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Autores: Profa. Maíra de Carvalho Miranda Profa. Raquel Maia Bokums Prof. Rodnei Pereira Profa. Sirlei Pires Terra Prof. Wanderlei Sérgio da Silva Colaboradora: Profa. Christiane Mazur Doires: Prática de Ensino: Integração Escola x Comunidade Professores conteudistas: Maira de Carvalho Miranda / Raquel Maia Bokums / Rodnei Pereira / Sirlei Pires Terra / Wanderlei Sergio da Silva Maíra de Carvalho Miranda Mestre em Análise Geoambiental pela Universidade Guarulhos (UnG), especialista em Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista (UNIP) e em Análises Clínicas pela Universidade São Judas Tadeu (USJT), é graduada (licenciatura e bacharelado) em Ciências (habilitação em Biologia) pela Universidade São Francisco (USF). Também é graduada em Pedagogia (licenciatura) pela Faculdade Paulista São José (FPSJ), tendo atuado como professora na educação básica e em cursos profissionalizantes. Raquel Maia Bokums Mestre em Ciências (Educação Física) pela Universidade de São Paulo (EEFE/USP), especialista em Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista (UNIP Interativa) e em Educação Física Escolar pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (UniFMU), graduada em Educação Física pelo Centro Universitário Nove de Julho (Uninove) e em Letras pela Universidade Paulista (UNIP Interativa). Foi integrante do Laboratório de Comportamento Motor (Lacom) da EEFE/USP, com pesquisas realizadas na área, além de bolsista da Capes e integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em Capacidades e Habilidades Motoras (Gepcham) da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (Each/USP). Rodnei Pereira Doutor em Educação pelo Programa de Estudos Pós‑Graduados em Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‑SP), realizou estágio pós‑doutoral em Educação: Formação de Formadores, pela mesma instituição. É licenciado em Pedagogia, Filosofia e Letras. Atua como professor de cursos de graduação e Especialização em Educação e Psicologia, na Universidade Paulista (UNIP), além de consultor em Educação, assessorando a implementação de Políticas Públicas de Educação e Cultura. É professor titular da Universidade Cidade de São Paulo, onde orienta dissertações e teses nos programas de pós‑graduação. Sirlei Pires Terra Doutora em Sociologia do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‑SP) e mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, é graduada em Ciências Políticas e Sociais pelo Instituto Municipal de Ensino Superior (IMES), além de licenciada em Sociologia e graduada e licenciada em Geografia também pela PUC‑SP. É ainda especialista em Didática do Ensino Superior e em Educação e Saúde pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie, em Formação em EaD pela Universidade Paulista (UNIP) e em Saúde Coletiva pela Universidade Católica Dom Bosco/Portal Educação. Wanderlei Sérgio da Silva Doutor em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), mestre em Ciências (Geografia Humana) e graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) com pesquisas relacionadas às geociências e ao meio ambiente e também atuou como consultor em trabalhos da área. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M672p Miranda, Maíra de Carvalho. Prática de Ensino: Integração Escola x Comunidade / Maíra de Carvalho Miranda, Raquel Maia Bokums, Rodnei Pereira, Sirlei Pires Terra, Wanderlei Sérgio da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2023. 36 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230. 1. Escola. 2. Comunidade. 3. Professor. I. Miranda, Maíra de Carvalho. II. Bokums, Raquel Maia. III. Pereira, Rodnei. IV. Terra, Sirlei Pires. V. Silva, Wanderlei Sérgio da. VI. Título 681.3 U517.07 – 23 Profa. Sandra Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora das Unidades Universitárias Profa. Silvia Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Pousada Jaci Albuquerque Prática de Ensino: Integração Escola x Comunidade APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 1 A INSTITUIÇÃO ESCOLAR .................................................................................................................................9 2 UMA ESCOLA PARA, POR E COM PESSOAS .......................................................................................... 11 3 A ESCOLA E O CURRÍCULO .......................................................................................................................... 13 4 COMUNIDADE ................................................................................................................................................... 16 4.1 A comunidade e suas famílias ........................................................................................................ 16 5 POR UMA ESCOLA ABERTA E PARA TODOS .......................................................................................... 19 6 A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA INTEGRAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A COMUNIDADE ............................................................................................................................................... 19 7 CONHECENDO PARA PLANEJAR ................................................................................................................ 21 8 CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA REALIDADE ......................................................................... 22 Sumário 7 APRESENTAÇÃO Neste momento do curso, faz‑se necessário identificar e compreender aspectos importantes relacionados à escola e à comunidade que a cerca tendo em vista tornar você, aluno, competente para desenvolver projetos que envolvam a escola e sua comunidade circundante. Vale ressaltar que a comunidade em torno da escola não se limita às pessoas que lá estudam e a seus familiares, mas se estende a todos aqueles que moram nos bairros próximos à escola. Infelizmente, nem sempre a comunidade participa dos assuntos pertinentes à escola e nem sempre a escola se preocupa em conhecer e envolver a comunidade ao seu redor. Portanto, é essencial compreender a importância dos projetos integradores e de se conhecer a realidade da escola e da comunidade para que seja possível identificar a melhor forma de aprimorar o contexto e de suprir suasprincipais carências. Além de estudar conceitos teóricos, você terá a oportunidade de vivenciar a realidade de uma escola e de sua comunidade, a fim de identificar suas principais características, necessidades e expectativas. Dessa forma, espera‑se que você seja capaz de refletir criticamente sobre a realidade encontrada e de propor projetos inovadores, aperfeiçoando a articulação entre a escola e a comunidade. O processo de construção da sua identidade profissional será desenvolvido a partir da vivência e da familiarização com relação aos contextos inerentes às escolas de educação básica e à sua comunidade. A realização do acolhimento e da socialização dos estudantes pressupõe o enraizamento da escola na comunidade. Dessa forma, a ampla gama de conhecimentos construídos no ambiente escolar ganha sentido a partir da interação contínua e permanente entre o saber escolar e os demais saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz para a escola. O relacionamento entre a escola e a comunidade pode, ainda, ser intensificado a partir da integração entre os diversos espaços educacionais que existem na sociedade, tendo como objetivo criar ambientes culturais diversificados que contribuam para o conhecimento e para a aprendizagem do convívio social (BRASIL, 1998). É fundamental, também, que a escola assuma a valorização da cultura de seu próprio grupo e, ao mesmo tempo, busque ultrapassar seus limites, propiciando aos indivíduos pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira (nos âmbitos nacional e regional), como em relação ao que faz parte do patrimônio universal da humanidade. Também é essencial que a escola favoreça a produção e a utilização das múltiplas linguagens, das expressões e dos conhecimentos históricos, sociais, científicos e tecnológicos, sem esquecer a autonomia intelectual e moral do estudante, como finalidade básica da educação (BRASIL, 1998). O objetivo geral da disciplina é compreender como transcorre a relação entre escola e comunidade e identificar suas principais características que são passíveis de serem trabalhadas de forma integrada, visando uma educação cidadã. 8 Os objetivos específicos são: • identificar características de instituições escolares no contexto da realidade socioeconômica e cultural; • caracterizar a instituição escolar nos aspectos relativos à infraestrutura física, humana e pedagógica; • caracterizar a comunidade ao redor da escola, sob o aspecto socioeconômico e cultural, visando conhecer a realidade em que vivem os estudantes; • compreender as características de projetos que articulam a escola e a comunidade que a envolve e que buscam integrá‑las ao contexto sociocultural. Para atingir tais objetivos, serão abordados conceitos relacionados à escola, à comunidade e ao papel que o professor exerce na integração deste cenário. Fique atento, também, às sugestões de leitura apresentadas neste livro‑texto, pois elas possibilitarão a ampliação do seu conhecimento sobre o tema. Bons estudos! INTRODUÇÃO Inicialmente, é importante relembrar o contexto em que se insere a prática de ensino, integrando, assim, a dimensão prática do curso. A prática de ensino será desenvolvida em oito semestres, com atividades distribuídas por cada um deles. Naturalmente, deve haver uma articulação entre elas, perpassando todo o curso. As disciplinas relacionadas à prática de ensino são as destacadas no quadro a seguir. Quadro 1 – Disciplinas relacionadas à prática de ensino Prática de ensino Introdução à Docência Observação e Projeto Integração Escola versus Comunidade Vivência no Ambiente Educativo Princípios Pedagógicos em Sala de Aula O Uso dos Recursos Didáticos em Sala de Aula Trajetória da Práxis Reflexões 9 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE 1 A INSTITUIÇÃO ESCOLAR Na condição de uma instituição social responsável pela educação formal das novas gerações, a escola é constantemente questionada sobre seus fins, sobre o papel que exerce diante das transformações históricas e culturais pelas quais o mundo vem passando. Observação Segundo o Dicionário Online de Português, a palavra instituição corresponde a “ação de instituir, de estabelecer, de fundar algo novo; conjunto de regras e normas estabelecidas para a satisfação de interesses coletivos: o Estado, o Congresso, uma fundação são instituições; organização que, pública ou privada, busca resolver as necessidades de uma sociedade ou comunidade: instituições religiosas; estabelecimento de educação e instrução: instituição de ensino” (INSTITUIÇÃO, [s.d.]). Essas transformações históricas e culturais encontram‑se entre os mais relevantes efeitos da globalização – termo que apresenta um conceito muito abrangente, no interior do qual se destaca, para fins desta disciplina, o fato de designar um conjunto de variáveis econômicas, culturais, sociais e políticas – e se refletem na busca de respostas rápidas e objetivas que atendam às necessidades do mundo do trabalho, bem como da maneira como a produção se organiza. Regra geral, esse processo é permeado de subjetividades e afeta tanto a vida em comunidade quanto as relações estabelecidas nos diferentes espaços sociais. Entre os agentes sociais, tais acontecimentos afetam a escola, diretamente. Um dos efeitos, por exemplo, é a própria concepção que se passa a ter de trabalho e de trabalhador. O sistema produtivo exige trabalhadores “flexíveis, decididos, versáteis”, capazes de construir, ampliar e aperfeiçoar suas próprias competências pessoais, coletivas e profissionais bem como acompanhar e operar os novos instrumentos tecnológicos que se renovam continuamente, em estrondosa velocidade. Com isso, passa‑se a exigir da escola, com maior rigor, uma formação compatível com os interesses do mercado e do consumo. De acordo com Melo et al. (2014), o empresariado brasileiro considera a necessidade de uma educação básica que forme trabalhadores flexíveis em suas competências e habilidades, e que se submetam a um processo formador contínuo. Em uma das vertentes desse debate no Brasil, há uma discussão sobre os vínculos existentes nas propostas do empresariado brasileiro, representado pela Confederação Nacional da Indústria, e o Estado, no que tange à reforma trabalhista dentro da perspectiva de uma educação básica precária como face do mundo do trabalho precarizado que ora se vive (DORE, 2014). 10 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Em função das novas exigências sobre a escola, seus objetivos e prioridades vêm se transformando, de maneira que ela se vê constantemente desafiada a alterar suas práticas, seus valores. O mercado conclama, ainda, novos modelos de professor, novas formas de organização dos conteúdos, dos tempos e dos espaços escolares. A escola formal contemporânea vive, portanto, uma crise, um conjunto de tensões que faz com que ela seja constantemente desafiada e que conviva com outros espaços de uma educação que se dá em ambientes não escolares. Nesse sentido, cabe perguntar: a escola formal estaria com seus dias contados? Seria ela incapaz de “concorrer” com novas formas, tempos e espaços de aprendizagem que se constroem fora da escola e sem a intervenção do professor? Veementemente, não. A filósofa Hannah Arendt, nascida na Alemanha no século XX, afirmava que educar implica questionar se amamos o mundo o suficiente a ponto de assumirmos a responsabilidade por ele. Assim, se buscarmos uma definição essencial para a escola, podemos afirmar que ela é a instituição social responsável pela transmissão às novas gerações dos conhecimentos que o homem acumulou ao longo dos tempos. Esperar que a escola forme trabalhadores para concorrer no mundo do trabalho e contribuir com a cadeia produtiva e com a manutenção do modo de produção é reduzir, sumária e ingenuamente, sua importância e relevância histórica. Seu potencialde renovação e aprimoramento da sociedade é bem mais abrangente. Poderíamos dizer que à escola caberia a formação de sujeitos com condições de refletir e de pensar criticamente sobre si mesmos, sobre o mundo, sobre o contexto social e histórico do qual fazem parte, bem como, por meio dos conhecimentos construídos, compreenderem o avanço das tecnologias, das cadeias produtivas, das relações e das condições de trabalho e emprego e participar do seu aprimoramento. À instituição escolar caberia, ainda, a função de construir as bases para que as pessoas sejam capazes de desenvolver atitudes que as permitam conviver umas com as outras, pacificamente, pensando, repensando e transformando as relações sociais e de convivência mútua, de construção da crítica e da autonomia que permita o exercício pleno da cidadania. Tudo isso pautado pela ética e pela solidariedade. A grande questão que surge é: seria a escola a grande transformadora das realidades sociais? É preciso que se compreenda que, sozinha, a escola pode muito pouco. Aqui se encontra o cerne da questão tratada nesta disciplina. Por outro lado, se for compreendida como uma instituição que soma forças com outras instituições sociais, como as organizações familiares, religiosas, movimentos sociais, culturais, associações de bairro e organizações da sociedade civil, por exemplo, há espaço de criação para um trabalho fecundo e potente. Vamos refletir a respeito de como isso pode ocorrer nas páginas subsequentes. 11 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE 2 UMA ESCOLA PARA, POR E COM PESSOAS Quando pensamos no conceito de escola, imediatamente pensamos na forma escolar, ou seja, em um prédio, com uma arquitetura mais ou menos uniforme, com salas, cadeiras, carteiras, pátios, quadras. Há quem diga que “em qualquer lugar do mundo reconhece‑se facilmente uma escola”. Precisamos ficar atentos para que o uso dessa frase não desqualifique a escola, denotando o quanto ela estaria “atrasada”, “ultrapassada” em seus métodos, como um lugar de “obrigações” e “conteúdos sem sentido”. Lembrete A instituição escolar é aquela que procura contribuir na formação de educandos enquanto pessoas inseridas numa determinada sociedade. Para tanto, oferece as condições necessárias para que a pessoa seja considerada membro da sociedade em que vive por meio da aquisição e ampliação de seus conhecimentos. É preciso que pensemos criticamente sobre isso. A forma escolar, sua arquitetura, suas paredes, seus materiais, são vestígios da importância histórica que ela teve e tem para que todo o conhecimento que a humanidade acumulou ao longo dos tempos não se perdesse. Ela é, portanto, um espaço importante e privilegiado da memória da humanidade e assim deve ser vista e tratada, com o respeito e compromisso que merece A escola é espaço de formação das novas gerações, é espaço de desenvolvimento profissional docente, é espaço de convivência entre todos os que nela trabalham para que ela abra suas portas todos os dias e desenvolva seu trabalho. Isso tem a ver com a maneira que ela escolhe o que vai ensinar, como organiza o trabalho pedagógico, como as pessoas se relacionam em seu interior, como os alunos são recebidos diariamente, como a comunidade participa (ou não) de suas atividades, como é atendida pelo guichê da secretaria, como é acolhida nas reuniões de pais e mestres, nas festividades e em outros momentos menos formais. A escola, portanto, se faz com pessoas, e disso derivam muitas complexidades. Além de se fazer com pessoas, o que convoca a escola a se repensar constantemente, cabe a ela, também, perceber que tudo o que acontece (ou não acontece) em seus espaços e tempos tem uma relação direta com o espaço social, com a comunidade da qual ela é parte. E isso precisa ser amplamente tomado como objeto de reflexão. Uma escola que não se abre para sua comunidade, que não leva suas características em consideração, corre grande risco de não ter sucesso em seu trabalho. A escola é um espaço muito importante porque é uma das instituições sociais mais democráticas, que atinge as localidades mais remotas, geograficamente falando. Se tomarmos as regiões periféricas dos territórios geográficos, sejam eles urbanos ou rurais, sempre haverá, mais distante ou mais perto, uma escola. Ela é, portanto, a instituição (pública, sobretudo) que chega antes de qualquer outro serviço de atenção primária aos cidadãos. 12 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Isso não apenas revela sua importância como nos auxilia a pensar nela como um espaço de inclusão social, onde o direito de todos, sem qualquer distinção, pode se concretizar. Como afirma Santos: A porta aberta é um convite: a Escola é uma instituição histórica em processo contínuo, um lugar privilegiado, onde se brinca, treina, aprende, distrai, constrói, organiza, reorganiza, descobre e inventam novas formas de enfrentar os enigmas, as oportunidades, um espaço de encontros e desencontros, de amigos – a escola não é, mas, sim, está sendo (SANTOS, 2006, p. 26). O trabalho escolar exige dos seus gestores, dos professores, dos trabalhadores do apoio escolar, atenção sobre si mesmos, sobre os outros e sobre a realidade da comunidade escolar. É necessário, ainda, olhar para a comunidade, especialmente para suas diferenças. Olhar para as diferenças é fundamental para romper com modelos educativos que encontram na exclusão e no preconceito perversos mecanismos de negação do direito à educação. Foi com a presença de estudantes que estavam excluídos (pobres, negros, indígenas, crianças, jovens e adultos com deficiência, em situação de risco, jovens e adultos que não puderam escolarizar‑se) e chegaram recentemente às escolas que isso começou a ser percebido por todos, para modificar as relações de todos. Em acordo com Mantoan (2006), a inclusão é, ao mesmo tempo, fim, meio e produto de uma educação de qualidade que leva em conta as diferenças. Para ela, a escola das diferenças rompe com o estabelecido na instituição escolar e caminha pelas trilhas das identidades móveis, pelos estudos culturais, adotando propostas sugeridas por um ensino não disciplinar, transversal, e que configura uma rede complexa de relações entre os conhecimentos e os sentidos atribuídos pelo sujeito a um dado objeto. Portanto, a escola contemporânea, que se propõe a construir uma educação para todos, tem que encontrar na inclusão os princípios e fundamentos do seu trabalho. A inclusão mostra‑se como um processo de diálogo e aprendizagem para todos, porque faz parte de um movimento que tem suas bases no conceito de relacionamento, ampliando a relação de participação e incorporação das diferenças sociais, culturais, afetivas, étnicas, de gênero e físicas de todos. A inclusão é um movimento que exige a reconstituição do olhar para os diversos possíveis (e impossíveis no momento), além da interpretação de novas experiências. Por isso algumas questões se colocam quando pensamos nas relações que a escola pode, quer e deve estabelecer com a comunidade: • Como compreendemos a escola? • Qual é a concepção de educação que fundamenta nossas ações no interior dela? 13 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE • Qual é a nossa concepção de currículo? • O que esperamos dos nossos alunos? • Qual é o nosso papel como educadores? • Como estamos avaliando nosso trabalho e o dos nossos alunos? • Como entendemos a participação dos pais e da comunidade na escola? • Qual é a nossa concepção de gestão escolar? • Qual é o papel atribuído ao planejamento das atividades pedagógicas? A educação, entendida como o processo permanente de desenvolvimento do ser humano em direção à conquista da autonomia, possui momentos sistemáticos e assistemáticos. Nos contextos sistemáticos, como na escola, o ensino e a aprendizagem são previamente planejados, constituindo‑se passos inseparáveis, dialéticos e complementares. A educação envolve o ser humano como um todo, englobando as diversas dimensõesda sua relação com o mundo. Mas como trabalhar nas unidades escolares nessa perspectiva? Tal compreensão articula‑se com uma concepção de inclusão educacional em que se exige que a escola tenha seu papel qualitativamente ampliado para tornar‑se um espaço de troca e interpretação de vivências e experiências. Nela podem se concretizar os caminhos necessários para que essa interpretação seja possível e significativa. São eles: • a organização de grupos e suas vivências; • as análises das situações com base no saber acumulado pela humanidade através de diversos modos de aprendizagem; • a sistematização do conhecimento para que seja possível a elaboração das experiências e a compreensão da realidade. 3 A ESCOLA E O CURRÍCULO O que as crianças, os adolescentes, os jovens e adultos devem aprender na escola? Que conhecimentos são importantes para formar os seres humanos que desejamos ter nas sociedades atuais? Que cidadã e que cidadão queremos formar? Qual o currículo necessário para alcançar os objetivos educacionais com os quais sonhamos? Como nos implicamos em seu processo formativo? Os alunos são postos para preencher páginas e páginas de apostilas e livros didáticos, eletronicamente ou não? Ou realizam atividades e projetos propostos pela escola, a partir de temas ou parâmetros curriculares gerais, contextualizados com a realidade do entorno escolar? Essas questões, demasiadamente complexas, nos obrigam a refletir sobre como a escola se prepara para receber os alunos e suas famílias. 14 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Observação Atualmente, o currículo é considerado um conjunto de experiências, vivências e atividades (na escola) convergentes para objetivos educacionais, que devem ser trabalhadas de forma inter e transdisciplinar, facilitando, assim, o processo de ensino‑aprendizagem dos alunos. Outro ponto para se refletir diz respeito às avaliações de aprendizagem, como elas são realizadas. Os alunos são ouvidos a respeito? Dialoga‑se com a comunidade sobre os resultados das avaliações? Que usos a escola faz desses resultados? Que espaços são criados para debater sobre seus resultados? Como a comunidade participa desses debates? Essas são questões de grande importância para que a escola repense as relações que estabelece com a comunidade. Outras perguntas válidas são: o que acontece em nossa comunidade quando não tem aula? Outro exemplo: houve um incêndio na comunidade de onde provém a maior parte dos alunos; como isso nos afeta e afeta aos alunos? Quais são as implicações disso para o trabalho pedagógico? Que espaços são constituídos para refletir sobre isso? O questionamento do que aconteceu, o estabelecimento de relações, a problematização e as informações estudadas a partir do saber elaborado pela humanidade e os conteúdos programáticos trabalhados na escola podem permitir a elaboração das vivências e das experiências trazidas pelos alunos, bem como contribuir para que as relações da escola com a comunidade sejam diferentes. Esse movimento só pode trazer ganhos para todos e todos saem transformados: os alunos, a comunidade e a própria escola. Ampliar temas tradicionais, ir além da simples transmissão e reprodução de informações, de uma lógica de cumprimento acrítico sobre documentos oficiais, é fundamental para a transformação das relações estabelecidas entre a escola e a comunidade. Essas práticas contribuem não apenas para transformar o currículo, mas também para que se compreenda a realidade comunitária da qual a escola faz parte. Vale ressaltar que, para entender a realidade na qual se vive, não é suficiente o convívio com outras pessoas, mas conviver de modo organizado, sistematizado, trocando pontos de vista e articulando‑os com a realidade e as ações que ela demanda. Nessa perspectiva, trabalhar a capacidade de comunicação é um elemento fundamental no processo de uma educação que se pretenda inclusiva, para todos. Esses contextos contribuem de forma singular para o desenvolvimento do raciocínio e a elaboração de estratégias de enfrentamento da realidade. É na relação com o outro que o sujeito desenvolve sua capacidade argumentativa, bem como novas e mais eficientes formas de comunicação e interação que, na medida em que vão sendo sistematizadas, levam‑no a aprofundar o significado das situações e de suas ações. O princípio básico é comparar e perceber semelhanças e diferenças. A observação das diferenças configuradas nos colegas e da sua inserção no grupo é o primeiro passo para a compreensão da realidade. 15 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Percebemos hoje que o conhecimento da realidade e a troca de ideias sobre a forma de transformá‑la vêm se tornando um imperativo para a superação do individualismo e para a construção de uma nova cultura, de uma sociedade mais humana. Faz parte desse caminho repensar a dimensão do currículo, definindo‑o como o conjunto de vivências a serem interpretadas e o saber acumulado pela humanidade, como um instrumento para essa interpretação. Está aí um processo que se inicia – junto com os alunos – com a seleção das experiências grupais e/ou individuais, prossegue com sua problematização pelo grupo e sua análise com a coordenação do professor. É nesse momento que se lança mão da experiência culturalmente acumulada. Sistematizando e relacionando a problematização, as informações estudadas e as questões iniciais, teremos a compreensão de determinados aspectos da realidade e algumas possibilidades de articulação de ações concretas para transformá‑los. Além de pressupor uma reelaboração da visão de mundo, do homem, da sociedade e da escola, essa concepção de currículo nos faz ultrapassar os programas mínimos em educação para colocar‑nos em uma perspectiva de trabalho que integra os diversos campos do conhecimento de forma interdisciplinar, trazendo desenvolvimento para os alunos, suas famílias e professores. Para tornar isso possível, é necessário assumir o cotidiano da escola como um canal para o desenvolvimento dos seres humanos. É preciso quebrar a rigidez “conteudista” – informação pela informação – e a seletividade que impedem o aprender a ser e a vontade de aprender. Nessa linha de ação, cabe à escola organizar espaços de trabalho dos profissionais de educação – professores, funcionários e gestores – para articular uma formação contínua que possa alterar as práticas pedagógicas. Para isso, é preciso que a escola tenha coragem de mobilizar os profissionais de educação, as famílias e os alunos para a transformação da prática escolar por meio de debates, análises, reflexões, avaliações, estudos, conversas. Como é possível que esses diálogos ocorram? Será que as pessoas estão dispostas a participar? Como lidar com as queixas e as demandas das famílias e da comunidade? A escola está disposta a caracterizar as necessidades da comunidade e da escola? É possível articular as diretrizes das políticas educacionais e as necessidades da comunidade escolar? Diante de frases como: “a comunidade é ausente”, “a comunidade é violenta”, “a comunidade nunca comparece às reuniões”: o que fazer? Em primeiro lugar, é preciso que os profissionais da escola promovam uma boa discussão sobre a prática pedagógica, os processos de avaliação e os planejamentos escolares. Além disso, é necessário caracterizar os diversos segmentos que compõem a escola, bem como propor objetivos e metas claras para direcionar o trabalho de todos, dependendo do seu processo de construção e utilização. Nesse contexto, ao pensar a construção do currículo como um projeto de educação que abarca o conhecimento visando uma ampla formação capaz de incluir discussões sobre o processo de aprendizagem, pode‑se depreender que sua relevância está na seleção, organização e transformação do conhecimento capaz de estabelecer uma mediação entre estruturas sociais e estruturas educativas, como acontece nas escolas (PACHECO, 2016). 16 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE4 COMUNIDADE O conceito de comunidade adotado nesta disciplina corresponde à “população que vive num dado lugar ou região, ligada por interesses comuns” (HOUAISS, 2009, p. 509). Por comunidade pode‑se entender, portanto, “a população que reside no entorno escolar, no bairro onde se localiza a escola e em localidades circunvizinhas que a escola procura servir” (SUNG, 2003, p. 5). Assim, são fatores de vital importância as populações usuárias da escola (efetivas e potenciais), bem como o espaço físico que ela ocupa. Portanto, a comunidade em torno da escola não se limita às pessoas que lá estudam e a seus familiares, mas se estende a todos aqueles que moram nos bairros próximos à escola (SILVA; MENIN, 2012). Assim, essa comunidade não deve ser confundida com a comunidade escolar, cujo conceito engloba o conjunto de docentes e especialistas, o pessoal técnico‑administrativo e de serviços, lotados e em exercício na instituição escolar, bem como os pais ou responsáveis pelos educandos e os próprios alunos matriculados na instituição e com frequência regular na instituição (BRASIL, 1998). Conforme Freire (1996), a formação dos professores devia insistir na constituição deste saber necessário que é o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. Além disso, o saber teórico dessa influência teria que ser associado ao saber teórico‑prático da realidade concreta em que os professores trabalham. Freire (1996) ainda aponta a importância de o professor estar atento e abrir‑se à realidade dos seus alunos, com quem partilha a atividade pedagógica, ou seja, entender as condições materiais nas quais vivem seus educandos. Precisa, portanto, tornar‑se, se não absolutamente íntimo de sua forma de ser, no mínimo, menos estranho e alheio a ela, a fim de diminuir a sua distância da realidade (às vezes hostil) em que vivem seus alunos. Melo (2012) também afirma que o papel do educador é conhecer o aluno, sua vida, sua prática social, as contradições da vida que levam em comunidade, suas necessidades etc. 4.1 A comunidade e suas famílias A relação da escola com a comunidade é atravessada pelas representações que a escola tem da comunidade e das famílias. Entende‑se por representações, aqui, o conjunto de ideias, crenças e explicações consensuais, fortemente reificadas no imaginário. Atualmente, é muito comum observar um conflito na relação que a escola estabelece com as famílias. Essa discussão, presente nos meios de comunicação de massa e no cotidiano escolar, contribui para que essas duas instituições se afastem ainda mais. Frequentemente os profissionais da escola relatam que as famílias são “desestruturadas”, que “não se importam” e que “não educam as crianças”. Com isso, a expressão “a família ensina e a escola educa” tornou‑se muito popular. Ocorre que esse é um sofisma – um raciocínio incorreto – e cabe aos educadores desconstruí‑lo e superá‑lo. Em primeiro lugar, porque ele revela um equívoco sobre o conceito de educação. Em outras palavras, se entendermos educação como o processo de transmissão de conhecimentos pelas velhas para as novas gerações, conduzindo‑as para outros patamares de pensamento e ação, inclusive oferecendo condições para que elaborem novos conhecimentos, educar 17 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE é um conceito amplo que nos leva a questionar: a família ensina o quê? E a escola? Educa como? Para quê? De que família estamos falando? Além disso, é necessário pensar que existem arranjos familiares contemporâneos que se constituem de múltiplas e variadas formas. Assim, existem resistências que as novas organizações familiares podem trazer, gerando contextos de intolerância ou de modelos pré‑concebidos. Szymanski (2001) afirma que existem duas representações de família que permeiam o imaginário das pessoas: a família pensada e a vivida. A primeira representação está baseada na tradição, correspondendo a uma noção que é trazida pelo grupo social, pelas instituições ou pela mídia. Já a família vivida refere‑se aos modos habituais de agir dos membros que aparecem no cotidiano. Quando a escola fica presa ao modelo de família com figuras parentais com papéis predefinidos, ela, imediatamente, não reconhece a multiplicidade de arranjos familiares possíveis. Vejamos alguns exemplos: • Famílias monoparentais: as que são formadas em torno de um cuidador principal, seja esse quem for – mãe, pai, avô, avó, um irmão mais velho, um parente próximo ou distante, um amigo. • Famílias homoparentais: famílias formadas em torno de casais homoafetivos. • Casas-abrigo: espaços de acolhimento e convivência de pessoas que são vítimas de violência ou que não têm família nuclear. Essas são algumas das múltiplas e variadas formas que uma família pode ter. A família tradicional corresponde a apenas um entre tantos outros modelos possíveis, e todos esses modelos integram a comunidade com a qual a escola terá que se articular. Observação A maneira como uma família se organiza não pode servir para classificá‑la como estruturada ou desestruturada. As famílias podem ser classificadas como funcionais ou disfuncionais apenas quanto ao que se refere à qualidade de suas relações, no campo dos afetos. Em outras palavras, elas, definitivamente, não podem ser qualificadas em tais categorias tendo por base apenas a maneira pela qual se estruturam. Uma boa forma de definir família é, portanto, o de um grupo de pessoas que cuidam uma das outras e assumem responsabilidades, uns pelos outros, em todos os aspectos. 18 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos a respeito desse tema, leia o texto indicado a seguir. SZYMANSKI, H. Práticas educativas familiares: a família como foco de atenção psicoeducacional. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 21, n. 2, 2004, p. 5‑16. Disponível em: https://bit.ly/3hUFPVT. Acesso em: 21 nov. 2022. Essas considerações sobre família são essenciais para que se possa pensar em formas de caracterização e intervenção na comunidade e de promoção de diálogo e parceria com ela. Sem repensar, aceitar, respeitar e acolher os diferentes arranjos familiares, a escola não conseguirá cumprir com seu papel educador na comunidade onde se insere. Como afirma Costa: Sem um esforço para conceber novas formas de relações familiares; novas modalidades de relações afetivas, sexuais e amorosas; novos estilos de convivência e sociabilidade; novas atitudes diante do progresso científico‑tecnológico; novas posturas diante da transmissão do saber e da tradição cultural democrático‑humanista que é a nossa, dificilmente poderemos produzir o encantamento necessário à paixão transformadora capaz de restituir à figura do próximo sua dignidade moral (COSTA, 2000, p. 86). A integração entre a escola e a comunidade depende, portanto, do reconhecimento e da aceitação plena e incondicional dos estudantes e de seus grupos familiares, independentemente de como sejam. Quanto à queixa recorrente, por parte da escola, de que os pais participam pouco das atividades previstas na instituição escolar, há muitos fatores que precisam ser levados em consideração. O primeiro deles é que a escola, muitas vezes, “se fecha” em si mesma (às vezes, a própria arquitetura contribui para isso), de modo que a comunidade pode não a reconhecer como parte integrante do seu contexto. E as relações de pertença, tanto por parte da comunidade como da escola, são fundamentais para que as parcerias entre uma e outra possam se estabelecer. Portanto, a escola precisa se questionar quanto à maneira como convida a comunidade para participar de suas atividades. Cabe perguntar, principalmente em contextos nos quais as famílias dos alunos são da classe trabalhadora (assim como os educadores também o são): com relação aos horários em que as reuniões de pais e mestres são agendadas, levam‑se em consideração as reais possibilidades de participação das famílias? Como elas são convidadas para participarde atividades, festividades, reuniões, conselhos escolares? 19 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Para isso, basta pensar na forma como a escola faz esses convites à participação. Ninguém vai a qualquer lugar ou evento sem que perceba que se faça questão de sua presença e que haja uma real importância para os outros. Isso implica, ainda, pensar na forma como a escola recebe a comunidade em seus espaços, tempos, eventos, festividades. Nesse sentido, ao abrir‑se à comunidade, a escola terá a possibilidade de desempenhar sua função social com sucesso. Isso requer que as representações de família e de comunidade sejam revistas, bem como as maneiras pelas quais são realizados os convites para sua participação. 5 POR UMA ESCOLA ABERTA E PARA TODOS Muitas vezes a escola é um dos únicos e poucos espaços públicos existentes em determinadas localidades. E mesmo que não seja o único espaço, há muito que a escola pode fazer pela comunidade. No entanto, para isso, é preciso que a escola se sinta participante da comunidade, reconhecendo‑se como um dos espaços educadores do seu entorno, podendo estabelecer parcerias com lideranças comunitárias, contribuindo, assim, para que ela seja vista como um espaço de todos para todos, pelo qual todos se responsabilizam e do qual todos cuidam. Desde o início dos anos 2000, no Brasil, há programas, políticas e projetos de incentivo à abertura da escola como uma alternativa para aproximar a escola da comunidade e para a diminuição da violência em contextos de vulnerabilidade social (ROSA; AVILA; PROFICE, 2021). Há muitas atividades que podem ser desenvolvidas pela escola, como: • abrir a escola aos fins de semana, oferecendo minicursos, cedendo as quadras de esporte para uso da comunidade, exposições, palestras, eventos (superando, assim, as festividades que se apoiam somente em datas comemorativas e em reuniões de “prestação de contas” e “cobranças” pelo desempenho escolar dos estudantes); • tornar a biblioteca circulante, a partir do empréstimo dos títulos; • realizar projetos que contem com a participação de membros da comunidade. Essas são algumas questões que precisam ser levadas em conta no processo de caracterização das escolas e na elaboração de projetos que tenham como objetivo favorecer a integração escola‑comunidade. É preciso ter em mente, também, a caracterização da comunidade a fim de que o projeto seja viável. 6 A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA INTEGRAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A COMUNIDADE A inserção da comunidade na escola exige do professor práticas que venham a romper com o isolamento da escola em seus modelos pedagógicos (HORA, 1994). Essa mudança na educação, entre outros fatores, depende de uma ação educativa sólida do professor, caminhando para uma educação de qualidade. 20 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Nesse contexto, na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ou LDB n. 9394/1996, em seu artigo 13, inciso VI, define o papel do professor nessa integração declarando que os “docentes incumbir‑se‑ão de colaborar com as atividades de articulação da escola com a família e a comunidade” (BRASIL, 1996). A integração com a comunidade fortalece a escola, rompe com o isolamento dos professores em sua luta pela melhoria da aprendizagem, aperfeiçoa a qualidade do ensino e dá aos alunos um exemplo de prática de cidadania. Diante de tanto apelo e necessidade de uma real integração entre escola e comunidade, o professor precisa refletir constantemente sobre sua prática a fim de favorecer o envolvimento da comunidade nas decisões e nas necessidades da escola, além da elaboração de projetos de integração visando ao desenvolvimento de ambas (ALMEIDA, 2005). Conforme Freire (1996), ensinar exige reflexão crítica sobre a prática e compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. Assim, o professor deve vincular a sua relação com o aluno à prática social, ou seja, ter como parâmetros a própria prática cotidiana, possibilitando aos alunos o contato com a sua realidade social por meio da participação e do convívio com a comunidade ao redor da escola (MELO, 2012). Além do seu papel específico de docência na disciplina, o professor também tem algumas responsabilidades, entre as quais participar das atividades que envolvem a comunidade, sejam elas cívicas, culturais ou recreativas (LIBÂNEO, 2004). Almeida (2005), citando um discurso de um professor por ele entrevistado, coloca que: alguns professores acham que inovar é apenas passar o mesmo conteúdo de um modo diferente, envolvendo as mesmas práticas já ultrapassadas. Esquecem‑se de que a grande inovação se dá de dentro para fora, começando primeiramente pela postura diante dos alunos, passando pela sensibilidade para saber quais as necessidades daquele grupo (ALMEIDA, 2005, p. 78). Libâneo (2009) também recomenda aos professores e a toda equipe de dirigentes que tenham conhecimento e sensibilidade em relação às necessidades sociais e às demandas da comunidade local e do próprio funcionamento da escola, de modo a se ter clareza sobre as mudanças a serem esperadas nos alunos em relação ao seu desenvolvimento e aprendizagem. Por isso, o desafio do professor é que o seu saber não se resuma apenas ao conhecimento técnico‑científico e à transmissão desse conteúdo, mas ao conhecimento dos educandos com os quais divide sua prática pedagógica e das necessidades da comunidade ao seu redor, a fim de se aperfeiçoar e se familiarizar, cada vez mais, com a escola e sua comunidade, sabendo promover uma integração coerente e significativa entre elas. 21 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Saiba mais A seguir são indicados alguns textos abordando o assunto. BRAMBATTI, C. M. B. Família e escola: rompendo barreiras, fortalecendo relações. Revista de Educação do Ideau, Getúlio Vargas, v. 4, n. 9, 2009. COLL, C. Escola e comunidade: um novo compromisso. Pátio Revista Pedagógica, v. 3, n. 10, p. 9‑12, 1999. CONCEIÇÃO, M. V.; ZIENTARSKI, C.; PEREIRA, S. M. Gestão democrática da escola pública: possibilidades e limites. Unirevista, São Leopoldo, v. 1, n. 2, 2006. LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003. 7 CONHECENDO PARA PLANEJAR Agora que você já verificou as principais questões relacionadas à escola e à comunidade, vamos entender como identificar os aspectos que podem ser abordados mais a fundo no desenvolvimento de projetos integradores. Vale ressaltar que pretendemos focar seu olhar nos projetos que permitem a promoção da integração entre a escola e a comunidade; para isso, é importante conhecer a realidade. Quando estamos com algum problema de saúde, procuramos um profissional da saúde. O médico, tendo em vista identificar o problema, conversa com o paciente, faz diversos questionamentos e registra as informações em um relatório. Com as informações reunidas, o médico pode pedir exames para depois poder realizar o diagnóstico e propor o devido tratamento para o problema de saúde encontrado. De forma semelhante ao trabalho médico, a nossa prática pedagógica também exige a conversa com o aluno, o registro das informações, o diagnóstico, a tomada de decisões, a resolução de problemas etc. Nesse sentido, com relação ao desenvolvimento de projetos que possam promover a integração entre a escola e a comunidade, é importante realizar uma pesquisa não apenas nas dependências da escola, mas também na comunidade que a envolve. Com base em uma pesquisa bem‑feita, é possível conhecer a realidade e identificar as principais carências a serem contempladas. Mas de que forma é possível conhecer a realidade da escola e da comunidade que a envolve? Como identificar as principais expectativas e necessidades nesse contexto? Como planejar a ação educativa envolvendo, de forma mútua, a escola e a comunidade? Com relação a tais questionamentos, podemos afirmar que o ato de planejar deve ser precedido do diagnósticoda realidade, pois a ação educativa produzirá resultados melhores quando for desenvolvida com base no conhecimento da realidade. 22 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE 8 CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA REALIDADE A palavra diagnóstico, em grego, tem o significado de “conhecer”. Dessa forma, para realizar um diagnóstico escolar e de sua comunidade, é de fundamental importância elaborar uma análise de toda a realidade existente na escola e em seu entorno, tanto em relação aos aspectos físicos quanto aos aspectos humanos e sociais, a fim de detectar seus problemas e propor resoluções viáveis. Lembrete O termo diagnóstico é utilizado por profissionais de várias áreas e se refere ao conhecimento prévio necessário para a tomada de decisão. O diagnóstico deve buscar não só a identificação dos problemas, como também das potencialidades da escola e da comunidade, permitindo, assim, o desenvolvimento de propostas de ação que visem à resolução dos problemas e/ou aperfeiçoamento das potencialidades. Para retratar a realidade, é importante realizar uma pesquisa apurada visando identificar as principais características da escola e de sua comunidade com relação a diversos aspectos: físicos, humanos, sociais, culturais, ambientais, econômicos etc. Nesse caso, podemos dizer que será feita uma caracterização da escola e da comunidade. A caracterização da comunidade deve englobar aspectos como a localização geográfica, as instituições sociais de prestação de serviços públicos, a densidade demográfica, o perfil econômico da população, o uso predominante do solo etc. Observação De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009, p. 398), caracterização tem o sentido de “destacar as particularidades de algo, com o intuito de torná‑lo conhecido”. Para realizar a caracterização, é importante identificar alguns aspectos, como os citados a seguir: • perfil discente, como as condições socioeconômicas, faixas etárias, posição social, necessidades e valores dos alunos; • em quais condições se dá o processo de ensino‑aprendizagem, como a metodologia de ensino, relação do número dos alunos por séries/ciclos e de idade/série, como é feito o processo avaliativo, a recuperação dos alunos; • quais as condições da infraestrutura da escola quanto aos recursos materiais, humanos e didático‑pedagógicos; • quais as condições de trabalho bem como das políticas de valorização dos profissionais da educação; 23 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE • como se estabelecem as relações interpessoais e a organização do trabalho coletivo, a composição das equipes, qual a qualificação dos professores; • como os órgãos colegiados são formados, tais como o conselho de escola, de série/ciclo, das APMs/caixa escolar e do grêmio estudantil; • quais as formas de constituição e atuação dos órgãos colegiados, em especial, o conselho de escola, o conselho de série/ciclo, as unidades executoras (APMs e/ou caixa escolar) e o grêmio estudantil; • do ponto de vista do aspecto econômico‑financeiro, faz‑se importante o conhecimento de como a gestão financeira é feita, tendo em vista a necessidade de dar suporte aos aspectos pedagógico‑organizacionais e as prioridades do processo ensino‑aprendizagem; para tanto, deve‑se conhecer os recursos disponíveis da escola, suas carências e necessidades e como a verba é utilizada (resumindo, como a escola capta e utiliza os recursos financeiros e como isso reflete no desempenho dos alunos); • do ponto de vista sociocultural, é necessário identificar suas questões mais importantes que emergem das proximidades da escola e que tem interferência direta no fazer‑pedagógico. Portanto, é preciso considerar a dimensão de como a prática é exercida, para que seja possível identificar quais as necessidades dos agentes envolvidos e quais as possibilidades de oferecer diferentes dinâmicas de trabalho e de atender às expectativas. Saiba mais A seguir, estão indicados alguns projetos que integram a escola e a comunidade: Diagnóstico socioterritorial do bairro‑escola: um olhar sobre microterritórios educativos. Disponível em: https://bit.ly/3OmgyA8. Acesso em: 21 nov. 2022. Centro de Referência em Educação Integral. Disponível em: https://bit.ly/3Vi0HoC. Acesso em: 21 nov. 2022. Há ainda, neste último site, um texto interessante abordando a questão. CENTRO DE REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO INTEGRAL. A articulação da família e da comunidade local ao projeto educativo da escola. 11 abr. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3Onv4HG. Acesso em: 21 nov. 2022. 24 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Resumo Esta disciplina aborda um assunto relevante na formação do docente, que é a integração entre a escola e a comunidade. O professor, no cumprimento do seu papel, deve refletir constantemente sobre esse tema, a fim de garantir aos alunos, à escola e à comunidade uma prática realmente efetiva, alcançando a todos e, principalmente, promovendo uma educação de qualidade. O objetivo geral desta disciplina refere‑se à compreensão de como se dá a relação entre escola e comunidade e a identificação das principais características passíveis de serem trabalhadas de forma integrada, visando uma educação cidadã. Para isso, foram desenvolvidos temas que dizem respeito à contextualização da disciplina visando proporcionar uma visão geral das atividades relativas à dimensão prática do curso, como o papel da escola diante das transformações históricas que a sociedade contemporânea está vivenciando, incluindo as noções do que vem a ser uma escola democrática, e a importância do currículo, considerado atualmente como um conjunto de experiências, vivências e atividades na escola convergentes para objetivos educacionais e que, por isso, devem ser trabalhadas de forma inter e transdisciplinar a fim de facilitar o processo de ensino‑aprendizagem dos alunos. Na segunda metade deste livro‑texto, a ênfase foi na comunidade atendida pela instituição escolar. Destacaram‑se as definições de comunidade e de comunidade escolar, além do entendimento de que a comunidade, relativamente à sociedade, pode ser definida como composta por um grupo de pessoas que são sujeitas a um conjunto de normas e que partilham de uma mesma cultura, enquanto comunidade escolar diz respeito à composição de pessoas que estão envolvidas no conjunto das atividades que permitem o desenvolvimento do processo educativo dentro de uma escola. Aprofundou‑se a compreensão do diagnóstico e a caracterização da escola e da comunidade na elaboração do planejamento, pois uma das tarefas realizadas pelo educador é o planejamento das ações que vai desenvolver, entretanto, o ato de planejar deve ser precedido do diagnóstico da realidade, pois a ação educativa produzirá resultado melhores quando for desenvolvida com base no conhecimento da realidade. O termo diagnóstico é utilizado por profissionais de várias áreas e se refere ao conhecimento prévio necessário para a tomada de decisão. 25 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Assim, foram apresentadas formas de diagnóstico e caracterização da escola e da comunidade, discutindo‑se a importância da definição de critérios capazes de promover a integração escola versus comunidade, bem como da caracterização tanto da escola quanto da comunidade como fatores importantes para viabilização de propostas de atuação viáveis. 26 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Exercícios Questão 1. Leia o texto a seguir. Afinal, qual é a importância da relação entre escola e comunidade? Figura 1 Você sabe qual a importância de uma boa relação entre escola e comunidade? Educar jovens saudáveis, empáticos e preocupados com a sociedade é um dos focos da educação socioemocional. O relacionamento interpessoal dos estudantes com os colegas e com outras pessoas desde a educação infantil é um dos principais caminhos para isso. Neste artigo, você vai descobrir como desenvolver uma convivência saudávelentre escola e comunidade. Acompanhe. O que é o relacionamento entre escola e comunidade? O relacionamento entre escola e comunidade é toda comunicação que envolve a instituição de ensino e as pessoas que fazem parte da comunidade local. No espaço geográfico que circunda a escola, ocorrem diversas interações: entre estudantes e moradores do local, entre famílias e responsáveis de estudantes de outras instituições próximas e até entre o corpo docente e outras escolas da região. Qual é a importância de um bom relacionamento entre escola e comunidade? A relação entre escola e comunidade é um importante fator de desenvolvimento social — não só para a localidade em que a instituição se encontra, mas, também, para os alunos, os professores, a equipe técnica e os demais colaboradores. 27 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Entre os benefícios de ter um bom relacionamento com a comunidade estão a melhora do desempenho dos alunos — por meio do desenvolvimento de habilidades socioemocionais — e o aumento da reputação e da credibilidade da instituição. Ao criar estratégias pedagógicas colaborativas com o entorno, a escola consegue ensinar aspectos importantes da vida em comunidade aos estudantes, como a cidadania e o pensamento coletivo, além de soft skills, como empatia, responsabilidade e relacionamento interpessoal. Esse tipo de estratégia ajuda a criar um ambiente favorável e sadio para os moradores do local. Consequentemente, uma boa relação entre escola e comunidade também aumenta o nível de satisfação das famílias e dos estudantes em relação à instituição. Quais são as melhores dicas para desenvolver uma boa relação entre escola e comunidade? Pensar fora do ambiente escolar é importante para qualquer instituição de ensino. O gestor precisa pensar em estratégias pontuais, com objetivos não só de curto prazo. Confira as nossas dicas sobre o assunto: — crie oportunidades de engajamento e interação; — realize eventos; — invista no uso da internet e das redes sociais. Adaptado de: ESCOLA DA INTELIGÊNCIA. Educação socioemocional. Afinal, qual é a importância da relação entre escola e comunidade? Disponível em: https://bit.ly/3ilE8kE. Acesso em: 16 out. 2022. Com base na leitura, avalie as afirmativas e a relação proposta entre elas. I – O aprimoramento das relações entre escola e comunidade pode gerar resultados positivos, como a melhora da imagem da instituição, o desenvolvimento local e a elevação do rendimento dos estudantes. porque II – Atitudes como a promoção de ações sociais e de palestras de conscientização ambiental, por exemplo, e o uso de ferramentas de comunicação de divulgação de eventos aproximam escola e comunidade. 28 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE Assinale a alternativa correta. A) As afirmativas I e II são verdadeiras, e a afirmativa II justifica a I. B) As afirmativas I e II são verdadeiras, mas a afirmativa II não justifica a I. C) A afirmativa I é verdadeira, e a afirmativa II é falsa. D) A afirmativa I é falsa, e a afirmativa II é verdadeira. E) As afirmativas I e II são falsas. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa verdadeira. Justificativa: segundo o texto, “a relação entre escola e comunidade é um importante fator de desenvolvimento social”. Além disso, “entre os benefícios de ter um bom relacionamento com a comunidade estão a melhora do desempenho dos alunos — por meio do desenvolvimento de habilidades socioemocionais — e o aumento da reputação e da credibilidade da instituição”. II – Afirmativa verdadeira. Justificativa: segundo o texto, “criar oportunidades de engajamento e interação”, “realizar eventos” e “investir no uso da internet e das redes sociais” são atitudes que podem gerar uma boa relação entre escola e comunidade. Embora essa afirmativa seja verdadeira, ela não justifica a primeira. Questão 2. (Enade 2014) Leia o texto a seguir. Da visão dos direitos humanos e do conceito de cidadania fundamentado no reconhecimento das diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma identificação dos mecanismos e dos processos de hierarquização que operam na regulação e na produção de desigualdades. Essa problematização explicita os processos normativos de distinção dos alunos em razão de características intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, estruturantes do modelo tradicional de educação escolar. Adaptado de: BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2008, p. 6. As questões suscitadas no texto ratificam a necessidade de novas posturas docentes, de modo a atender a diversidade humana presente na escola. Nesse sentido, no que diz respeito a seu fazer docente frente aos alunos, o professor deve: 29 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE I – desenvolver atividades que valorizem o conhecimento historicamente elaborado pela humanidade e aplicar avaliações criteriosas com o fim de aferir, em conceitos ou notas, o desempenho dos alunos; II – instigar ou compartilhar as informações e a busca pelo conhecimento de forma coletiva, por meio de relações respeitosas acerca dos diversos posicionamentos dos alunos, promovendo o acesso às inovações tecnológicas; III – planejar ações pedagógicas extraescolares, visando ao convívio com a diversidade; selecionar e organizar os grupos, a fim de evitar conflitos; IV – realizar práticas avaliativas que evidenciem as habilidades e competências dos alunos, instigando esforços individuais para que cada um possa melhorar o desempenho escolar; V – utilizar recursos didáticos diversificados, que busquem atender a necessidade de todos e de cada um dos alunos, valorizando o respeito individual e o coletivo. É correto apenas o que se afirma em: A) I e III. B) II e V. C) II, III e IV. D) I, II e V. E) I, III, IV e V. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: a questão aborda a necessidade de novas práticas docentes, mas a aferição de desempenho por meio de avaliações criteriosas é uma prática tradicional de educação. Trata‑se de uma forma de distinção e hierarquização dos alunos criticada no texto. II – Afirmativa correta. Justificativa: sem dúvida, instigar ou compartilhar as informações e a busca pelo conhecimento de forma coletiva, por meio de relações respeitosas acerca dos diversos posicionamentos dos alunos, e promover o acesso às inovações tecnológicas são desejáveis como tarefas do professor, tanto para seus alunos sem deficiência quanto para aqueles que tenham alguma necessidade especial. 30 PRÁTICA DE ENSINO: INTEGRAÇÃO ESCOLA X COMUNIDADE III – Afirmativa incorreta. Justificativa: não cabe ao professor organizar grupos para evitar conflitos. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: ter foco na melhora do desempenho individual, sem conexão com o coletivo, e fomentar a competitividade entre os estudantes não são práticas novas: trata‑se de objetivos da educação tradicional. V – Afirmativa correta. Justificativa: utilizar recursos didáticos diversificados, que busquem atender às necessidades de todos e de cada um dos alunos e que valorizem o respeito individual e o coletivo é algo correto, que deve permear a prática docente. 31 REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. G. Como se faz escola aberta? São Paulo: Paulus, 2005. ALMEIDA, J. G. Práticas institucionais e formação de educadores: o universo da escola como ambiente de aprendizagem coletiva. Notandum, Porto, n. 17, p. 69‑78, 2008. APPLE, M. Ideologia e currículo. Porto Alegre: Artmed, 2006. APPLE, M.; BEANE, J. Escolas democráticas. São Paulo: Cortez, 1997. ASSUMPÇÃO, T. M. T. de. 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