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. 1 Prefeitura Municipal de Goiânia/GO Auditor de Tributos do Município de Goiânia 1. Recursos escassos e necessidades ilimitadas. Agentes econômicos. O papel do governo. Fluxo real e nominal. .............................................................................................................................................. 01 2. Oferta e demanda. Preço e quantidade de equilíbrio. Efeito dos tributos diretos e indiretos sobre o sistema de preços. ................................................................................................................................ 20 3. Concorrência perfeita, monopólio, concorrência monopolista. ...................................................... 35 4. Indicadores de sustentabilidade para a gestão tributária municipal. 5. Sustentabilidade financeira e econômica municipal. ............................................................................................................................ 41 6. Investimento e poupança. Renda de equilíbrio. ............................................................................. 43 7. Crescimento econômico e ciclos econômicos. .............................................................................. 47 8. Demanda Agregada. ..................................................................................................................... 51 9. Modelos Keynesianos: propriedades básicas. .............................................................................. 51 10. Equilíbrio no mercado de bens e serviços e no mercado monetário. ........................................... 56 11. Dinâmica do Modelo IS-LM. ........................................................................................................ 60 12. Política Fiscal. Política Monetária. ............................................................................................... 68 13. Taxa de juros nominal x taxa de juros real. Dinâmica da taxa de juros. ...................................... 88 14. Teoria quantitativa da moeda. ..................................................................................................... 91 15. Inflação e efeitos da inflação. Medição da inflação. .................................................................... 92 16. Economia do Setor Público. ......................................................................................................... 96 Questões ......................................................................................................................................... 111 Candidatos ao Concurso Público, O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom desempenho na prova. As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar em contato, informe: - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matéria); - Número da página onde se encontra a dúvida; e - Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. Bons estudos! 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 1 Problema de escassez -O petróleo, o trabalho, as máquinas, etc., estão disponíveis em quantidades limitadas; -Com esses escassos recursos, produzem-se bens e serviços (alimentos, moradias, automóveis, saúde, educação, lazer, etc.), -A escassez sempre existirá, já que os desejos são superiores aos meios disponíveis para satisfazê- los. Em qualquer sociedade, os recursos produtivos (mão-de-obra, terra, matérias primas, dentre outros) são limitados. Por outro lado, as necessidades humanas são ilimitadas e sempre se renovam, por força do próprio crescimento populacional e do contínuo desejo de elevação do padrão de vida. Independente do grau de desenvolvimento do país, nenhum deles dispõe de todos os recursos necessários para satisfazer todas as necessidades da coletividade. Tem-se então um problema de escassez: recursos limitados contrapondo-se a necessidades humanas ilimitadas. A escassez é um conceito relativo, pois existe o desejo de adquirir uma quantidade de bens e serviços maior que a disponibilidade. Bens escassos: são aqueles que nunca se têm em quantidade suficiente para satisfazer os desejos dos indivíduos. Os Problemas Econômicos Fundamentais Da escassez dos recursos ou fatores de produção, associada às necessidades ilimitadas do homem, origina-se os chamados problemas econômicos fundamentais: O que produzir? Quanto produzir? Como produzir? e Para quem produzir? O que e quanto produzir: dada a escassez de recursos de produção, a sociedade terá de escolher, dentro do leque de possibilidades de produção, quais produtos serão produzidos e as respectivas quantidades a serem fabricadas. Como produzir: a sociedade terá de escolher ainda quais recursos de produção serão utilizados para a produção de bens e serviços, dado o nível tecnológico existente. A concorrência entre os diferentes produtores acaba decidindo como serão produzidos os bens e serviços. Os produtores escolherão, entre os métodos mais eficientes, aquele que tiver o menor custo de produção possível; Para quem produzir: a sociedade terá também de decidir como seus membros participarão da distribuição dos resultados de sua produção. A distribuição de renda dependerá não só da oferta e da demanda nos mercados de serviços produtivos, ou seja, da determinação dos salários, das rendas da terra, dos juros e dos benefícios do capital, mas também da repartição inicial da propriedade e da maneira como ela se transmite por herança. O modo como as sociedades resolvem os problemas econômicos fundamentais depende da forma da organização econômica do país, ou seja, do sistema econômico de cada nação. As organizações devem identificar as disponibilidade dos fatores de produção: recursos naturais, financeiros e humanos. Os produtores escolherão, entre os métodos mais eficientes, aquele que tiver o menor custo de produção possível. A produção deve exigir o emprego de recursos produtivos e bens elaborados. Os fatores de produção são: terra (recursos naturais ou matéria-prima); trabalho ou recursos humanos, que utilizam faculdades físicas e intelectuais para realizar o processo produtivo; capital (recursos financeiros) capaz de adquirir máquinas, equipamentos, instalações, dinheiro, ferramentas, capital financeiro, tecnologia, bem como matéria-prima e recursos humanos. A capacidade empresarial, também é considerado um fator de produção, e é constituída por indivíduos que reúnem os capitais para adquirir recursos produtivos e produzir bens e serviços para o mercado. 1. Recursos escassos e necessidades ilimitadas. Agentes econômicos. O papel do governo. Fluxo real e nominal 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 2 É importante ressaltar que para cada fator de produção corresponde uma remuneração. Ao trabalho corresponde o pagamento de salários. O juro paga o uso do capital. O aluguel constitui a remuneração da terra. A tecnologia é paga com royalties. À capacidade empresarial corresponde o lucro. As Necessidades, os Bens Econômicos e os Serviços O conceito de necessidade humana, isto é, a sensação de carência de algo junto ao desejo de satisfaze-la é algo relativo, pois os desejos dos indivíduos não são fixos. O ditado popular “quanto mais se tem, mais se quer” parece refletir fielmente a atitude dos indivíduos em relação aos bens materiais. Assim, pois, o fato real que enfrenta a economia é que em todas as sociedades, tanto nas ricas como nas pobres, os desejos dos indivíduos não podem ser completamente satisfeitos. Nesse sentidos, bens escassos são aqueles quenunca se tem em quantidade suficiente para satisfazer os desejos dos indivíduos -Os bens econômicos caracterizam-se pela utilidade, pela escassez e por serem transferíveis. Os bens livres – como, por exemplo, o ar – são aqueles cuja quantidade é suficiente para satisfazer a todo o mundo. Quando buscam satisfazer suas necessidades, as pessoas procuram, normalmente fixar suas preferências. Assim, os primeiros bens desejados são os que satisfazem as necessidades básicas ou primárias, como a alimentação, o vestuário e a saúde. Satisfeitas as necessidades primárias, os indivíduos passam a satisfazer outras mais refinadas, como o turismo, ou buscam melhor qualidade dos bens que satisfazem suas necessidades primárias, como uma habitação melhor, roupas de determinada marca, etc. Por isso, pode-se dizer que as necessidades são ilimitadas ou, de outra forma, que sempre existirão necessidades que os indivíduos não poderão satisfazer, ainda que seja somente pelo fato de os desejos tornarem-se “refinados”. Sendo assim, todos nós necessitamos ilimitadamente de bens e serviços: Tipos de Bens Econômicos Os bens podem ser também intermediários (o cimento é um exemplo), pois sofrem novas transformações antes de se converterem em bens de consumo ou de capital; ou bens finais, isto é, os que já sofreram essas transformações. A soma total de bens e serviços finais gerados em um período denomina-se produto total. Os bens podem ainda se classificar em privados e públicos. Bens privados são os produzidos e possuídos privadamente. Bens públicos ou coletivos são aqueles cujo consumo é feito simultaneamente por vários sujeitos, por exemplo, um parque público. Os Serviços Bem: é tudo aquilo que satisfaz direta ou indiretamente os desejos e necessidades dos seres humanos. Tipos de bens: - Segundo seu caráter Livres: são ilimitados em quantidade ou muito abundantes e não são apropriáveis. Econômicos: são escassos em quantidade, dada sua procura, e apropriáveis. É o objeto de estudo da economia. - Segundo sua natureza: De capital: não atendem diretamente às necessidades. De consumo: destinam-se à satisfação direta de necessidades: -Duradouros: permitem uso prolongado -Não-duradouros: acabam com o tempo. - Segundo sua função: Intermediários: devem sofrer novas transformações antes de se converterem em bens de consumo ou de capital. Finais: já sofreram as transformações necessárias para seu uso ou consumo. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 3 Os serviços são aquelas atividades que, sem criar objetos materiais, se destinam direta ou indiretamente a satisfazer necessidades humanas. Ex: Transportadora, professor, escritor, cantor, etc. População econômica - A população é um conjunto de seres humanos que vivem em uma área determinada. - O fator produtivo trabalho é a parte da população que desenvolve as tarefas produtivas. Agentes econômicos1 OS AGENTES ECONÔMICOS As famílias; as empresas; o setor Público - SÃO OS RESPONSÁVEIS PELA ATIVIDADE ECONÔMICA. Em relação ao seu comportamento, supõe-se que são coerentes quando tomam decisões. A ATIVIDADE ECONÔMICA E OS AGENTES ECONÔMICOS A atividade econômica concretiza-se na produção de ampla gama de bens e serviços, cujo destino último é a satisfação das necessidades humanas. Os homens, mediante sua capacidade de trabalho, são os organizadores e executores da produção. As atividades produtivas numa sociedade contemporânea realizam-se por meio de numerosas unidades de produção ou empresas, cada uma das quais emprega trabalho, capital e recursos naturais, procurando obter bens e serviços. Por meio das unidades de produção se faz possível o fenômeno da divisão do trabalho. A organização dos fatores produtivos (terra, trabalho e capital) dentro das empresas, assim como a direção de suas atividades, recaem sobre pessoas ou grupos de caráter privado ou público. Na economia, os diversos papéis que desempenham os agentes econômicos, isto é, as famílias ou unidades familiares, as empresas e o setor público, podem ser agrupados em três grandes setores. -O setor primário abrange as atividades que se realizam próximas às bases dos recursos naturais, isto é, as atividades agrícolas, pesqueiras, pecuárias e extrativas. -O setor secundário inclui as atividades industriais, mediante as quais são transformados os bens. -O setor terciário ou de serviços reúne as atividades direcionadas a satisfazer necessidades de serviços produtivos que não se transformam em algo material. 1 MOCHOR, F.; TROSTER, R. L. Introdução à Economia. São Paulo: Makron Books, 1994. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 4 Esquema 2.1 Os setores econômicos AS EMPRESAS Nas sociedades modernas, as empresas produzem e oferecem praticamente a totalidade dos bens e serviços, como o pão, os automóveis, os sapatos, as agências de turismo, etc. A empresa é a unidade de produção básica. Contrata trabalho e compra fatores com o fim de fazer e vender bens e serviços. Nas sociedades primitivas, contudo, a produção era individual e artesanal. Hoje, as empresas são as maiores responsáveis pela produção, já que só elas são capazes de obter as vantagens da produção em massa. Somente as empresas podem reunir grandes quantidades de recursos financeiros e físicos necessários para construir as instalações e os equipamentos que a atualidade exige. Além disso, somente as empresas têm capacidade de organizar os complexos processos de produção e distribuição exigidos pelas sociedades modernas. Assim, por exemplo, para produzir automóveis de maneira eficiente o tamanho da fábrica deveria ser tal eu pudesse produzir um mínimo de 250.000 automóveis ao ano. TIPOS DE EMPRESAS SEGUNDO SUA NATUREZA JURÍDICA O esquema a seguir apresenta os diferentes tipos de empresas segundo sua natureza jurídica. Os dois tipos mais representativos são analisados a seguir. A EMPRESA INDIVIDUAL A empresa individual é de propriedade individual e é a forma mais simples de se estabelecer um negócio. Esse tipo de empresa pertence a um indivíduo e é dirigida por ele. Uma banca de jornal ou um borracheiro seriam exemplos típicos. A SOCIEDADE ANÔNIMA Sociedade anônima ou simplesmente S.A é a forma de organização empresarial mais comum. Em uma sociedade anônima, o capital está dividido em pequenas partes iguais, chamadas ações, que servem para facilitar a união de grandes capitais. Cada sócio acionista tem uma responsabilidade limitada, respondendo apenas pela sua parte do capital. Ele não se responsabiliza pelas dívidas sociais da empresa. Ao limitar as responsabilidades dos proprietários,a sociedade proporciona menor proteção legal aos credores, a quem ele deve dinheiro. Nas sociedades anônimas, especialmente nas grandes empresas, existe uma clara separação entre a propriedade – que é dos acionistas – e a direção – que é exercida pelo Conselho Administrativo. É esta que geralmente contrata técnicos especializados para as diversas áreas da empresa. Setores Econômicos: - Primário: agricultura, pesca e mineração - Secundário: indústria e construção - Terciário: serviços, comércio, transporte, bancos, etc. - Individual: trata-se de empresas que pertencem a um só indivíduo e são dirigidas por ele. - Social : a propriedade não corresponde a um só indivíduo - Limitada: o capital social deve estar totalmente desembolsado em um movimento de constituir a sociedade. O capital está dividido em partes iguais, chamadas cotas. Nestas empresas os sócios não respondem pessoalmente a dados sociais, somente com o capital aplicado. - Sociedades Anônimas ou S.A ‘s - somente se pode ser sócio investindo dinheiro. O capital está dividido entre os acionistas. A responsabilidade dossócios se limita ao capital aplicado. As ações são eventualmente negociadas na bolsa. - Cooperativas as sociedades cooperativas são associações criadas para satisfazer as necessidades comuns dos associados que compartilham de iguais riscos e benefícios. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 5 A forma de organização empresarial mais comum é a sociedade anônima. O capital da S.A está dividido em ações. O FINANCIAMENTO DA EMPRESA As sociedades podem conseguir fundos para seu crescimento do mesmo modo que os proprietários individuais, isto é, obtendo empréstimos ou créditos de instituições financeiras ou reinvestindo os lucros, isto é, autofinanciando-se. O financiamento pode ser diferenciado entre crédito e empréstimo. No caso do empréstimo, a empresa recebe de imediato o total do financiamento concedido, apesar de em alguns casos haver descontos dos juros. Ao contrário, a empresa que recebe um crédito retira, dentro do limite máximo combinado, o capital necessário, podendo realizar várias retiradas e pagamentos, de maneira que somente pague os juros relativos ao capital utilizado. A forma típica de instrumentar os créditos é por meio de títulos. Excluindo o crédito e o financiamento, as sociedades anônimas podem também emitir ações e obrigações. Quando uma sociedade “vende” participações em forma de ações, potencialmente aceita um novo sócio, já que cada ação representa uma fração da propriedade e da sociedade. As ações conferem direitos políticos – o principal destes é votar nas assembleias-gerais dos acionistas – e econômicos. O principal direito econômico é o de participar na repartição dos lucros (dividendos), caso se produzam. Por isso as ações são títulos de renda variável e integram o que se denomina o capital de risco, pois sofrem, conforme o caso, as perdas ou as reduções de lucros. O outro direito econômico é o de participar em todo o patrimônio da empresa, que não pode ser utilizado até sua liquidação, pois origina o direito preferencial ao subscrever a emissão de novas ações. Alternativamente, a empresa pode obter fundos mediante a venda de bônus e obrigações, com os quais não se aumentará o número de novos acionistas. Uma obrigação representa uma dívida para a empresa, pois de fato é uma parte proporcional de um empréstimo ou um empréstimo concedido à empresa emissora e supõe para esta uma obrigação legal expressa de pagar juros periódicos e de devolver o valor da emissão principal ao portador, quando acontecer o vencimento. Uma obrigação muito comum emitida pelas empresas brasileiras são as debêntures. Outra forma de obrigação é o Commercial Paper, que está crescendo de importância no Brasil. AS FAMÍLIAS OU UNIDADES FAMILIARES Os diferentes agentes econômicos podem ser divididos em privados e públicos. Os agentes privados básicos são as famílias e as empresas. As funções das famílias consistem em, por um lado, consumir bens e serviços; por outro, oferecer seus recursos, isto é, trabalho e capital às empresas. Entretanto, as famílias que pretendem maximizar a satisfação obtida no consumo são limitadas pelo orçamento de que dispõem. As famílias ou unidades familiares consomem bens e serviços, e oferecem seus recursos – fundamentalmente trabalho e capital – às empresas. Comportamento similar ao das famílias é o dos indivíduos, grupos esportivos, culturais, associações beneficentes e religiosas, etc. A atividade econômica desses grupos atrai sujeitos com intenção mercantil ou empresarial. - Autofinanciamento: recursos financeiros gerados pela própria empresa. - Financiamento externo: empréstimos, créditos e obrigações (para grande volume de dinheiro). - Tipos de agentes econômicos: - Setor privado: famílias (unidades familiares) e empresas. - Setor público. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 6 O SETOR PÚBLICO Entende-se por setor público mais do que somente o Estado-Nação das organizações políticas atuais. Os órgãos e administrações públicas que compõem o setor público têm ao menos três níveis de governo a) – As administrações locais: as prefeituras. b) – As administrações estaduais. c) – A administração central, isto é, governo da União, ministérios e demais organismos de caráter nacional. Feita essa descrição, a partir de agora, para abreviar, os sujeitos públicos serão denominados indistintamente de Estado ou setor público. O DESENVOLVIMENTO DO SETOR PÚBLICO Em qualquer sociedade moderna, seja qual for sua configuração política, o setor público realiza funções econômicas de fundamental importância. Até o início do século XX, era frequente afirmar que o governo deveria cuidar fundamentalmente da segurança e defesa dos cidadãos e de seus direitos de propriedade. Ainda, deveria garantir as condições para que as atividades puramente econômicas se desenvolvessem sem obstáculos. Em síntese, acreditava-se que a função do Estado consistia no estabelecimento de uma marco jurídico-institucional, sendo porém os indivíduos e grupos privados os verdadeiros responsáveis pela atividade econômica do sistema. Ao longo do século XX, as funções públicas ampliaram-se e diversificaram-se em setores como saúde, educação, transportes, etc. O Estado deixou de ser mero guardião do bom desenvolvimento da atividade econômica para se converter em um verdadeiro agente econômico. Com frequência, o setor público atua como empresário e oferece certos bens, os bens públicos. Bens públicos são bens proporcionados a todas as pessoas a um custo que não é maior que o necessário para fornecimento a uma só pessoa. Setor Público Setor público privado (produtivo) Empresas estatais Financeiras Não-financeiras Unidades Territoriais Estados Municípios Territórios Previdência social Sistema de previdência social; Outras administrações Administração central Autarquias Estados Administração Pública 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 7 Um exemplo típico de bem público são os serviços de defesa nacional. Esses serviços não podem ser oferecidos por empresas privadas; portanto, devem ser providos pelo Estado. O setor público, ainda, coordena e regula o mercado e, às vezes, estabelece a política econômica, tentando alcançar objetivos gerais, tais como: crescimento estável do produto nacional; pleno aproveitamento dos recursos e eficiente alocação dos mesmos; estabilidade dos preços; e distribuição de renda justa. O setor público estabelece um marco jurídico-institucional no qual se desenvolve a atividade econômica. É responsável também pelo estabelecimento da política econômica. O papel do governo 2 O funcionamento da economia, a princípio, não precisa de intervenções do governo. Por exemplo: quando uma seca destrói a safra de feijão, o preço do feijão sobe. Frente ao preço mais alto, as pessoas passam a comprar menos feijão, e o substituem por outro alimento mais barato. Isso significa que a demanda por feijão cai, diminuindo a pressão sobre seus preços. Por outro lado, comerciantes vão importar feijão, para aproveitar a oportunidade de lucrar com os preços mais altos. Ao colocarem no mercado essa importação, a escassez do produto diminuirá, com novo impulso à queda dos preços. Dessa forma, um mecanismo de ajuste automático da economia: a escassez eleva os preços e o aumento de preços induz o fim da escassez. Em uma situação como essa, não há necessidade de o governo interferir na economia, pois ela se ajusta sozinha. Todavia, situações em que o mercado não se ajusta sozinho, são as chamadas “falhas de mercado”. Quando o mercado falha, a intervenção do governo pode ser importante para colocar a sociedade em um nível mais elevado de bem-estar, sendo este seu papel. Mas existem, também, as “falhasde governo”: os problemas que o governo causa ao intervir na economia. Sempre que um governo anuncia um novo programa ou uma nova lei, o cidadão- eleitor que deseje analisar benefícios e custos dessa intervenção pode se perguntar: Qual a falha de mercado que se está querendo corrigir? Será que essa intervenção não gerará “falhas de governo” que piorarão o bem-estar geral? Para responder a essas perguntas, é preciso conhecer a natureza das “falhas de mercado” e das “falhas de governo”. Direito de propriedade e garantia de contratos A economia de mercado só existe porque o governo existe. Por isso, a primeira função do governo é garantir que a economia possa funcionar. O produtor de feijão só aplica suas economias e seu trabalho para produzir esse alimento porque ele sabe que tem o direito de propriedade sobre aquilo que ele produz. Em um país em que os agricultores estejam sob permanente ameaça de invasão e roubo da produção, eles provavelmente vão desistir de produzir, e não vai haver oferta de feijão no mercado. Logo, o governo tem a função primordial de garantir o direito à propriedade privada. É preciso que existam instituições como a polícia e a justiça, que protegem essa propriedade de roubo e expropriações. Para que as pessoas tenham confiança para negociar entre si, é preciso que haja contratos e que esses sejam respeitados. O produtor de feijão precisa ter segurança de que o comprador vai, efetivamente, pagar pelo feijão comprado e que, se o pagamento não for feito, ele pode processar o comprador. O comprador, por sua vez, tem direito a exigir na justiça que o vendedor entregue o feijão na qualidade e quantidade combinadas. 2 Brasil, Economia e Governo. Disponível em: http://www.brasil-economia-governo.org.br/2011/03/24/por-que-o-governo-deve-interferir-na- economia/. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 8 As regras para elaboração e respeito aos contratos devem estar nas leis. Isso significa que o governo deve instituir o Poder Judiciário (para aplicar as leis), o Poder Legislativo (para produzir e aprovar as leis), as instituições policiais e o sistema prisional (para cumprir as determinações do Judiciário). Tudo isso garante o funcionamento da economia de mercado. Em países em que o governo não exerce bem essas funções, a economia de mercado não prospera. Por exemplo, nas economias comunistas, nas quais não havia garantia de propriedade privada, as pessoas moravam em apartamentos que não eram seus e, por isso, não tinham preocupação em conservá-los. Nas economias capitalistas, por sua vez, os inquilinos só fazem reforma nos imóveis se houver um contrato com os proprietários, garantindo o abatimento do gasto no valor do aluguel. Restrições à competição Na negociação de um quilo de feijão, em uma barraca na feira, há um equilíbrio de poder entre comprador e vendedor: se achar o preço caro, o comprador pode procurar o feijão em outra barraca; se não aceitar a oferta do comprador, o vendedor pode esperar a chegada de outro comprador disposto a pagar aquele preço. Mas há diversos casos de oligopólio e monopólio, em que há poucos (no caso do oligopólio) ou um único vendedor (no monopólio), de forma que eles têm mais poder que o comprador no processo de negociação. O abastecimento de água de uma cidade, por exemplo, é feito por uma única empresa, pois não faz sentido instalar mais de uma rede de distribuição (este é um caso conhecido como “monopólio natural”). Logo, a empresa fornecedora será única: ou você aceita pagar o preço que essa empresa pede pela água ou fica sem abastecimento. Há casos em que o custo para uma empresa entrar numa atividade é muito alto. Por exemplo: criar uma siderúrgica exige um grande investimento inicial na compra de fornos. Logo, só entrará nesse mercado quem conseguir o capital para o investimento inicial. Essa barreira inicial reduz a quantidade de firmas trabalhando no setor e, por isso, as firmas existentes têm maior poder para fixar preços e quantidade produzida. Há, também, situações em que o comprador tem mais poder que o vendedor: uma grande empresa petrolífera, por exemplo, será a única compradora de sondas e outros produtos utilizados na exploração de petróleo (situação conhecida como “monopsônio”). Nessa situação, os fornecedores da petrolífera ficarão à mercê das decisões de preço e quantidade estabelecidas pela empresa. Sempre que houver falhas que reduzam a competição, os resultados serão preços mais altos e oferta de bens e serviços abaixo do que ocorreria em concorrência perfeita (na qual prevalece o equilíbrio do poder de barganha de comprador e vendedor). Para tentar levar a economia para uma situação mais próxima à de concorrência perfeita, o governo pode intervir de várias formas. Pode estatizar a produção, vendendo os produtos por um preço que cubra o custo (e não por um preço de lucro elevado, como faria o monopolista privado), como no caso das empresas estatais de água e energia. Nos casos de monopólio natural o governo pode instituir agências reguladoras para regular e fiscalizar a qualidade e preço dos produtos oferecidos. No Brasil temos agências reguladoras em diversas áreas como: energia elétrica, água, transportes públicos ou petróleo. Uma opção para os setores oligopolizados é deixá-los sob responsabilidade do setor privado, mas regulamentar sua atuação através de um órgão de defesa da concorrência, com o objetivo de coibir a formação de cartéis e o abuso de poder econômico. O governo também pode criar regras que reequilibrem o poder de mercado. Quando, por exemplo, se criou a possibilidade de o usuário de telefone celular mudar de operadora sem mudar o número do telefone, o poder de mercado do usuário frente às operadoras se elevou. Muitas pessoas, embora insatisfeitas, não trocavam de operadora para não enfrentar o custo de ter que informar a clientes e amigos o novo número. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 9 Bens públicos Há algumas mercadorias e serviços para os quais o sistema de oferta e demanda não funciona bem. São os chamados “bens públicos”. Não é possível, por exemplo, vender “ar puro” no mercado. Ou existe ar puro disponível para todos respirarem, ou não existe para ninguém. Por isso, não se pode estabelecer uma negociação em que se vende ar puro apenas para as pessoas que estejam dispostas a pagar por ele. O mesmo raciocínio se aplica à segurança nacional: ou todo mundo que mora no país está protegido contra inimigos externos, ou ninguém está protegido. Não há como vender segurança nacional apenas para quem tem medo dos inimigos externos. Outro exemplo interessante é o dos faróis de sinalização marítima. Todos os barcos que passam pela costa podem ver o sinal luminoso emitido pelo farol, não sendo possível cobrar pelo serviço, oferecendo a sinalização apenas aos barcos que pagarem por isso. Se eu vou me beneficiar do sistema de segurança nacional ou de sinalização pago pelos outros, por que eu iria me interessar em pagar por isso? Todos vão querer pegar carona no serviço pago pelos outros. Há casos em que é possível estabelecer um mercado privado de compra e venda, mas este vai oferecer o produto ou o serviço em pequena quantidade, menor do que aquela que seria desejável. É possível deixar que empresas privadas construam e operem estradas, remunerando-se mediante cobrança de pedágios. Mas esse sistema só vai funcionar nos locais onde a quantidade de carros trafegando seja suficiente para dar lucros. As estradas potencialmente deficitárias jamais serão construídas, embora sejam úteis e desejáveis. É possível que institutos privados de pesquisa realizem os levantamentos de dados e só os revelem a quem pagar pela informação. Ocorre que tal informação é muito útil para que pesquisadores façam estudos em benefícioda população em geral, permitindo, por exemplo, que se planeje o controle das doenças de maior incidência, de acordo com idade, sexo ou região de residência. Assim, o problema que envolve os bens públicos é que eles tendem a não ser ofertados pelo mercado privado ou então são ofertados em pequena quantidade. Por isso, o governo intervém para corrigir esse problema. O governo pode assumir diretamente a produção e a oferta de bens públicos. Se ninguém quer pagar pela segurança nacional, o governo impõe tributos de pagamento obrigatório por todos e, com esse dinheiro, financia as forças armadas. Esse é o mesmo raciocínio que se aplica à construção de estradas não passíveis de exploração privada, aos serviços de corpo de bombeiros, à sinalização de trânsito, à construção e manutenção de parques públicos ou à criação de órgãos oficiais de levantamento e divulgação de estatísticas socioeconômicas. O governo também pode remunerar ou subsidiar o setor privado para que este ofereça bens públicos à população: incentivos financeiros à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, por exemplo, permitem que a ciência avance não apenas em setores que dão lucro e não precisam de incentivos (cirurgia plástica), mas também naqueles de difícil comercialização (prevenção de doenças tropicais); subsídios à construção e operação privada de infraestrutura (estradas, portos, aeroportos, etc.). Outra forma de atuação é mediante regulação: se não é possível, por exemplo, garantir ar puro e natureza limpa mediante mecanismos de mercado, então que se imponha, por lei, padrões de conservação e preservação a serem obedecidos por todos, penalizando-se aqueles que descumprirem a lei. Externalidades Quando as ações de um indivíduo geram consequências negativas para terceiros, dizemos que isso é uma externalidade negativa. O carro que eu uso e que me dá conforto e rapidez nos deslocamentos gera, como externalidade negativa, poluição do ar que todos respiram. Os bares que animam a rapaziada no fim de semana não deixam a vizinhança dormir. O desleixo do meu vizinho com o seu jardim pode gerar um criadouro de mosquito da dengue que vai transmitir a doença para a minha família. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 10 Quando ações individuais geram consequências positivas, temos uma externalidade positiva. Se eu contratar seguranças privados para vigiar minha casa, meus vizinhos vão se beneficiar disso, pois os ladrões vão explorar outras ruas. Se boa parte da população se vacinar contra sarampo, a probabilidade de eu contrair a doença, mesmo sem ter me vacinado, será menor. Por que a existência de externalidade gera a necessidade de intervenção do governo? Porque na presença de elevadas externalidades, o elemento que a causa (indivíduo, família, firma, etc.) não está preocupado com o custo gerado pela externalidade negativa ou com o benefício gerado pela externalidade positiva. Ele toma suas decisões de produção e consumo pensando prioritariamente nos seus próprios custos e benefícios. Por isso, há uma tendência das pessoas a não darem muita atenção às externalidades que geram. Se não houver uma legislação restringindo a quantidade de madeira que pode ser extraída de uma floresta, os madeireiros (que estão mais preocupados com o seu faturamento do que com a preservação da natureza) vão extrair madeira em excesso. Da mesma forma, se não houver campanha de vacinação gratuita nos postos de saúde, muitas pessoas vão preferir não se vacinar e, com isso, aumenta o risco de uma epidemia. Se não houver uma legislação restringindo os horários e locais para funcionamento de bares, os notívagos vão acabar com o sossego de quem quer dormir. Mas não é apenas mediante imposição de regras e leis que o governo pode controlar as externalidades. Ele também pode produzir e ofertar bens e serviços que geram externalidades positivas, tais como: educação básica, parques públicos, áreas de conservação ambiental. O governo também pode subsidiar a produção de externalidades positivas ou impor tributos sobre a geração de externalidades negativas: descontos no imposto de renda para quem investe em conservação ambiental; redução de impostos na importação de vacinas; verbas públicas para subsidiar pesquisas que gerarão conhecimento a ser utilizado em diversas áreas da ciência; tributação elevada sobre cigarros (que prejudicam os fumantes passivos), bebidas (que matam ou machucam os que não bebem, devido a acidentes de trânsito e violência), automóveis (que geram poluição). Assimetria de informações Quando um dos lados de uma transação comercial tem mais informação que o outro, surgem problemas para o bom funcionamento do mercado. Por exemplo, as seguradoras conhecem muito menos sobre o perfil de risco de um indivíduo do que ele próprio. Assim, ao ofertar um seguro de saúde, a seguradora tende a calcular a média dos custos que ela terá com todos os segurados. Mas isso significa que os segurados mais saudáveis irão subsidiar os mais doentes. Logo, os mais saudáveis tendem a não comprar o seguro (que fica caro para eles frente à expectativa de uso) e os menos saudáveis tendem a ser os principais compradores, levando a seguradora ao prejuízo. A seguradora pode, simplesmente, optar por não oferecer o seguro-saúde ou, então, discriminar preços e oferecê-lo a alto custo para clientelas de risco (idosos, por exemplo). O governo pode intervir de várias formas: oferecendo serviço público de saúde para quem não pode pagar, subsidiando planos de saúde, ou melhorando o grau de informação sobre as condições da saúde da população. A regulação bancária é um caso em que o governo pretende proteger o depositante (menos informado) de eventuais riscos excessivos assumidos pelos bancos, que melhor conhecem sua própria situação financeira e os riscos que assumem. É por isso que se estabelecem reservas compulsórias no Banco Central e regras para aplicação prudente dos recursos. Os exames realizados pelo governo para medir a qualidade de formação dos estudantes (como o ENEM e o PROVÃO), ao terem os seus resultados divulgados à população, aumentam o grau de informação dos usuários dos serviços de educação sobre a qualidade de cada escola. Tal informação é, antes da revelação dos resultados, assimetricamente distribuída em favor das escolas, que conhecem melhor que os usuários o grau de esforço que realizam. Inexistência de garantias 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 11 No mercado de crédito existe o caso clássico de empréstimos que, se realizados, podem financiar uma atividade produtiva, que aumentará o bem estar da sociedade. Porém, como os potenciais mutuários do empréstimo não têm garantias a oferecer, os bancos se afastam desse tipo de cliente e a sociedade perde a oportunidade de realizar atividades que serão benéficas a todos. Esse tipo de problema afeta tipicamente os estudantes. Eles precisam de crédito para pagar seus estudos. Se conseguirem estudar e se qualificar, obterão bom emprego no futuro e poderão pagar pelo empréstimo feito hoje. Porém, antes de estudarem e se qualificarem, não têm renda e, por isso, não dispõem de garantias para oferecer aos bancos. Os agricultores têm problema semelhante. Precisam de dinheiro para financiar a plantação. Mas enfrentam o risco de uma quebra de safra causada por imprevisíveis fenômenos climáticos. Por isso, a safra futura não representa uma garantia sem risco para os bancos financiadores. Em ambos os casos, os bancos tendem a ser cautelosos na concessão de crédito, e o país perde a oportunidade de ter mais pessoas com boa educação e uma produção de alimentos mais ampla. Nesses casos, o governo pode intervir, ofertando: crédito público, seguro subsidiado para cobrir quebra de safra, subsídios às mensalidades escolares (como no Programa PROUNI), ou educação pública gratuita. Outraforma de intervenção do governo é por meio de um judiciário eficiente, que garanta a execução dos contratos. Afinal, de pouco adianta um mutuário ter garantias a oferecer, se, em caso de não pagamento da dívida, o credor não conseguir executá-las. Falhas de coordenação Uma vez que o sistema de mercado é, por natureza, descentralizado, há casos em que a falta de coordenação entre as partes exige que uma entidade de fora do mercado (o governo) intervenha para fazer a devida coordenação: É o caso, por exemplo, da estabilidade macroeconômica: dado que não vivemos em um sistema de concorrência perfeita, em que o mercado se ajustaria a todo momento, a economia dos países é submetida a crises periódicas. Barreiras ao comércio internacional, guerras, fenômenos naturais, desequilíbrios fiscais; todos esses fatores exigem que os países lancem mão de políticas econômicas (política monetária, fiscal e externa) para tentar reduzir as flutuações. Por que essas políticas têm que ser feitas pelo governo? Porque os agentes privados não teriam capacidade de coordenação e de uso do mandato conferido pelas urnas para arbitrar conflitos e tomar medidas visando o interesse da maioria. Por exemplo: exportadores preferem a moeda nacional desvalorizada, enquanto os importadores querem valorizá-la; somente um árbitro – o governo – pode mediar o conflito e buscar uma situação de equilíbrio. A estabilidade econômica (inflação baixa, crescimento do PIB, geração de emprego, etc.) é um bem público: ao mesmo tempo em que todos querem dela desfrutar, cada um toma medidas visando o interesse próprio que pode prejudicar a estabilidade (funcionários públicos pressionam por aumento, o que aumenta o gasto público e induz inflação; sindicatos querem proteger o emprego de seus filiados e pressionam por regras no mercado de trabalho que prejudicam o acesso dos desempregados a novos empregos; empresas oligopolistas querem viver em ambiente sem inflação, mas elevam os preços de seus produtos; etc.) Há, também, o caso dos mercados complementares: em estágios iniciais de desenvolvimento, países podem ter mercados para alguns bens, mas inexistem todas as indústrias necessárias para produzir aquele bem. Por exemplo: a indústria automotiva brasileira só surgiu depois que o governo criou siderúrgicas estatais, que oferecia o aço necessário à produção de automóveis. Daí o uso das chamadas “políticas industriais” em muitos países. Outro segmento onde a capacidade de coordenação é fundamental é o planejamento urbano. É necessário coordenar a ação dos diversos agentes privados que atuam no espaço urbano, para que a cidade tenha trânsito fluido, baixo risco de catástrofes causadas por intervenção humana (habitações em 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 12 áreas de risco, assoreamento de rios, etc.), expansão organizada de ruas e da oferta de serviços públicos, etc. Distribuição de renda Toda sociedade tem algum padrão ético a respeito de distribuição da renda. O mercado pouco pode fazer para redistribuir renda. Na verdade, a lógica competitiva da economia de mercado tende a concentrar renda na mão dos mais eficientes, o que leva o governo a intervir no sentido de redistribuir a renda entre pessoas e entre regiões do país. Há várias formas de fazê-lo, algumas delas bastante polêmicas. O governo pode, por exemplo, instituir regras de desapropriação e redistribuição de patrimônio, como no caso da reforma agrária. Outro mecanismo é ofertar serviços com impacto relevante sobre a capacidade de ascensão econômica das pessoas. É o caso da educação e da assistência à saúde. Ambas podem ser encontradas no mercado privado. Mas como os mais pobres não podem pagar por esses serviços privados, o governo os oferece gratuitamente ou a custo subsidiado, na expectativa de que as pessoas mais pobres tenham condições mais equitativas de competição no mercado de trabalho. Há, também, a assistência social, voltada para minorar a pobreza mais extrema. Pode-se, atuar, ainda, por meio de políticas de desenvolvimento regional, voltadas a estimular o crescimento econômico em áreas atrasadas (crédito subsidiado às empresas que lá se instalarem, transferências do governo federal aos governos das regiões retardatárias, construção de estradas para ligar tais regiões aos centros dinâmicos, etc.) Também se pode tentar afetar a distribuição de renda por meio de regulação, como no caso do estabelecimento de um sistema tributário progressivo, em que os ricos pagam mais impostos; ou na tributação mais intensa sobre propriedades urbanas e rurais subutilizadas. A adequação entre as políticas públicas do Estado e a dinâmica do mercado voltado às relações de consumo e da concorrência3 Diante das crescentes exigências, da sociedade pós-moderna, por novas e constantes soluções para a satisfação das necessidades humanas e coletivas vemos retrair-se o espaço público e expandir-se o espaço privado envolvidos com os componentes da economia, onde o consumo se apresenta como a ponta final da cadeia produtiva. Isso reflete a situação em que se acham as relações entre Estado e mercado, e que atingem a sociedade de consumo. Sabe-se que a economia, enquanto ciência social, tem por função geral a busca de atendimento das necessidades humanas por intermédio da adequada escolha de recursos escassos. Em resumo, trata-se da administração da escassez. Pelo constante aumento das necessidades humanas, em proporções desmedidas frente aos recursos disponíveis, o acesso à satisfação dessas mesmas necessidades depara-se com problemas de toda a ordem e que acabam se refletindo nas ações dos atores que desempenham suas funções no espaço público e no espaço privado. A interação entre os agentes do Estado e do mercado passa a ter largo espectro de protagonismo não só econômico, mas principalmente jurídico e social. Com particular respeito ao caso brasileiro, numa visão moderna e inovadora, a Constituição Federal de 1988 procurou adequar uma solução de convívio entre o espaço público e o espaço privado, comprometendo-se a estabelecer, do ponto de vista jurídico, situações que indicassem a preocupação com a realidade econômica e social. 3 Ben-Hur Rava. Estado e sociedade com atores no controle social do mercado: O papel da concorrência e do consumo. ÂmbitoJurídico.com.br. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 13 Nesse sentido, o texto constitucional, ao lado de consagrar no seu art. 3º, os objetivos fundamentais da República, dispôs no art. 170, os princípios gerais que regem a atividade econômica. Numa visão sistemática é preciso salientar que todos esses princípios se preordenam a constituir uma ordem econômica baseada na livre iniciativa (espaço privado) que está jungida ao alcance daqueles objetivos consagrados no art 3º, supra mencionado, com mecanismos de controle por parte do Estado e da sociedade civil organizada (espaço público). Assim, a interação entre os atores da ordem econômica que transitam no espaço público e no espaço privado deve ser, antes de tudo, pautada pelo sistema constitucional que visa assegurar a perfeito funcionamento da ordem econômica, principalmente no que tange à efetivação/concretização e adequação/harmonização entre o princípio da livre concorrência (inciso IV) e o princípio de defesa do consumidor (inciso V). Estas duas áreas disciplinadas pela Constituição Federal tiveram forte desdobramento na legislação infraconstitucional e constituem-se em verdadeira política pública assumida pelo governo brasileiro, constituindo-se em verdadeiro Sistema Nacional de Defesa do Consumidor já previsto no Título IV da Lei n. 8078/90 (arts. 105 e 106) e no Capítulo II (arts 3º a 8º) do Decreto Federal n. 2.181, de 20 de março de 1997. Não há como desconhecer que um dos pressupostos da existênciaexplícita da regulação no nosso sistema constitucional, antes mesmo que se falasse na implantação de um “marco regulatório”, estruturado em normas legais e disposições regulamentares. O conceito de regulação também se aplica às relações concorrenciais e de consumo, sem que se necessite criar nova(s) agência(s) para desincumbir-se dessa função estatal. A estrutura formal, orgânica e funcional não é elemento essencial para o cumprimento de objetivos constitucionais superiores. Por isso que, como forma de garantir a observância das regras da concorrência e da defesa do consumidor o governo federal estruturou sua atuação administrativa, no âmbito do Ministério da Justiça, que possui em sua estrutura a Secretaria de Direito Econômico – SDE. A Secretaria tem a sua competência estabelecida pelo Decreto 4.991, de 18 de fevereiro de 2004 e possui dentro de suas estruturas o Departamento de Proteção e Defesa Econômica (DPDE) e o Departamento e Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC). Além disso, no âmbito do Ministério da Fazenda, achava localizada a Secretaria de Acompanhamento Econômico – SEAE, que foi criada pela Medida Provisória n.º 813, de 1º de janeiro de 1995. É o principal órgão do Poder Executivo encarregado de acompanhar os preços da economia, subsidiar decisões em matéria de reajustes e revisões de tarifas públicas, bem como apreciar atos de concentração entre empresas e reprimir condutas anticoncorrenciais. O perfil da SEAE acima exposto reflete-se nas suas três esferas de atuação: promoção e defesa da concorrência, regulação econômica e acompanhamento de mercado. A defesa da concorrência está delineada na Lei n. 8.884, de 11 de junho de 1994 que, ao transformar o CADE em autarquia, dispôs sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. A proteção e defesa do consumidor, por sua vez, decorre de mandamento constitucional que assegura aos cidadãos consumidores a tutela de seus direitos fundamentais, quando no art. 5º, XXXII está consignado que: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Este dispositivo, conjugado com a dicção do art. 48, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que determinava ao legislador ordinário a edição de um Código de Defesa do Consumidor, tornou-se completo quando da edição da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, com vigência a partir de 11 de março de 1991. O quadro institucional de defesa do consumidor no Brasil acha-se descentralizado pelos três níveis federativos, eis que a matéria sujeita-se ao regime de competência legislativa concorrente, conforme emana do art. 24, V, da Constituição Federal. Nesse sentido, cada uma das pessoas políticas (União, Estados-membros e Municípios) poderá legislar sobre a matéria que evolva a produção e o consumo. Isso faz com que haja mecanismos de atuação nacional, estadual e municipal capazes de alcançar uma proteção mais efetiva aos consumidores no mercado de consumo. Órgãos como os Programas de 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 14 Proteção e Defesa dos Consumidores (Procon) estão estruturados nos Estados-membros e municípios, vinculados à estrutura dos respectivos governos para auxiliar no desenvolvimento da Política Nacional das Relações de Consumo, coordenada pelo Ministério da Justiça, por intermédio do DPDC. A referida Política, aliás, está disciplinada no art. 4º, da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). O referido Sistema conta, ainda, com a presença e atuação do Ministério Público Federal e Estadual, órgãos governamentais que tenham uma interface com a defesa da concorrência e do consumidor (INMETRO e agências reguladoras, por exemplo), além das Associações de Defesa dos Consumidores. O postulado de que a ordem econômica entre nós está estruturada e bem articulada não serve de pretexto, no entanto, para se achar que todos os nossos problemas estão resolvidos na esfera da defesa do consumidor e da concorrência. Muito existe para se fazer com vistas a uma articulação mais efetiva que forneça um sistema mais protetivo. Podem ser citados alguns pontos de fragilidade, tanto na área da concorrência (as condutas ilícitas e anticoncorrenciais – cartéis, práticas monopolistas e de concentração econômica, assimetria nas informações) como na esfera da defesa do consumidor (sobrecarga do MP na tutela dos interesses dos consumidores, a pouca atuação das associações de defesa dos consumidores, que deveriam buscar ser independentes, a falta de integração ou sobreposição de atribuições e competências dos órgãos de defesa dos consumidores, a pouca representatividade dos consumidores em foros, conselhos, comissões, etc.). O desempenho das instituições públicas (e privadas) no mercado de consumo sob a perspectiva do controle social Sistematicamente o poder público tem sido acusado de ineficiência e má prestação de serviços públicos, deixando espaço para que se afirme que só a iniciativa privada pode oferecer resultados compensadores e de maior qualidade aos usuários. Na verdade, há uma comparação constante entre os bens e serviços prestados pelo mercado e aqueles prestados pelas instituições públicas. Isso nem sempre significa que os bens e serviços produzidos pela iniciativa privada sejam melhores e, mais eficientes, do que aqueles produzidos pela esfera estatal. Os países europeus estão a comprovar que, na sua larga experiência de prestação de serviços públicos, sempre conseguiram atingir ótimos níveis de excelência e resultados. Por outro lado, as condições econômicas aliadas às novas técnicas de administração e gerenciamento, demonstram que é preciso uma descentralização e formulação de parcerias entre Estado e iniciativa privada para que os serviços públicos, tradicionalmente oferecidos pelo Estado possam ter continuidade de fruição pelo público em geral. As reformas setoriais trouxeram mudanças à Administração Pública. A idéia central da reforma administrativa foi a de desburocratizar a máquina estatal, criando condições para que a Administração pudesse prestar serviços de maior qualidade e de forma mais dinâmica aos cidadãos. Ao lado disso, com a quebra de inúmeros monopólios naturais, desempenhados pelo Estado e a abertura econômica, oportunizou-se a entrada de diversas empresas privadas no setor de prestação de serviços públicos, passando a competir entre si. Em outras palavras, as ideias que nortearam a reforma foram as de ter uma Administração a serviço do público; uma Administração eficiente, ágil, rápida, pronta para atender adequadamente às necessidades da população, facilitando o combate à corrupção; uma Administração que preza pela economicidade, transparência e publicidade; uma Administração de resultados. E também um incremento da capacidade competitiva e de qualidade por parte da iniciativa privada, ao assumir, por delegação, parcela das atribuições que são, originariamente, do Estado. Glória Conforto ensina: “Deve ser tomado como orientação filosófica o esforço para buscar desenvolver mais altos padrões de responsabilidade política, administrativa e gerencial. E o fundamento dessa orientação é a idéia de que a responsabilidade das administrações é ser provedora de serviços pela população, em interação com ela, rompendo a relação com o velho sentido do prestar serviço para ela. A população deve ser absorvida como parte do novo sistema, com ênfase sobre a questão de que cada parte da nova organização pode e deve contribuir para a qualidade do serviço”. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 15 Desde o momento em que se começou a falar na reforma do Estado brasileiro passou-se a estudar e discutir os meios pelos quais a Administração Pública deveria alterar os seus padrões tradicionais e reformular suas concepções para desempenhar com maior eficiência os seus papéis. Para Osvaldo Sunkel: “Durante os últimos anos, o Estado teve seu tamanho reduzido,as empresas e os serviços públicos foram privatizados, os mercados foram desregulamentados e liberalizados, buscou-se o equilíbrio macroeconômico, os governos foram descentralizados e a administração pública foi melhorada. Na medida em que estas metas são atingidas, têm de ser identificadas novas metas para as quais é necessária a intervenção pública. Por exemplo, é necessária maior supervisão e regulamentação das atividades que passaram para o setor privado (nas quais o interesse público precisa ser protegido). O Estado também precisa manter sua participação nos setores sociais e nos setores produtivos mais precários. Além disso, é absolutamente imperativo que o Estado assuma sua parcela de responsabilidade na contribuição para a coordenação de um plano nacional estratégico de médio e longo prazos. Seu objetivo deve ser oferecer um arcabouço orientador para o estabelecimento de incentivos adequados e uma estrutura reguladora coerente com ele, bem como garantir o necessário consenso, por meio do diálogo, entre todos os setores sociais e políticos, afim de garantir apoio a essa estratégia de médio e longo prazos”. Observe-se, portanto, que antes havia um modelo de Estado burocrático, de cunho racional-legal, que tinha no procedimento sua forma de operacionalização. Com as reformas administrativas operadas a partir de 1995, passou-se a difundir a ideia de que este modelo estaria ultrapassado e de que deveria ser substituído pelo Estado gerencial, respaldado no controle social e no de resultados. Os defensores dessa teoria têm no conceito de eficiência - melhor trabalhado a partir da aludida reforma - o eixo do discurso para o desmonte das estruturas burocráticas. Todavia, é preciso registrar que, em verdade, não existe incompatibilidade entre Estado burocrático e Estado gerencial. Vem se tentando imprimir a ideia de que eficiência é sinônimo de Estado gerencial, e que é contrária ao procedimentalismo do Estado burocrático. Porém, a verdade não é bem esta. Procedimentos como o concurso público e a licitação são louváveis na medida em que proporcionam o controle da Administração pública e preservam princípios como o da isonomia e o da moralidade. Não se deve, portanto, querer refutar de todo as práticas do Estado burocrático. O importante é que se concilie o procedimentalismo que lhe é inerente com a novas formas de administrativas apresentadas pelo Estado gerencial. A propósito, a ênfase que se vem dando ao controle social é uma das novidades do Estado gerencial. Poder-se-ia dizer que é a sua essência, principalmente quando tal controle pode vir a ser implementado em relação à intervenção do Estado na atividade econômica. Nesse diapasão, o cerne da questão a respeito da reforma do Estado pode ser resumida numa dupla indagação: como tornar as instituições eficientes? E, como decorrência disso, de que modo se pode controlá-las, para que cumpram um papel baseado na legitimidade e na eficácia de seus objetivos? O modo adequado de cuidar deste tema é refletir que estas duas atitudes dependem uma da outra, ou seja, que a melhor maneira de fazer com que as instituições funcionem bem é colocá-las sob um regime de controle e supervisão estritos. A prática, no entanto, assim como todas as teorias organizacionais modernas, mostra uma realidade diferente. A realidade dos serviços públicos em países periféricos tem apresentado muitos problemas ao longo dos anos. Houve uma deterioração no nível de qualidade de prestação e acesso por parte dos cidadãos. Nesse sentido, que a "Declaração do XVII Congresso Mundial da Consumers International: O futuro de la proteção do consumidor", realizado em Lisboa, em 2003, marca sua posição sobre os serviços públicos. Como forma de garantir a universalização do serviço e o efetivo controle sobre as condições de prestação é preciso referendar mecanismos de regulação estatal aptos a garantir a qualidade que os usuários tanto esperam. É nesse sentido que Glória Conforto se manifesta: “Tendo como marco teórico a análise da conjuntura desses países periféricos, a proposta de descentralização implica o estabelecimento de mecanismos de regulação como instrumento de controle dos mercados setoriais, de fiscalização do processo e da garantia de qualidade dos serviços prestados. Marcos regulatórios que tomam forma genérica no nível federal, a partir de um processo de integração, avaliação, assessoramento e troca com as diversas instâncias de governo e setores representativos da sociedade civil, se desdobram em formalizações mais específicas no nível dos estados e podem aparecem, inclusive, em regionalizações no nível de conjuntos de municípios”. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 16 Em geral, o funcionamento e desempenho das instituições públicas requer a combinação de dois ingredientes que nem sempre andam juntos, a legitimidade e a competência técnica e profissional dos responsáveis pelos mecanismos de avaliação e acompanhamento. As funções reguladoras do Estado são muito distintas das funções executivas e de ordem legal de tipo tradicional, principalmente quando a regulação não é feita pela simples aplicação da letra da lei, mas requer uma avaliação qualitativa de processos e resultados. Isto significa que a reforma da Administração Pública brasileira não será o simples resultado de modificações legislativas, por mais importantes que estas modificações sejam. Ela requer toda uma mudança de cultura, todo um novo aprendizado. Além disso, é preciso instrumentalizar medidas que partam do pressuposto de uma Administração Pública baseada em critérios regulatórios, normatizáveis, que sejam fiscalizados quando da implementação de políticas a atividades públicas voltadas para o espaço coletivo. Significa dizer, que o Estado e o mercado devem estar sob a possibilidade de regulação efetiva das práticas sociais, que podem ser denominadas, pelas ciências sociais de controle social. A par de existirem vários concepções de controle social, o importante é saber como aplicá-lo. Nesse sentido, Luiz Carlos Bresser Pereira, destaca as perspectivas institucional e funcional do controle social. Segundo este autor, sob uma perspectiva institucional existem três as formas de controle social: a) o Estado com seu sistema legal ou jurídico de normas e instituições que estabelecem os princípios básicos para os demais; b) o mercado, sistema econômico em que o controle social se realiza pela competição; e, c) a sociedade civil (estruturada) de grupos sociais defensores de interesses particulares, corporativos mas também de interesses públicos, mecanismos essenciais de controle. Na perspectiva funcional também se encontram três formas de controle: a) o controle hierárquico ou administrativo exercido dentro das organizações públicas ou privadas; b) O controle democrático ou social que se exerce em termos políticos sobre as organizações e os indivíduos; e, c) o controle econômico via mercado. A partir dessa perspectiva funcional dispõem-se de mecanismos de controle social mais difuso, automático ou mais concentrado e fruto de deliberação; ou do mais democrático ao mais autoritário: sistema jurídico, mercado, controle social (democracia direta), controle democrático representativo, controle hierárquico gerencial, controle hierárquico burocrático e controle hierárquico tradicional. Mas o princípio geral é o de que o mecanismo de controle social mais indicado seria o que fosse mais geral, mais difuso e mais automático. O mercado seria inicialmente o que ofereceria os melhores resultados com os menores custos, mas muita coisa escapa ao mesmo. A democracia direta ou o controle social vem em seguida como o mecanismo de controle mais democrático e difuso para controlar os comportamentos individuais, para controlar as organizações públicas, e no plano político concretizando-se através de plebiscitos ou referendos. O controle social das organizaçõespúblicas pode, na verdade, ocorrer de cima para baixo, de baixo para cima ou na horizontalidade. Nesse sentido, a democracia direta seria a ideal, mas somente podendo ser aplicada no plano local por meio de consulta popular para referendar ou orientar as decisões dos representantes democraticamente eleitos. Segundo Vera Sueli Storck, a reorientação do aparato administrativo do Estado deve estar calcada em duas variáveis: a) uma administração pública mais ágil em seus procedimentos e ações voltada para uma maior eficiência; e b) uma administração pública mais transparente – que impõe uma democratização do Estado. Para Adilson Dallari “o conteúdo do direito administrativo depende do caráter democrático ou autoritário, liberal ou intervencionista etc. da Administração Pública que estiver sendo por ele disciplinada, a qual, por sua vez, é condicionada pelo tipo de Estado ao qual pertence, não existindo, portanto, um direito administrativo universal”. Quanto às empresas privadas, os economistas são categóricos em afirmar que a principal garantia do bom desempenho é a concorrência. Se existe competição por produtos, as firmas que produzem 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 17 mercadorias de má qualidade, ou a preços demasiado elevados, abrem falência; se há competição por talento, as firmas que pagam mal, ou não cuidam de seus funcionários, não conseguem pessoas capazes, e por isto não conseguem competir, e acabam também expulsas do mercado. A palavra-chave, aqui, é a competição, que não se limita aos mercados convencionais. O discurso neoliberal sempre insiste em afirmar que o primado do mercado instala a competição. No entanto quando não há mercado propriamente dito, há sempre lugar para a instalação de mecanismos competitivos por recursos públicos, através de indicadores de desempenho, sistemas permanentes de avaliação e competição no oferecimento de serviços para o público. Alguns destes mecanismos podem ser automáticos, ou depender das preferências do público; outros dependem de procedimentos mais complexos de avaliação. Em comum, tanto as instituições públicas quanto aquelas privadas devem ter a preocupação de estabelecer as metas de prestação de serviços públicos de acordo com as efetivas demandas por parte dos usuários/consumidores e também com as condições sociais em que se inserem. Estabelecer critérios que possam aferir o nível de investimento, implementação e desenvolvimento e avaliação de resultados, são úteis para uma maior percepção do todo. Incluir os usuários/consumidores ao longo deste processo é uma das formas de valorizar a participação e fortalecer o controle social. O exemplo de participação dos cidadãos no processo de decisões administrativas se dá de vários modos, principalmente através do “direito de ser ouvido” que se efetiva através das consultas ou do referendum administrativo. Além disso, outros tantos instrumentos são postos à disposição dos cidadãos para o exercício de seus direitos de cidadania no confronto com a Administração Pública. Entre eles se acha a figura do ombudsman que é dotado de certo grau de independência e de poderes de investigação com capacidade de resolver conflitos não jurisdicionais. Também é reconhecido ao cidadão lançar mão do procedimento administrativo que realça uma diversidade de direitos fundamentais: direito de ser informado, direito de intervir (diretamente ou por meio de representante) nos procedimentos administrativos, direito de obter um provimento administrativo dentro de um tempo determinado, direito de conhecer as decisões administrativas e sua motivação, direito de acesso aos documentos públicos, etc. Para ilustrar o novo equilíbrio que se estabelece entre a Administração Pública e o cidadão, Sabino Cassese adota um modelo de comparação entre empresa privada e cliente. Enquanto no setor público o cidadão não tem liberdade de escolha porque a Administração Pública encontra-se em posição monopolística, no setor privado o cliente pode escolher um produtor ou fornecedor livremente; se a Administração Pública não cuida do próprio interesse e sim do interesse geral, as empresas privadas visam o lucro que, em última análise é o fim último de seu interesse e, uma entidade estranha (Parlamento, governo ou ambos) dirige-lhe a ação definindo a sua finalidade. Um outro aspecto a ser ressaltado quando se considera o desempenho das instituições diz respeito com o modo de prestação descentralizado para garantir a universalidade do acesso. A fragmentação da organização pública promove a fratura entre concepção, execução e acompanhamento dos serviços públicos. Isso acarreta um obstáculo ao cidadão comum, ao acesso à informação e aos próprios serviços. A perspectiva de recuperação da rede de serviços públicos, a criação de mecanismos de democratização do Estado e o avanço da recomposição e redirecionamento das prioridades implica pensar soluções para a organização e prestações dos serviços. Uma das formas encontradas para a democratização do acesso aos serviços talvez seja a descentralização administrativa, através de um sólido plano de regionalização de serviços públicos. As regionalizações do Estado, enquanto projeto de descentralização e racionalização, devem perseguir uma maior eficiência na utilização dos recursos, com o objetivo final de qualificar o atendimento da demanda por serviços públicos. Para que seja possível esta qualificação, torna-se necessária a readequação das estruturas regionais de apoio à gestão pública existentes, de forma a permitir a democratização do acesso aos serviços, bem como o controle social sobre a ação do Estado no âmbito das diversas regiões que o compõem. Assim, verifica-se a necessidade de implantação de novas estruturas administrativas, com a finalidade de facilitar o planejamento, acompanhamento e controle dos resultados das ações do Governo em todo 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 18 o Estado. Uma iniciativa de governo neste sentido deve avaliar a efetividade de sua ação através do grau de atendimento das demandas sociais às quais se destina. A alternativa a ser construída para garantir a democratização do acesso aos serviços está na aproximação do gestor público do beneficiário de sua ação e, também, concentrar serviços e unidades de atuação, imprimindo-lhes um padrão de prestação adequado e desejável do ponto de vista do usuário. Isso se obtém a partir do controle que este exerce sobre as ações. É importante definir quais as necessidades são mais prementes e como o poder centralizado poderá interagir diretamente com as comunidades, inovando no acesso e na forma de gestão para que esteja adequado à sua natureza e finalidades. Glória Conforto diz que:“...uma das principais diretrizes norteadoras do Estado moderno é a descentralização da atividade econômica, objetivando aumentar a autonomia dos estados e municípios na prestação dos serviços que lhes são próprios, reconhecendo a maior flexibilidade e capacidade de as instâncias mais próximas da população identificarem soluções criativas e eficazes para o seu adequado atendimento, além de articular-se com a iniciativa privada para o desempenho conjunto, ou delegado, de grande parte dessas atividades”. Na vigência do regime plenamente democrático, as formas de exercício da cidadania se afiguram como instrumento hábil para efetivar-se o controle social do Estado e do mercado. Como já não bastam os estreitos limites da democracia representativa como forma de atuação da sociedade, a democracia participativa alarga suas possibilidades de interação dos indivíduos e, principalmente dos diversos grupos sociais. Prova disso foi a manifestação de Marilena Lazzarini, Presidente da Consumers International, falando ao Banco Mundial, em Washington, em 4 de maio de 2004 sobre a participação dos consumidores. Na esfera dos serviços públicos, queatingem diretamente os cidadãos (usuários/consumidores) aumentam os níveis de participação que visam estabelecer mecanismos de controle social sobre os órgãos públicos e, também, sobre empresas privadas que, incumbidas ou delegadas pelo Estado passam a prestar esses serviços. Questões como qualidade, eficiência e custos acessíveis na prestação dos serviços públicos passam a ser temas de grande interesse que afetam a vida dos cidadãos e cada vez mais são discutidos. Um fator importante na prestação de serviços públicos é a valorização das comunidades e governos locais. Estabelecer uma clara política de descentralização na prestação de serviços públicos é muito valioso. Isso porque os usuários tem maiores condições de não só receber os serviços mas de atuar no seu controle através das várias formas de participação (conselhos populares, comissões paritárias, ouvidorias, etc.). Fluxo Real e Nominal A Circulação no Sistema Econômico4 O fluxo real, o fluxo monetário e o mercado são os elementos fundamentais do sistema econômico. O funcionamento desse sistema se caracteriza pelo permanente trânsito dos fluxos real e monetário, tanto no sentido do mercado como no sentido contrário. A circulação corresponde a esses fenômenos do sistema. Essa ideia de circulação no sistema econômico amplia-se com um outro conceito, o de sistema econômico fechado. O sistema econômico fechado é aquele que não mantém relações econômicas com outros sistemas. Nesse sistema econômico, todos os bens e serviços de consumo da produção das empresas são vendidos, não havendo formação de estoque. Dessa forma, o nosso sistema econômico será formado pelas empresas e pelas famílias. Outras reflexões podem ser feitas no estudo do sistema econômico em termos dessas duas entidades econômicas: família e empresas. Como estabelecer as interfaces e articulações entre família e empresa? 4 MOCHOR, F.; TROSTER, R. L. Introdução à Economia. São Paulo: Makron Books, 1994. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 19 Vejamos a seguinte situação: o aparelho produtivo contrata, junto às famílias, os fatores de produção (trabalho, capital etc.), originando-se aí o fluxo monetário. Por outro lado, o aparelho produtivo organiza os fatores de produção de que agora dispõe e estabelece o fluxo real, que equivale à oferta de bens e de serviços produzidos. Esses dois fluxos se encontram no mercado, onde as famílias trocam sua renda (ou fluxo monetário) pelo produto (fluxo real) para satisfazer suas necessidades. No mercado os fluxos trocam de mãos: o fluxo real passa para as mãos das famílias, onde será consumido (pois se trata de bens e serviços), enquanto o fluxo nominal passa para as mãos do aparelho produtivo, como pagamento pelos bens e serviços vendidos. O processo de circulação Essa movimentação dos fluxos é o processo de circulação do sistema econômico, imprescindível para que o sistema econômico cumpra o seu papel de produzir bens e serviços, fazendo-os chegar às pessoas para satisfazer suas necessidades. Uma representação de tal processo você pode conferir no seguinte esquema: Portanto, O Fluxo real da economia é aquele onde os indivíduos oferecem os fatores de produção às empresas que depois do processo de produção usando daqueles fatores de produção, oferecem bens e serviços à sociedade. Tem início nas empresas, quando estas recebem a remuneração pelos bens e serviços oferecidos. P = c+I onde: P = produto C = consumo I = investimento Sendo PRODUTO igual a RENDA, teremos: P = y c+I = c+s logo, I = s O Fluxo Monetário ou Nominal da economia envolve o pagamento de bens e serviços por parte dos compradores às empresas e a consequente remuneração dos fatores de produção. Sendo assim, tem inicio nas famílias, quando estas recebem a remuneração pelos meios de produção. Teremos: y = c+s É importante observar que, na realidade, os fluxos monetário e real estão, ao mesmo tempo, com as famílias e empresários e no mercado, não sendo necessário haver uma volta completa para que o ciclo se reinicie. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 20 onde: y = renda c = consumo s = poupança A união desses Fluxos forma o Fluxo Circular de Renda. Trabalhadores oferecendo sua força de trabalhos, sendo remunerados, pagam às empresas por bens e serviços consumidos. Lembrando que estamos considerando todos esses modelos "sem governo", ou seja, não estamos contabilizando a interveniência governamental, com investimentos ou tributos. Elementos Básicos da Oferta e da Procura Os mercados estão sujeitos a períodos de tempestade e de calmaria, e a evoluir constantemente. Um estudo aprofundado dos mercados revelará certas forças subjacentes aos movimentos aparentemente erráticos. Para compreender os preços e as quantidades em cada mercado, é necessário dominar a análise da oferta e da procura. A economia tem uma ferramenta muito poderosa para explicar essas variações no ambiente econômico. É a chamada teoria da oferta e da procura. Esta teoria demonstra com as preferências dos consumidores determinam a procura de bens pelos consumidores, enquanto os custos das empresas são a base da oferta de bens. Noções básicas da Oferta e da Procura Os mercados estão sujeitos a períodos de tempestade e de calmaria, e a evoluir constantemente. Um estudo aprofundado dos mercados revelará certas forças subjacentes aos movimentos aparentemente erráticos. Para compreender os preços e as quantidades em cada mercado, é necessário dominar a análise da oferta e da procura. A economia tem uma ferramenta muito poderosa para explicar essas variações no ambiente econômico. É a chamada teoria da oferta e da procura. Esta teoria demonstra com as preferências dos consumidores determinam a procura de bens pelos consumidores, enquanto os custos das empresas são a base da oferta de bens. Destaca-se que a evolução do estudo da teoria microeconômica teve início basicamente com a análise da demanda de bens e serviços, cujos fundamentos estão alicerçados no conceito subjetivo de utilidade. A utilidade representa o grau de satisfação que os consumidores atribuem aos bens e serviços que podem adquirir no mercado. Ou seja, a utilidade é a qualidade que os bens econômicos possuem de satisfazer as necessidades humanas. Como está baseada em aspectos psicológicos ou preferências subjetivas, a utilidade difere de consumidora para consumidor (uns preferem uísque, outros cerveja). A teoria do valor-utilidade contrapõe-se à chamada teoria do valor-trabalho, desenvolvida pelos economistas clássicos (Malthus, Adam Smith, Ricardo, Marx). A teoria do valor-utilidade pressupõe que o valor de um bem se forma por sua demanda, isto é, pela satisfação que o bem representa para o consumidor. Ela é, portanto, subjetiva e considera que o valor nasce da relação do homem com os objetos. Representa a chamada visão utilitarista, em que prepondera a soberania do consumidor, pilar do capitalismo. A teoria do valor-trabalho considera que o valor de um bem se forma do lado da oferta, por meio dos custos do trabalho incorporados ao bem. Os custos de produção eram representados basicamente pelo fator mão-de-obra, em que a terra era praticamente gratuita (abundante) e pouco significativa. Pela teoria do valor-trabalho, o valor do bem surge da relação social entre homens, dependendo do tempo produtivo (em horas) que eles incorporam na produção de mercadorias. Nesse sentido, a teoria do valor-trabalho é objetiva (depende de custos de produção). 2. Oferta e demanda. Preço e quantidade de equilíbrio. Efeito dos tributos diretos e indiretos sobre o sistema de preços 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 21 A teoria do valor-utilidade veio complementar a teoria do valor-trabalho, pois nãoera mais possível predizer o comportamento dos preços dos bens apenas com base nos custos da mão-de-obra (ou mesmo custos em geral) sem considerar o lado da demanda (padrão de gostos, hábitos, renda, e outros). Além disso, a teoria do valor-utilidade permitiu distinguir o valor de uso do valor de troca de um bem. O valor de uso é a utilidade que ele representa para o consumidor. O valor de troca se forma pelo preço no mercado, pelo encontro da oferta e da demanda do bem. Ao final do século passado, alguns economistas elaboraram o conceito de utilidade marginal e dele derivaram a curva da demanda e suas propriedades. Com isto, tem-se que a utilidade total tende a aumentar quanto maior a quantidade consumida do bem ou serviço. Entretanto, a utilidade marginal, que é a satisfação adicional (na margem) obtida pelo consumo de mais uma unidade do bem, é decrescente, porque o consumidor vai perdendo a capacidade de percepção da utilidade proporcionada por mais uma unidade do bem, chegando à saturação. O chamado paradoxo da água e do diamante ilustra a importância do conceito de utilidade marginal. Por que a água, mais necessária, é tão barata, e o diamante, supérfluo, tem preço tão elevado? Ocorre que a água tem grande utilidade total, mas baixa utilidade marginal (é abundante), enquanto o diamante, por ser escasso, tem grande utilidade marginal. A teoria da oferta e da demanda demonstra como as preferências dos consumidores determinam a procura dos bens, enquanto que os custos das empresas são a base da oferta. Do equilíbrio entre a oferta e a demanda resulta o preço e a quantidade transacionada de cada bem. Função da Procura A quantidade procurada de um bem depende do seu preço. Quanto maior o preço de um artigo, mantendo-se o resto constante, menos unidades as pessoas pretendem comprar. Quanto menos é o preço do mercado, mais unidades são adquiridas. Existe uma relação precisa entre o preço do mercado de um bem e a quantidade procurada desse bem, mantendo-se o resto constante. Esta relação entre o preço e a quantidade comprada é designada função da procura, ou a curva da procura. Curva da procura A representação gráfica da função da procura é a curva da procura. No eixo horizontal representa-se a quantidade procurada, e no eixo vertical representa-se o preço. A quantidade e o preço estão relacionados de forma inversa, ou seja, Q aumenta quando P diminui. A curva tem uma inclinação negativa. Esta propriedade é designada lei da inclinação negativa da procura. Lei da inclinação negativa da procura: quando o preço de um bem aumenta (mantendo-se o resto constante), os compradores tendem a consumir menos desse bem. De forma similar, quando o preço baixa, mantendo-se o resto constante, aumenta a quantidade procurada. A quantidade procura tende a diminuir com o aumento dos preços por duas razões. A primeira é o efeito de substituição. Quando um preço de um bem aumenta, é substituído por outros produtos similares. A segunda razão porque o aumento dos preços reduz as quantidades procuradas é pelo efeito rendimento. Este entra em ação pois, quando o preço sobe, ficamos de certa forma mais pobres do que anteriormente. Procura de mercado A procura de mercado representa a soma de todas as procuras individuais. A procura de mercado é observável no mundo real. A curva da procura de mercado é calculada, para cada preço, pela soma das quantidades procuradas de todos os indivíduos. Forças subjacentes à curva da procura 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 22 Um variado conjunto de fatores influencia a quantidade procurada a um dado preço: níveis médios de rendimento, a dimensão da população, os preços e a disponibilidade de outros bem relacionados, os gostos individuais e da sociedade e influências especiais. O rendimento médio dos consumidores Com o aumento do seu rendimento, os indivíduos tendem a comprar mais de quase tudo, mesmo que os preços não se alterem. A dimensão de mercado Os preços e a disponibilidade de bens relacionados A procura do bem A tende a diminuir se o preço do bem substituto B baixar. Gostos ou preferências Os gostos representam uma variedade de influências culturais e históricas. Podem refletir necessidades psíquicas e fisiológicas genuínas. Podem incluir desejos induzidos artificialmente e pode incluir uma forte dose de tradição ou de religião. Influências especiais Afetam a procura de bens específicos. E as expectativas acerca das condições econômicas futuras, em especial dos preços, podem ter um impacto importante sobre a procura. Custos de oportunidade A vida está repleta de escolhas. Dado que os recursos são escassos, temos que pensar constantemente o que fazer com o tempo e o rendimento limitado que possuímos. O custo de alternativa perdida é o custo de oportunidade de decisão. Num mundo de escassez, a escolha de uma coisa significa prescindir de qualquer outra coisa. O custo de oportunidade de uma decisão é o valor do bem ou do serviço que se prescinde. Segundo Burch & Henry5, foi Frederich Von Wieser quem deu origem à expressão “custo de oportunidade” para definir o valor de um fator de produção em qualquer uso que lhe fosse dado, sendo tal custo de oportunidade “a renda líquida gerada pelo fator (de produção) em seu melhor uso alternativo”. O conceito de custos de oportunidade pressupõe alternativa viável e, portanto, existentes para o consumidor ou para o empresário. Pressupõe, também, uma decisão efetiva sendo tomada e que, o sendo, acarreta o sacrifício/abandono de outras (s) que não foi o (ram). Assim, um consumidor x ao optar por alocar parte de sua renda em um bem A qualquer, deixou de fazê-lo em uma série de outros bens/serviços, que foram, portanto, alternativas abandonadas ou sacrificadas. Destas últimas a que maior satisfação lhe desse seria o custo de oportunidade de ter optado pelo bem A. A afirmação de que o “verdadeiro custo é o custo de oportunidade (o custo alternativo)” é encontrada em alguns textos. Verificando como um exemplo, onde o custo de oportunidade é estabelecido como o lucro da alternativa abandonada, suponha-se duas delas, ambas aceitáveis mas não possíveis de serem realizadas ao mesmo tempo: Alternativa A Alternativa B Receitas 100 120 Custos -80 -85 Lucro 20 35 O custo de oportunidade da alternativa A seria de $ 35 e o custo de oportunidade da alternativa B seria de $ 20. Foi apenas a aplicação das conceituações (Lembrando que a característica para mensurar o custo de oportunidade era o lucro o atributo escolhido) 5 Caderno de Estudos nº 02, São Paulo, FIPECAFI – Abril/1990. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 23 Definições: Demanda – A relação entre preços e as quantidades de um bem ou um serviço que os compradores estão dispostos a comprar em um dado momento. Benefício marginal – O aumento, nos benefícios totais, resultante da produção, compra ou consumo de uma unidade adicional. Custo marginal – O aumento, nos custos totais, decorrente da produção de uma unidade adicional. Custo de oportunidade – A alternativa mais valorizada de que se abre mão quando se escolhe algo; o valor da “segunda-melhor” escolha. Oferta – A relação dos preços aos quais os vendedores estão dispostos a ofertar determinadas quantidades de bens e serviços, em um dado momento. Trade-off – Uma escolha entre alternativas que revela o custo de oportunidade de se selecionar uma alternativa em detrimento de outra. Como há escassez (não podemos ter tudo que queremos) é necessário que cada indivíduo faça sua escolha, através da comparação entre os custos e benefícios das suas alternativas. No trade-off a escolha de um bem é a recusa do outro. A Teoria Elementar de Funcionamento do Mercado. O mercado funciona segundo o comportamento das pessoas em demandar bense serviços e por outro lado a necessidade de os produtores em ofertar os produtos e serviços necessários as pessoas. Teoria elementar da demanda Relações – Curvas de demanda Função de demanda, Procura ou demanda: considera-se o bem ou serviço que o consumidor deseja adquirir em um certo período de tempo. - Demanda é plano (visão de futuro) e não realização (ação atual do consumidor); não se deve confundir com compra (mas serve como a vontade do consumidor a adquirir bens ou serviços). - Demanda é fluxo por unidade de tempo. Demanda não depende só dos fatores de produção. Determinantes de procura individual: Preço do bem; Preço dos outros bens; Renda do consumidor; Gosto ou preferência do indivíduo. Cláusula do Coeteris paribus: tudo o mais permanece constante. Para analisarmos as situações econômicas de mercado devemos, como num laboratório, analisar algumas variáveis para realizar a conclusão sobre o mercado. Como no caso da demanda, existem vários fatores que influenciam na demanda, mas para analisarmos as variáveis principais devemos modelar a situação de demanda de mercado segundo algumas variáveis e não sendo possível analisar todas. Exemplo – vamos analisar somente a demanda com relação ao preço do produto e quantidade disponíveis no mercado, outras variáveis como: Preço dos outros bens; Renda do consumidor; Gosto ou preferência do indivíduo, a princípio não iremos modelar. Exemplo matemático-estatístico- para entender a demanda de mercado, o seja vamos analisar somente o preço de demanda em relação a quantidade demandada. Vamos lá então: Tabela n. 1 Demanda de celular x Preço do Celular Quantidade Demanda de Celular Preço demanda do Celular 1100 400 2100 300 3150 200 4200 100 A tabela n.01 - fornece na coluna um – as quantidades demandas dos produtos em determinado tempo e a coluna dois- os preços de demanda do produto neste mesmo tempo 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 24 Gráfico n 1 Demanda de celular x Preço do Celular Este gráfico representa o estudo da demanda em relação do tempo, ou seja, temos a quantidade demanda em relação aos preços de mercado, portanto como a lei da demanda diz que o preço é inversamente proporcional a quantidade demanda, podemos observar no gráfico que a função é decrescente, pois ela representa que quanto o preço de mercado de um produto diminui a quantidade demanda aumenta e vice-versa. Na representação gráfica podemos observar a função de demanda desta amostra de mercado que é exatamente: Preço de demanda (Y) = 504,80 – 0,0966. Quantidade demandada (X): Onde: a= 504,80 : coeficiente linear da demanda b= - 0,0966 : coeficiente angular da demanda – propensão marginal a demandar Observe a dica: portanto este modelo é utilizado para inferir sobre a população em estudos futuro sobre a demanda de produtos, neste caso de celular. Teoria elementar da oferta Relações – Curvas de oferta Oferta: quantidade de um bem ou serviço que os produtores desejam vender por unidade de tempo. Oferta é um desejo; não se deve confundir com venda. Hipótese da racionalidade: maximizador de satisfação (maximizar o lucro). Fatores determinantes: Quantidade ofertada do bem; Preço do bem; Preço de outro bem (existe livre mobilidade dos fatores de produção); Preço dos fatores de produção; Tecnologia; Expectativas. Tabela n. 2 Oferta de celular x Preço do Celular Quantidade ofertada de celular Preço oferta de Celular 1100 100 2100 200 3150 300 4200 400 A tabela n.02 - fornece na coluna um – as quantidades demandas dos produtos em determinado tempo e a coluna dois- os preços de demanda do produto neste mesmo tempo y = -0,0966x + 504,8 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 Preço x Qt demandada 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 25 Gráfico n 2 Oferta de celular x Preço do Celular Este gráfico representa o estudo da oferta em relação do tempo, ou seja, temos a quantidade demanda em relação aos preços de mercado, portanto como a lei da oferta diz que o preço é diretamente proporcional a quantidade ofertada, podemos observar no gráfico que a função é crescente, pois ela representa que quando o preço de mercado de um produto aumenta a quantidade oferta tende a aumentar e vice-versa. Na representação gráfica podemos observar a função de oferta desta amostra de mercado que é exatamente: Preço de Oferta (Y) = 4,7592 + 0,0966. Quantidade Ofertada (X): Onde: a= 4,7592: coeficiente linear da oferta – oferta autônoma - b= 0,0966 : coeficiente angular da oferta – propensão marginal a ofertar Observe a dica: portanto este modelo é utilizado para inferir sobre a população em estudos futuro sobre a oferta de produtos, neste caso de celular. Equilíbrio de mercado O preço em uma economia de mercado é determinado tanto pela oferta quanto pela procura. Demanda representa o desejo dos consumidores, e oferta o desejo dos vendedores. No ponto de interseção (PE) entre as curvas de procura e oferta existe uma coincidência de desejos. No ponto PE não existem pressões para alterações nos preços. Preço de Oferta (Y) = Preço de demanda (Y) 0,0966 X + 0,0966X = 504,80 + 4,7592 0,1932x =509,559 X= 509,559/ 0,1932 X= 2637,47 - ponto de equilíbrio y = 0,0966x - 4,7952 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 Preço x quantidade ofertada 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 26 Gráfico n 3 Equilíbrio - Oferta x Demanda Conceito de Excedente do Consumidor O que é excedente do Consumidor? Vamos agora analisar o Excedente do Consumidor que corresponde à diferença entre o montante que o consumidor estaria disposto a pagar por determinada quantidade de um bem e o montante que efetivamente paga. Esta situação ocorre porque o consumidor consome até ao momento em que a sua utilidade marginal iguala o preço de mercado. Desta forma, todas as unidades consumidas exceto a última apresentam utilidades marginais superiores ao preço. Conhecendo a curva da procura do bem em causa e o seu preço de mercado, é possível quantificar o excedente do consumidor para esse bem. A zona sombreada do gráfico abaixo, correspondente à área limitada pela curva da procura e pela reta do preço de mercado, representa o Excedente do Consumidor. knoow.net@gmail.com. y = -0,0966x + 504,8 y = 0,0966x - 4,7952 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 (PE) X= 2637,47 Ofe rta Dema nda 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 27 Observem com atenção a curva de demanda, em situações de não concorrência é possível às empresas reduzir este excedente e, teoricamente, é mesmo possível anulá-lo mediante da prática de preços diferenciados e perfeitamente ajustados à curva da procura. Efeitos dos tributos diretos e indiretos sobre o sistema de preços Todos nós sofremos o impacto da tributação em nossas vidas. Desde o nascimento até a morte dos homens eles estão presentes. Não é exagero: ao nascermos pagamos uma taxa pela emissão da certidão de nascimento (salvo se declararmos pobreza); ao morrermos pagamos (na verdade quem paga são nossos herdeiros) uma taxa pela emissão da certidão de óbito. Porém, durante todo o interregno das nossas vidas nos deparamos com a obrigação de pagar tributos. A razão é simples: o Estado precisa satisfazer as necessidades da coletividade e, para isso, precisa de dinheiro. Surge então a tributação como fenômeno idealizado pelo homem para financiar o Estado. Dentre as formas de financiamento da estrutura estatal, a tributação, sem dúvida, é a mais importante. A norma tributária é, por excelência, uma norma expropriatória (expropriação lícitapor parte do Estado). A aludida norma tem como comando principal uma ordem: “entregue dinheiro ao Estado”. Portanto, o fenômeno tributário é uma realidade das comunidades sociais há algum tempo. Inclusive, em outras épocas, como norma expropriatória que é, causou inúmeras revoltas. A independência americana teve como componente importante a tributação do chá – Boston Tea Party (“a tributação sem representação é uma tirania”); a inconfidência mineira, como movimento social, insurgiu-se contra a derrama (cobrança do quinto sobre a extração do ouro). Enfim, toda norma expropriatória, ainda que lícita, causa resistência. O importante é que o Estado saiba dosar o tamanho dessa expropriação. Hoje, para satisfazer as necessidades da coletividade brasileira, o governo retira da sociedade, anualmente, por intermédio da tributação, algo em torno de 37% do PIB nacional. Se assim é, o fenômeno da tributação impacta a eficiência do mercado, pois provoca movimentos na alocação e distribuição dos bens na sociedade. A instituição de tributos por parte do Estado, apesar de causar resistência por parte daqueles que são onerados com tal fenômeno, é fundamental para a sociedade, seja como fonte de receita, seja como instrumento de política econômica. Contudo, é viável tributar todos os fatos, todos os bens, todas as pessoas, todas as situações de fato existentes? Obviamente que não. Se a tributação provoca a retirada de dinheiro do particular para o Estado, somente eventos economicamente mensuráveis ou economicamente relevantes são índices para a tributação. O legislador tributário busca atingir, fatos, bens, pessoas e situações que revelem conteúdo econômico. Caso contrário, nada arrecadará. Portanto, a sociedade identifica na atividade econômica índices de riqueza adequados para fazer incidir as normas tributárias. Dentre eles, há um consenso que a renda, o consumo e o patrimônio são padrões ou parâmetros economicamente relevantes para se tributar. A renda revela um acréscimo de patrimônio, isto é, uma majoração de elementos patrimoniais num determinado espaço de tempo (acréscimo de bens e direitos). Por sua vez, o patrimônio representa a renda acumulada num certo lapso temporal. Por fim, o consumo é a renda não poupada, ou seja, é a renda sacrificada ou consumida (desculpem a tautologia). Verifica-se que a renda é um parâmetro bastante universal para a tributação. Sob diferentes perspectivas ela pode ser eleita pela sociedade como índice para a tributação. Tal fato pode ser demonstrado pelo denominado fluxo circular da renda e dos gastos na economia, de autoria do professor Richard Musgrave: 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 28 Por esse fluxo, vê-se claramente que apesar de alguns tributos aparentarem grandes diferenças, sob o ponto de vista econômico estas discrepâncias não existem. Por exemplo: talvez seja indiferente para o Estado optar por uma tributação sobre a renda nacional ou sobre a produção nacional (a arrecadação será semelhante); talvez seja indiferente aplicar impostos sobre os dispêndios de consumo ou sobre a renda nacional menos a renda poupada; talvez seja indiferente tributar os salários ou os dispêndios sobre o consumo etc. Diante disso, o legislador tributário irá escolher quais desses índices de tributação são os mais adequados, na comunidade social respectiva, para se tributar. Essa escolha deve ser efetivada mediante a elaboração de lei (representação popular) que irá instituir o tributo. Trata-se da incidência tributária sob o ponto de vista jurídico: incidência jurídica. Em outras palavras: a sociedade estipulará em lei quem deve pagar os tributos. Assim, a lei dirá: quem auferir renda deve pagar IR; quem circular mercadoria (comerciante) deve pagar o ICMS; quem industrializar produtos deve pagar IPI; quem solicitar um serviço público do Estado específico e divisível (por exemplo, emissão de passaporte) deve pagar uma taxa; quem for empregador ou trabalhador deve pagar uma contribuição para a seguridade social; quem for proprietário de imóvel urbano deve pagar o IPTU etc. Contudo, nem sempre aquele que consta da lei como contribuinte do tributo é que assumirá economicamente o respectivo ônus. Isto porque, apesar da norma estipular o sujeito responsável pelo pagamento da exação tributária (incidência jurídica), o encargo do tributo, na realidade, poderá ser assumido por um terceiro – comprador ou consumidor. É a denominada incidência econômica do tributo. Surge então a inevitável questão: quem efetivamente assume o ônus da tributação? A resposta nos é fornecida pela denominadas forças do mercado: demanda e oferta.6 Segundo os economistas a oferta e a demanda são as forças que fazem com que a economia funcione. Elas determinam a quantidade produzida dos bens e o respectivo preço de venda, ou seja, a oferta e a demanda revelam como os compradores e vendedores se comportam e como interagem entre si. A oferta ou quantidade ofertada de um determinado bem é a quantidade de bens que os vendedores desejam e podem comprar. A oferta segue, normalmente, uma regra: com a subida dos preços, a oferta aumenta. Daí dizer-se que a quantidade ofertada é positivamente relacionada com o preço. Num gráfico com duas coordenadas, preço (vertical) e quantidade (horizontal) a curva é para cima. A demanda ou quantidade demandada de um determinado bem é a quantidade de bens que os compradores desejam e podem comprar. A demanda segue, normalmente, uma regra: com a subida dos preços, a demanda cai. Daí dizer-se que a quantidade demandada é negativamente relacionada com o preço. Num gráfico com duas coordenadas, preço (vertical) e quantidade (horizontal) a curva é para baixo. Portanto, qualquer espécie de aumento ou instituição de tributo provocará um acréscimo no preço do produto. Nesse caso, restará saber quem assumirá o respectivo ônus: compradores ou vendedores? A 6 MOSQUERA. R. O. Sistema Tributário Nacional – Aula 1 (01.03) - Tributos e espécies na Constituição. Universidade de São Paulo - Curso de Graduação em Direito, 2012. Unidades Familiares Mercado de Fatores Mercado de Capital Mercado para bens de Capital Mercado para bens de consumo Investimento Renda das famílias Salários Dividendo s Lucros Folha de pagamentos Depreciação Pgto. aos fatores de produção Receitas brutas Rendimentos retidos Poupança das empresas Consu mo Poupança das famílias 1 2 3 4 5 76 9 1 0 8 1 1 Firmas 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 29 resposta para tal indagação dependerá das denominadas elasticidades das curvas de oferta e de demanda antes referidas. A elasticidade – preço da demanda dimensiona o quanto a quantidade demandada reage a uma mudança no preço. Já a elasticidade – preço da oferta mede o quanto a quantidade ofertada responde substancialmente a mudanças no preço. Nestes termos temos as seguintes opções, quanto à assunção dos encargos tributários numa eventual instituição ou majoração de tributos em determinado produto: Efeito de um imposto específico a ser pago pelo vendedor Neste caso a curva da oferta desloca-se para cima Efeito de um imposto específico a ser pago pelo comprador Neste caso a curva da demanda desloca-se para baixo7. Oferta e demanda – Conceitos Oferta perfeitamente elástica: A Quantidade Ofertada muda infinitamente com qualquer mudança nos preços. Oferta perfeitamente inelástica: A Quantidade Ofertada não varia com mudanças nos preços. Demanda perfeitamente elástica: A Quantidade Demandada muda infinitamente com qualquer mudança nos preços. Demanda perfeitamente inelástica: A Quantidade Demandada não varia com mudanças nos preços. 7 MOSQUERA. R. O. Sistema Tributário Nacional – Aula 1 (01.03) - Tributos e espécies na Constituição. Universidadede São Paulo - Curso de Graduação em Direito, 2012. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 30 Carga tributária suportada integralmente pelos compradores Oferta perfeitamente elástica - Demanda perfeitamente inelástica8 Carga tributária suportada integralmente pelos vendedores - Oferta perfeitamente inelástica 8 MOSQUERA. R. O. Sistema Tributário Nacional – Aula 1 (01.03) - Tributos e espécies na Constituição. Universidade de São Paulo - Curso de Graduação em Direito, 2012. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 31 - Demanda perfeitamente elástica Conclusão: a) quanto mais elástica a curva de demanda e menos elástica a curva de oferta, maior será o ônus tributário assumido pelos vendedores; b) quanto menos elástica a curva de demanda e mais elástica a curva da oferta, maior será o ônus tributário assumido pelos compradores. Vivemos numa economia mista em que as atividades econômicas são exercidas pela iniciativa privada e pelo Estado. A presença do Estado no dia-a-dia dos cidadãos é constante. Utilizamos hospitais públicos, estudamos em escolas do Estado, solicitamos prestação de serviços públicos específicos (emissão de certidões, documentos, etc), socorremo-nos dos serviços da justiça para dirimir conflitos intersubjetivos, trabalhamos em empresas estatais, recebemos auxílios públicos (aposentadoria, seguro-desemprego, programas assistenciais, etc), usufruímos de áreas de lazer do Estado (parques nacionais, praças, etc), utilizamos serviços de segurança (bombeiros, polícia civil, forças armadas, etc), somos impactados pelas decisões governamentais no campo econômico (câmbio, juros, etc). Dessa realidade do dia-a-dia surgem questionamentos acerca da eficiência do Estado na realização dessas atividades. Será que o particular não realizaria tais tarefas com mais competência? É necessário o Estado (governo) comprometer-se com tais obrigações? Qual deve ser o nível de intervenção do Estado na economia como um todo? A iniciativa privada, por intermédio do mercado, não seria suficiente para efetivar a satisfação das necessidades da coletividade? De forma radical, poder-se-ia perguntar: Estado, para quê? Governo, para quê? Todas essas indagações foram realizadas e investigadas pelos economistas no decorrer dos tempos e constituem a história do pensamento econômico. Contudo, em síntese, pode-se afirmar que, nos dias atuais, o Estado exerce papel importante numa economia de mercado. A economia não pode prescindir de sua atuação (Estado), uma vez que, em certas condições, os mercados e as empresas privadas não 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 32 conseguem conter determinados problemas econômicos relevantes (desemprego, deflação, inflação, aumento de preços, etc.), provocando a intervenção estatal. Ou seja, nesses casos os mercados não são eficientes. Tais eventos são denominados na economia de falhas do mercado. Atualmente predomina a ideia de que os mercados e as empresas privadas representam os pilares fundamentais da economia moderna; porém, o Estado exerce papel complementar importante ao atuar no sentido de sanar ou amenizar as referidas falhas do mercado. A discussão moderna acerca da presença estatal na economia reside, portanto, na intensidade de sua atuação, ou seja: qual o grau de intervenção do Estado no processo econômico?9 Eficiência Tributária – efeitos na economia da tributação10 Partindo do pressuposto que os mercados e a iniciativa privada, em condições ideais, são eficientes, faz-se necessário que se entenda o significado do termo eficiência para os economistas. Esse conceito foi introduzido na ciência econômica pela tradicional doutrina do bem-estar social (welfare economics) que se ocupa com a gestão da economia (o que deve ser produzido, como deve ser produzido, para quem é produzido e quem deve tomar essas decisões). Consideram-se eficientes as alocações de recursos que têm a característica de que é impossível melhorar a situação de uma determinada pessoa sem piorar a situação de alguma outra. Em outras palavras: dada uma alocação de recursos específica, esta será eficiente se não for possível uma nova alocação que melhore a situação relativa de alguém sem piorar a posição de outra. Esse conceito de eficiência econômica é denominado ótimo de Pareto ou eficiência no sentido de Pareto, em homenagem ao sociólogo e economista italiano Vilfredo Pareto (1848 – 1923). Na hipótese de se conseguir uma nova alocação de recursos que melhore a situação de alguém sem piorar a posição de outra pessoa, estaremos diante de uma melhora no sentido de Pareto. Ou seja, nessa hipótese, a alocação original era ineficiente. Com a nova alocação de recursos teremos a presença do conceito de eficiência econômica como exposto acima. Deve-se alertar desde já que não se deve confundir o conceito de eficiência econômica, com o de distribuição de renda, por exemplo. Eu posso ter uma alocação de recursos eficiente (no sentido de Pareto) e não equitativa (justa) no que se refere à distribuição da renda entre as pessoas (ex.: eu tenho R$ 1.000 de patrimônio e o meu vizinho tem R$ 10.000.000 - essa alocação de recursos é eficiente uma vez que é impossível uma nova alocação de recursos entre nós dois em que eu melhore e ele não piore. Já nesse caso, a distribuição entre nossos patrimônios não é equitativa). Posto isto, quando os mercados são ineficientes surge o Estado na tentativa de corrigir as denominadas falhas do mercado. A doutrina econômica, no decorrer dos anos, identificou algumas falhas do mercado, quais sejam: a) a concorrência imperfeita identificada nos mercados, b) a necessidade de prover bens públicos, c) as chamadas externalidades, d) a existência dos mercados incompletos, e) as falhas de informação do mercado, f) a ocorrência do desemprego, inflação e desequilíbrio econômico. Como vimos, o fenômeno tributário revela uma expropriação patrimonial dos cidadãos para que o Estado realize suas funções públicas. Dentre as formas de financiamento estatal, a tributação é nos dias atuais, sem qualquer dúvida, a mais importante. Se assim for, o fenômeno da tributação impacta a eficiência do mercado, pois provoca movimentos na alocação e distribuição dos bens na sociedade. Os economistas dizem que um dos tradeoffs (conflitos, dilemas, confrontos) que a sociedade enfrenta é entre eficiência e equidade (esta entendida no sentido de distribuição justa entre os indivíduos). Recordando alguns conceitos importantes: eficiência diz respeito à alocação de recursos escassos da forma mais maximizada possível, isto é, dos produtos escassos obtêm-se o máximo possível de utilidade para gozo por parte da sociedade; equidade diz respeito aos benefícios advindos dessa alocação de recursos iniciais, isto é, se essa alocação eficiente de recursos escassos foi realizada de forma justa (justiça distributiva). Numa linguagem popular eficiência refere-se ao tamanho do bolo econômico, enquanto equidade refere-se à divisão dos pedaços do bolo. Em linguagem mais singela ainda: da farinha, água, ovos, fermento, mão-de-obra e demais insumos para a produção do bolo de uma determinada festa conseguimos a melhor eficiência possível (foi produzido o maior e melhor bolo que se podia produzir com os respectivos insumos e o produto desse trabalho foi alocado entre as pessoas que estavam na festa de 9 MOSQUERA. R. O. Sistema Tributário Nacional – Aula 1 (01.03) - Tributos e espécies na Constituição. Universidade de São Paulo - Curso de Graduação em Direito, 2012. 10 CARRILHO; David Leite; et al. A TRIBUTAÇÃO ATUAL NO BRASIL E A CURVA DE LAFER: uma visão jurídico-econômica. Faculdades Integradas Vianna Júnior. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 33aniversário); porém, apesar de eficiente, tal alocação de recursos pode ter sido injusta (apenas cinco pessoas da festa comeram o bolo e as demais deixaram de ser servidas ou, ainda, todas receberam o bolo, porém em quantidade muito pequena, sendo que algumas não queriam comer bolo ou não gostavam de bolo de chocolate e as que gostavam não ficaram satisfeitas etc). Daí por que, na linguagem de Pareto, dada certa alocação de recursos esta será eficiente se for impossível uma nova alocação de recursos onde a situação de uma determinada pessoa melhore sem que a situação de outra piore. Eficiência na alocação de recursos e equidade na distribuição desses recursos nem sempre andam juntas; ao contrário, quase sempre entram em conflito (tradeoff) quando da estipulação das políticas públicas. A tributação, portanto, por retirar compulsoriamente patrimônio do particular para o Estado, influi na economia. A instituição de certo tributo pode desestimular o trabalho, a produção etc, pois o aumento do preço dos bens e serviços (pelo tributo) impacta as forças do mercado - demanda e oferta. Vimos anteriormente que um aumento de tributo (portanto, aumento no preço do produto) puxa a curva da demanda para baixo e a curva da oferta para cima. 11 Dependendo da elasticidade das referidas curvas o tributo será assumido pelos compradores ou vendedores. Quanto mais inelástica a curva da demanda e elástica a curva da oferta os tributos serão assumidos pelos compradores. Quanto mais elástica a curva da demanda e inelástica a curva da oferta os tributos serão assumidos pelos vendedores. Diante dessa constatação, os tributos são distorcivos, por excelência, porque incidem sobre índices que revelam comportamentos humanos (renda, consumo, patrimônio). Ao incidir sobre atos, fatos e situações de fato onde o homem está sempre presente, os tributos influenciam no comportamento dos agentes econômicos. Como consequência, o grande desafio do legislador tributário é provocar, por intermédio da norma de conteúdo fiscal, o menor impacto possível na economia e nos seus agentes. Há um consenso entre economistas e juristas que não é possível a instituição de tributos não-distorcivos, isto é, tributos que não influam no comportamento dos homens (ex.: se cobrássemos R$ 100,00 de todas as pessoas residentes em território nacional, independentemente de raça, sexo, cor, religião etc. – denominados tributos e transferências lump sum, ou, ainda, um tributo que incida sobre as pessoas que têm olhos azuis, castanhos, verdes etc). Os tributos não-distorcivos não dependem do comportamento dos homens e são aqueles que os homens não podem fazer nada para fugir da tributação (eu não posso mudar a cor dos meus olhos para fugir da tributação; eu não consigo fugir de uma tributação fixa em Reais que não está ligada a qualquer outra propriedade minha a não aquela correspondente a ser um ser humano). Da análise dos efeitos gerados pela tributação, a princípio são observados dois aspectos, que são: a) a formação de uma receita tributária que consequentemente cria as contraprestações emanadas da Administração Pública, e b) os ônus e distorções gerados pelos encargos administrativos que se abatem diretamente sobre o contribuinte. Diante desta contenda torna-se clara uma das ideias chave da tributação que é a ideia de Eficiência Tributária. Segundo Mankiw (1999): “... um sistema tributário é mais eficiente que o outro se arrecada a mesma quantidade de receita com menor custo para os contribuintes.”. Sendo assim, para um bom funcionamento de uma estrutura tributária é necessário que mediante uma dada receita tributária seja fornecida a maior quantidade alcançável de contraprestações, diminuindo-se assim o custo destas contrapartidas para o contribuinte. Segundo o entendimento do economista supracitado, para que um sistema tributário seja eficiente é essencial que seus encarregados evitem o chamado “Peso Morto”- redução no excedente total provocada pela redução do tamanho de um mercado abaixo de seu nível ótimo em decorrência de um imposto. Este conceito engloba, dentre outras coisas, as distorções do mercado geradas pelos tributos, pois os impostos alteram as decisões das pessoas em relação ao consumo, por exemplo, se o governo lança um imposto sobre as casquinhas de sorvete, as pessoas tomam menos sorvete e mais iogurte congelado, que é um substituto imediato do sorvete, ou, ainda, se o governo resolve aumentar os tributos sobre a renda, imediatamente cai o consumo de determinados bens considerados supérfluos, pois diminui-se o poder de compra dos trabalhadores, e, desse modo, modifica-se o quantum de mercado destinado a cada um de seus setores. Outra face do “Peso Morto” citado por Mankiw (1999) pode ser entendida partindo- se do exemplo de um mercado onde inexiste tributação. Neste exemplo, o excedente deste mercado é 11 MOSQUERA. R. O. Sistema Tributário Nacional – Aula 1 (01.03) - Tributos e espécies na Constituição. Universidade de São Paulo - Curso de Graduação em Direito, 2012. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 34 dado pela soma do excedente do consumidor (quantia que uma pessoa está disposta a pagar por todos os bens que consome menos a quantia que ela efetivamente gasta com o consumo) com o excedente do produtor, (quantia recebida por um produtor menos o que o produtor está disposto a receber) inexistindo, então, o peso morto. Ao se introduzir um tributo neste mercado, tem-se, por consequência, a diminuição dos excedentes do consumidor e do produtor, que decorre da criação de uma Receita Tributária, entretanto, o montante desta receita gerada é menor do que os montantes deduzidos dos excedentes do produtor e do consumidor. O excedente do mercado continua sendo encontrado através da soma do excedente do consumidor com o excedente do produtor. Pode-se notar que ocorre uma relativa redução do excedente deste mercado em relação ao valor encontrado antes de ser introduzido o tributo. A diferença entre o valor potencial do excedente e o valor fático deste excedente, ou seja, o valor encontrado sem a tributação e o valor encontrado após a tributação é o chamado Peso Morto. Utilizando-se destes conceitos Mankiw conclui que a tributação que recai sobre um bem, tendo ela incidência sobre o vendedor ou o comprador, afeta o mercado de forma a colocar uma discrepância entre o preço pago pelos compradores e o preço recebido pelos vendedores, então, quando o mercado se move para o novo equilíbrio, os compradores pagam mais pelo bem e os vendedores recebem menos. Assim, compradores e vendedores compartilham o ônus do imposto. O gráfico adiante demonstra, a figura do peso morto, bem como os efeitos da tributação sobre a economia. Um imposto sobre os compradores O sistema tributário brasileiro é muito complexo em virtude de vários fatores, como por exemplo: a grande quantidade de tributos que, a diversidade de normas e obrigações acessórias e o efeito “cascata” dos impostos e contribuições e, ainda, a alta incidência tributária sobre o valor agregado das empresas que gera aumento no índice de tributação sobre o consumo, afetando sensivelmente a sociedade como um todo. Além disso, com o desmantelamento de algumas empresas acarretam altas taxas de desemprego, o que aumenta ainda mais os índices de desigualdade social no Brasil. Portanto, verifica-se que a carga tributária brasileira sobre o consumo é regressiva, isto é, possui um peso mais expressivo para quem ganha menos e vice-versa. Dessa forma, quem possui maiores rendimentos, possui um menor ônus tributário sobre o consumo. Daí conclui-se a necessidade da redução da carga tributária que deve ser feita através de uma reforma tributária que de fato seja justa à maioria da população. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 35 Estruturas de Mercado12 A entradano mercado e a permanência exigem o conhecimento da estrutura (ou regime) do mercado, para, então, se utilizar o ferramental adequado de formação de preço. Vamos entender este tópico tendo em vista que cada mercado é composto de dois lados: oferta e demanda. As estruturas de mercado dependem essencialmente de três características: - Número de empresas (fornecedores) e consumidores (vendedores) que compõem o mercado; -Tipo de produto (grau de diferenciação); - Existência de barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado. Concorrência Perfeita Mercado competitivo (em concorrência perfeita): Mercados perfeitamente competitivos são mercados idealizados nos quais todas as empresas e todos os consumidores são pequenos demais para afetar o preço. Possui muitos vendedores e compradores, de modo que nenhum comprador ou vendedor individualmente consiga exercer um impacto significativo sobre os preços. Nesse mercado, pressupõe- se que os bens e serviços ofertados sejam todos iguais (qualidade, marca, rótulo, etc.). Não há barreiras de acesso para esse mercado aos novos empresários. As forças da Oferta e da Demanda determina tanto a quantidade vendida quanto o preço de um bem. Como compradores e vendedores em mercados perfeitamente competitivos devem aceitar o preço que o mercado determina, diz-se que são tomadores de preço. Competição perfeita é um mundo de tomadores de preço. Uma empresa perfeitamente competitiva vende um produto homogêneo (um produto idêntico ao produto vendido por outros na indústria). Ela é tão pequena em relação ao seu mercado que não consegue afetar o preço de mercado e simplesmente aceita o preço dado. Exemplo – quando o fazendeiro João vende um produto homogêneo como o trigo, ele o vende a um grande grupo de compradores pelo preço de mercado de $ 3 por hectare. Assim como os consumidores geralmente precisam aceitar os preços cobrados pelos provedores de acesso à internet ou pelos cinemas, as empresas competitivas também precisam aceitar os preços de mercado do trigo e do petróleo que produzem. Concorrência perfeita? 13 Numa situação de concorrência perfeita nenhuma empresa pode, por si só, influenciar o mercado. O conjunto das empresas é quem determina a oferta de mercado, a qual interagindo com a demanda, determina o preço de equilíbrio. Independentemente da quantidade que uma empresa produz, essa empresa terá obrigatoriamente que vender a sua produção ao preço determinado pelo mercado. O preço de equilibro é determinado pela interação entre oferta e procura, sendo a oferta o resultado da produção do conjunto das empresas existentes nesse mercado concorrencial. As principais características de um mercado de concorrência perfeita, são: grande números de empresas ofertando produtos substituíveis; inexistência de economia de escala (produção em larga escala); nenhuma empresa ou consumidor é suficientemente grande para impor preço, qualidade, tipo e outras condições - quem dita a regra é a lei da oferta e da procura - o senhor da situação é o mercado; vendedores e compradores ficam subordinados ao mercado. Numa estrutura de concorrência perfeita, devem prevalecer as seguintes premissas: mercado atomizado (composto de um grande número de empresas, como se fossem átomos); produtos 12 SAMUELSON, PAUL A.; NORDHAUS, WILLIAM D. Economia. 19 Ed – Porto Alegre: AMGH, 2012. Estrutura de Mercado. Disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CB0QFjAAahUKEwjBmYGos9vHAhWFgJAK HVl3AK8&url=http%3A%2F%2Fwww.professorsalles.com%2Farquivos%2Funijorge_conjuntura_economica_e_mercado%2F10_Estrutura_de_ Mercado_Tipos_de_Mercado.ppt&usg=AFQjCNEWxOzeJVO9Bhq54X_Y0Wb4qVwslA&sig2=6n44mY1zuElk9PHNePrYjg&bvm=bv.101800829, d.Y2I. 13 http://www.carlosescossia.com/2009/09/o-que-e-concorrencia-perfeita.html 3. Concorrência perfeita, monopólio, concorrência monopolista. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 36 homogêneos (não existe diferença entre os produtos ofertados pelas empresas concorrente); transparência de mercado (todas as informações sobre lucros e preços são conhecidos por todos os participantes do mercado). Atualmente não existe mercado tipicamente de concorrência perfeita. O mercado dos produtos hortifrutigranjeiros é o exemplo que mais e aproxima a esse tipo de mercado. O mercado da concorrência perfeita é o sonho ideal de todo economista liberal. Casos especiais de mercados competitivos 1- As regras gerais que se aplicam a oferta e demanda competitiva: sob a regra da demanda um aumento na demanda por um bem – mantendo a curva da oferta inalterada- geralmente aumentará o preço do mesmo e também a quantidade demandada. Uma diminuição na demanda terá o efeito oposto. Sob a regra da oferta, um aumento na oferta de um bem – mantendo a curva de demanda constante- geralmente diminuirá o preço e aumentará a quantidade vendida. Uma diminuição na oferta tem efeito contrário. 2- Análise dos mercados competitivos torna mais claro como organizar de forma eficiente a sociedade. Eficiência alocativa ocorre quando não há meio de reorganizar a produção e a distribuição de modo que melhore a satisfação de todos. Falando de outra maneira, uma economia eficiente quando nenhum indivíduo pode estar melhor sem fazer com que outro fique pior. Guarde que em Mercado em Concorrência Perfeita: -Existência de um grande número de vendedores e compradores; -O produto transacionado é homogêneo: -Há livre mobilidade de empresas no mercado (em termos técnicos isso significa que não existem barreiras para entrada e saída de empresas no mercado). -Pleno conhecimento (todos os agentes conhecem todas as condições do mercado todo o tempo). Qualquer estrutura do mercado que não a de concorrência perfeita constitui uma forma de concorrência “imperfeita”. De um lado, produtos idênticos oferecidos por um grande número de empresas. Neste caso, a concorrência entre os ofertantes é considerada perfeita. Do outro, um produto único, sem substitutos. Um único fornecedor. Um monopólio, portanto. Estes são os extremos no espectro das estruturas de mercado, sob as quais as empresas podem estar funcionando. É claro que não podem ser consideradas as únicas estruturas de mercado predominantes no mundo atual. Todas as estruturas que não se encaixam em uma concorrência perfeita devem ser consideradas no âmbito de uma concorrência imperfeita. Concorrência Imperfeita14 A concorrência perfeita é muito procurada, porém raramente encontrada. Quando o consumidor compra um automóvel Ford ou Toyota, hambúrgueres da McDonald’s ou da Burger King, computadores da IBM ou da Apple, está a lidar com empresas suficientemente grandes para influenciarem o preço de mercado. Ou seja, vivemos no o mundo da concorrência imperfeita. Definição de Concorrência Imperfeita Se uma empresa pode influenciar significativamente o preço de mercado dos bens que produz, então a empresa é classificada com um “concorrente imperfeito”. A concorrência imperfeita verifica-se num setor de atividade sempre que existam vendedores individuais que detenham alguma parcela do controlo sobre o preço da produção desse setor. A concorrência imperfeita não implica que uma empresa tenha o controle absoluto sobre o preço dos seus produtos. Considere o mercado das bebidas com cola, em que a Coca-Cola e a Pepsi em conjunto detêm grande parte da quota de mercado e onde se verifica claramente a existência de concorrência imperfeita. Se o preço médio das gasosas dos outros produtores do mercado for de 60 cêntimos, para a 14 Rechtern, M. A. Monopólio.Oligopólio,concorrencia perfeita e imperfeita, 2013. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 37 Pepsi é possível fixar o preço em 55 ou 65 cêntimos e continuar a seruma empresa viável. A empresa dificilmente poderá fixar o preço a 30 euros ou a 5 cêntimos a lata, pois com esses preços seria eliminada do setor. Vemos então que um concorrente imperfeito tem algum poder discricionário sobre os seus preços, embora não se trate de um poder total. O grau do poder discricionário sobre os preços varia de indústria para indústria. Em alguns setores de atividade imperfeitamente concorrenciais, o grau de poder de monopólio é muito pequeno. É importante reconhecer que a concorrência imperfeita não elimina uma rivalidade intensa no mercado. Os concorrentes imperfeitos lutam com frequência vigorosamente para aumentarem as suas quotas de mercado. A rivalidade engloba uma ampla variedade de comportamentos, desde a publicidade, que tenta deslocar a curva da procura, até ao desenvolvimento da qualidade dos produtos. MONOPÓLIO Até que nível de imperfeição pode a concorrência imperfeita chegar? O caso extremo é o monopólio: um único vendedor com o controle total sobre um ramo de atividade (que é designado por “monopolista”, a partir do grego, mono “um” e polist, “vendedor”). É ele o único produtor na sua indústria, não existindo qualquer indústria que produza um bem sucedâneo aproximado do seu produto. Monopólio é a exploração sem concorrente de um negócio ou indústria, em virtude de um privilégio. É a posse ou o direito em caráter exclusivo. Ter o monopólio é possuir ou desfrutar da exploração de maneira abusiva, é vender um produto ou serviço sem concorrente, por altos preços. Ter um monopólio é uma situação em que uma única empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço. É quando o mercado é dominado por uma estrutura monopolista e não pelas leis de mercado, garantindo-lhe super lucro. A maioria dos países possui um conjunto de leis para impedir a formação de monopólio. A existência do monopólio origina barreiras que impedem novas empresas de competirem, isso por que para estas se inserirem no mercado, exige-se destas um elevado montante de investimentos a fim de concorrer, pois se forem instaladas empresas pequenas, tão logo não conseguirão dar continuidade devido à concorrência desleal, é necessário que a competição seja igualitária, pois a empresa monopolista já está estabelecida em grandes dimensões e tem condições de operar com baixos custos; outra barreira são as patentes, que são protegidas pelo Estado, nenhuma empresa pode concorrer com outra sobre a proteção de sua patente; há um controle sobre o fornecimento de matérias-primas-chaves, empresas estabelecidas podem estar protegidas da entrada de novas empresas pelo seu controle de matérias-primas; a tradição no mercado que o produto já tem; e o lobby político, que por influências políticas surge um monopólio. Quanto a isso bem destaca Vasconcelos, Uma hipótese no comportamento do monopolista é que ele não acredita que os lucros elevados que obtém a curto prazo possam atrair concorrentes, ou que os preços elevados possam afugentar os consumidores; ou seja, acredita que, mesmo a longo prazo, permanecerá como monopolista. Evidentemente, para que está estratégia viabilize-se, deve ser um tipo de mercadoria ou serviço que não tem substitutos próximos. Vamos então ver algumas características predominantes: -único produtor -demanda da firma=demanda de mercado -produto sem substitutos próximos -a empresa determina o preço -existem barreiras ao acesso de novas firmas -lucros extraordinários -Ex.: exploração de recursos minerais; serviços de água; transporte. Monopólios surgem devido a características particulares de um determinado mercado, ou devido à regulamentação governamental. Sendo assim, temos dois tipos: Monopólio puro ou natural: ocorre quando o mercado, por características próprias exige elevado volume de capital. As empresas já instaladas operam com grandes plantas industriais, com elevadas economias de escala e custos unitários bastante baixos, o que possibilita a cobrança de preços relativamente baixos por seu produto, o que acaba sendo uma grande barreira para a entrada de novos concorrentes. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 38 Monopólio institucional ou estatal: são considerados estratégicos ou de segurança nacional. É quando o Estado é responsável pelo fornecimento de um bem ou serviço, a Petrobrás é um exemplo, mas pode ser relacionado também à energia, comunicação, entre outros. A situação de monopólio gera prejuízo principalmente para o consumidor que se vê sem saída em poder escolher por marcas ou empresas diferentes para consumir. Mas, é o Estado responsável por mediar essas relações, e ele pode fazer um controle econômico do monopólio, controlando preços e com políticas de taxação. Os verdadeiros monopólios hoje em dia são raros. A maioria dos monopólios persistem em virtude de alguma forma de regulação ou proteção estatal. Por exemplo, uma empresa farmacêutica que descobre um novo medicamento fantástico pode ter garantida uma patente que lhe dê o controle monopolista sobre esse medicamento durante um certo número de anos. Outro exemplo é o caso de serviços locais de concessionárias, como a empresa que distribui água até a casa de cada um. Nesses casos, existe de fato um único vendedor de um serviço, sem substitutos próximos. Um dos poucos exemplos de monopólios sem permissão do governo é o da Microsoft Windowns, que conseguiu manter o seu monopólio por meio de grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento e inovação rápida, economias de rede e táticas agressivas contra seus concorrentes. Porém, mesmo os monopolistas tem que estar sempre alertas para os potenciais concorrentes. No longo prazo, nenhum monopólio se encontra completamente livre de ser atacado por concorrentes. OLIGOPÓLIO Enquanto no monopólio não existe concorrência, o oligopólio é caracterizado por um conjunto de empresas que domina determinado setor da economia ou produto colocado no mercado. Em geral impõem preços abusivos e elimina a possibilidade de concorrência, através da aquisição de pequenas empresas. O termo oligopólio significa “pouco vendedores”. Poucos, neste contexto, podem ser 2, 5 ou 10 empresas. O aspecto importante do oligopólio é o de que cada empresa, individualmente, pode influenciar o preço de mercado. Os oligopolistas pertencem a duas categorias. Em primeiro lugar, um oligopolista pode ser um dos poucos produtores que produzem um bem idêntico (ou quase). Assim, se o aço de A, que abastece a área de São Paulo, é muito semelhante ao de B, então, a redução dos preços de B fará com que os consumidores abandonem A e passem a comprar B. Nem A nem B poderão chamar-se monopolistas. Contudo, se o número de vendedores for pequeno, cada um deles pode ter um efeito considerável sobre o preço de mercado. Pensa-se que este primeiro tipo de oligopólio é comum em atividades em que o produto é relativamente homogêneo e em que a dimensão das empresas é grande. A segunda espécie de oligopólio é caracterizada pela existência de poucos vendedores que vendem produtos diferenciados. Por exemplo, a indústria automóvel é dominada, pode-se dizer, por três ou quatros produtores. Ford, os Chevrolet, os Toyota e os Honda são produtos de certo modo diferenciados, devendo ainda suportar a concorrência de outras empresas menores, como a Fiat, a Chrysler e a Volvo. Sendo assim, temos as seguintes características a destacar do oligopólio: -existência de pequeno número de empresas dominando o mercado -produtos substitutos próximos (diferenciados: Ex.: automóveis; ou homogêneos: Ex.: alumínio e cimento) -preço fixada entre as empresas -concorrência extra-preço (propaganda, publicidade, promoções) -existência de barreiras à entrada de novas firmas -lucros extraordinários no longo prazo Ex.: indústria automobilística, de bebidas. Exemplo introdutório e conceitual - Tendência do mercado de telecomunicações é de oligopólio O Brasil é um exemploclaro da tendência do mercado mundial de telecomunicações, cada vez mais concentrado nas mãos de poucas empresas. Esse cenário de oligopólio limita a competição e as opções dos consumidores na hora de escolher o seu provedor de banda larga. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 39 “A oferta do acesso à banda larga15 é exageradamente concentrada, sobretudo considerando que a prestação do serviço está sujeita ao regime de livre concorrência”, afirma estudo do Ipea de 2009. Segundo dados da consultoria Teleco, que acompanha trimestralmente o mercado de banda larga no país, 92% das conexões são fornecidas por apenas quatro empresas: Oi, NET, Telefônica e GVT. A falta de alternativas causada pelo oligopólio diminui a possibilidade de o consumidor barganhar para conseguir um negócio mais vantajoso. No caso da banda larga, o banco de investimentos J. P. Morgan demonstrou, com dados de outubro de 2009, que, nas localidades onde a banda larga é oferecida apenas pelas empresas que são concessionárias de telefonia fixa (Oi e Telefônica, principalmente), o preço médio cobrado é de R$ 118. Esse valor cai pela metade (R$ 60) quando há a presença de outras duas concorrentes (geralmente a NET e a GVT). Some-se a isso o fato de que, no Brasil, além da grande concentração do mercado, a banda larga está disponível para poucos consumidores. Os pesquisadores do Ipea revelam que, dos municípios que têm acesso a banda larga, somente 361 (14%) têm a prestadora dominante com menos de 80% do mercado e em apenas 15 cidades (0,5%) a participação da empresa dominante é inferior a 50%. Ou seja, mais que oligopólio, na maioria dos locais se configura um monopólio, o que dá grande poder de mercado às empresas, inclusive para definir os preços. Isso sem falar dos locais que nem sequer têm o serviço disponível. “Não dá para imaginar que três ou quatro empresas possam, em termos de inovação, de dinâmica de mercado, resolver todas as demandas de empresas e famílias em qualquer país”, afirmou o consultor legislativo do Senado Igor Freitas. A falta de inovação também é citada pelo presidente da Telebrás, Rogério Santanna, como consequência do oligopólio. A causa seria a ausência de modelos de negócio para atender áreas e domicílios hoje excluídos do mercado, seja pelos altos preços, seja pela indisponibilidade do serviço. “O modelo atual está em crise pela inovação tecnológica. Mercados de cidades pequenas não são rentáveis porque essas empresas não consideram a inovação como recurso para encontrar negócio onde elas não acham. Três mil municípios estão condenados à desconexão eterna pelo mercado. As empresas não têm interesse em operar nessas cidades por não considerá-las rentáveis”, reclamou Santanna, no debate promovido pela CCT em maio de 2010. Em estudo de abril de 2010, o Ipea atesta que as características do mercado levam as operadoras a concentrar sua atuação nas cidades onde já existe infraestrutura de telecomunicações e em áreas onde os clientes têm grande poder aquisitivo. “As grandes cidades concentram a população com maior renda e, portanto, com maior disponibilidade de pagar pelo serviço e, pela maior densidade demográfica, o custo para instalação da infraestrutura é menor que numa pequena localidade do interior. Ao buscar maiores lucros e rentabilidade, as operadoras provocam uma forte concentração de mercado, que somente pode ser vencida à custa de políticas de 15 . Ipea de 2009. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 40 incentivo à massificação nas áreas mal atendidas”, afirma o Ipea sobre a outra consequência do oligopólio. Oligopólio com conluio O caso mais simples de oligopólio acontece quando todos os concorrentes vendem produtos similares e reconhecem que estão todos no mesmo mercado. Neste caso, os oligopolistas reconhecerão facilmente a sua “mútua interdependência” – acabando por concluir que têm de fixar os mesmos preços e que a vantagem inicial que obtém ao reduzir os preços será perdida quando o outro é obrigado, por sua vez, a reduzir os seus preços. Nesse caso as empresas podem procurar uma solução cooperativa, ou seja, um oligopólio de conluio. Assim, quando os oligopolistas podem estar em conluio completo ou quando têm em linha de conta a respectiva interdependência, o preço e a quantidade produzida podem ser próximos dos de um monopólio. Na realidade, há numerosos obstáculos ao conluio efetivo. Primeiro, o conluio é ilegal. Segundo, as empresas podem reduzem os seus preços a clientes selecionados aumentando deste modo a sua quota de mercado. Este resultado verifica-se particularmente em mercados em que os preços não conhecidos publicamente, ou em que as mercadorias são diferenciadas, ou em que o número de empresas é superior em algumas unidades, ou em que a tecnologia está a transformar-se rapidamente. Além do mais, quando a confiança entre os concorrentes se quebra é extraordinariamente difícil restabelecê-la, sendo possível que permaneça um comportamento de não conluio. Oligopólio de empresa dominante Em mercados onde a maior empresa controla 60 a 80 por cento do mercado, ela dispões de diferentes estratégias. A mais provável consiste simplesmente em ceder parte do mercado à franja concorrencial e então comportar-se como um monopolista relativamente aos 60 ou 80 por cento do mercado que controla. Tal mercado é conhecido como “oligopólio de empresa dominante”. Concorrência Monopolística No outro extremo dos oligopólios de conluio está a concorrência monopolística. A concorrência monopolística assemelha-se concorrência perfeita em três aspectos: há muitos compradores e vendedores; são fáceis a saída e a entrada no mercado, e as empresas consideram garantidos os preços das outras empresas. A distinção é que em concorrência perfeita os produtos são iguais, enquanto que na concorrência monopolística os produtos são diferenciados. A concorrência monopolística é muito comum – pesquise nas prateleiras dos supermercados, e verá uma estonteante variedade de diferentes marcas de cereais para pequeno-almoço, champô e alimentos congelados. Para a nossa análise o ponto importante é que a diferenciação do produto significa que cada vendedor tem alguma liberdade para aumentar ou baixar os preços, mais do que num mercado perfeitamente concorrencial. A diferenciação do produto leva a uma inclinação negativa na curva da procura de cada vendedor. O modelo de concorrência monopolística proporciona um importante esclarecimento: nos ramos de atividade de concorrência imperfeita, a taxa de lucro será nula, no longo prazo, à medida que as empresas entrarem com novos produtos diferenciados. Esta análise tem um bom exemplo na indústria de computadores pessoais. A princípio, alguns fabricantes de computadores, como a Apple e a Compaq, realizaram lucros elevados. Porém, verificou- se que a indústria de computadores pessoais tinha fracas barreiras à entrada e numerosas pequenas empresas entraram no mercado. Atualmente, há dezenas de empresas, cada uma com uma pequena quota de mercado de computadores, mas sem lucros que recompensem o seu esforço. Alguns críticos pensam que a concorrência monopolística é, por natureza, ineficiente, ainda que os lucros tendam para zero no longo prazo. Argumentam que a concorrência monopolística faz surgir um número excessivo de novos produtos e que a eliminação de produtos desnecessários poderia reduzir os custos e baixar os preços. A redução do número de concorrentes monopolísticos, ainda que fazendo diminuir os custos, poderia muito bem reduzir o bem-estar do consumidor por diminuir a diversidade dos bens e serviços disponíveis. Os países socialistas com planeamento central tentam uniformizar a produção num pequeno número de variedades, e isso deixou os consumidores bastante insatisfeitos. As pessoas estão disposta a pagar uma boa quantiapara terem liberdade de escolha. Na prática verifica-se uma sobreposição de todas estas diversas categorias de estruturas de mercado. Dispõem-se escalonadamente desde a concorrência perfeita, passando, em seguida, pelo caso de um 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 41 grande número de vendedores diferenciados e pelas duas espécies de oligopólio, até se chegar, finalmente, ao caso limite do monopólio. A relação entre inovação e o poder de mercado é complexa. O contributo substancial de muitas grandes empresas para a investigação e para a inovação certamente dá que pensar aqueles que gostariam de acabar com grandes empresas, ou que pretendem que a grande dimensão é uma imperfeição sem solução. Ao mesmo tempo, as pequenas empresas e os indivíduos isolados fizeram algumas das descobertas mais revolucionárias. Para promover a inovação rápida, uma nação deve conseguir adoptar uma grande variedade de abordagens e de organizações. É necessário deixar florescer as ideias às centenas. TIPOS DE INDICADORES 16 Para se efetuar uma classificação de indicadores, é preciso identificar a que tema ele está atrelado. A temática é o ponto de partida para o estabelecimento de um ou mais indicadores. Se o tema for educação, que tipo de indicadores permitirão demonstrar o desempenho das escolas, dos professores e/ou dos alunos? Ou, se o tema for saúde, quais os indicadores que permitiriam justificar a necessidade de investimentos em processos sanitários? Percebe -se que os temas podem ser escolhidos aleatoriamente de acordo com o objetivo da pesquisa. O Departamento de Estatística Ambiental da Organização das Nações Unidas – ONU apresenta um modelo, em conformidade com o IBGE, de temas relevantes que podem ser comparados com outros países, permitindo a análise de indicadores globais. Neste modelo há uma padronização com os seguintes temas: Meio Ambiente; Economia; Educação; Governo; Habitação Popular; Recreação; Utilização dos Recursos; Saúde; Segurança Pública; Sociedade; Transporte. Assim, é possível medir o desempenho de cada área, específica da gestão governamental, entre diversos países. Uma vez definido o tema a ser explorado, são estabelecidos os indicadores, que podem ser classificados em: simples ou compostos, quando decorrem de uma ou mais medições; específicos ou globais, quando buscam resultados para uma organização como um todo ou apenas um setor; direcionadores ou resultantes, quando fazem previsão de resultados ou indicam o que aconteceu. Enquanto medidores de desempenho, os indicadores são de grande valia para analisar questões de eficiência, eficácia e de impacto nas organizações. Na sequência será apresentado o tipo de indicador de sustentabilidade. SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA E ECONÔMICO E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE O indicador de sustentabilidade é diferente dos tradicionais indicadores econômicos, sociais e de desenvolvimento. Enquanto os indicadores tradicionais referem-se a mudanças ocorridas em uma determinada área ou tema, o indicador de sustentabilidade tem a ver com a realidade entre três ou mais segmentos intimamente relacionados. De acordo com o site www.sustainablemeasures.com, há uma inter-relação entre diversas partes de uma comunidade. Comunidade seria representada por uma teia que mostra a interação em um determinado ambiente econômico e social, conforme figura a seguir. 16 ALMEIDA, M. S. ESTUDO DOS INDICADORES ORÇAMENTÁRIOS DE SUSTENTABILIDADE: PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. CURITIBA, 2008. 4. Indicadores de sustentabilidade para a gestão tributária municipal. 5. Sustentabilidade financeira e econômica municipal. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 42 O indicador de sustentabilidade considera dois ou mais aspectos para se avaliar uma gestão, seja ela governamental ou não. Na figura acima se pode extrair que, por exemplo, o variável emprego (Jobs) afeta a taxa de pobreza (Poverty), que pode estar relacionada com a taxa de crimes (Crime) de uma sociedade. Da mesma forma, a saúde (Health) pode estar diretamente ligada à qualidade do ar (Air Quality) e a qualidade da água (Water Quality). Ocorre então uma interação entre diversos indicadores. É o caso do indicador GDP (Gross Domestic Product) que para o Brasil é descrito como PIB (Produto Interno Bruto). Ele é utilizado para estudos de macroeconomia e é representado pela soma de todos os bens e serviços finais produzidos em uma determinada região (país, estado ou cidade), durante um determinado período de tempo (mês, trimestre, ano, etc). Outro exemplo, é o caso do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que dá subsídios para o indicador de desenvolvimento da po pulação de uma determinada região em comparação com outra. O IDH, leva em consideração a riqueza, alfabetização, educação, expectativa de vida, taxa de natalidade e outros fatores, e tem como fundamento uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem estar de uma população. O IDH foi desenvolvido em 1990 por um economista paquistanês, Mahbub ul Haq, e é utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, desde 1993. Anualmente, os países membros da Organização das Nações Unidas – ONU são classificados e listados em melhor ou pior posição, conforme o índice alcançado. INDICADORES NA GESTÃO PÚBLICA Diferentemente da iniciativa privada, na esfera administrativa pública o resultado não é sinônimo de lucro. Esta é uma das diferenças entre o Público e o Privado. Mas, poder-se-ia apontar também que uma empresa pública jamais entra em processo de falência, o que não é verdadeiro para a empresa privada. Ou então, que a empresa pública é a casa da mãe Joana, referindo -se a um brocardo popular, significando que todo mundo usa e abusa sem a contrapartida da responsabilidade. Enfim, quando se analisa uma e outra, pode -se dizer que ambas são administradas por pessoas que possuem instintos equivalentes, como por exemplo, o de sobrevivência. A diferença é que a empresa pública administra um bem público, comum a todos, e a empresa privada existe para administrar o bem de seus proprietários. Talvez aí esteja a salutar diferença, ou seja, até que ponto o gestor público se preocuparia com a coisa pública, já que, a princípio, não lhe pertence diretamente? Se os indicadores utilizados para a avaliar a gestão privada buscam um equilíbrio da empresa para que ela não deixe de existir, e para isso pensa-se em lucro, na esfera pública o maior bem a ser mantido e a manutenção do Estado. É ele que garante a segurança e a manutenção da ordem entre as pessoas em sociedade. Sem o Estado não há garantia de que as pessoas convivam harmoniosamente. Os fins de um Estado são manter o próprio Estado, ou seja, sem o Estado não há a garantia do bem comum e, consequentemente, as pessoas viveriam em constante conflito. Isto explica a necessidade de o Estado garantir a ordem e a segurança por meio de seu poder de coerção, que é o poder de exigir que a sociedade viva de acordo com as normas, sendo punida quando as infringir. Após estas considerações sobre as características de um Governo, é necessário perceber que a gestão pública tem a ver com tudo aquilo que se refere ao atendimento das necessidades das pessoas para as quais ela presta um serviço, ou seja, a garantia de educação, saúde, segurança, emprego, renda, etc. Portanto, os indicadores surgem dos temas a que estejam relacionados. Então, na gestão pública (seja na esfera municipal, estadual ou federal) poderá existir uma infinidade de indicadores, os quais não possuem ainda uma padronização, já que estão atrelados à realidade de cada localidade pública. INDICADORES UTILIZADOS PELOS ÓRGÃOS DE CONTROLE EXTERNO E INTERNO 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 43 A Administração Pública tem sido alvo de críticas ao longodo tempo, especialmente na questão da aplicação dos recursos públicos. São muitas as gestões em que o processo político eleitoral permite fenômenos conhecidos como os de corrupção em que o patrimônio público muitas vezes é dilapidado. Não fosse somente esta questão, também se tem os investimentos em saúde, educação e segurança, que durante as campanhas eleitorais são assuntos de palanque mas no dia a dia representam algo difícil de concretizar. Todo o serviço de natureza pública existe em função da necessidade de se manter o Estado. Estado forte significa sociedade forte e para isto, líderes são necessários. São eles, os líderes, que têm a responsabilidade de motivar os agentes públicos para a efetivação dos serviços públicos, envoltos de eficiência e economicidade. Esse líder, político ou não, precisa estar bem amparado na questão de planejamento estratégico. Se ele tem um bom plano de ação e uma boa equipe para concretizá-lo, resta o jogo de cintura político para lidar com partidos de oposição e outras questões de natureza política, que não serão exploradas neste trabalho. Mas a sociedade não pode ficar sempre a espera de um bom líder e mesmo de uma boa equipe. Há gestões que deixam a desejar quanto à responsabilidade com o patrimônio público, e para evitar com que os maus líderes tenham liberdade para arruinar a sociedade que os elegeu, têm-se, atualmente, mecanismos jurídicos legais que ditam como deve ser conduzida a Administração Pública. A exemplo disto, na data de 04 de maio de 2000, foi editada a Lei Complementar Federal nº 101, Lei de Responsabilidade Fiscal com a finalidade de estabelecer normas de finanças públicas voltadas para uma gestão pública baseada em ações planejadas e transparentes, em que se previnam riscos e corrijam desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultado entre receitas e despesas, dentre outras. Percebe-se que esta Lei surgiu da necessidade de se melhor controlar o bem público. Ela dita normas para toda a Administração Pública, portanto, clama por controle de tudo aquilo que existe com base no investimento da sociedade – mediante pagamento de tributos – em seu bem estar. Para que se acompanhe a execução orçamentária de órgãos e/ou entidades públicos são necessários sistemas de controle que permitam uma uniformização de dados para que se possa trabalhar com parâmetros de indicadores de governabilidade. A lei de responsabilidade fiscal veio para dar rumo à transparência com os gastos e com os investimentos públicos. Mas a quem caberia a fiscalização, ou seja, o controle dos indicadores de responsabilidade fiscal? A resposta está na atuação dos órgãos de controle externo. Os órgãos de controle externo possuem autonomia e independência e possuem competência para examinar atos da administração pública. Poupança e investimento17 Poupança Poupança = Rendimento ‐ Consumo A poupança, nada é mais do que retirar parte do rendimento de circulação para uma posterior utilização, em períodos mais proveitosos para a pessoa, empresa ou país em questão. A poupança dá origem à formação de capital desde que seja utilizada em investimento, pois é este que permite a manutenção do processo produtivo. A formação de capital fixo é crucial no crescimento e no desenvolvimento duma economia. Afinal, é esse capital fixo que aumenta e assegura a capacidade produtiva da economia. Notemos que a formação de capital exige o sacrifício do consumo. Se todo o produto nacional for aplicado em bens de consumo, se não fizermos aquisições de bens de capital fixo, não haverá formação de capital e o próprio capital fixo existente diminuirá de valor, por não ter sido, sequer, compensada a depreciação (desgaste) do capital utilizado na produção. Para haver investimento é necessário haver, em contrapartida, uma certa parcela de rendimento nacional não aplicada em consumo, isto é, poupada. 17 CARVALHO, Fernando J. Cardim de. INVESTIMENTO, POUPANÇA E FINANCIAMENTO. FINANCIANDO O CRESCIMENTO COM INCLUSÃO SOCIAL. IE/UFRJ. 6. Investimento e poupança. Renda de equilíbrio. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 44 Investimento O investimento constitui o motor do desenvolvimento económico e depende em grande da poupança realizada pelo país. Hoje em dia, um dos grandes problemas de diversas economias reside precisamente na dificuldade que estas têm em realizar poupanças, devido aos seus baixos rendimento. A retomada do crescimento da economia brasileira passa pela recuperação de sua taxa de investimento. É impossível a qualquer economia acelerar seu crescimento sem que uma parcela significativa dos recursos da sociedade sejam dedicadas à acumulação de capital produtivo. Esta taxa de acumulação (formação bruta de capital fixo como proporção do PIB) tem sido pífia no Brasil. Esta taxa seria pífia mesmo se evitarmos comparações com os países mais dinâmicos, como os asiáticos, que chegaram a investir consistentemente acima de 30% de seu PIB. As fontes de acumulação de capital de que podem dispor as economias dos diferentes países, podem ser internas ou externas, consoante são geradas, respectivamente, dentro ou fora do país. Nos países mais desenvolvidos os investimentos realizam-se, fundamentalmente, à custa das fontes internas de acumulação. Com efeito, a poupança privada (das famílias e das empresas) e a poupança pública (da Administração Pública), dão origem, respectivamente, ao investimento privado e ao investimento público, que constituem as fontes de acumulação de capital mais importantes dessas economias. Já nos países subdesenvolvidos o investimento realiza-se, fundamentalmente, à custa das fontes externas de acumulação. A poupança pode ter várias aplicações, como o entesouramento, o investimento e a colocação financeira. Investimentos produtivos são decisões difíceis, cercadas de incertezas, especialmente em economias de mercado. Os recursos comprometidos podem ser elevados, os riscos são altos de que inovações tornem obsoletas amanhã as opções feitas hoje, o valor de recuperação de equipamentos em mercados secundários é baixo ou nulo. Deste modo, a decisão de investir tem que ter como indutores expectativas de retorno bastante favoráveis, de modo a compensar os custos desta opção, quando comparada, por exemplo, com aplicações muito mais cômodas e seguras (pelo menos para o indivíduo, senão para a sociedade) como títulos financeiros (no caso brasileiro, especialmente títulos de dívida pública), ou ativos de raiz, como imóveis. O estimulo a investimentos produtivos deve ser discutido, assim, em termos de dois grupos de variáveis. As variáveis de indução e as de viabilização. A identificação das variáveis relevantes em cada grupo pode levar à formulação de políticas eficazes na promoção de investimentos, mas não se pode perder de vista que a decisão de investir exige tanto indutores quanto viabilizadores adequados, simultaneamente. É inútil prover investidores dos meios para investir, se não houver o estimulo, a razão para tanto. Do mesmo modo, não adianta criar estímulos ao investimento se não se puder oferecer os meios para que decisões possam ser concretizadas. O mais importante indutor de investimentos produtivos em uma economia de mercado é a expectativa de que lucros resultem da operação dos bens de investimentos adquiridos. Para que uma decisão de investir possa ser lucrativa, é necessário que o empresário espere que a demanda por seus produtos cresça o suficiente para absorver a produção que virá a obter da operação dos novos equipamentos. Sem esta expectativa de demanda crescente, não haveria razão para ampliação das facilidades de produção. A política econômica deve ser um importante suporte de expectativas favoráveis ao investimento ao comprometer-se com a manutenção do pleno emprego e com a garantia de um nível mínimo de demandaagregada suficiente para sustentar os lucros das empresas. Políticas macroeconômicas voltadas apenas para a garantia de um ambiente de estabilidade de preços, em que as autoridades mostram-se muito mais prontas a reprimir as energias da sociedade do que em estimulá-las, como tem sido a prática brasileira desde os anos 90, persistindo assim neste início de século, entorpecem a inclinação a investir ao reprimir praticamente todos os componentes da demanda agregada. Políticas fiscal e monetária contracionistas reduzem o emprego, fazendo cair a demanda de consumo, removendo, por sua vez, estimulo a novos investimentos, reduzindo ainda mais o emprego, em um círculo vicioso ao qual o único elemento a escapar, pelo menos até recentemente, quando se permitiu a revalorização acentuada do real, foram as exportações. A política macroeconômica deve almejar alcançar a estabilidade macroeconômica, e não apenas a estabilidade de preços, como parece ter sido o entendimento de membros mais conservadores dos últimos governos. Estabilidade macroeconômica significa buscar não apenas níveis adequados de inflação, mas também de emprego e de produto. A experiência histórica mostra que uma visão estreita de estabilidade conduz apenas ao declínio e à estagnação, não à retomada de investimentos e do crescimento, porque remove os incentivos que induzem empresários a acumular capital produtivo. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 45 Dentre os elementos viabilizadores da decisão de investir o mais importante é, certamente, a disponibilidade de recursos que permitam ao empresário adquirir os bens de investimento necessários. A questão do financiamento do investimento tem várias dimensões. A mais óbvia é a própria disponibilidade de recursos financeiros que possam ser acessados pelas empresas. Pode ocorrer que os recursos disponíveis estejam sendo absorvidos em outros canais que não o investimento produtivo. Pode ser que existam recursos, mas as instituições financeiras prefiram retê-los consigo, como em situações, por exemplo, de extrema incerteza sobre os caminhos da economia, em que a preferência pela liquidez (retenção de meios de pagamento) sobe drasticamente. Pode-se ainda conceber situações em que os recursos possam ser acessados pelas empresas com planos de investimento, mas a custos (em termos de taxas de juros ou de exigências de garantias) que inviabilizem a aplicação. Pode ser, ainda, que recursos possam estar disponíveis em um dado momento, a custos não-extorsivos, mas em prazos, ou através de veículos que representem, para as empresas tomadoras, riscos excessivos para o futuro (quando, por exemplo, crédito é oferecido, mas apenas para prazos curtos, sem que se possa garantir que sua renovação futura se completaria em condições compatíveis com o desempenho da empresa tomadora). A viabilização do investimento tem sido usualmente discutida em termos não da disponibilidade em condições adequadas de recursos financeiros, mas de disponibilidade de poupança, e, mais particularmente, de poupança privada doméstica. Esta perspectiva é errônea em seus efeitos sobre a economia, através das políticas que induz. Poupança é menos um problema por seu volume, que por sua estrutura, que tem a ver menos com hábitos da população que com as estruturas do mercado financeiro. “Poupança externa”, por sua vez, é quase inteiramente (exceto em situações em que as demandas de recursos para investimento é tão intensa que a economia é levada para além do pleno emprego) um problema de preços relativos (particularmente, da taxa de câmbio). O financiamento da atividade econômica Existem diversos tipos de investimento produtivo. O investimento produtivo tem por objetivo imediato o aumento ou melhoria da produção. Podemos, então, considerar o investimento destinado à substituição dos equipamentos antigos, quando, por exemplo, se compram novas máquinas, o investimento destinado ao aumento da capacidade produtiva, quando, por exemplo, há o alargamento das instalações e o investimento destinado à modernização da economia, para que esta possa usufruir do progresso técnico, por exemplo, investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D), gastos em formação profissional, etc. O investimento desempenha, portanto, um triplo papel: substitui equipamento usado, aumenta a capacidade produtiva e integra o progresso tecnológico. Estas funções estão quase sempre interligadas, pois o investimento de substituição também o é, normalmente, de modernização. Com efeito, quando se substitui um equipamento, substitui-se por outro mais moderno e a modernização, por sua vez, permite, em regra, um aumento da capacidade produtiva. Para além do investimento produtivo fala-se, muitas vezes, no investimento financeiro. Este consiste, geralmente, na aquisição de valores mobiliários (por exemplo, ações e obrigações) com o objetivo de obter um rendimento. Os meios financeiros de que necessitam as empresas para realizar o seu investimento podem ser obtidos dentro da empresa, isto é, quando utiliza os seus próprios recursos no investimento (auto financiamento) ou fora da empresa, quando esta recorre a empréstimos (em especial das Instituições de Crédito) ou recorre ao mercado financeiro. Mas a decisão de investir na formação de capital por parte do agente económico empresas é condicionada por diversos fatores como a rentabilidade esperada (nas decisões de investimento as empresas entram em linha de conta com a taxa de lucro que esperam obter), as previsões (quanto ao futuro da economia do país, quando se prevê uma evolução positiva do mercado), a situação financeira da empresa (situação sólida), o custo relativo do capital e do trabalho (se o custo do fator trabalho aumenta mais do que o custo do fator capital as empresas preferem automatizar a produção, substituindo o trabalho pelo capital, desde que tecnicamente possível). Investimento e Poupança Há cerca de 70 anos, duas posições polares se confrontam no debate sobre a relação entre investimento e poupança. A primeira delas é a visão clássica, segundo a qual para que haja investimento, é necessário que surja previamente a poupança correspondente. Investimento é um dos dois destinos possíveis dados ao produto social (em uma economia considerada, por simplificação, sem relações externas e sem governo), 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 46 concorrente ao consumo. Para que possa haver investimento, os agentes econômicos devem abster-se de consumir todo o produto social. O excedente da renda sobre o consumo é a poupança. Na visão clássica, a abstenção de consumo é vista como um sacrifício, que só terá lugar se o consumidor tiver a expectativa de ser recompensado pelo ato de poupar. Esta recompensa é a taxa de juros, entendida, portanto, como o excedente de produto a ser obtido numa data futura em troca do sacrifício de consumo sofrido no presente. A poupança é, assim, uma função da taxa de juros. Para que o sacrifício presente possa render um consumo maior no futuro, contudo, é preciso que o produto se expanda, o que é resultado da atividade de investimento. Dos frutos do investimento é que deverá sair a remuneração do poupador. Quando maior a remuneração a ser paga ao poupador, menor será o incentivo ao investidor para realizar o esforço de acumulação de capital necessário para que o produto social cresça. Uma economia estará em equilíbrio quando a taxa de juros for tal que o que os poupadores decidam poupar, dada a remuneração que esperam receber, for compatível com o que os investidores aceitam pagar por aquele volume de recursos. As variáveis relevantes na construção clássica são todas reais: poupança e investimento referem-se a parcelas do produto social e a taxa de juros é o resultado da comparação entre duas cestas de bens: aquela de cujo consumo se abre mão no presente e aquela que será obtida no futuro em retorno. Aexistência de um sistema financeiro não muda as variáveis fundamentais do modelo. Mercados financeiros podem facilitar (ou dificultar) as relações entre poupadores e investidores, mas não podem mudar sua natureza, nem alterar a taxa de juros que compatibiliza os planos de ambos os grupos. A oposição a esta visão foi iniciada por Keynes. Para Keynes, a poupança, ao invés de se constituir no pré-requisito do investimento seria, na verdade, seu resultado, em uma economia por ele chamada de monetária ou empresarial. Nestas economias, a decisão de investir depende não da disponibilidade de produto não-consumido, mas de financiamento, isto é, acesso a meios de pagamento. A produção de bens de investimento será efetuada em resposta a uma demanda por estes tipo de bens. Para isto, o que é necessário é que o sistema financeiro (e bancário, em particular) sejam capazes de gerar e colocar nas mãos dos investidores os meios de compra necessários para que as encomendas possam ser feitas aos produtores de bens de investimento. Uma vez que as firmas que produzem estes bens se deparem com a demanda dos investidores, elas contratarão os trabalhadores necessários para produzi-los e acionarão seu parque produtivo. Deste modo, até o limite do pleno emprego dos trabalhadores (e da plena ocupação de capacidade produtiva), na visão de Keynes o investimento poderá ser realizado sem qualquer necessidade de prévia existência de poupança. Ao contrário, a poupança será gerada como resultado do investimento, já que a forma que este toma é a do conjunto de bens cujo destino não pode ser, por sua própria natureza, o consumo. Portanto, o produto que será gerado em resposta à demanda de investimento será necessariamente produto não-consumível, poupança consequentemente. A visão keynesiana propõe que para viabilizar investimentos o que é necessário é que o sistema financeiro seja capaz de responder às demandas por liquidez colocadas pelas empresas que desejam investir. Não se trata, porém, apenas de criar meios de pagamento. Keynes advertiu que este é apenas o primeiro passo, ainda que fundamental. Investir é comprar ativos, frequentemente de duração média ou longa. Isto significa que a amortização dos investimentos consumirá um certo número de períodos de produção. Uma empresa, portanto, não poderá saldar os compromissos incorridos para a realização de investimentos em períodos curtos. O perfil do financiamento deve ser compatível com o perfil de amortização dos bens de investimento. Assim, se em um primeiro momento, a demanda que se coloca ao sistema financeiro é a disponibilização de meios de compra, em um segundo coloca-se a necessidade de transformação dos créditos obtidos inicialmente, usualmente de curto prazo, em obrigações de duração equivalente à dos ativos. Segundo Keynes, também aqui não se trata de poupar ou não, mas de oferecer os canais de financiamento de longo prazo adequados (na linguagem usual, de consolidar as dívidas de curto prazo em funding adequado). Em suma, a visão keynesiana, em contraste com a visão clássica, enfatiza restrições financeiras sobre a demanda por investimentos, em contraste com a visão clássica, que focaliza o comportamento dos poupadores como condição para a realização de investimentos. No que se segue, a perspectiva adotada é a keynesiana, centrada no papel dos mercados e instituições financeiras na viabilização do investimento e do crescimento econômico. Não se toma poupança como restrição, exceto quando a economia já estiver em seu ponto de pleno emprego e, portanto, a elasticidade do produto for efetivamente zero, tornando impossível que se cresça 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 47 sem que o consumo diminua. Adotando-se a perspectiva keynesiana, não se nega, portanto, que restrições de poupança possam se tornar operativas, mas se supõe que elas apenas o sejam em condições específicas, que não correspondem ao estado atual da economia brasileira, nem parecem se colocar no futuro previsível. Por outro lado, a absorção de poupança externa não sugeriria uma carência de poupança interna, como alguns argumentam. Poupança externa, denominação que se dá a déficits de transações correntes do balanço de pagamentos, tem tido menos a ver com restrições de renda do que com preços relativos. Taxas de câmbio sobrevalorizadas aumentam a demanda por bens e serviços importados (reduzindo a demanda externa por bens produzidos localmente) e, portanto, por definição, aumentam a poupança externa. Esta não emerge, assim, em resultado da incapacidade de se gerar domesticamente a poupança necessária a financiar o investimento, mas sim da redução de competitividade local face ao exterior. Em resumo, dados os indutores adequados ao investimento, sua viabilização depende da existência de condições financeiras apropriadas e dos preços relativos (especialmente a taxa de câmbio) que viabilizam a produção doméstica. Renda de Equilíbrio Para o seu melhor entendimento, este ponto será abordado dentro do seguinte Tópico: “10. Equilíbrio no mercado de bens e serviços e no mercado monetário”. Crescimento Econômico18 O crescimento economico é um aspecto de outro aspecto mais geral: o desenvolvimento de uma sociedade que provoca, ao longo do tempo, mudanças fundamentais em uma organização e em suas instituições. Com o estudo do crescimento economico, pretende-se analisar uma parte desse desenvolvimento economico e social, a que a evolução da produção e da riqueza em um país se refere. O crescimento economico é um proceso sustentando ao longo do tempo, no qual os níveis de atividade econômica aumentam constantemente. Forma clássica e tradicional de se medir o crescimento econômico de um país é medir o crescimento de seu Produto Interno Bruto - PIB. O crescimento econômico refere-se ao aumento da capacidade produtiva da economia e, portanto, da produção de bens e serviços de determinado país ou área econômica. PIB o que é? É uma medida do valor dos bens e serviços que o país produz num período, na agropecuária, indústria e serviços. Objetivo: Medir a atividade econômica e o nível de riqueza de uma região. Quanto mais se produz, mais se está consumindo, investindo e vendendo. O Produto Interno Bruto per capita (ou por pessoa) mede quanto, do total produzido, cabe a cada brasileiro se todos tivessem partes iguais. O PIB per capita não é um dado definitivo. Porém, um país com maior PIB per capita tende a ter maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Quanto maior o PIB por pessoa, maior a qualidade de vida e o acesso a serviços. Ressalta-se que o PIB não leva em conta a distribuição de renda desigual em que alguns tem elevado poder aquisitivo. O QUE ENTRA NA CONTA DO PIB? 18 MOCHOR, F.; TROSTER, R. L. Introdução à Economia. São Paulo: Makron Books, 1994. Crescimento econômico: o que faz um país prosperar? Disponível em: http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/crescimento- economico-o-que-faz-um-pais-prosperar. Entenda o PIB. G1 Economia. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/pib-o-que-e/platb/. 7. Crescimento econômico e ciclos econômicos. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 48 -Bens e produtos finais - Aqueles vendidos ao consumidor final (do pão ao carro) -Serviços - Prestados e remunerados, do banco à doméstica -Investimentos - Os gastos que as empresas fazem para aumentar a produção no futuro -Gastos do governo - Tudo que for gasto para atender a população, do salário dos professores à compra de armas para o Exército. O QUE NÃO ENTRA NA CONTA DO PIB? -Bens intermediários - Aqueles usados para produzir outros bens -Serviços não remunerados - O trabalho da dona de casa, por exemplo -Bens já existentes - A venda de uma casa já construída ou de um carro usado, por exemplo -As atividades informais e ilegais- Como o trabalhador sem carteira assinada e o tráfico de drogas Pode-se dizer que o que influencia a expansão de uma dada economia é produto de basicamente quatro variáveis: consumo, investimento, gastos públicos e balança comercial do país. Salientamos que o crescimento econômico é definido considerando ainda o índice de crescimento anual do Produto Nacional Bruto (PNB) per capita. Diferentemente do Produto Interno Bruto (PIB), relativo à produção no âmbito do território nacional, o PNB refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços que resultam da mobilização dos recursos nacionais, incluindo-se os rendimentos obtidos de investimentos no exterior. Colaboram para o crescimento econômico as inovações tecnológicas, expansão da força de trabalho e o aumento da receita nacional poupada e investida. Desenvolvimento econômico-social: trata-se do aumento do crescimento econômico (indicado especialmente pelo aumento do PNB per capita) acompanhado da melhoria do padrão de vida da população. Os estudos sobre desenvolvimento basearam-se na constatação de que nem todos as sociedades alcançaram altos índices de bem-estar social e material a partir do crescimento econômico - tal como se deu nos chamados países desenvolvidos ou industrializados. Organismos como a ONU passaram a recomendar indicadores, além dos econômicos, como expectativa de vida média, taxas de mortalidade infantil, grau de alfabetização, potencial científico-tecnológico, entre outros, para avaliar o estado de desenvolvimento econômico-social de uma população. A partir de 1989, se estabelece o Índice de Desenvolvimento Humano para avaliar o estado econômico e de bem-estar social dos países. Nos últimos anos, em meio ao debate sobre a "economia verde" e as questões ambientais planetárias, ganham força ideias que propõem incorporar variáveis ambientais nos índices de desenvolvimento (baixa emissão de gases-estufa, ampliação de áreas protegidas, investimentos em fontes de energia limpas e renováveis, proteção de áreas naturais, contenção do desmatamento etc.). Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): indicador inspirado no trabalho dos economistas Amartya Sem, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, de Mahbub ul Hak. Em 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicou um relatório com esse novo instrumento de análise. O IDH, medido de zero a um (o nível mais alto) é composto pelo PIB pela paridade do poder de compra, a expectativa de vida ao nascer e o nível de instrução (alfabetização de adultos mais as taxas de escolarização nos níveis da educação básica). A partir de 1995, os relatórios de IDH passam a expressar também a variável gênero, indicando desigualdades entre homens e mulheres. Portanto, o pleno desenvolvimento humano passa a considerar variáveis relativas ao crescimento econômico nacional agregadas a progressivas melhorias de indicadores sociais. Convém distinguir crescimento econômico de desenvolvimento econômico: enquanto o primeiro se refere ao PIB, o desenvolvimento econômico é um conceito que envolve outros aspectos relacionados com o bem-estar duma nação, como os níveis de Educação, Saúde, entre outros indicadores de bem- estar. Fatores Condicionantes do crescimento econômico Apesar de as causas do crescimento econômico e suas características assumirem pecualireidades diferentes em cada país e momento histórico determinado, geralmente, podem-se considerar como fatores: -A disponibilidade de recursos produtivos (que vão além de apenas trabalho e capital. Na literatura clássica sobre o crescimento econômico, a terra era colocada como um fator limitativo. Nos modelos mais 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 49 modernos , esse papel é desempenhado pelos fatores não-renováveis, como petróleo, levando-se em conta sua importancia vital e seu caráter escasso.) -A produtividade (Quando o trabalhador médio produz mais por hora trabalhada, ou quando aumenta a produtividade média do trabalho, cresce a produção total da economia). -A atitude da sociedade em relação à poupança (o crescimento se relaciona com o investimento e este está intrinsecamente relacionado à poupança. Aquelas economias que estão sacrificando hoje parte do seu consumo para aumentar a acumulação de capital estão assentando as bases de um maior crescimento futuro). Ciclos de crescimento econômico19 Vamos nos ater a estas classificações a seguir: Os ciclos econômicos são flutuações do produto, do rendimento e do emprego nacionais totais, com uma duração habitual de 2 a 10 anos, caracterizada pela expansão ou contração generalizadas na maioria dos setores da economia. Os economistas dividem os ciclos econômicos em duas fases principais:a recessão e a expansão. Os picos e os vales marcam os pontos de virada dos ciclos. A figura seguinte mostra as sucessivas fases do ciclo econômico Uma recessão é um período contínuo de declínio do produto, do rendimento e emprego totais, normalmente perdurando 6 meses a 1 ano e caracterizado pelas contrações alargadas a muitos sectores da economia. Uma depressão é uma recessão importante, tanto na intensidade como na duração. Observe a figura seguinte e veja que o ciclo econômico tem as suas estações, assim como o ano. Os ciclos econômicos são as expansões e contrações irregulares da atividade econômica. Observe agora as expansões, contrações, baixas e picos na atividade econômica desde 1919. 19 Samuelson, Paul A.; Nordhaus, William D. Economia. 19 Ed. – Porto Alegre: AMGH, 2012. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 50 Figura: Atividade Econômica desde 1919. Algumas das características habituais de uma recessão podem apontar-se aos seguintes níveis: Consumo e produção - As compras dos consumidores reduzem-se acentuadamente, enquanto que as existências em armazém aumentam inesperadamente. As empresas reagem cortando a produção, e o PIB real cai. Pouco depois o investimento das empresas em edifícios fabris e equipamentos também se reduz acentuadamente. Emprego - A procura de trabalhadores cai: redução de horários, seguida de dispensas temporárias e de maior desemprego. Inflação - Com a redução do consumo a inflação abranda. É pouco provável a redução de salários e do preço dos serviços mas tendem a aumentar menos rapidamente nos períodos de retracção econômica. Lucros - Os lucros das empresas reduzem-se acentuadamente. Numa antecipação, as cotações das ações normalmente entram em queda quando os investidores sentem o cheiro de uma retrcção económica. Contudo, devido à redução da procura de crédito, as taxas de juro geralmente também diminuem durante as recessões. As expansões são as imagens simétricas das recessões, em que cada um dos fatores acima descritos funciona no sentido inverso. Crise, recessão e depressão são conceitos que importa distinguir. Crise é o momento em que o ciclo de crescimento se inverte, podendo iniciar-se uma fase de recessão. Recessão é um período contínuo de declínio do produto real. Recessão técnica é um período contínuo (de dois trimestres) de declínio do produto real. Depressão é uma recessão grave (profunda e prolongada). Existem duas categorias de explicações das raízes dos ciclos econômicos -Ciclos Externos 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 51 As teorias exógenas explicam os ciclos econômicos com base nas flutuações dos fatores exteriores ao sistema econômico: guerras, revoluções, eleições, preços do petróleo, descobertas de ouro, migrações, descobertas científicas e inovações tecnológicas. -Ciclos Internos As teorias endógenas procuram mecanismos do interior do próprio sistema econômico que dá origem aos ciclos econômicos. Nesta abordagem, todas as expansões geram recessões e todas as contrações geram crescimento,numa cadeia quase regular e repetitiva. Demanda Agregada = Consumo (C) + Investimento (I) + Gastos do Governo (G) + Exportações (X) – Importações (M) O consumo é representado pela série de bens e serviços comprados pelos indivíduos, sejam eles os próprios bens de consumo, a exemplo de uma roupa ou um perfume, como no caso de um bem de consumo durável, a exemplo de um automóvel; Os investimentos referem-se os gastos realizados pelas empresas com a compra de máquinas e equipamentos destinados à ampliação da sua capacidade produtiva; Os gastos do governo são representados por todas as compras realizadas pelo próprio governo tanto para a manutenção de sua estrutura, a exemplo da compra de matérias de expediente, como também da realização de investimentos públicos, a exemplo da construção de estradas, escolas, hospitais, portos e aeroportos. As exportações referem-se às vendas de bens e serviços produzidos no país, mas destinados ao mercado consumidor externo. Dentre as exportações temos a venda de produtos básicos, comumente conhecidos como commodities, a exemplo de minério de ferro, petróleo, soja, bem como de diversos outros produtos acabados, a exemplo de automóveis e, também, de serviços como consultorias e assessorias prestadas no exterior. As importações referem-se às compras de bens e serviços realizados por consumidores e empresas brasileiras de produtos advindos do exterior. Nas importações incluem-se a compra de automóveis importados e diversos outros bens e serviços. Em economia, é comum definirmos a Demanda Agregada como sendo também chamada de Produto Interno Bruto – PIB, uma vez que o somatório das variáveis componentes (consumo, investimento, gastos do governo, exportações e importações) corresponde ao total de riqueza gerada e consumida pelo país durante um determinado período de tempo. A economia de mercado capitalista funciona em ciclos econômicos de expansão e contração da produção, da renda, do investimento e do emprego. A intervenção do Estado na economia é necessária para estabilizar os preços, o nível de emprego, a renda e outras variáveis macroeconômicas relevantes. Contudo, até a crise de 1.929, a qual foi uma crise de superprodução e de subconsumo do capitalismo, prevalecia a teoria neoclássica de Marshall, a qual preconizava a tese do equilíbrio automático do mercado, pela qual a "mão invisível" deste último ajustaria os níveis de oferta e demanda agregadas. A teoria neoclássica também se baseava na lei de Say, pela qual a oferta cria a sua própria demanda, o que teria por consequência a impossibilidade da ocorrência de crises de superprodução e de subconsumo (ALVERGA, 201120) Os economistas dos séculos XVIII e XIX acreditavam que o nível de produtos não sofreria grandes alterações, e todos os fatores de produção estariam ocupados na produção de bens e serviços que formam a renda. Isto formaria o chamado estado de "pleno emprego" dos fatores de produção. Assim, 20 ALVERGA, C. F. R. P. A intervenção do Estado na economia por meio das políticas fiscal e monetária – Uma abordagem keynesiana. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2714, 6 dez. 2010. 8. Demanda Agregada 9. Modelos Keynesianos: propriedades básicas 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 52 acreditavam que toda renda distribuída no ato da produção se dirigiria ao mercado para adquirir bens e serviços. Apoiando-se na Lei de Say: "toda oferta cria sua própria demanda". Keynes desenvolve sua teoria baseado no pressuposto de que é necessária a intervenção do estado na economia, pois o mercado, devido a vazamentos como a formação de estoques e redução de produção, não seria capaz de coordená-la. Conforme aponta Feijó (2007), “a ideia básica de Keynes é que a fim de manter o pleno emprego na economia, o governo deve gerar déficits orçamentários quando a economia entrar em recessão. A baixa atividade econômica de então deve-se ao fato de o setor privado não estar investindo suficientemente”. Acerca deste assunto, o mesmo autor aponta que Keynes formulou uma “teoria abrangente sobre oferta e demanda agregada que explica que se a demanda estiver abaixo da oferta, a produção deve diminuir para que ambas se equilibrem, o que acarreta a possibilidade de equilíbrio estável abaixo do pleno emprego. O esquema de demanda e oferta agregada de Keynes parecia não apenas explicar a recessão, como também mostrava as formas de se escapar dela” (Feijó, 2007:463). Desta forma, na fase contracionista do ciclo econômico, o Estado, por meio do Governo, deve complementar o investimento privado insuficiente, para elevar o nível de emprego e mantê-lo em patamar apropriado. Sua primeira suposição foi a existência de desemprego. Os antigos economistas acreditavam apenas no desemprego voluntário. Keynes, ao contrário, acreditava que a economia estaria funcionando abaixo de seu potencial, deixando assim uma capacidade ociosa. Assim, considera a Oferta Agregada (OA) como o somatório da renda disponível na economia, enquanto chama de Oferta Potencial a máxima produção da economia com pleno-emprego dos fatores de produção. A Oferta Agregada Efetiva é aquela efetivamente colocada no mercado, o que pode ocorrer sem a plena utilização dos fatores de produção. Demanda agregada (DA) - Totalidade de bens e serviços (demanda total) que numa determinada economia os consumidores, as empresas e o Estado, estão dispostos a comprar, a um determinado nível de preço e em determinado momento. Na economia de um país, a demanda agregada representa o gasto total com a compra de bens e serviços que serão adquiridos, para cada nível de preço. Está relacionada com o total da produção, PIB (Produto Interno Bruto) de um país quando os seus níveis de estoque são estáveis. A Demanda Agregada seria o somatório do consumo total da economia com os investimentos, os gastos governamentais e as exportações, subtraindo-se as importações. O que se vê é que o produto ou renda de equilíbrio (onde a oferta agregada é igual à demanda agregada) não é o mesmo que o produto ou renda de pleno emprego. Alverga (2011) contrapõe, segundo a ortodoxia Keynesiana, duas distintas fases, sendo que ambas as políticas se voltam para conter a demanda agregada e evitar o aumento generalizado dos preços explanadas a seguir: Na fase expansiva do ciclo econômico – A política monetária deve ser restritiva, com taxas de juros mais altas e redução da quantidade de moeda na economia, o que é feito mediante a venda, pelo Banco Central, de títulos da dívida pública, e a política fiscal deve ser mais austera, com redução dos gastos públicos, e aumento da tributação, da carga tributária, sobre os fatores de produção, a fim de combater a maior ameaça da fase expansionista do ciclo econômico, que é a inflação. No que concerne à política fiscal, tal combinação de maior tributação com menor despesa pública contribui para a ocorrência de superávit fiscal nas contas do Governo. Assim, Keynes pregava a geração de superávits frente às ameaças de inflação”. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 53 Segundo o pensamento Keynesiano, um dos principais fatores responsáveis pelo volume de emprego é o nível de produção nacional de uma economia, determinado, por sua vez, pela demanda agregada ou efetiva. Ou seja, sua teoria inverte o sentido da lei de Say (a oferta cria sua própria procura) ao destacar o papel da demanda agregada de bens e serviços spbre o nível de emprego. Para Keynes, numa economia em recessão, não existem forças de autoajustamento, por isso se torna necessária a intervenção do Estado por meio de uma política de gastos públicos. Tal posicionamento teórico põe fim à crença de laissez faire como regulador dos fluxos real e monetário da economia e é chamado de princípio da demanda efetiva. Os argumentosde Keynes influenciaram muito a política econômica dos países capitalistas. De modo geral, essas políticas apresentaram resultados positivos nos anos que se seguiram a Segunda Guerra Mundial. Vasconcelos e Garcia (2.010) conforme destacado por Alverga (2011), apontam como características importantes do modelo keynesiano as seguintes: 1) O modelo keynesiano supõe a existência de desemprego, ou seja, que a economia esteja em equilíbrio (oferta agregada=demanda agregada) abaixo do pleno emprego, produzindo abaixo do seu potencial: as empresas estão com capacidade ociosa e uma parcela da força de trabalho está desempregada; 2) O nível geral de preços é considerado constante uma vez que, como a economia está em desemprego, não há razões para as empresas elevarem os preços de seus produtos em um eventual aumento da demanda; 3) A oferta agregada de curto prazo é considerada constante; 4) Devido à suposição do item anterior, Keynes considera que as variações no nível de equilíbrio da renda e do produto ocorrem em função da demanda agregada (consumo+investimento+gastos do Governo+exportações-importações), conformando o “princípio da demanda efetiva; 5) Como a oferta agregada é fixada no curto prazo, a política econômica deve-se concentrar em elevar a demanda agregada, por meio de instrumentos que proporcionem aumento dos gastos em consumo, do investimento, dos gastos do governo e das exportações. Abordagem clássica e keynesiana quanto à dinâmica do nível de emprego, produto, taxa de juros, poupança, investimento, lucro e renda global. Na fase recessiva do ciclo econômico – Na fase recessiva do ciclo econômico, a política monetária deve ser expansionista, com taxas de juros mais baixas para incentivar o investimento, e se caracterizar pelo aumento da quantidade de moeda na economia, o que é efetivado por meio da compra, pelo Banco Central, de títulos da dívida pública, e a política fiscal deve ser mais expansiva, com incremento dos gastos públicos, como forma de combater a maior ameaça da fase contracionista do ciclo econômico, que é o desemprego. Além disso, nessas circunstâncias, o outro componente da política fiscal, que é a tributação sobre os fatores de produção, deveria ser implementado no sentido da redução da carga tributária. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 54 Economia clássica Economia keynesiana A teoria econômica (neo)clássica supõe o pleno emprego do trabalho e demais fatores de produção. Quando há desemprego, este é passageiro, isto é, compatível com o desemprego voluntário e com o desemprego friccional. Caso a perturbação persista, tal fato ocorre devido à interferência dos governos ou monopólios privados no livre jogo das forças de mercado. Existe desemprego involuntário na economia capitalista. A teoria keynesiana se ocupa com o nível geral de emprego, o qual determina o volume de investimento. O nível de emprego está determinado no mercado de bens e a economia, com suas peculiaridades monetárias, explica o desemprego. Quanto maior a produção, maior o número de empregos, já que o pleno emprego ocorre com a suposição de que a oferta cria sua própria procura (Lei de Say), não havendo superprodução. Os empresários são geradores da renda e do emprego e a quantidade produzida está de acordo com a lucratividade empresarial. A taxa de juros tende a igualar poupança e investimento. A taxa de juros é o prêmio pela abstinência ao consumo. É determinada pelo equilíbrio entre a oferta por capital e demanda por capital. A taxa de juros, a poupança e o investimento são determinados simultaneamente. O investimento necessita da poupança prévia. A poupança seria a quantidade de moeda que vai para o investimento. A taxa de juros é o prêmio pela abstinência à liquidez. É determinada pela preferência a liquidez e pela quantidade de moeda em poder das autoridades monetárias. A economia move-se da renda prévia ao gasto. A economia manifesta-se do gasto para a renda. As curvas de oferta e de demanda são dependentes. As curvas de oferta e de demanda são interdependentes. Os lucros determinam os investimentos. Os investimentos determinam os lucros. A Eficácia da Política Monetária Keynes identificou um processo em três etapas, segundo o qual uma mudança na política monetária poderia afetar a demanda agregada Uma operação de mercado aberto e uma variação no estoque monetário podem afetar a taxa de juros; por exemplo, uma operação de compra no mercado aberto tende a reduzir a taxa de juros. Os economistas keynesianos situam o impacto da política monetária em três etapas: 1.A política monetária pode alterar a taxa de juros. 2. Variações na taxa de juros podem ter impacto sobre a demanda de investimentos. 3. Variações na demanda de investimentos têm um efeito amplificado sobre a demanda agregada e o produto nacional. Política Monetária Taxa de juros Demanda de investimentos Etapa 1 Efeito da política monetária sobre a taxa de juros Etapa 2 Efeito da taxa de juros sobre a demanda de investimento 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 55 Uma mudança nas taxas de juros pode afetar a demanda de investimentos, pois, com uma taxa de juros menor, os empresários são encorajados a tomar dinheiro emprestado para comprar novas máquinas ou construir novas fábricas. Uma maior demanda de investimentos terá um efeito multiplicador sobre a demanda agregada e renda nacional. Efeito multiplicador21 - Esse conceito mostra que se a economia estiver com recursos ociosos (abaixo da capacidade total), um aumento na demanda agregada provocará o aumento da renda nacional mais que proporcional ao aumento da demanda. Isso é explicado pois tais gastos geram um efeito multiplicador nos vários setores da economia, pois um aumento da renda de um setor significará que os assalariados e empresários desse setor gastarão essa renda adicional em outros setores da economia (alimentação, vestuário, lazer), que por sua vez, gastarão em outros setores, e assim por diante. Note que o efeito multiplicador ocorre quando a economia está com capacidade ociosa. - Se a economia estiver operando em plena capacidade, o aumento da demanda agregada (supondo curto prazo) tenderá a gerar um efeito indesejado: o aumento dos preços (efeito inflacionário). Por exemplo: Quando o Governo gasta $20 bilhões em bens da Boeing, essa compra tem repercussões. O impacto imediato da maior demanda do governo é aumentar o emprego e os lucros da Boeing. Então, como os trabalhadores passam a ter maiores salários e os proprietários maiores lucros, eles respondem a esse aumento da renda aumentando suas despesas de bens de consumo.. Como resultado, a compra que o governo faz da Boeing eleva a demanda por produtos de muitas outras empresas da economia. Como cada dólar gasto pelo governo pode aumentar a demanda agregada por bens e serviços em mais de um dólar, diz-se que há um efeito multiplicador sobre a demanda agregada. Esse efeito continua mesmo depois dessa primeira rodada. Quando as despesas de consumo aumentam, as empresas que produzem esses bens contratam mais pessoas e registram maiores lucros. Os maiores salários e lucros estimulam novamente as despesas de consumo, e assim por diante. Uma vez que somados todos estes efeitos, o impacto total sobre a quantidade de bens e serviços demandada pode ser muito maior que o impulso inicial decorrente das maiores despesas do governo. Sendo assim, o aumento das compras do governo inicialmente descola a curva da demanda agregada para a direita, mas quando os consumidores reagem elevando suas despesas, a curva da demanda agregada desloca- se ainda mais para a direita. Esse efeito multiplicador pode ser reforçado pela reação do investimento aos níveis mais elevados da demanda. A Boeing poderia reagir a maior demanda por aviões decidindocomprar mais equipamentos ou construindo uma nova fábrica. Nesse caso, podendo impulsionar a demanda por bens de investimento. Essa resposta positiva da demanda por investimentos é, por vezes, chamada acelerador de investimento. pode-se concluir que a intervenção do Estado na economia de mercado capitalista propugnada por Keynes não é no sentido de o Estado atuar no sistema econômico como produtor direto de bens e serviços, ou seja, como Estado “empresário”, proprietário e administrador de empresas produtoras dos mencionados bens e serviços, e sim como regulador do investimento mediante o exercício das políticas fiscal e monetária, com a finalidade de tentar compatibilizar a demanda agregada com a oferta agregada, de modo a atenuar os problemas mais graves que ocorrem no sistema capitalista, que são a inflação e o desemprego. Caso o Estado negligencie o desempenho da sua função reguladora, estabilizadora, do sistema econômico capitalista, não exercendo, da maneira apropriada, as políticas fiscal e monetária, haverá consequências para a sociedade, assim como aconteceu na crise econômico-financeira ocorrida no ano de 2008, a qual propagou seus efeitos para as principais economias do mundo capitalista. Portanto, Para Keynes, a política fiscal deve assumir papéis diversos em conjunturas diferentes, ao contrário do senso comum que supõe que o economista defendeu uma expansão permanente do gasto público em qualquer contexto. Tal situação era recomendada para uma situação bastante específica: o Estado tendo que assumir o comando da decisão de investir e de fomentar a demanda efetiva, depois que a economia tivesse entrado em colapso e como reação à crise. Entende-se que Keynes não pregou um aumento do gasto público permanente, ou no longo prazo – como muitos vieram a interpretar a partir de sua obra. É correto, sim, atribuir a ele o ideal de uma política fiscal anticíclica, em que acumula superávits na fase de expansão do ciclo, para ampliar o gasto na fase da depressão. 21 Mankiw, N. Gregory. Introdução à economia. Tradução da 6ª Edição norte americana. São Paulo: Cengage Learning, 2014. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos da Economia. São Paulo: Saraiva, 2012. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 56 Política econômica anticíclica consiste no conjunto de ações governamentais voltadas a impedir ou minimizar, os efeitos do ciclo econômico. Ciclos econômicos são flutuações da atividade econômica, inerentes ao capitalismo e caracterizadas pela alternância de períodos de ascensão (picos) e períodos de recessão (vales, isto é, o ponto mais baixo de ciclo). Os ciclos econômicos decorrem da sobreacumulação ou superprodução, à qual se seguem expectativas de declínio da taxa de lucro, o que provoca a redução de investimentos e desaceleração do nível de atividade. Fatores exógenos, como os choques do petróleo e as crises financeiras, podem contribuir para reverter o ciclo e acentuar seus efeitos. As políticas anticíclicas são defendidas pelos keynesianos, que consideram que o ciclo econômico não é autorregulado, como pensavam os neoclássicos. Segundo a escola keynesiana o déficit público é o principal instrumento de política econômica para amenizar os efeitos do ciclo. Assim, durante a recessão, o governo deve intervir, reduzindo tributos, promovendo a expansão do crédito e o aumento dos gastos, realizando investimentos capazes de estimular a economia. Desta forma, durante a recessão, o déficit público deve se expandir de modo a restabelecer o equilíbrio econômico. O inverso deve ocorrer durante a fase ascendente do ciclo: nos períodos de prosperidade, o Estado deve aumentar a tributação, constituindo um superavit para pagar suas dívidas e formar um fundo de reserva que possa ser utilizado durante os períodos de recessão. Anticíclica22 - contraria ou pretende contrariar um ciclo econômico. Caro candidato(a), para melhor compreender este tópico, alguns conceitos serão brevemente retormados, a fim de introduzir o assunto e de complementar o seu conhecimento. Modelo Keynesiano Simples23 Clássicos x Keynes - Para os economistas clássicos, a economia de mercado era auto regulável e tendia quase que automaticamente para o pleno emprego. O desemprego era sempre de caráter transitório, explicável pelas flutuações naturais no ciclo de negócios que caracteriza a economia capitalista. - A crise na economia mundial denotada pela quebra da Bolsa de Nova York em 1929 veio trazer uma depressão, deflação e quedas significativas dos salários mínimos dos países desenvolvidos (EUA e países europeus). - Em 1936, Keynes publicou seu livro Teoria Geral do Emprego, Juros e da Moeda, que provocou uma revolução na teoria econômica predominante até então Keynes procurou mostrar que o equilíbrio da economia numa situação de pleno emprego era apenas uma das situações possíveis e que, na realidade, provavelmente o equilíbrio se daria numa situação em que houvesse desemprego no mercado de trabalho. Hipóteses do Modelo -As hipóteses básicas do modelo são: O produto da economia é função apenas do número de trabalhadores empregados, ou seja, variações na produção têm como consequências diretas variações no volume da mão-de-obra empregada. ii. A taxa geral de juros e o nível geral de preços são constantes. iii. A depreciação do capital é considerada inexistente; iv. Inexistência de transferência (receita ou envio) de receita líquida para o exterior; v. A arrecadação tributária do governo é constituída apenas por impostos diretos; supõe-se a inexistência de impostos indiretos, de subsídios e de outras receitas correntes do governo. vi. Todos os lucros auferidos pelas empresas da economia são distribuídos aos sócios e acionistas. 22 "anticíclica", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/antic%C3%ADclica [consultado em 14-07-2015]. 23 Rogério César. Economia Pesqueira I. Macroeconomia (aula 2). 10. Equilíbrio no mercado de bens e serviços e no mercado monetário 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 57 Condições de Equilíbrio do Modelo - No modelo keynesiano simples, a economia estará em equilíbrio se: OFERTA AGREGADA (AO) = DEMANDA AGREGADA (DA) • Oferta Agregada (AO): é a soma da oferta de todos os bens e serviços finais, ou seja, é o Produto. • Demanda Agregada (DA): é a soma das demandas por bens e serviços finais de todos os agentes econômicos. • No equilíbrio, toda a produção da economia no período será vendida aos agentes econômicos, ou seja, a economia não apresentará variação de estoque no período. Composição da Demanda Agregada i. Demanda Agregada (DA): é constituída pela soma do Consumo das Famílias (C), dos Investimentos (I), dos Gastos do Governo (G), e demanda líquida do setor externo (Exportações menos Importações). DA = C + I + G + X – M Consumo São gastos das Famílias com a aquisição de bens de consumo (C), e é uma função crescente de sua renda disponível; portanto, quanto maior a renda disponível, maior o Consumo (C). YD = Y – T onde: YD = Renda disponível Y = Renda T = Tributação O comportamento do consumo em relação à renda disponível (função consumo) pode ser representada por uma função linear do tipo: C = a + b YD onde: a = Consumo Autônomo, ou seja, a parcela da demanda por bens de consumo que é influência por outros fatores que não sejam a renda corrente, tais como a taxa de juros, o nível de patrimônio das famílias, as facilidades de crédito aos consumidores e outros fatores. b = Propensão Marginal a Consumir, ou seja, a razão entre o acréscimo de consumo (∆C) e o acréscimo da renda disponível (∆YD). b = ∆C / ∆YD Poupança A poupança da sociedade é adiferença entre a renda disponível e o consumo. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 58 S = YD – C onde: S = Poupança Como C = a + b YD, acontece que: S = YD – (a + b YD) S = - a + (1 – b) YD Onde: (1 – b) = Propensão Marginal a Poupar Tributação -A Tributação (T) influencia a Demanda Agregada (DA) de forma indireta através do Consumo: ceteris paribus, à medida que a Tributação aumenta, a Renda Disponível decresce e, consequentemente, o Consumo se reduz. -A Tributação pode ser totalmente autônoma, ou em parte autônoma e em parte dependente do nível de renda: T = T ou T = T + tY Onde: T = Tributação autônoma t = Propensão marginal a tributar Investimento - O investimento (I) pode ser total ou parcialmente autônomo. I = I ou I = I + dY Onde: I = Investimento autônoma d = Propensão marginal a investir - No investimento autônomo, assume-se que os empresários tomas suas decisões de investir sem levar em consideração o nível de renda presente. - No investimento parcialmente autônomo, o nível de investimento depende de forma direta do nível de renda da economia, ou seja, quanto mais alto a renda, maior será o nível de investimento. Gastos do Governo e Exportações 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 59 - Tanto os Gastos do Governo (G) quanto as Exportação (X) são considerados totalmente autônomos: G = G ou X = X Importações - As importações, à semelhança dos investimentos e da tributação, podem ser supostos total ou parcialmente autônomos: M = M ou M = M + mY Onde: M = Investimento autônoma m = Propensão marginal a investir Renda de Equilíbrio Determinação do Nível de Renda de Equilíbrio -A economia estará em equilíbrio quanto: OFERTA AGREGADA (AO) = DEMANDA AGREGADA (DA) Ou seja, quando: Y = C + I + G + X – M - Graficamente, o equilíbrio será representado por: Mudanças na Demanda Agregada e Variações na Renda de Equilíbrio: 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 60 - A Demanda Agregada sofre elevação de valor determinadas pelo aumento de valor de qualquer um dos componentes autônomos das variáveis que a influenciam positivamente, a saber: -Os Investimentos -Os Gastos do Governo -As Exportações - A Demanda Agregada também aumenta como resultado da diminuição do valor dos componentes autônomos das variáveis que influenciam negativamente. - Tributação - As Importações O modelo IS/LM descreve, formalizando analítica e graficamente, o comportamento de uma economia constituída por três mercados: 1) bens e serviços, 2) monetário e 3) títulos. O modelo estabelece a ligação entre os três mercados por meio de duas variáveis endógenas, o produto ou rendimento (Y) e a taxa de juro (i), mantendo-se o pressuposto Keynesiano da rigidez dos preços. Como tal, o modelo revela-se apropriado para uma análise conjuntural de curto prazo, onde a oferta de bens e serviços se ajusta passivamente à procura. Para além da análise de uma economia fechada propriamente dita, este modelo também é adequado para a análise de uma grande economia aberta, onde é natural que a maior parte das relações econômicas e financeiras se processem dentro das próprias fronteiras, sendo as relações com o exterior relativamente pouco relevantes. Desta forma podemos admitir que o equilíbrio geral destas grandes economias abertas (e.g., E.U.A., Área Euro) acaba por coincidir com o equilíbrio interno (CARVALHO, 2009)24. O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS Com exceção da função investimento, as características do mercado de bens e serviços são idênticas às apresentadas no modelo Keynesiano simples, passando a ser consideradas as variáveis representativas da procura externa: exportações (X) e importações (Q), as quais desempenham um papel claramente secundário nesta versão mais simples do modelo. A Nova Função Investimento A modificação introduzida pelo modelo IS-LM, ao nível do mercado de bens e serviços, consiste numa nova especificação da equação do investimento: I = I − b i , b > 0 Como podemos verificar, o investimento deixa de ser exclusivamente autónomo, passando a depender da nova variável taxa de juro (i). A relação entre taxa de juro e investimento é negativa, sendo traduzida pelo coeficiente b, a sensibilidade do investimento à taxa de juro. A relação entre taxa de juro e investimento é negativa, sendo traduzida pelo coeficiente b, a sensibilidade do investimento à taxa de juro. Que justificações teóricas estão subjacentes a esta relação negativa? Por um lado, a taxa de juro traduz o custo efetivamente suportado pelo investidor que necessita de recorrer a capitais alheios. Quanto maior a taxa de juro, maior o custo financeiro suportado e, portanto, menor a atratividade do investimento; por outro lado, mesmo que não recorra a capitais alheios, o investidor tem que confrontar a rentabilidade prevista do seu investimento na atividade produtiva com a rentabilidade de aplicações financeiras alternativas (a taxa de juro inerente a estas aplicações funciona como um custo de oportunidade para quem investe na atividade produtiva). Assim, quanto maior a taxa de juro, menores as hipóteses do investimento produtivo ser comparativamente rentável e, portanto, menor a atratividade do investimento. O Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços Retomando o comportamento dos agentes económicos relativamente à procura de bens e serviços, 24 CARVALHO, V. M. O MODELO IS/LM: ECONOMIA FECHADA OU GRANDE ECONOMIA ABERTA. Disponível em: <http://www.fep.up.pt/disciplinas/1g202/complementar/IS%20LM%20economia%20fechada.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2015. 11. Dinâmica do Modelo IS-LM 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 61 a nova estrutura da procura de bens e serviços será, Esta última expressão designa-se por curva IS, a qual representa o lugar geométrico de todas as combinações entre Y e i que garantem o equilíbrio do mercado de bens e serviços. O nome IS significa Investment=Saving, e provém do facto de, à semelhança do modelo Keynesiano simples, o equilíbrio no mercado de bens e serviços ter subjacente a igualdade entre poupança e investimento, I = S. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 62 Tal como podemos verificar pela expressão analítica, a curva IS tem uma inclinação negativa e equivalente a [– 1 / (α b)]. Como se explica, à luz da teoria inerente ao modelo, este declive negativo da IS? Imaginemos que o mercado de bens e serviços está em equilíbrio considere-se um aumento da taxa de juro (i) - isso implicaria uma diminuição do investimento e uma consequente diminuição da procura de bens e serviços - passaria a existir um excesso de oferta de bens e serviços (Y > D) - acumulação involuntária de stocks nos produtores - os produtores reduzem a produção de bens e serviços - diminuição do produto (Y) - logo, por forma a garantir o equilíbrio do mercado de bens e serviços, um aumento da i conduz a uma diminuição do Y - a IS tem inclinação negativa. De que depende a inclinação da IS? - do multiplicador do modelo keynesiano simples, α = 1/(1- c (1 - t)+q); - da sensibilidade do investimento à taxa de juro, b. Quanto menos inclinada a IS, dada uma mesma variação da taxa de juro, maior a variação necessária do produto para restabelecer o equilíbrio no mercado de bens e serviços. Isto implica que, quanto mais elevados os valores de c e de b e quanto mais baixos os valores de t e q menor a inclinação da IS, ou seja, maior a sua elasticidade. No limite, tendemos a considerar dois casos extremos: b=0, que origina uma IS vertical (inclinação máxima) e b=∞ que origina uma IS horizontal. E a posição da IS? - da parteautónoma da procura (A = C - c T + c Tr + G + I + X - Q); - da sensibilidade do investimento à taxa de juro, b A posição da IS depende e as suas deslocações podem resultar, portanto, de alterações ao nível da política orçamental, de alterações nas expectativas ou nos níveis de confiança dos agentes económicos ou, por exemplo, de oscilações nas cotações bolsistas. A título de exemplo, no que respeita à política orçamental, uma política expansionista (aumento de gastos ou transferências ou diminuição de impostos) gera uma deslocação da IS para a direita. Conjugando tudo o que acabámos de referir podemos concluir que: 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 63 - uma alteração numa qualquer componente da procura autónoma implica uma deslocação paralela da IS; - uma alteração na taxa marginal de imposto (t) ou na propensão marginal à importação (q) implica uma alteração da inclinação da IS, mantendo-se a ordenada na origem; -uma alteração na propensão marginal ao consumo (c) ou na sensibilidade do investimento à taxa de juro (b) implica uma alteração quer da inclinação, quer da posição da IS. Note-se que não devemos confundir deslocações da curva IS com deslocações ao longo da curva IS. Estas últimas acontecem quando consideramos alterações apenas nas variáveis endógenas do modelo, isto é, em Y e i. O Desequilíbrio no Mercado de Bens e Serviços Representando a IS o conjunto de pontos de equilíbrio do mercado de bens e serviços, qualquer ponto situado fora da IS será um ponto onde o mercado está desequilibrado, ou seja, será um ponto onde existirá excesso de procura ou excesso de oferta de bens e serviços. Vamos verificar graficamente estas situações (figura nº 4) e explicá-las à luz do modelo: 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 64 Nos pontos A e B da figura nº 4 o mercado de bens e serviços não está em equilíbrio, contrariamente ao que acontece no ponto E. Mas que tipo de desequilíbrio existe em A e B? – -Ponto A: apresenta um nível de rendimento (oferta) semelhante ao do ponto E (equilíbrio), mas a taxa de juro é superior, isto implica que, relativamente a E, o investimento seja inferior e portanto que a procura também ou seja, logo existe um excesso de oferta de bens e serviços, tal como em todos os pontos à direita da IS; - Ponto B: apresenta um nível de rendimento (oferta) semelhante ao do ponto E (equilíbrio), mas a taxa de juro é inferior, isto implica que, relativamente a E, o investimento seja superior e portanto que a procura também o seja, logo existe um excesso de procura de bens e serviços, tal como em todos os pontos à esquerda da IS. O MERCADO MONETÁRIO O Mercado Monetário e o Mercado de Títulos O modelo IS-LM, para além da componente real, introduz o aspecto monetário na análise. Para o efeito, o modelo considera dois novos mercados, pretendendo analisar o seu equilíbrio: o mercado monetário e o mercado de títulos. Uma das escolhas que os particulares terão de efetuar será entre deter moeda propriamente dita ou colocar essa moeda em aplicações financeiras, ou seja, comprar títulos. Estes títulos surgem-nos na forma de obrigações, sendo emitidos pelo Governo ou pelas Empresas (títulos sem risco). A ligação entre estes dois mercados é realizada via taxa de juro. A detenção de um título dá direito à percepção de um juro, enquanto deter moeda, cuja remuneração assumimos como nula, proporciona a liquidez necessária para efetuar transações. É do “jogo” entre a remuneração dos títulos e a liquidez da moeda que deriva o equilíbrio no mercado monetário. Por exemplo, se a taxa de juro aumenta, torna-se relativamente mais atrativo deter títulos em vez de moeda, o que implicará um aumento da procura de títulos e, consequentemente, uma diminuição da procura de moeda. Definindo a constituição da riqueza (W) como o somatório do stock existente de moeda (M S) e do total de títulos que existem no mercado (B S ), também podemos concluir que essa riqueza nasce através da procura relativa entre os dois tipos de ativos, ou seja, a riqueza também pode ser definida como o somatório da procura de moeda (L) e da procura total de títulos (B D ). Assim, 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 65 Esta expressão muito simples permite-nos afirmar que o que se passa num destes mercados será exatamente o “espelho” daquilo que se passa no outro, isto é: - o equilíbrio num mercado implicará, obrigatoriamente, o equilíbrio no outro e vice e versa, dado que quando M S = L (mercado monetário equilibrado), B D = B S (mercado do títulos equilibrado); - quando um dos mercados está desequilibrado, o outro também o estará, sendo estes desequilíbrios contrários, isto é, quando M S > L (excesso de oferta de moeda), B D > B S (excesso de procura de títulos) e quando M S < L (excesso de procura de moeda), B D < B S (excesso de oferta de títulos). Assim, devido à reciprocidade inerente à relação dos dois mercados, o modelo considera apenas o mercado monetário, omitindo o que acontece no mercado de títulos. O Funcionamento do Mercado Monetário: a Procura Real de Moeda O modelo explica a procura real de moeda por duas razões fundamentais: - por um lado, tal como já foi acima referido, a procura de moeda está relacionada com a taxa de juro. Sendo esta entendida como a remuneração dos títulos, quanto maior for o seu valor, maior o custo de oportunidade de deter moeda e, portanto, menor tenderá a ser a procura de moeda - esta relação negativa entre a procura de moeda e a taxa de juro costuma-se designar por procura de moeda pelo motivo de especulação, e enfatiza a função da moeda enquanto reserva de valor; - por outro lado, também podemos estabelecer uma relação entre a procura de moeda e o nível de rendimento ou produto da economia (Y). Como sabemos a moeda é algo que facilita as transações, ou seja, é generalizadamente aceite e, devido à sua elevada liquidez, é também um meio imediato (ou quase imediato) de pagamento. Logo, se aumenta o produto da economia, tenderá a aumentar o número de transações de bens e serviços e existirá uma necessidade acrescida de moeda para as efetuar. Como tal, tende a existir uma relação positiva entre rendimento e procura de moeda, sendo que esta relação costuma designar-se por procura de moeda pelo motivo de transações, e enfatiza a função da moeda enquanto meio de troca. Especificando a função procura real de moeda: Onde representa a procura de moeda autónoma (independente de Y e i), k a sensibilidade da procura de moeda ao rendimento (motivo de transações) e h a sensibilidade da procura de moeda à taxa de juro (motivo de especulação). O equilíbrio no Mercado Monetário O equilíbrio no mercado monetário, como em qualquer mercado, obtém-se igualando a oferta à procura, neste caso a oferta de moeda à procura de moeda. A procura de moeda é definida pela função acima especificada. No que respeita à oferta de moeda, esta será considerada como exógena ao modelo: a oferta nominal de moeda é controlada pela autoridade monetária (geralmente o Banco Central). Uma das formas mais usuais da autoridade monetária introduzir/retirar moeda do mercado (aumentar/diminuir a oferta de moeda) são as chamadas operações no mercado aberto, através das quais a autoridade monetária compra/vende títulos às outras instituições monetárias. A liquidação (pagamento) dessa operação implicará um aumento/diminuição da base monetária (operações de cedência/absorção de liquidez) e, via multiplicador monetário, da moeda em circulação. Assim, a oferta nominal de moeda pode representar-se pela seguinte função: Porém, note-se que a função procura é uma função de procura real de moeda. Como tal, teremos que transformar a oferta nominal de moeda numa oferta real, introduzindo o nível de preços, considerado constante neste modelo: 1155683E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 66 Esta é a expressão da curva LM, a qual nos indica o conjunto de combinações entre Y e i que garantem o equilíbrio do mercado monetário. LM significa Liquidity = Money supply, ou seja, procura real de moeda igual à oferta real de moeda. Tal como podemos verificar pela expressão analítica, a curva LM tem uma inclinação positiva e igual a [k / h]. Como se explica, à luz do modelo, este declive positivo da LM? Imagine que o mercado monetário está em equilíbrio. Considere uma diminuição do produto (Y), diminuição da procura de moeda pelo motivo de transações, mantendo-se constante a oferta real de moeda, passa a existir um excesso de oferta de moeda, diminuição da taxa de juro, aumento da procura de moeda pelo motivo de especulação, explica a inclinação positiva da LM. De que depende a inclinação da LM? - da sensibilidade da procura de moeda ao rendimento, k; - da sensibilidade da procura de moeda à taxa de juro, h. Quanto mais inclinada a LM, dada uma mesma variação do produto, maior a variação necessária da taxa de juro para restabelecer o equilíbrio no mercado monetário. Isto implica que, quanto mais elevado k e mais reduzido h maior a inclinação da LM. No limite, podemos considerar dois casos extremos: h=0, que origina uma LM vertical (inclinação máxima) e h=∞, que origina uma LM horizontal. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 67 E a posição da LM? - da sensibilidade da procura de moeda à taxa de juro, h. A posição da LM depende e as suas eventuais deslocações podem resultar, portanto, de alterações ao nível da política monetária, de alterações do nível geral de preços ou, por exemplo, de alterações dos custos de transação que afetam a procura de moeda. A título de exemplo, no que respeita à política monetária, uma política expansionista (aumento da oferta de moeda) gera uma deslocação da LM para a direita. Podemos concluir que: - uma alteração na oferta real de moeda e/ou na procura autônoma de moeda implica uma deslocação paralela da LM; - uma alteração na sensibilidade da procura de moeda ao rendimento (k) implica uma alteração da inclinação da LM, mantendo-se a ordenada na origem; - uma alteração da sensibilidade da procura de moeda à taxa de juro (h) implica uma alteração quer na inclinação quer na posição da LM. Mais uma vez, não devemos confundir deslocações da curva LM com deslocações ao longo da curva LM. Estas últimas acontecem apenas quando consideramos alterações das variáveis endógenas do modelo, isto é, de Y e i. O Desequilíbrio no Mercado Monetário Representando a LM o conjunto de pontos de equilíbrio do mercado monetário, qualquer ponto situado fora da LM será um ponto onde o mercado está desequilibrado, ou seja, será um ponto onde existirá um excesso de procura ou um excesso de oferta de moeda. Vamos verificar graficamente estas situações e explicá-las de acordo com o modelo: 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 68 Com base na figura nº 8, podemos verificar que nos pontos A e B o mercado monetário não está em equilíbrio, contrariamente ao que acontece no ponto E. Mas que tipo de desequilíbrio existe em A e B? - Ponto A: apresenta um nível de rendimento semelhante ao do ponto E (equilíbrio), mas a taxa de juro é superior e isto implica que, relativamente a E, a procura de moeda seja inferior (motivo de especulação) - logo, existe um excesso de oferta moeda, tal como em todos os pontos à esquerda da LM; - Ponto B: apresenta um nível de rendimento semelhante ao do ponto E (equilíbrio), mas a taxa de juro é inferior, isto implica que, relativamente a E, a procura de moeda seja superior, logo, existe um excesso de procura de moeda, tal como em todos os pontos à direita da LM. Política fiscal25 reflete o conjunto de medidas pelas quais o Governo arrecada receitas e realiza despesas de modo a cumprir três funções: a estabilização macroeconômica, a redistribuição da renda e a alocação de recursos. A função estabilizadora consiste na promoção do crescimento econômico sustentado, com baixo desemprego e estabilidade de preços. A função redistributiva visa assegurar a distribuição equitativa da renda. Por fim, a função alocativa consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado. Os resultados da política fiscal podem ser avaliados sob diferentes ângulos, que podem focar na mensuração da qualidade do gasto público bem como identificar os impactos da política fiscal no bem- estar dos cidadãos. Para tanto podem ser utilizados diversos indicadores para análise fiscal, em particular os de fluxos (resultados primário e nominal) e estoques (dívidas líquida e bruta). A saber, estes 25 Tesouro Nacional. Disponível em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/pt_PT/sobre-politica-fiscal. 12. Política Fiscal. Política Monetária 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 69 indicadores se relacionam entre si, pois os estoques são formados por meio dos fluxos. Assim, por exemplo, o resultado nominal apurado em certo período afeta o estoque de dívida bruta. Resultado fiscal primário é a diferença entre as receitas primárias e as despesas primárias durante um determinado período. O resultado fiscal nominal, por sua vez, é o resultado primário acrescido do pagamento líquido de juros. Assim, fala-se que o Governo obtém superávit fiscal quando as receitas excedem as despesas em dado período; por outro lado, há déficit quando as receitas são menores do que as despesas. No Brasil, a política fiscal deveria ser conduzida com alto grau de responsabilidade fiscal. O uso equilibrado dos recursos públicos deve visar a redução gradual da dívida líquida como percentual do PIB, de forma a contribuir com a estabilidade, o crescimento e o desenvolvimento econômico do país. Mais especificamente, a política fiscal deve buscar a criação de empregos, o aumento dos investimentos públicos e a ampliação da rede de seguridade social, com ênfase na redução da pobreza e da desigualdade. Panorama da Política Fiscal26 Até os anos 1960, os economistas acreditavam que as políticas ativistas poderiam reduzir a intensidade das flutuações econômicas, sem criar inflação. No entanto, nos anos 1960 e 1970, o resultado passou a não ser o que eles esperavam, com a economia apresentando, simultaneamente, inflação e desemprego. A crise econômica e a inflação da segunda metade da década de 1970 tornaram as políticas fiscais vigentes no período de crescimento acelerado alvo de críticas (Lopreato, 2003). A teoria keynesiana utilizada até o momento, deixou de servir aos formuladores de política econômica, abrindo espaço para um novo modelo para as políticas fiscais, ao mesmo tempo em que se desenrolava a crise da economia mundial e a deterioração das finanças públicas, em vários países. Nos anos de 1972 e 1973, Lucas iniciou a revolução das expectativas racionais, com uma série de artigos. A ideia central, no tocante às políticas econômicas é que o Estado só consegue ser eficiente, ao mudar suas políticas, se conseguir surpreender o mercado; caso contrário, por meio de expectativas racionais, o mercado antecipa as ações do Estado, com o que as políticas se tornam inócuas (Kydland e Prescott, 1994). Ademais, em uma sociedade democrática, seria importante a adoção de regras simples de serem entendidas por todos os agentes, as quais tornassem claro quando os policy makers mudam de políticas e possibilitassem aos agentes econômicos ajustarem suas expectativas a fim de eliminar surpresas futuras (Barro e Gordon, 1994). Apenas em casos muito especiais, o Estado deveria surpreender o mercado, com políticas não antecipadas. Segundo Chari, esses desenvolvimentos teóricos levaram os governosa adotarem modelos em que as políticas futuras podem facilmente ser previstas. Se a política escolhida no futuro coincide com o plano original, os formuladores de política seguiram o plano inicial e o modelo de política é consistente, caso contrário, é inconsistente. Dessa forma, as expectativas sobre as políticas futuras passam a depender também do histórico de políticas implementadas. Nesse contexto, é importante entender que uma política econômica que possui credibilidade é menos vulnerável às instabilidades, sejam elas geradas por choques externos ou internos (Silva e Mendonça, 2007). Já as economias com baixa credibilidade sofrem mais com as crises, pois, normalmente, apresentam maior incerteza. Para que haja o desenvolvimento da credibilidade, é preciso, em um primeiro momento, a conquista de reputação. Para isso, é necessário que o responsável pela condução da política econômica tenha sucesso na obtenção das políticas previamente anunciadas, criando expectativas nos agentes econômicos de que as próximas políticas serão igualmente alcançadas. Essas mudanças conduziram, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, à implementação de um novo consenso na teoria macroeconômica (Arestis e Sawyer, 2008). Esse Novo Consenso Macroeconômico (NCM), também chamado de Nova Síntese Neoclássica (NSN), emergiu com grande influência no pensamento e na política macroeconômicas, principalmente no tocante à política monetária. 26 Santos, M. E.; Strachman, E. POLÍTICA FISCAL E DÍVIDA PÚBLICA NO BRASIL: UMA ANÁLISE PARA O PERÍODO DE 1994–20081 PESQUISA & DEBATE, SP, v. 25, n. 1(45) pp. 87-108, jan-jun. 2014 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 70 Na década de 1990, os modelos econômicos de maior reputação apresentavam consistência no método e na prática. Os modelos aos quais fazemos referência aparentemente apresentavam fundamentos microeconômicos e suas versões iniciais eram representadas usualmente por três equações que descrevem: variação do produto, taxa de inflação e taxa de juros, ou seja, uma curva tipo IS, uma curva de Phillips e uma equação de política monetária (Fontana, 2009; Arestis e Sawyer, 2008). É importante ressaltar que o NCM é decisiva para o novo papel da política monetária, pois sugere que as ações da política monetária podem ter algum efeito sobre a atividade econômica real, mas com pouco ou nenhum trade-off entre inflação e atividade real no longo prazo. Contudo, podem apresentar ganhos significativos com a eliminação da inflação, aumentando a eficiência nas transações e reduzindo as distorções nos preços relativos, com a credibilidade tendo um papel importante para a condução da política monetária (Goodfriend e King, 1997; Le Heron, 2003). A recomendação é que a política monetária estabilize o nível de preço, com inflação positiva, mas próxima de zero, mantendo o produto na direção do produto potencial. A política monetária deve ser ativa, administrando a demanda agregada para acomodar variações no produto (Goodfriend e King, 1997). Portanto, o NCM conduz quase que naturalmente a um modelo de metas de inflação, com a inflação devendo variar pouco no tempo. Esse tem sido o principal objetivo da política monetária para muitos países, os quais passam a adotar o modelo de metas inflacionárias, abandonando outras metas, como, por exemplo, de crescimento econômico (Le Heron, 2003). Segundo Fontana, um importante resultado do modelo do NCM seria que uma inflação baixa conduziria ao crescimento, estabilidade e funcionamento eficiente do mercado. A proposição central do NCM é que o Banco Central (BC) tem um papel muito importante para manter a estabilidade de preços, no longo prazo e, ao contrário, a autoridade fiscal é de menor relevância, devendo estar concentrada no controle e na sustentabilidade das finanças públicas. Essa é uma das críticas ao NCM, justificada, porém, por esta última, pela possibilidade de a política monetária poder ser modificada e implementada mais rapidamente do que a política fiscal, uma vez que a política fiscal precisa ser planejada, aprovada politicamente, para só então ter suas medidas implementadas. Assim, a mais controversa suposição do NCM é a ausência de um papel essencial para o setor público e para a política fiscal, o que, dado o tamanho do setor público nas economias modernas atualmente, é uma suposição difícil de defender. A disciplina na política fiscal refere-se ao comportamento da autoridade fiscal com relação à política de estabilidade de preços. Uma política fiscal austera, na qual a autoridade fiscal elabora seu orçamento levando em conta a restrição orçamentária e os compromissos da dívida a serem pagos, pouparia, segundo vários autores, a autoridade monetária de ser obrigada à prática de políticas contracionistas que visem contrabalançar os déficits nas contas do governo. Logo, um comportamento responsável da autoridade fiscal é favorável à construção da credibilidade da política monetária, à medida em que evita pressões inflacionárias ou custos resultantes de políticas monetárias contracionistas (Silva e Mendonça, 2007). Essas políticas são importantes principalmente em economias emergentes, que possuem mercados financeiros menos maduros e estáveis, apresentando maior taxa de juros e maior volatilidade do crescimento da economia. Essas características, de acordo com Mihaljek e Tissot, têm atribuído à sustentabilidade do déficit público grande importância para a condução da política monetária em países de economia emergente: A fragilidade das finanças públicas é muitas vezes considerada como um indicador de aviso, que talvez esconda fragilidades no resto da economia. Assim, os mercados atribuem importância específica para a credibilidade fiscal ao julgar a solidez de indicadores macroeconômicos. Por exemplo, eles tendem a ser menos tolerante com déficits em conta corrente, se o país é caracterizado por grandes fragilidades fiscais. Ou eles vão examinar de forma mais rigorosa a saúde dos setores empresariais e bancários. Além disso, preocupações com as finanças públicas podem comprometer compromissos institucionais e torná-los insustentáveis. Por exemplo, acordos para fixar a taxa de câmbio fixa não vão despertar olhares credíveis e pode ser atacado em caso de prodigalidade fiscal (Mihaljek e Tissot, 2003, 16 p.). Dessa forma, a sustentabilidade fiscal afeta não somente as condições financeiras, mas têm também grande importância para o produto de uma economia, a inflação e a interface com a condução da política monetária (Mihaljek e Tissot, 2003). Segundo Dinh, haveria um consenso de que uma política fiscal prudente é condição necessária, mas não suficiente, para um rápido crescimento, pois uma política fiscal imprudente atrapalharia o crescimento e colocaria em risco a estabilidade. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 71 Então, na evolução das teorias macroeconômicas, a política fiscal passou por importantes mudanças, com uma redução de seu papel. Para Hermann e Alves e Montes, a credibilidade da política econômica, sustentabilidade da dívida pública e definição de regras de controle das contas públicas passaram a definir a condução da política fiscal, tornando-se hegemônicas no pensamento e na prática da política fiscal. Segundo Lopreato, o movimento generalizado de deterioração fiscal, em países com razoáveis ou elevados níveis de desenvolvimento, decorreu do aumento do estoque da dívida pública e da queda do crescimento econômico. A avaliação das políticas fiscais e os novos fundamentos teóricos exigiam a construção de indicadores capazes de superar as limitações dos indicadores tradicionais, fornecendo informações mais confiáveis sobre a economia. Por exemplo, o resultado fiscal convencional de Necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP), embora amplamente aceito, não apresentava ocomportamento esperado das finanças públicas. Blanchard resolveu esse problema ao sugerir novos indicadores de política fiscal, como o de sustentabilidade da dívida. Como os investidores precisam ter confiança de que a dívida é sustentável, ao longo do tempo, as metas fiscais tornaram-se prisioneiras das expectativas de risco dos agentes e das previsões sobre o comportamento futuro das variáveis, com influência da relação dívida/PIB esperada. Segundo Lopreato, para o caso da economia brasileira, apesar de a política fiscal ser o pilar da política econômica, ela não tem autonomia, porque as mudanças do câmbio e dos juros sempre demandam mudanças nas metas fiscais, a fim de garantir a sustentabilidade da dívida; o Tesouro torna-se, então, “refém” do BC, se não há uma maior concertação entre estes dois entes, como aliás é o caso, quando se advoga um BC independente. Assim, nesse novo modelo teórico, a ação da política fiscal é limitada, cabendo à política monetária o papel de manter a demanda agregada próxima ao produto potencial (Carvalho, 2011). Essa mudança na forma de pensar a política fiscal influenciou a forma da condução desta política, no Brasil. Um ponto importante a saber referente a política fiscal é o seguinte: A politica fiscal pode ser Expansiva (expansionista) ou Restritiva (contracionista). Política Fiscal Expansiva: Quando tem como objetivo estimular a Procura Agregada, nomeadamente quando a economia vive um momento recessivo e é preciso estimular o crescimento da economia. Este tipo de política fiscal tende a provocar inflação. Objetivos: aumentar a produção e reduzir o desemprego. Frequentemente, os seus promotores realizam uma descida de impostos, por forma a aumentar o rendimento disponível e estimular o consumo e, logo, os lucros das empresas que assim, aumentarão a contratação (reduzindo o desemprego). Assim, consegue-se uma deslocação expansiva da procura agregada. Politica Fiscal Restritiva: Quando tem como objetivo travar o crescimento da Procura Agregada. Este tipo de política é usada quando estamos perante uma expansão excessiva da economia e a inflação começa a escapar ao controlo. Estão geralmente associadas a superávits orçamentais. Ao diminuir a Procura Agregada, a Política Fiscal Restritiva, reduz o Emprego e produz um excesso da oferta agregada de bens, criando assim um pressão deflacionária na moeda. Os seus mecanismos são diametralmente opostos aos usados pela Política Fiscal Expansiva: 1. Redução da Despesa Pública, pela contração da Procura Agregada e da Produção. 2. Subida dos impostos, por forma a baixa a procura agregada e a produção. Os cidadãos ficam com menos rendimentos disponíveis e consequentemente reduzem o seu padrão de consumo o que leva a uma queda da Procura Agregada. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 72 Utilizaremos o artigo Política Fiscal e Dívida Pública27 para explicar sobre o déficit público: Barbosa e Giambiagi, por exemplo, entendem que o relevante para a mensuração da situação fiscal deveria ser “o resultado da soma do governo federal com o Banco Central”, geralmente agrupados sob a rubrica “governo central”. O argumento que sustenta esse ponto de vista parte da constatação de que em um setor público cujas funções estejam bem definidas e no qual não existam “vazamentos” os eventuais déficits de estados e municípios, de um lado, e das empresas estatais, de outro, seriam cobertos por fontes de endividamento não inflacionárias e, portanto, as operações das quais esses agentes econômicos participassem seriam equivalentes a operações entre agentes privados, sem impacto na expansão monetária. A classificação adotada pelo Manual de Finanças Públicas do FMI, por seu lado, trata as empresas não financeiras do setor público separadamente do governo geral, fazendo a distinção com base na natureza das atividades que elas executam e não na classificação legal ou institucional. Quanto ao setor público financeiro, justifica-se sua não inclusão pela própria atividade exercida pelo setor, qual seja, a de intermediário financeiro, embora as evidências brasileiras indiquem essas instituições como responsáveis por significativos déficits quasi-fiscais que geram a necessidade de cobertura do Tesouro estadual ou federal e impactam o endividamento público. Em contraponto à defesa de um conceito estrito para a mensuração do déficit público relevante, temos de considerar que vários fatores, ou “vazamentos”, impedem a não consideração de estados e municípios e de empresas estatais no cálculo. As sucessivas renegociações de dívidas estaduais e municipais, que culminaram com a assunção destas pelo governo federal, indicam que os déficits daqueles entes não são desprovidos de impacto inflacionário. De fato, a pressão inflacionária não se dá apenas pelos canais tradicionais de transmissão monetária, é mais difusa e envolve aspectos como tamanho do ente público, utilização dos bancos públicos para o financiamento do déficit, a garantia da União a empréstimos externos, a quase impossibilidade legal de falência daqueles entes, gerando a necessidade de socorro federal para evitar comprometimento dos serviços públicos, etc. Quanto às empresas estatais, o passado também nos mostra que elas, em maior ou menor grau, foram utilizadas para a consecução de gastos extraorçamentários ou como instrumentos de políticas públicas, como subsídios à indústria, no caso de mineradoras de ferro ou produtoras de aço. A propósito, Stella assim se manifesta: Uma questão importante nos países onde as empresas públicas têm um papel significativo é a reação dessas empresas a uma mudança nos sinais de preço, com mais frequência através de taxas de câmbio e juros. [...] Em um extremo, uma empresa de propriedade pública pode ser completamente insensível às mudanças de preço. Isso é possível porque tais empresas frequentemente não são responsáveis por seu resultado operacional na mesma medida que as empresas do setor privado. Uma desvalorização da taxa real de câmbio, por exemplo, pode não levar a uma mudança no mix de entrada de tradables para não tradables – como faria uma empresa privada – mas sim a um aumento no empréstimo. Isso produziria o oposto daquilo que a política de desvalorização pretendia e serviria para financiamento de outras empresas. Se a empresa pública entrasse em concorrência com empresas privadas, ela poderia experimentar aumento nas vendas devido a preços relativamente inflexíveis e, portanto, aumentar sua participação no mercado exatamente em uma época de ineficiência de crescimento. O aumento do empréstimo também deslocaria o financiamento do governo ou aumentaria o custo do crédito para ele. No caso brasileiro, por seu turno, há um detalhe que muitas vezes passa despercebido, mas é determinante, em última instância, para a classificação das empresas estatais como agentes da execução de políticas públicas: conforme previsão constitucional, os investimentos das empresas estatais federais são parte integrante do orçamento anual submetido pelo governo federal ao Congresso Nacional. Em outras palavras, a decisão de investimento daquelas empresas segue mais as necessidades políticas ou de governo que aquelas decisões puramente negociais ou de mercado. A questão aqui apresentada diz respeito às duas formas de mensurar o déficit público: i) pela diferença entre as receitas e as despesas públicas ou ii) pela variação do endividamento líquido do setor público. 27 Política Fiscal e Dívida Pública – Cláudio Jaloretto. Disponível em: http://www3.tesouro.fazenda.gov.br/Premio_TN/XIVPremio/divida/MHafdpXIVPTN/monografia_Tema1_Claudio_Jaloretto.pdf 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 73 A primeira é o que convencionamos chamar de “acima” da linha, enquanto a segunda, também conhecida como Necessidades de Financiamentodo Setor Público, chamamos de “abaixo” da linha. Essa forma de classificação, estabelecendo uma “linha” divisória entre a mensuração dos fatores que motivam o déficit e seu dual, o financiamento desse déficit, foi emprestada de classificação semelhante do balanço de pagamentos, em que “acima” da linha figuram as transações correntes e o movimento de capitais, e “abaixo” da linha figura a variação das reservas internacionais do país. Conceitualmente, essas duas formas de ver o déficit público deveriam coincidir, mas isso não ocorre em função da abrangência diferente do setor público utilizada e por erros e omissões decorrentes de formas diferentes de agregação ou mensuração. Até o início dos anos 1980, a mensuração que prevalecia era a “acima da linha”, tendo por base, geralmente, a contabilização estabelecida pela Lei nº 4.320/1964. Em geral, os dados relativos ao déficit público eram coletados das contas nacionais, de periodicidade anual, e, no caso do governo federal, utilizava-se o resultado de caixa do Tesouro Nacional. Essa situação começou a mudar no início da década de 1980, quando, com o acordo com o FMI de 1983, se estabeleceram as bases para a mensuração do déficit “abaixo” da linha, computando-se a variação do endividamento público com o Sistema Financeiro Nacional e o setor externo. Essa metodologia, embora não permita identificar as fontes causadoras do déficit público, tem a vantagem de ser de mais fácil cálculo e de ter relativamente menos fontes de informações, o que diminui as chances de erro, além de ser menos sensível a manipulações, posto que os dados são fornecidos pelos credores, e não pelos devedores. Nominal, operacional e primário Os conceitos tradicionais de déficit público são apresentados em três diferentes concepções: i) conceito nominal ou convencional; ii) conceito operacional; e iii) conceito primário. A diferença entre essas formas de mensuração está relacionada, intrinsecamente, às despesas com juros. No primeiro, consideram-se os juros nominais pagos ou apropriados; no segundo, consideram-se os juros reais pagos ou apropriados, enquanto no terceiro conceito se excluem as despesas com juros. O conceito primário, ao excluir as despesas com juros, tenta mensurar o impacto decorrente das ações fiscais do governo, sendo uma medida relevante para identificar o esforço empreendido pelo setor público para o ajustamento fiscal. As despesas com juros são excluídas, pois mensuram, de um lado, o custo pelo desequilíbrio fiscal anterior, expresso pelo saldo da dívida, e de outro, a variação da taxa de juros, determinada exogenamente ao componente fiscal do governo. Embora relevante, o conceito primário é parcial, não devendo ser lido isoladamente, mas em conjunto com a mensuração nominal ou operacional, pois o impacto macroeconômico do déficit é dado pelos déficits nominal ou operacional, e não pelo déficit primário. O conceito operacional surgiu no início dos anos 1980, inicialmente como uma tentativa de aproximar os juros apropriados por competência dos juros que deveriam ser contabilizados pelo critério de caixa. Posteriormente, com o recrudescimento inflacionário, atentou-se para o fato de as despesas com juros nominais não espelharem devidamente o impacto das transferências de juros para os detentores da dívida, dada a não existência de ilusão monetária. De fato, na ausência de ilusão monetária, o conceito relevante é o de déficit operacional, que exclui do cálculo dos juros o efeito da atualização monetária da dívida, ou seja, os financiadores do governo não irão confundir a correção monetária dos seus créditos contra o governo com rendimento real. Problemas estatísticos O período de inflação alta pelo qual o Brasil passou na década de 1980 e início dos anos 1990 explicitou alguns problemas estatísticos, irrelevantes com inflação baixa, mas importantes na existência de inflação alta. Esses problemas, basicamente relacionados à comparação das variáveis com o PIB e com o deflacionamento de série, são comentados a seguir, juntamente com sua solução. Efeito estoque-fluxo Em geral, as variáveis de estoque, como dívidas, meios de pagamento, base monetária, estão expressas a preços do último mês do período; por exemplo, o saldo da base monetária do mês de dezembro está a preços do mês de dezembro. Por sua vez, as variáveis de fluxo, tais como o PIB, estão expressas a preços médios do período. O deflator implícito do PIB, por exemplo, é uma medida da inflação média do ano, e não da inflação 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 74 acumulada do ano. Com a aceleração inflacionária, a inflação acumulada tende a se distanciar da inflação média e, consequentemente, as variáveis de estoque tendem a ser superestimadas, se comparadas a variações de fluxo. Em suma, relações como dívida líquida/PIB apresentam resultados superestimados em um contexto de aceleração inflacionária. Para solucionar o problema, o Banco Central desenvolveu o conceito de PIB valorizado, que consiste em expressar o valor do PIB a preços do último mês, e não a preços médios do ano, eliminando a característica de média, implícita no cálculo do PIB. Efeito final de período O PIB, como qualquer fluxo monetário, corresponde à soma dos fluxos mensais em moeda corrente. Da mesma forma, qualquer outro fluxo monetário também corresponde à soma dos fluxos mensais expressos em moeda corrente. Assim, uma relação fluxo monetário/PIB, na presença de inflação, está sujeita a distorções decorrentes da eventual sazonalidade diferente entre os fluxos mensais do PIB e da variável utilizada para comparação. A essa distorção foi dado o nome de “efeito final de período”. Essa distorção é corrigida comparando-se os fluxos a preços constantes, independentemente da metodologia utilizada para a apuração do déficit público, ou do conceito utilizado. Efeito inflação média Em geral, os índices de inflação são calculados utilizando-se a soma ponderada dos preços durante o mês, comparada com a soma ponderada dos preços do mês anterior. Assim, o índice mede os preços médios de um mês em relação ao mês anterior, ou seja, grosso modo, corresponde aos preços praticados no 15º dia do mês em relação ao mesmo dia do mês anterior, fazendo com que os preços ao final do mês sejam maiores do que aqueles captados pelo índice. Em uma conjuntura de inflação alta, a diferença é significativa. Como os fluxos de juros apropriados, no cálculo do déficit público, estão a preços do último dia do mês, para retirar o efeito inflacionário seria necessária a utilização de um índice que captasse os preços ponta a ponta, ou seja, os preços do último dia do mês. Para que você candidato(a) entenda o papel ou os papéis da política Monetária no nosso país e no mundo afora, é necessário primeiramente que você entenda o conceito e aplicações deste tema. Para que posteriormente seja possível assimilar o conteúdo com as demais políticas da Economia e entender o contexto atual. Política Monetária A política Monetária é o instrumento de política econômica utilizada pelo governo, para interferir na economia. Enquanto a política fiscal afeta diretamente a demanda agregada e o nível de produto da economia, através da arrecadação, do gasto público e do montante do déficit público, a política monetária afeta o produto de forma indireta, através das intervenções sobre o mercado financeiro e sobre a taxa de juros. Assim, a política monetária refere-se à ação do governo no sentido de controlar as condições de liquidez da economia. Com esse objetivo, o governo atua sobre a quantidade de moeda na economia. Com esse objetivo, o governo atua sobre a quantidade de moeda na economia, sobre a capacidade de concessão de empréstimos por parte dos bancos e por, consequência, sobre os níveis das taxas de jutos. Na realidade, o mercado monetário é como outro qualquer, onde existe demanda (por moeda), oferta (demoeda) e preço de equilíbrio, que nada mais é do que a taxa de juros. Um ponto que merece ser destacado é o objetivo da política monetária. Para os analistas, existem dois tipos de política monetária: a ativa e a passiva. Na primeira, o objetivo do governo é controlar a oferta de moeda e, neste caso, a taxa de juros oscila para determinar o equilíbrio entre oferta e demanda de moeda. No segundo caso, o objetivo do governo é determinar a taxa de juros e, neste caso, o governo, tanto via taxa de redesconto como pela remuneração dos títulos públicos, tenta determinar a taxa de juros de mercado, deixando a oferta de moeda variar livremente para manter esta taxa de juros, ou seja, a oferta de moeda fica endogenamente determinada. Conceito e Tipos de Moedas No Brasil, há uma grande polêmica sobre o significado de moeda. Pode-se começar a discussão a partir das funções que a moeda desempenha. Assim, identificamos três funções que a moeda desempenha no sistema econômico: 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 75 i. unidade de conta - ser o referencial das trocas, instrumento pelo qual as mercadorias são cotadas, dado que possibilita que todos os bens e serviços sejam expressos num mesmo denominador; ii. meio ou instrumento de troca - intermediário entre as mercadorias, por ter aceitação generalizada e garantida por lei; iii. reserva de valor - poder de compra que se mantém no tempo, ou seja, forma de se medir a riqueza, dado que representa liquidez imediata para quem a possui; Nota-se que, enquanto unidade de conta, a moeda expressa a relação de troca das mercadorias, ou seja, funciona como um medidor, um parâmetro. Assim, o preço de uma mercadoria é a expressão monetária do valor de troca de um bem. A convivência com taxas muito elevadas de inflação por longos períodos, fez com que a moeda brasileira não exercesse todas essas funções tradicionais. No auge do período inflacionário, no início dos anos 90, quando a inflação superou a casa dos 80% ao mês, embora a moeda fosse utilizada como meio de troca, o mesmo não se verificou em relação às demais funções. Em períodos de inflação elevada não há interesse em reter a moeda como reserva de valor, até porque o valor da moeda será corroído pela inflação. Da mesma forma a corrosão da moeda, derivada da inflação, faz surgir outras unidades da conta, como dólar, UFIR, UPC, BTN e assim por diante (os preços passam a ser expresso nessas unidades). E pelo mesmo motivo, não será utilizado como padrão para pagamentos diferidos. Existem três tipos de moeda: as moedas metálicas, emitidas pelo Banco Central, normalmente de pequeno valor e que visam facilitar as operações fracionadas; o papel- moeda, que são as cédulas emitidas pelo Banco Central, que representam parcela importante do volume de dinheiro utilizado pelo público e, finalmente, a moeda escritural, que representada pelos depósitos à vista efetuado nos bancos comerciais. A soma das moedas metálicas, o papel-moeda (que juntos compõem a moeda manual) e a moeda escritural correspondem ao conceito tradicional de meios de pagamento. Os meios de pagamento apresentam duas características peculiares: (a) têm liquidez imediata (isto é, podem ser utilizados imediatamente para efetuar transações); (b) não rendem juros. Ainda em relação ao conceito de meios de pagamento, vale destacar que se refere a direitos do setor privado não bancário, excluindo, portanto, o caixa dos próprios bancos e a moeda manual que está com as autoridades monetárias. O depósito a vista são recursos à disposição do público não bancário e não pertencem ao banco. Cabe observar, ainda, que no conceito tradicional de meios de pagamento aqui definido (adiante serão apresentados outros conceitos), não estão incluídos os depósitos a prazo (como fundos monetários, cadernetas de poupança etc.), porque rendem juros e não têm liquidez imediata. Para entendermos melhor a influência da política monetária na economia, estudaremos primeiro a moeda, iniciando pelo seu conceito o que leva a demanda e a oferta de moeda, os mecanismos de controle da oferta de moeda pelo Banco Central - BACEN - e, por fim, a influência desta no sistema econômico. A importância da moeda no sistema financeiro A moeda é o instrumento básico para que se possa operar o mercado. Sem esta, o processo de troca seria extremamente limitado, uma vez que, um hipotético sistema de escambo - trocas direta - para que alguém adquira qualquer mercadoria deve encontrar no sistema alguém que possua aquilo que esteja querendo adquirir e simultaneamente queira comprar aquilo que esteja sendo oferecido. Deste modo, a introdução da moeda, enquanto representante do valor da mercadoria, permite que a troca se desenvolva, desvinculando-a da necessidade da dupla coincidência de interesses. Como se pode perceber, a moeda é o ativo utilizado para realizar as transações porque possui maior liquidez, ou seja, que tenha a capacidade de converter-se rapidamente em poder de compra, isto é, transformar-se em mercadorias. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 76 Percebe-se que ao ser colocada como intermediária das trocas, a moeda permite a separação temporal entre o ato de compra e o de venda. O indivíduo não é obrigado a comprar instantaneamente apenas pelo fato de ter vendido. Ele pode vender uma mercadoria hoje e só utilizar a moeda para comprar outra depois de determinado período de tempo. Demanda por Moeda Por que os indivíduos demandam moeda? Podemos identificar pelo menos três motivos para que os indivíduos demandem moeda: a) motivo transacional; b) motivo precaução; c) e motivo especulação. Observa-se aqui que enquanto meio de troca, a moeda começa a afetar o sistema econômico, pois para realizar as trocas, para poder comprar, os indivíduos devem ter moeda. Neste sentido, porém, os indivíduos não demandariam, não reteriam moeda por ela mesma, mas pelos bens que ela pode adquirir. Esta é a chamada demanda de moeda por motivo transacional. Se a moeda se restringisse a esta função, teríamos a seguinte relação: como os indivíduos não demandam moeda por si mesma, toda moeda no sistema seria utilizada para realizar as trocas; dada a quantidade de bens existentes na economia, a quantidade de moeda influenciaria tão-somente na determinação dos preços destes bens. Quanto mais moeda houvesse, mais os indivíduos iriam querer gastar e, como a oferta de bens é dada no curto prazo, o efeito seria uma elevação de preços. Os indivíduos, contudo, não recebem renda diariamente na economia. Por exemplo, o salário é pago de mês em mês. Por outro lado, os agentes realizam gastos diariamente, em alimentação, transporte, etc. Sendo assim, os indivíduos devem fazer frente a estas defasagens entre recebimentos e pagamentos, guardando moeda para poderem realizar as transações necessárias. A demanda de moeda para transações depende do padrão de gastos dos indivíduos e estes do nível de renda. Assim, quanto maior a renda maior será a demanda de moeda para transações. Quando consideramos a moeda como reserva de valor, temos novos motivos para demandar moeda. Um segundo motivo a ser considerado é o motivo precaução. Os indivíduos têm incerteza em relação ao futuro e guardam moeda para precaver-se dos infortúnios. Neste contexto, cabe a pergunta: por que se precaver guardando moeda que não renda juros em vez de comprar outros ativos - títulos - que rendem, podendo-se obter mais moeda no futuro? Uma resposta comumente aceita é que, no contexto de incerteza, o único ativo que possibilita segurança a seu detentor é aquele que possui liquidez absoluta, ou seja, a moeda - dinheiro. Assim, a posse de moeda dá a seu detentor maior segurança diante das incertezas do futuro, pois tem liquidez absoluta. Este motivo é importante em momentos (ou de países) com baixa inflação. O total de moedaque o indivíduo pode guardar para precaver-se do futuro está diretamente relacionado com sua renda. Um terceiro motivo para demandar moeda, salientado por Keynes, é o motivo especulação. O indivíduo, segundo Keynes, guarda moeda para esperar o melhor momento para adquirir títulos que permitam rendimento. Imagine o caso de um título de longo prazo com um rendimento anual fixo em reais - o que é chamado de perpetuidade. O rendimento do título é visto como juros pagos pela aplicação de um capital. Sendo assim, o preço do título flutuará de acordo com as mudanças na taxa de juros. Assim, segundo a teoria keynesiana, a sociedade demanda moeda por três razões: (a) a demanda para transação, que se refere à necessidade que os agentes têm de possuírem moeda para efetuar suas transações; (b) a demanda para precaução, que se refere à procura de moeda por parte da sociedade para fazer frente a eventuais compromissos não previstos; e, (c) finalmente, a demanda para especulação, que se verifica quando o agente econômico fica esperando uma oportunidade de aplicação interessante. Enquanto essa oportunidade não se verifica, o agente fica "posicionado" em moeda. Por outro lado, pode-se identificar um conjunto de variáveis que influenciam o comportamento da demanda por moeda. Em primeiro lugar, não é difícil perceber que à medida que o país se desenvolve e a produção de bens e serviços aumenta, a necessidade de moeda eleva-se na mesma proporção. Já 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 77 quando as taxas de juros apresentam-se muito elevadas, há uma tendência à redução da demanda de moeda por especulação, uma vez que a possibilidade de surgir novas e boas aplicações fica reduzida (na realidade, a boa alternativa de aplicação já está existindo). Além disso, a própria demanda para transação e precaução tende a reduzir-se com juros elevados, uma vez que os agentes trabalharão com menor volume de dinheiro (tanto manual como escritural) para poder aplicar seus recursos em ativos que rendem juros. Uma terceira variável importante refere-se aos efeitos da inflação. De um lado, verifica-se que, à medida que os preços aumentam, a necessidade de moeda para transação também aumenta em termos nominais. De outro lado, porém, quando a inflação é elevada, "carregar dinheiro no bolso" significa perda, uma vez que os preços estão aumentando e o dinheiro fica parado, comprando um volume cada vez menor de bens. Essa situação conduz ao conceito de "imposto inflacionário". Esse "imposto" recai sobre os detentores de moeda, em períodos de inflação elevada, uma vez que o poder de compra da moeda retida está sendo corroído pela inflação, impondo uma perda (real) ao proprietário da moeda, como se o mesmo estivesse pagando um "imposto". Assim, em períodos de inflação muito elevada, os agentes procuram "livrar-se" o mais rapidamente possível da moeda, fazendo com que contraia a demanda por moeda (em termos reais). No auge da explosão dos preços, que seria a hiperinflação, a moeda é rejeitada pela sociedade, e acaba sendo substituída por outros ativos ou outras moedas (como o dólar, por exemplo). Por outro lado, em períodos de queda brusca da inflação, como ocorreu nos planos de congelamento ou mesmo no Plano Real, há uma tendência de aumento da demanda real da moeda, uma vez que o custo de "carregar" dinheiro deixa de existir (o imposto inflacionário some quando a inflação é zero) e as alternativas de aplicação financeira de curtíssimo prazo também tendem a desaparecer. Oferta da Moeda Por meio da política monetária, o governo atua sobre a oferta de moeda, uma vez que a demanda é determinada pela sociedade. No Brasil, o órgão responsável pela execução da política monetária, é o Banco Central cuja tarefa é regular a liquidez, de forma compatível com a produção de bens e serviços e o controle da inflação (costuma-se dizer que o Banco Central é o "guardião da moeda"). Para entender essa tarefa do Banco Central, é importante observar que há dois agentes na economia em condições de ofertar moeda: o próprio Banco Central que detém o monopólio da moeda manual, e os bancos comerciais, por meio da multiplicação dos depósitos à vista (o Banco Central, como se verá, tem condições de atuar nessa capacidade de multiplicação dos depósitos pelos bancos). O processo de multiplicação dos depósitos a vista pelos bancos pode ser entendido a partir de um depósito inicial. Quando ocorre um depósito à vista em um banco comercial, esse recurso pode ser movimentado a qualquer momento, pelo titular da conta. Sabe-se entanto, que (em situações normais) no conjunto total dos depósitos a vista, nem todos os recursos são sacados simultaneamente, havendo, na realidade, apenas saques numa porcentagem desse valor total. O banco precisa guardar em seus cofres apenas esse percentual, podendo emprestar o restante a seus clientes. Por outro lado, o cliente que tomou o empréstimo irá fazer um novo depósito em outro banco (ou no mesmo) e o processo vai se repetindo. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 78 O efeito final será dado por um multiplicador igual ao inverso da percentagem das reservas bancárias. Como, no exemplo, as reservas bancárias representam 30% (0,30), o multiplicador final será de 1/0,30 = 3,33..., isto é, o depósito inicial de R$ 1.000,00 transforma-se num acréscimo de meios de pagamento de R$ 3.333,00. Como já foi destacado, o Banco Central tem capacidade de influenciar esse poder de multiplicar, por meio de um dos instrumentos de política monetária que será discutido adiante (o depósito compulsório). Base Monetária A base monetária refere-se à emissão primária de moeda. E mais abrangente que a moeda manual utilizada no conceito de meios de pagamento, uma vez que inclui, além da moeda em poder do público, as reservas dos bancos comerciais. Assim: Da mesma forma, porém, em períodos de inflação muito elevada, a base monetária também se reduz como porcentagem do PIB, já que a sociedade não retém moeda, por causa de sua contínua perda de valor. Além da base monetária, existem outros quatro conceitos de meios de pagamento (M1 a M4), cujas diferenças referem-se basicamente a menor ou maior liquidez dos ativos que os compõem. Parte-se do M1 que inclui apenas ativos de total liquidez e vai incorporando ativos até chegar-se a M4, que inclui os de menor liquidez. 1ª etapa: • o banco A recebe um depósito de R$ 1.000,00; • retém digamos, 30% para fazer frente às necessidades de saques (10% voluntários e taxa compulsória do Banco Central de 20%) e empresta o restante R$ 700,00; 2ª etapa: • o cliente que tomou emprestado R$ 700,00, deposita esse valor no Banco B; • o banco B retém 30% (R$ 210,00) e emprestará o restante (R$ 490,00); 3ª etapa: • o cliente que tomou emprestado R$ 490,00, deposita esse montante no banco C; • o banco C retém 30% (R$ 147,00) e empresta R$ 343,00; Demais etapas: • como o depósito está se reduzindo em cada etapa, o processo continua até "zerar". Base monetária = papel-moeda em poder do público + Reservas dos bancos comerciais 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 79 A Tabela abaixo mostra o valor dos diferentes agregados monetários, não somente como porcentagem do PIB, bem como em relação a M4. Tabela – Agregados monetários Discriminação Saldo em R$ milhões % do PIB % do M4 Base Monetária 98.306 5,1 7,5 M1 142.451 7,4 10,9 M2 582.464 30,1 44,4 M3 1.166.502 60,2 88,9 M4 1.312.399 67,7 100,0 Fonte: Conjuntura Econômica, 2005. É importante destacar um conceito muito utilizado em economia, que é o multiplicador da base monetária, definido pela relação ente M1 e a base, isto é: (M1) liquidez total O M1 é o conceitode meios de pagamento definido anteriormente, incluindo, portanto, o papel- moeda em poder do público e os depósitos a vista nos bancos comerciais. Portanto: M1 = Papel-moeda em poder do público + Depósitos a vista • (M2) liquidez com algumas restrições O M2 é um conceito mais amplo de meios de pagamento já que inclui, além do os fundos do mercado monetário (como os fundos de renda fixa, fundos DI etc.) mais os títulos do governo em poder do público. Assim: M2 = M1 + Fundos do mercado monetário + Títulos públicos • (M3) liquidez com mais restrições O M3 agrega ao M2 os depósitos em caderneta de poupança. Vale lembrar que os depósitos em caderneta de poupança, embora possam ser sacados a qualquer momento, para gerar rentabilidade, precisam ficar inalterados durante 30 dias pelo menos, o que dá uma característica, em termos de liquidez, diferente dos fundos do mercado monetário e dos títulos públicos. Deste modo: M3 = M2 + Depósitos de Poupança • (M4) liquidez de maior restrições O M4 incorpora os títulos privados, que incluem certificados de depósito bancário (CDBs), outros depósitos a prazo e letras de câmbio. Desta forma: M4 = M3 + Títulos privados 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 80 K=M1 Base Onde K é o multiplicador. (no exemplo da tabela 01 o multiplicador é = 1,5) O multiplicador, na realidade, mostra, a partir do comportamento da base, como será impactado o montante de M1. Assim, se o multiplicador é igual a 1,5, significa dizer que um aumento de R$ 1,00 na base monetária implicará em elevação de R$ 1,50 nos meios de pagamento (M). Ferramentas de Política Monetária São três as Ferramentas clássicas de política monetária: controle da base monetária, depósito compulsório e política de redesconto. Controle da base monetária Por determinação legal, o Banco Central controla o volume de moeda manual da economia. Para entender como o governo controla a base monetária, é necessário verificar quais os fatores que, tradicionalmente, levam a uma expansão ou contração de base monetária. Independentemente da política monetária, existem três fatores que podem levar a oscilações na base monetária. O primeiro deles é o resultado das contas públicas. Se o governo registrar déficit em suas contas, uma das formas de "bancar" esse déficit é por meio da emissão de moeda, ampliando a base monetária. Na hipótese de superávit público, ocorre o contrário, o governo retira mais dinheiro da sociedade (por meio de tributos) do que injeta (por meio dos gastos), gerando redução da base. A segunda possibilidade de flutuação da base monetária refere-se ao resultado líquido das operações do setor externo. Sempre que ocorre entrada de dólares no Brasil, há pressão para a emissão de moeda, para fazer a conversão dos dólares, que entraram, para reais. Quando os dólares saem ocorre o contrário. Para facilitar o entendimento desse processo, basta imaginar que o Banco Central fosse como uma caixa única. Quando uma empresa exportadora recebe dólares (ou qualquer outro tipo de entrada de moeda estrangeira), tais dólares serão trocados no Banco Central do Brasil por reais, 106 obrigando este a emitir reais. Por outro lado, quando uma empresa precisa importar, necessita comprar dólares e retira reais de circulação (pagando ao Banco Central). Se o saldo das entradas e saídas é zero, não ocorre qualquer pressão sobre a base monetária. Contudo, se o resultado é de superávit nas contas externas, ocorrerá pressão para aumento da base monetária, o inverso verificando-se quando há déficit (há pressão para reduzir a base). Uma terceira fonte de oscilação da base monetária refere-se às operações de crédito do setor público. Quando o saldo de tais operações é positivo há uma pressão para encolher a base, o inverso ocorrendo na hipótese deficitária. Os fatores de pressão aqui citados são independentes da política monetária. Ocorre que, muitas vezes, esses fatores atuam no sentido contrário das necessidades de moeda, isto é, a economia está precisando de mais moeda e esses fatores estão levando a uma redução da base, e vice-versa. Para controlar essa situação, o governo faz uso das operações de mercado aberto (open market), que consistem na compra e venda de títulos públicos. Quando o governo coloca títulos junto ao público, está reduzindo (ou "enxugando") a base monetária, já que a moeda do setor privado está indo para o governo, operando no sentido contrário, quando compra seus títulos, estará injetando moeda na economia. As operações de mercado aberto permitem assim, controlar o volume da base monetária e atender às flutuações sazonais da demanda de mercado, como ocorre, por exemplo, no final do ano, em função das comemorações natalinas. É importante destacar que toda vez que o governo coloca títulos junto à sociedade, além de restringir base monetária, está incorrendo em aumento da dívida pública interna, já que esses títulos representam 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 81 obrigações para o governo e pagam juros e correção monetária. Assim, se a dívida pública crescer muito (por causa do desequilíbrio nas contas públicas, juros elevados ou excessivos superávits externos), os agentes econômicos tendem a perder a confiança nos títulos do governo e a política de mercado aberto fica inviabilizada. Política Monetária e Keynes (Candidato(a), apenas para que você lembre este ponto, é apresentada novamente as etapas do impacto da política monetária. Entretanto, este assunto já foi tratado e você poderá consulta-lo, aprofundando-se no tópico “9. Modelos Keynesianos: propriedades básicas”. Os economistas keynesianos situam o impacto da política monetária em três etapas: 1.A política monetária pode alterar a taxa de juros. 2. Variações na taxa de juros podem ter impacto sobre a demanda de investimentos. 3. Variações na demanda de investimentos têm um efeito amplificado sobre a demanda agregada e o produto nacional Uma mudança nas taxas de juros pode afetar a demanda de investimentos, pois, com uma taxa de juros menor, os empresários são encorajados a tomar dinheiro emprestado para comprar novas máquinas ou construir novas fábricas. Uma maior demanda de investimentos terá um efeito multiplicador sobre a demanda agregada e renda nacional. A influência da taxa de juro Podemos definir a taxa de juro como sendo aquilo que se ganha pela aplicação de recursos durante determinado período de tempo, ou, inversamente, aquilo que se paga pela obtenção de recursos de terceiros - tomada de empréstimos - durante determinado período de tempo. Assim, a taxa de juros deve sempre especificar o período de tempo ao qual corresponde. Existem pelo menos duas correntes alternativas sobre o que determina a taxa de juros. Uma primeira concepção, que considera a possibilidade de se guardar a poupança na forma monetária, uma vez que moeda também é reserva de valor, vê a taxa de juros como o prêmio pela renúncia à liquidez. De acordo com esta visão, o indivíduo tem duas decisões a tomar: a primeira é quanto poupar e a segunda de que forma guardar a poupança. O simples fato de poupar não garante a obtenção de um juros sobre a poupança. Esta só terá algum rendimento se o indivíduo abrir mão de guardar a poupança na forma monetária e adquirir um ativo financeiro. Assim, a taxa de juros é vista como o prêmio pela renúncia à liquidez - segurança - absoluta oferecida pela moeda. Uma segunda corrente, vê a taxa de juros como o prêmio pela "espera", ou seja, pela renúncia ao consumo presente em favor do consumo futuro. A taxa de juros, nesta concepção, é vista como o prêmio pela poupança. Esta concepção parte da ideia de que a única forma de guardar poupança é adquirindo ativos financeiros, dado que ninguém demandaria moeda como reserva de valor, uma vez que ela não rendejuros. Assim, teoricamente, podem-se dar duas explicações para a taxa de juros: i. taxa de juros é o prêmio pela renúncia à liquidez, isto é, o que se ganha por guardar a poupança na forma de títulos e não na forma monetária. ii. a taxa de juros é o prêmio pela espera, isto é, o que se ganha por sacrificar o consumo hoje em favor de um maior consumo futuro; Agora podemos voltar a discussão de como a política monetária afeta a demanda agregada. Já vimos que a demanda de moeda depende da renda e da taxa de juros. Dado o nível de renda, quanto maior a taxa de juros menor a demanda de moeda. Define-se assim o nível de renda, quanto maior a taxa de juros menor a demanda de moeda. A partir desta demanda de moeda, dada a oferta de moeda controlada pelo governo, determina-se taxa de juros que equilibra demanda e oferta de moeda. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 82 É neste ponto que a política monetária pode afetar o nível de demanda agregada da economia e, por consequência, afeta também o produto. Como o investimento, ou mesmo o consumo de bens duráveis, varia inversamente com a taxa de juros, sempre que o governo quiser conter a atividade econômica ele pode contrair a oferta monetária e com isso afetar a taxa de juros e a demanda. Sempre que o governo reduz ou aumenta os meios de pagamento, há uma tendência de elevação ou redução das taxas de juros, porque a oferta de empréstimos se contrai ou se expande. Na realidade, a taxa de juros tem um papel fundamental nas decisões dos agentes econômicos. No âmbito familiar, afeta suas decisões de consumo de duas formas: na disposição de adquirir um bem a prazo (se a taxa de juros sobe, as prestações aumentam) e na decisão entre consumir e poupar (juros mais elevados levam a um aumento da poupança e redução do consumo). Já do lado empresarial, as taxas de juros interferem nas decisões de investimento: quanto mais elevadas às taxas de juros, menos os empresários estarão dispostos a investir: de um lado, porque o custo de tomar emprestado o recurso fica mais alto, e de outro, porque pode ser mais atraente aplicar o recurso no mercado financeiro (se dispuser do recurso) do que na atividade produtiva. Além disso, quando os juros estão altos, as empresas procuram trabalhar com o menor estoque possível, tanto de produtos finais como de matérias-primas, porque o custo de "carregar" o estoque fica muito alto (ou paga juros ou está deixando de ganhar no mercado financeiro). As taxas de juros também têm papel importante para as contas externas. Quando o país está necessitando de dólares, as taxas internas de juros podem ser elevadas para atrair recursos do exterior, que vêm em busca de rendimentos mais altos. Risco País O risco país mede a confiança dos investidores estrangeiros na capacidade de pagamento do país e de honrar os compromissos assumidos. Assim, poder-se-ia dividir, a título de simplificação, o mercado financeiro internacional em dois grandes grupos: o primeiro refere-se ao mercado dos títulos emitidos pelos países desenvolvidos (Estados Unidos e Europa), cujas características essenciais são de papéis com reduzido grau de risco e, por consequência, baixa rentabilidade. O outro grupo refere-se aos emergentes (América Latina e Ásia), em que o grau de risco é maior, o mesmo ocorrendo com as taxas de juros. Os países são classificados, em termos de grau de risco, pelas empresas de rating. Além de variáveis como a estabilidade política, uma questão que "pesa" muito na avaliação é a situação dos chamados "fundamentos da economia", incluindo aí a situação fiscal (déficit e dívida pública), o grau de solvência do balanço de pagamentos (que está associado à política cambial), combate inflacionário etc. Além disso, há um fator extremamente importante na avaliação do risco de um país, que é o fato de já ter declarado moratória em seu passado. Isso porque a ideia de risco está associada ao não- pagamento de uma obrigação financeira por parte de um país. Ora, se um país (ou mesmo uma empresa do país) tem um título vencendo, e esse país encontrar-se em moratória, não há como efetuar o pagamento e o credor não receberá seu direito. Em função dos diferentes graus de risco, os países, ao lançarem seus papéis no exterior, vão pagar diferentes taxas de juros. Países com elevado grau de risco pagarão taxas mais elevadas; em outras palavras, pagarão um elevado spread (diferença entre a taxa paga pelo país e a taxa básica de juros que pode ser a prime de New York, ou a libor, do mercado de Londres, ou ainda, a taxa básica dos títulos do Tesouro dos EUA). Normalmente, o spread é medido em termos de pontos-base, isto é, cada 1% de spread corresponde a 100 pontos-base. Já quando uma empresa vai captar recursos no exterior, lançando títulos, o grau de risco envolvido nesta operação é composto de duas partes: a primeira, refere-se a própria empresa, que pode não ter recursos para arcar com as obrigações relativas à operações (pagamentos de juros, normalmente semestrais, e o próprio título no vencimento); o outro componente é o risco do país, uma vez que, mesmo que a empresa tenha condições de honrar seus compromissos, não há condições de efetuar o pagamento em dólar, se o país encontrar-se em moratória, por ocasião dos vencimentos. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 83 O Banco Central e o Tesouro Nacional No Brasil, há uma grande confusão entre política monetária, política de dívida pública, Banco Central e Tesouro Nacional. Nos países em que há independência do Banco Central, o Tesouro coloca títulos de longo prazo e o Banco Central controla a liquidez da economia, e não tem qualquer responsabilidade sobre a situação financeira do Tesouro. A independência do Banco Central é caracterizada não somente pelo fato dos administradores terem o mandato outorgado pelo poder legislativo, como também pela legal do Banco Central financiar o Tesouro Nacional. No Brasil, a situação é completamente diferente. A falta de credibilidade (derivada de constantes descontroles inflacionários, "calote" do Governo Collor, entre outros fatores) não permite colocar títulos de longo prazo. Além disso, e até por consequência, sempre houve cordão umbilical entre o Tesouro Nacional e o Banco Central, que, na realidade, sempre foi o agente da dívida pública. A relação entre o Banco Central e o Tesouro Nacional nunca foi muito clara, na medida em que há uma superposição entre a política da dívida pública (que deveria ser do Tesouro) e a política de "open- market" (que deveria ser do Banco Central). O Banco Central compra títulos de longo prazo do Tesouro Nacional (financiando assim o Tesouro) e faz política monetária com títulos federais. A Constituição de 1988 proibiu o Banco Central de financiar o gasto público, mas, deixou duas "brechas" que na realidade, autorizam o financiamento. De um lado, permitiu ao Banco Central financiar bancos estatais, e, de outro, adquirir títulos do Tesouro Nacional nos leilões efetuados pela Secretaria do Tesouro Nacional (que, na prática, significa financiar o déficit). COMOM – Banco Central O Comitê de Política Monetária (Copom) foi instituído em 20 de junho de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa de juros. A criação do Comitê buscou proporcionar maior transparência e ritual adequado ao processo decisório, a exemplo do que já era adotado pelo Federal Open Market Committee (FOMC) do banco central dos Estados Unidos e pelo Central Bank Council, do banco central da Alemanha. Em junho de 1998, o Banco da Inglaterra também instituiu o seu Monetary Policy Committee (MPC), assim como o Banco Central Europeu, desde a criação da moeda única em janeiro de 1999. Atualmente, uma vasta gama de autoridades monetárias em todo o mundo adota prática semelhante, facilitando o processo decisório,a transparência e a comunicação com o público em geral. Desde 1996, o Regulamento do Copom tem sido atualizado no que se refere ao seu objetivo, à periodicidade das reuniões, à composição e às atribuições e competências de seus integrantes. Essas alterações visaram não apenas aperfeiçoar o processo decisório no âmbito do Comitê, como também refletiram as mudanças de regime monetário. Destaca-se a adoção, pelo Decreto 3.088, em 21 de junho de 1999, da sistemática de metas para a inflação como diretriz de política monetária. Desde então, as decisões do Copom passaram a ter como objetivo cumprir as metas para a inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional. Segundo o mesmo Decreto, se as metas não forem atingidas, cabe ao presidente do Banco Central divulgar, em Carta Aberta ao Ministro da Fazenda, os motivos do descumprimento, bem como as providências e prazo para o retorno da taxa de inflação aos limites estabelecidos. Formalmente, os objetivos do Copom são: "implementar a política monetária, definir a meta da Taxa Selic e seu eventual viés, e analisar o Relatório de Inflação". A taxa de juros fixada na reunião do Copom é a meta para a Taxa Selic (taxa média dos financiamentos diários, com lastro em títulos federais, apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia), a qual vigora por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. Se for o caso, o Copom também pode definir o viés, que é a prerrogativa dada ao presidente do Banco Central para alterar, na direção do viés, a meta para a Taxa Selic a qualquer momento entre as reuniões ordinárias. As reuniões ordinárias do Copom dividem-se em dois dias: a primeira sessão às terças-feiras e a segunda às quartas-feiras. Mensais desde 2000, o número de reuniões ordinárias foi reduzido para oito ao ano a partir de 2006, sendo o calendário anual divulgado até o fim de junho do ano anterior. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 84 O Copom é composto pelos membros da Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil: o presidente, que tem o voto de qualidade; e os diretores de Administração, Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Fiscalização, Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural, Política Econômica, Política Monetária, Regulação do Sistema Financeiro, e Relacionamento Institucional e Cidadania. Também participam do primeiro dia da reunião os chefes dos seguintes departamentos do Banco Central: Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban), Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), Departamento Econômico (Depec), Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep), Departamento das Reservas Internacionais (Depin), Departamento de Assuntos Internacionais (Derin), e Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin). A primeira sessão dos trabalhos conta ainda com a presença do chefe de gabinete do presidente, do assessor de imprensa e de outros servidores do Banco Central, quando autorizados pelo presidente. No primeiro dia das reuniões, os chefes de departamento apresentam uma análise da conjuntura doméstica abrangendo inflação, nível de atividade, evolução dos agregados monetários, finanças públicas, balanço de pagamentos, economia internacional, mercado de câmbio, reservas internacionais, mercado monetário, operações de mercado aberto, avaliação prospectiva das tendências da inflação e expectativas gerais para variáveis macroeconômicas. No segundo dia da reunião, do qual participam apenas os membros do Comitê e o chefe do Depep, sem direito a voto, os diretores de Política Monetária e de Política Econômica, após análise das projeções atualizadas para a inflação, apresentam alternativas para a taxa de juros de curto prazo e fazem recomendações acerca da política monetária. Em seguida, os demais membros do Copom fazem suas ponderações e apresentam eventuais propostas alternativas. Ao final, procede-se à votação das propostas, buscando-se, sempre que possível, o consenso. A decisão final - a meta para a Taxa Selic e o viés, se houver - é imediatamente divulgada à imprensa ao mesmo tempo em que é expedido Comunicado através do Sistema de Informações do Banco Central (Sisbacen). As atas em português das reuniões do Copom são divulgadas às 8h30 da quinta-feira da semana posterior a cada reunião, dentro do prazo regulamentar de seis dias úteis, sendo publicadas na página do Banco Central na internet ("Atas do Copom") e para a imprensa. Ao final de cada trimestre civil (março, junho, setembro e dezembro), o Copom publica o documento "Relatório de Inflação", que analisa detalhadamente a conjuntura econômica e financeira do País, bem como apresenta suas projeções para a taxa de inflação. O que é o Copom? Por que foi criado? O Comitê de Política Monetária, ou Copom, é o órgão decisório da política monetária do Banco Central do Brasil (BCB), responsável por estabelecer a meta para a taxa básica de juros, que no Brasil é a Taxa Over-Selic, ou Taxa Selic. O Comitê foi criado em junho de 1996 com o objetivo de estabelecer ritual adequado ao processo decisório de política monetária e aprimorar sua transparência. Quais são os objetivos do Copom? No regime de metas para a inflação, implementado no Brasil em 1999, o principal objetivo do Copom é o de estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a meta para a taxa básica de juros no Brasil. A partir dessa definição, cabe ao BCB, por meio de operações de mercado aberto, buscar manter a Taxa Selic diária próxima a essa meta. A meta de inflação de cada ano, por sua vez, é estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) com dois anos de antecedência, sempre no mês de junho. Se, em determinado ano, a inflação ultrapassar a meta estabelecida pelo CMN, o Presidente do BCB deve encaminhar carta aberta ao Ministro da Fazenda explicando as razões do não cumprimento da meta, bem como as medidas necessárias para trazer a inflação de volta à trajetória predefinida e o tempo esperado para que essas medidas surtam efeito. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 85 Quem são os membros do Copom? O Copom é composto pelos membros da Diretoria Colegiada do BCB: o Presidente e os Diretores de Política Monetária, Política Econômica, Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações de Crédito Rural, Fiscalização, Regulação do Sistema Financeiro, e Administração. O Presidente tem direito ao voto decisório em caso de empate na decisão da política monetária. surtam efeito. Quando acontecem as reuniões do Copom? As reuniões ordinárias do Copom eram mensais até 2005. Em 2006, essas reuniões passaram a ocorrer oito vezes ao ano, aproximadamente a cada seis semanas, e continuam a ser realizadas em dois dias. A primeira seção começa na tarde de terça-feira, e a reunião é concluída, normalmente, no fim da tarde do dia seguinte. O calendário das reuniões ordinárias do Copom de cada ano é divulgado até o final de outubro do ano anterior. Para ver o calendário de reuniões do Copom para o ano em curso, acesse http://www.bcb.gov.br/?COPOM. O Copom pode se reunir extraordinariamente, convocado pelo presidente do BCB, em função de alterações inesperadas do cenário macroeconômico. Desde a sua criação, ocorreram três reuniões extraordinárias, a última das quais em outubro de 2002. Quem participa das reuniões do Copom? No primeiro dia participam da reunião do Copom seus membros e os chefes de sete departamentos do Banco Central: - Departamento de Assuntos Internacionais (Derin), - Departamento Econômico (Depec), - Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep), - Departamento de OperaçõesBancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban), - Departamento das Reservas Internacionais (Depin), - Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), e - Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin). Participam também do primeiro dia de reunião o Secretário Executivo e o Assessor de Imprensa do Banco Central. A participação no segundo dia de reunião é limitada aos membros do Copom e ao Chefe do Depep. O que é a Taxa Selic? A Taxa Selic, instrumento primário de política monetária do Copom, é a taxa de juros média que incide sobre os financiamentos diários com prazo de um dia útil (overnight), lastreados por títulos públicos registrados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). O Copom estabelece a meta para a Taxa Selic, e cabe à mesa de operações do mercado aberto do BCB manter a Taxa Selic diária próxima à meta. O que é o viés de taxa de juros? O Copom pode estabelecer viés de taxa de juros (de elevação ou de redução), prerrogativa que autoriza o Presidente do BCB a alterar a meta para a Taxa Selic na direção do viés a qualquer momento entre as reuniões regulares do Copom. O viés é utilizado, normalmente, quando alguma mudança significativa na conjuntura econômica for esperada. A última vez em que esse expediente foi utilizado ocorreu na 82ª reunião do Comitê, em 19-20/3/2003. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 86 Para maiores informações a respeito do COPOM, você candidato(a) pode acessar o endereço eletrônico do Banco Central do Brasil, e explorar mais. http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/port/focus/faq%203-copom.pdf COPOM e a Inflação O Brasil possui um sistema de metas para inflação que foi instituído em Junho de 1999 pelo Banco Central (BC). O indicador considerado para mensuração da inflação é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No atual regime de metas para a inflação, o principal objetivo da política monetária implementada pelo Copom é o alcance das metas de inflação estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Se, em um determinado ano, a inflação ultrapassar a meta estabelecida pelo CMN, o presidente do Banco Central deverá encaminhar uma Carta Aberta ao ministro da Fazenda, explicando as razões do não cumprimento da meta, bem como as medidas necessárias para trazer a inflação de volta à trajetória predefinida e o tempo esperado para que essas medidas surtam efeito. Para manter a inflação controlada, um rigoroso controle sobre o consumo e os preços vem sendo efetuado desde então pelo Banco Central, aquecendo ou desaquecendo a economia, através de seu principal instrumento de política monetária: a Taxa Selic. Para acesso às informações da Carta Aberta você candidata(o) e cidadã(ão), ter noção do que se trata esse documento que comunica à Presidência, Ministro da Fazenda, demais autoridades e sociedade sobre o cumprimento ou não cumprimento das metas sobre a SELIC. No contexto geral, a Carta Aberta pode ser entendida como uma carta dirigida a alguém, mas que é tornada pública, ao ser divulgada em um canal comunicativo público, em um sítio na Rede, em um comunicado ou qualquer outro meio de difusão. O texto de uma carta aberta deve ser bem redigido, claro, preciso e com boa apresentação. As fórmulas de cortesia a utilizar devem ser adequadas ao status do destinatário, como aliás toda a linguagem e o tipo de discurso. É muito diferente a forma como podemos dirigir a um diretor de um jornal, por exemplo, ou ao Presidente da República. Mas, seja qual for a forma adotada e o status do destinatário, os elementos de identificação do remetente são imprescindíveis e, ainda que apresentados de forma resumida, completos, para que tanto o destinatário como os leitores compreendam o ponto de vista e o contexto e, até, a razão de ser da própria carta aberta. Se o autor de uma carta aberta não for uma figura pública, a abertura da O que é o viés de taxa de juros? O Copom pode estabelecer viés de taxa de juros (de elevação ou de redução), prerrogativa que autoriza o Presidente do BCB a alterar a meta para a Taxa Selic na direção do viés a qualquer momento entre as reuniões regulares do Copom. O viés é utilizado, normalmente, quando alguma mudança significativa na conjuntura econômica for esperada. A última vez em que esse expediente foi utilizado ocorreu na 82ª reunião do Comitê, em 19-20/3/2003. O Copom divulga outras informações sobre política monetária e inflação? Ao final de cada trimestre (março, junho, setembro e dezembro), o Copom publica o Relatório de Inflação, que analisa detalhadamente a conjuntura econômica e financeira no Brasil, bem como apresenta suas projeções para a taxa de inflação. As projeções inflacionárias são exibidas por meio de um gráfico com o leque de inflação, que mostra as projeções como uma distribuição probabilística, enfatizando o grau de incerteza presente no momento em que as decisões de política monetária são tomadas. O Gráfico 1 reproduz o leque de inflação apresentado no Relatório de Inflação de março de 2013. Por uma questão metodológica, as projeções apresentadas no leque de inflação assumem, para todo o horizonte de previsões, taxa Selic constante e taxa de câmbio no nível do dia anterior à reunião do Copom (cenário de referência). Para facilitar a análise, os Relatórios de Inflação também apresentam o leque de inflação construído com base nas medianas das expectativas do mercado para a taxa Selic e a taxa de câmbio na véspera da reunião do Copom (cenário de mercado). 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 87 carta tem mais ou menos a seguinte fórmula, de identificação que, no fundo, não diverge muito das que se utilizam em outros textos utilitários.28 Política Monetária e Objetivos de Política Econômica Retornando à discussão sobre os objetivos de política econômica, pode-se verificar a capacidade da política monetária de impactar tais objetivos. Para a expansão do PIB a curto prazo é preciso elevar o nível de demanda agregada, o que pode ser feito com uma política monetária expansionista, isto é, aumento da oferta de moeda e crédito e consequente redução dos juros (aumento da base, redução do compulsório, ou da taxa de redesconto). Por outro lado, aumentos excessivos de moeda podem levar a um nível inflacionário agudo. Nesse sentido, vale destacar a Teoria Quantitativa da Moeda que mostra haver uma associação direta entre moeda e inflação. De acordo com essa teoria, se ocorrer, por exemplo, um aumento de oferta de moeda, de 10% (tudo o mais constante) podem ocorrer três possibilidades: a) a produção aumentar 10% e a inflação não subir, isto é, se a produção acompanhar o aumento da moeda, os preços ficarão constantes; b) a inflação pode subir 10% e a produção ficar estável; isso pode ocorrer em períodos nos quais a economia já se encontra a pleno-emprego e toda a moeda excedente vira aumento de preços; c) e, por fim, um mix das duas coisas: um aumento de inflação (menor que 10%) e um aumento de produção também menor que 10%. Outra discussão interessante refere-se ao papel da política monetária nas economias altamente indexadas. Nesse caso, contrações na quantidade ofertada de moeda não conseguem reduzir preços, porque os preços são reajustados automaticamente. Por outro lado, aumentos de quantidade de moeda acabam por "sancionar" uma inflação causada pelos mecanismos da indexação. Isso foi muito comum no Brasil nos períodos de inflação elevada, durante os anos 80. Em termos de setor externo, a política monetária pode influenciar os resultados de duas formas: de um lado, a política monetária contracionista reduz o nível de demanda da economia e, por consequência, as importações. Por outro lado, para atrair capitais externos para o país, as taxas de juros podem ser elevadas, em momentos de déficits nas contasexternas de um país. Esse expediente foi largamente utilizado pelo Brasil na primeira fase do Plano Real, isto é, no período 1994-1998. Ainda no contexto do setor externo, é importante avaliar a relação entre taxa de juros e taxa de câmbio. Como se sabe, no início do Plano Real, a moeda brasileira foi fortemente apreciada (o dólar estava barato), elevando a demanda por importações e viagens ao exterior, itens que geraram um forte déficit no setor externo. Para "cobrir" esse déficit, o governo usou fortemente a política monetária praticando juros elevados para atrair capitais externos. Em outras palavras, "dólar barato" só é compatível com juros elevados. Por outro lado, a estratégia do governo utilizada até janeiro de 1999, para a recuperação gradual do câmbio consistiu em desvalorizações de 0,6% ao mês (7,4% ao ano) da moeda nacional. Vale lembrar que essa estratégica tem impacto nas taxas de juros, uma vez que o investidor externo raciocina em dólares. Portanto, além das variáveis já definidas na equação que relaciona juros internos e externos, o governo até então tinha que conduzir as taxas de juros de forma a garantir rentabilidade real ao investidor estrangeiro (além do risco, obviamente), o que significa dizer incorporar à taxa de juros os 7,4% da desvalorização cambial, no que se convencionou chamar de "cupom cambial". Papel da Política Monetária29 Nesse sentido, o papel da política monetária é central, mas não no sentido de promover o crescimento, 28 CARTA ABERTA. Disponível em: http://www.teiaportuguesa.com/manual/unidade19cartas/cartaaberta.htm. 29 LIMA, L.A.F. O papel da política monetária no crescimento econômico. Redução da taxa de juros não é medida eficaz para acelerar a taxa de crescimento econômico. Revista FAE BUSINESS, 2004. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 88 mas sim de promover um ambiente macroeconômico estável. A teoria econômica ensina que o crescimento econômico sustentado não ocorre sem aumentos de produtividade. Diante disso, cabe perguntar se a estabilidade de preços é indutora ou inibidora de ganhos de produtividade na economia. Como visto anteriormente, em períodos de alta inflação, a política monetária perde sua eficácia no estímulo do investimento. Desde já, isso sugere que a inflação tende a não estar relacionada positivamente com ganhos de produtividade. Em ambientes de inflação elevada, a taxa real de juros deixa de ser referência não apenas para as decisões de consumo, mas principalmente para as decisões de investimento A estabilidade de preços em si não garante o aumento da produtividade e tampouco a aceleração do taxa de crescimento do produto. Mas a contenção dos aumentos de preços permite ganhos na capacidade de predição do setor privado. Como já mencionado, em ambientes de inflação elevada, a taxa real de juros deixa de ser referência não apenas para as decisões de consumo, mas principalmente para as decisões de investimento. Nesse contexto, a estabilidade de preços passa a ser um instrumento. Não se trata de condição suficiente, mas é certamente uma condição necessária para se atingir maiores taxas de crescimento do produto. A política monetária só apresenta efeito em variáveis reais da economia no curto prazo à medida que surpreende os agentes. Ocorre que estes corrigem suas expectativas futuras com base na experiência presente. Isso significa que reduções da taxa de juros podem induzir maiores taxas de gasto e investimento. Mas, se esse movimento da política monetária for sucedido por aumentos da taxa de inflação em um segundo momento, os mesmos agentes tendem a não responder da mesma forma a novos estímulos da taxa de juros. Isso torna efêmero o expediente da redução da taxa de juros sem o controle da inflação. E, persistindo-se nesse expediente, os agentes passarão a adotar comportamentos não apenas corretivos, mas até defensivos e antecipados. Desse modo, torna-se presente a indexação, mesmo que informal, de preços e salários. Estímulos da política monetária, neste caso, passam a ser não apenas ineficazes, mas também inócuos. Por fim, se a justificativa da tolerância com a inflação está na promoção do crescimento para possibilitar a geração de empregos e uma sociedade mais justa do ponto de vista social, vale lembrar que a busca pela justiça social passa longe da alternativa inflacionária. Primeiro porque a redução da taxa de juros tende a não se mostrar eficaz para a geração de empregos senão no curto prazo. Taxa de Juros nominal x taxa de juros real. Dinâmica da taxa de juros30 As taxas de juros são índices fundamentais no estudo da matemática financeira e da economia também. Os rendimentos financeiros são responsáveis pela correção de capitais investidos perante uma determinada taxa de juros. As taxas serão incorporadas sempre ao capital. Vamos compreender estas taxas: Taxa Nominal São aquelas cujas unidade de tempo NÂO coincide com as unidades de tempo do período de capitalização. Exemplos: 30 MARIANO, Fabrício – Matemática Financeira para Concursos – 3ª Edição – Rio de Janeiro: Elsevier,2013. http://www.mundoeducacao.com/matematica/taxa-efetiva-taxa-real.htm 13. Taxa de juros nominal x taxa de juros real. Dinâmica da taxa de juros 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 89 - 5% ao trimestre com capitalização semestral. - 15% ao semestre com capitalização bimestral. Exemplo: Como são 12 meses que existem no ano, então dividimos a taxa por 12, trazendo a taxa para o mesmo período da capitalização, tendo assim a taxa efetiva da operação. Toda taxa nominal traz implícita uma taxa efetiva que deve ser calculada proporcionalmente. Taxa Real, Aparente e Inflação Taxa Real (ir) = taxa que considera os efeitos da inflação e seus ganhos. Taxa Aparente (ia) = taxa que não considera os efeitos da inflação (são as taxas efetivas/nominais). Taxa de Inflação (ii) = a inflação representa a perda do poder de compra. Podemos escrever todas essas taxas em função uma das outras: (1+ia) = (1+ir).(1+ii) Onde: (1 + 𝑖𝑎) = 𝑀 𝐶 , independe da quantidade de períodos e do regime de juros. Exemplos: 1) Uma aplicação no mercado financeiro forneceu as seguintes informações: − Valor aplicado no início do período: R$ 50.000,00. − Período de aplicação: um ano. − Taxa de inflação no período de aplicação: 5%. − Taxa real de juros da aplicação referente ao período: 2%. Se o correspondente montante foi resgatado no final do período da aplicação, então o seu valor é (A) R$ 53.550,00. (B) R$ 53.500,00. (C) R$ 53.000,00. (D) R$ 52.500,00. (E) R$ 51.500,00. Observe que o período de aplicação é de 1 ano, então tanto faz utilizar o regime de juros simples ou compostos. C = R$ 50.000,00 Para resolução de questões com taxas nominais devemos primeiramente descobri a taxa efetiva (multiplicando ou dividindo a taxa) 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 90 t= 1 ano ii = 5% = 0,05 ir = 2% = 0,02 M=? (1+ia) = (1+ir).(1+ii) (1+ia) = (1+0,02).(1+0,05i) (1+ia) = 1,02 . 1,05 (1+ia) = 1,071 ia = 1,071-1 ia = 0,071(taxa efetiva da operação) Aplicando a fórmula do montante: M = C.(1+i)t M= 50 000.(1+0,071)1 50 000. 1,071 M= 53.550,00 Resposta: A. 2) Uma pessoa investiu R$ 1.000,00 por 2 meses, recebendo ao final desse prazo o montante de R$ 1.060,00. Se, nesse período, a taxa real de juros foi de 4%, então a taxa de inflação desse bimestre foi de aproximadamente (A) 1,92. (B) 1,90. (C) 1,88. (D) 1,86. (E) 1,84. Neste exemplo, está nos faltando saber o valor da taxa de juros aparente, mas com as outras informações do enunciado podemos chegar ao seu valor: C = 1.000,00 M = 1.060,00 t = 2 meses ir = 4% = 0,04 ii= ? (1 + 𝑖𝑎) = 𝑀𝐶 ⇒ (1 + 𝑖𝑎) = 1060 1000 ⇒ (1 + 𝑖𝑎) = 1,06 (1 + 𝑖𝑎) = (1 + 𝑖𝑟). (1 + 𝑖𝑖) ⇒ 1,06 = (1 + 0,04). (1 + 𝑖𝑖) ⇒ (1 + 𝑖𝑖) = 1,06 1,04 ⇒ (1 + 𝑖𝑖) = 1,0192 ⇒ 𝑖𝑖 = 1,0192 − 1 ⇒ 𝑖𝑖 = 0,0192 ⇒ 𝑚𝑢𝑙𝑡𝑖𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑟 100(𝑝𝑒𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑢𝑎𝑙) ⇒ 1,92 Diferença entre Taxa Nominal e Taxa Real A diferença entre taxa nominal e taxa real é bastante simples: a taxa nominal é a taxa que normalmente é divulgada pelas instituições financeiras, enquanto que a taxa real é dada pela diferença entre taxa nominal e a inflação do período. Assim, por exemplo, se uma aplicação bancária teve uma rentabilidade de 10% no ano passado (chamamos de taxa nominal) e a inflação no mesmo período foi de 6%, temos que a taxa real foi de quase 4%.* Apesar de ser um conceito simples, a distinção entre taxa nominal e taxa real é muito importante para os economistas, uma vez que traz fortes implicações: Na ótica do investidor o que interessa são os ganhos reais, de que adianta ter uma aplicação que rendeu 12% enquanto os preços no mesmo período subiram 15%? Nesse caso o investidor teve uma rentabidade real negativa, após o período de aplicação o seu dinheiro passou a comprar menos do que comprava antes de investir. Uma referência internacional para o investidor é a taxa de rentabilidade real anual de 6%, meta de grande parte dos fundos de pensão (previdência) de todo o mundo. Os aumentos reais dos salários são referentes aos reajustes acima da inflação. Somente assim podemos visualizar o aumento do poder de compra do assalariado. Os patrões podem fazer a maior festa divulgando um aumento de 10%, no entanto se a inflação do período anterior foi de 9%. Os ganhos reais foram de menos de 1% para o trabalhador. Os aumentos nominais do PIB, por exemplo, podem significar somente aumento de preços (inflação) e não necessariamente aumento da produção, que normalmente é resultado de investimentos anteriores 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 91 e que tende a trazer um maior número de empregos, por isso é importante deflacionar (tirar a inflação) do PIB e assim obter seu aumento (ou redução) real. * (1 + taxa real) x (1 + taxa de inflação) = (1 + taxa nominal) Teoria Quantitativa da Moeda (TQM)31 Conceito A TQM é uma teoria explicativa da inflação como fenômeno exclusivamente monetário. Trata-se da teoria clássica. A TQM tem origem antiga tendo sido objeto de análises por David Hume (1752), Henry Thorton (1802) e David Ricardo (1844), em que defendia que os preços variam proporcionalmente com a quantidade de moeda em circulação, o que obriga, naturalmente, que a velocidade da moeda seja constante. Mais recentemente, a corrente monetarista liderada por Milton Friedman, adota uma abordagem mais prudente, defendendo que a oferta de moeda é o principal determinante das variações do produto nominal. Versões da teoria quantitativa da moeda Há duas versões clássicas da TQM (início do Século XX): a) a Equação de Trocas de Fisher (Universidade de Chicago), em que o processo inflacionário é explicado com base nos fluxos monetário e nominal de cada transação econômica. b) a Demanda de Saldos Reais de Cambridge (Universidade de Cambridge), baseada no mecanismo de oferta e demanda de moeda. Equação de Trocas de Fisher A Equação de Trocas de Fisher mostra que o fluxo monetário (MV) é necessariamente igual ao fluxo nominal (PT) das transações: MV = PT onde M = estoque de moeda V = velocidade de circulação P = nível médio dos preços T = volume de transações realizadas Fisher costumava dividir o fluxo monetário em duas partes referentes à moeda manual (M’V’) e à moeda bancária (M”V”) de modo que MV é a média ponderada desses componentes. O nível das transações (T) é determinado por fatores reais (estoque capital, tecnologia, força de trabalho e recursos naturais) independentes das variáveis contidas na Equação de Trocas. A velocidade de circulação da moeda (V) é igualmente exógena, sendo determinada pelos hábitos de pagamento e recebimento da comunidade. Logo, o nível de preços P é determinado pela quantidade de moeda (M), que por sua vez, é controlada pelo Governo: P = (V/T)M Em resumo, dados os valores de T e V, o nível de preços varia direta e proporcionalmente com o estoque de moeda da economia. A inflação tem, portanto, origem monetária. Porém, de outra forma a moeda é neutra, pois não afeta o volume de transações. Essa é a chamada dicotomia clássica. Versão de Cambridge 31 CARVALHO, Fernando C. et al. Economia Monetária e Financeira. Rio de Janeiro: Campus, 2001. – Capitulos 1. 2. LEITE, J. A . Macroeconomia. 2a . Edição. Cap. 2. 14. Teoria quantitativa da moeda 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 92 A matemática da teoria quantitativa não responde o que acontece em termos econômicos. Para satisfazer essa questão deve-se levar em consideração outra variante da teoria quantitativa, a abordagem de Cambridge ou abordagem dos saldos de caixa. A abordagem de Cambridge postulou uma relação proporcional entre a quantidade exógena da moeda e o nível agregado de preço. Definição: A TQM de Cambridge é uma teoria de demanda de moeda (demanda de saldos reais) expressa da seguinte forma: M = kPY onde “k” é o encaixe desejado de moeda que é proporcional à renda nominal dada pelo produto do nível de preços (P) pela renda real (Y). Se estoque de moeda M for maior ou menor do que o encaixe desejado (kPY), então o nível de preços (P) variará direta e proporcionalmente ao estoque de moeda. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA TQM Proporcionalidade entre moeda e preços: Devido a independência das variáveis T e V em relação a quantidade de moeda, o nível de preços varia proporcionalmente a M. Direção da causalidade entre moeda e preços: O processo de causação vai de M para P, e não o contrário (como querem alguns críticos). Efeitos transitórios de curto prazo: Apesar da suposta independência entre T e M, admite-se que haja efeitos transitórios mediante os quais a moeda estimula o volume de transações. Neutralidade da moeda a longo prazo: A longo prazo a quantidade de moeda afeta apenas o nível de preço. Portanto, não afeta T de forma permanente. Dicotomização da economia: Pela TQM as variáveis nominais (M e P) não afetam a variáveis reais T e Y). Essa separação é chamada dicotomia clássica. Inflação e medição da inflação32 Inflação33 Fala-se muito de inflação, no entanto, nem sempre se utiliza o conceito da forma mais correta. Especialistas e leigos muitas vezes falam de inflação quando o assunto em questão é a subida de preços. Mas a inflação não é a simples subida de preços, não se pode falar de inflação sempre que o padeiro decide aumentar o preço do pão ou quando se registam aumentos dos bilhetes do cinema. Isso porque, em economia, os preços são gerados pelos movimentos de oferta e procura e o facto do preço do pão aumentar não significa que se perca poder de compra, porque a par desse aumento podem verificar-se diminuições nos preços de outros produtos, como a bolacha, e, então, pode acontecer que o pão seja substituído pela bolacha. A inflação não é, assim, a simples subida do preço de um bem ou de um serviço. Diz respeito ao processo persistente e relativamente generalizado de aumento dos preços em vigor numa dada economia, observado ao longo de um dado período de tempo. Importa reter nesta definição a expressão “aumento generalizado”, o que significa que a inflação não recai apenas sobre os preços de alguns bens ou serviços, mas sim sobre os preços da maioria dos bens e serviços. Contudo, na sua forma mais comum, o termo inflação é utilizado de forma restrita, designando os aumentos dos preços que são 32 Índices de Inflação. Disponívelem : http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/defaulttab.shtm. Instituto Brasileiro de Economia: Disponível em: http://portalibre.fgv.br/ O cálculo da inflação no Brasil. Disponível em: http://br.advfn.com/economia/inflacao/brasil/calculo 33 O QUE É A INFLAÇÃO?. Cadernos BCV – Série Educação Financeira- nº 07/2008. 15. Inflação e efeitos da inflação. Medição da inflação. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 93 suportados pelos consumidores como contrapartida pelos bens e serviços que usufruem, não contemplando os preços pagos pelos produtores ou ainda outros preços, como os salários. De uma forma muito simples, a inflação pode surgir quando existe uma procura excessiva relativamente aos bens disponíveis. Suponhamos que na loja só resta um par de calças e que tu e todos os teus amigos o querem comprar. O vendedor, sabendo que a procura é muita e que pode conseguir muito dinheiro com essas calças, decide aumentar o seu preço. Um produto pode também passar a ser mais caro se custar mais a produzir. Caso, por exemplo, aumentem os preços dos produtos energéticos (petróleo, eletricidade, gás, etc.), então os custos de produção de um par de calças irão também aumentar e o fabricante, para não ter prejuízos, irá subir o preço da venda a grosso, que será transferido aos consumidores a partir do momento em que o vendedor aumente também os preços. Causas da Inflação A inflação está associada a fatores com origem na procura e na oferta agregada. Alguns defendem que a inflação é gerada pelo excesso de procura, os preços subirão se, em média, a procura agregada aumentar ou se a oferta agregada diminuir. Fala-se de inflação pela procura quando esta é causada pelo aumento da procura agregada. Existem diversos fatores na origem do aumento da procura agregada, sendo de destacar: - Aumento da oferta de moeda - Aumento dos gastos públicos - Pressões mais elevadas da procura de bens internos por parte do resto do mundo O aumento da oferta de moeda é o principal fator utilizado para explicar o fenómeno da inflação, isto é, se as pessoas têm muito dinheiro para gastar e a economia não produz bens na mesma proporção, então os preços aumentam. A inflação pela procura é muitas vezes associada a outros fatores, por exemplo, o aumento dos gastos públicos, ou, então, a depreciação da taxa de câmbio da moeda local. Um outro fator gerador de inflação é a redução dos impostos, já que esta situação permite aos agentes econômicos passar a dispor de mais dinheiro do que pode ser utilizado para as suas aquisições. A diminuição dos impostos pode ter outro efeito, podendo ser visto como um sinalizador de estabilidade económica, levando ao aumento da confiança dos agentes econômicos que se sentirão mais motivados a investir na esperança de lucros maiores Os fatores geralmente associados à inflação pelos custos são: - Decréscimos de produtividade - Aumentos dos custos de produção (aumentos dos salários reais e das matérias primas) - Aumento dos impostos sobre as pessoas coletivas. Os salários representam uma grande parcela dos custos das empresas, pelo que salários mais elevados e acima dos ganhos de produtividade do trabalho causam aumentos dos custos da unidade de trabalho. As empresas aumentam os preços, com o intuito de manter as margens de lucro, passando para a economia os custos suportados. Então, o efeito de salários e custos de matérias-primas mais elevados representa ulteriormente a redução da produção. Pode também acontecer que se esteja perante a denominada espiral inflacionista, ou seja, uma contínua manifestação de episódios inflacionistas que se perpetuam no tempo. A espiral inflacionista pode resultar ou ter origem em sucessivas manifestações, seja da inflação pela oferta, seja da inflação pelos custos que, ao se perpetuarem no tempo, acabam por ser assumidas como algo normal. Passam a ser um dado adquirido para os agentes econômicos que as incorporam nas suas expectativas. Isso vai ter efeitos na economia, visto que, no momento da tomada de decisões, os agentes econômicos consideram todo o tipo de informações de que dispõem. As projeções relativas à inflação têm, pois, um importante papel a nível das opções tomadas pelos agentes econômicos. Isso verifica-se, sobretudo, quando se negoceiam salários, ou mesmo, quando as empresas fixam os seus preços. Se as expectativas são que a inflação vai ser elevada, então os trabalhadores vão exigir salários nominais mais elevados, para compensar as perdas reais, e as empresas, por sua vez, vão passar esse aumento suportado para o consumidor, sob forma de preços mais altos. Da mesma forma, se as empresas esperam que a inflação aumente, elas antecipam esse aumento subindo o preço dos seus bens. Agindo de acordo com a teoria das expectativas adaptativas, os agentes econômicos tomam as suas decisões relativamente à inflação, com base no comportamento que esta persistentemente apresentou no passado. As suas expectativas podem ou não se materializar, mas o seu comportamento vai influenciar bastante o desempenho econômico, podendo mesmo gerar períodos inflacionistas. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 94 Medição da inflação A inflação é medida por métodos econométricos. De forma simplificada: é a média aritmética ponderada das variações de preço ao longo de um período, em que cada produto tem um peso a depender de sua importância econômica. A forma de medição mais utilizada no mundo é através da aferição dos preços no varejo. A variação dos preços no mercado varejista origina o índice de preços ao consumidor (IPC). IPCA O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido mensalmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi criado com o objetivo de oferecer a variação dos preços no comércio para o público final. O indicador reflete o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos, residentes nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém, além do Distrito Federal e do município de Goiânia. O período de coleta do IPCA vai do primeiro ao último dia de cada mês. A pesquisa é realizada em estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços, domicílios (para verificar valores de aluguel) e concessionárias de serviços públicos. Os preços obtidos são os efetivamente cobrados ao consumidor, para pagamento à vista. São considerados nove grupos de produtos e serviços: alimentação e bebidas; artigos de residência; comunicação; despesas pessoais; educação; habitação; saúde e cuidados pessoais; transportes e vestuário. Eles são subdivididos em outros itens. Ao todo, são consideradas as variações de preços de 465 subitens. O IPCA é considerado o índice oficial de inflação do Brasil - É utilizado pelo Banco Central como medidor oficial da inflação do país. O governo usa o IPCA como referência para verificar se a meta estabelecida para a inflação está sendo cumprida. Como é calculada a inflação no Brasil Os institutos pesquisam todo tipo de estabelecimento: açougues, papelarias, bares etc. Depois, usam a pesquisa de orçamentos para saber quanto uma família média compra em cada tipo de loja. A questão geográfica é resolvida com a pesquisa em várias praças (em geral, as maiores capitais brasileiras) e pesando a inflação de cada região de acordo com sua população. O resultado são índices que representam uma tendência média dos preços. Sendo assim, mensalmente, cerca de 260 pesquisadores do IBGE fazem o levantamento dos preços de aproximadamente 22,5 mil produtos para obterem a variação mensal do IPCA e dos demais índices calculados pelo instituto. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 95 No Brasil há diversos índices de inflação. Os diferentes índices utilizamem seus cálculos faixas de renda diferentes, regiões diferentes, itens diferentes e até períodos diferentes. Isso contribui para tornar mais segura a medição da inflação no país. Isso porque há dificuldades, como: para chegar à variação do preço do feijão, por exemplo, leva-se em conta várias marcas, tamanhos de embalagem e tipos do produto, segundo economistas. Usar uma cesta de produtos simplifica o cálculo, mas não resolve todos os problemas – porque a própria inflação muda os hábitos de consumo: se, por exemplo, o preço da laranja sobe 100%, as pessoas compram menos dessa fruta ou até deixam de consumi-la. À medida que uns preços vão subindo mais que outros, altera-se seu peso na cesta com base em hipóteses sobre o efeito no consumo daqueles produtos. Senão, a inflação pode ficar subestimada ou exagerada. Outra dificuldade é decidir onde pesquisar preços. Cem gramas de presunto têm um preço num supermercado em Salvador e outro numa padaria em Curitiba. Vamos conhecer outros exemplos dos principais índices que medem a inflação e seu foco: -IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), monitorado pela FGV. Ele registra a inflação de preços variados, desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais. É muito usado na correção de aluguéis e tarifas públicas, como conta de luz. Serve para todas as faixa de renda. -INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) é medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) desde setembro de 1979. Ele é obtido a partir dos Índices de Preços ao Consumidor regionais e tem como objetivo oferecer a variação dos preços no mercado varejista, mostrando, assim, o aumento do custo de vida da população. Como o INPC mede uma faixa salarial mais baixa que o IPCA (até 5 salários mínimos, diante dos 40 salários mínimos do IPCA), a alteração de preços de serviços e produtos mais básicos é mais sentida neste índice. O peso do grupo alimentos (arroz, feijão, leite, frutas, refeições feitas em restaurantes, lanchonetes) é maior no INPC que no IPCA. Logo, uma variaçao nesse grupo tem um impacto maior no INPC. INCC - Produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) é o principal indicador de custo da construção civil no Brasil. O índice mede a evolução dos custos de construções habitacionais nas sete principais capitais de estados do país. Consolidou-se como o primeiro índice oficial de custo da construção civil do Brasil. Sendo assim, temos atualmente os seguintes índices: IPCA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo IGP-M Índice Geral de Preços - Mercado IGP-DI Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 96 INPC Índice Nacional de Preços ao Consumidor IPC-S Índice de Preços ao Consumidor Semanal IPC-Fipe Índice de Preços ao Consumidor - Fipe INCC Índice Nacional da Construção Civil Caro candidato(a), se quiser conhecer melhor cada um deles e consultar os índices atuais de inflação, basta, por exemplo, visitar os sites do IBGE e FGV – IBRE, nos seguintes links: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/defaulttab.shtm e http://portalibre.fgv.br/ De acordo com Nelson Rangel34, as funções do setor público, dentro de um sistema econômico variam de acordo com o regime político que vigora no país. Nas economias socialistas, o Estado detém o controle dos fatores de produção, determina as atividades econômicas para atender os objetivos, atuando diretamente sobre a economia. Nas economias capitalistas, os fatores de produção estão sob controle da iniciativa privada, cada empresário organiza sua empresa de modo que facilmente possa alcançar seus objetivos. A seguir apresentaremos parte do artigo de João Marcos Batista35 que explica bem a evolução da economia: Para entendermos a dinâmica econômica atual, é imprescindível observar, como estavam organizadas as sociedades do passado, ou seja, de que forma se dava a relação entre os agentes econômicos2 e como as sociedades organizavam as suas atividades de produção e distribuição de bens. Para isso retornaremos ao período entre os séculos V – XVIII d.C., observando como se desenvolveram os três principais sistemas econômicos daquela época: Feudalismo, Mercantilismo e Fisiocracia. Feudalismo O desenvolvimento da Economia e, em especial, das atividades comerciais, se intensifica a partir do século XV d.C., mas, desde o século IV d.C., com a decadência do Império Romano, a Europa Ocidental, notadamente França, Alemanha, Inglaterra, Países Baixos, Itália e Rússia, se organizaram em torno de um sistema econômico-social chamado Feudalismo. A derrocada do Império Romano e as invasões bárbaras deixaram como consequência cidades pouco desenvolvidas, o que estimulou a criação de comunidades agropastoris no interior dos países, sendo muitas dessas comunidades subordinadas a um reino. Com base nesse contexto desenvolve-se o Feudalismo, que se caracterizou como uma sociedade hierarquizada baseada na figura do Suserano (em geral o Rei) e dos Vassalos (Senhores Feudais). O Suserano doava terras aos Vassalos, que retribuíam com trabalho e fidelidade, formando comunidades de agricultores nas terras recebidas. Assim, o Suserano e os Vassalos se sustentavam por meio da produção de tais comunidades, e, em troca, forneciam proteção às comunidades contra os invasores. A principal unidade de produção econômica era o Feudo, que se dividia em três partes: a propriedade do Senhor Feudal, geralmente representada por um Castelo, o Manso Servil, terras arrendadas aos camponeses – os servos dos senhores feudais e o Manso comunal, bosques e florestas de livre uso. A atividade econômica principal era a agricultura e as relações comerciais eram baseadas no escambo (troca de mercadorias), pois as moedas eram pouco utilizadas e a forma de produção era rudimentar, baseada no arado puxado por bois. Outra característica marcante desse modelo era a descentralização do poder, ou seja, o Vassalo administrava as questões referentes ao seu Feudo e prestava contas ao Suserano. Havia alguns tributos 34 Rangel, N. O papel do setor público na economia capitalista. SINERGIA, Rio Grande, 2: 39-41, 1988. 35 João Marcos Batista. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE OS PRINCIPAIS MODELOS, TEORIAS E PENSADORES. RENEFARA, v. 2, n. 2, p. 275 – 285, 2012. 16. Economia do Setor Público 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 97 e obrigações dos servos para com os senhores feudais, tais como: Corvéia: Os Servos deveriam, em alguns dias da semana prestar serviços na propriedade do senhor feudal; Talha: Parte da produção dos servos deveria ser entregue ao senhor feudal, geralmente um terço; Taxa de Justiça: Servos e Vilões deveriam pagar uma taxa ao senhor feudal para serem julgados. O Feudalismo entra em declínio a partir do século X d.C. devido ao aumento populacional e a baixa produtividade agrária dos feudos. Na Rússia o sistema perdurou até o século XX d.C., sendo extinto totalmente na Revolução Russa de 1917. Fonte: Escola 24 horas. Mercantilismo Apesar do declínio o sistema feudal conseguiu fortalecer muitas comunidades, que se transformaram em verdadeiras cidades. Dessa forma, o comércio prosperava para fora das fronteiras feudais, sobretudo no período compreendido entre os séculos XVI e XVIII d.C. Alguns fatos corroboraram para essa mudança, dentre os quais: a descoberta do ouro e sua consequente utilização como moeda o que facilitava as transações comerciais. As grandes navegações possibilitaram a descoberta de novas rotas de comércio e a colonização de novas regiões. Todos esses fatores levaram à criação de Estados Nacionais, que tinham o Rei como detentor do poder central, enfraquecendo a influência e o poderdos senhores feudais. Diante desses fatos, é que emerge o Mercantilismo, com os seguintes dogmas: Acúmulo de Ouro e Prata: Os mercantilistas associavam o grau de riqueza e desenvolvimento de um país ao montante de ouro e prata que possuíam. Dessa forma, quanto maior esse montante, mais poderoso e influente seria o país; Nacionalismo: Os países eram estimulados a manterem uma Balança Comercial superavitária, ou seja, as exportações de bens deveriam superar as importações. Na visão mercantilista essa era uma forma de o país acumular ouro e prata, e de ampliar o seu domínio sobre os outros países. Imaginavam que o comércio internacional era estático, ou seja, havia simplesmente a transferência de riquezas entre os países, portanto, para um país ganhar o outro fatalmente deveria perder; Tributação e restrições: Isenção tributária para matérias-primas que não podiam ser produzidas internamente e incentivos fiscais e proteção para bens produzidos dentro do país. Havia muitas restrições às exportações de matérias-primas, com vistas a manter o custo de produção relativamente baixo; Colonização: Eram a favor da colonização, pois acreditavam que mantendo as colônias dependentes do país colonizador haveria facilidades para importação de matéria-prima a baixo custo e teriam o monopólio da exportação colonial; Oposição a pedágios: Uma prática muito comum durante o Feudalismo era a cobrança de pedágios sobre o transporte de mercadorias entre Feudos. Os Mercantilistas se opunham radicalmente a essa prática, porque elevaria os custos de produção e reduziria a competitividade das exportações; 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 98 Forte controle central: Era necessário um forte intervencionismo estatal, sobretudo, na concessão de privilégios para os exportadores e uniformização das regras comerciais, pois durante o Feudalismo cada Feudo criava suas normas, o que era visto pelos mercantilistas como um entrave para o bom funcionamento da economia; População numerosa e trabalhadora: A abundância de mão-de-obra manteria baixo o custo com salários, o que permitiria menores custos de produção. A ociosidade e a mendicância por parte de pessoas aptas para o trabalho eram passíveis de punição. Os principais países adeptos do Mercantilismo foram: Inglaterra, Portugal, Espanha, Países Baixos, Alemanha e, em menor proporção, a França. Alguns fatos e pensamentos acerca do Mercantilismo merecem destaque: No ano de 1580 o ensaísta francês Michel de Montaigne procurou ilustrar o espírito mercantilista e escreveu: “O Lucro de um Homem é a desgraça do outro [...]Nenhum lucro qualquer que seja, pode ser alcançado, a não ser a custa do outro”. No intuito de manter elevada a disponibilidade de lã como matéria-prima, e, consequentemente, baixos os custos de produção de tecidos, a Rainha Elizabeth, durante os anos de 1565-1566, aprovou uma Lei proibindo a exportação de ovelhas vivas. A punição para os infratores seria o confisco da propriedade, um ano de prisão e, dependendo da gravidade, o corte da mão esquerda. A pena de morte era aplicada em caso de reincidência. Referente à cobrança de pedágios um fato importante ocorreu no ano de 1685. Um embarque de sessenta tábuas do estado alemão da Saxônia para a cidade de Hamburgo, localizada no norte da Alemanha, exigiu o pagamento de 54 tábuas em pedágios ao longo do caminho. Em consequência, apenas seis tábuas chegaram ao final. Tal fato ilustra o porquê de os mercantilistas serem contra a cobrança de pedágio. Apesar dos exageros, o modelo mercantilista foi importante na transição de uma economia amonetária para uma economia monetária, pois, com a intensificação do comércio, a utilização de novos meios de pagamentos como o dinheiro e a concessão de crédito foram fundamentais para o funcionamento desse sistema. Alguns preceitos mercantilistas ainda permanecem nos dias de hoje, tais como: Protecionismo: Vantagens aos bens produzidos dentro das fronteiras de um país ou região; Superávit Comercial: Balança Comercial Superavitária. Ao final do século XVIII d.C., as práticas mercantilistas perdem força com o advento da Teoria Econômica Clássica, que tinha como pano de fundo duras críticas ao modelo mercantilista. Fisiocracia Os fisiocratas surgiram na França, mais precisamente no século XVIII d. C., como uma reação às imposições mercantilistas e à tradição Feudal que insistia em se manter viva na França. Os princípios defendidos pelos precursores da Fisiocracia François Quesnay e Jacques Turgot eram os seguintes: Ordem natural: O termo “fisiocrata” significa “regra da natureza”. Assim, todas as atividades humanas deveriam ser mantidas de acordo com as Leis Naturais; Laissez-Faire: Significava “deixe as pessoas fazerem o que quiserem sem a interferência do governo”. Portanto, os fisiocratas entendiam que o governo não deveria interferir com veemência, sobretudo nos assuntos econômicos, a não ser para manter o livre comércio; Ênfase na agricultura: Acreditavam que somente as atividades agrícolas eram prósperas, pois na concepção fisiocrata uma semente pode gerar mil frutos. Desse modo, pensavam que o comércio e a indústria eram segmentos complementares à agricultura; Taxação do proprietário de terra: Como entendiam que a fonte de riqueza de uma nação estava baseada na agricultura, somente o proprietário de terra deveria ser taxado; 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 99 Inter-relação da economia: Apesar da ênfase na agricultura concluíram que a economia de um país era toda integrada, ou seja, um problema na produção de uma determinada matéria-prima poderia afetar o fluxo normal de circulação de bens e dinheiro em todos os segmentos econômicos. Em suma, a proposta central dos fisiocratas era a defesa do Livre Comércio, mais precisamente, defendiam o comércio interno de grãos e a exportação de produtos agrícolas e eram a favor das fazendas capitalistas que utilizavam técnicas evoluídas de produção e o trabalho assalariado. Em termos práticos, indiretamente as propostas fisiocratas acabaram beneficiando a indústria, muito embora essa não fosse a intenção, visto que, as ideias liberais fisiocratas acabaram por estimular a produção industrial, devido a eliminação das barreiras ao comércio, mas a de se ressaltar, ser este um movimento que não avançou muito além das fronteiras francesas. João Marcos Batista36 apresenta no mesmo artigo um resumo sobre os Grandes Pensadores da Economia e suas Teorias A Economia como ciência se fortaleceu no ano de 1776, com o advento da Teoria Econômica Clássica, sendo que todas as teorias posteriores aprimoraram ou discordaram de seus preceitos. Em suma, se tornou referência primeira para a compreensão dos fenômenos econômicos e, desta forma, partindo da Teoria Econômica Clássica, seguem as contribuições dos principais teóricos da Economia. Teoria Econômica Clássica A Teoria Econômica Clássica foi muita influenciada por duas revoluções que ocorreram entre os séculos XVII e XVIII, a saber: A Revolução Cientifica que teve como precursor Isaac Newton (1642–1727) que, dentre outras coisas, apresentou uma visão estática do universo em que os corpos sempre tenderiam ao equilíbrio. Outra revolução importante que ocorreu paralelamente ao advento da Teoria Econômica Clássica foi a Revolução Industrial no século XVIII, com ênfase na produção industrial, como fator indutor do crescimento econômico. Os principais teóricos da Economia Clássica foram os seguintes: Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo e Jean Baptiste Say. Adam Smith (1723–1790) Considerado o fundador da escola clássica, nasceu na Escócia, estudou Filosofia, Teologia, Ciências Morais e Política em Glasgow e Oxford. Durante os seus estudos conheceu os economistas da Escola Fisiocrata, François Quesnay e Turgot que despertaramo interesse de Adam Smith pela Economia. No ano de 1776, ele lança a sua obra-prima, o livro “A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas”. O livro retrata os principais fatos que levam as nações à riqueza, ou seja, como as nações poderiam se desenvolver economicamente em bases capitalistas, com destaque para os seguintes pontos: A Divisão do Trabalho: O trabalho deveria ser sistematizado como forma de ampliar a capacidade de produzir bens e serviços, o que na prática levava à especialização da mão-de-obra. Ele usava como exemplo a fabricação de alfinetes, que estaria dividida em dezoito operações distintas, confiadas a diferentes operários, mas cada operário era especializado em uma das etapas do processo produtivo e trabalhava de forma sequencial. Na visão de Smith, esse modelo ampliava a produtividade na medida em que o trabalhador se especializava em seus ofícios. Mas, Smith enxergava um risco nesse processo: O fato de executar uma tarefa repetitiva poderia com o tempo impedir o desenvolvimento intelectual dos trabalhadores; 36 João Marcos Batista. A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE OS PRINCIPAIS MODELOS, TEORIAS E PENSADORES. RENEFARA, v. 2, n. 2, p. 275 – 285, 2012. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 100 A Harmonia dos interesses e o governo limitado: Ressaltava que os participantes da economia tendem a ir atrás de seus próprios interesses como guiados por uma mão invisível, conforme se observa em um trecho extraído de seu livro “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que nós esperamos nosso jantar, mas da consideração de seu próprio interesse”. Na prática, cada indivíduo na busca de seus próprios objetivos, seja ele empresário ou trabalhador, acabaria por beneficiar toda a economia, estimulando a competitividade entre os agentes econômicos. Smith elabora sua teoria tendo como base um ambiente de concorrência. Neste sentido, criticava duramente o Mercantilismo que criava entraves para o comércio entre as nações, pois entendia que os países poderiam enriquecer-se através da parceria comercial, ou seja, defendia o livre comércio em âmbito internacional. Em sua visão, o governo deveria ser mínimo e se preocupar, sobretudo, em defender o exercício da livre concorrência, pois acreditava que o mercado alocaria de maneira eficiente os recursos, induzindo o progresso econômico. Dessa forma, postulou que o estado deveria atuar na defesa do território e na administração da justiça, e que tais atividades deveriam ser financiadas pela cobrança de impostos, respeitando a capacidade contributiva dos agentes econômicos. Em suma, Adam Smith baseou sua teoria na divisão do trabalho e na defesa do liberalismo econômico, como fatores que de fato promoveriam a riqueza das nações. Thomas Malthus (1766–1834) Inglês e teórico controverso, sacerdote da Igreja Anglicana, pois suas teses apresentavam algumas divergências em relação a outros precursores da Escola Clássica, mas as contribuições de Malthus perduram até os dias de hoje, com destaque para as seguintes teorias: Teoria da População: Malthus publicou em 1798 “Um Ensaio sobre o princípio da População”, após observar que a Revolução industrial e a crença mercantilista de necessidade de uma população numerosa fizeram aumentar as desigualdades e a miséria, desta forma, ele apresentou a sua famosa Lei da População e dizia “Quando não controlada, a população aumenta em uma progressão geométrica, enquanto que, os meios de subsistência aumentariam na melhor das hipóteses em progressão aritmética” (Thomas Malthus, 1798). Desta forma, a cada 25 anos a população dobraria de tamanho, ao passo que, os meios de subsistência (alimentos) aumentariam no máximo em 25%. Malthus observou que dois fenômenos contribuíam para tal fato: a chamada Lei dos Pobres de 1795 que garantia uma renda mínima aos pobres independentemente dos seus ganhos e a Lei dos Cereais de 1813, que impunha dificuldades a importação de grãos. Referente à Lei dos Pobres, Malthus era contra a ajuda do governo aos pobres, pois entendia que a pobreza era um castigo divino e o governo nada poderia fazer contra isso. A oposição de Malthus em relação às duas leis, dos Pobres e dos Cereais, seguia uma lógica econômica, pois, a renda adicional fornecida aos pobres, e a proibição de importar grãos, encareceria o preço dos alimentos, porque levaria a uma maior demanda dos pobres por alimentos associada a uma oferta limitada de grãos, tais fatos acabariam por gerar aumento dos salários e, consequentemente inflação, o que seria danoso para toda a sociedade. Malthus identificou que seria apropriado o controle do crescimento populacional e esse se daria de duas formas: Preventivo e Positivo. O preventivo se daria através de restrição moral, ou seja, as pessoas que não pudessem sustentar os filhos deveriam se absterem do casamento ou adiá-lo. Já os controles positivos seriam provenientes de fenômenos como a fome, a guerra, as pragas, pois esses males eram necessários para limitar o crescimento populacional. Teoria da Superprodução: Entendia que os trabalhadores através dos salários não eram capazes de demandar todos os produtos produzidos, portanto, defendia que os produtores demandassem bens de capital8 como forma de ampliar a capacidade consumidora da economia e criar demanda para os excedentes de produção. Portanto, vale destacar que Malthus contribuiu significativamente através de suas teorias para o entendimento das questões pertinentes ao crescimento populacional e o seu impacto no desenvolvimento econômico. David Ricardo (1722–1823) 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 101 David Ricardo atuava no mercado financeiro londrino desde os 14 anos de idade. Apesar de a Escola Clássica ter Adam Smith como o primeiro precursor, foi David Ricardo que difundiu fortemente os dogmas Clássicos com algumas contribuições pessoais com destaque para as seguintes: O Valor dos bens decorre simultaneamente do trabalho humano e do capital técnico: Para produzir bens e serviços um fator fundamental era o trabalho o que Ricardo chamava de “Trabalho Incorporado”. Esse por sua vez, reunia o “Trabalho Direto”, a mão-de-obra propriamente dita, e o “Trabalho Indireto”, contido nas máquinas e equipamentos utilizados pelos trabalhadores; Rendimentos Decrescentes: Aplicada à questão fundiária, Ricardo observa que, à medida que se intensifica a utilização da Terra, esta por sua vez, com o passar do tempo, responde com um volume menor de produção, levando a um aumento nos preços dos alimentos e dos salários. Esses fenômenos tenderiam a gerar inflação e levar a economia a um estado estacionário de crescimento; Criação Monetária excessiva leva a inflação: Durante o conflito com a França, a Inglaterra emitiu muito papel-moeda para financiamento dos gastos. Ricardo mencionava que o Papel-Moeda era uma mercadoria como qualquer outra e, portanto, uma excessiva quantidade a desvalorizaria em relação às demais mercadorias, desta forma, seria necessária uma quantidade maior de moeda para adquirir bens, o que geraria inflação. Para essa situação, Ricardo defendia que era preciso limitar a emissão de Papel- Moeda e propunha vincular sua emissão à quantidade disponível de ouro, prática que já havia sido utilizada, mas que estava em desuso pelo Banco da Inglaterra; A Troca Internacional é benéfica para todas as nações: Devido às imposições da Lei dos Cereais que impunha entraves à importação de Grãos, Ricardo percebeu que a abertura do comércio poderia ser benéfica para a Inglaterra, contribuindo para a redução do preço dos grãos, pois ampliaria a oferta. Tendo como referência as ideias de livre-concorrência propostas por Adam Smith, entendia que o livre comércio seria benéfico para todas as nações, pois o paísexportaria aquele bem em que possuía vantagens produtivas e importaria os bens, cuja produção era mais custosa. Para tanto, era necessário que houvesse abertura comercial entre os países. Percebe-se que David Ricardo apresentou propostas importantes que visavam o bom funcionamento da economia e muitas dessas ideias permanecem vivas até os dias de hoje. Jean Baptiste Say (1767–1832) Francês responsável por popularizar o liberalismo de Adam Smith na França, mas ficou temporariamente ofuscado, pois Napoleão Bonaparte não era entusiasta das ideias liberais advindas da Teoria Clássica. A grande contribuição de Jean Baptiste Say foi a chamada “Lei dos Mercados”. Para Say, o valor dos bens era formado por todos os recursos utilizados em sua produção, notadamente, trabalho que seria mensurado pelo custo com salários, capital medido pela taxa de lucro e a renda da terra. Ao se consolidar essas três variáveis seria constituído o valor de um bem. Assim, como os demais clássicos, entendia que o preço final dos produtos seria definido pelos custos de produção. Na concepção de Say, toda a produção seria escoada no mercado. Dessa forma, “a oferta criaria a sua própria demanda” e, assim sendo, os momentos de retração da economia seriam causados por insuficiência de produção e não por escassez de demanda que, em sua visão, não existiria. Foi apresentada uma breve evolução histórica da economia, agora, vamos às ações governamentais e suas funções básicas, que tendem a afetar os rumos do crescimento e os parâmetros do desenvolvimento econômico. A literatura apresenta três funções básicas37: 1. Função estabilizadora A função estabilizadora é exercida por meio de instrumentos de política fiscal (forma de gasto do orçamento público e política tributária) e política monetária (política de crédito, interferências na oferta e demanda de moeda e sua influência sobre o nível de juros) de caráter anticíclico. Ou seja, a função estabilizadora, por meio da política fiscal e a política monetária, procura minimizar os efeitos dos ciclos econômicos - estes entendidos como oscilações nos níveis gerais de produto, emprego, renda e nível 37 Funções de governo e sua orientação: aspectos teóricos e históricos. Seção de tutoriais e regulação. Teleco. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 102 geral de preços da economia. No Brasil, ao longo dos anos 1980 e grande parte dos anos 1990, o foco da política econômica se centrava principalmente, mas não exclusivamente, na função estabilizadora. Os diversos planos econômicos lançados ao longo desse período refletem nitidamente esta prioridade. 2. Função distributiva A função distributiva atende a certos preceitos ou critérios socialmente aceitos de distribuição de renda. Sejam ou não efetivas, as políticas de renda levadas a cabo pelo governo do Presidente Lula representam um bom exemplo da função distributiva. Parte do orçamento do governo é destinada a programas sociais (Programa Fome Zero, Bolsa Família, Bolsa Escola, etc.) desejados socialmente - haja vista que uma das bandeiras da campanha presidencial foi a busca de combate à fome no país. Durante o governo FHC, esta função, ligada a política de ajuste fiscal, ficou por conta da criação do Fundo Social de Emergência (FSE), lançado antes do Plano Real. 3. Função Alocativa A função alocativa visa desviar o emprego de uma parcela dos recursos da economia (capital, trabalho e recursos naturais diversos) para oferta e ou provisão de bens e serviços tidos públicos. Devido as certas características de mercado, estes bens e serviços não são ofertados na quantidade e ou preços ótimos do ponto de vista social. São exemplos da função alocativa muitos dos programas de governo que afetam seguimentos e ou setores que ofertam infraestrutura (saneamento básico, transporte, energia e telecomunicações). Devido ao volume de recursos exigidos para execução de projetos, prazos de maturação dos empreendimentos, complementariedades de investimento e externalidades ligadas à oferta nesses mercados, a relação custo-benefício tende a afastar o volume investido do necessário ao atendimento das demandas sociais. Um bom exemplo dessa falha foi a crise vivida pelo setor de geração e distribuição de energia elétrica no ano de 2001. Quem se lembra do temor do famoso "apagão" vivido no ano 2001 e que ainda restringe o crescimento nacional? Durante o processo de industrialização por substituição de importações a função alocativa era exercida por meio da produção direta de bens e serviços por parte do Estado. No final dos anos 1980 e durante o início dos anos 1990, com o Presidente Collor, a oferta nesses mercados foi provida de maneira induzida pelo setor privado. Esta prática foi aprofundada na era FHC com as privatizações e criação e introdução de mecanismos de intervenção pública por meio das agências reguladoras (ANP, Aneel, Anatel, etc.). Nesse contexto, o caráter destas funções depende da orientação do governo quanto a intervenção pública nos mercados (de bens e serviços, de trabalho, monetário, cambial, etc.). Estas tendem a afetar a performance da economia e orientando o volume e fluxo setorial dos investimentos privados em setores prioritários. Nesse sentido há três orientações teóricas possíveis: ortodoxa, postura moderada e heterodoxia. Cada uma destas é inspirada em uma corrente predominante do pensamento econômico. A rigor, os governos tendem a se inclinar mais ou menos em direção de cada uma dessas orientações de política econômica. Segundo a vertente ortodoxa os mercados são eficientes e prescindem de mecanismos de intervenção pública. A interação entre oferta e a demanda são responsáveis pela a alocação ótima dos recursos. O Estado não deve interferir nas atividades produtivas sob pena de gerar distorções indesejáveis. Já a postura heterodoxa sustenta que países em desenvolvimento exigem intervenções de ampla capilaridade no funcionamento do sistema econômico. A postura moderada defende um procedimento seletivo e temporário nas eventuais intervenções públicas. Nessa linha se raciocínio se insere a política industrial e tecnológica que "... pode ser entendida como a criação, implementação, coordenação e controle estratégico de instrumentos destinados a ampliar a capacidade produtiva e comercial do setor industrial, com o objetivo de garantir condições sustentáveis de concorrência aos mercados domésticos e estrangeiro ". ¹ (Campanário e Silva, 2004:14) Estas medidas, embora tenham variado em profundidade e grau, foram muito utilizadas durante o processo de industrialização por substituição de importação. Dessa forma, durante a fase nacional- desenvolvimentista (1950-1980) o Estado atuava na provisão de infraestrutura de maneira direta por meio 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 103 de uma série de mecanismos de intervenção na oferta e demanda. De fato, o Estado atuava na: produção e comercialização de insumos básicos (minérios, química, energia, etc.); manutenção e intervenções no "sistema de poupança e financiamento" por meio de bancos de investimento e outras agências; oferta de serviços e atuação das empresas públicas nas áreas de saneamento, saúde, transporte, telecomunicações, etc.; controle de preços e de comércio exterior; criação e manutenção de um sistema de concessão de subsídios e isenções fiscais; administração da política monetária, cambial (seletiva), fiscal, de preços mínimos, etc.; "elaboração e execução “de políticas industriais e agrícolas ativas; política de comercio exterior, política industrial e agrícola; além de atuar por meio de outros mecanismos diretos de intervenção (manutenção de estoques reguladores, controle de preços, políticas de controle de salários, etc.). Este modelo foi totalmente revertido com a abertura e reforma patrimonial públicae privada dos anos 1990. De fato, após o esgotamento do processo de industrialização por substituição de importações houve uma radical mudança no raio de ação governamental. Em parte essa mudança de orientação é resultado da crise fiscal, ajustamento externo, inflação crônica e baixas taxas de crescimento. Após várias tentativas, a estabilização foi implementada à luz da revisão do papel do Estado na economia. Nesse contexto, emergiriam as crenças quanto aos benefícios da liberalização dos mercados as quais foram cristalizadas no Consenso de Washington. O Consenso postulava que a abertura tende a reduzir as ineficiências estáticas geradas pelo mau emprego e desperdício de recursos; tende a reforçar os processos de aprendizado e sua difusão; economias mais orientadas ao comércio exterior conseguem enfrentar melhor choques adversos provenientes de fluxos de capital e comércio; sistemas econômicos voltados para o mercado mostram-se menos inclinados a atividade com fins rentistas destinando maior volume de recursos à produção; o incremento da pressão competitiva gera ganhos de produtividade setorial; os persistente déficits comerciais podem ser financiados pela entrada de capital externo. Assim, a estabilidade monetária, ajuste fiscal, privatizações e desregulamentação foram perseguidas de forma sistemática dentro de uma estratégia consciente de desenvolvimento econômico. As privatizações nos setores de infraestrutura, vincularam-se a este novo "modelo de desenvolvimento" de caráter marcadamente ortodoxo, auxiliados pela regulação pública. O estado de bem-estar-social: pensamento keynesian38: A teoria econômica de Keynes reflete um momento histórico, em que o sistema capitalista passa por profunda crise. A crise do sistema capitalista é a representação prática, do fim de uma teoria que pressupunha uma economia autorregulável, onde os agentes econômicos agiam harmoniosamente, tendendo ao equilíbrio de pleno emprego (KEYNES, 1983). Ele considera o sistema sob uma ótica diferente da visão individual dos economistas que o precederam. O sistema é um mecanismo complexo e instável de acumulação de capital que, se entregue a si mesmo ou à mão invisível, se tornaria vítima de suas próprias crises. Keynes, então, concebe o Estado como um mecanismo importante para evitar o colapso do sistema e sua ação girará em torno de dois objetivos: o controle monetário e a socialização dos investimentos. O controle monetário pelo Estado é importante, na medida em que assegurará a própria organização social capitalista através da manutenção dos fluxos de investimentos. A taxa monetária dos juros pode representar importante obstáculo aos investimentos e expressam a inquietude e incerteza em relação ao futuro, numa economia estável ou em crise, e é no sentido de salvaguardar o próprio sistema, que Keynes (1983) concebe uma ação estatal para controlar a taxa monetária. Todavia, reconhece a ineficácia dessa medida em períodos de crise do capitalismo, quando a decepção nas expectativas de lucro, acaba por provocar uma retração nos investimentos. E a capacidade do Estado em influenciar com o controle monetário os investimentos privados, leva o autor a formular outra teoria de ação estatal, ou seja, a socialização mais ou menos ampla dos investimentos, que teria a função de garantir, além do pleno emprego, a própria dinâmica da acumulação capitalista. De modo geral, Keynes atribui ao Estado um papel econômico importante no controle monetário, com o objetivo de evitar que as alterações no valor do dinheiro corroam as bases do capitalismo e interfiram no processo produtivo, ao mesmo tempo em que reconhece as limitações dessa intervenção, na medida 38 OLIVEIRA, N. M.; STRASSBURG, U.; SILVA, N. A. De Smith ao neoliberalismo: um ensaio sobre o papel do estado na economia capitalista. Ciências Sociais Aplicadas em Revista - UNIOESTE/MCR - v. 12 - n. 23 - 2º sem. 2012 - p. 89 a 99 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 104 em que o Estado não consegue manter a taxa de juros num nível compatível com o pleno emprego. Essa incapacidade relativa do Estado em controlar a taxa de juros e influir sobre a eficiência marginal do capital está ligada ao reduzido poder deste em exercer influência sobre as expectativas. A justificativa de Keynes para a intervenção do Estado na organização direta dos investimentos repousa na incerteza, na falta de garantias, ou até mesmo na incapacidade de que os investimentos privados se mantenham num patamar elevado garantindo o nível de pleno emprego e desenvolvimento da economia. Redistribuição de renda39 A política econômica é um conjunto de medidas tomadas pelo governo de um país com o objetivo de atuar sobre os mecanismos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Embora dirigida ao campo da economia, essas medidas obedecem também a critérios de ordem político-social na medida em que determinam quais segmentos da sociedade se beneficiarão com as diretrizes econômicas adotadas pelo Estado. A concentração de renda se refere à distribuição diferenciada da renda de um país ou região pelas diversas camadas sociais. É um dos campos em que a teoria econômica se liga mais intimamente à análise sociológica e política e às ideologias da sociedade de classes que tentam justificar ou criticar a distribuição desigual. A forma pela qual o governo distribui a carga tributária entre os indivíduos na sociedade pode contribuir significativamente para tornar a repartição da renda e da riqueza do país mais justa. Sabemos que o Estado, como instituição administrativa e política da nação, precisa captar recursos para manter sua estrutura e disponibilizar ao cidadão-contribuinte os serviços essencialmente estatais, e a principal maneira para gerar estas receitas reside na cobrança de tributos. Os conceitos apresentados acima servem como referencial para mostrar a grave distorção e a voracidade em que se impõe nosso sistema tributário atual, em nada contribuindo para a busca dos propósitos básicos e fundamentais de uma nação democrática. Exemplo: A evolução da carga tributária no Brasil, onde, de 1920 a 1958, passou de 7% para 19% do Produto Interno Bruto (PIB), encontrando-se atualmente em torno de 36% do PIB. Do ponto de vista social, o impacto é ainda mais negativo, pois desse percentual recolhido através de impostos, taxas e contribuições, 49% incide sobre a produção (bens e serviços), 27% sobre os salários, apenas 16% sobre o capital e outras rendas e 3% sobre o patrimônio, somado 5% relativos ao comércio exterior e aos demais fatos tributários. Fica evidente que é o setor produtivo e os assalariados que estão pagando a conta com as despesas do governo federal. Em países com um sistema tributário justo e equânime, a carga tributária recai de forma significativa sobre o capital e grandes fortunas. Diante desse flagelo fiscal, faz-se urgente uma reforma no sistema tributário nacional a fim de modernizar, simplificar e melhorar a distribuição da carga fiscal, desonerando o setor produtivo de nossa economia, melhorando a repartição da receita tributária e principalmente invertendo o processo de uma sociedade penalizada e empobrecida por um sistema tributário altamente injusto e distorcido. Estabilização econômica40 Dentre as questões que mais têm preocupado a literatura econômica nos anos recentes, destaca-se a necessidade de compreensão dos temas estabilização e estabilidade macroeconômicas. A estabilização deve ser compreendida como um processo para se alcançar a estabilidade, que representa a situação na 39 JORGE ADRIANO SCHAEFER. O SISTEMA TRIBUTÁRIO E A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA. 40 Rosa Fontes. Marcelo A. Arbex. Geraldo Silva Jr. Estabilização econômica no Brasil: reflexões sobre o Plano Real. Disponível em: http://revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/article/viewFile/1570/1938.1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 105 qual o esforço despendido pelo Governo para alcançar uma determinada meta de política econômica é mínimo. O processo de estabilização, por sua vez, é marcado por muitos aspectos, que ora advêm da relação entre os instrumentos à disposição das autoridades econômicas e as metas por elas selecionadas, ora se originam das consequências inevitáveis das ações implementadas. A Macroeconomia, independentemente de sua abordagem paradigmática, identifica três problemas econômicos, que têm persistido ao longo da história ocidental, quais sejam: a inflação, o desemprego e a recessão/depressão. A ordenação de metas para a formulação e a execução da política econômica pode, no entanto, ser substancialmente diferente, dependendo do paradigma macroeconômico considerado. Alguns formuladores de política econômica preterem, por exemplo, o ajuste fiscal em prol da reforma monetária, enquanto outros desqualificam as políticas monetária e fiscal como condições necessárias para a estabilidade. Em outras palavras, essas diferenças teóricas projetam o problema da escolha do instrumento adequado de política como um dos mais profícuos campos de análise da política econômica. A análise da política macroeconômica, historicamente, preocupou-se com os resultados alcançados pela ação dos formuladores. Neste século, após a Segunda Grande Guerra, o debate na Macroeconomia centrou-se na polarização de ideias acerca do papel do Governo e da potência dos instrumentos clássicos de política econômica. A essa controvérsia entre keynesianos e monetaristas incorporaram-se, no início dos anos 70, as contribuições dos novos-clássicos e novos-keynesianos. Na versão moderna desse debate, ressalta-se a possibilidade de reação dos agentes privados e a contrarreação das autoridades econômicas, possibilitando a análise das políticas públicas como um jogo, ou seja, como um processo de barganha de resultados projetados e alcançados em meio à desconfiança ou à incredulidade generalizada. Nos últimos 30 anos, com a crescente contestação da potência da política macroeconômica, observam-se duas importantes tendências na literatura econômica: a) o estudo da instrumentalidade da política macroeconômica; e b) o estudo do caráter das autoridades econômicas, bem como a credibilidade de suas ações. A primeira tendência, a instrumentalidade das política públicas, foi marcada pelas contribuições de Tinbergen (1986) e Atkinson e Stiglitz (1987). Esse campo de pesquisa possibilitou a reconsideração de importantes aspectos do clássico debate entre keynesianos e monetaristas, o que, na versão moderna dessa controvérsia, novos-clássicos versus novos-keynesianos, impeliu diversos autores ao estudo do processo de tomada de decisões por parte das autoridades econômicas, dentre os quais se destacam as contribuições de Kydiand e Prescott (1977) e Lucas (1986). Embora resultados empíricos demandem apreço científico, a análise do enfraquecimento dos instrumentos clássicos de política econômica ficou, por muito tempo, restrita à mera observação das consequências de ações errôneas. A segunda tendência, por sua vez, centrou-se muito mais no agente e na natureza de suas ações do que na relação entre as variáveis e os instrumentos utilizados. Assim, a credibilidade governamental tornou-se uma variável macroeconômica de grande relevância nos últimos anos. A preocupação com os resultados das políticas econômicas levou à análise das reações do setor privado às medidas e às decisões governamentais. A característica principal dessa literatura é a de que o público, interagindo estrategicamente com a autoridade econômica, determinaria o seu comportamento com base em suas expectativas sobre o provável curso das políticas correntes e futuras (PERSSON, TABELLINI,1996). Destaca-se que o ganíio de credibilidade está associado, fundamentalmente, à percepção do público de que a autoridade monetária está cumprindo as medidas anunciadas. No debate entre regra e discricionariedade, a proposição de uma regra de política ótima de inflação, igual a zero, confere credibilidade aos formuladores de política econômica, quando o público observa que realmente as taxas inflacionárias se encontram em patamares reduzidos. Nessas circunstâncias, a estabilização de preços garante a credibilidade das autoridades monetárias na condução da política econômica. Contudo a associação entre credibilidade e estabilidade macroeconômica não ocorre de forma tão direta. A estabilização é condição necessária, mas não suficiente, para a estabilidade econômica, implicando, ainda, a necessidade de equilíbrio fiscal e das contas externas, além de baixas taxas de desemprego e de um padrão de crescimento sustentável. Como essas metas, muitas vezes, não são mutuamente compatíveis, o alcance da estabilização de preços gera um ganho de credibilidade que não implica, necessariamente, uma crença por parte do público de que o Governo será igualmente capaz de atingir a estabilidade econômica. Promoção do desenvolvimento 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 106 Desenvolvimento econômico é o processo pelo qual ocorre uma variação positiva das "variáveis quantitativas" (crescimento econômico: aumento da capacidade produtiva de uma economia medida por variáveis tais como produto interno bruto, produto nacional bruto), acompanhado de variações positivas das "variáveis qualitativas" (melhorias nos aspectos relacionados com a qualidade de vida, educação, saúde, infraestrutura e profundas mudanças da estrutura socioeconômica de uma região e ou país, medidas por indicadores sociais como o índice de desenvolvimento humano - IDH, o índice de pobreza humana e o Coeficiente de Gini). Indicadores do desenvolvimento Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades), durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc.). O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de quantificar a atividade econômica de uma região. Na contagem do PIB, considera-se apenas bens e serviços finais, excluindo da conta todos os bens de consumo de intermediário. Isso é feito com o intuito de evitar o problema da dupla contagem, quando valores gerados na cadeia de produção aparecem contados duas vezes na soma do PIB. Em 27 de março de 2015, o IBGE divulgou os dados finais relativos ao PIB de 2014. De acordo com o órgão, o PIB do Brasil apresentou um crescimento de apenas 0,1% em 2014. Em valores correntes, a riqueza gerada pela economia brasileira em 2014 atingiu R$ 5,52 trilhões (ou US$ 1,73 trilhão). Já o PIB per capita (por pessoa) ficou em R$ 27.230. Balança comercial é o indicador econômico que representa a relação entre o total de exportações e importações de bens e serviços de um país em determinado período. A balança comercial brasileira41 registrou em 2014 déficit (exportações menos importações) de US$ 3,930 bilhões, o primeiro desde 2000, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O resultado do ano passado também é o pior do comércio exterior brasileiro desde 1998, quando as compras para outros países superaram as vendas em US$ 6,623 bilhões. O conjunto das importações feitas pelo Brasil em 2014 somou US$ 229 bilhões e as exportações totalizaram US$ 225,1 bilhões. As compras, portanto, superaram as vendas para o exterior em US$ 3,9 bilhões no ano passado. Antes de 2014, a última vez que o país registrou déficit no comércio exterior foi em 2000, quando as importações superaram as exportações em US$ 731,7 milhões. Em 2013, o Brasil havia registrado superávit (exportações superiores às importações) de US$ 2,384 bilhões. Apesar disso, o resultado já era o pior dos últimos 13 anos. O secretário de Comércio Exterior, Daniel MarteletoGodinho, destacou três fatores que contribuíram para o déficit em 2014: queda no preço das commodities maior que a esperada, principalmente do minério de ferro; crise econômica na Argentina, país que é um dos nossos principais compradores; e os gastos do Brasil com importação de combustíveis, que apresentaram melhora no ano passado, mas ainda são considerados muito elevados. O Mdic também divulgou nesta segunda que, em dezembro de 2014, o Brasil registrou superávit de US$ 293 milhões. No mês passado, as exportações somaram US$ 17,491 bilhões e, as importações, US$ 17,198 bilhões. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral e sintética que, apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, não abrange nem esgota todos os aspectos de desenvolvimento. Em 2013, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil subiu uma posição e superou a média da América Latina e Caribe. Com isso, o país ocupa o 79º lugar no ranking mundial com 187 países. O índice brasileiro é 0,744 -- a média da região é de 0,74 e a média mundial ficou em 0,702. O Índice de Pobreza Humana (IPH) serve como indicador da taxa de pobreza que existe em determinado país e pondera de três variáveis: - Curta duração da vida (o percentual da população, em cada país, que não atinge os 40 anos); 41 http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/01/balanca-comercial-registra-em-2014-primeiro-deficit-desde-2000.html 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 107 - Falta de educação elementar (o percentual da população analfabeta); - Falta de acesso aos recursos públicos e privados (percentagem composta das pessoas com falta de acesso ao serviço de saúde, água potável e nutrição razoável). O IPH considera diversos indicadores para verificar a porcentagem de pessoas em uma população que sofre de privações em quatro dimensões básicas da vida: a longevidade, o conhecimento, a provisão econômica e a inclusão social. O índice de brasileiros em situação de pobreza multidimensional caiu 22,5% em seis anos, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Segundo levantamento do órgão, a parcela da população brasileira com privação de bens caiu de 4% para 3,1%, entre 2006 e 2012. A fatia da população próxima à pobreza multidimensional caiu de 11,2% para 7,4%. A proporção de pessoas em pobreza severa passou de 0,7% para 0,5% na mesma comparação. O Coeficiente de Gini foi desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, e é um parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. O coeficiente varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo do zero menor é a desigualdade de renda num país, ou seja, melhor a distribuição de renda. Quanto mais próximo do um, maior a concentração de renda num país. O Índice de Gini do Brasil no ano de 2013 foi de 0,495, o que demonstra que nosso país, apesar dos avanços econômicos dos últimos anos, ainda tem uma alta concentração de renda. Porém, devemos destacar um avanço do Brasil neste índice, já que em 2008 era de 0,544. O "crescimento econômico" difere do "desenvolvimento econômico" em alguns aspectos, pois, enquanto o crescimento econômico se preocupa apenas com questões quantitativas, como por exemplo, o produto interno bruto e o produto nacional bruto, o desenvolvimento econômico aborda questões de caráter social, como o bem-estar, nível de consumo, índice de desenvolvimento humano, taxa de desemprego, analfabetismo, qualidade de vida, entre outros. O desenvolvimento econômico é um processo pelo qual a renda nacional real de uma economia aumenta durante um longo período de tempo. A renda nacional real refere-se ao produto total de bens e serviços finais do país, expresso não em termos monetários, mas sim em termos reais: a expressão monetária da renda nacional deve ser corrigida por um índice apropriado de preço de bens e consumo e bens de capital. E, se o ritmo de desenvolvimento é superior ao do crescimento populacional, a renda real per capita aumentará. O processo implica a atuação de certas forças, que operam durante um longo período de tempo e representam modificações em determinadas variáveis. Os detalhes do processo variam sob condições diversas no espaço e no tempo, mas, não obstante, há algumas características comuns básicas, e o resultado geral do processo é o crescimento do produto nacional de uma economia. A seguir, a título de ilustração apresentaremos o desenvolvimento socioeconômico dos governos Lula e Dilma42: Os governos Lula e Dilma implementaram no período 2003-2014 uma estratégia de desenvolvimento socioeconômico de longo prazo, cujos êxitos alcançados e perspectivas de sucesso futuro as oposições tentam minimizar, momentaneamente favorecidas pelo baixo crescimento atual do PIB. A estratégia foi enunciada na campanha eleitoral de 2002, e reiterada em uma série de documentos e pronunciamentos oficiais ao longo dos três mandatos: crescimento com baixa inflação e redistribuição de renda, associado ao modelo de consumo de massa. No “Programa de Governo 2002”, da Coligação Lula Presidente, as linhas do novo modelo estavam assim anunciadas: “(…) O motor básico do sistema é a ampliação do emprego e da renda per capita e, consequentemente, da massa salarial que conformará o assim chamado mercado interno de massas. O crescimento sustentado a médio e longo prazo resultará da ampliação dos investimentos na infraestrutura econômica e social e nos setores capazes de reduzir a vulnerabilidade externa, junto com políticas de distribuição de renda”. O objetivo maior dessa estratégia, e inédito no Brasil, tem sido a inclusão e a proteção social, com radical redução da pobreza e igualdade de oportunidades para todos. 42 Brasil Debate. Disponível em: http://brasildebate.com.br/o-modelo-de-desenvolvimento-proposto-por-lula-e-dilma/ 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 108 E sua sustentação econômica em médio e longo prazo reside na continuidade da expansão dos investimentos em três frentes de expansão: investimentos em produção e consumo de massa, investimentos em infraestrutura e investimentos na produção de bens e serviços intensivos em recursos naturais. A desaceleração recente nessas frentes de expansão não quer dizer que não houve acerto nas políticas de governo nos dois mandatos de Lula e no de Dilma. A Tabela 1 mostra uma lista de indicadores do êxito social, em matéria de trabalho e renda, transferência e assistência, distribuição de renda e redução da pobreza, evidenciando um avanço. A Tabela 2 complementa a anterior com dados de avanços em matéria de educação, saúde, desenvolvimento urbano e desenvolvimento agrário. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 109 A taxa de investimento se elevou entre 2003 e 2010 em mais de 5 pontos percentuais do PIB. Saltou de 14 a 19% (a preços constantes de 2000), sob o impacto do crescimento econômico e do PAC, e permaneceu nesse patamar no período 2011-2013. A Tabela 3 apresenta indicadores da expansão da demanda e da oferta de infraestrutura de transportes, energia e comunicações, cujos números bem expressam o desafio que tem sido enfrentado e os avanços alcançados no País. Não cabe aqui, promover partidos, mas, de fato, houve uma estratégia, um plano parao desenvolvimento econômico, que resultaram em aspectos positivos e negativos. Ressaltamos aqui alguns aspectos positivos, os negativos são aparentes e não foram contemplados. Custos no setor público43 Qual é a importância da informação de custos para o aperfeiçoamento das decisões sobre a alocação de recursos e o controle orçamentário — maior qualidade do gasto — no contexto brasileiro? Qual é a relação entre a contabilidade pública tal como hoje se pratica no setor público brasileiro e a denominada contabilidade de competência (accrual accounting)? Qual é a diferença entre a contabilidade de competência e o orçamento de competência (accrual budgeting)? Como relacionar o desenvolvimento de um sistema de informação de custos na administração pública aos esforços mais amplos de reforma da gestão pública: foco em resultados, orientação para os cidadãos, transparência, accountability pública e a identificação de novas formas de prestação dos serviços públicos? Tudo isso no marco da imperiosa necessidade de avançar, anos à frente, no rumo da melhoria da qualidade do gasto público. A importância das informações sobre os custos do governo não se resume à contribuição que elas podem dar para a eficiência e a eficácia do gasto público, mas também pelo que representa à luz da necessidade de ser promovida uma profunda reforma da gestão pública no país, indispensável para que o poder público possa responder adequadamente aos desafios contemporâneos que se apresentam à sociedade brasileira. O foco em resultados, a ampliação da transparência das ações governamentais, o aumento da accountability de políticos, gestores e profissionais na administração pública, assim como a identificação de novas formas de provisão dos serviços públicos, vistos aqui como críticos elementos para a reinvenção da gestão pública, têm na informação de custos um de seus pilares fundamentais. A implantação de um sistema de informações de custos afigura-se como estratégia crucial para que o orçamento público e o planejamento governamental se direcionem para as mudanças necessárias. Mais ainda, o aprendizado sobre o que funciona e o que não funciona, obtido mediante a aferição da relação entre custos e resultados, será de fundamental importância para se lidar com o déficit público nos anos à 43 Custos no setor público. Revista da Administração Pública. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rap/v44n4/v44n4a02.pdf 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 110 frente, fugindo-se de soluções de “cortes orçamentários” em direção à redefinição de papéis e estratégias, revitalizando a capacidade de governar. Caso, no extremo, seja necessário efetuar “cortes orçamentários”, como se observa atualmente em alguns países europeus (Grécia, Espanha e Inglaterra), a disponibilização de informação de custos permite ao gestor público identificar os programas que contribuem com menor value for money e dessa forma utilizar critério técnico para selecionar onde “cortar”. Pressões interna e externa por mais informações44 No Brasil recente, o movimento reformista do Estado foi fortalecido com o Decreto-lei no 200, de 1967, ou a reforma desenvolvimentista. O decreto introduziu, pela primeira vez, a determinação de apuração de custos no governo. Todavia, os instrumentos necessários para tornar essa reforma de fato gerencial não foram estabelecidos (Pereira, 1996:167). A partir da década de 1980 o mundo começou a discutir e a aderir ao movimento da nova administração pública. No final dessa mesma década, a Constituição Federal brasileira (1988) institucionalizou o princípio da eficiência (CF, 1988, art. 37). O movimento da nova administração pública propôs e modificou a participação do Estado, exigindo dele uma gestão fiscal responsável. A alteração no paradigma da função e do papel do Estado demandou um modelo diferente de informação financeira. Na Nova Zelândia, por exemplo, o movimento foi impulsionado pela reforma contábil. A Espanha experimentou tais mudanças paradigmáticas e Ruiz (2000:215) sintetizou as implicações da nova administração pública no país. Tais características apresentam a contabilidade de custos como instrumento de apuração de resultados e de aferição da competitividade das atividades empreendidas pelo governo. No contexto de agravamento da crise fiscal brasileira, ocorreu a promulgação da Lei Complementar nº 101, no ano 2000. A lei fixou uma série de restrições sobre o gasto público no curto prazo e impôs, sem especificar, mecanismos para o “... controle de custos e avaliação dos programas financiados com recursos dos orçamentos” (LC nº 101/2000, art.4, inc. I). A despeito de que esta última exigência demonstrava a preocupação com a sustentabilidade da política fiscal no longo prazo, nem a LRF, nem o Decreto-lei nº 200 expressaram quais seriam os meios para apurar a informação de custo. Além disso, nesses documentos não foram consideradas algumas limitações advindas principalmente do escopo do regime contábil preconizado pela lei geral de finanças, a Lei nº 4.320, de 1964. Gastos interorçamentários: custos da administração governamental45 Uma primeira dimensão de custo representa o valor que foi ou que deve ser utilizado ou sacrificado em favor de um objetivo em particular. Trata-se do custo de transformação. Para Martins (1996:25), esse “custo é o gasto relativo ao bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços”. Em outras palavras, é o gasto apropriado no período a um objeto. Essa apropriação pode vir de estoques de ativos que foram gastos no passado ou, por exemplo, de estoques de passivos atuariais em formação, cujo gasto ocorrerá no futuro. O objeto ou portador que recebe esses custos pode ser qualquer coisa, desde que dela se deseje conhecer ou mensurar custos (Horngren, Datar e Foster, 2000:19). No setor privado comercial os seguros, a depreciação e os salários são custos do período (despesas do exercício). Na indústria, muitos desses itens se relacionam às atividades de produção e, portanto, como custos de produção indiretos são custos dos produtos. Por outro lado, na administração governamental não há necessidade de distinção entre custos dos produtos e serviços, uma vez que o objetivo é a apuração dos custos dos serviços prestados, pressupondo-se a inexistência de estoques de serviços (Machado, 2005:110). Dadas as peculiaridades dos regimes empregados e da integração da contabilidade do orçamento e do patrimônio, problemas surgem na apuração do custo do serviço global de uma entidade governamental. Machado (2005:110) enumera diversos problemas no caso brasileiro, entre eles: despesa orçamentária corrente, empregada na produção de ativo permanente; restos orçamentários a pagar não processados de gastos cujo valor de faturamento não se conhece no encerramento do exercício; restos orçamentários a pagar não processados de bens e serviços não recebidos; e falta de incorporação das obras públicas (bens artificiais de uso comum). Aliás, a esse respeito Petri (1987:6) já alertava que em termos de deficiências da Contabilidade Pública, a principal relaciona-se com as distorções que provocam o surgimento de “passivos reais a descoberto” e que se originam (...) de uma imprecisão na retratação dos ativos. 44 PIGATTO, J. A. M.; HOLANDA, V. B.; MOREIRA, C. R.; CARVALHO, F. A. A importância da contabilidade de competência para a informação de custos governamental. RAP — Rio de Janeiro 44(4):821-37, jul./ago. 2010. 45 Idem. 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 111 Outros problemas característicos do modelo brasileiro, apontados por Machado, dizem respeito às variações passivas independentes da execução orçamentária, não registradas, tais como depreciações, sentenças judiciais desfavoráveis e passivos atuariais em formação. Esses problemas decorrem,como foi dito, do descompasso entre, de um lado, a apropriação de gastos no orçamento e no patrimônio, e de outro, daquilo que realmente deveria ser considerado no desempenho do período. Custos de transação46 Em 1960 Ronald Coase formulou um teorema econômico que contradiz a teoria de Pigou, a saber, somente os governos poderiam internalizar as externalidades por meio de impostos e subsídios (Coase, 1960:7). Coase argumentou que, se fosse considerado o custo de oportunidade em sua acepção plena, nenhum daqueles artifícios seria necessário. Em outras palavras, em uma situação em que o custo de transação fosse zero, ganhadores e perdedores privados internalizariam as externalidades por meio de uma negociação, qualquer que fosse a parte detentora do direito de propriedade. A ausência de custos de transação seria, assim, uma presunção irrealista (Coase, 1960:1) e seria um lapso lógico no pensamento econômico clássico (Williamson, 2005:3). Essa conclusão leva a outra, ou seja, que os custos de transação são inevitáveis, decorrendo da necessidade de desenvolver padrões regulares de interação humana (North, 1990:23). Tendo em vista sua complexidade, as interações são rotuladas de instituições e, em alguns casos, poderiam não conduzir a um resultado ótimo. Os custos de transação seriam os próprios “(...) custos de funcionamento do sistema econômico” (Williamson, 1991:269, tradução nossa) e envolveriam, por exemplo, externalidades, assimetrias de informação e outros riscos, por exemplo, decorrentes de atitudes oportunistas. Embora importantes, os custos de transação são de dificil mensuração e por isso não foram incluídos no caso aqui proposto. Custos sociais47 O custo social representa o conjunto de encargos que a coletividade suporta em função de determinada atividade. Um exemplo são os custos ambientais. Em grande parte sua captura dependeria do registro dos recursos ambientais mas, para a macroeconomia, o problema da operacionalização do cálculo do consumo desses ativos é um problema detectado, porém não resolvido (Montoro Filho, 1992:29). Na esfera da contabilidade governamental esbarra-se em dois fatores que interferem na captura dos ativos e passivos ambientais, bem como de suas variações. Em primeiro lugar, os ativos registrados não representam toda a riqueza sob a jurisdição de uma administração pública, portanto, uma subtração de ativos ainda que potencial somente será possível se o ativo estiver devidamente registrado. Em segundo lugar, qual o valor a ser atribuído a esse ativo? Os recursos naturais originais não possuem um custo de aquisição. Por exemplo, as florestas são consideradas pelo Código Civil brasileiro bens imóveis e de uso comum do povo. A exploração desses recursos é contabilizada na macroeconomia como produto. Os custos de obtenção desse produto não são apurados. É como se o produto fosse obtido com custo de matéria-prima zero. Assim, na esfera microeconômica, as florestas acabam tendo o tratamento de bens de uso comum e não são registradas. 01. (UFAL – Economista – COPEVE/ 2011) Qual das seguintes opções é uma característica distintiva de um oligopólio? (A) Um produto homogêneo. (B) O objetivo de maximizar lucro. (C) A interdependência entre firmas. (D) As firmas apresentam uma curva de demanda negativamente inclinada. (E) O mercado apresenta uma curva de demanda negativamente inclinada. 02. (BNDES - Profissional Básico – Engenharia - CESGRANRIO/2013) Um empresário está pensando em abrir uma empresa em um mercado desconhecido por ele. Ele contrata um consultor para lhe apresentar o tipo de estrutura de mercado que ele vai encontrar. O consultor lhe apresenta as 46 Ibidem. 47 PIGATTO, J. A. M.; HOLANDA, V. B.; MOREIRA, C. R.; CARVALHO, F. A. A importância da contabilidade de competência para a informação de custos governamental. RAP — Rio de Janeiro 44(4):821-37, jul./ago. 2010. Questões 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 112 seguintes características desse mercado: há muitos vendedores e compradores, há diferenciação de produtos e existe livre entrada para as empresas. O empresário conclui que esse mercado apresenta um tipo de estrutura de (A) oligopólio (B) monopólio (C) monopsônio (D) concorrência perfeita (E) concorrência monopolística 03. (TJ-PA - Analista Judiciário - Economia – VUNESP – 2014) Numa economia, muitas empresas produzem chocolates em barra, cada uma entretanto tem a sua marca, já que há diferenças na sua composição, fazendo com que um consumidor possa preferir uma marca à outra. Esse tipo de estrutura de mercado é denominado (A) monopólio. (B) oligopólio. (C) monopólio bilateral. (D) concorrência monopolística. (E) concorrência perfeita. 04. (SEFAZ-SP - Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Públicas – FCC/2010) Em um mercado em monopólio: (A) a demanda é necessariamente inelástica. (B) o poder de mercado está nas mãos do único consumidor que nele atua. (C) o equilíbrio é alcançado quando receita marginal e custo marginal de produção se igualam. (D) a imposição de um imposto por unidade vendida do produto é suficiente para eliminar sua perda de eficiência. (E) a quantidade de equilíbrio de mercado será superior àquela alcançável em uma estrutura de concorrência perfeita. 05. (TCE-CE - Procurador de Contas – FCC/2015) A existência de monopólios está baseada na hipótese de: (A) barreiras à entrada de novos ofertantes. (B) existência de grande número de vendedores e compradores. (C) livre entrada e saída de vendedores. (D) conluio entre as firmas dominantes. (E) incapacidade das firmas em fixar preços. 06. (BNB - Técnico de Nível Superior - Economista – ACEP/2006) No modelo IS-LM para uma economia fechada, um aumento dos gastos do governo desloca a(as) função(ões): (A) IS para a direita. (B) IS para a esquerda. (C) IS e LM para a esquerda. (D) LM para a direita. (E) LM para a esquerda. 07. (TJ-RS - Analista Judiciário - Área Administrativa – FAURGS/2012) No modelo IS-LM, quando a elasticidade da demanda por investimento em relação à taxa de juros for nula, configura-se uma representação gráfica em que (A) a IS é vertical. (B) a LM é vertical. (C) a IS é horizontal. (D) a LM é horizontal. (E) a IS é negativamente inclinada. 08. (TJ-BA - Analista Judiciário - Economia – FGV/2015) O efeito deslocamento, descrito no modelo IS-LM, ocorre quando: (A) a demanda por moeda for perfeitamente elástica em relação à taxa de juros e ocorrer uma expansão da política fiscal; 1155683 E-book gerado especialmente para MARIA GABRIELA FERREIRA . 113 (B) o investimento for totalmente insensível a mudanças na taxa de juros e a política monetária for expansionista; (C) a demanda por moeda for totalmente inelástica em relação à renda e ocorrer uma política fiscal expansionista; (D) a demanda por moeda for totalmente inelástica em relação à taxa de juros e a diferença entre tributos e gastos públicos se tornar negativa; (E) a oferta de moeda for perfeitamente inelástica em relação à taxa de juros e ocorrer uma política monetária e fiscal expansionista. 09. (CPTM - Analista Administrativo Júnior – Makiyama/2012). De acordo com o modelo Keynesiano: (A) Haverá um aumento nas despesas de investimento quando a taxa de juros aumentar. (B) Não há relação entre o espírito empreendedor (animal spirit) e a decisão de investir. (C) A decisão de entesourar não afeta a taxa de juros. (D) A demanda por moeda para transações é função do nível de atividade. (E) Os preços são flexíveis. 10. (SMF-RJ - Fiscal de Rendas – ESAF/2010) A partir de um modelo keynesiano simplificado, fechado e sem governo, podemos dizer que, quando a produção está acima do equilíbrio macroeconômico, (A) o investimento equivale à poupança. (B) há