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Desenvolvimento do Conhecimento Lógico APRESENTAÇÃO #CURRÍCULO LATTES# Professor Me. George Lucas Máximo Ferreira Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Regional de Joinville (UNIVILLE, 2017). Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM, 2020). Bolsista CNPQ na área de Teoria Econômica. Bolsista SETI/PR em Programa para Microempreendedores do Paraná - Bom Negócio Paraná. Bolsista SETI/PR em Programa de Certificação Orgânica - Paraná Mais Orgânico. Especialista em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro Universitário Cidade Verde (UNIFCV, 2020). MBA USP/Esalq em Data Science e Analytics (2021-atual). Atua como tutor educacional (UNIFCV/EAD), professor adjunto dos departamentos de Tecnologias da Informação/Engenharias/Pedagogia/Saúde (UNIFCV) e professor conteudista/autor nas áreas de economia, matemática, lógica matemática, estatística, finanças e investimentos (Kroton/FATECIE). Link Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7384837321788311 http://lattes.cnpq.br/7384837321788311 http://lattes.cnpq.br/7384837321788311 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Olá, caro (a) aluno (a)! Seja muito bem-vindo (a) ao material de Desenvolvimento do Conhecimento Lógico! Sou o Professor George Lucas Máximo Ferreira e é com grande satisfação que apresento este conteúdo de minha autoria, cuja finalidade consiste em introduzir os principais conceitos e definições de Lógica Matemática. Assim, na Unidade I, vamos apresentar brevemente a história da Lógica Matemática sendo que um dos principais contribuintes para a construção das leis lógicas foi o filósofo grego Aristóteles por meio da concepção de instrumentos do pensamento (Órganon), no capítulo Analytica Priora. Além disso, avançando até a era moderna apresentamos as contribuições de George Boole, De Morgan e Frege. Na Unidade II você estudará sobre as construções aristotélicas silogísticas. Aprendendo assim, a definição e utilização dos termos no silogismo, além disso, serão apresentadas as regras do silogismo e os sofismas. Será visto ainda, as representações gráficas por meio dos diagramas de Euler- Venn e suas aplicações. Por sua vez, na unidade III serão apresentadas o que é uma sentença declarativa afirmativa, introduzindo, assim, o conceito de proposições simples (p, q, r,...) e compostas (P, Q, R,...) concluindo com a apresentação e aplicação dos conectivos proposicionais “˄”; “˅”; “→”; “↔”; “⁓”. Você aprenderá como construir uma Tabela Verdade. Isso posto, você verá o conceito de arranjos binomiais VV, VF, FV, FF como base do método semântico ou instrumento de validação de argumentos conhecido por Tabela Verdade. Além disso, será explorado por meio das regras dos conectivos como construir a Tabela Verdade de cada um dos conectivos de acordo com sua classificação: “Conjunção”; “Disjunção”; “Condicional; “Bicondicional” e “Negação”. Ademais na unidade IV, finalizamos nossa jornada pelo conhecimento sobre lógica matemática abordando as lógicas não clássicas ou não aristotélicas. Dessa forma, serão abordados os conceitos da lógica modal, lógica alternativas e paraconsistentes. Destacam-se as contribuições do criador da lógica paraconsistente, o matemático e professor Newton C.A da Costa. Reitero ainda, caro (a) estudante, que o ato de estudar e obter conhecimento acerca de um tema é imprescindível para o nosso enriquecimento intelectual e pessoal, pois permite o ganho e a elevação que jamais serão perdidos. Desejo ótimos estudos! Prof. Me. George Lucas Máximo Ferreira UNIDADE I O QUE É LÓGICA? Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira Plano de Estudo: • O que é lógica? Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar a lógica clássica. • Compreender os tipos de lógica. • Estabelecer a importância das regras de inferência. INTRODUÇÃO Caro (a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de Desenvolvimento do Conhecimento Lógico. Vamos iniciar a nossa jornada pelo conhecimento por meio da abordagem das principais características, conceitos e definições que abrangem a Lógica Clássica. Disso, você estudará os fundamentos e as contribuições do filósofo grego Aristóteles para a axiomatização da lógica. Além disso, são explicitadas as contribuições das escolas dos megáricos e estóicos para a concepção lógica. Avançando até a contemporaneidade, são introduzidas as contribuições de matemáticos e lógicos como Boole, Frege e De Morgan e, apresenta-se a definição clássica de lógica. Na sequência, você verá a interligação entre a linguagem, sintática e semântica com as estruturas lógicas simbólicas. Disso, surge a argumentação e a organização silogística entre premissas e conclusão e, sobretudo como realizar a validação desses argumentos utilizando métodos de inferência, conhecidas como prova direta de validação, desdobramento das limitações provenientes do método semântico das tabelas de verdade. Desejo ótimos estudos! 1 O QUE É LÓGICA? Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-vector/man-head-puzzle-mental-health-600w- 1966529368.jpg Caro (a) estudante, você aprenderá que a lógica estuda a relação de consequência dedutiva, analisando entre outras variáveis as validações dos argumentos, ou seja, a associação entre as premissas e a conclusão. Assim, a lógica pode ser considerada como o estudo da razão ou do raciocínio. Logo, o objetivo da lógica consiste na aplicação dos princípios lógicos por meio do raciocínio dedutivo, disso, surge a lógica dedutiva. Além disso, a estruturação do pensamento lógico começa com as contribuições do filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.) não tendo sido encontrado evidências de contribuições anteriores. Disso, a lógica formal (pura ou teórica) surge com Aristóteles por meio da sua obra compilada denominada de Órganon1 (KNEALE; KNEALE, 1962). Isso posto, para Aristóteles o raciocínio dedutivo é reduzido basicamente ao que se denomina silogismo. Para além das contribuições de Aristóteles, houve a lógica dos megáricos (300 a.C.) e estóicos (260 a. C.). A abordagem desta última escola se distingue da aristotélica (Cálculo Proposicional) devido ao Cálculo de Predicados. São características dessa escola, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) a determinação das diferenças entre o conectivo inclusivo (ou) e exclusivo (ou...ou). Na contemporaneidade, você notará que a lógica matemática recebe as contribuições do matemático e lógico George Boole (1815-1864) por meio da sua álgebra booleana. Disso, surgem as ideias de Augustus De Morgan (1806-1871) e Gottlob Frege (1848-1925), este último, desenvolve o cálculo sentencial utilizando a negação e implicação, regras de Modus Ponens e de Substituição. Destaca-se ainda as contribuições de Bertrand Russell (1829-1970), Alfred Whitehead (1861-1947) com sua obra “Principia Mathematica” e Kurt Godel (1906-1978) e Alfred Tarski (1902-1983) (CARRION; COSTA, 1988). Para além disso, surgem as lógicas não clássicas por meio das contribuições do professor Newton Carneiro Affonso da Costa com sua lógica paraconsistente. 1 De acordo com Hegenberg (1995), no Organon se encontram os capítulos: (I) Categorias; (II) De Interpretatione (Interpretações); (III) Analytica Priora (Primeiros Analíticos que estuda os silogismos); (IV) Analytica Posteriora (Segundos Analíticos que contempla o estudo de silogismos de premissas verdadeiras); (V) Tópicos; (VI) Refutações sofísticas. https://image.shutterstock.com/image-vector/man-head-puzzle-mental-health-600w-1966529368.jpg https://image.shutterstock.com/image-vector/man-head-puzzle-mental-health-600w-1966529368.jpg Além disso, Barbosa (2017) destaca que quando pensamos na lógica como manifestação do pensamento é possível diferenciá-la comrelação a sua fundamentação, o que ajudará a endossar qualquer apoio disciplinar. A lógica pode ser entendida segundo Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) como a ciência que estuda os axiomas, princípios e métodos estabelecendo as condições de validação ou invalidação do argumento. Por sua vez, a lógica apresenta várias vertentes de pensamento, dessa forma, vamos adotar o pressuposto que a lógica é dividida em (1) lógica clássica e; (2) não clássica (ou alternativa). Dessa forma, a lógica clássica é baseada em simbolismos, padrão aristotélico, e cujo rigor tende a ser mais fundamentalista. A lógica aristotélica pode ser interpretada como a ciência do julgamento dividindo a lógica em formal e material. A lógica formal ou simbólica aborda a estrutura do raciocínio, ou seja, estuda as relações entre conceitos e provas, sendo conhecida também como lógica matemática. 1.1 Usos da Linguagem A lógica segue um processo de axiomatização, isto é, de formalização para se proceder às inferências. Disso, Alencar Filho (2002), sublinha os pilares da lógica aristotélica ou clássica, os três princípios lógicos, a saber: (1) Princípio da Identidade, todo objeto é idêntico a si mesmo; (2) Princípio da não contradição, são atribuídas as proposições valores lógicos verdadeiro (V) ou falsidade (F), mas não simultaneamente e; (3) Princípio do Terceiro Excluído, ou seja, pode-se atribuir os valores lógicos verdadeiro ou falso, mas nunca uma terceira designação. Além disso, Costa (1994) e Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) afirmam que não existe atividade lógico-racional sem a linguagem, com exceção, de raciocínios simplistas como algumas inferências imediatas e que tais palavras são substituídas por símbolos na lógica. Logo, é necessário a estrutura linguística para determinar as leis da lógica. Disso, surge a ligação com a teoria da linguagem. A linguagem de acordo com Costa (1994) é um sistema de sinais, ou símbolos, utilizados sistematicamente e de forma orgânica. Nesse conjunto, tais símbolos representam objetos ou compõem a formação de estruturas simbólicas ou sintaxe. Assim, uma linguagem refere-se a objetos e situações, ou seja, algumas de suas estruturas simbólicas representam determinadas entidades cujas sentenças estão relacionadas a fatos. Ademais, na análise da linguagem é necessário considerar, segundo Costa (1994) a dimensão sintática e semântica, isto é, a conexão entre as linguagens, os objetos e aos fatos à que se referem. 1.2 O que é Argumento? Um argumento segundo Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) é composto por parte do discurso, seja descrito ou narrado na qual são localizados um conjunto de premissas cujo resultado é a conclusão. Isso posto, você verá que Mortari (2001) destaca que as premissas e a conclusão são representadas por fórmulas de predicados, disso é possível determinar que o argumento base é válido se o conjunto das fórmulas que representam as premissas "implica" logicamente a fórmula que corresponde à conclusão. Além disso, Machado e Cunha (2019) descreve o argumento como a pretensão do interlocutor em justificar a verdade representada na conclusão por meio da verdade das premissas, logo, duas condições são necessárias, a saber: (1) as premissas precisam ser verdadeiras e; (2) um argumento coerente. Assim, se pelo menos uma das premissas é falsa, mesmo sob a hipótese de argumento coerente, não é possível validar a verdade da conclusão. Por sua vez, assumindo que as premissas são verdadeiras e a argumentação não é coerente, logo, a validade da verdade da conclusão também não pode ser garantida. Ademais, um argumento representa um conjunto de n proposições, ou fórmulas, sendo que uma é a consequência (conclusão), isto é, deriva das premissas (outras). Além disso, as premissas são notadas como 𝑃𝑖, na qual, i=1, 2, 3, ..., (n-1) e a conclusão é C. E, a validação do argumento é organizado de acordo com a seguinte disposição: 1. (𝑃1) 2. (𝑃2) ⋯ (n-1).𝑃𝑛−1 n. ∴ C Rearranjando os termos é equivalente à notação: 𝑃1 ˄ 𝑃2 ˄ 𝑃3 ˄ ... ˄ 𝑃(𝑛−1)→ C Por conseguinte, Alencar Filho (2003) e Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), definem que um argumento composto pelas premissas 𝑃1, 𝑃2, 𝑃3,..., 𝑃𝑛−1 e conclusão C pode ser representado por: 𝑃1, 𝑃2, 𝑃3,..., 𝑃𝑛−1 ⊢ C Na qual, se lê: I. “𝑃1, 𝑃2, 𝑃3,..., 𝑃𝑛−1acarretam C”. II. “C decorre de 𝑃1, 𝑃2, 𝑃3,..., 𝑃𝑛−1”. III. “C se deduz de 𝑃1, 𝑃2, 𝑃3,..., 𝑃𝑛−1”. IV. “C se infere de 𝑃1, 𝑃2, 𝑃3,..., 𝑃𝑛−1”. Sendo que, o símbolo “⊢”, denominado traço de asserção determina que a proposição à direita pode ser deduzida utilizando apenas as premissas que estão à sua esquerda. Além disso, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2001), sublinham que cada premissa (𝑃1, 𝑃2, 𝑃3,..., 𝑃𝑛−1) é disposta em uma linha numerada (1, 2, 3, ..., n-1). Sendo que, na última linha é disposta a conclusão notada pelo símbolo “∴” que representa, “portanto”, e finalmente cada proposição simples ou atômica que compõe a proposição composta deve ser representada por letras proposicionais minúsculas do alfabeto latino (p, q, r,...). 1.3 Raciocínio e Inferência Assim sendo, a lógica pode ser entendida como a ciência do raciocínio cuja raiz etimológica deriva do grego clássico, logike, que significa “logos”, isto é, a palavra escrita ou falada. No entanto, de acordo com Bedregal e Acioly (2007) filósofos gregos como Heráclito atribuíram um significado mais amplo como: pensamento, a ideia, a razão, o argumento. Por sua vez, um argumento não válido, isto é, sua invalidação, segundo Alencar Filho (2002) é um sofisma. Um sofisma é uma falácia cujo objetivo é causar confusão. Isso posto, Rocha (2010) sublinha que uma falácia pode ser estruturada com base em premissas falsas ou verdadeiras que representam casos específicos, ou seja, não generalizam, e não podem ser generalizadas. A conclusão pode ser correta, entretanto, do ponto de vista real, o argumento é uma falácia, porque as proposições base (premissas) apresentadas não determinam uma conclusão satisfatória, já que a estrutura é falaciosa. Um método utilizado para a validação de argumentos é a Tabela Verdade2, entretanto, tal método semântico apresenta limitações. Sendo assim, Alencar Filho (2003), destaca outra forma para se provar a validade de um argumento conhecido como prova direta de validação cujos instrumentos são as implicações e equivalências tautológicas (Quadro 1). Quadro 1. Equivalências Tautológicas† Regras/abrev. Fórmulas Idempotência (IND) (p ˄ p) ⟺p (p ˅p) ⟺ p Comutação (COM) (p ˄ q) ⟺ (q˄p) (p ˅ q) ⟺ (q ˅ p) Associação (ASS) ((p ˄ q) ˄ r) ⟺ (p ˄ (q ˄ r)) ((p ˅ q) ˅ r) ⟺ (p ˅ (q ˅ r)) Distribuição (DIS) (p ˄ (q˅ r)) ⟺ ((p ˄ q) ˅ (p ˄ r)) (p ˅ (q˄ r)) ⟺ ((p ˅ q) ˄ (p ˅ r)) Condicional (COND) p → q ⟺⁓p ˅ q Leis de De Morgan (MOR) ⁓ (p ˅ q) ⟺ (⁓p ˄⁓q) ⁓ (p ˄ q) ⟺ (⁓p ˅⁓q) Dupla Negação (DN) ⁓(⁓p) ⟺ p Importação/Exportação (IE) ((p ˄ q) → r) ⟺ (p → (q →r)) Absurdo (ABD) (p → (q ˄⁓q)) ⟺ ⁓p Nota: †Trata-se de uma lista parcial das fórmulas proposicionais. 2 As proposições podem ter seus valores-verdade apresentados em “Tabelas de valores”. Disso, são utilizadas regras para conjugar cada composição, a saber: conjunções, disjunções, condicionais, bicondicionais e a negação de uma proposição. Após esse procedimento segue-se a validação dos argumentos, logo, as tabelas-verdade consistem em um método semântico de validação de argumentos (HEGENBERG, 1995, p.214). Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2003); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011). As implicações tautológicas são utilizadas para fazer inferências, ou seja, executar “etapas” de uma dedução ou demonstração e devido a isso são denominadas, regras de inferência. Assim sendo, a notação correta é inserir a premissa sobre um traço horizontale na sequência a conclusão abaixo do traço supracitado (ALENCAR FILHO, 2002) (Quadro 2). Quadro 2. Implicações† Tautológicas Regras/abrev. Regras de Inferência Fórmulas proposicionais Adição (AD) 𝑝 𝑝 ˅ 𝑞 ; 𝑝 𝑞 ˅ 𝑝 p ⟹ p ˅ q Simplificação (SIMP) 𝑝 ˄ 𝑞 𝑝 ; 𝑝 ˄ 𝑞 𝑞 p ˄ q ⟹p p ˄ q ⟹ q Conjunção (CONJ) 𝑝 𝑞 𝑝 ˄ 𝑞 ; 𝑝 𝑞 𝑞 ˄ 𝑝 p, q ⟹p ˄ q p, q⟹q˄p Absorção (ABS) 𝑝 → 𝑞 𝑝 → (𝑝 ˄ 𝑞) p → q⟹p → (p ˄ q) Modus Ponens (MP) 𝑝 → 𝑞 𝑝 𝑞 p → q, p⟹q Modus Tollens (MT) 𝑝 → 𝑞 ⁓𝑞 ⁓𝑝 p → q, ⁓q⟹⁓p Silogismo Disjuntivo (SD) 𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑝 𝑞 ; 𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑞 𝑝 p ˅ q, ⁓p⟹q p ˅ q, ⁓q⟹p Silogismo Hipotético (SH) 𝑝 → 𝑞 𝑞 → 𝑟 𝑝 → 𝑟 p → q, q →r, ⟹p → r Nota: †Lista Parcial de implicações Tautológicas. Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2003); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011) Apresentadas as regras de inferência como alternativas das Tabelas Verdade para validação dos argumentos. Você verá, na sequência, as regras de dedução do cálculo proposicional. Disso, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que a prova direta de validação de argumentos utiliza três regras, a saber: (1) Equivalências Tautológicas; (2) Implicações Tautológicas e o; (3) Teorema da Dedução. O Teorema da Dedução ou o Teorema de Herbrand é um método da suposição estabelecido por Stanislaw Lesniewski (1886-1939), um filósofo e matemático polonês, e foi transformada em técnica pelo lógico polonês Stanislaw Jaśkowski seu aluno e membro da Escola de Lógica Lwów-Warsaw. Entretanto, Hegenberg (1995) destaca que foi Jacques Herbrand (1930) e de maneira independente Alfred Tarski (1936) que aperfeiçoaram o método que ficou conhecido como Teorema da Dedução (TD) ou segundo Alencar Filho (2003) “Demonstração Condicional (DC)”. SAIBA MAIS A obra clássica de literatura infantil “Alice no país das maravilhas” foi escrita pelo matemático, lógico e romancista Charles Lutwidge Dodgson sob o pseudônimo Lewis Carroll (1832-1898). A obra tem características e abordagens lógicas por meio de contradições, argumentos circulares, silogismos e falácias, atraindo o leitor para imergir no mundo do nonsense e, sobretudo, o leitor é envolvido num ambiente de fantasia e reviravoltas mirabolantes. Fonte: CÂNDIDO. Jornal da Biblioteca Pública do Paraná. O nonsense como crítica da lógica. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/O-nonsense-como-critica-da-logica. Acesso em: 06 ago. 2021. #SAIBA MAIS# REFLITA “Aonde fica a saída?'', perguntou Alice ao gato que ria. Depende, respondeu o gato. De quê, replicou Alice; Depende de para onde você quer ir[...]” Lewis Carroll, livro Alice no País das Maravilhas. #REFLITA # https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/O-nonsense-como-critica-da-logica CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) estudante, nesta unidade, aprendemos sobre as principais características, conceitos e definições que abrangem a lógica clássica ou aristotélica. Disso, foram apresentadas as contribuições do filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.) para a axiomatização da lógica clássica por meio dos três pilares da lógica como (1) Princípio da Identidade; (2) Princípio da não contradição e o; (3) Princípio do Terceiro Excluído. Além disso, foi apresentado o conceito da lógica, ou seja, a validação de argumentos utilizando métodos de validação seja o semântico constituído pelas tabelas de verdade ou por meio da prova direta de validade. Por sua vez, foram abordados os usos da linguagem, isto é, a interligação que há entre as estruturas linguísticas e a lógica matemática, inclusive, considerando aspectos sintáticos e semânticos. Na sequência foram discorridos sobre a argumentação por meio das estruturas silogísticas como a premissa e a conclusão. Ademais, argumentou-se sobre a ciência do raciocínio, sofisma, um tipo de falácia, a validação de argumentos utilizando provas diretas de validade cujos instrumentos são as equivalências e implicações tautológicas, denominadas também como regras de inferência. Além disso, você aprendeu na unidade que seguiu, acerca dos princípios lógicos aristotélicos, silogismos, diagramas de Euler-Venn, falácias e sobre o quadrado de oposições aristotélico. LEITURA COMPLEMENTAR SAUTTER, F. T. Teoria pura da lógica. Natureza Humana, v.13, n.2, São Paulo, 2011. SAUTTER, F. T. Silogísticas paraclássicas: um estudo de caso sobre a relação entre lógica clássica e lógicas não-clássicas. Principia, v.13, n.2, pp. 185-194, 2009. DOI:10.5007/1808-1711.2009v13n2p185. LIVRO Título: Lógica Indutiva e Probabilidade Autor: Newton da Costa Editora: Hucitec Sinopse: Newton da Costa, atualmente é professor aposentado do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sendo hoje professor visitante do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina, é engenheiro civil e bacharel em Matemática pela Universidade Federal do Paraná. Obteve os títulos de doutor em Matemática e docente livre de Análise Matemática e Análise Superior pela mesma instituição, em 1961, tornando-se catedrático dessa cadeira em 1965. Suas contribuições mais importantes, para a Ciência e a Filosofia, relacionam-se com a lógica paraconsistente (da qual foi um dos criadores. Juntamente, mas independente, com o lógico polonês S. Jaskowski), a teoria dos reticulados e a teoria estrutural das ciências empíricas. FILME/VÍDEO Título: O Jogo da imitação Ano: 2014 Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico monta uma equipe que tem por objetivo quebrar o Enigma, o famoso código que os alemães usam para enviar mensagens aos submarinos. Um de seus integrantes é Alan Turing (Benedict Cumberbatch), um matemático de 27 anos estritamente lógico e focado no trabalho, que tem problemas de relacionamento com praticamente todos à sua volta. Não demora muito para que Turing, apesar de sua intransigência, lidere a equipe. Seu grande projeto é construir uma máquina que permita analisar todas as possibilidades de codificação do Enigma em apenas 18 horas, de forma que os ingleses conheçam as ordens enviadas antes que elas sejam executadas. Entretanto, para que o projeto dê certo, Turing terá que aprender a trabalhar em equipe e tem Joan Clarke (Keira Knightley) sua grande incentivadora. WEB Kurt Gödel foi um filósofo, matemático e lógico austríaco, naturalizado norte- americano. Considerado, ao lado de Aristóteles, Alfred Tarski e Gottlob Frege, um dos mais importantes lógicos da história, Gödel causou um imenso impacto no pensamento científico e filosófico no século XX. Link: https://youtu.be/V3Hto3YX8Wo https://youtu.be/V3Hto3YX8Wo REFERÊNCIAS ALENCAR FILHO, E. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Nobel, 2002. BARBOSA, M. A. Introdução à lógica matemática para acadêmicos. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2017. BEDREGAL, B. R. C.; ACIÓLY, B. M. Introdução à lógica clássica para ciência da computação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal, 2017. BISPO, C. A. F.; CASTANHEIRA, L. B.; SOUZA FILHO, O. M. Introdução à lógica matemática. Cengage Learning, 2011. CÂNDIDO. Jornal da Biblioteca Pública do Paraná. O nonsense como crítica da lógica. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/O-nonsense-como- critica-da-logica. Acesso em: 06 ago. 2021. CARRION, R.; COSTA, N.C.A. Introdução à lógica elementar. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, MEC/SESu/PROEDI, 1988. COSTA, N. C. A. Ensaio sobre os fundamentos da lógica. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1994. HEGENBERG, L. Dicionário de lógica. São Paulo: EPU, 1995. KNEALE, W.; KNEALE, M. O desenvolvimento da lógica. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1962. MACHADO, N. J.;CUNHA, M.O. Lógica e linguagem cotidiana: verdade, coerência, comunicação, argumentação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. MORTARI, C. A. Introdução à lógica. São Paulo: UNESP, 2001. ROCHA, E. Raciocínio lógico para concursos: você consegue aprender. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010. UNIDADE II ARISTÓTELES E A LÓGICA CLÁSSICA Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira Plano de Estudo: • Princípios da lógica aristotélica. Objetivos de Aprendizagem: • Apresentar o conceito de Silogismo; • Compreender os tipos de falácias; • Estabelecer a importância do Quadrado de Oposições. INTRODUÇÃO Caro (a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de Desenvolvimento do Conhecimento Lógico. Você aprenderá nesta unidade, sobre os princípios da lógica clássica ou aristotélica. Assim, serão apresentados a definição, conceitos e estrutura dos silogismos por meio de aplicações e representações gráficas dos diagramas de Euler- Venn. Além disso, serão abordadas as regras dos silogismos e os tipos de proposições categóricas. Na sequência, você verá o conceito de falácia, qual sua definição e forma, para além disso, serão apresentados os tipos de falácias e suas aplicações nas argumentações. Finalmente, você estudará acerca das proposições universais afirmativas e negativas, introduzindo assim, o conceito de quadrado de oposições ou quadrado aristotélico. Desejo ótimos estudos! 1 PRINCÍPIOS DA LÓGICA ARISTOTÉLICA Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-vector/aristotle-sketch-style-vector-portrait- 600w-1234619806.jpg Caro(a) estudante, você estudará que a lógica clássica consiste no cálculo de predicados1 de primeira ordem, além de algumas extensões como determinados sistemas da teoria dos conjuntos e cálculos de predicados de ordem superior. Além disso, Carrion e Costa (1988) sublinham que a lógica clássica, de forma elementar, é baseada em certas posições sintáticas e semânticas subjacentes por meio dos conectivos lógicos, quantificadores e sobre os predicados de igualdade. Você verá que foi Aristóteles no século IV a.C quem começou a sistematizar as formas de argumentação, ou seja, de acordo com Kneale, W. e Kneale, M. (1962) e Machado e Cunha (2019) a lógica aristotélica estuda de forma detalhada argumentos estruturados por duas premissas e uma conclusão, denominados de silogismos, assim a doutrina aristotélica das proposições gerais fundamenta o caminho da doutrina silogística. 1.1 Silogismos e Diagramas A palavra silogismo deriva do grego sullogos cujo significado é reunião, ato de recolher ou de interligar palavras em um processo de raciocínio. Além disso, argumentos mais elaborados cuja composição tinha um número grande de premissas eram decompostos em conclusões parciais, encadeados até alcançar a conclusão final (MACHADO; CUNHA, 2019). De acordo com Santos (1959) silogismo é uma dedução formal, ou seja, é um raciocínio que vai do geral ao específico. Portanto, consiste em estabelecer a condição de juízo ou conclusão, demonstrando que é a consequência compulsória de um juízo reconhecido como verdadeiro por meio de um terceiro juízo que estabelece um laço entre os dois primeiros. No começo da obra Primeiros Analíticos contida no Órganon, Aristóteles define um silogismo como uma inferência em que, certas proposições se afirmam, qualquer coisa distinta, do que é afirmado nelas, se segue 1 Na lógica clássica, as proposições categóricas eram classificadas por meio de quatro tipos a saber: (i) “Todo S é P”, (ii) “Alguns S são P”, (iii) “Nenhum S é P” e; (iv) “Alguns S são P”. Logo, em cada qual, a proposição P representava o predicado, ou “expressão predicativa” (HEGENBERG; SILVA, 2005). https://image.shutterstock.com/image-vector/aristotle-sketch-style-vector-portrait-600w-1234619806.jpg https://image.shutterstock.com/image-vector/aristotle-sketch-style-vector-portrait-600w-1234619806.jpg obrigatoriamente. Assim, tal fórmula é ampla para abranger quase qualquer argumento no qual uma conclusão seja obtida (inferida) de duas ou mais premissas (Tabela 1). Tabela 1. Silogismos Aristotélicos a. Silogismo I Premissa 1: Todos os homens são mortais. Premissa 2: Alguns homens são pobres. Conclusão: Alguns pobres são mortais. b. Silogismo II Premissa 1: Todos os brasileiros são americanos. Premissa 2: Todos os americanos são comunistas. Conclusão: Todos os brasileiros são comunistas. c. Silogismo III Premissa 1: Todas as rosas são vermelhas. Premissa 2: Alguns pássaros não são vermelhos. Conclusão: Alguns pássaros não são rosas. Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019). Para além disso, você aprenderá que quando Aristóteles discute silogismos, este considera argumentos quase que exclusivamente nos quais as premissas e a conclusão são simples no sentido e gerais, ou seja, de acordo com Kneale, W. e Kneale, M. (1962) especificamente a conclusão silogística se segue de duas premissas que relacionam os termos da conclusão com um terceiro termo denominado de termo médio. Você aprenderá que a interpretação do silogismo começa com um juízo universal cuja posição pode ser ou não a premissa maior. Logo, o silogismo possui três termos, a saber: (1) maior; (2) médio e; (3) menor. Esses termos são constituídos pelas proposições que dão origem às premissas e a conclusão. Assim, de acordo com Santos (1959) o predicado da conclusão é designado de termo maior (Tabela 2). Tabela 2. Estrutura silogística Premissa maior: Todo homem é mortal. Premissa menor: Ora Sócrates é homem. Conclusão: Logo, Sócrates é mortal. Fonte: Adaptado de Santos (1959). Uma inspeção visual na Tabela 2 permite verificar que o predicado da conclusão é denominado de termo maior. Assim, “Mortal” é o termo maior, além disso, o sujeito da conclusão é o termo menor, portanto, “Sócrates” é o termo menor. Ademais, o termo médio está contido nas premissas, entretanto, não está contido na conclusão, logo, “homem” é este termo. Dessa forma, o silogismo para Santos (1959) consiste em demonstrar que um objeto ou conjunto de objetos estão contidos em outro conjunto de objetos. Isso posto, os silogismos obedecem a oito regras (Figura 1). Figura 1. Regras do Silogismo Fonte: Adaptado de Santos (1959). Assim, por meio dessa definição não é possível classificar como silogismo argumentos como: “Se nevar o chão estará coberto de neve; ora nevará; logo o chão estará coberto de neve” nem a qualquer outro argumento cuja premissa seja uma sentença declarativa composta. Ademais, de acordo com Aristóteles há quatro figuras do silogismo que se diferem da relação entre o termo médio e os extremos, ou seja, a posição do termo médio nas premissas maior ou menor. Assim, dependendo da posição do termo médio nas premissas, Machado e Cunha (2019) destacam quatro classes ou figuras de silogismos (Tabela 3). Tabela 3. Figuras Aristotélicas de silogismos Proposição Figur a 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 elementos envolvidos Premissa 1 b ˄ a a ˄ b b ˄ a a ˄ b Premissa 2 c ˄ b c ˄ b b ˄ c b ˄ c conclusão c ˄ a c ˄ a c ˄ a c ˄ a Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019). Na qual o símbolo “˄” representa o conectivo “e” ou uma conjunção. Além disso, cada uma das três proposições (a, b e c) que compõem o silogismo pode ser de um dos quatro tipos categóricos elementares. Portanto, a combinação de 4 x 4 x 4 = 64 possibilidades para cada classe de silogismo destacada na Tabela 4, logo, totalizam 256 combinações possíveis, isto é, 4 x 64. Todavia, destes 256 tipos de silogismos apenas 24 são argumentos coerentes, os demais são considerados sofismas2. Por sua vez, dos 24 silogismos coerentes 5 podem ser rearranjados em função dos demais(Tabela 4). Tabela 4. Silogismos redundantes a. Silogismo I Premissa 1: Todos os paulistas são brasileiros. Premissa 2: Todos os brasileiros são latino- americanos. Conclusão: Todos os paulistas são latino- americanos. b. Silogismo II Premissa 1: Todos os paulistas são brasileiros. Premissa 2: Todos os brasileiros são latino- americanos. Conclusão: Alguns paulistas são latino- americanos. Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019). Tais silogismos estão contidos nos 24 silogismos coerentes, entretanto, o silogismo II (Tabela 4. b) não é considerado válido devido a óbvia derivação do silogismo 2 Consiste em raciocínio falacioso, isto é, deliberadamente elaborado com o objetivo de induzir ao erro (HEGENBERG; SILVA, 2005). I (Tabela 4. a). Dessa forma, restam apenas 19, logo, para identificar se um silogismo consistia em um argumento válido ou sofisma, Aristóteles formulou algumas regras que são destaques: (1) “Se ambas as premissas são afirmativas, a conclusão deve ser afirmativa”; e (2) “Se ambas as premissas são particulares, nada se pode concluir” (MACHADO; CUNHA, 2019). Logo, das premissas: Tabela 5. Regras aristotélicas a. 1ª Regra Premissa 1: Todos os patos nadam. Premissa 2: Alguns gorilas nadam. Conclusão: inconclusivo b. 2ª Regra Premissa 1: Alguns homens dançam. Premissa 2: Alguns gorilas não dançam. Conclusão: inconclusivo Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019) Note que, da primeira regra nada se pode concluir, porque “Nenhum gorila é um pato”, portanto a regra não é respeitada. Isso posto, de forma análoga na segunda regra, nenhuma conclusão pode ser obtida. Todavia, utilizar a lista de regras pode ser exaustivo e contraproducente, sendo assim, esta pode ser substituída pelos diagramas de Euler3 Assim, a partir dos diagramas é possível por meio de inspeção visual verificar a validade de cada argumento, diante disso, você aprenderá que o conjunto “A”, constituído por todos os termos possuidores da propriedade “a” é representado segundo Machado e Cunha (2019) por uma região restrita do plano, excetuando os termos que não possuem tal propriedade (Figura 2). Figura 2. Pertinência entre elemento e conjunto 3 Conhecido também por Diagramas de Euler-Venn devido às contribuições do matemático inglês John Venn (1834-1923). Venn elaborou aplicações para a lógica propondo a representação gráfica por meio dos diagramas utilizando operações com conjuntos. Logo, se trata de operações elementares com conjuntos sejam: uniões, intersecções e complementações. Além disso, são utilizados para representar visualmente por meio de desenhos (figuras geométricas) sobre um plano. Tal técnica foi proposta pelo matemático suíço Leonhard Euler na obra “Cartas a uma Princesa da Alemanha sobre diversos assuntos da física e filosofia”. Euler se utilizou dos diagramas para expressar as premissas e a conclusão com o objetivo de facilitar a compreensão das regras de argumentação (HEGENBERG; SILVA, 2005, BARBOSA, 2017, MACHADO; CUNHA, 2019). Fonte: Adaptado de Iezzi e Murakami (2019); Machado e Cunha (2019). Dessa forma, segundo Iezzi e Murakami (2019) quando se deseja descrever um conjunto A por meio de propriedades características “P” dos seus elementos “x” é utilizado a seguinte notação: 𝐴 = {𝑥 | 𝑥 𝑡𝑒𝑚 𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑝𝑟𝑖𝑒𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑃}. Na qual, se lê: “A é o conjunto dos elementos x tal que x possui a propriedade P”. Assim, na Figura 2, os elementos “a”, “b” e “c” possuem a propriedade “P” atribuída, todavia, o elemento “d” não possui tal propriedade. Você verá na Figura 3 as quatro proposições categóricas aristotélicas representadas por meio do diagrama de Euler. Figura 3. Diagramas de Euler-Venn: Proposições básicas a. Todo “a” é “b”. b. Algum “a” é “b”. c. Nenhum “a” é “b”. d. Algum “a” não é “b”. Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019). Sejam os conjuntos P: “conjunto dos patos”, N: “conjuntos dos seres que nadam”, G: “conjunto dos gorilas”, G: “conjunto dos gatos” e H: conjunto dos homens. Assim, a proposição categórica “todo a é b” (Figura 3.a) será “Todos os patos nadam”, já em “nenhum a é b” (Figura 3.b) a proposição será dada por “Alguns gorilas nadam”. Além disso, o resultado obtido do “conjunto de gatos” e o “conjunto dos seres que nadam” (Figura 3.c) é possível inferir de acordo com Machado e Cunha (2019) que “Nenhum gato nada”. Finalmente, de “Algum a não é b” se obtém que “Alguns homens não nadam”. Diante disso, é possível utilizar diagramas como os propostos por Euler como ferramenta na avaliação de argumentos, ou seja, por meio da inspeção visual é realizada o reconhecimento da validade dos argumentos ou identificar um sofisma supondo que a representação seja fidedigna as afirmações das premissas. 1.1 Falácias De acordo com Hegenberg e Silva (2005) e Barbosa (2017) falácias são argumentos não dedutivos legítimos ou ilegítimos, além disso, podem representar raciocínios incorretos. Assim, falácias ou argumentos falaciosos tem tipos distintos, a saber: (i) paralogismos, quando se trata de erros justificáveis, todavia, (ii) quando elaboradas deliberadamente com o propósito de induzir ao erro é denominada de sofisma (Figura 4). Figura 4. Sofisma Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019). Sejam P: “conjunto de todos os paulistas”; B: “conjunto de todos os brasileiros” e; H: representa o indivíduo (elemento) Howard. Isso posto, segue o argumento: Tabela 6. Estrutura do Sofisma a. 1ª Regra Premissa 1: Todos os paulistas são brasileiros. Premissa 2: Howard não é paulista. Conclusão: Logo, Howard não é brasileiro. Fonte: Adaptado de Machado e Cunha (2019). Se deduz que Howard pode ser brasileiro ou não. Note que, se ele for carioca, as premissas seriam verdadeiras e a conclusão falsa. Diante disso, um argumento é válido segundo Machado e Cunha (2019) se não é possível ter as premissas simultaneamente verdadeiras e a conclusão falsa. Ademais, note que, analogamente, um argumento sempre que apresentar as premissas simultaneamente verdadeiras converge para uma conclusão verdadeira. Portanto, na linguagem corrente, o termo falácia é utilizado quando o argumentador se refere a um argumento que parece correto, todavia, quando analisado minuciosamente, verifica-se o contrário. São conhecidas como falácias informais ou de ambiguidade, ou seja, são estruturas linguísticas com objetivos psicológicos de argumentação. Assim, Walton (2012) destaca algumas dessas táticas enganosas como: (i) o argumento dirigido ao homem (“argumentum ad hominem” termo em latim) cujo objetivo consiste em atacar o argumentador e não o argumento, ou seja, se deseja minar e difamar sua credibilidade, caráter e integridade, note que, não se refuta ou contradiz as premissas, contudo, se distancia desta com a destruição do apresentador, tal desvio, conduz a uma falácia de irrelevância; (ii) a falácia das perguntas múltiplas, esta acontece quando uma pergunta é realizada de maneira aberta e agressiva, com o objetivo de comprometer o oponente com respostas anteriores com perguntas sequer realizadas; (iii) a falácia da conclusão não pertinente (“de ignoratio elenchi” termo em latim) acontece quando um argumento é conduzido de forma que prove uma conclusão errada não pertinente, ou seja, o argumento pode ser válido, entretanto, o problema se desviou da questão; (iv) falácia de apelo à força (“argumentum ad baculum” termo em latim) é aplicado quando o argumentador se utiliza da força ou intimidação para impor sua conclusão sem apresentar os argumentos adequados; (v) falácia de apelo à piedade (“argumentum ad misericordiam”, termo em latim) e; (vi) falácia de apelo às emoções (“argumentum ad populum”, termo em latim), cujo objetivo consiste em apelar ao entusiasmo ou sentimentos coletivos da plateia. Os apelos às emoções são utilizadospara disfarçar a ausência de provas substanciais para sustentar o argumento. 1.2 Quadrado de Oposições O quadrado de oposições ou quadrado aristotélico consiste numa forma de apresentação das proposições universais afirmativas e negativas. Assim, no quadrado aristotélico são colocadas as proposições A, E, I, O, (Figura 5) letras que representam as primeiras vogais das palavras “AffIrmo” e “nEgO”. Isso posto, A representa as universais afirmativas; E às universais negativas; I às particulares afirmativas e; O às particulares negativas. Tais vogais têm sido utilizadas para distinguir as formas das frases declarativas ou proposições desde a Idade Média, todavia, esta classificação não consta na obra aristotélica. Note que, entre A e E predomina uma relação de contrariedade e entre I e O prevalece a relação de subcontrariedade (KNEALE, W., KNEALE, M., 1962, HEGENBERG; SILVA, 2005). Figura 5. Quadrado Aristotélico (oposições) Fonte: Adaptado de Kneale e Kneale (1962). Aristóteles tinha a preocupação na sua obra De Interpretatione4 em agrupar as frases declarativas em pares de tal forma que a segunda frase consistisse na negação da primeira. Disso, surgem três formas de frases declarativas que afirmam um predicado de um sujeito a saber: (i) a singular; (ii) a universal e; (iii) a particular. Assim, na frase singular o sujeito é o nome de um indivíduo que não pode por si ser predicado (e.g.; “Mathias”). Todavia, em uma frase declarativa geral, o sujeito representa o símbolo de um gênero (e.g.; “Mulher”) podendo se configurar como predicado de muitos indivíduos. 4 Figurava entre os tratados de lógica escritos por Aristóteles (384-322 a. C) e foram compilados em uma obra única denominada de Organon ou instrumento da pesquisa filosófica (HEGENBERG, 2005). Além disso, note que, frases declarativas cujo objetivo é atribuir gênero podem ser diferenciadas conforme sejam ou não de abrangência universal. Logo, a expressão “Todo homem é rico” é universal e deve ser diferenciada da frase declarativa particular “Algum homem é rico”. A partir dessa combinação da distinção entre universal e particular com a distinção entre afirmativo e negativo surge a concepção de classificação quaternária ou quadrado de oposições aristotélicas (KNEALE, W., KNEALE,M., 1962). Na doutrina aristotélica as frases declarativas se opõem como contraditórias, quando não são ambas verdadeiras ou ambas falsas e contrárias, quando não podem ser ambas verdadeiras, mas podem ser ambas falsas. Dessa forma, Kneale e Kneale (1962) destacam que algumas vezes para a forma particular negativa é utilizado “Nem, todo o homem é rico” resultando na simples negação da forma universal afirmativa. As frases declarativas particulares foram denominadas de subalternas das universais abaixo, das quais estão posicionadas no quadrado e subcontrárias uma em relação a outra. Tal suposição considera que as subcontrárias não podem ser ambas falsas, entretanto, podem ser ambas verdadeiras. Assim, Kneale e Kneale (1962) destacam que Aristóteles considerava as subcontrárias como contraditórias das contrárias e que, cada frase declarativa universal implicava sua subalterna. Ademais, as informações apresentadas no quadrado aristotélico fornecem claramente uma referência para um determinado número de inferências imediatas. Dessa forma, se adotar uma proposição A como premissa, então, de acordo com o quadrado de oposições é possível inferir de maneira válida que a proposição O correspondente é falsa, além disso, imediatamente é possível verificar que a proposição I é verdadeira. Todavia, da proposição I não se pode deduzir a verdade da proposição A correspondente, mas sim, a falsidade da proposição E (COPI, 1978). Assim, dada a verdade ou falsidade de qualquer uma das quatro frases declarativas (proposições) pode se obter imediatamente a verdade ou falsidade de algumas ou de todas as demais proposições. SAIBA MAIS As obras do filósofo Aristóteles que chegaram ao conhecimento do público abrangem todos os temas estudados da época clássica. Assim, tais obras podem ser distribuídas em sete grupos, a saber: (i) Lógica; (ii) Física; (iii) Biologia; (iv) Psicologia; (v) Metafísica; (vi) Ética e Política; (vii) Retórica e Poética. São destaques os livros no primeiro grupo denominados de Organon, “instrumento”, para qualquer estudo, que posteriormente seria conhecido como “Lógica”. Fonte: HEGENBERG, L.; SILVA, M. F.A Dicionário de Lógica. Rio de Janeiro: Pós-Moderno, 2005 (adaptado). #SAIBA MAIS# REFLITA “Todo homem é mortal. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é mortal”. O Silogismo de Aristóteles. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) estudante, nesta unidade, você aprendeu sobre os princípios da lógica aristotélica. Assim, a jornada pelo conhecimento começou apresentando o conceito e definição de silogismo, logo, da dedução formal, isto é, de um raciocínio que vai do geral ao específico. Portanto, consiste em estabelecer a condição de juízo ou conclusão, demonstrando que é a consequência compulsória de um juízo reconhecido como verdadeiro por meio de um terceiro juízo que estabelece um laço entre os dois primeiros. Além disso, foram estudados a forma, estrutura e regras dos silogismos. Por sua vez, foram apresentados os diagramas de Euler-Venn como alternativa de representação das proposições categóricas. Na sequência, você estudou sobre as falácias, paralogismos e sofismas. Diante disso, foram abordados os tipos de falácias e sua aplicação nas argumentações. Finalmente, foram estabelecidas a importância do quadrado de oposições ou quadrado aristotélico o qual consiste numa forma de apresentação das proposições universais afirmativas e negativas e cuja representação é dada por meio do quadrado aristotélico no qual são colocadas as proposições A, E, I, O. Na unidade seguinte, foram abordados os aspectos da lógica formal, logo, foram apresentadas as características da lógica proposicional e de predicados, além da simbologia, fórmulas e quantificadores. Ademais, você pode compreender sobre dedução formal acerca do método semântico de validação de argumentos denominado de tabela verdade. LEITURA COMPLEMENTAR DIAS, D. H. B. Conteúdo existencial nas lógicas aristotélica e clássica. Perspectiva Filosófica, v.47, n.2, 2020. DOI: https://doi.org/10.51359/2357-9986.2020.248892. Acesso em: nov./2021. https://doi.org/10.51359/2357-9986.2020.248892 LIVRO Título: Lógica e Linguagem Cotidiana Autor: Nílson José Machado, Marisa Ortegoza da Cunha Editora: 2019 Sinopse: Neste livro, os autores buscam ligar as experiências vividas em nosso cotidiano a noções fundamentais tanto para a lógica como para a matemática. Através de uma linguagem acessível, o livro possui uma forte base filosófica que sustenta a apresentação sobre lógica e certamente ajudará a coleção a ir além dos muros do que hoje é denominado Educação Matemática. FILME/VÍDEO Título: Alexandria Ano: 2009 Sinopse: Em Alexandria, no ano de 391, Hipátia é professora de astronomia e matemática, além de filósofa. Um dos seus alunos, Orestes, está apaixonado por ela, assim como o seu escravo Davus. Juntos, eles deverão lutar contra a extinção da biblioteca local e outras grandes instituições, que não devem sobreviver quando o Cristianismo ganha poder político na cidade. WEB A lógica é uma área da filosofia que visa estudar a estrutura formal dos enunciados (proposições) e suas regras. A lógica serve para se pensar corretamente, sendo assim, uma ferramenta do correto pensar. Link: https://youtu.be/LCKdEYgaSrE https://youtu.be/LCKdEYgaSrE REFERÊNCIAS BARBOSA, M. A. Introdução à Lógica Matemática para acadêmicos. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2017. CARRION, R.; COSTA, N.C.A.Introdução à lógica elementar. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, MEC/SESu/PROEDI, 1988. COPI, I. M. Introdução à lógica; tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978. HEGENBERG, L.; SILVA, M. F.A Dicionário de Lógica. Rio de Janeiro: Pós-Moderno, 2005. IEZZI, G.; MURAKAMI, C. Fundamentos de matemática elementar – volume 1: Conjuntos e funções. 9. ed. São Paulo: Atual, 2019. KNEALE, W.; KNEALE, M. O desenvolvimento da lógica. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1962. MACHADO, N. J.; CUNHA, M.O. Lógica e linguagem cotidiana: verdade, coerência, comunicação, argumentação. 4. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. SANTOS, M. F. Lógica e dialética. 4. ed. Curitiba: Logos, 1959. SOUZA, J. N. Lógica para Ciência da Computação. Editora: Campus, 2002 WALTON, D. N. Lógica informal: manual de argumentação crítica. Tradução Ana Lúcia R. Franco, Carlos A. l. Salum; revisão da tradução Fernando Santos. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. UNIDADE III LÓGICA FORMAL Professor Mestre George Lucas Máximo Ferreira Plano de Estudo: • Lógica proposicional e de predicados; • Dedução natural; • Tabela verdade. Objetivos de Aprendizagem: • Apresentar a simbologia, fórmulas e quantificadores lógicos; • Estabelecer a importância do Método Semântico das Tabelas Verdade; • Introduzir o conceito de Dedução Natural. INTRODUÇÃO Caro (a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de Desenvolvimento do Conhecimento Lógico. Nesta unidade, você aprenderá sobre a simbologia, fórmulas e quantificadores lógicos, ou seja, como identificar os conectivos lógicos em determinada proposição e organizá-la em proposições simples ou atômicas e a partir dessa estrutura realizar a tradução simbólica. Além disso, estudará os tipos de conectivos lógicos e suas respectivas classificações. Você conhecerá o método semântico para validação de argumentos denominado de tabela verdade, bem como, suas regras de formação. Assim, serão apresentadas as regras de formação das tabelas verdade de cada conectivo lógico de acordo com sua classificação, ou seja, conjunção, disjunção, condicional, bicondicional e negação. Ademais, você aprenderá sobre o método de dedução natural como alternativa aos métodos semânticos. Assim, será apresentada a prova direta de validação por meio das regras de inferências. Desejo ótimos estudos! 1 LÓGICA PROPOSICIONAL E DE PREDICADOS Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-photo/logical-operations-value-table- math-600w-1930887116.jpg 1.1 Simbologia, fórmulas e quantificadores Caro (a), estudante, você aprenderá que para expressar ideias são utilizadas a linguagem corrente ou comum. Isso posto, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que nós usamos palavras explícitas ou não explícitas para conectar as frases e dotá-las de sentido. Todavia, na Lógica Matemática essas palavras são substituídas por uma simbologia conhecida por conectivos lógicos, sentenciais ou proposicionais. Tais conectivos são representados por cinco identidades (Quadro 1). Quadro 1. Conectivos proposicionais e símbolos. Palavras ou Letras Conectivos (símbolo) “e” ˄ “ou” | inclusivo ˅ “ou... ou” | exclusivo ˅ “se..., então...” | implica → “se, e somente se” | bi-implicação ↔ “não” ⁓ Implica ⟹ Fonte: Adaptado de Souza (2002); Barbosa (2017). Dessa forma, tomemos: P: “Marcos é economista e Maria é estudante”. Trata-se de uma proposição composta P cujas proposições átomos são p: Marcos é economista, a segunda proposição átomo é q: Maria é estudante, sendo a letra “e” a palavra de ligação. Simbolicamente a proposição composta P pode ser expressa como: p ˄ q Seja a proposição composta R: R: “Se ingerirmos água, morreremos por inanição”. https://image.shutterstock.com/image-photo/logical-operations-value-table-math-600w-1930887116.jpg https://image.shutterstock.com/image-photo/logical-operations-value-table-math-600w-1930887116.jpg Trata-se de uma proposição composta R cujas proposições átomos são p: Ingerirmos água, a segunda proposição átomo é q: morreremos por inanição, sendo o conectivo “se, então” (condicional) Simbolicamente: p → q Considere a seguinte proposição composta S: S: “Mariê foi ao cinema ou ao teatro”. Trata-se de uma proposição composta S cujas proposições átomos são p: Mariê foi ao cinema, a segunda proposição átomo é q: “(Mariê foi) ao teatro, sendo o conectivo “ou...ou” (exclusivo) a palavra de ligação. Simbolicamente: p ˅ q Observe a proposição composta T: T: “O triângulo ABC é retângulo ou é equilátero”. Trata-se de uma proposição composta T cujas proposições átomos são p: O triângulo ABC é retângulo, a segunda proposição átomo é q: (O triângulo ABC) é equilátero, sendo o conectivo “ou” (inclusivo) a palavra de ligação. Simbolicamente a proposição composta P pode ser expressa como: p ˅ q Seja a proposição composta K: K: “O triângulo ABC é equilátero se e somente se é equiângulo”. Trata-se de uma proposição composta K cujas proposições átomos são p: O triângulo ABC é equilátero, a segunda proposição átomo é q: (O triângulo ABC) é equiângulo, sendo o conectivo “se, e somente se” (bicondicional) a palavra de ligação. Simbolicamente: p ↔ q Ademais, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), sublinham que os símbolos especiais aplicados na lógica matemática exprimem com clareza as estruturas lógicas das proposições e argumentos que algumas vezes na linguagem corrente não expressam. Isso posto, a lógica matemática aborda a relação das proposições de acordo com a forma e não o conteúdo. Assim, Alencar Filho (2003) destaca que ao pensarmos, efetuamos algumas operações sobre as proposições, denominadas de operações lógicas. Estas, por sua vez, obedecem às regras do cálculo proposicional. Posto isso, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que o Cálculo Proposicional consiste na parte da Lógica Matemática cujo objetivo é estudar a validade dos argumentos que são representados por uma linguagem particular, a linguagem proposicional. Dessa forma, por meio dessa linguagem é possível identificar dois aspectos: sintático e semântico. Sendo que, o sintático determina os símbolos (Quadro 2), regras de formação e as regras de dedução lógica. Por sua vez, o semântico consiste na atribuição dos valores lógicos VERDADEIRO ou FALSIDADE sobre as proposições. Dito isso, vamos abordar a seguir as operações lógicas elementares. Quadro 2. Conectivos proposicionais e símbolos Palavras ou Letras Conectivos (símbolos) Nome Lógico “e” ˄ Conjunção “ou” | inclusivo ˅ Disjunção Inclusiva “ou... ou” | exclusivo ˅ Disjunção Exclusiva “se ..., então...” | implica → Condicional “se, e somente se” | bi-implicação ↔ Bicondicional “não” ⁓ Negação Implica ⟹ Implicação Fonte: Adaptado de Souza (2002); Barbosa (2017). É denominada negação de uma proposição p a proposição representada por “não p” cuja notação é “⁓p”. Dessa forma, Alencar Filho (2002), sublinha que o valor lógico da proposição é a VERDADE (V) quando p for falsa e a FALSIDADE (F) quando p for verdadeira. Além disso, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2001), destacam que se trata de um conectivo unário, isto é, não conecta duas proposições, simplesmente nega a afirmação da proposição precedente. Seja a proposição simples p: p: José recebeu o pagamento na data combinada. ⁓p: José não recebeu o pagamento na data combinada. Pode ser representado também como: ⁓p: Não é verdade que José recebeu o pagamento na data combinada. ⁓p: É falso que José recebeu o pagamento na data combinada. A conjunção de duas proposições p e q é representada pela letra “e”1 e simbolicamente por “˄”, ou seja, “p e q”. Além disso, Alencar Filho (2002), afirma que o 1 De acordocom Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), a palavra “e” que representa a conjunção pode ser substituída pelas palavras: mas, todavia, contudo, no entanto, visto que, enquanto, além disso, embora. valor lógico é a VERDADE (V) quando as duas proposições simples são verdadeiras e a FALSIDADE (F), caso contrário. Seja a proposição composta P: P: “Mariê foi ao balé e Josefina foi ao cinema”. Simbolicamente se obtêm: p ˄ q A Disjunção inclusiva é o resultado da combinação de duas proposições conectadas pela palavra “ou” e é representada pelo símbolo “˅”. Assim sendo, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), destacam que na linguagem corrente a palavra ou pode ser utilizada em dois sentidos: inclusiva e exclusiva. Seja a proposição composta: Q: “Jorge é matemático ou físico”. Simbolicamente se obtêm: p ˅ q Para essa proposição, Jorge pode ser matemático e físico, ou seja, ambas as proposições podem receber a atribuição de valor lógico VERDADEIRO (V) ou FALSIDADE (F) o que determina a característica inclusiva. Seja a proposição composta: R: “(ou) Maria é Paulistana ou (Maria é) Carioca”. Simbolicamente se obtêm: p ˅ q Sendo assim, ou Maria é Paulista ou Maria é Carioca, mas não pode ter ambas as atribuições. Portanto, o conectivo “ou... ou”, lê-se: “ou p ou q” (Disjunção exclusiva), possui característica excludente. Além disso, quando uma proposição componente for verdadeira, esta invalidará a segunda e vice-versa. Ademais, a proposição condicional ou somente condicional é uma proposição representada, segundo Alencar Filho (2002), por “se p então q”, cujo símbolo é “p → q” e seu valor lógico é a FALSIDADE (F) quando o valor lógico da proposição p for VERDADEIRO (V) e da proposição q for a FALSIDADE (F), caso contrário o valor lógico é VERDADEIRO (V). Além disso, na condicional é dito que a proposição simples p é o antecedente e a proposição simples q e o consequente. Considere a proposição: S: “Se João é estudante então é feliz”. Simbolicamente se obtêm: p → q Na sequência, você verá que a proposição bicondicional ou somente bicondicional é representada por meio de: “p se e somente q” e simbolicamente por: “p ↔ q”. Isso posto, Alencar Filho (2002) destaca que o valor lógico da proposição composta é VERDADEIRO (V) caso ambas as proposições simples tenham o mesmo valor lógico, caso contrário é a FALSIDADE (F). Assim sendo, considere a proposição: T: “Só ganharás o valor combinado se entregar o projeto no prazo”. Nessa proposição, é o equivalente a dizer que: “só é possível receber o valor combinado se, e somente entregar o projeto no prazo estabelecido”. Simbolicamente: p ↔ q Finalmente, para a Bicondicional lê-se: “p é condição necessária e suficiente para q” e “q é condição necessária e suficiente para p”. Além dos operadores lógicos apresentados: conjunção, disjunção, condicional, bicondicional e negação são destaques os quantificadores. Isso posto, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) estes se restringem às funções proposicionais, isto é, representam todo um determinado conjunto Ω (letra grega ômega) ou parte desse conjunto. Assim, ao definir o conjunto de elementos Ω, o domínio de uma função proposicional, incluindo a esta os quantificadores, obtendo assim, uma proposição, ou seja, uma sentença declarativa que pode receber atribuição de um valor lógico VERDADEIRO (V) ou FALSIDADE (F) (Quadro 3). Quadro 3.Quantificadores Palavras ou Letras Símbolos Nome Lógico Para todo, qualquer que seja, etc. ∀ Quantificador universal Existe, há, pelo menos um, alguns, etc. ∃ Quantificador existencial Fonte: Adaptado de Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011). Sendo assim, considere p(x) uma sentença aberta em um conjunto que não seja vazio A, na qual A ≠ Ø e seja Vp o conjunto verdade, logo, Vp={x | x ∈ A ˄ p(x)}, ou seja, de acordo com Alencar Filho (2002), quando Vp é igual ao conjunto A, todos os termos ou elementos do conjunto A satisfazem a sentença declarativa aberta p(x), você verá que: Figura 1. Conjunto verdade Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Na qual, se lê: “Para todo elemento x de A, p(x) é V ou; “Qualquer que seja o elemento x de A, p(x) é V. Simplificando, se obtêm: “Para todo x de A, p(x)” e; “Qualquer que seja x de A, p(x)”. Traduzindo simbolicamente: (∀ x ∈ A) (p(x)) (1) ∀ x ∈ A, p(x) (2) ∀ x ∈ A: p(x) (3) Rearranjando: (∀ x) (p(x)) (4) ∀ x , p(x) (5) ∀ x : p(x) (6) Diante disso, Alencar Filho (2002) destaca a seguinte equivalência: (∀ x ∈ A) (p(x)) ⇔ Vp = A Note que, p(x) é uma sentença aberta e, por sua vez, é atribuído um valor lógico V ou F, todavia, a sentença aberta p(x) com o símbolo ∀ precedendo-a, ou seja, (∀ x ∈ A) (p(x)) é uma proposição, logo, possui valor lógico V se Vp=A e F se Vp ≠ A. Assim, sendo p(x) uma sentença aberta em um conjunto A, o símbolo ∀, referindo-se à variável x representa uma operação lógica que modifica a sentença aberta p(x) em uma proposição, V ou F, conforme p(x) expressa ou não uma condição universal no conjunto A. Tal operação é denominada de quantificação universal e o símbolo ∀ significa quantificador universal (ALENCAR FILHO, 2002). Seja o conjunto de números inteiros 𝑍 e considere as seguintes funções proposições: p: x – 7 > 3. q: x2 – 5x + 6 = 0. Após uma inspeção visual nas proposições “p” e “q” é possível verificar que “p” é V para valores superiores a 10, isto é, existem números inteiros que satisfazem a condição desigualdade da função, logo, é V, todavia, é F para todo o conjunto 𝑍. Isso posto, a proposição “q” é F para valores diferentes de 2 e 3 e V para as raízes x1=3 e x2=3 (BISPO; CASTANHEIRA; SOUZA FILHO, 2011). Substituindo os termos pela tradução simbólica, isto é, aplicando os quantificadores, se obtêm: ∀ x (x ∈ 𝑍, x – 7 > 3), possui valor lógico F; ∀ x (x ∈ 𝑍, x2 – 5x + 6 = 0), possui valor lógico F. Ademais, considere p(x) uma sentença aberta em um conjunto que não seja vazio A, na qual A ≠ Ø e seja Vp o conjunto verdade, logo, Vp={x | x ∈ A ˄ p(x)}, sendo assim considere o diagrama: Figura 2. Quantificador existencial Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Uma inspeção visual na Figura 2 permite verificar que “Existe pelo menos um x ∈ A tal que p(x) é V” ou “Para algum x ∈ A, p(x) é V”. Simplificando, “Existe x ∈ A tal que p(x)” ou “Para algum x ∈ A, p(x)”. Simbolicamente de acordo com Alencar Filho (2002) obtêm: (∃ x ∈ A) (p(x)) (7) ∃ x ∈ A, p(x) (8) ∃ x ∈ A: p(x) (9) Rearranjando: (∃ x) (p(x)) (10) ∃ x , p(x) (11) ∃ x : p(x) (12) Logo, é equivalente a: (∃ x ∈ A) (p(x)) ⇔ Vp ≠ Ø Considere as proposições: p: x – 7 > 3. q: x2 – 5x + 6 = 0. Aplicando os quantificadores existenciais se obtêm: ∃ x (x ∈ 𝑍, x – 7 > 3), possui valor lógico V; ∃ x (x ∈ 𝑍, x2 – 5x + 6 = 0), possui valor lógico V. A posição do símbolo ∃ antes da sentença aberta p(x) de acordo com Alencar Filho (2002) transforma-a numa proposição, diante disso é atribuído um valor lógico V se Vp ≠Ø e F caso Vp = Ø. Tal operação é denominada de quantificação existencial. 2 TABELA VERDADE Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-vector/blackboard-record-mathematical- formulas-logic-600w-1734108203.jpg Para determinar o valor lógico de uma proposição composta de acordo com Alencar Filho (2002) é necessário conhecer o valor lógico das proposições componentes (p, q, r, ...) (Figura 1). Assim sendo, com base no Princípio do Terceiro excluído, ou seja, que é possível atribuir um valor lógico VERDADEIRO (V) ou FALSIDADE (F) e nunca um terceiro valor ou objeto para determinada proposição simples é possível obter os seguintes arranjos binários. Figura 1: Bivalência dos Valores Lógicos (árvore binomial) Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Rearranjando os termos da Figura 1, obtemos: Quadro 6. Distribuição dos Valores lógicos de uma proposição simples p V F Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). https://image.shutterstock.com/image-vector/blackboard-record-mathematical-formulas-logic-600w-1734108203.jpg https://image.shutterstock.com/image-vector/blackboard-record-mathematical-formulas-logic-600w-1734108203.jpg Note que, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) para determinar o valor lógico V ou F de uma proposição composta se utiliza um instrumento semântico conhecido como Tabela Verdade cujo objetivo consiste em assegurar que todas as combinações possíveis dos valores verdade de cada proposição simples foram concluídas. Isso posto, na prática à determinação do valor lógico de uma proposição composta dada, assumindo que as proposições simples são “p” e “q”, as únicas atribuições possíveis são: Quadro 7. Distribuição dos Valores lógicos de “p” e “q” p q V V V F F V F F Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Observe que os valores lógicos V e F se alternam de dois em dois para a proposição “p” e de um em um para a proposição simples “q”. Logo, VV, VF, FV, FF são considerados arranjos binários da bivalência V e F. Portanto, os números de linhas de uma Tabela Verdade são dependentes da quantidade de proposições simples (p, q, r,...). Assim, para obter o número de linhas de uma Tabela Verdade basta aplicar a fórmula 2𝑛, sendo que “n” representa o número de proposições, então no caso de haver duas proposições “p” e “q”, obtemos uma Tabela Verdade com 4 linhas (BISPO; CASTANHEIRA; SOUZA FILHO, 2011). Como verificamos o valor lógico de uma proposição composta (P, Q, R, ...) depende unicamente dos valores lógicos das proposições simples componentes (p, q, r, ...). Dessa forma, seguimos os critérios com base nas classificações dos conectivos proposicionais para construir as respectivas Tabelas Verdade. Sendo assim, Bispo, Castanheira e Souza Filho (2003) afirmam que uma conjunção tem seu valor lógico V se e somente se, as duas proposições simples “p” e “q” possuírem valor lógico V. Note que na Tabela Verdade apresentada a conjunção possui valor lógico V apenas na primeira linha (Quadro 8). Quadro 8. Tabela Verdade: Conjunção. p q p ˄ q V V V V F F F V F F F F Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Além disso, na forma simbólica é possível expressar a conjunção de duas proposições simples “p” e “q” por meio da notação: “p ˄ q”, em que se lê: “p e q” (ALENCAR FILHO, 2002). Tomemos como exemplo as seguintes proposições compostas: P: “A neve é branca e 𝜋 = 3, 14159.”. Se adotarmos a resolução por igualdades de acordo com Alencar Filho (2002), obtemos: Rearranjando as proposições simples: p: “A neve é branca” q: “𝜋 = 3, 14159”. Por meio da notação: V(p) = V V(q) = V Portanto, o valor lógico da proposição “P” é: V(p˄ q) = V(p) ˄ V(q) V(p˄ q) = V ˄ V ∴ V(P) = V O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 8) em que os valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V, logo, o valor lógico da proposição P será V. Além disso, se têm a Disjunção cujo valor lógico é a F se, e somente se, ambas as proposições simples “p” e “q” são falsas, ou seja, o valor lógico é V quando ao menos uma proposição simples seja verdadeira (Quadro 9). Quadro 9. Tabela Verdade: Disjunção. p q p ˅ q V V V V F V F V V F F F Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Por sua vez, Alencar Filho (2002) destaca que a disjunção pode ser representada como “p ˅ q”, em que se lê: “p ou q”. Considere a proposição composta: P: “Recife é a capital de Pernambuco ou Camões escreveu os Lusíadas”. Rearranjando as proposições simples: p: “Recife é a capital de Pernambuco” q: “Camões escreveu os Lusíadas”. Por meio da notação: V(p) = V V(q) = V Portanto, o valor lógico da proposição “P” é: V(p˅ q) = V(p) ˅ V(q) V(p˅ q) = V ˅ V ∴ V(P) = V O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 9) em que os valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V, logo, o valor lógico da proposição P é V. Além disso, na linguagem comum a palavra “ou” possui dois sentidos, de inclusão e exclusão. Dessa forma, a primeira disjunção abordada tratou do aspecto inclusivo, ou seja, quando ambas as proposições “p” ou “q” podem ser V. Além disso, a disjunção exclusiva possui a característica de que uma e somente uma das proposições é V. Logo, a disjunção exclusiva de duas proposições ou “p” ou “q” pode ser representada na forma simbólica de “p ˅ q” e o valor lógico na Tabela Verdade será V quando apenas um valor verdade de uma das proposições simples for V (Quadro 10). Quadro 10. Tabela Verdade: Disjunção exclusiva p q p ˅ q V V F V F V F V V F F F Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Seja a proposição composta P: P: “João é alto ou é baixo”. Organizando as proposições simples: p: “João é alto” q: “(João) é baixo”. Por meio da notação: V(p) = V ou V(p) = F V(q) = F ou V(q) = V Portanto, o valor lógico da proposição “P” será: Se, V(p) = V; V(q) = F, então: V(p˅ q) = V(p) ˅ V(q) V(p˅ q) = V ˅ F ∴ V(P) = V O resultado obtido pode ser verificado na segunda linha em que os valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e F, e, portanto, o valor lógico da proposição com base na regra da disjunção exclusiva de P(p, q) é V. Na sequência você estudará o conectivo proposicional condicional. Isso posto, para Bispo, Castanheira e Souza Filho (2003) uma proposição condicional possui valor lógico F se, e somente se, a proposição antecedente possuir valor lógico V e a consequente valor lógico F (Quadro 11). Quadro 11. Tabela Verdade: Condicional p q p → q V V V V F F F V V F F V Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Além disso, a condicional pode ser representada como: “p → q”, ou seja, afirma- se que a proposição simples “p” é o antecedente e a proposição “q” o consequente. Seja a proposição composta P: P: “Se a Terra gira em torno do Sol, então o mês de maio tem 31 dias”. Rearranjando as proposições simples: p: “A Terra gira em torno do Sol” q: “O mês de maio tem 31 dias”. Portanto, o valor lógico da proposição “P” é: V(p → q) = V(p) →V(q) V(p → q) = V → F ∴ V(P) = F O resultado obtido pode ser verificado na segunda linha (Quadro 11) em que os valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e F, e, portanto, o valor lógico da proposição com base na regra da condicional de P(p, q) é F. Ademais, temos a Bicondicional. De acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011), uma proposição bicondicional possui o valor lógico V se, e somente se, ambas as proposições simples “p” (antecedente) e “q” (consequente) possuírem o mesmo valor lógico sejam eles V ou F, além disso, é representada por “p ↔ q” (Quadro 12). Quadro 12. Tabela Verdade: Bicondicional p q p ↔ q V V V V F F F V F F F V Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002).Dessa forma, uma bicondicional possui valor lógico V somente quando as duas condicionais: “p→ q” e “q → p”, também o são (ALENCAR FILHO, 2002). Considere a seguinte proposição composta: P: “Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil e somente se Marte é um planeta”. Rearranjando as proposições simples: p: “Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil”. q: “Marte é um planeta”. Portanto, o valor lógico da proposição “P” é: V(p ↔ q) = V(p) ↔ V(q) V(p ↔ q) = V ↔ V ∴ V(P) = V O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha (Quadro 12) em que os valores lógicos das proposições simples “p” e “q” são respectivamente V e V, e, portanto, o valor lógico da proposição com base na regra da bicondicional de P(p, q) é V. Concluindo os conectivos lógicos e suas classificações você estudará a negação de uma proposição. Isso posto, de acordo com Bispo, Castanheira e Souza Filho (2011) a negação de uma proposição verdadeira é uma proposição cujo valor lógico é a F e a de uma proposição falsa é uma proposição V (Quadro 13). Quadro 13. Tabela Verdade: Negação p ⁓p V F F V Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002). Na qual a negação de uma proposição pode ser representada por “não p”, ou simbolicamente por: “⁓p”. Seja a proposição simples: p: “2 + 4 = 6” Identificando a negação da proposição simples “p”: ⁓p O resultado obtido pode ser verificado na primeira linha em que o valor lógico da proposição simples “p” é V, e, portanto, a negação da proposição simples será F. 3 DEDUÇÃO NATURAL Fonte da imagem: https://image.shutterstock.com/image-photo/nerdy-scholastic-young-woman- wearing-600w-318060599.jpg Caro (a) estudante, você aprendeu que para provar um argumento é necessário utilizar o método semântico Tabela Verdade. Todavia, dependendo do número de linhas, assim, o tamanho da tabela verdade é regido pela fórmula 2𝑛, sendo que “n” é o número de proposições simples que compõe a Tabela Verdade. Note que a aplicação é exaustiva e impraticável. Sendo assim, Alencar Filho (2002), destaca outra forma para se provar a validade de um argumento conhecido como Método Dedutivo por meio das provas diretas cujos instrumentos são as implicações e equivalências tautológicas (Quadro 1). Quadro 1. Implicações† tautológicas Regras/abrev. Regras de Inferência Fórmulas proposicionais Adição (AD) 𝑝 𝑝 ˅ 𝑞 ; 𝑝 𝑞 ˅ 𝑝 p ⟹ p ˅ q Simplificação (SIMP) 𝑝 ˄ 𝑞 𝑝 ; 𝑝 ˄ 𝑞 𝑞 p ˄ q ⟹p p ˄ q ⟹ q Conjunção (CONJ) 𝑝 𝑞 𝑝 ˄ 𝑞 ; 𝑝 𝑞 𝑞 ˄ 𝑝 p, q ⟹p ˄ q p, q⟹q˄p Absorção (ABS) 𝑝 → 𝑞 𝑝 → (𝑝 ˄ 𝑞) p → q⟹p → (p ˄ q) Modus Ponens (MP) 𝑝 → 𝑞 𝑝 𝑞 p → q, p⟹q Modus Tollens (MT) 𝑝 → 𝑞 ⁓𝑞 ⁓𝑝 p → q, ⁓q⟹⁓p Silogismo Disjuntivo (SD) 𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑝 𝑞 ; 𝑝 ˅ 𝑞 ⁓𝑞 𝑝 p ˅ q, ⁓p⟹q p ˅ q, ⁓q⟹p Silogismo Hipotético (SH) 𝑝 → 𝑞 𝑞 → 𝑟 𝑝 → 𝑟 p → q, q →r, ⟹p → r Nota: †Lista Parcial de implicações Tautológicas. Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011). Considere a seguinte proposição composta R: R: “Se o avião não tivesse caído, teria feito contato por rádio. O avião não fez contato pelo rádio. Portanto, o avião caiu”. Rearranjando as proposições simples: https://image.shutterstock.com/image-photo/nerdy-scholastic-young-woman-wearing-600w-318060599.jpg https://image.shutterstock.com/image-photo/nerdy-scholastic-young-woman-wearing-600w-318060599.jpg p: O avião tivesse caído. q: (O avião) teria feito contato por rádio. Simbolicamente, organizando na forma do argumento: Na qual, foi aplicado a Regra de inferência Modus Tollens (MT) na primeira premissa (condicional) e se obteve a segunda premissa, disso, se deduz a conclusão. Note que, a proposição resultante da inferência está de acordo com a proposição “o avião caiu” apresentada na proposição composta R, logo, está correta. Além disso, as equivalências tautológicas são utilizadas para fazer inferências, ou seja, executar “etapas” de uma dedução ou demonstração e devido a isso são denominadas, regras de inferência (Quadro 2). Assim sendo, a notação correta é inserir a premissa sobre um traço horizontal (numerador) e na sequência a conclusão abaixo (denominador) do traço supracitado (ALENCAR FILHO, 2002). Quadro 2. Equivalências† tautológicas Regras/abrev. Fórmulas Idempotência (IND) (p ˄ p) ⟺p (p ˅p) ⟺ p Comutação (COM) (p ˄ q) ⟺ (q˄p) (p ˅ q) ⟺ (q ˅ p) Associação (ASS) ((p ˄ q) ˄ r) ⟺ (p ˄ (q ˄ r)) ((p ˅ q) ˅ r) ⟺ (p ˅ (q ˅ r)) Distribuição (DIS) (p ˄ (q˅ r)) ⟺ ((p ˄ q) ˅ (p ˄ r)) (p ˅ (q˄ r)) ⟺ ((p ˅ q) ˄ (p ˅ r)) Condicional (COND) p → q ⟺⁓p ˅ q Leis de De Morgan (MOR) ⁓ (p ˅ q) ⟺ (⁓p ˄⁓q) ⁓ (p ˄ q) ⟺ (⁓p ˅⁓q) Dupla Negação (DN) ⁓(⁓p) ⟺ p Importação/Exportação (IE) ((p ˄ q) → r) ⟺ (p → (q →r)) Absurdo (ABD) (p → (q ˄⁓q)) ⟺ ⁓p Nota: †Trata-se de uma lista parcial das fórmulas proposicionais. Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002); Bispo; Castanheira; Souza Filho (2011). Considere a seguinte proposição composta W: W: “Não é o caso de irmos ao teatro ou ficarmos na rua conversando. Portanto, não ficaremos na rua conversando”. Rearranjando as proposições simples: p: Irmos ao teatro. q: Ficar na rua conversando. Simbolicamente, organizando na forma do argumento: Foram utilizadas as regras de inferência De Morgan (MOR) e a simplificação (SIMP) para se obter a conclusão da proposição composta W., todavia, para Copi (1978) essas Regras de Inferência são redundantes, porque não são suficientes para constituir o principal propósito, isto é, a construção de provas formais de validade para argumentos mais amplos. Sendo assim, tal lista apresenta um sistema completo de lógica funcional de verdade, ou seja, possibilita a construção de uma prova formal de validade para qualquer que seja o argumento funcional de verdade. SAIBA MAIS Rolf Schock (1933-1986) que era ativo no departamento de filosofia em Estocolmo legou uma grande parte de seu patrimônio para financiar o que hoje é conhecido como os Prêmios Rolf Schock. Os prêmios são atribuídos em quatro categorias: Lógica e Filosofia, Matemática, Música e Artes Visuais. Os prêmios de Lógica e Filosofia são concedidos pela Royal Swedish Academy of Sciences(STOCKHOLM UNIVERSITY). Fonte: STOCKHOLM UNIVERSITY. Department of Philosophy, 2014. Disponível em: https://www.philosophy.su.se/english/research/2.26526. Acesso em: 27 ago. 2021. #SAIBA MAIS# REFLITA Os argumentos são, quase sempre, mais verdadeiros do que os fatos. A lógica é o nosso critério de verdade, e é nos argumentos, e não nos fatos, que pode haver lógica. Fernando Pessoa #REFLITA # https://www.philosophy.su.se/english/research/2.26526 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) estudante, nesta unidade você aprendeu sobre a simbologia, fórmulas e quantificadores lógicos, ou seja, como identificar os conectivos lógicos em determinada proposição e organizá-la em proposições simples ou atômicas e, a partir dessa estrutura, realizar a tradução simbólica. Sendo assim, foram apresentadas as classificações de cada conectivo lógico, a saber: conjunção “e”, disjunção “ou”, condicional “se, então”, bicondicional “se, e somente se” e negação “não”, “é falso”, “não é verdade que” e seus respectivos símbolos. Diante disso, foi abordada a construção do método semântico da Tabela Verdade cujo objetivo consiste em validar argumentos. Sendo assim, você aprendeu que os valores lógicos das proposições compostas são dependentes dos valores lógicos das proposições atômicas e sua ligação com os conectivos lógicos, tal validação é realizada, utilizando as tabelas verdade. Ademais, você estudou sobre o método da dedução natural, ou seja, o método alternativo das tabelas verdade. Sendo assim, tal método consiste em utilizar a prova direta de validade utilizando as regras de inferência para obter as conclusões com
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