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Assistência social no Brasil Referências: CARDOSO, J. L.; CUNHA, A. M. Discurso econômico e política colonial no Império luso-brasileiro. Tempo, Rio de Janeiro, v. 7, p. 65-80, 2012. Era Vargas foi um período de impulso industrial e surgimento do movimento sindical operário; época marcada por beneficios como carteira de trabalho (CTPS), 13º salário, aposentadoria, auxílio-doença e licença-maternidade. A assistência social, presente desde o Brasil colonial, era atrelada à obra caritativa, de troca de favores e logo se transformou em um novo modo de operar a política de tutelamento dos mais pobres. Nesse processo, consolidou-se como um dever moral de ajuda aos necessitados, pobres, conformando os campos de ação da filantropia, que, por sua vez, direcionaram o protagonismo da função exercida pela primeira-dama no estabelecimento de ações caritativas e das ações de solidariedade, presentes até hoje na sociedade brasileira. A sociedade brasileira possui a marca de uma “regulação social tardia” e, no caso da assistência social, mesmo com a regulação prévia na década de 1930, na Era Vargas, ela ainda se configurava como um conjunto de práticas fragmentadas, baseadas nas referências religiosas e filantrópicas. Apesar de a Era Vargas ter inaugurado algumas regulações voltadas às ações de assistência social, foi somente na década de 1940 que as práticas assistenciais começaram a ser pensadas e organizadas a partir da criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA). Naquela época as ações eram organizadas pela caridade privada de determinados grupos burgueses ou pelas igrejas. O Estado brasileiro não se ocupou com alternativas para a classe pobre, apenas criou normativas para melhor qualificar a vida do trabalhador; contudo, essas leis também foram poucas e escassas. O Estado só mudou a partir do governo militar, que alcançou o poder a partir da Revolução de 1930, período no qual estratos burgueses conseguiram o poder por meio de uma revolução também burguesa, usando os interesses da classe trabalhadora, ou seja, realizando uma manipulação dos interesses dessa classe. Vargas desenvolveu um governo de regime ditatorial e assentado no militarismo. Contudo, é a partir de seu governo que tivemos as primeiras ações do Estado compreendidas como política social. A revolução militar foi positiva, ao menos no que dizia respeito aos objetivos burgueses e, em 1930, subiu ao poder Getúlio Vargas, que governou até 1945. Esse seria o primeiro estágio da política social brasileira, compreendido como período de introdução da política social no Brasil. Todavia, essa política social não seria extensiva a todos os que dela necessitassem como é esperado, mas especialmente idealizada para atender a classe trabalhadora brasileira. O Estado não possuía uma política social de saúde, logo, tinha acesso à saúde apenas quem contribuía com algum instituto. O Estado apenas organizava campanhas sanitárias para conter endemias e epidemias e, portanto, atuava de forma pontual e residual. Quem tinha necessidade de atendimento médico e não estava vinculado a nenhum instituto deveria procurar as Santas Casas. Além da legislação trabalhista, houve nesse período ações voltadas ao lazer e à educação da classe trabalhadora. Em 1942 o Senai foi criado com a incumbência de organizar e administrar nacionalmente escolas de aprendizagem para industriários ou seja, uma forma de capacitação para o grande capital. Foi o Senai que deu origem ao Sesi, que por sua vez, teria o papel de estudar, planejar e executar medidas que contribuam para o bem-estar do trabalhador na indústria; sua prática esteve orientada ao desenvolvimento de atividades de lazer especificamente voltadas para a classe trabalhadora. O Senac prestava a formação, voltada para os trabalhadores que atuavam no comércio, oferecendo informações para operários, trabalhadores em geral, promovendo assessorias para empregadores. Além das intervenções voltadas à classe trabalhadora e à industrialização do país, são constituídos o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), em 1941, e a LBA, em 1942. Contudo, nota- se que a prioridade do governo militar de Vargas era a classe trabalhadora e não os segmentos empobrecidos, os desempregados. Na década de 1960, período em que foi instalado um novo governo ditatorial houve a ampliação de alguns direitos sociais, sobretudo direcionados à classe trabalhadora. Além da consolidação do sistema S (formado por Senai, Sesi e Sesc) e da Fundação Leão XIII, no contexto do regime ditatorial, ocorreram outras ações organizadas no âmbito da política social. Isso aconteceu para que os governos pudessem manter as pessoas sob seu domínio. Assim, as ações em política social não podem ser compreendidas como simples concessões, mas também como mecanismos para manobrar a população brasileira. Como exemplo de intervenção, no ano de 1965, temos a criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, popularmente conhecida como Funabem. Essa tinha como alvo de ação os adolescentes pobres que cometiam ato infracional. Com o declínio do regime ditatorial, a partir da década de 1970, houve o processo de distensão política, ou seja, de abertura política. Esses processos foram potencializados porque grande parcela da população brasileira já se mostrava totalmente descontente em virtude da impossibilidade de participação política no regime ditatorial. Pós déc 1970. As políticas sociais no Brasil tiveram, nos anos 1980, formulações mais impactantes na vida dos trabalhadores e ganharam mais impulso após o processo de transição política desenvolvido em uma conjuntura de agravamento das questões sociais e escassez de recursos. Não obstante, as políticas sociais brasileiras sempre tiveram um caráter assistencialista, paternalista e clientelista, com o qual o Estado, por meio de medidas paliativas e fragmentadas, intervinha nas manifestações da questão social, preocupado, inicialmente, em manter a ordem social. Assim a política social brasileira se compõe e se recompõe, conservando em sua execução o caráter fragmentário, setorial e emergencial, sempre sustentada pela imperiosa necessidade de dar legitimidade aos governos que buscam bases sociais para manter-se e aceitam seletivamente as reivindicações e até as pressões da sociedade. Importa ressaltar que o marco regulatório das políticas sociais no Brasil se efetivou a partir da CF, sendo complementado por meio de legislações reguladoras, como a Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), de 1993, que marca o contexto contemporâneo da política assistencial. A abrangência e o significado da assistência social, a partir de então, são configurados por garantir o direito, a qualquer cidadão, aos benefícios, aos serviços, aos programas e aos projetos socioassistenciais; a assistência social é reconhecida como uma das políticas que constituem a seguridade social brasileira, ao lado da saúde e da previdência social. As políticas sociais, portanto, não se apresentam como instrumentos de mera realização do bem-estar na forma de favor pelo Estado, mas configuram-se como direito social e, no caso da assistência social, um direito não contributivo, diferenciando-se, assim, da previdência social, cujo acesso se dá pela via do trabalho. Em 1988, houve uma das maiores conquistas no âmbito da política social. A seguridade social é composta de políticas sociais de saúde, assistência social e previdência social, e sua gestão compete ao Estado. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Assim, pela primeira vez na história brasileira, a política social teve grande acolhimento em uma Constituição. Com a inserção na seguridade social, a política da assistência social é tida como política de proteção social, pois comporta as demandas sociais, as pessoas, as circunstâncias e suas famílias. A assistência social,segundo essa nova ótica, busca a inclusão social sob a égide do direito, dentre os quais se destacam o direito de pertencer, de integrar uma sociedade, independentemente de qualquer atributo pessoal.