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Educação Não-Formal Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Carla Rizzo Revisão Textual: Aline Gonçalves O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência • Conhecer o trabalho desenvolvido pelas ONGs para inserção da pessoa com deficiência no universo acadêmico e profissional; • Apresentar os avanços da educação não formal desenvolvidos pelos meios midiáticos em relação à pessoa com deficiência. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • A Capacitação para o Trabalho por meio da Aprendizagem de Habilidades e/ou Desenvolvimento de Potencialidades; • Apresentação das ONGs que Desenvolvem Trabalhos Educacionais Inovadores Relativos ao Desenvolvimento Acadêmico e Profissional das Pessoas com Deficiência; • A Educação Não Formal Desenvolvida na e pela Mídia, em Especial a Eletrônica, para Pessoas com Deficiência. UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência Contextualização Para começarmos o estudo desta unidade, convido você, a realizar a leitura da matéria abaixo: Notícia publicada pela Cinesp, em 21 de janeiro de 2020, sobre o processo de inclusão profissional das pessoas com deficiência no Brasil, “Do estudante ao profissional com deficiência – como barreiras e ações afirmativas impactam na formação e empre- gabilidade de milhões”, disponível em: https://bit.ly/2Vw8dio Como se pode notar, a notícia deixa evidente o quão atrasado encontra-se o Brasil no quesito “atendimento aos direitos e necessidades fundamentais das pessoas com deficiência”. É um absurdo, na minha visão, ainda utilizarmos o Censo Demográfico de 2010 para realizarmos pesquisas acadêmicas sobre a realidade das pessoas com deficiência no Brasil. Infelizmente, esses dados não refletem a atual situação de milhares de brasileiros com deficiência. Confira as informações presentes no slide de 8 de maio de 2019, do Ministério da Saúde, “Censo Demográfico de 2020 e Mapeamento das pessoas com deficiência no Brasil”, da Coordenação Geral de Saúde da pessoa com deficiência. Disponível em: https://bit.ly/2XBKWhD Observe os políticos brasileiros, de modo geral, parecem não estar muito preo- cupados com a população brasileira e as pessoas com deficiência. Em fevereiro de 2020 o Governo Federal ainda não havia conseguido lançar nenhuma proposta efetiva para a população com deficiência, apenas promessas nas áreas da Educação (MEC) e da Saúde (Ministério da Saúde). Pergunto: como os slides apresentados pelo Ministério da Saúde, “Censo Demográfico de 2020 e Mapeamento das pessoas com deficiência no Brasil”, contribuem para a resolução dos problemas das pessoas com deficiência? Apenas informar que ainda tomarão alguma providência? Governos passados e o atual Governo Federal sequer conseguiram avançar, de fato, na implementação de Políticas Públicas concretas relacionadas aos setores da Educação, Saúde e Meio Ambiente. A notícia publicada pela Cinesp (2020) indica: Quanto ao Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019, nos últimos 10 anos o percentual de alunos com deficiência matriculados no ensino regular subiu de 47% para 86%. O problema é que, como a contabilização de estu- dantes é restrita ao Censo Escolar, os dados sobre crianças e jovens com deficiência que não têm acesso à Educação continuam na invisibilidade. 8 9 Confira a matéria do portal Nova Escola: “Inclusão na educação: quais os desafios para realmente atender pessoas com deficiências”, uma vez que a Educação Inclusiva no Brasil ainda enfrenta desafios, como a falta de professores capacitados, de acessibilidade física nas escolas e de salas de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado. Disponível em: https://bit.ly/2ygpS5A Tudo isso só para mencionar como as políticas públicas brasileiras relacionadas às pessoas com deficiência ainda estão muito incipientes ou apenas na Lei e no papel. E, para finalizar, lembrá-lo(a) de que boa parte das empresas brasileiras só empregam as pessoas com deficiência porque necessitam respeitar a legislação que exige esse compromisso por parte delas. A Lei 8213/91 determina que empresas com 100 funcionários ou mais incluam de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiências habilitadas na seguinte proporção: até 200 empregados, 2%; de 201 a 500 empregados, 3%; de 501 a 1000 empregados, 4%; e de 1001 em diante, 5%. 9 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência A Capacitação para o Trabalho por meio da Aprendizagem de Habilidades e/ou Desenvolvimento de Potencialidades Segundo Loni Elisete Manica (2017), faz-se necessário refletir sobre como a edu- cação não formal pode desenvolver práticas pedagógicas capazes de estimular os potenciais e as habilidades das pessoas com deficiência, bem como capacitá-las para o mercado de trabalho. Não se trata apenas de estimulá-las ou propor metodologias tecnológicas para aprenderem, mas, principalmente, fortalecê-las nas dimensões relacionadas às interações sociais e ao desenvolvimento do pensamento crítico. Figura 1 Fonte: Getty Images O que se observa, explica Manica (2017, p. 70), em pleno século XXI, é que a pessoa com deficiência ainda é enxergada como alguém que possui limitações, portanto, não se investe em seu capital humano, ou seja, na sua capacidade de aprender, de pensar de maneira crítica ou na troca e busca pela construção do conhecimento. Para o senso comum, educar um aluno com deficiência em um curso profissional é desafiador e instigador, especialmente pelo fato de que a sociedade, muitas vezes, já o rotula como ineficaz ou doente, considerando-o inapto para o ensino. Vencer essa barreira é algo que um docente com- prometido com a mudança poderá propor em sua metodologia. Como valorizar os aspectos pessoais centrados no potencial e não na deficiência? Afinal, o atual mercado de trabalho valoriza as competências individuais e não possui setores identificados pela deficiência. Vamos conferir a experiência? Assista ao vídeo: “Com AD – Tecnologias e adaptações para inclusão”. Disponível em: https://youtu.be/aSjPzo1VDj8 10 11 Gostou do vídeo? Ele contém alguns depoimentos muito interessantes que corro- boram com as ideias que estamos começando a estudar: como valorizar e trabalhar o potencial dos indivíduos com deficiência? Marcos Rossi, analista de sistemas do Banco Itaú, em seu depoimento, deixou claro que sempre apostou em sua força interior: “Eu já me via lá (no futuro: estudando, trabalhando...)”, e na sua mesa de trabalho, seu livro de inspiração: “Uma vida sem limite”. A autoestima e a autoconfiança desse rapaz fizeram com que ele alcançasse seus objetivos desde cedo. Edi Carlos é outro exemplo de inclusão profissional bem-sucedida. É funcionário público e atua com foco na eficiência. Ele ressalta a importância de as pessoas e o empresariado valorizarem as potencialidades e não a deficiência da pessoa. Conforme o seu relato, o deficiente necessita de oportunidades, e o empregador deve olhar a capacidade do indivíduo e não a deficiência. Segundo a Avape (Associação de Valorização da Pessoa com Deficiência, ONG fundada em 1982), Karolline Sales – analista técnica assistiva e de acessibilidade – relata que a maioria dos empresários tem uma visão distorcida sobre a realidade do deficiente visual. Em geral, acreditam que a pessoa com deficiência visual não tem condições de trabalhar devido a sua limitação para locomover-se até o trabalho; não consegue usar um computador tradicional, e assim o custo da empresa aumenta, porque os investimentos em tecnologia assistiva e equipamentos são muito caros e, por último, alegam baixa qualificação profissional. No vídeo fica evidente que a ONG Avape luta com veemência pela garantia dos direitos da pessoa com deficiência. O acesso ao mercado de trabalho, bem como a qualificação dessas pessoas, é a causa quedefendem desde 1982. Mas a questão de acreditar na potencialidade da pessoa com deficiência é exaltada na fala de todos os entrevistados, concorda? Sim, é importante acreditarmos nas potencialidades de cada pessoa com ou sem deficiência, o que ela tem a nos oferecer, sem preconceitos! Basta que esses potenciais sejam transformados em habilidades! Figura 2 – Igualdade de oportunidades, uma vez que a pessoa com defi ciência deva ser valorizada por suas capacidades Fonte: Getty Images 11 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência Segundo Manica (2017, p. 4): Mesmo sem escolaridade, algumas pessoas conseguem participar de cursos básicos que lhes conferem a devida habilidade e competência para o desempenho de suas funções. Esta modalidade de Educação é oferecida, especialmente, pelas seguintes instituições: • Escolas profissionais que são subsidiadas pelas Confederações da Indústria, Comércio, Transporte, Agricultura e, ainda, pelo Serviço de apoio das micro e pequenas empresas (SEBRAE); • Institutos Federais da Rede Pública (inclusivos e não inclusivos – INES e IBC2) que são subsidiados pelo Governo Federal; • Organizações Não Governamentais e laboratórios de aprendizagem, financiados pela comunidade (APAEs, Pestalozzi e outras); • Organizações privadas. Explica Manica (2017) que o Censo brasileiro de 2010 demonstrou que 61,1% das pessoas com deficiência não têm instrução ou possuem apenas o ensino fun- damental incompleto. As pessoas com deficiência, diz Manica (2017), com ensino fundamental completo ou ensino médio incompleto são 14,2%. Já 17,7% têm o ensino médio completo ou superior incompleto, e apenas 6,7% possuem o ensino superior completo. Os dados estatísticos tratados anteriormente são assustadores e me pergunto quais características devem ter os profissionais que pretendem atuar junto às pessoas com deficiência, para que possam ajudá-las em seu desenvolvimento de forma integral. Sobre essas questões, estudaremos na próxima unidade. Figura 3 – A importância do apoio dos colegas de trabalho nas funções de trabalhaores com deficiência Fonte: Getty Images 12 13 Você Sabia? A Legislação Brasileira defende a inclusão das pessoas com deficiência nas escolas públicas e privadas, de qualquer tipo ou grau de deficiência, explica Manica (2017), mas a maioria dessas pessoas não consegue chegar a essas escolas por falta de acessi- bilidade, de tecnologias assistivas ou por estarem fora do perfil exigido pela Educação Formal (sem a idade exigida ao nível escolar). Assim, ficam impedidas de frequentar as classes regulares e raramente conseguem algum tipo de certificação nas escolas. Para obterem a sonhada certificação, a maioria das pessoas com deficiência recorre à educação não formal realizada em Associações ou ONGs. Segundo Manica, as pessoas com deficiência acabam recorrendo às escolas profissionais, que não exigem o grau de escolaridade formal, uma vez que se sentem mais reconhecidas e acolhidas: Assim, normalmente, as pessoas com deficiência e analfabetas não são incluídas em classes regulares de Ensino Formal, destinada aos primeiros anos escolares, e passam a procurar alternativas para ingressar no mercado de trabalho. A escola profissional passa a ser uma dessas alter- nativas [...]. (MANICA, 2016) Retomando a pergunta inicial: Como valorizar e trabalhar o potencial dos indivíduos com deficiência? Na minha visão, primeiramente, permitindo que as pessoas com deficiência tenham acesso, desde tenra idade, à escolaridade e aos serviços de atendimento complementares quando necessário: psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, nutricionista, médicos, neuropediatras, entre outros, do mesmo modo, que sejam oportunizadas a elas vagas no mercado de trabalho. Figura 4 – A educação não formal como meio de inserção das pessoas com defi ciência no mercado de trabalho Fonte: Getty Images 13 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência Infelizmente, além do problema da falta de escolarização e do preconceito do empresariado em contratar pessoas com deficiência, Angela Paula Simonelli e Camarotto (2011) indicam outros fatores que impossibilitam a inserção dessas pes- soas no mercado de trabalho: • A falta de acesso aos serviços de reabilitação integral das pessoas com deficiên- cia gera, inevitavelmente, sequelas para a convivência em sociedade; • Além das dificuldades motoras, os problemas relacionados às barreiras arquitetô- nicas, barreiras atitudinais e grande falta de mecanismos compensatórios, deno- minados de ‘equiparação de oportunidades’ entre pessoas com e sem deficiência, como transporte coletivo adaptado e outros dispositivos para diminuição ou elimi- nação dos fatores ambientais que dificultam a vida das pessoas com deficiência; • O preconceito em relação à utilização de equipamentos facilitadores para execução dos trabalhos, tais como: lente de aumento, cadeira de rodas, muletas, bengalas etc.; • Em geral, para contratação, são escolhidas as pessoas que apresentam pequenas lesões em relação àquelas que têm lesões mais complexas ou aparentes no corpo, mesmo que possuam as habilidades funcionais para a função de trabalho; • Falta de ações informativas para os funcionários das empresas, quanto às carac- terísticas das pessoas com deficiência, para se evitar preconceitos ou estigmas; • Por último, a falta de acessibilidade para que as pessoas com deficiência possam ter mais autonomia. Figura 5 – Pessoas com lesões complexas ou aparentes no corpo encontram dificuldades para ingressar no campo profissional Fonte: Getty Images Todas as dificuldades tratadas até aqui revelam que muitas pessoas com deficiência acabam tendo uma vida social muito restritiva e solitária. Dependendo do grau de deficiência, algumas são esquecidas ou abandonadas em abrigos, outras são confinadas em instituições específicas ou no seio familiar. 14 15 Para Simonelli e Camarotto (2011, p. 14), embora existam avanços na contra- tação formal de trabalhadores com deficiência, “o sistema de cotas no Brasil ainda mostra resultados tímidos, pois a grande maioria das empresas não modificou sua política de emprego após a regulamentação das cotas”. Leia a pesquisa de SIMONELLI, A. P.; CAMAROTTO, J. A. Análise de atividades para a inclusão de pessoas com deficiência no trabalho: uma proposta de modelo, 2011. Disponível em: https://bit.ly/2WNqx7h Apresentação das ONGs que Desenvolvem Trabalhos Educacionais Inovadores Relativos ao Desenvolvimento Acadêmico e Profissional das Pessoas com Deficiência Embora o Brasil disponha de uma das Legislações mais avançadas do mundo sobre assistência, proteção e inserção ao mercado do trabalho às pessoas com deficiência, as estatísticas sobre as taxas de emprego para essa população indicam dificuldades, explica Costa, Carvalho-Freitas e Freitas (2019, p. 3): Em 2016, os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) reve- laram um total de 391 mil vínculos empregatícios ativos de trabalhadores com deficiência, o que representa 0,85% do total de pessoas com defici- ência no país. Do total de trabalhadores brasileiros com deficiência que possuem carteira assinada, somente 8,2% são representados por pessoas com deficiência intelectual. (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017) Figura 6 – No cenário brasileiro, pessoas com defi ciência intelectual representam uma parte bem pequena dos profi ssionais ativos no mercado Fonte: Getty Images 15 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência Atualmente, sabe-se que o mundo globalizado do capital e o avanço tecnológico exigem muita mão de obra qualificada. A rapidez do mundo moderno não perdoa ninguém, pessoas com ou sem deficiência, uma vez que a prioridade no mercado de trabalho é a competitividade e o alto desempenho em formação profissional. Segundo Pereira (2014, p. 14): Verifica-se que o mundo do trabalhopassa por uma profunda transfor- mação, e esse processo tem início a partir da globalização do capital que se desenvolve num complexo de reestruturação produtiva, com impactos profundos nas relações de trabalho. Acontece que a maioria das pessoas com deficiência não teve acesso a muitos serviços da sociedade, como educação (escolarização formal) e saúde (tratamento e reabilitação contínua por equipes multidisciplinares), e são vítimas de estigmas sociais advindos da falta de informações sobre a deficiência. Vivenciam também barreiras atitudinais e arquitetônicas, conforme estudamos há pouco, e tais fatores dificultam enormemente o acesso delas ao mundo do trabalho. Assista ao vídeo do Programa Balanço Geral Florianópolis: “Pessoas com deficiência têm dificuldade para entrar no mercado de trabalho”. Disponível em: https://youtu.be/lgM07NQxKFk Gostou do vídeo? Na minha visão, enquanto tivermos valores sociais que prio- rizem o capital e a lucratividade das empresas, fica inviável a entrada das pessoas com grau moderado ou grave de deficiência nelas. Como já explicado, o capitalismo global e os processos tecnológicos não perdoam pessoas com ou sem deficiência, que não acompanham a velocidade do mundo moderno. Vivemos em uma sociedade muito predadora e em um processo de capitalismo selvagem. Sabemos que o trabalho é uma das formas de entrada do sujeito na sociedade, De afirmação das relações interpessoais, exigindo, para tanto, ambientes e meios apropriados que possibilitem a convivência com as adversidades, deficiências e diferenças. (LEAL; MATTOS; FONTANA, 2013, p. 60) Dessa forma, entende-se que o mercado de trabalho seja um lugar de inclusões, independentemente das diferenças, e a inclusão das pessoas com deficiência nas atividades produtivas do trabalho funciona como forma de interação e integração social, explicam Philereno et al. (2015). Como já estudado, as empresas contratam pessoas com deficiência, desde que não necessite realizar adaptações no ambiente corporativo nem signifique queda na produção de trabalho. Assim sendo, Philereno et al. (2015, p. 163) explicam, por meio das ideias de Sassaki (2006): Ele assevera que a pessoa com deficiência, devidamente qualificada, apresenta qualidades, muitas vezes, superiores às demais pessoas, e que 16 17 existem empresas inclusivas, que têm proporcionado condições necessá- rias para que os deficientes realizem o seu trabalho. Entretanto, reconhece que a falta de qualificação profissional tem desencadeado um impasse nos processos inclusivos. Figura 7 – Embora algumas pessoas com defi ciência apresentem-se aptas ao trabalho, a baixa escolarização, na maioria das vezes, torna-se empecilho para contratação Fonte: Getty Images Assista a reportagem realizada pelo canal Emprego & Renda TV: “Contratação de pessoas com deficiência”. A repórter Sandra Gomes entrevista Fernando Guedes, especialista na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, em 27 de novembro de 2012. Disponível em: https://youtu.be/j34vXqLJTjM Romeu Sassaki (2006) sugere que as entidades filantrópicas e as ONGs devem assumir a qualificação profissional e o processo de colocação no mercado de trabalho das pessoas com deficiência, uma vez que esses indivíduos tendem a recorrer às entidades que frequentam, bem como devem ter condições reais de prepará-los para a inserção no trabalho. É o que faz as FENAPAEs, explicam Costa, Carvalho-Freitas e Freitas (2019): Do ponto de vista da qualificação profissional para pessoas com deficiência intelectual, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), é a instituição com maior trajetória de desenvolvimento de programas de educação profissional, com o objetivo de oferecer qualificação para seus alunos, por meio de oficinas profissionalizantes, preparando-os para a inclusão no mercado de trabalho. (FENAPAEs, 2011) Importante! Vamos conhecer um pouco dos trabalhos concretos das APAES. Primeiramente, quero deixar claro que as oficinas profissionalizantes das APAES variam de estado para estado ou de cidade para cidade, porque dependem muito do financiamento e das parcerias que realizarão no decorrer de cada ano ou semestre. Vou lhe dar o exemplo de oficinas profissionalizantes da APAE em Santo André. Vamos conhecer? 17 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência A matéria do dia 10 de abril de 2018, Grupo Sintonize – ABC do ABC – Focado em você, explica que o Projeto + Inclusão da APAE tem como objetivo ofertar possibilidades de empreendedorismo e empregabilidade. Teve o seu início em março de 2018, com 65 inscritos. O “+APAE Inclusão” procura reparar a ausência de cursos preparatórios, conta a diretora da APAE de Santo André, Valéria Parral (2018): “+ APAE INCLUSÃO”: O objetivo principal do projeto é capacitar jovens com deficiência e opor- tunizar uma melhora na qualidade de vida. Além disso, busca incentivar a contratação dos beneficiários das oficinas por meio da Lei de Cotas (nº. 8.213/91), que exige a reserva de 2 a 5% das vagas de empresas para pessoas com deficiência, dependendo do número total de funcionários. O “+ APAE Inclusão” também prevê a implantação de um departamento que fará o direcionamento dos profissionais capacitados nas oficinas em áreas de sua formação através de parcerias com órgãos públicos e privados. As oficinas profissionalizantes são oferecidas para pessoas com deficiência entre 12 e 17 anos que moram em Santo André. A capacitação acontece nas áreas de: Panificação, Audiovisual, Informática, Rotinas Administrativas, Artesanato e Corte e Costura. Confira a interessante reportagem na íntegra, no link disponível em: https://bit.ly/2K6rykS Essa iniciativa é de grande valia, uma vez que algumas pesquisas realizadas nas APAES de Belo Horizonte indicaram resultados opostos ao apresentado na matéria anterior. As oficinas profissionalizantes de 21 cidades de Belo Horizonte não aten- dem às reais necessidades do aluno e do mercado de trabalho, como explicam Costa, Carvalho-Freitas e Freitas (2019, p. 7), ao estudarem o relato de 47 profissionais res- ponsáveis diretamente pelas oficinas. Veja na íntegra os resultados finais da pesquisa: • As oficinas estavam circunscritas a funções operacionais, ou melhor, ativi- dades baseadas em trabalhos manuais e repetitivos, embora as professoras expliquem que estes são importantes, uma vez que possibilitam ao aluno o senti- mento de pertencimento social e a diminuição do preconceito da sociedade; • 85% das professoras participantes afirmaram que o trabalho a ser ensinado foi escolhido de acordo com o interesse dos alunos naquela atividade; 81% afirmam que os alunos foram questionados sobre seus interesses na oficina; • 66% respondentes concordaram que a oficina foi criada de acordo com as possibilidades de trabalho disponíveis na cidade; • Observa-se que as professoras reconhecem que somente em um terço dos casos as oficinas são realmente efetivas e que a maior parte dos alunos não se desvincula das oficinas e não ingressa no mercado de trabalho; • Das professoras participantes, 89% afirmaram que os produtos confeccionados nas oficinas profissionalizantes são vendidos. Entretanto, quanto ao destino 18 19 do dinheiro arrecadado, 74% disseram que é a direção da APAE local que define o que será realizado com ele, não havendo discussão com os alunos sobre a melhor destinação dos recursos arrecadados, o que contribuiria com a promoção de autonomia defendida pela instituição; • As professoras também deixaram explícita a tendência das oficinas em exercer uma função mais ocupacional do que profissionalizante. E, ainda, ressaltou-se a insegurança das famílias dos alunos com deficiência intelec- tual, que, em função das garantias do BPC, resistem à profissionalização de seus membros com receio de perder o benefício, explicitando a preca- riedade econômica que grande parte dessa população ainda vive no país. Leia o texto das pesquisadorasCOSTA; CARVALHO-FREITAS; FREITAS “Qualificação profis- sional para pessoas com deficiência intelectual: perspectiva dos professores”. Disponível em: https://bit.ly/2WNtAML Você Sabia? Você sabe o que é o sistema BPC? Decreto n. 1.330, criado em 1994, o BPC, ou melhor, Benefício de Prestação Continuada, é o pagamento de um salário mínimo por mês à pessoa com deficiência ou ao idoso com 65 anos ou mais, que comprove não possuir meios de sobrevivência própria nem advin- do de sua família, explicam Costa, Carvalho-Freitas e Freitas (2019). Figura 8 Fonte: Getty Images Para terminar, segundo Tanaka e Manzini (2005), os cursos profissionalizantes oferecidos podem ter caráter terapêutico e não prepararem a pessoa com deficiência para o mercado de trabalho, de acordo com Philereno et al. (2015, p. 164): 19 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência Hansel (2009) salienta a importância de as instituições desenvolverem os cursos para a qualificação profissional dos deficientes em consonância com as necessidades do mercado, pois assim, haverá a possibilidade de direcionar as atividades de acordo com o perfil do indivíduo e as demandas das empresas. Por último, Marque e Toldrá (2008) enfatizam a necessidade da qualificação da PcD como um todo, envolvendo os aspectos comportamentais e as habilidades, porém é preciso observar o mundo real de trabalho e as expectativas que este apresenta, e a Educação Não Formal desenvolvida na/pela mídia, em especial a eletrô- nica, para pessoas com deficiência. É importante lembrar que as ONGs e as Entidades Assistenciais ainda têm um longo caminho a percorrer no que diz respeito aos cursos de profissionalização das pessoas com deficiência. É um grande desafio! Figura 9 Fonte: Getty Images A Educação Não Formal Desenvolvida na e pela Mídia, em Especial a Eletrônica, para Pessoas com Deficiência Você Sabia? Você sabia que o acesso às TICs (Tecnologia de Informação Computadorizada) é funda- mental para o processo de inclusão da pessoa com deficiência? Segundo o Relatório Mundial sobre a Deficiência, elaborado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Banco Mundial (2012, p. 192), há inúmeros benefícios prove- nientes dessas tecnologias para as pessoas com deficiência: 20 21 Uma vez que são capazes de acessar a web, pessoas com deficiência valorizam as informações sobre saúde e outros serviços prestados. Por exemplo, uma pesquisa com usuários de Internet com problemas de saúde mental mostrou que 95% usou a rede para informações específicas de diagnóstico, contra 21% da população em geral. Comunidades on-line podem ser particularmente úteis para pessoas com deficiência visual, auditiva ou autismo, porque elas superam as barreiras ex- perimentadas no contato pessoal. Pessoas com deficiência que estão isola- das valorizam a Internet por lhes permitir interagir com outrem e a possibi- lidade de encobrir suas diferenças. Por exemplo, no Reino Unido a emissora estatal criou um site para pessoas com deficiência, chamado “Ai!” (Ouch!) e materiais especiais da web para pessoas com deficiência intelectual. Localize no Relatório Mundial sobre a Deficiência o capítulo 6 “Ambientes facilitadores”, na p. 177. Recomendo a leitura inteira do capítulo ou procure concentrar seus estudos das páginas 193 a 203. Disponível em:: https://bit.ly/3bfellx Figura 10 – As tecnologias devem estar a serviço do processo de autonomia das pessoas com defi ciência Fonte: Getty Images No Brasil, o conceito de Tecnologia Assistiva, segundo Rita Bersch (2017, p. 4), significa: [...] uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e partici- pação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (BRASIL; SDHPR. Comitê de Ajudas Técnicas – ATA VII) Em seu livro Tecnologia Assistida, a estudiosa Rita Bersch (2017, p. 5 a 8) apre- senta uma variedade de categorias para as tecnologias assistivas, mas escolhi citar, literalmente, apenas cinco delas: 21 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência • Auxílios para a vida diária e vida prática: Talheres modificados, suportes para utensílios domésticos, roupas desenhadas para facilitar o vestir e o despir, abotoadores, velcro, recursos para transferência, barras de apoio etc. Equipamentos que promovam a independência das pessoas com deficiência visual na realização de tarefas como: consultar o relógio, usar calculadora, verificar a temperatura do corpo, identificar se as luzes estão acesas ou apagadas, identificar cores e peças do vestuário, verificar pressão arterial, cozinhar, identificar chamadas telefônicas, escrever etc. • Comunicação aumentativa e alternativa: Destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar, escrever e/ou compreender. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfica (BLISS, PCS e outros), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas com produção de voz) ou o computador com softwares específicos e pranchas dinâmicas em computadores tipo tablets, garantem grande eficiência à função comunicativa. • Recursos de acessibilidade ao computador: São exemplos de dispositivos de entrada os teclados modificados, os teclados virtuais com varredura, mouses especiais e acionadores diversos, softwares de reconhecimento de voz, dispositivos apontadores que valo- rizam o movimento de cabeça e o movimento de olhos, ondas cerebrais (pensamento), órteses e ponteiras para digitação, entre outros. Como dispositivos de saída podemos citar softwares leitores de tela, softwares para ajustes de cores e tamanhos das informações (efeito lupa), softwares leitores de texto impresso (OCR), impressoras braile e linha braile, impressão em relevo, entre outros. • Sistemas de controle de ambiente: Controle remoto para as pessoas com limitações motoras, para poderem ligar, desligar e ajustar aparelhos eletroeletrônicos como a luz, o som, tele- visores, ventiladores; executar a abertura e fechamento de portas e janelas, receber e fazer chamadas telefônicas, acionar sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. • Órteses e próteses: Confeccionadas sob medida e ajustadas ao corpo de cada pessoa com defi- ciência, as órteses e próteses servem no auxílio de mobilidade, de funções manuais (escrita, digitação, utilização de talheres, manejo de objetos para higiene pessoal), correção postural, entre outros. 22 23 Figura 11 – As tecnologias assistivas visma à melhor adaptação da pessoa com defi ciência nos diversos ambientes sociais Fonte: Getty Images Enfim, Rita Bersch (2017) esclarece que as tecnologias assistivas são comumente confundidas com as tecnologias educacionais. Um aluno com deficiência utilizará o computador como qualquer outro estudante para acessar a internet, realizar pesquisas, trabalhar com o mesmo software para ampliação das aprendizagens, assim haverá múltiplas formas de organizar, estudar e apresentar os conhecimentos construídos. Nas tecnologias assistivas, explica Bersh (2017), o objetivo é superar barreiras de várias ordens, tais como sensoriais, motoras ou cognitivas, que dificultam o acesso às informações e aprendizagens ou à vida cotidiana, profissional e social, conforme citados anteriormente. Qual é o papel das organizações não governamentais junto às pessoas com deficiência em relação às TICs e tecnologias assistivas? Segundo o Relatório Mundial sobre a Deficiência, elaborado pela OMS (Organi- zação Mundial da Saúde) e pelo Banco Mundial(2012), as ONGs têm papel prepon- derante na vida das pessoas com deficiência: • Influenciar os fabricantes e prestadores de serviços a repensarem os custos finan- ceiros das TICs, para que essa população tenha a possibilidade de fazer parte do que chamamos de inclusão digital; • Realizar cursos de capacitação para inserir as pessoas com deficiência às TICs; • Propor oficinas de treinamento para desenvolvimento das habilidades digitais ou alfabetização digital; • Conseguir preços mais acessíveis para os equipamentos que envolvam as tecno- logias assistivas; 23 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência • Apoiar o desenvolvimento de serviços de transmissão telefônica, língua de sinais, em Braille, ou melhor, a facilitação dos processos de informação, comunicação e construção do conhecimento. Figura 12 – As ONGs devem garantir o acesso das pessoas com deficiência às tics e às tecnologias assitivas nos diferentes ambientes profissionais Fonte: Getty Images Enfim, são tantas possibilidades! O importante é o acesso que as ONGs devem promover para a melhoria das práticas educativas não formais por meio das TICs e das tecnologias assistivas. Segundo Bruno e Nascimento (2019, p. 4): A Tecnologia Assistiva se desponta como importante área de conheci- mento e pesquisa na atualidade, configurando-se como ação estratégica da política pública de educação especial na última década. A Lei Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015) ratifica a Convenção sobre o Direito das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2008b), que compreende a defi- ciência como o impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas. Para finalizar os estudos desta unidade, faça a leitura do livro “Introdução à Tecnologia Assistiva”, da Prof.ª Me. Rita Bersch, 2017. Disponível em: https://bit.ly/2RIUun2 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Filmes Do Luto à Luta Documentário que traz relatos de pessoas com síndrome de Down e de seus familiares, mostrando como se desenvolvem, com exemplos de como podem atuar em profissiões e em outros campos da sociedade. Produzido pelo Circuito Espaço de Cinema & Casa Azul Produções Artísticas (Petrobrás: Brasília, DF, 2018). https://youtu.be/VxSB3r4Xm0w Leitura Cartilha dos Direitos Humanos da Pessoa com Deficiência Nessa cartilha, elaborada pelo Conselho Estadual para Política de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência do Rio de Janeiro, publicada em 2013, você encontrará definições acerca das deficiências e descrição dos direitos das pessoas deficientes. https://bit.ly/3dHeGyu Dança para Pessoas com Deficiência: Um Possível Elemento de Transformação Pessoal e Social No artigo, os autores desenvolvem estudo a respeito de como a dança pode mudar a vida de pessoas com deficiência. https://bit.ly/3csgeeL A Discussão sobre Inclusão para Pessoas com Deficiências na Perspectiva da Educação Social, Pedagogia Social e Educação Não Formal: Uma Revisão de Literatura No artigo, você encontrará uma análise das “produções acadêmicas sobre as práticas educativas de inclusão para pessoas com deficiências em projetos sociais que atendem crianças, adolescentes, jovens e adultos em condição de vulnerabilidade social” (PAULA et al., 2016). https://bit.ly/2RHlX8Q 25 UNIDADE O Papel das ONGs na Capacitação Profissional de Pessoas com Deficiência Referências BALANÇO GERAL FLORIANÓPOLIS. Pessoas com deficiência têm dificuldade para entrar no mercado de trabalho. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=lgM07NQxKFk>. Acesso em: 16 fev. 2020. BERSCH, R. Introdução à tecnologia assistida. Universidade Federal do Espírito Santo. Porto Alegre: Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: <https://www.assistiva. com.br/Introducao_Tecnologia_Assistiva.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2020. BRAGA, D. COM AD – Tecnologias e adaptações para inclusão. São Paulo, TV Sentidos & ONG AVAPE, Programa Sentidos, 4 jul. 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=aSjPzo1VDj8>. Acesso em: 19 fev. 2020. BRASIL. SDHPR – Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência – SNPD. 2009. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia. gov.br/app/publicacoes/tecnologia-assistiva>. Acesso em: 19 fev. 2020. _______. Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Cartilha dos Direitos Humanos da Pessoa com Deficiência. 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