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Pragmática e Línguas de Sinais Prof. Roberto de Freitas Junior Descrição Pressupostos gerais da pragmática e de seus pontos clássicos de interesse, bem como suas manifestações na Libras. Propósito Compreender as principais questões sobre pragmática e articular possíveis pontos de interesse de investigação sobre a área no contexto da Libras para ampliar a competência comunicativa e o conhecimento linguístico. Objetivos Módulo 1 A pragmática: conceitos, objetos e aplicação Identificar os conceitos, os objetos e a aplicação da pragmática. Módulo 2 Perspectivas enunciativas, argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua Descrever as perspectivas enunciativas, argumentativas e pragmáticas do uso da língua. Módulo 3 Pragmática e Libras Reconhecer os aspectos pragmáticos relacionados à Libras. Neste conteúdo, vamos tratar de um ponto muito importante para os estudos da linguagem: a pragmática e seu papel em diferentes âmbitos da produção e do processamento linguístico. Faremos um breve passeio por conceitos como implicatura conversacional e estrutura informacional, além de propostas teóricas e práticas, como a teoria dos atos de fala, a análise da conversação e mesmo a análise do discurso, áreas que encontram na pragmática as bases linguísticas para seu desenvolvimento, como campos independentes de investigação sobre a linguagem. Por fim, mostraremos a importância de relacionarmos os assuntos tradicionalmente desenvolvidos no campo dos estudos pragmáticos com a descrição acerca do funcionamento das línguas de sinais, em particular, da Libras. Sendo a Libras uma língua natural e amplamente usada pela comunidade surda no Brasil, os estudos de orientação pragmática que se dedicam à descrição dessa língua contribuirão para toda a ciência linguística, além de fornecerem mais informações sobre esse sistema tão importante para a comunidade surda de nosso país. Introdução 1 - A pragmática: conceitos, objetos e aplicação Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os conceitos, os objetos e a aplicação da pragmática. Escopo de atuação da pragmática Uma importante discussão travada no âmbito da ciência linguística diz respeito ao papel e à relação do uso da língua na formação da gramática. Estudar o uso da língua, para muitos linguistas, não significa exatamente estudar a natureza básica da gramática, particularmente no que se refere aos seus aspectos formais e estruturais. Para muitos teóricos, entretanto, não é possível estabelecer a desvinculação entre uso e gramática, já que para eles a gramática emerge a partir das pressões e da dinâmica do uso linguístico, ou seja, das situações reais de comunicação e interação via uso da língua. Dessa forma, é possível afirmar que, na Linguística, de modo geral (e de modo até um pouco reducionista, para fins didáticos), quando pensamos nos diferentes níveis de análise linguística (da fonética ao discurso), a linguagem pode ser vista como objeto de pesquisa em que tais níveis podem ser observados de modo mais ou menos integrados para a descrição da gramática. Especificamente, o que queremos dizer é que, na perspectiva formal, a crença de que a gramática universal seja um objeto inato e independente do ambiente coloca níveis como a fonologia, a semântica e, principalmente, a pragmática como secundários (a pragmática como nível periférico) para o entendimento da natureza mais básica, estruturalmente falando, da linguagem. Na perspectiva mais sociointeracional, funcional, não vemos tal distinção, o que torna o conceito de “níveis da língua” nada além de uma perspectivização do que observamos sobre a linguagem, já que a linguagem, como objeto de pesquisa, não poderá ser tratada sem que seja considerada holisticamente a atuação dos chamados níveis da língua. As representações a seguir ilustram o ponto que estamos tratando. Representação da Perspectiva funcional. Essa primeira representação salienta o caráter integrador da perspectiva que trata os níveis linguísticos como atuantes de modo mais uniforme na formação da gramática. Representação da Perspectiva formal. Essa segunda representação focaliza a centralidade da GU (gramática internalizada) e da língua-i (a língua internalizada adquirida durante a aquisição) em relação a outros níveis que seriam mais periféricos no curso da descrição gramatical. Dessa forma, percebemos que há pelo menos duas visões na linguística: Separação entre o que seria central e periférico para o entendimento da linguagem, respectivamente separação entre a gramática e o uso. A gramática gerativa exemplifica o grupo de perspectivas teóricas que apoiam essa visão. Impossibilidade da desassociação entre gramática e uso, pois se defende que toda língua se forma a partir do uso, das situações sociointeracionais concretas. Os modelos baseados no uso, sociocognitivamente orientados, são exemplos de abordagens que apoiam essa visão. Uma divisão de “competências” pode ser evidenciada nessa discussão. Teorias formalistas Teorias mais baseadas no uso linguístico Por um lado, os adeptos das teorias formalistas salientam o papel da competência linguística como órgão central da investigação da ciência da linguagem em detrimento do uso e da comunicação em si. Competência linguística, como tal, é um conceito que aponta para a base cognitiva e formal da linguagem humana e que permite que estruturalmente produzamos e processemos sentenças gramaticais em determinada língua. Por outro lado, os adeptos das teorias mais baseadas no uso linguístico salientam a centralidade da competência comunicativa, da competência pragmática, defendendo que, sem considerarmos as condições sociointeracionais e funcionais do uso da língua, não será possível descrevermos o fenômeno linguístico em sua totalidade, integral e sistematicamente. A competência pragmática, comunicativa, evoca conhecimentos de mundo, enciclopédicos, que não podem ser desvinculados do sistema linguístico e que, portanto, espelham melhor a real “competência linguística” do falante, indo para além do nível estrutural, sentencial básico. Ainda sobre a abordagem baseada no uso linguístico, devemos destacar que, desde essa perspectiva, não há desassociação entre as formas linguísticas e suas funções sociocomunicativas, o que significa dizer que, em última análise, língua não é somente forma, não podendo ser descrita sem os aspectos pragmáticos e discursivos a ela associados. Pela perspectiva do uso da língua e do modo como ela é empregada na interação verbal, não cabe a dicotomia que aponta para o que é interno e externo à língua, uma vez que tudo funciona de forma integrada. O conceito de competência linguística é incorporado ao de competência comunicativa. A pragmática, como área específica dos estudos da linguagem, portanto, dedica-se ao estudo do uso concreto da língua, considerando-se: Os usuários As práticas linguísticas As condições que governam essas práticas Para os estudiosos dedicados aos estudos pragmáticos, é impossível descrever a forma como uma língua emerge e suas condições de mudança sem que se leve em conta seu uso real e os aspectos sociais, culturais, convencionais, ideológicos e linguísticos que definem toda e qualquer situação comunicativa. Não há a delimitação, para os estudiosos dessa área, do que é central e do que é periférico na língua; não há o descarte de informações linguísticas que seriam supostamente exceções do que de fato representa a gramática. Ao contrário, para eles, tudo na língua é convencionalizado e sociointeracionalmente negociado e criado, de forma que se entende que a descrição linguística jamais poderia acontecer desprovida do contexto linguístico e comunicativo em que a língua ocorre. Atenção! Nesse sentido, o papel dos usuários, as relações de poder, os aspectos culturais e principalmente os aspectos cognitivos relacionados à negociação de significados são elementos fundamentais para os estudos no campo da pragmática. Blocos de atuação da pragmática Os temascentrais da pragmática podem ser arrolados em alguns macrogrupos de atuação. Por ser uma área ampla e diversificada, a pragmática abarca estudos referentes, portanto, à relação entre o uso e o significado, sob o ponto de vista do falante, do contexto comunicativo, das implicaturas, das relações de proximidade e distanciamento interpessoal etc. Estudos no nível sentencial O primeiro grupo de temas da pragmática atende às demandas de estudo no nível mais sentencial sobre a relação entre a produção/interpretação linguística e seus falantes (e aqui obviamente se encontram os “falantes” de línguas de sinais, também chamados de “sinalizantes”). Nesse primeiro bloco de estudos, encontram-se abordagens que tratam das implicaturas conversacionais existentes na fala corrente. Essas implicaturas definem sobremaneira a negociação do significado e as condições de produção e validação linguística. Tais condições estão relacionadas às máximas que definem a forma como a comunicação pode/deve ocorrer de modo eficaz em função do que deseja o usuário, num processo contínuo de cooperação e colaboração comunicativa. Grice (1957) apresenta uma discussão sobre princípios que regem a comunicação, distinguindo implicaturas convencionais e implicaturas conversacionais. Implicaturas convencionais Dizem respeito às significações geradas endogenamente ao sistema linguístico, como ocorre ao usarmos determinado conectivo cujo sentido definirá outra relação de sentido maior entre as orações por ele conectadas. Implicaturas conversacionais Estão mais ligadas ao contexto comunicativo maior, incluindo-se fatores extralinguísticos e que mostram que aquilo que está sendo dito de determinada forma pode ter, na verdade, outro sentido, outra interpretação possível. A partir desse pensamento, Grice (1957) estabelece princípios de cooperação, máximas conversacionais, que definem o tecer comunicativo, para além da estrutura linguística em si. Exemplo Um falante do português do Brasil ao dizer “Tá quente hoje!”, em uma situação comunicativa determinada, pode estar pedindo, para além do que há de literal ou denotativo na frase, que alguém abra a janela, ligue o ventilador ou tome qualquer providência que alivie a sensação de calor. Tal implicatura do discurso (a de que há o desejo de que o calor diminua de alguma forma) indica que o sentido de uma sentença está além do nível morfossintático e que esse sentido só pode ser depreendido no nível pragmático-discursivo. Estudos dos atos de fala O segundo bloco de atuação da pragmática diz respeito aos estudos dos atos de fala. O conceito de atos de fala foi introduzido pelo filósofo britânico John Austin (1911-1960) e aponta para a ação relacionada a determinada fala, a determinado uso da língua. O conceito salienta, portanto, a relação entre o que se diz e o que se faz ou aquilo que se deseja que seja feito por meio do ato de dizer, estabelecendo uma relação entre falas e feitos. As bases da teoria dos atos de fala estão nos pensamentos de Wittgenstein e sua preocupação com o uso da linguagem corrente como fonte para solução de problemas filosóficos. Daí se entende a importância de olharmos para o uso concreto da língua como fonte para generalizações acerca do funcionamento da linguagem e não apenas para sua estrutura. Austin concebe a linguagem como atividade colaborativa, construída pelos interlocutores, e que vai para além da descrição dos fatos e das coisas do mundo. Nessa perspectiva, a linguagem é tida como ação, como ato de linguagem por meio do qual fazemos coisas. Nesse contexto, emergem os seguintes conceitos: Ato locucionário Aponta para aquilo que se diz. Ato ilocucionário Indica a posição do locutor sobre o que se diz. Ato perlocucionário Refere-se à produção de efeitos a partir do que foi dito. Exemplo A afirmativa proferida por um padre “Eu te batizo”, para além do seu sentido denotativo, assinala o sentido de uma ação: o batizar. O dito “Eu te batizo” reflete o ato locucionário da sentença (a fala em si), o ato ilocucionário (o papel exercido pelo locutor, o padre, e sua possibilidade socialmente garantida para fazê-lo) e o ato perlocucionário (o efeito de “tornar-se batizado”, que recai sobre o interlocutor). As teorias da polidez As teorias da polidez constituem-se em mais um grupo de estudos do âmbito da pragmática. O princípio da polidez surge em Brown & Levinson (1987), entre outras fontes, a partir dos pensamentos advindos da teoria da cooperação de Grice. Para as teorias voltadas aos estudos da polidez, algumas perguntas são centrais. Os interessados nessa área se dedicam a estudos voltados à forma como as pessoas interagem entre si e aos princípios que regulam a interação humana, de tal modo que funcionemos comunicativamente de maneira polida e eficaz, protegendo, em maior ou menor grau, nossa face ou a de nossos interlocutores. Exemplo No português do Brasil, é comum o uso do futuro do pretérito em solicitações. O uso desse tempo verbal produz efeitos de maior distanciamento e formalidade entre os interlocutores, marcando gentileza e um cuidado específico no trato linguístico. Esse é um fator linguístico que se coloca de modo culturalmente orientado no português do Brasil. Estudos da comunicação Outro grupo importante de estudos do campo da pragmática diz respeito aos estudos da comunicação. Obviamente, os diferentes estudos pragmáticos apresentam, em geral, alguma sobreposição de pressupostos e visões, o que fica bem evidente nos estudos da comunicação. Entretanto, esses estudos podem incluir pressupostos de orientação marxista, relacionados às diferenças de classes e lutas de poder, evidenciados no uso concreto da linguagem, como podemos verificar em diferentes situações comunicativas, espelhadas em múltiplas relações sociointeracionais. A pragmática, como subárea da ciência linguística, também recebe contribuições teóricas, portanto, advindas de outras ciências humanas, como a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia e a Sociolinguística. Tais contribuições são fundamentais para o entendimento da linguagem na perspectiva do uso real e concreto da linguagem humana. Daí também advém outra questão central para os estudos da comunicação: a preocupação com problemas de comunicação existentes em diferentes contextos comunicativos, fatos que quase sempre tangenciam pontos como as próprias relações de poder, os interditos e as manipulações, mais ou menos conscientes, da linguagem em função do alcance de benefícios. Análise da conversação Nesse contexto, surge a análise da conversação como subárea da pragmática. Trata-se de uma área de investigação das práticas conversacionais voltada para a descrição conversacional em nível estrutural, organizacional, e no nível mais sociointeracional, com foco nas manobras de negociação de significado e na forma como os interlocutores interagem, no processo de construção e interpretação de sentidos, a partir do conhecimento partilhado ou ao menos do que julgam assim ser. Exemplo As interações verbais entre um médico e seus colegas de profissão e entre esse mesmo indivíduo e um paciente podem refletir diferenças importantes relacionadas às duas situações comunicativas em questão. Tais diferenças estarão evidenciadas nas escolhas lexicais, nos padrões morfossintáticos, nas possibilidades de troca de turno, nos temas, entre outros fatores, de um e de outro contexto sociointeracional. A análise da conversação e a teoria dos atos de fala surgem do pensamento advindo da etnografia da fala, o que ilustra o papel interdisciplinar da pragmática, se a observarmos pela perspectiva de campo de pesquisa linguística. Análise do discurso e análise crítica do discurso Ainda neste mesmo enfoque, podemos destacar a análise do discurso e a análise crítica do discurso como áreas de investigação científica sobre a linguagem que encontram na pragmática um nível importante de observação sobre os fatos linguísticos. Isso se dá, particularmente, no que se refere às relaçõesde poder e à forma como indivíduos negociam ou disputam, por meio da linguagem, lugares de fala e estados hegemônicos, muitas vezes assimétricos, injustos, por vezes até desumanos. Assim, os conflitos sociais são destacados. A realidade social se constitui em um conjunto de atos repetidos dentro de um sistema em que as regras são estabelecidas, a despeito de serem justas ou não. É pela linguagem que essas regras se ratificam, cristalizam-se, fundamentam-se no seio social. Olhar para a língua assumindo que a linguagem humana é puramente convencional, arbitrária, ou apenas focalizando seus aspectos estruturais é deixar de fora da análise fatores fundamentais para a descrição integral do fenômeno linguístico. Exemplo As discussões atuais sobre a possibilidade de uso do gênero neutro no português do Brasil trazem dados importantes sobre a organização da sociedade brasileira e sobre questões relacionadas com o machismo estrutural, a homofobia e o preconceito linguístico (um tipo de preconceito diretamente relacionado ao preconceito contra classes não hegemônicas). Basta olharmos com cuidado os argumentos contra o uso do gênero neutro, uma demanda advinda de pessoas que se identificam como não binárias, que perceberemos a presença dessas ideologias. Um argumento empregado contra o uso do gênero neutro alega que tal uso seria contrário às regras gramaticais consolidadas e que são ensinadas em todo o país. Esse argumento, entretanto, ao afirmar que as regras estão consolidadas, traz as seguintes implicações: Extingue a possibilidade de discussão de novas regras, o que seria muito plausível em uma democracia. Ignora a existência da diversidade linguística, colocando a língua ensinada na escola (usada em boa dose pela classe hegemônica) como a única possibilidade linguística. Ignora sumariamente a existência de pessoas que não se identificam com as formas nominais não neutras existentes no PB, em geral, pessoas pertencentes à comunidade LGBTQIA+. Estrutura informacional Outro ponto importante da pragmática é a estrutura informacional. Esse conceito é de particular importância para estudos funcionalistas sobre a linguagem humana e trata da forma como apresentamos informações novas no discurso, como mantemos informações dadas ou disponíveis no discurso, como retomamos assuntos e assim por diante. Atenção! O conceito está enraizado na ideia de que o conhecimento compartilhado entre interlocutores, seja ele linguístico ou extralinguístico, definirá o modo como a ordenação vocabular, por exemplo, irá emergir, sempre em função da ativação de informações mais ou menos novas/velhas e em função da perspectivização desejada sobre tais informações. Implicações do conceito de pragmática Nessa breve discussão sobre o escopo de atuação da pragmática, vimos que é possível observarmos, pela perspectiva interacional do uso da língua, diferentes níveis de atuação das regras comunicativas que regulam o fazer linguístico. Seja na perspectiva mais sentencial, como na teoria dos atos de fala, seja na perspectiva mais discursiva, de orientação ideológica, como na análise do discurso e da conversação, temos o enfoque no papel do uso, no fato de a comunicação acontecer de modo concreto entre os usuários da língua, como a mola propulsora da forma como a língua é organizada e deve ser descrita. Sobre tais pontos, iremos tratar individualmente e de modo direcionado mais à frente. O fato de a pragmática se constituir como uma área específica dos estudos da linguagem faz com que seja também um importante campo de estudos sobre as línguas de sinais. Nesse sentido, a pragmática estará voltada para os seguintes aspectos das línguas de sinais: Seus usuários e suas interrelações. A forma como os discursos são construídos. O papel do contexto comunicativo. O conhecimento das normas e convenções, das ideologias etc. No contexto de aquisição de uma segunda língua (L2) — uma realidade comum para a comunidade surda, que em geral convive com uma língua de sinais e uma oral — o conhecimento sobre o funcionamento pragmático das línguas em jogo diminui diversos problemas de comunicação. Em linhas gerais, podemos afirmar que a pragmática, como área de estudos linguísticos, dedica-se ao estudo da língua a partir do uso, colocando em evidência não mais o falante-ouvinte (ou sinalizante) ideal, tal como pressupõem as teorias formalistas e suas hipóteses inatistas acerca da arquitetura da linguagem, mas o falante-ouvinte (sinalizante) real: aquele que interage verbalmente, seja em língua de modalidade oral-auditiva ou gesto-visual, em situações reais e concretas de comunicação. Nesse sentido, a linguagem não é vista como objeto autônomo nem parcialmente independente do contexto comunicativo e situacional em que se localiza, mas sim como decorrente desse mesmo contexto e de suas pressões, o que faz com que fatores linguísticos e extralinguísticos precisem ser levados em conta para a descrição da natureza e do funcionamento da língua. Conceitos, objeto de estudo e áreas implicadas na pragmática Acompanhe agora um pouco mais sobre a área da pragmática, considerando seus conceitos, objeto de estudo e relação com as áreas da Linguística. Vamos lá! Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Escopo de atuação da pragmática Módulo 1 - Vem que eu te explico! Estudos dos atos de fala Todos Módulo 1 - Video Conceitos, objeto de estudo e áreas implicadas na pragmática Módulo 2 - Video Perspectivas enunciativas argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 Analise as afirmativas a seguir, considerando o conceito de pragmática que você aprendeu neste módulo. I. A pragmática se constitui em área ou campo dos estudos linguísticos que pesquisa o uso correto e padrão das línguas orais-auditivas. II. O uso concreto da língua é objeto de estudo da pragmática. III. No estudo da língua em situações de uso, a abordagem pragmática se concentra nas práticas linguísticas, deixando de lado aspectos relacionados com os usuários da língua. Está correto apenas o que se afirma em A I. B II. C III. D I e II. E II e III. Parabéns! A alternativa B está correta. A pragmática se constitui em campo ou área de estudo das línguas naturais, incluindo as línguas de sinais, em suas situações de uso, sejam elas conforme a língua padrão ou não. Assim, a afirmativa I se apresenta como falsa. A afirmativa II está correta, uma vez que reconhece acertadamente o uso concreto da língua como objeto de estudo da pragmática. A afirmativa III está incorreta, porque os usuários, as práticas linguísticas e as condições que orientam essas práticas são todos considerados nos estudos vinculados à pragmática. Questão 2 Considere uma situação determinada em que alguém diz a outra pessoa “A porta está aberta!”. É possível compreender essa frase para além de seu sentido literal e entender que se está dizendo a outra pessoa que ela pode sair, ou até mesmo que ela deve sair do recinto em que se encontra. Nesse caso, temos uma situação comunicativa que exemplifica A o fato de que toda sentença deve ser entendida dentro dos limites do seu nível morfossintático. B a ausência de implicatura no discurso realizado nas línguas naturais. C o nível pragmático-discursivo como aspecto fundamental para se compreender várias sentenças. D a implicatura do discurso como aspecto acessível aos pesquisadores e inalcançável ao usuário da língua. E o tecer comunicativo como dimensão da língua restrita à estrutura linguística em si. Parabéns! A alternativa C está correta. Aprendemos com os estudos sobre a pragmática que Grice (1957) propôs princípios de cooperação ou máximas conversacionais que permitem compreender a interação comunicativa para além dos aspectos estruturais da língua.Nesse sentido, a situação descrita no enunciado exemplifica que o entendimento de várias frases depende também do nível pragmático e discursivo, como o que se verifica nas máximas conversacionais. 2 - Perspectivas enunciativas, argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever as perspectivas enunciativas, argumentativas e pragmáticas do uso da língua. Implicatura conversacional Passamos agora à discussão sobre as perspectivas enunciativas, argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua. Iniciamos tratando do conceito de implicaturas conversacionais, um ponto muito caro a toda a contextualização pragmática. A noção de implicatura conversacional advém dos estudos de H. P. Grice e consiste na ideia de que existem princípios que regem toda a comunicação. Em linhas gerais, para entendermos o que de fato está sendo dito em dada situação comunicativa, precisamos levar em conta aspectos linguísticos e extralinguísticos que definem, no processo de negociação de significados, os sentidos das palavras, das sentenças e dos textos. Observemos o diálogo abaixo: Exemplo A: “Você vai estudar conosco hoje?” B: “Acordei com muita vontade de ir à praia hoje.” A interpretação da resposta referente ao convite para ir estudar é a de negação. Entretanto, se nos ativermos à leitura linear e denotativa da sentença, não teremos garantida tal interpretação. Ao contrário, o texto da resposta parece tomar uma direção absolutamente distinta da pergunta original. Com isso, poderíamos pensar que a pessoa sequer ouviu a pergunta, dado o “suposto” desencontro das informações. Sabemos, entretanto, que não houve desencontro algum entre as informações e que o processo interpretativo está garantido graças ao ajuste, pragmaticamente orientado, entre os sentidos da pergunta e o da resposta. A resposta indireta do indivíduo B consiste em uma implicatura conversacional. A leitura linear é extrapolada e o princípio de cooperação comunicativa opera fazendo com que o locutor entenda que a resposta indireta consiste em uma negativa, uma vez que assumirá que a pessoa não informaria algo que não tivesse sido requerido pela pergunta, por exemplo. Resumindo A noção de implicatura, segundo Grice, está ligada à cooperação comunicativa existente nos processos interacionais desenvolvidos pelos interlocutores no uso da língua. O que chamamos aqui de cooperação comunicativa é na verdade um processo regular, orientado por princípios e máximas conversacionais que, para Grice, em princípio, garantem o sucesso da comunicação, seja lá qual for a caracterização da conversa. O princípio de cooperação e as quatro máximas conversacionais Tal como proposto por Grice, o princípio de cooperação consiste na ideia de que, na interação verbal, os interlocutores operam em parceria mútua em função da expressividade eficaz e da autocompreensão. Daí se espera que tudo o que é dito ou não dito seja coerente com a construção discursiva em curso, e não acidental. A partir da definição do princípio geral de cooperação, são estabelecidas, assim, quatro máximas conversacionais: Consiste na ideia de que somos sempre informativos, atendendo àquilo que está sendo requerido na conversa, o que é esperado. Se algo for dito e que aparentemente não atenda às expectativas em jogo, isso significará que, com base na máxima de quantidade, iniciaremos um novo processo de interpretação que atenderá à tal expectativa, a despeito do conteúdo denotativo veiculado. Consiste na crença de que, ao afirmarmos algo, não estaremos mentindo. Na cooperação, a priori, os interlocutores assumem que as falas são verdadeiras, a despeito do seu conteúdo. Desse modo, uma fala aparentemente desconexa ou mesmo falsa, em relação ao que foi dito anteriormente, ainda tenderá a ser interpretada como verdadeira, porém associada a alguma implicatura que definiu a especificidade de sua forma. Máxima de quantidade Máxima de qualidade Máxima da relação Consiste na ideia de que qualquer fala, a priori, possui relevância e caráter de necessidade. Se alguém diz algo, tal informação é assumida como necessária e suficiente para os propósitos comunicativos da situação. Consiste na hipótese de que estamos o tempo todo sendo claros, independentemente do que está sendo dito. Em outras palavras, ambiguidades, por exemplo, serão evitadas ou mesmo descartadas no curso interpretativo, já que o interlocutor sempre assume que o locutor está sendo claro e objetivo no que diz. Enunciados constativos e performativos Você já sabe que outra área importante de estudos da pragmática é a teoria dos atos de fala, que, resumidamente, considera as frases da língua como ações sobre o real. Sob essa perspectiva, quando afirmamos algo, estamos indo além de afirmar, pois estamos fazendo coisas, como ordenar, pedir, reclamar, desculpar, perguntar etc. A partir dessa teoria, são distinguíveis dois tipos de enunciado: constativos e performativos. Vejamos a seguir suas conceituações e exemplos. Enunciados constativos Descrevem um estado de coisas e, por isso, se submetem ao critério de verificabilidade — podem ser rotulados de verdadeiros ou falsos. São afirmações, descrições ou relatos. Exemplos Eu estudo matemática. A rua termina no cruzamento. O carro caiu do penhasco. Enunciados performativos Não descrevem, não relatam, nem constatam absolutamente nada, e, portanto, não se submetem ao critério de verificabilidade. Entretanto, quando proferidos na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, na forma afirmativa e na voz ativa, realizam uma ação. Máxima do modo Exemplos Eu os declaro marido e mulher. → Performativo que denota a ação de declarar. Eu recomendo que você leia o livro. → Performativo que denota a ação de recomendar. Eu ordeno que seja feito silêncio. → Performativo que denota a ação de ordenar. Ajoelhou, tem que rezar. → Performativo que denota a ação de comprometer-se com algo. Os enunciados performativos podem ser implícitos ou explícitos. Performativos implícitos Quando não há a presença do verbo que veicula a informação da ação a ser cumprida, mas se mantém a informação da ação. Performativos explícitos Quando não há ambiguidade em relação à ação que se realiza. Exemplos Eu prometi, agora hei de pagar. → Performativo explícito (verbo prometer). Promessa é dívida. → Performativo implícito. Ainda segundo a teoria dos atos de fala, dizer algo equivale a cumprir três ações simultâneas. Ato locucionário O ato locucionário é de natureza mais linguística, com foco no sistema, e é centrado nas informações fonéticas, semânticas e referenciais da sentença: o conteúdo linguístico usado para dizer algo. Ato ilocucionário O ato ilocucionário apresenta a força performativa da sentença, o ato que se realiza na sentença, como ordenar, pedir, reclamar etc. Ato perlocucionário Ato perlocucionário O ato perlocucionário, por sua vez, corresponde à indicação dos efeitos causados no outro, não na linguagem em si, mas pela linguagem, sendo o outro influenciado, persuadido, constrangido etc. Assim, em uma sentença como “Indicamos o nome do professor para o cargo!”, observamos a sobreposição dos três atos: o locucionário, mais linguístico; o ilocucionário, que focaliza a ação de indicar; e o perlocucionário, que indica que o professor deverá exercer tal cargo. Searle (1969), em seu trabalho Speech Acts, constrói um ponto de vista mais linguístico para a teoria dos atos de fala, definindo o conceito de “finalidade ilocutória” para classificar os usos linguísticos, aquilo que conseguimos fazer por meio da linguagem. Assim, Searle define os seguintes grupos de atos de fala: Que se referem ao fato de dizermos coisas verdadeiras. Quando tentamos levar as pessoas a fazerem coisas (convidar). Quando expressamos sentimentos e atitudes (agradecer). Quando o dito produz mudanças (prometer). Atos assertivos Atos diretivos Atos expressivos Atos comissivos Atos declarativos Que se referem ao papel do contexto extralinguístico para a validação do dito (batizar). O autor ainda define uma distinção entre o que ele chama de ato ilocutório e força ilocutória. De acordo com Searle, o ato ilocutório corresponde às ações realizáveis pelo dito, enquanto a força ilocutória corresponde à informação particular que pode distinguir um ato de outro. Por exemplo, conseguimos identificar se uma pessoa está indicando ou mandando que algo seja feito, a despeito do item verbal em jogo. O contexto discursivo é, acima de qualquer fator específico, segundo os pressupostos da pragmática, o lócus da identificação da força ilocutória. Mas há fatores que podem dar pistas específicas importantes para a detecção de uma ou outra informação de ordem mais pragmática. Alguns desses fatores são: a ordenação vocabular, a entoação, o acento e as escolhas lexicais. Condições de felicidade e teoria da polidez Um importante conceito que emerge dessa discussão é o de condições de felicidade. Basicamente, ele consiste na ideia de que um ato de fala, para ser eficaz, precisa ser proferido de modo apropriado às circunstâncias de sua produção. O maior ou menor sucesso comunicativo do que foi dito é medido pelos diferentes graus de felicidade e infelicidade, referentes à sua intepretação. Entender o sentido de um enunciado implica acessar informações linguísticas e extralinguísticas que constituem todo o contexto comunicativo situacional e que impactam o sentido do enunciado a partir do lócus em que ele está circunscrito. Fatores como quem diz, o que é dito, para quem é dito, onde e quando é dito definem, para além da estrutura sintática e semântica das sentenças, os sentidos reais ali empregados. A teoria da polidez é outro ponto fortemente difundido no âmbito dos estudos sobre a pragmática. Se um ato de fala pode ser indireto (implícito), tal fato se revela particularmente em destaque nos estudos sobre o discurso da polidez, pelos quais vemos que há diferentes formas, não necessariamente explícitas, de dizermos o que desejamos de modo a garantir a boa colaboração das partes no curso corrente da produção linguística. O princípio da polidez foi introduzido por Brown e Levinson (1987) e deriva dos pressupostos sobre a noção de face de Goffman (1987) e a de cooperação de Grice (1975). Basicamente, tais estudos dedicam-se à forma como pessoas, em diferentes culturas, interagem em maior ou menor grau de colaboração linguística, regulada por princípios gerais de polidez. Esses estudos, para além de seu papel descritivo acerca da linguagem, permitem a utilização de uma ferramenta poderosa para articulação da linguagem também em nível consciente. Comentário Assim, a teoria da polidez está associada aos processos referentes à forma como construímos, protegemos ou elaboramos nossa própria imagem pública, a face, e a de nossos interlocutores, em um processo colaborativo de constante autopreservação e defesa. Desvios de tais processos são significativos, colocando em xeque o pacto colaborativo, e motivados por demandas específicas e justificáveis, a depender dos interesses individuais dos usuários da língua. A noção de face aponta para a forma como nossa imagem, o self, é construída pelo indivíduo em termos de atributos sociais aprovados, seja no contexto social macro, seja no contexto interacional imediato. As pessoas tendem a cooperar entre si para proteger suas faces na interação, agem em função de assegurar a autoimagem de todos inseridos na construção do discurso, seguindo regras de condutas linguísticas e interacionais culturalmente e contextualmente convencionalizadas. Nesse sentido, tais estratégias possuem caráter mais ou menos universal, mais ou menos particular. Segundo os estudos no âmbito da teoria da polidez, portanto, há um constante esforço por parte dos interlocutores para que suas faces sejam preservadas, o que é uma condição geral para o maior grau de felicidade (sucesso) comunicativa. Para que eles atinjam seus objetivos, seguem traços de polidez, bom trato e diplomacia, que definem tal processo e que são facilmente percebidos nas escolhas linguísticas em geral. Nesse contexto, destacam-se dois conceitos: Face defensiva Focaliza a autopreservação da imagem do locutor. Face protetora Focaliza a tendência de também preservarmos a face do interlocutor. A não polidez, portanto, marca a falta de medo de preservação da face de si e/ou do outro e também possui importância social. Exemplo Para pensarmos juntos sobre a questão, vamos considerar a seguinte situação: Uma pessoa faz uma compra de material pela internet e recebe o produto danificado em sua residência. Há inúmeras formas de a pessoa reclamar acerca de seu pedido, mas basicamente ela pode desenvolver seu texto mantendo a preservação comum de faces, no jogo dialógico da linguagem, ou, por achar que está em posição favorável por ser a pagante do produto, não se preocupar com a face do outro e produzir um texto de baixo grau de polidez. As marcas linguísticas que denotarão a interpretação de textos como mais ou menos polidos são inúmeras: O uso de vocativos, de tempos e modos verbais específicos. As escolhas lexicais em si. A ordenação vocabular. O conteúdo geral do texto. Tudo isso evidenciará as diferenças entre um texto mais polido ou não. Leech (1983) destaca que o julgamento quanto à polidez ou à falta dela é culturalmente dependente e pode ser diferente de grupo social para grupo social. De todo modo, Leech (1983) estabelece máximas de polidez que são orientadas ao bem-estar do interlocutor e que irão regular o discurso cooperativo a despeito do grupo social específico: Máxima do fato Minimize o custo do outro, registrando respeito ao seu espaço. Exemplo: Não se sinta obrigado, mas, caso possa, você me lembra da festa? Máxima da generosidade Minimize o benefício de si próprio e maximize o custo. Exemplo: Deixa que eu mesmo lavo a louça para você. Máxima da aprovação Minimize a aprovação do outro e maximize a sua honra. Exemplo: Você está acima disso! Máxima da modéstia Minimize seu orgulho e maximize sua modéstia. Exemplo: Só passei no concurso porque tive sorte com as questões escolhidas. Máxima da generosidade Minimize a desavença e maximize a concordância. Exemplo: Podemos achar um ponto de interesse em comum aqui! Máxima da simpatia Minimize a antipatia e maximize a simpatia. Exemplo: Desculpe-me pela demora na resposta! Análise da conversação Você viu no módulo 1 que a análise da conversação (AC) é outra área de destaque no âmbito dos estudos da pragmática. Como área de ciência, dedica-se à investigação das práticas conversacionais: das descrições linguísticas e organizacionais da conversação e das interpretações e atitudes dos falantes em relação ao outro no curso da produção conversacional corrente. De natureza empírica e qualitativa, ainda como área de investigação científica sobre a linguagem, enfoca as manifestações reais da conversação em busca de uma descrição mais realista sobre os recursos e os princípios que regulam a produção espontânea conversacional. Para tal observação, obviamente, são considerados fatores relacionados aos contextos linguísticos e extralinguísticos envolvidos na situação comunicativa. Assim, pelos estudos advindos da análise da conversação, torna-se possível discutirmos a existência de uma “gramática da conversação”, mediante a observância de estruturas e estratégias regulares que moldam a conversação. Alguns aspectos se tornam fundamentais para o entendimento e o delineamento da gramática da conversação, como: a troca de turnos de fala; as hesitações; as pausas; as interrupções; os truncamentos; as sobreposições de fala; e as questões entoacionais. A gramática da conversação há de ser motivada também por outros elementos, dentre eles: o contexto comunicativo específico; o tema; a formalidade; os graus de conhecimento compartilhado; e as relações de poder. Dentre osaspectos considerados fundamentais para o entendimento, vamos destacar o conceito de troca de turno. O turno, na AC, é um segmento produzido pelo falante com direito à fala em dado momento. Na conversação, observamos um sistema básico de manutenção e troca de turnos, regulado por fatores como: a pausa a entoação o acento Seguindo o princípio pragmático da cooperação, o turno sofre transição de modo mais ou menos previsto, em função do cumprimento das regras de polidez, de preservação de face, entre outros aspectos aqui já discutidos. Nesse sentido, a tomada abrupta de turno (interrupção da fala do outro) pode representar alguma motivação específica, como a discordância ou uma situação de conflito verbal mais acentuado. Resumindo Conforme a análise da conversação, podemos detectar, pelos parâmetros da organização conversacional, de que modo as relações de poder socialmente instaladas são definidoras da forma como a língua é embalada, o que é um tema de particular interesse da análise do discurso, um ramo também ligado aos estudos de pragmática. Teorias interacionistas As teorias interacionistas apresentam uma concepção mais dialógica, de orientação histórica e cultural, da linguagem, o que é um ponto em comum com os princípios da pragmática. Nesse sentido, cada ato de fala é visto como algo integrado a um contexto situacional macro e micro, que regula seus sentidos e formas. É no curso da interação verbal que os indivíduos vivem as seguintes experiências: Identificam-se como sujeitos e/ou objetos dos discursos social, cultural e historicamente determinados. Refletem as convencionalizações e preconceitos que estruturam as sociedades e que são produzidos na linguagem e validados por ela. Nesse sentido, é possível observarmos que alguns aspectos são manipulados de modo associado às relações de poder que ainda se revelam na língua, via conteúdos mais ou menos explícitos. Podemos mencionar, entre outros, os seguintes aspectos que sofrem esse tipo de manipulação: implicaturas regras de polidez princípios reguladores da conversação Definitivamente, vemos que as perspectivas enunciativas, argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua são diversas e formam a pragmática como área central para o entendimento mais global acerca dos fenômenos da linguagem. Perspectivas enunciativas, argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua Veja agora explicações e exemplos em língua portuguesa sobre implicatura conversacional, enunciados constativos e performativos, teoria da polidez e análise da conversação. Vamos lá! Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! Implicatura conversacional Módulo 2 - Vem que eu te explico! Enunciados constativos e performativos Todos Módulo 1 - Video Conceitos, objeto de estudo e áreas implicadas na pragmática Módulo 2 - Video Perspectivas enunciativas argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Encontramos na frase “Eu os declaro marido e mulher” A um performativo que denota a ação de ordenar. B um performativo que denota a ação de declarar. C um performativo que denota a ação de recomendar. D um performativo que denota a ação de comprometer-se. E um verbo não performativo. Parabéns! A alternativa B está correta. O verbo “declarar” cumpre a ação por ele veiculada, sendo um verbo performativo, o que implica afirmar que se trata de verbo que nomeia ações que são realizadas, de modo integral ou parcial, ao se dizer algo. Questão 2 Avalie as afirmativas a seguir sobre o que aprendemos com a teoria da polidez. I. Os textos podem ser lidos e percebidos como mais polidos, menos polidos ou mesmo não polidos, neste último caso, sendo uma marca que pode significar falta de cuidado ou mesmo ausência de medo em relação à imagem que se passa para o interlocutor. II. O cuidado com as escolhas lexicais, com a forma como se ordenam as palavras e com o uso de certas expressões, tempos e modos verbais que modalizam o texto são marcas linguísticas da polidez. III. A percepção de que o texto é mais ou menos polido depende de aspectos linguísticos, e a polidez é percebida da mesma forma em todas as culturas. Está correto o que se afirma em A I, apenas. B II, apenas. C I e II, apenas. D I e III, apenas. E II e III, apenas. Parabéns! A alternativa C está correta. As duas primeiras afirmativas estão corretas, uma vez que os textos tanto podem ser polidos, com diferentes graus de polidez, como também não polidos. O cuidado com a elaboração do texto, buscando a polidez, pode se manifestar no uso cuidadoso e estratégico em relação à sua composição, empregando termos e recursos linguísticos que suavizam ou dão certo refinamento ao que se vai dizer. Porém, a percepção do que é polido ou a sensação de falta de polidez do texto depende também do contexto cultural, já que determinada expressão pode ser compreendida ou recebida como algo educado e aceitável num contexto e como algo rude ou desagradável em outro contexto. Por isso, a afirmativa III está errada. 3 - Pragmática e Libras Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer aspectos pragmáticos relacionados à Libras. Pragmática, cultura e línguas de sinais Vamos agora fazer uma articulação entre o que já discutimos sobre pragmática e a Libras. A relação entre a pragmática e a Libras ainda é um espaço que precisa ser desenvolvido em termos de pesquisas e investigações. De todo modo, o que sabemos acerca dos conceitos desenvolvidos no âmbito da pragmática das línguas orais deverá nortear as investigações sobre essa mesma área no campo das línguas de sinais e, no nosso caso particular, da Libras. Iniciaremos nossas reflexões trazendo à baila da discussão a relação existente entre cultura e aspectos pragmáticos refletidos na língua. Vamos fazer isso na tentativa de destacar que, a depender dos aspectos culturais de determinada comunidade linguística, questões pragmáticas específicas hão de emergir, diferenciando, também linguisticamente, grupos sociais, comunidades de fala e prática. Exemplificando, em determinada cultura, a maneira como tratamos determinado referente pode ser absolutamente distinta da maneira como esse mesmo referente é tratado por outra população. Isso significa dizer que, por vezes, as marcas linguísticas, as escolhas, enfim, a forma como a língua é embalada em determinada comunidade pode ser muito diferente da forma como outra língua é embalada, o que pode causar diversos desencontros culturais, espelhados na decodificação linguística. Exemplo É comum o uso de um sinal específico para “pessoa gorda” em Libras, que se distingue e muito do que costumeiramente verificamos no português do Brasil. No português, as pessoas costumam usar o morfema de diminutivo -inha para fazer referência a pessoas obesas, uma estratégia linguística relacionada ao preconceito social sofrido por pessoas gordas e que leva algumas pessoas a evitarem o uso da palavra “gorda”, acionando o termo “gordinha”. Tal estratégia de modalização existente no português não parece encontrar uso correspondente em Libras, em razão da diferença de questões culturais que explicam o uso de uma ou outra forma em uma e na outra língua. Um falante do português do Brasil poderá achar grosseira a forma como indivíduos da comunidade surda se referenciam a pessoas obesas pelo uso do sinal < GORDa /o>, mas esta é apenas uma questão cultural, refletida na língua desses indivíduos, como tantos outros aspectos e em tantas outras línguas, orais e de sinais. O que se torna um ponto relevante sobre a relação pragmática e Libras, portanto, parece ser mais a universalidade dos princípios pragmáticos, detectados em tantos estudos sobre as línguas orais, que são também orientadores do funcionamento e da formação de sentidos nas línguasde sinais. Nesse sentido, o objetivo aqui é exatamente retornar a alguns pontos importantes sobre os estudos da pragmática na tentativa de verificarmos suas possíveis articulações para futuras pesquisas com as línguas de sinais, em particular, com a Libras. Conhecimento enciclopédico A noção de conhecimento enciclopédico é outro ponto que também merece destaque, por evidenciar a relação existente entre cultura e pragmática. O conhecimento enciclopédico, ou conhecimento de mundo, é um fator que define a forma como a língua de determinado grupo de pessoas toma uma ou outra caracterização. Por vezes, a depender das especificidades de conhecimentos culturalmente orientados, o conceito de conhecimento enciclopédico revela como as pessoas são diferentes, podem pensar diferentemente e como isso se espelha na língua desses indivíduos. Muitas expressões na Libras não farão o menor sentido se nos apoiarmos em sua leitura dicotômica, para um usuário menos experiente nessa língua, posto estarem os sentidos específicos dessas expressões convencionalizados em tais formas linguísticas, graças às relações existentes entre cultura surda e Libras e que definem todo o jogo linguístico em questão. Novamente, não estamos tratando de algo específico de uma ou outra língua, mas de uma questão universal que rege a forma como seres humanos reais interagem em situações reais de comunicação, produzindo sentidos. Áreas do estudo da língua e a interface entre pragmática e Libras Vejamos agora a relação entre diferentes áreas de investigação sobre os aspectos pragmáticos das línguas humanas e as línguas de sinais, particularmente, a língua brasileira de sinais. Estrutura informacional e Libras Um ponto de destaque para estudos da interface Libras e Pragmática é a Estrutura Informacional. A Estrutura Informacional é um fenômeno de orientação pragmática relacionado ao modo como embalamos o discurso, apresentando referentes e tópicos discursivos, como mantemos o assunto presente na interação, como o retomamos etc. A distribuição da informação pode ser simplificada na estrutura tópico-comentário: Tópico Tende a ser a informação nova. Comentário Tende a ser a informação dada (o foco). A forma como tópicos e focos são distribuídos ao longo da sinalização há de ser sempre um ponto importante para pesquisas sobre pragmática e Libras. Assim, algumas questões relevantes se apresentam: Como construímos diferentes perspectivas para focalizar temas e referentes em detrimento de outros? O que acionamos junto de determinadas informações que emergem da produção discursiva? De que modo elementos manuais e não-manuais, o movimento do corpo e outros aspectos podem contribuir, no curso da sinalização, como estratégias de topicalização e/ou focalização? Atenção! As marcações não-manuais são um ponto importante para a expressão de sentidos na interface sintaxe/pragmática na Libras. As expressões faciais e corporais são utilizadas, nessa língua, como marcadores sintáticos/discursivos de tópico e foco. Assim, movimentos da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco exercem dois papéis nas línguas de sinais: o de marcação de construções sintáticas e o de diferenciação de itens lexicais. Implicatura conversacional na Libras Tomemos agora a discussão sobre implicatura conversacional. Parece ser totalmente convincente a hipótese de que os mecanismos que regem a interpretação linguística e a formação de sentido, em nível pragmático, das línguas orais serão os mesmos atuantes no uso da Libras, em situação real de interação verbal. É possível que sejam observadas questões específicas da cultura surda que evidenciariam diferenças entre Libras e outras línguas, em termos de possibilidades de implicaturas conversacionais. No entanto, o fenômeno linguístico em si, que rege a forma como os usuários de uma língua produzem sentido, é o mesmo. O contexto comunicativo como um todo, as variáveis extralinguísticas, entre outros aspectos, influenciarão a forma como o sentido emergirá. Princípio de colaboração e Libras Outro ponto que também queremos destacar consiste na discussão sobre o princípio de colaboração de Grice e suas máximas conversacionais. No processo de interação verbal em Libras, seguindo a tendência universal, também será percebida a regência de tal princípio na produção e no processamento da linguagem, a despeito da modalidade linguística em questão. Comentário As máximas conversacionais poderão ser observadas em qualquer discurso produzido em Libras, considerando-se as intencionalidades em jogo, o contexto comunicativo-situacional, entre outros aspectos. Atos de fala e Libras Pensemos ainda na teoria de atos de fala de Austin. Sobre sua relação com a Libras, também poderemos verificar que ao usar essa língua, seus usuários farão algo com essa língua. Assim, a relação língua e ação, tão cara à teoria, poderá ser verificada da mesma forma na produção linguística em Libras. Performativos explícitos e implícitos irão definir comandos, pedidos, agradecimentos, recomendações, entre outras ações que são cumpridas por intermédio do uso da língua. Também poderão ser verificadas as forças locucionária, ilocucionária e perlocucionária atuantes nas produções linguísticas dos usuários de línguas de sinais. O que exatamente a forma linguística diz sobre o que é dito? Qual a força locucionária destacada nas sinalizações? Quais efeitos tais falas exercem nos interlocutores? Esses são pontos importantes da pragmática, facilmente observáveis nas produções em Libras e que novamente evidenciam a universalidade dos princípios comunicativos, pragmáticos, no uso das línguas humanas. Assim, os atos locucionário, ilocucionário e perlocucionário ocorrerão, em Libras, de forma simultânea. Passemos, agora, à discussão sobre os atos de fala definidos no trabalho de Searle (1969). As sinalizações, novamente, podem ser caracterizadas como atos assertivos, diretivos, expressivos, comissivos ou declarativos a depender do tipo de ação que cumprimos com determinada fala. Comentário Da mesma forma, poderemos identificar as relações entre atos ilocutórios e forças ilocutórias, que espelham na Libras o fato de que nem sempre o que é dito em termos denotativos corresponde ao que se espera com determinada expressividade. Verificamos aqui novamente o papel de fatores linguísticos e extralinguísticos para o desenvolvimento do sentido, constatando, também no âmbito das línguas de sinais, a universalidade das forças pragmáticas na formação da língua. Condições de felicidade e Libras Nesse mesmo contexto, podemos trazer para a discussão o conceito de condições de felicidade, mantendo a articulação com o uso da Libras. Da mesma forma como identificamos no uso das línguas orais, para que um ato de fala na língua de sinais seja proferido e atinja o objetivo comunicativo em questão, ele precisará ser executado sob determinadas circunstâncias, considerando-se desde aspectos culturais específicos das comunidades surdas a aspectos pontuais relacionados com o contexto comunicativo mais imediato, seus participantes, os papéis sociais, o conhecimento compartilhado etc. Teoria da polidez e Libras As teorias da polidez, da mesma forma que as demais, também podem ser observadas no curso da sinalização, o que torna possível a análise das regras de polidez dessa língua, e do maior ou menor sucesso de sua aplicação por parte de seus usuários. Novamente, os princípios regulatórios de polidez poderão ser descritos na língua de sinais, de forma que temos, portanto, mais uma vez a evidência de que estamos tratando de uma língua natural. Ainda, tal descrição possibilita o ensino linguístico, particularmente da Libras como L2: é possível saber como podemos alcançar maior ou menor sucesso comunicativo ao tomarmos ciência sobre a forma como protegemos nossas faces e as dos interlocutores, via polidez, no curso da sinalização em língua de sinais. Aspectos ligados às escolhas lexicais e morfossintáticas, à marcação de graus deformalidade e às estratégias de não confronto são algumas das questões relevantes sobre o uso dessa língua e que precisam ser abordados no campo de ensino de L2. Como impomos ideias? Como damos opções aos nossos interlocutores? Como podemos ser mais ou menos amigáveis no discurso em Libras? Que marcas linguísticas estão relacionadas a esses pontos? Quais seriam as estratégias de polidez dessa língua? Essas são algumas das questões que estudos na área de pragmática em Libras poderão responder. Da mesma forma, parece ser importante focalizar como essas questões são respondidas para o uso comunicativamente bem-sucedido em português como L2. Comentário Muitas vezes, em decorrência das diferenças culturais espelhadas na codificação linguística, indivíduos surdos podem parecer grosseiros em suas interações em português escrito, devido ao desconhecimento de tais regras e à transferência de aspectos da polidez na Libras para o uso no português. Definitivamente, tanto para surdos quanto para ouvintes, entender o funcionamento das L2 aqui envolvidas, em relação ao uso das regras de polidez e à construção do discurso colaborativo, parece ser de extremo benefício linguístico-instrumental. Exemplo Tomemos como exemplo aquilo que Leech (1983) define como máximas de polidez. Será uma estratégia didática eficaz desenvolver atividades voltadas para o uso da L2 a partir da reflexão sobre tais máximas, particularmente, se o trabalho vier acompanhado da comparação sobre como a L1 e a L2 se aproximam ou se distanciam em termos gramaticais no que diz respeito a essas questões. O ensino pautado na aquisição de estratégias pragmáticas específicas parece ser um importante caminho para a discussão sobre o que e como ensinar uma L2. Análise da conversação e Libras Outro ponto amplamente desenvolvido em termos de estudos pragmáticos é a análise da conversação. As pesquisas sobre análise da conversação em línguas de sinais, especificamente na Libras, trarão respostas sobre como se organiza a “gramática da conversação” dessas línguas, sobre como os indivíduos das comunidades surdas constroem suas interações verbais de natureza conversacional, organizando-as, entre outros fatores, em termos de tomadas de turnos, hesitações, sobreposições etc. Acima de tudo, estudos que focalizem a análise da conversação em Libras trarão evidências sobre como os sentidos são construídos pela aplicação das regras e estruturas conversacionais regulares e mais ou menos estáveis nessa língua. A análise da conversação em Libras permitirá também a comparação entre a forma como a conversação se desdobra em interações verbais entre ouvintes, entre surdos e entre surdos e ouvintes, possibilitando ainda a verificação de espaços de convergências e divergências de estratégias conversacionais existentes entre essas populações. Tais estudos podem proporcionar importantes observações sobre como podemos diminuir possíveis dificuldades de comunicação entre tais grupos. Para que o trabalho em análise da conversação aconteça também com foco no uso da Libras, o analista precisará observar os fatores linguísticos e extralinguísticos relacionados à construção conversacional, alguns deles listados abaixo: contexto grau de formalidade relações interpessoais (entre elas as relações de poder) papéis sociais dos interlocutores (diferenças de gênero, classe, escolaridade etc.) tipos de conversação (se por vídeo ou face a face, por exemplo) elementos característicos da conversação (tema, turnos, pausas etc.) conhecimentos compartilhados Análise do discurso e Libras Finalmente, uma última área de possível investigação com foco em aspectos da pragmática na Libras é a análise do discurso (AD) em contexto de uso de línguas de sinais. Apoiados em princípios regulatórios que definem a forma como os usuários da língua interagem (vide o que nos apresenta a análise da conversação, por exemplo), será possível avaliar as relações de poder, as ideologias, as questões culturais e históricas impregnadas no pensamento social das comunidades surdas, incluindo-se aí os participantes ouvintes dessas comunidades. Dessa forma, será possível observar, seja pela perspectiva da análise do discurso em si, seja pela perspectiva da análise do discurso crítica, as implicaturas, os subentendidos e as linhas de pensamentos que regem, em nível micro e macro, a sociedade em que se encontram as comunidades surdas. A AD salienta o uso da língua como prática social, em performances situadas de atores sociais cumprindo papéis que revelam ainda relações de poder, desigualdade social e de lutas. O uso da língua é visto, nessa perspectiva, como uma questão de “práticas/ações” e não apenas uma organização estrutural, um sistema. Nesse sentido, a pragmática se torna importante área de análise sobre o funcionamento do discurso no nível linguístico: o lócus em que se encontram simultaneamente a estrutura e a materialização das expressões ideológicas. Assim, a pragmática dialoga fortemente com a AD, posto ser também ela uma teoria do uso linguístico, com foco nas situações concretas de uso da língua e seus fatores linguísticos e extralinguísticos, sem estabelecer a dicotomia que entende que há componentes internos e externos à língua, mas que esta se faz a partir da interação de múltiplos fatores, inclusive (e principalmente) os de ordem social. Atenção! Enfatizamos a necessidade de que os pontos aqui abarcados sejam explorados em pesquisas futuras sobre a Libras. Embora ainda sejam poucos os estudos sobre a interface Libras e pragmática, vimos como tal área é de suma importância, a começar por caracterizar a comunicação em línguas de sinais como no mesmo nível da comunicação em línguas orais. Pragmática e Libras Veja agora explicações e exemplos na Libras sobre implicatura conversacional, atos de fala, teoria da polidez e análise da conversação. Vamos lá! Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Pragmática, cultura e línguas de sinais Módulo 3 - Vem que eu te explico! Estrutura Informacional e Libras Todos Módulo 1 - Video Conceitos, objeto de estudo e áreas implicadas na pragmática Módulo 2 - Video Perspectivas enunciativas argumentativas e pragmáticas sobre o uso da língua Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 Considerando a interface entre pragmática e Libras, em relação à estrutura informacional e aos conceitos de tópico e foco, analise as afirmativas a seguir: I. As marcações não-manuais estão desvinculadas das implicações da interface sintaxe/pragmática na Libras. II. Em Libras, as expressões faciais e corporais se constituem em marcadores sintático e discursivo de tópico e foco. III. As expressões faciais e corporais são marcas de construções sintáticas e atuam na distinção de itens lexicais. Está correto o que se afirma em A I, apenas. B II, apenas. C III, apenas D I e II, apenas. E II e III, apenas. Parabéns! A alternativa E está correta. A afirmativa I está incorreta, uma vez que as marcações não-manuais, como expressões faciais e corporais, estão relacionadas com a produção de sentido, com aspectos sintáticos e pragmáticos na Libras. As afirmativas II e III estão corretas pelo mesmo motivo e porque expressões não- manuais como aquelas que envolvem a face, os olhos, a cabeça e o tronco atuam como marcadores sintáticos e como elementos de diferenciação de itens lexicais, tratando de informações novas (tópico) ou da informação dada (foco). Questão 2 Uma sentença proferida em Libras, segundo a teoria dos atos de fala, apresentará como ações simultâneas A um ato locucionário, um ato ilocucionário e um ato perlocucionário. B um ato locucionário e um ato perlocucionário. C um ato locucionário e um ato ilocucionário. D um ato ilocucionário e um ato perlocucionário. E a ordenação vocabular, a entoaçãoe um ato perlocucionário. Parabéns! A alternativa A está correta. Ao proferirmos uma frase, cumprimos juntamente os atos locucionário, ilocucionário e perlocucionário. Essa simultaneidade se manifesta nas línguas de sinais e corresponde a questões referentes à relação entre a forma linguística e o que é sinalizado ou dito, a força Considerações �nais Ao longo de nossa discussão, focalizamos diferentes áreas de investigação sobre os aspectos pragmáticos das línguas humanas. Vimos que a pragmática, por sua vocação intrínseca de espelhar o uso real das línguas, nos permite comparar novamente línguas oral-auditivas e línguas gesto-visuais, identificando equivalências em muitos aspectos relacionados à forma como embalamos, desdobramos e negociamos significados no curso da interação verbal, a despeito das modalidades linguísticas em jogo. Desse modo, você pôde perceber que a contribuição da pragmática é relevante também para os estudos linguísticos voltados para línguas de sinais, o que nos permite avançar no estudo e na pesquisa da Libras. locucionária presente nas sinalizações e os resultados advindos da mensagem sinalizada nos interlocutores. Referências AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1962. BROWN, P.; LEVINSON, S. Politeness. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1987. GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1987. GRICE, H. P. Logic and conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J. (ed.). Pragmatics: syntax and semantics. v. 9, Nova York, USA: Academic Press, 1975. GRICE, H. P. Meaning. Philosophical Review, n. 66, p. 377-388, 1957. LEECH, G. Principles of pragmatics. London, UK: Longman, 1983. SEARLE, J. R. Speech acts: an essay in the philosophy of language. Cambridge, UK: CUP, 1969. URIAGEREKA J Cl if i th ti “ t ” Bi li i ti 1 2007 URIAGEREKA, J. Clarifying the notion “parameter”. Biolinguistics, n. 1, 2007. Explore + Aprofunde seu estudo e conhecimento sobre pragmática lendo os seguintes textos: Atos de fala: o pedido e as estratégias de polidez em Libras, de Lucinda Ferreira, disponível no Repositório Institucional da UFSC, 2020. O capítulo Pragmática, de Joana Plaza Pinto, no livro Introdução à linguística: domínios e fronteiras, organizado por Fernanda Mussalin e Anna Christina Bentes, publicado pela editora Cortez, em São Paulo, 2009. O capítulo Motivações pragmáticas, de Victoria Wilson, no livro Manual de linguística, de Mario Eduardo Martelotta, publicado pela editora Contexto, em São Paulo, 2008. Assista ao vídeo a seguir para aprofundar seus estudos sobre Linguística: Semântica e pragmática, produzido pela UFSC e com acesso livre no Repositório Institucional da UFSC. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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