homem é esse animal louco, cuja loucura criou a razão. Homo é sapiens e demens. Vê-se nessas duas polaridades que não há fronteiras nítidas entre o delírio e a razão. Frequentemente, no limite da loucura existe a genialidade como em Nietzsche (MORIN, 2013, p. 96). O problema da separação entre pensamento e sentimento, razão e desejo, faz parte de uma visão fragmentada da realidade. Essa fragmentação foi a responsável em criar um cenário em que o homem nega a ele mesmo, quando deixa de validar os seus sentimentos em função da exaltação da razão como única via possível para se chegar à verdade das coisas. Todavia, pensar em educação humanizada significa ter uma visão mais ampla do ser humano e de sua relação com o conhecimento. É necessário entender que ser humano não é só pensamento, e que o pensamento tem uma ligação direta com o sentir, pois pensar desperta sentimentos e sentir desperta pensamentos. 31 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 É evidente que a sala de aula trata do aspecto cognitivo, ou seja, trata do processo de ensino e aprendizagem, do conhecimento do ser humano, mas isso não significa dizer que o aluno está desprovido de sentimentos, emoções, desejos, angústias entre outros, em sala de aula. Tanto professor como alunos carregam consigo a totalidade do seu ser. Pensar envolve sentir, sentir envolve pensar. No ensino de Filosofia, o pensar precisa carregar consigo o desejo de saber; as angústias devem se transformar em motivações para o conhecer e assim sucessivamente. Enquanto professor que se propõe a ensinar Filosofia, é necessário ter consciência da relação afetiva, do amor ao conhecimento que carece de nos alunos. Talvez não seja possível ensinar a amar, mas ajudar a despertar o amor ao conhecimento por proporcionar o sentimento do prazer da descoberta. E se conseguir, todo o resto estará certamente mais favorável de acontecer. Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar a possibilidade para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face a tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento (FREIRE, 1996, p. 52, grifo no original). Esse ensinar, como diz Freire (1996), expressa-se na criação de possibilidades de conhecer, de descobrir, de criar, de produzir e de construir conhecimento, de sentir prazer na sua descoberta. Traduz-se no despertar a curiosidade, em deixar fluir as perguntas dos alunos. Em deixá-los se darem conta da inconclusão do conhecimento. Para tanto, é preciso que tanto os alunos quanto o professor se sintam à vontade para que o espaço de produção de conhecimento possa surgir. Ensinar Filosofia é um constante recriar-se em sala de aula, é um revisitar e revisar o conhecimento permanentemente. Na verdade, diferentemente dos outros animais, que são apenas inacabados, mas não são históricos, os homens se sabem inacabados. Têm a consciência de sua inconclusão. Aí se encontram as raízes da educação mesma, como manifestação exclusivamente humana. Isto é, na inconclusão dos homens e na consciência que dela têm. Daí que seja a educação um quefazer permanente. Permanente, na razão da inconclusão dos homens e do devenir da realidade (FREIRE, 1987, p. 73). O caráter permanente do ensino e da aprendizagem ocorre em função do caráter permanente da própria produção de conhecimento. Uma vez que se responde a uma pergunta, novas surgirão, pois novos desejos aparecem ou vice-versa. Assim se dá a essência do filosofar — perguntas geram perguntas 32 Metodologia do Ensino de Filosofia e respostas, respostas geram perguntas e desejos, desejos geram perguntas e perguntas geram desejos, e assim segue, pois, o conhecimento não se esgota. Na medida que o homem se refaz e se recria, suas reflexões e seu conhecimento acerca do mundo passam pelo mesmo processo, ou seja, são refeitas e recriadas. O conhecimento está em constante movimento tanto quanto o homem, logo, um retroalimenta o outro. Diante de tantas reformulações do conhecimento ao logo do tempo, onde está a verdade? Como o professor deve se posicionar perante seus alunos, já que a verdade é tão mutante? O ensino de Filosofia toca justamente o estudo dos critérios de verdade que foram construídos ao longo do tempo, demonstrando a tamanha reformulação que ela sofre. Assim, posicionar-se perante uma verdade é algo muito delicado, pois observamos que as verdades dizem respeito a contextos sócio históricos, e que por isso, a depender dos fatores convergentes no momento, o que pode ser racionalmente a melhor opção, pode não ser contextualmente. Desse modo, é importante sempre considerar a totalidade do real, ou seja, quando, onde e por que certas verdades estão sendo produzidas. A educação envolve compromisso entre as pessoas e os assuntos a serem explorados. Agora, para que com esse compromisso não se crie dependência deve também haver uma distância crítica. Brincar com os tropos da ironia, tragédia e paródia estão entre os modos com os quais podemos evitar nos levar, enquanto professores, muito seriamente. Podemos adotar certas posições sem endossá-las totalmente. Podemos questionar nossa autoridade, e convidar os outros a questioná- las, mesmo em contexto que nos dão autoridade independente se desejamos ou não (BURBULES, 2002, p. 134-135). O posicionamento do professor em sala de aula deve acontecer de modo que não iniba o aluno a ter seu próprio posicionamento, pois o livre pensamento deve ser preservado, principalmente na aula de Filosofia. Por isso, a capacidade crítica do professor de pôr à prova suas próprias convicções, suas próprias verdades, deve ser um exercício constante. Dessa forma, o docente acaba por desenvolver um pensamento crítico em seus alunos: o de sempre repensar as suas verdades e de desconstruir seus conceitos, por ter ciência de que eles nunca estão prontos e acabados, e de que sempre surgem de um dado momento, de um dado contexto 33 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 sócio- histórico. É necessário, portanto, admitir que o processo do conhecimento está sempre em movimento. Ensinar é doação do conhecimento, das reflexões, dos caminhos cognitivos, e dos próprios saberes. Ensinar envolve se disponibilizar para com o outro; envolve se propor a escutar para que, a partir daí, seja possível traçar estratégias de abordagens capazes de fazer uma ponte entreo conhecimento presente no aprendiz e os novos conhecimentos que precisam ser apropriados. Ensinar é partilhar o que se sabe. O professor precisa ter clareza dessa doação, e estar disposto a fazê-la. “É o amor que introduz a profissão pedagógica, a verdadeira missão do educador” (MORIN, 2013, p. 73). Segundo Morin (2013, p. 73), é preciso religar duas culturas separadas: a da ciência e a das humanidades. “Esta religação permite contextualizar corretamente, assim como refletir e tentar integrar nosso saber na vida”. O movimento de “integrar nosso saber na vida” é algo que já vinha sendo discutido na dialética de Hegel e, posteriormente, por Marx (1999, p. 39-40), quando tratou do método dialético usado por ele na exposição de O Capital, demonstrou a necessidade de se fazer o caminho do pensamento de volta ao real, destacando a necessidade de se retornar à realidade e transformá-la. Esse movimento do pensamento, de tocar a realidade de volta, é o momento da síntese, em que a parte abstraída para ser analisada em separado, depois de compreendida pelo pensamento, retorna ao todo, ampliando o entendimento do real. Assim, o movimento de abstração e síntese se repete até que todas as partes possam ser compreendidas em sua totalidade, ou seja, na sua relação com o todo. A dificuldade de fazer a síntese está na dificuldade de retornar ao todo a parte abstraída do real, pois o todo traz consigo a complexidade do real. É preciso enfrentar a complexidade do conhecimento e da vida. O antagônico não se apresenta como excludente, pelo contrário, conforme Morin (2013, p. 108), “[...] são antagônicos e, ao mesmo tempo, complementares [...]”. Nesse ponto, vale destacar como a abordagem dialética do real se diferencia da ideia de complexidade do real. A dialética trata o processo de mudança como momentos negativos que são superados, e a teoria da complexidade entende que os contrários são complementares, criando algo novo. O que a dialética entende como síntese dos contrários, a unidade do múltiplo, a teoria da complexidade, entende como complementariedade, em que o múltiplo, os diferentes, se completam. Aprender, conhecer, são processos complexos, porque não se exaurem em procedimentos lógicos, recursivos, reversíveis, mas implicam a habilidade de ver mais do que o dado, a manifestação não lógica da lógica, o ausente do que está 34 Metodologia do Ensino de Filosofia presente, a mensagem da falta de mensagem, o sentido da falta de sentido, duplos significados (DEMO, 2011, p. 186). A forma de enxergar o movimento nessas duas abordagens ajuda na flexibilização do conhecimento cristalizado ao longo do tempo pela tradição ocidental, que não se permitia enxergar o movimento do real como algo legítimo. Vale ressaltar que, atualmente, ainda se bebe na fonte que considera o conhecimento apenas enquanto linear, dentro da sua esterilidade racional, que imobiliza o mundo. Esse conhecimento linear tem sido acusado de ter sido um dos fantasmas que levou o ocidente às atrocidades cometidas durante o século XX. A especialização e a cristalização racional do conhecimento ofuscaram a vida, a humanidade, e esse é o problema da razão instrumental, que faz o homem perder sua visão de conjunto, embaçando seu entendimento do real em nome de uma verdade clara e racional. 1 Quais as dificuldades enfrentadas atualmente pelo ensino de Filosofia? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 2 Qual a contradição existente entre o significado mais singelo de Filosofia e a tradição? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 3 Em que consiste o método de abstração científica do real usado pela tradição ocidental, quais suas limitações e como superá-lo? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 4 O que significa pensar uma educação humanizadora e como ela pode mudar a concepção de ensino de Filosofia? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 5 Quais as dificuldades de se fazer a síntese e a diferença entre dialética e a teoria da complexidade? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 35 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 Educação após Auschwitz O tema sobre educação do filósofo alemão Theodoro Adorno, no texto Educação após Auschwitz, diz respeito às causas pelas quais nossa sociedade gera pessoas capazes de se tornarem algozes, como foram os nazistas, ou pessoas que se omitem diante da barbárie de algozes, como os colaboracionistas com a extrema-direita ou aqueles que simplesmente “não querem saber” nada a respeito dos acontecimentos bárbaros. Adorno qualifica essas pessoas, em vários graus, como possuindo uma “consciência reificada”. O que fazer para não gerarmos mais essas personalidades? A ideia básica de Adorno nesse texto é uma ideia platônica. Semelhante aos prisioneiros da obra Caverna de Platão, hoje somos prisioneiros da “sociedade administrada”. A noção de “sociedade administrada” de Adorno funciona como na obra Caverna de Platão. Em tal sociedade, que é a nossa sociedade industrial, há um véu ideológico (produzido, como explica o marxismo, pela reificação e pelo fetichismo) que cobre os rostos de todos nós. Esse véu, como as sombras na Caverna de Platão, faz com que enxerguemos o que não é o real como sendo o real, embora seja apenas o existente. Estamos em uma situação na qual nos imaginamos como sujeitos quando na verdade somos objetos. Temos que, como o prisioneiro de Platão, sair da Caverna e encontrar a luz do sol. Porém, diferentemente da situação do prisioneiro de Caverna de Platão, no caso descrito por Adorno, estamos envolvidos por algo bem pior. Se fugimos da Caverna encontramos a luz, ficamos mais cegos ainda, dado que a luz é muito forte: a luz natural da razão, ela própria, é mais que uma aliada do mundo moderno no que ele tem de dominador e opressor, ela é a própria mãe do mundo moderno e, sendo uma luz forte, cega-nos. O Iluminismo cega. Contra os fenômenos ideológicos de nossa sociedade atual – o capitalismo em sua fase monopolista e/ ou a “sociedade administrada” -, que nos faz ficar prisioneiros de nossa ciência e de nossa tecnologia – instrumentos que nos fazem enxergar como nunca antes! -, estamos impotentes e...cegos! Ou, quase impotentes. FONTE: Adaptado de Ghiraldelli (2002, p. 47-48). 36 Metodologia do Ensino de Filosofia Tamanha é a luz da razão que ofuscou o homem ao ponto de não mais se perceber como parte viva desse todo. Triste foi o caminho que a humanidade trilhou e ainda trilha com esse ofuscamento. A técnica é a essência desse saber, que não visa conceitos e imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital. As múltiplas coisas que, segundo Bacon, ele ainda encerra nada mais são do que instrumentos: o rádio que é a imprensa sublimada; o avião de caça, que é uma artilharia mais eficaz; o controle remoto, que é a bússola mais confiável (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 18). Como já foi visto, a razão ofuscante está presente na sociedade atual, resultado da técnica, da ciência, do pragmatismo, do utilitarismo, os quais só validam verdades práticas, objetivas, e comprováveis experimentalmente. Essa razão extremamente aplicada é a tal razão instrumental, resultado do pensamento linear desenvolvido durante a modernidade. Essa única forma de tratar a razão e de validar a verdade contribuiu para a sociedade perder a dimensão do humano. Porém, o problema não está nesse modo de se conhecer, o problema está no fato de esse ser o único modo que o homem validou de se buscar e conhecer a verdade. Antes de mais nada, não cabe excluir o linear da realidade, porque tambémlhe faz parte. Nossas tecnologias são demonstração potente do tratamento linear efetivo – artefatos tecnológicos, também os eletrônicos, são criaturas rígidas, e nem por isso menos úteis e sofisticados. Não nos interessaria inventar avião não linear, pois ninguém estaria disposto a voar nele, já que lhe faltaria a confiabilidade dos fenômenos estáveis e estritamente recorrentes (DEMO, 2011, p. 15). O problema não é a linearidade do conhecimento, pelo contrário, os avanços que a humanidade atingiu ao nível da técnica e da especialização do conhecimento foram fantásticos. Esse tipo de conhecimento sozinho não é o suficiente para a compreensão de mundo, de humanidade. A extrema especialização das mentes humanas produtoras de super tecnologias perdeu a capacidade perceber a totalidade da vida. A racionalidade do homem o levou para outros caminhos. É necessário agora fazer o caminho de volta, terminar a lição de casa, retornar ao real, reconhecer a complexidade do mundo para assim desvendá-lo. Para tanto, pode-se considerar duas abordagens importantes, as quais tratam o real em sua totalidade: a abordagem dialética, como já dito anteriormente, e a teoria da complexidade. Ambas entendem que os antagonismos e as contradições fazem parte da dinâmica da realidade, daí o seu caráter complexo. A dialética estuda a realidade em seu movimento, não a cristaliza. Já a teoria da complexidade aborda o real como um emaranhado de relações que articulam as partes, e o conhecimento sobre o real também inclui essas relações, não existindo 37 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 um único caminho a ser seguido, ou seja, pode-se chegar ao conhecimento por caminhos diversos nesse emaranhado de relações. Desse modo, verifica-se que o caminho para o conhecimento não se esgota na linearidade da análise. A não linearidade implica, pois, muito mais que emaranhados, labirintos, complicações, onde se podem ver processos que se complicam, mas não se complexificam. Multiplicidade de coisas não faz complexidade necessariamente, até porque o complexo pode provir do simples e o simples do complexo. […] Possivelmente, a noção simples que temos de coisas que consideramos simples provém de nossa perspectiva de captação, não do próprio objeto (DEMO, 2011, p. 16-17, grifo no original). Essa é uma nova forma de olhar a realidade e como o conhecimento se organiza; consiste em perceber as relações presentes nas coisas, em que uma parte se relaciona com outras, seja direta ou indiretamente. Dessa forma, é possível transitar de um ponto a outro sem necessariamente usar o mesmo caminho. Esse modo de interpretar e de perceber a realidade permite tanto a visão do simples, quando abstraímos a parte do todo, como a visão do complexo, quando olhamos a parte nas suas mais diversas relações. […] na complexidade não linear pulsa relação própria entre o todo e as partes, feita ao mesmo tempo de relativa autonomia e profunda dependência. Não basta, ainda, a noção sistêmica, que desde sempre previu que o todo possui capacidade de reorganização das partes: a falta de certas partes não precisa inviabilizar o todo; de certas partes é possível reconstituir o todo, o equilíbrio sistêmico tende a impor-se, e assim por diante (DEMO, 2011, p. 17). Assim, a busca pelo conhecimento ganha relativa autonomia, e pode partir de qualquer ponto, porém, sua compreensão depende também da compreensão das relações entre as partes. Não se pode conhecer o todo complexo se as partes não forem compreendidas dentro de suas relações. Não basta conhecer as partes profundamente, pois é preciso conhecer profundamente as relações entre as partes. O complexo é dado a partir das relações entre as partes. Outro aspecto importante para se pensar a complexidade do mundo é o fator temporal, tendo em vista que, quando se trata do mundo em movimento, não é possível voltar no tempo. Esse é o caráter irreversível do tempo, logo, o conhecimento do real está sempre em movimento e nunca retorna ao que era antes. A irreversibilidade refere-se, num primeiro passo, à inserção temporal: com o passar do tempo, nada se repete, por mais que possa parecer; qualquer depois é diferente do antes; não se pode tomar como equação linear entre antes e depois, mas como não linear. Assim como é impossível voltar ao passado, 38 Metodologia do Ensino de Filosofia também é impossível ir para o futuro permanecendo o mesmo (DEMO, 2011, p. 24). Se o conhecimento quiser apreender o real em seu movimento, a temporalidade precisa estar presente, e, portanto, a irreversibilidade inerente ao mundo se apresenta, ou seja, os momentos não se repetem, pois, as relações se modificam e as partes também. Inserir o aspecto temporal na compreensão de mundo significa pensar a realidade em sua complexidade real, significa captar o real em seu movimento, percebendo as peculiaridades de cada momento, suas variáveis que, ao se transformarem, transformam as relações e consequentemente o todo. A dificuldade da tradição em lidar com a complexidade do real a fez criar caminhos meramente racionais, e com isso acabaram se distanciado da vida. O movimento inerente à realidade, suas contradições e antagonismos, e a ruptura de sua unidade, cindiram o mundo entre verdade racional, estática, fixa e eterna em contraposição ao mundo efetivo, mutável, instável e, portanto, não confiável. A dificuldade está em lidar com a mutabilidade do mundo e de enfrentar a instabilidade e a irreversibilidade do real. Agora, parece não haver mais saída, pois o homem foi encurralado por ele mesmo e necessita enfrentar o caráter mutável da verdade. Portanto, é importante considerar a complexidade do real, e ter consciência de que o pensamento tradicional, linear, não é capaz de validar as contradições e ambiguidades inerentes ao mundo em movimento, evidenciando, assim, a necessidade de se explicitar os limites da tradição e as novas abordagens epistemológicas. 1 Quais os argumentos de Adorno sobre o porquê de nossa sociedade gerar pessoas capazes de se tornarem algozes? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 2 Quais as características da razão instrumental? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 3 Quais os problemas gerados por uma visão apenas linear do conhecimento e como superá-los? _____________________________________________________ _____________________________________________________ 39 A FILOSOFIA NA EDUCAÇÃO Capítulo 1 4 Explique como se caracteriza o aspecto temporal da complexidade: _____________________________________________________ _____________________________________________________ 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nesse capítulo foram realizadas algumas reflexões iniciais sobre a Filosofia e seu ensino. Abordou-se o seu caráter prático, a sua utilidade e as possibilidades de seu ensino. O principal objetivo foi elencar as diversas problemáticas que a Filosofia passou ao longo do tempo, e que ainda passa. Tudo isso para possibilitar ao futuro docente que considere, de modo crítico, o processo de construção das concepções de verdade, ampliando a reflexão sobre o tema e demonstrando a amplitude dessas questões. Procurou-se evidenciar a relação direta entre o movimento conceitual da Filosofia e os modos de conhecer, com a metodologia de ensino aplicada pelo docente. Para tanto, foi necessário revisitar alguns caminhos percorridos pelo pensamento filosófico ao longo dos séculos, desde a sua origem, passando pelas suas crises paradigmáticas até as possibilidades atuais. Não perdendo de vista o debate sobre a validade e utilidade da Filosofia para a construção do conhecimento e sua importância na formação de sujeitos livres e autônomos. Vale lembrar o papel do educador enquanto mediador do conhecimento, e não apenas como seu transmissor, tendo o diálogo
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