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Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43967 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 Estudo da influência dos cigarros eletrônicos no desenvolvimento de doenças cardiovasculares no público jovem Study of the influence of electronic cigarettes on the development of cardiovascular diseases in the young audience DOI:10.34117/bjdv8n6-094 Recebimento dos originais: 21/04/2022 Aceitação para publicação: 31/05/2022 Maria Deliane Silva Oliveira Acadêmico do curso de Farmácia da Faculdade de Imperatriz – FACIMP WYDEN Instituição: Faculdade de Imperatriz – FACIMP WYDEN Endereço: Av. Prudente de Morais, s/n, Parque Sanharol, Imperatriz – MA CEP: 65900-000 E-mail: mdeliane@outlook.com Patrício Francisco da Silva Orientador, mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional Preceptor de Estágios Instituição: Faculdade de Imperatriz- FACIMP WYDEN Endereço: Av. Prudente de Morais, s/n, Parque Sanharol, Imperatriz – MA CEP: 65900-000 E-mail: patricio.fsilva@hotmail.com RESUMO Os cigarros eletrônicos foram lançados no mercado como meio para a cessação do tabagismo convencional e hoje encontram-se na quarta geração, caracterizada por dispositivos pequenos, carregados por USB e que liberam grandes quantidades de nicotina. Apesar de serem vistos como menos prejudiciais do que o cigarro tradicional, A temperatura de vaporização dos solventes presentes nos líquidos dos Cigarros Eletrônicos (CEs) pode chegar a níveis tão elevados (cerca de 350º C) que modificações físicas podem ser originadas nesses solventes o que leva ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O objetivo do artigo foi verificar a possível relação entre uso de CE por jovens e o desenvolvimento de complicações cardiovasculares. Para a metodologia, utilizou-se de uma revisão integrativa. A busca na literatura foi realizada nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO) Web of Science e National Library of Medicine (PubMed/Medline), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google Acadêmico. Para a seleção dos artigos foram considerados os seguintes descritores em saúde: Cigarros eletrônicos, público jovem, doenças cardiovasculares. A seleção ocorreu por meio de leitura de títulos, resumos e quando necessária, a leitura íntegra dos textos como forma de selecioná-los de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Após a avaliação crítica, obteve-se uma amostra final de 12 estudos. Os resultados apontaram que diante das informações levantadas, verifica-se que o cigarro eletrônico está relacionado com diversos malefícios para o sistema cardiovascular, resultantes do aumento da ativação plaquetária, disfunção endotelial, estresse oxidativo, alterações agudas da PA, FC e estimulação simpática. Ademais, foram identificadas substâncias cardiotóxicas e carcinogênicas nos vapores dos CEs e seu uso tem sido uma porta de entrada para o tabagismo convencional. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43968 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 Palavras-chave: cigarro eletrônico, doenças cardiovasculares, farmacêutico. ABSTRACT Electronic cigarettes were launched on the market as a means of cessation of conventional smoking and today they are in the fourth generation, characterized by small, USB-charged devices that release large amounts of nicotine. Despite being seen as less harmful than traditional cigarettes, the vaporization temperature of the solvents present in the liquids of Electronic Cigarettes (ECs) can reach such high levels (about 350º C) that physical changes can be caused in these solvents, which leads to the development of cardiovascular disease. The objective of the article was to verify the possible relationship between the use of EC by young people and the development of cardiovascular complications. For the methodology, an integrative review was used. The literature search was performed in the following databases: Scientific Electronic Library Online (SciELO) Web of Science and National Library of Medicine (PubMed/Medline), Virtual Health Library (BVS) and Google Scholar. For the selection of articles, the following health descriptors were considered: Electronic cigarettes, young audience, cardiovascular diseases. The selection took place through reading titles, abstracts and, when necessary, the full reading of texts as a way of selecting them according to the inclusion and exclusion criteria. After the critical evaluation, a final sample of 12 studies was obtained. The results showed that in view of the information gathered, it appears that electronic cigarettes are related to several harms to the cardiovascular system, resulting from increased platelet activation, endothelial dysfunction, oxidative stress, acute changes in BP, HR and sympathetic stimulation. In addition, cardiotoxic and carcinogenic substances have been identified in EC vapors and their use has been a gateway to conventional smoking. Keywords: electronic cigarette, cardiovascular diseases, pharmaceutical. 1 INTRODUÇÃO Segundo a OMS, o tabagismo causa diretamente mais de 7 milhões de mortes por ano no mundo e indiretamente 1,2 milhões, que são resultantes do tabagismo passivo (OMS, 2021). Fumar é considerado um fator de risco para diversas doenças crônicas não transmissíveis, como doença coronariana, câncer de pulmão e diabetes. Além disso, o sistema imune é prejudicado, mulheres fumantes têm mais dificuldade de engravidar, assim como seus bebês possuem maior chance de nascerem sem vida ou prematuros e homens podem ter a fertilidade reduzida (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2020). A prevalência do tabagismo mostra-se preocupante: em jovens de 15 a 24 anos é cerca de 20,1% entre homens e 4,95% em mulheres. Ademais, estima-se que por volta de 82,6% dos fumantes começaram o vício em torno dessa faixa etária. O desenvolvimento de novos produtos pela indústria do tabaco, com destaque para os cigarros eletrônicos (CEs) ou dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), tem influenciado cada vez mais Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43969 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 jovens a se tornarem tabagistas (PEREIRA; NETO; SOLÉ, 2021). Os cigarros eletrônicos foram lançados no mercado como meio para a cessação do tabagismo convencional e hoje encontram-se na quarta geração, caracterizada por dispositivos pequenos, carregados por USB e que liberam grandes quantidades de nicotina. Apesar de serem vistos como menos prejudiciais do que o cigarro tradicional, faltam dados que provem a segurança e benefícios do uso desses dispositivos para a cessação do tabagismo convencional, o que culminou na proibição do uso no Brasil desde 2009. (PINTO ET AL., 2020). A temperatura de vaporização dos solventes presentes nos líquidos dos CEs pode chegar a níveis tão elevados (cerca de 350oC) que modificações físicas podem ser originadas nesses solventes, o que forma substâncias potencialmente tóxicas, como formaldeído, acetaldeído, acroleína e acetona. Por mais que a concentração dessas substâncias nos DEFs seja menor do que nos cigarros tradicionais, elas são citotóxicas, carcinogênicas, irritantes e causadoras de efeitos adversos (ANVISA, 2016). A necessidade de acelerar o entendimento sobre os riscos que o uso do cigarro eletrônico traz para a saúde, em particular para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares é de extrema importância no contexto da sociedade brasileira, principalmente quando o problema em questão é pertinente no público jovem, que precocemente perde sua qualidade de vida pelo alto consumo deste produto tecnológico (OMS, 2020). Diante do exposto, torna-se imprescindível a investigação dos efeitos e consequênciasdo uso de CEs não só porque ainda não há um consenso a respeito dos danos causados por esses dispositivos, mas também porque é perceptível a sua popularização e o crescente número de usuários, adolescentes em sua grande maioria. Dessa maneira, o presente estudo pretende verificar a possível relação entre uso de CE por jovens e o desenvolvimento de complicações cardiovasculares. 2 MATERIAL E MÉTODOS Essa pesquisa, trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Este tipo de trabalho consiste em uma busca de pesquisas relevantes sobre um determinado assunto, que possibilita identificar lacunas que podem ser preenchidas com a realização de outros estudos. Este desenho de pesquisa possibilita uma avaliação crítica e a síntese de evidências disponíveis sobre o tema investigado em seu produto final, proporcionando Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43970 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 uma organização do estado atual do conhecimento e reflexões para a implementação de novas intervenções (LAKATOS; GIL, 2007). A revisão integrativa obedeceu às seguintes fases: a) identificação do tema e formulação da questão da pesquisa; b) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão dos estudos para amostragem; c) coleta dos dados que serão extraídos dos estudos; d) análise crítica dos estudos selecionados; e) interpretação dos resultados; f) apresentação da síntese estabelecida e revisão dos conteúdos. A busca na literatura foi realizada nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO) Web of Science e National Library of Medicine (PubMed/Medline), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google Acadêmico. Para a seleção dos artigos foram considerados os seguintes descritores em saúde: Cigarros eletrônicos, público jovem, doenças cardiovasculares. Como critérios de inclusão para o estudo delimitaram-se artigos dos anos de 2016 a 2021 com estudos que respondem à questão norteadora, com textos completos disponíveis online nos idiomas Inglês, Português e Espanhol. Para critérios de exclusão definiram-se: estudos epidemiológicos, resumos simples e expandidos e trabalhos que relacionavam outras intervenções além da prevenção e/ou educação em saúde na APS. Pontua-se ainda que os artigos encontrados em mais de uma base de dados foram contabilizados apenas uma vez. A seleção ocorreu por meio de leitura de títulos, resumos e quando necessária, a leitura íntegra dos textos como forma de selecioná-los de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Depois das buscas, foi contabilizado um número de 27 artigos e após a clivagem excluíram-se 17 trabalhos. Durante esta fase, os pesquisadores avaliaram os artigos completos de forma crítica e independente e fizeram as devidas seleções. Discordâncias entre os revisores foram resolvidas por consenso. No processo de análise foram coletados dados referentes ao periódico (título, ano de publicação), aos autores (nomes completos) e ao estudo (objetivo, vinculação acadêmica, referencial teórico, tipo de estudo, aspectos metodológicos, resultados e recomendações). A interpretação dos dados foi fundamentada nos resultados da avaliação criteriosa dos artigos selecionados. Foi realizada a comparação com o conhecimento teórico, identificação de conclusões e implicações resultantes da revisão integrativa. Após a avaliação crítica, obteve-se uma amostra final de 12 estudos. Para minimizar os riscos vieses, a busca, a avaliação e a seleção dos estudos deram-se por revisão da autora, e ao final foi realizada uma discussão para consenso dos artigos a serem incluídos na revisão Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43971 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 3 REFERENCIAL TEÓRICO Segundo Barreto (2018), o tabagismo também é considerado doença pediátrica, pois grande parte das pessoas começam a fumar antes dos 20 anos de idade, evidenciando as crianças e adolescentes enquanto populações de risco e mais sensíveis aos apelos do contexto sociocultural em que se encontram. O autor reforça ainda que, além das estratégias de publicidade das grandes indústrias fumageiras, outros motivos como a ausência de vigilância dos pais, uso de tabaco como contestação da ordem social, o efeito da droga no cérebro e a sensação de prazer associada ao alívio de estresse, a descontração e os mecanismos da predisposição genética indicam alguns dos caminhos que podem levam o sujeito a consumir tabaco. O estudo acerca do uso de cigarros eletrônicos, principalmente pela comunidade jovem, e a influência deste artefato tecnológico como agravante das doenças cardiovasculares, é de urgente e extrema importância. O público jovem é o mais afetado, sendo eles os mais adeptos a novidade do cigarro eletrônico. Atualmente, a propaganda está na TV, nos jornais, nas rádios, na Internet, e em todos os lugares. A pressão social, a influência de amigos e a superexposição a mensagens nas redes sociais, cinema e televisão faz com que eles tenham a curiosidade de experimentar variações do tabaco, como os vaporizadores. O tabagismo consiste em um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas. O seu início ocorre cada vez mais cedo, estudo realizado no Brasil identificou que os jovens experimentaram o tabaco antes dos 12 anos de idade (FIGUEIREDO et al., 2016). Nesta perspectiva muitos métodos são testados para reduzir o efeito tóxico do cigarro. E alguns estudos destacam a nova estratégia para redução de danos do tabaco, que tem sido pensada através do uso do cigarro eletrônico. Esse produto tem “potencial para ser o produto de redução de danos de tabaco mais eficaz devido às suas propriedades únicas de se assemelhar a fumar de forma que nenhum outro produto fez até agora” (BARRETO, 2018). Os cigarros eletrônicos surgiram entre os anos de 2006 e 2007 na Europa e Estados Unidos, e desde então passaram a ser rapidamente disseminados ao redor do mundo, tendo seu consumo aumentado cerca de 13 vezes entre os anos de 2011 e 2018, ou seja, de 1,5% para 20.8%. Atualmente, são produtos populares, sobretudo, entre a população de jovens e adolescentes (SCHOLZ; ABE, 2019). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43972 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 Os cigarros eletrônicos (CE) - em inglês e-cigarrettes - são dispositivos que fornecem doses de nicotina e de outros componentes aditivos em aerossóis em uma menor proporção, se comparado aos outros tipos de cigarros (URRUTIA-PEREIRA; SOLÉ, 2018). Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) funcionam a base de vaporização e, por esse e outros motivos, muitos indivíduos creem que os eletrônicos são melhores, passando a consumi-los, contudo, há controversas na ciência sobre os benefícios deste se comparado ao fumo do cigarro comum (ALMEIDA, L.M. et al, 2017; HUANG, S.J et al, 2018). O uso do dispositivo é similar aos cigarros tradicionais. No ato da tragada, através de um botão ou pelo sensor de sucção, aciona um ciclo de aquecimento até atingir o ponto de ebulição do líquido, para que seja transformado em vapor. A temperatura pode atingir de 40-65°C. Parte do vapor é liberada com a nicotina para o vaporizador e a outra para o ambiente. Ao exalar ocorre o resfriamento, e o dispositivo só aquecerá novamente quando tragado. Um cartucho pode gerar de 10-250 jatos, o que pode corresponder, dependendo da marca, a 5-30 cigarros convencionais (RIGOTTINA, 2018). Estudos mostram que os fabricantes dos líquidos não informam a sua verdadeira composição, que geralmente contêm glicerina, propileno glicol, água, flavorizantes e nicotina, em que sua variação encontrada é de 16 até 22 mg/ml, fator preocupante devido à toxicidade. Ainda, algumas avaliaçõesquímicas indicam nos cartuchos de nicotina a presença de substâncias potencialmente danosas, como formaldeído, acroleína, acetaldeído, metais pesados, compostos orgânicos voláteis e nitrosaminas derivadas do tabaco (CAVALCANTE TM, et al., 2017). E no Brasil, o cigarro é a segunda droga mais popular, isto se deve ao seu baixo custo e facilidade de acesso. Nesse sentido, a exposição dos indivíduos ao cigarro e a prática do fumo se dá majoritária na adolescência – no período transicional do ensino médio para o ensino superior – sendo esses jovens os principais consumidores da droga (URRUTIA-PEREIRA, M. et al, 2017). Como afirma KNORST, M.M. et al (2014), muito desse crescimento de adeptos a essa prática se dá pela criação do dispositivo na forma eletrônica, que, para muitos indivíduos, são inofensivos a saúde, substituindo, assim, o cigarro comum pelo eletrônico. Tal adesão pode ser justificada tela tecnologia atrativa que o dispositivo apresenta, além de não deixar mal hálito, ter odor agradável e ser mais aceito nos ambientes sociais, como festas e eventos. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43973 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 Benedetto (2016), explica que os componentes principais do Cigarro Eletrônico são: uma bateria, um atomizado e um cartucho contendo a nicotina. A constituição do cartucho varia de acordo com a marca comercial e geralmente possui nicotina, na qual a concentração pode variar de acordo com a marca, e um componente para produzir o aerossol. E assim conforme Oliveira (2016), o dispositivo eletrônico de nicotina surgiu como uma alternativa para o abandono do cigarro, pois a nicotina é liberada em doses menores e proporciona sabor e sensação física semelhante à da fumaça do tabaco inalado. No entanto, a sua eficácia não é comprovada. Neste contexto vale citar que a fumaça ambiental dos cigarros também é responsável por causar danos à saúde, principalmente em asmáticos, crianças e adultos com tendência às doenças cardíacas (SEELIG; CAMPOS e CARVALHO, 2005). A poluição da fumaça, independente do tipo de cigarro, contribui para concentração e exposição de partículas, onde os componentes químicos comprometem significativamente a qualidade do ar. O uso do tabaco é um dos principais fatores de risco para uma série de doenças crônicas, incluindo câncer, doenças pulmonares e doenças cardiovasculares (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). É notório os prejuízos causados à saúde pelo hábito de fumar. O uso do tabaco está diretamente relacionado a alterações sejam elas sistêmicas ou locais. As alterações sistêmicas caracterizam-se como o aumento e/ou agravamento de doenças cardiovasculares, pulmonares, circulatórias, reduz a resposta imune e inflamatória, além de aumentar de forma significativa à prevalência e incidência de neoplasias (BARBOSA et al., 2014; CAMARGO et al., 2016). Os avanços da tecnologia eletrônica, acentuados nas últimas décadas, têm produzido itens com alto poder de sedução sobre o consumidor. O cigarro eletrônico ou “e-cig”, como também é conhecido, é um dentre tantos artefatos tecnológicos hoje disponíveis para a aquisição em estabelecimentos comerciais ou por meio da Internet. O consumo de produtos de tabaco, traz consequências nefastas a qualidade de vida de um indivíduo. Neste contexto estes sistemas eletrônicos de entrega de nicotina vêm com caráter ilusório de minimizar esses efeitos. Esta realidade ainda se soma ao escasso estudo dos impactos do “e-cig” sobre a saúde. Ainda assim algumas fontes de pesquisa já relatam que o consumo ocasional como o consumo diário de cigarro eletrônico está associado com aumento no risco de infarto agudo do miocárdio. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43974 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 Pesquisas epidemiológicas afirmam que os tabagistas têm maiores chances de desenvolver doenças cardiovasculares, onde os fumantes apresentam maior risco de morte por ataque cardíaco que os nãos fumantes (NUNES, 2006; DJURDJEVIC et al., 2018). Isso por que à nicotina, substância presente na combustão do tabaco, faz com que haja uma estimulação na liberação de catecolamina, que são neurotransmissores atuantes no controle da função cardíaca (força de contração cardíaca, resistência dos vasos sanguíneos e nos bronquíolos, liberação de insulina e na degradação de gordura) resultando assim em lesões no endotélio vascular (SILVA, 2012; ALMEIDA, RICKEN e RAVELLI, 2015). Nunes (2006), retoma ainda que além da liberação de catecolaminas, o tabagismo leva ao aumento da adesividade das plaquetas, da trombose aguda e a arritmia ventricular, podendo causar morte súbita por ataque cardíaco. Portanto, mesmo que os cigarros eletrônicos liberem nicotina em menor dose, pelo seu uso cada vez mais recorrente, o acúmulo dessa substância no organismo contribui para o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Tornando se um instrumento danoso a saúde dos seus consumidores. Os dispositivos eletrônicos podem acarretar a aceleração dos batimentos cardíacos e outros efeitos subjetivos. Ademais, um ponto importante é o aumento da incidência de intoxicação entre as crianças pela ingestão acidental dos seus cartuchos. Somado a isso, há o risco de explosão desses e-cigarros enquanto estão carregando, fato que já causou ferimentos e incêndios. Portanto, esses fatores configuram como riscos adicionais à saúde e ao bem-estar das pessoas (POLOSA R, et al., 2014). No Brasil, de acordo com o Artigo 1º da Resolução nº 46/2009 da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a comercialização, importação e propaganda dos cigarros eletrônicos (e-cigarretes, eciggy, ecigar) são proibidos (BARRETO, 2018; OLIVEIRA et al., 2018). É importante citar que somente em teoria, o comércio do cigarro eletrônico é proibido no Brasil, na prática os brasileiros conseguem comprar tantos os artefatos como as essências em uma simples visita ao google. Em uma pesquisa rápida e possível encontrar uma infinidade de plataformas que comercializam o produto. As redes sociais também servem de ferramenta para o comercio dos cigarros eletrônicos, existem grupos fechados e exclusivos para esta pratica no facebook, Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43975 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 facilitando que os jovens e adolescentes que são os maiores adeptos das redes tenham acesso e consumam cada vez mais estes vaporizadores. Mesmo com a proibição de sua venda, o consumo de cigarros eletrônicos vem aumentando entre os jovens. Além da dependência a nicotina, o Cigarro Eletrônico pode causar danos cardiovasculares e a quantidade de partículas inaladas presente supera as recomendações para a exposição ambiental a material particulado (SANTOS, 2018). Assim conforme Delgado; Junior (2018), fator que delimita a ideia de que esses dispositivos fazem mal a saúde, é sua rápida e contínua evolução, trazendo muitas incertezas acerca dos seus riscos e benefícios. Para isso, seria necessário no mínimo 30 anos no mercado. O impacto dos cigarros eletrônicos é considerável, desta forma vem atraindo o interesse dos profissionais da medicina, pesquisadores e cientistas. Esta nova modalidade tem atraído milhares de jovens e adolescentes, viciar este público em nicotina tem sido o negócio dessa indústria eletrônica, sendo assim o fumo vem sendo considerado uma doença pediátrica. Com o objetivo de atrair atenção para esta problemática, o trabalho apontará as falhas deste novo item que apresenta várias formas, para atrair o consumidor, destacando seus efeitos tóxicos a saúde, com ênfase no uso deste dispositivo pelos jovens. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES O uso de cigarro eletrônicopor jovens tem aumentado exponencialmente, com uma prevalência de 5% para 25%, principalmente, devido à existência de inúmeras opções de sabores e dispositivos atrativos, somado a venda facilitada pela internet. Um fato preocupante é que grande parte desses jovens que começaram a usar CEs, não eram fumantes anteriormente e há evidências de que o risco deles começarem a fumar CCs é maior, o que pode corroborar para que a taxa de tabagismo convencional volte a crescer em um futuro próximo (KAVOUSI ET AL., 2020). Outra preocupação é que há uma visão vigente de que os CEs não trazem malefícios, fazendo com que seu uso não seja percebido como o hábito de fumar e, muitos jovens, por possuírem conhecimento limitado dos danos desses dispositivos à saúde, acabam fazendo seu uso, aumentando cada vez mais o número de usuários (Vicent, 2018). Foi recomendado, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, dos EUA), a proibição total do uso de CEs por crianças e adolescentes. Soma-se a isso, a posição de oposição ao uso desses dispositivos pela Sociedade Americana de Cardiologia Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43976 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 (AHA) e pela OMS. A AHA protesta contra a falta de evidência conclusiva a respeito dos efeitos da vaporização do CE na dependência da nicotina em adolescentes e no incentivo do início do tabagismo daqueles não fumantes (KUNTIC, ET AL., 2020). Um estudo de Menezes et al. (2021, p.29) apontou que a nicotina, presente na maioria dos CEs com concentração variável entre 14,8 e 87,2 mg/mL, pode prejudicar a aprendizagem, concentração e humor dos adolescentes. Ademais, a maior predisposição ao início do uso de CC pode levar o jovem a fazer o uso combinado, de cigarro tradicional e eletrônico. Essa associação potencialmente perigosa está relacionada com um risco de maior dependência e ocorrência de cardiopatias. Foi sugerido que a relação entre a vaporização e início do tabagismo seja ainda mais forte nas crianças e adolescentes, já que o cérebro em desenvolvimento possui maior suscetibilidade à dependência da nicotina. As substâncias químicas presentes nos CEs, como propilenoglicerol e glicerol, ao serem aquecidas, podem sofrer transformações e gerar produtos cancerígenos. A exposição a esses produtos na adolescência é ainda mais alarmante do que na vida adulta, pois podem surgir maiores danos, já que a exposição é cumulativa e iniciada precocemente (PEREIRA; SOLÉ, 2018). Por fim, além da dependência física, a psicológica e comportamental, caracterizada pela criação do hábito de fumar, sugere que o potencial vício não é somente químico, mas também afetivo, social e psíquico (BARRADAS ET. AL, 2021). Na faixa etária da adolescência, na qual indivíduos estão mais suscetíveis a experimentação de cigarros eletrônicos, principalmente em eventos como festas, onde é possível observar que esses dispositivos “estão na moda”, a chance da criação do hábito de fumar e do início do contato com o tabagismo é inquietante, o que colabora para maiores malefícios aos diversos sistemas corporais, com destaque para o cardiovascular. Foi apontado que o uso de cigarro eletrônico (CE) com nicotina (substância simpaticomimética) está associado a um aumento da atividade do sistema simpático – maior tônus simpático e menor tônus vagal, semelhante ao observado em usuários de cigarro convencional (CC). Alterações na frequência cardíaca (FC) e na pressão arterial (PA), resultantes da atividade simpática, estão relacionadas com infarto do miocárdio e morte súbita cardíaca. (KHADKA ET AL., 2021). Uma preocupação que se tem a respeito da nicotina é que seu conteúdo é variável entre marcas diferentes e também entre os diversos líquidos disponíveis para determinado tipo de CE, o que dificulta a elaboração de estudos que relacionem concentrações dessa substância que podem ser prejudiciais (Skotsimara et al., 2019). Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43977 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 Qasim et al (2019) aponta que a ativação (agregação e adesão) plaquetária anormal está relacionada com a fisiopatologia de doenças cardiovasculares (DCV), já que favorecem a formação de trombos patológicos. Identificou-se que extratos de vapor de CEs foram capazes de aumentar a ativação plaquetária de humanos, devido à presença de partículas ultrafinas, mas não de nicotina (Qasim et al., 2019). É possível observar, após a vaporização de CEs, uma redução transitória de antioxidantes e um aumento de radicais livres de oxigênio por meio de marcadores na corrente sanguínea. Lipoproteínas de baixa densidade (LDL) são mais suscetíveis a oxidação nos usuários de CE, o que está relacionado com a aterosclerose, na medida em que LDL oxidadas se transformam em células espumosas, as quais formam as placas ateroscleróticas. (ELTORAI; CHOI; ELTORAI, 2019). Somado a isso, em usuários crônicos de CE, comparado a não usuários, identifica- se um aumento significante de marcadores inflamatórios e também da oxidabilidade de LDL, o que indica maior predisposição à aterosclerose (MACDONALD; MIDDLEKAUFF, 2019). No que diz respeito a disfunção endotelial, foi evidenciado que o CE, é capaz de diminuir a biodisponibilidade de óxido nítrico (NO), bem como aumentar as células progenitoras endoteliais (CPE) circulantes, as quais desempenham papel na regeneração do revestimento endotelial dos vasos sanguíneos, o que pode estar relacionado a lesões endoteliais subclínicas e disfunção endotelial aguda (SKOTSIMARA ET AL., 2019), (Qasim et al., 2017). Há divergências na literatura a respeito da origem do aumento de CPEs circulantes, no que diz respeito a sua relação com a nicotina ou não (Schweitzer; Wills; Behner, 2017). Em estudos com camundongos, após exposição de várias semanas ao aerossol de CE, foram encontrados níveis elevados de estresse oxidativo, inflamação (maior concentração de interleucina-6), ativação plaquetária, risco de trombogênese e menor fração de ejeção cardíaca (ACIEN ET AL., 2020). Ainda em estudo com animais, observou-se que há efeitos sobre o peso, distribuição de gordura corporal, parâmetros de glicose e lipídios, o que aumenta o risco para complicações cardiovascular. Embora muitos desses malefícios sejam atribuídos à nicotina, estudo com ratos expostos à extrato puro de nicotina por 2 anos não identificou aumento de mortalidade ou aterosclerose. Outrossim, o uso prolongado de terapia de reposição de nicotina não mostrou efeitos cardiovasculares adversos. Isso sugere que, somado à nicotina, outros fatores estão relacionados com as consequências metabólicas e cardiovasculares (VERHAEGEN; Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43978 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 GAAL, 2017). Por mais que o cigarro eletrônico apresente menos substâncias tóxicas quando comparado com o CC, seus malefícios a longo prazo, decorrentes de seu uso crônico, ainda são incertos, principalmente porque está presente no mercado há pouco tempo. Ademais, é fato que o CE é prejudicial, porque é capaz de causar estresse oxidativo e produzir mediadores inflamatórios, aumentando o risco de doenças cardiovasculares (BATISTA FILHO ET AL., 2021). Foi evidenciada a associação entre o uso diário de cigarro eletrônico e aumento do risco de infarto do miocárdio, que é cerca de 1,7 vezes maior em comparação com indivíduos que nunca usaram tal dispositivo. Outro estudo relatou a associação de CE e CC como ainda mais perigosa para a ocorrência de DCV, com chances em torno de 36% maiores (OSEI ET AL., 2019). Há evidências de que os cigarros eletrônicos são fonte de metais, como chumbo, níquel, cromo, manganês e até mesmo arsênio (presente em alguns líquidospara CE). É apontado que metais possuem concentração mais elevada em aerossóis de CE do que em fumaça de tabaco e, como eles são cada vez mais reconhecidos como fatores de risco para doença coronária e arterial periférica, ao serem inalados pela vaporização de CEs, trazem questionamentos a respeito da segurança do uso desses dispositivos (ACIEN ET AL., 2020). Além dos metais, nos CEs há compostos carbonílicos, hidrocarboneto policíclico aromatizados, aromatizante potencialmente prejudica e partículas ultrafinas, as quais possuem efeitos pró-inflamatórios. Por mais que falta uma regulamentação dos padrões constituintes dos cigarros eletrônicos, o que torna mais difícil determinar precisamente produtos químicos e suas concentrações, é reconhecido que substâncias presentes nos líquidos de vaporização (glicerol e propileno glicerol) podem sofrer transformações quando aquecidas em níveis elevados, gerando compostos como acroleína e formaldeído. Aquela está associada com maior risco cardiovascular e esse é um carcinogênico conhecido (DARVILLE; HAHN, 2019). Soma-se a isso que estudos com animais demonstraram que o formaldeído possui potenciais efeitos cardiotóxicos, com identificação de diminuição da FC e do débito cardíaco em ratos expostos a essa substância. Da mesma forma, inúmeros efeitos relacionados a exposição à acroleína, como mudança da função endotelial, função plaquetária e oxidação celular foram observados em modelos animais. As partículas finas e ultrafinas estão associadas, por meio de vias diretas e indiretas, a início de evento Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43979 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 aterosclerótico, doença arterial coroniana, trombose e hipertensão (KHADKA ET AL., 2021). 5 CONCLUSÃO O cigarro eletrônico foi lançado no mercado como um possível redutor de danos à saúde e alardeado como uma possível terapêutica para a cessação do tabagismo convencional. Estudos iniciais patrocinados pela indústria do cigarro corroboraram essas finalidades. Porém, com o desenvolvimento de novos estudos, não patrocinados, percebeu-se que o potencial de danos gerados pelo consumo de cigarro eletrônico é bem maior do que o inicialmente pensado e, em termos de cessação do tabagismo, tem ocorrido a troca (parcial ou total) do cigarro convencional pelo cigarro eletrônico, porém, o fumante continua a sofrer os efeitos maléficos do consumo de nicotina e outros compostos tóxicos do cigarros eletrônico, bem como gerar aerossol ao utilizar o cigarro eletrônico, criando a categoria de “tabagismo passivo de cigarro eletrônico”, composto, sobretudo, de material particulado ultrafino. Pôde-se verificar que a utilização de cigarros eletrônicos tem relação com o uso de cigarros convencionais e outras drogas. Ademais, a influência de amigos e familiares contribui para utilização de cigarros eletrônicos. Diversos indivíduos acreditam que os cigarros eletrônicos não fazem mal à saúde ou são menos nocivos que os cigarros convencionais. Destarte, a sensibilização da população acerca dos riscos do uso de cigarros eletrônicos se mostra imprescindível no processo educativo. Logo, o uso desse dispositivo eletrônico, enquanto veículo para uso de drogas deve ser mais trabalhado nas escolas, visando alertar os seus malefícios e, por conseguinte, preservar a saúde e o bem- estar da população. Diante das informações levantadas, verifica-se que o cigarro eletrônico está relacionado com diversos malefícios para o sistema cardiovascular, resultantes do aumento da ativação plaquetária, disfunção endotelial, estresse oxidativo, alterações agudas da PA, FC e estimulação simpática. Ademais, foram identificadas substâncias cardiotóxicas e carcinogênicas nos vapores dos CEs e seu uso tem sido uma porta de entrada para o tabagismo convencional. Quando usado por adolescentes as preocupações são ainda maiores, já que os efeitos são acumulativos. Assim, é imprescindível que políticas e intervenções sejam elaboradas para regular esses produtos e recomenda-se cautela, principalmente por parte dos jovens, ao Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43980 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 fazerem o uso tais dispositivos. Além disso, é necessário que novos estudos avaliem os efeitos produzidos pelo uso de CEs durante tempo prolongado, para que seus danos a longo prazo sejam elucidados. Portanto, diante da escassez de publicações científicas acerca do uso de cigarros eletrônicos no Brasil, sugere-se a realização de mais estudos. Espera-se ter contribuído para reflexão e alerta acerca desse desafio para saúde pública no Brasil. Brazilian Journal of Development ISSN: 2525-8761 43981 Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.6, p. 43967-43982, jun.,2022 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Karol Antunes de; RICKEN, Maria Helena; RAVELLI, Ana Paula Xavier. 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