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Geovana Sanches, TXXVI DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO RECÉM-NASCIDO INTRODUÇÃO Os recém-nascidos apresentam diferenças fisiológicas no padrão respiratório, quando comparado aos demais grupos etários. Há uma série de doenças que cursam com distúrbios respiratórios no bebê, sendo de extrema importância saber reconhecer quadros de desconforto respiratório, criar hipóteses, investigar e fazer o tratamento necessário. A maioria das doenças respiratórias neonatais manifesta-se nas primeiras horas de vida, de forma inespecífica e, muitas vezes, com sobreposição de sinais e sintomas. Assim, a boa anamnese materna é a base do diagnóstico do recém-nascido. Aspectos gerais da respiração do RN • Transição da circulação fetal à neonatal • Absorção do líquido pulmonar • Produção de surfactante o Estabiliza os alvéolos, impedindo que haja colabamento o Produção é ideal a partir da 34ª semana § Quantitativamente § Qualitativamente • Respiração periódica, com pausas o Sem relação com apneia, na qual há repercussão hemodinâmica • FR normal: 40 – 60 ipm o Deve ser contada em 1 minuto, tendo em vista as pausas respiratórias SINAIS CLÍNICOS Padrão respiratório • Frequência respiratória o Taquipneia o Eupneia o Bradipneia • Ritmo e periodicidade da respiração o Apneia o Respiração periódica Trabalho respiratório • Batimento de asas nasais • Gemido expiratório • Head bobbing o Movimento da cabeça para cima e para baixo, devido ao uso da musculatura acessória do pescoço • Retrações torácicas o Intercostal o Subcostal o Supraesternal o Esternal Coloração • Avaliação da perfusão é muito importante na análise clínica do desconforto respiratório • Cianose Boletim de Silver-Andersen • Classifica a gravidade do desconforto respiratório a partir de 5 critérios • Pontuação de 0 a 10 no máximo o 4 = leve o 4 – 8 = moderado o 8 – 10 = grave • Normal (0 pontos): movimento de tórax e abdome sincrônico, sem retrações, sem batimento de asa e sem gemidos • Batimento de asa: ocasionado pelo aumento do calibre das vias aéreas superiores para aumentar o fluxo de ar que está entrando • Gemido: gerado pela tentativa de represar o ar, evitando colabamento; a glote fica parcialmente fechada e o ar, ao passar por esse local mais estreito, gera barulho • Conduta o 1) Leve: O2 inalatório o 2) Moderado: CPAP o 3) Grave: IOT SINAIS DE ALARME Obstrução de vias aéreas • Gasping • Sufocação • Estridor Geovana Sanches, TXXVI Falência respiratória • Apneia • Esforço respiratório débil Colapso circulatório • Bradicardia • Hipotensão arterial • Má perfusão periférica Má oxigenação • Cianose • Hipoxemia • Palidez DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS NO RN Principais • Taquipneia transitório do Recém-nascido • Síndrome da aspiração meconial • Pneumonia congênita • Síndrome do desconforto respiratório (Membrana hialina) TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RECÉM-NASCIDO A taquipneia transitória do recém-nascido (TTRN) ou síndrome do pulmão úmido consiste num desconforto respiratório leve a moderado, geralmente de evolução benigna, decorrente do retardo na absorção do líquido pulmonar após o nascimento. Epidemiologia • 1 a 5% RNT • Cesariana eletiva sem trabalho de parto o Principal fator de risco isolado, pois a compressão pelo canal vaginal auxilia na absorção do líquido e o trabalho de parto está associado a liberação do triger, o que promove a mudança no epitélio pulmonar § Triger: sinal de que o bebê está pronto para o nascimento • Asfixia perinatal • Diabetes e asma brônquica maternas • Policitemia • PIG ou GIG • Prematuros Fisiopatologia As catecolaminas liberadas durante o trabalho de parto promovem alteração do transporte iônio no bebê, especialmente sódio nas células pulmonares, modificando o perfil do epitélio alveolar de secretor para absortivo. Ao nascimento, o líquido pulmonar deve ser removido. A diminuição da absorção do líquido pulmonar fetal leva aumento do fluido, causando redução da complacência pulmonar. Diagnóstico • Baseia-se nos achados clínicos + radiológicos. • Clínico o Aumento do trabalho respiratório (taquipneia) nas primeiras horas de vida até 24 a 48h, com melhora Geovana Sanches, TXXVI posterior (bebê fica mais maduro e o líquido é reabsorvido) o Cianose • Radiológico o Congestão pulmonar logo após o nascimento o Pode haver cissurite o Melhora clínica com cerca de 36h Tratamento • Evolução benigna • Não há tratamento específico • Baseia-se em: o Assistência § Hidratação adequada § Oxigenioterapia § Dieta zero nas primeiras horas o Reanimação o Monitorização § Controle de temperatura o Avaliação clínica • Resolução do quadro habitualmente em dois a três dias SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO DO MECÔNIO • Nem todos os recém-nascidos que nascem banhados em mecônio apresentam síndrome de aspiração meconial • Consideram-se grupos de risco para aspiração do mecônio: o Asfixia perinatal o IG > 40 semanas Fisiopatologia • São controversos o Sofrimento fetal o Compressão mecânica do abdome durante o trabalho de parto e maturidade fetal • Acredita-se que a aspiração possa ocorrer intraútero quando o bem-estar fetal é interrompido com a instalação da hipoxemia, desencadeiam-se então movimentos respiratórios tipo gasping, com entrada de líquido amniótico no interior da árvore respiratória • A ação inflamatória local do mecônio resulta em pneumonite química e necrose celular, podendo cursar com infecção bacteriana secundária • O mecônio parece conter substâncias que induzem à agregação plaquetária, com formação de microtrombos na vasculatura pulmonar e liberação de substâncias vasoativas pelas plaquetas ali agregadas, com consequente constrição do leito vascular e hipertensão pulmonar o Gera hipoxemia, hipercapnia e acidose o Altera a função do surfactante, inativando-o na superfície alveolar • Quando o mecônio é muito espeço, pode promover mecanismo de rolha, obstruindo as vias aéreas e causam sufocamento • Padrão valvular à permite a entrada de ar, mas não sua saída, causando aprisionamento progressivo de ar nos alvéolas o Gera áreas hiperinsufladas, com baro/volutrauma Diagnóstico Clínica • Atinge em geral RNT ou pós-termo com historia de asfixia perinatal e liquido amniótico meconial • Os sintomas respiratórios são de início precoce e progressivo, com presença de cianose grave • Quando não há complicação (baro / volutrauma e/ou hipertensão pulmonar), o mecônio é gradativamente absorvido, com melhora do processo inflamatório e resolução do quadro em 5 a 7 dias Radiológico • Áreas de atelectasia com aspecto granular alterado com áreas de hiperinsuflação em ambos os campos pulmonares • Podem aparecer ainda áreas de consolidação lobares ou multilobares, enfisema intersticial, pneumotórax e/ou pneumomediastino Tratamento • Suporte ventilatório e de nutrição • Vigilância clínica, laboratorial e radiológico • Não deve ser realizada desobstrução Geovana Sanches, TXXVI Aspecto radiológico típico da SAM Pneumotórax não hipertensivo x hipertensivo Pneumomediastino: sinal da asa de morcego Pneumopericárdio: área em moringa – cursa com baixo débito cardíaco PNEUMONIA CONGÊNITA A pneumonia neonatal é o processo inflamatório dos pulmões resultante de infecção bacteriana, viral ou fúngica ou de origem química. Classificação • Precoce o Primeiras 48h o Adquiridas antes ou durante o nascimento o Relaciona-se com a microbiota materna • Tardia o Normalmente acomete bebês internados Epidemiologia • Acomete 1/3 dos neonatos • Óbito nas primeiras 48h de vida • Associada a infecções sistêmicas, sepse e meningite • Principais agentes o Precoce § Gram-negativos, especialmenteE. coli § Streptococcus beta- hemolítico do grupo B o Tardia § Gram-positivos Fisiopatologia Congênita / antes do nascimento • Via transplacetnária • Secundárias à infecção materna sistêmica o Citomegalovirose o Toxoplasmose o Rubéola o Sífilis o Listeriose o Tuberculose o AIDS • Através da aspiração de líquido amniótico infectado o Corioamnionite Durante o nascimento • Processos inflamatórios que ocorrem devido a contaminação do feto ou do neonato por microrganismos que colonizam o canal de parto, podendo ou não se associar com asfixia ao nascimento • O quadro respiratório frequentemente é indistinguível da SDR e da TTRN, reforçando a importância da anamnese materna para criar hipóteses diagnósticas Fatores de risco • Corioamnionite clínica o Febre materna > 38º C o FC materna > 100 bpm o Glóbulos brancos materno > 20.000/mm3 o FC fetal > 160 bpm o Útero doloroso o Fisiometria • Rotura de membranas amnióticas > 18h • Trabalho de parto prematuro sem causa aparente Geovana Sanches, TXXVI • Colonização materna por estreptococo beta hemolítico do grupo B Diagnóstico Padrão radiológico • Infiltrado nodular ou grosseiro • Infiltrado granular fino e irregular • Broncograma aéreo • Edema pulmonar • Consolidação segmentar ou lobar Sinais clínicos sugestivos de sepse • Intolerância alimentar e vômitos • Letargia • Hipotonia • Hipo ou hipertermia • Distensão abdominal Triagem laboratorial para sepse • Escore hematológico de Rodwell > 3 o Alto valor preditivo positivo para sepse • Proteína C reativa positiva ESCORE DE RODWELL Resultado Valor Relação neutrófilos imaturos/totais > 0,2 Total de neutrófilos 12 – 24h: 7.800 – 14.500 72h: 1.750 – 7.200 > 5 dias: > 1.800 – 5.400 Relação neutrófilos imaturos/maduros > 0,3 Total de leucócitos < 5.000 ou Ao nascimento: > 25.000 12 – 24h: > 30.000 > 2 dias: > 21.000 Aspectos degenerativos > 3 células vacuolizadas, corpúsculos de Dohle, granulações tóxicas Plaquetas < 150.000 Tratamento Suporte clínico • Hidratação • Suporte hemodinâmico Antibioticoterapia • Esquema precoce o Ampicilina + Gentamicina OU o Penicilina + Amicacina § Penicilina não tem ação contra Listeria sp • Esquema tardio o Oxacilina + amicacina OU o Vancomicina + amicacina OU o Cefalosporina § Nos casos de meningite se deve utilizar cefalosporina, tendo em vista que os aminoglicosídeos não penetram no líquor SÍNDROME DO DESCONFORTO REPSIRATÓRIO DO RECÉM-NASCIDOS Também conhecida como Doença da Membrana hialina (DMH), tem como principal causa a quantidade inadequada de surfactante pulmonar em decorrência de surfactante pulmonar em decorrência de: • Nascimento pré-termo • Mecanismos imaturos de remoção do líquido pulmonar • Baixa área de troca gasosa (típica do pulmão imaturo) Epidemiologia • Correlação direta com a Prematuridade o Principalmente RNPT com MBP • Diabetes materna • Fatores genéticos o Raça branca o História de SDR em irmãos o Sexo masculino o Distúrbios da metabolização e da produção do surfactante o Malformações torácicas que causem hipoplasia pulmonar (hérnia diafragmática) • Asfixia perinatal em prematuros • Parto cesáreo não precedido de trabalho de parto História natural da doença • Início logo após o nascimento, com aumento da gravidade nos primeiros dias de vida Geovana Sanches, TXXVI • Pico de 48 a 72 horas de vida • Melhora gradual após 72h de vida Fisiopatologia O surfactante pulmonar é composto de lipídeos (90%) e proteínas (10%), sendo a fosfatidilcolina saturada seu principal componente tenso ativo, responsável pela diminuição da tensão superficial alveolar. Ele é produzido a partir da 20ª semana gestacional pelas células epiteliais tipo 2. Essa produção aumenta progressivamente durante a gestação, atingindo o pico por volta da 35ª semana. A DMH consiste na deficiência desse elemento, o que resulta num aumento da tensão superficial e da força de retração elástica, levando a instabilidade alveolar com formação de atelectasias progressivas, diminuição na complacência pulmonar e na CRF. Além da deficiência de surfactante, o aumento da quantidade de líquido pulmonar devido à maior permeabilidade da membrana alvéolo capilar observada no RN pré-termo contribui significativamente para a gravidade SDR. Diagnóstico • Clínico-Radiológico-Laboratorial • Aspecto radiográfico clássico é o de pulmões de baixo volume com padrão reticulogranular difuso (vidro moído ou vidro fosco), com broncogramas aéreos o Grau I: leve (granulações finas) o Grau II: moderada (granulações bem evidentes em “vidro moído”) o Grau III: grave (broncograma aéreo alcançando a periferia dos campos pulmonares; há discreto borramento cardíaco) o Grau IV: opacidade total dos campos pulmonares; área cardíaca imperceptível Tratamento O tratamento da SDR consiste no suporte clínico, associado a terapia com surfactante, a qual deve fazer parte da rotina médica ao manuseio de RNs com essa condição. Terapia com surfactante • Deve ser administrado imediatamente após o diagnóstico da doença • Logo após sua administração, observa-se aumento da capacidade residual funcional (CRF) Cuidados gerais As principais atitudes da equipe contra a síndrome do desconforto respiratório são: • Prevenir a hipoxemia e a acidose • Otimizar o manejo hídrico • Reduzir demandas metabólicas • Prevenir atelectasias • Ventilar “gentilmente” os pulmões da criança
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