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TRANTORNOS-ALIMENTARES-E-TRATAMENTOS-1

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1 
 
 
TRANTORNOS ALIMENTARES E TRATAMENTOS 
1 
 
 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 2 
2. ADOLESCÊNCIA .................................................................................................. 3 
3. TRANSTORNOS ALIMENTARES (TAs) .............................................................. 5 
3.1 Anorexia Nervosa (AN) .................................................................................. 6 
3.2 Bulimia Nervosa (BN) ..................................................................................... 8 
3.3 Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) ................................. 9 
3.4 Vigorexia ...................................................................................................... 10 
4. ETIOLOGIA ........................................................................................................ 12 
5. O PAPEL DO PROFISSIONALNUTRICIONISTA NOSTRASNTORNOS 
ALIMENTARES ......................................................................................................... 15 
6. FONTES DE DADOS.......................................................................................... 19 
7. DESENVOLVIMENTODO COMPORTAMENTOALIMENTAR E DESEUS 
TRANSTORNOS ....................................................................................................... 20 
7.1 Anorexia e Bulimia Nervosas ....................................................................... 22 
7.2 Transtornos Alimentares não Especificados ................................................ 25 
7.3 Transtorno da Alimentação da Primeira Infância ......................................... 28 
7.4 Pica .............................................................................................................. 28 
7.5 Transtorno de ruminação ............................................................................. 29 
7.6 Anorexia nervosa (AN) ................................................................................. 29 
7.7 Bulimia nervosa (BN) ................................................................................... 33 
8. SÍNDROMES ATÍPICAS OU PARCIAIS DE AN E DE BN .................................. 35 
8.1 O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) ........................... 36 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37 
 
 
 
2 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O ato de alimentar-se e a comida, com conotações simbólicas, representam 
elementos de interação humana, familiar e social, devido ao fato de a alimentação ser 
uma necessidade humana. 
O comportamento alimentar, por sua vez, é um fenômeno complexo que vai 
além do ato de comer, ou seja, relaciona a ingestão de alimentos a estímulos internos 
e externos, levando em conta os fatores psicológicos, sociais e orgânicos. 
Ele transcende as características sensoriais do alimento e o valor nutritivo, 
apresentando motivações ocultas relacionadas às carências psicológicas e as 
vivências conflituosas e emotivas que independem da fome (SOUTO e FERRO-
BUCHER, 2006). A cada ano, de acordo com a Sociedade Brasileira de Psiquiatria 
Clínica (SBPC), o número de pessoas que desenvolve graves transtornos do 
comportamento alimentar aumenta. As adolescentes e mulheres jovens constituem a 
maior parte deste aumento, correspondendo cerca de 90% (PINHEIRO e GIUGLIANI, 
2006; ESPÍNDOLA e BLAY, 2006). 
Para Ghazal et al. (2001), os Transtornos Alimentares (TAs) são mais 
prevalentes nos países industrializados, porém, vem crescendo consideravelmente 
em países em desenvolvimento, já sendo considerado um problema de saúde pública. 
A ênfase na magreza feminina como uma expressão da atração sexual 
coincidiu com o aumento dessa incidência. Nos tempos atuais, a sociedade faz da 
obesidade uma condição altamente rejeitada e estigmatizada e valoriza a magreza 
em particular (FIATES e SALES, 2001). 
Dunker e Philippi (2003) relataram que as pessoas têm se deixado levar pelas 
práticas de dietas abusivas e outras maneiras de regular o peso, comportamentos 
estes considerados não saudáveis e gerados devido à associação da beleza, 
felicidade e sucesso com um corpo magro. Dito isto, distúrbios no comportamento 
alimentar ou TAs constituem patologias complexas e graves, com alto grau de 
morbidade, sobretudo na adolescência, que afetarem de forma ampla e severa o 
desenvolvimento do indivíduo. O uso de métodos de emagrecimento inadequados e 
a insatisfação com a massa corporal constituem fatores de risco para o 
desenvolvimento destes (LOCK et al, 2001). 
 
3 
 
 
2. ADOLESCÊNCIA 
 
Adolescência é o período compreendido entre dez e dezenove anos de idade. 
É caracterizado pela fase de desenvolvimento, como a maturação sexual e o 
acelerado crescimento. É ainda a fase em que ocorrem modificações nas funções 
cognitivas, psicossociais e a busca pela independência socioeconômica e a 
autonomia no grupo social (BENNETT e EISENSTEIN, 2001). Devido a grande 
importância que é dada a aparência física, sendo esta essencial para aceitação dos 
adolescentes em seus grupos, existe um elo muito forte entre identidade e imagem 
corporal. 
No entanto, não são levados em consideração os aspectos relacionados à 
saúde e as diferentes constituições físicas da população quando se referem ao 
modelo idealizado de beleza. O resultado deste padrão distorcido é um número de 
adolescentes, que aumenta sucessivamente, e que, em busca do corpo perfeito, se 
submetem a dietas para controle de peso, prática exagerada de exercícios físicos e 
cirurgias plásticas por não se sentirem satisfeitos com sua imagem corporal 
(BRANCO; HILÁRIO; CINTRA, 2006). 
O adolescente define a imagem corporal como a forma com que o indivíduo 
percebe e sente em relação ao seu próprio corpo. Uma idealização física e subjetiva, 
resultante de suas emoções e experiências, funciona como um retrato formado na 
mente (KANNO et al, 2008). 
Para McCabe e Ricciardelli (2003), os adolescentes constituem o grupo etário 
mais vulnerável as pressões impostas pelas sociedades no que diz respeito ao 
aspecto de seu corpo. Estudos revelam que entre os sexos existe uma distinção no 
que se refere ao impacto dos ideais de beleza. Diversos autores têm confirmado que 
as jovens do sexo feminino se preocupam em obter um corpo muito magro, enquanto 
que os do sexo masculino visam ganho de massa muscular (BRANCO; HILÁRIO; 
CINTRA, 2006; VILELA et al, 2004). 
Com a finalidade de ganho de massa muscular, os adolescentes do sexo 
masculino são levados ao hábito de praticarem esportes, musculação e consumo de 
suplementos alimentares, enquanto as do sexo feminino são induzidas a praticarem 
atividades físicas que tenham como resultado final a perda de peso. 
Esta diferença que a sociedade impõe aos adolescentes faz com que estes 
comecem a sentirem-se insatisfeitos com sua imagem corporal (CONTI; 
4 
 
 
GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2006). Estudos relatam que a pressão social pela qual 
os adolescentes passam faz com que estes não tenham uma melhor aceitação do seu 
corpo. 
Esta pressão social ainda contribui para que mesmo as adolescentes eutróficas 
sintam o grau de insatisfação com sua aparência elevado (BRANCO; HILÁRIO; 
CINTRA, 2006). 
De acordo com o resultado, 75% não se mostravam preocupados com a 
aparência, 6,7% demonstravam uma preocupação moderada e apenas 2,7% 
manifestaram extrema preocupação. 
A amostra foi composta por um maior número de adolescentes do sexo 
masculino (51%), sendo que, entre esses, a prevalência de satisfação foi 89,8%, 
enquanto entre as adolescentes do sexo feminino foi de apenas 59,8%. Essa 
diferença foi significante. 
Não foram verificadas diferenças significativas na percepção da imagem 
corporal segundo as faixas etárias, ainda que se tenha observado uma preocupaçãolevemente maior entre 13 e 15 anos e menor entre os mais jovens. 
Principalmente na adolescência, os TAs são considerados patologias graves, 
com alto grau de morbidade e complexidade. Os TAs iniciados nesta fase de vida 
afetam de forma severa e amplamente o desenvolvimento do indivíduo (PINZON et 
al, 2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
3. TRANSTORNOS ALIMENTARES (TAS) 
 
Os TAs são fenômenos caracterizados pela preocupação excessiva com peso, 
corpo e alimento, de caráter pluridimensionais. Eles são resultantes da interação de 
fatores pessoais, familiares e sócio- culturais (SOUTO, 2002). 
Saikali (2004) define os TAs como patologias caracterizadas por: distúrbios na 
percepção corporal, graves alterações no padrão alimentar e obsessão no controle de 
peso. Apresentam um alto grau de morbidade e podem resultar em perda ou ganho 
de peso excessivo (PINZON et al., 2004). 
Nos últimos anos estes distúrbios têm aumentado consideravelmente, o que 
pode ser devido a grande influência da mídia que passa a imagem de que o corpo 
perfeito é magro. Para alcançar este objetivo as pessoas fazem dietas restritivas e 
alto consumo de produtos light e diet. Além dessas questões relacionadas ao 
comportamento alimentar, fatores sociais, psicológicos e biológicos também estão 
envolvidos na Génese dos TAs (BOSI et al, 2006; DAMASCENO, 2005; ALMEIDA; 
LOUREIRO; SANTOS, 2002). 
Isto posto, o ato de se alimentar está intimamente relacionado ao afeto. Não 
comemos apenas para nos nutrir, existe também o prazer. A comida vai adquirindo 
novos significados ao longo da vida, os mais diversificados possíveis, como: 
compensação, raiva, tristeza, amor e dependência, podendo resultar em patologias 
como os TAs, ou seja, existe uma influência mútua entre processos físicos e mentais, 
evoluindo para o papel patogênico das emoções. 
Adentramos assim nos TAs, onde a relação com a comida é considerada um 
sintoma de um processo de desequilíbrio emocional e não uma mera causa de 
problema de saúde capaz de revelar formas de interação da pessoa consigo e com o 
mundo (CORDÁS, 2004; FREITAS; GORENSTEIN; APPOLINÁRIO, 2002). 
Os TAs, principalmente na adolescência, constituem quadros complexos, 
graves e com grau de morbidade alta. 
Os adolescentes são os mais afetados devido ao fato de estarem passando por 
um período de vida correspondente a fase do desenvolvimento, no qual o prognóstico 
apresenta-se reservado e caracteristicamente envolve a família. 
As preocupações com o peso e a forma corporal constituem a psicopatologia 
(PINZON et al, 2004). Estudo realizado por Miranda (2004) relata que essa situação 
talvez seja consequência da maneira como o indivíduo expõe seu perfil e inscreve 
6 
 
 
suas angústias e conflitos. Ele expressa muito sua maneira de pensar, a preocupação 
com o modo como lida com sua alimentação e seu corpo. Configurado como 
repressor, o conceito alimentar contemporâneo está imbuído de penalidades e 
interdições. 
Os principais TAs são: a Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN), 
Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) e mais recentemente descreve-
se um novo quadro, encontrado em adolescentes do sexo masculino, conhecido como 
Vigorexia ou Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), estes dois últimos em menores 
proporções (ABREU; CANGELLI FILHO, 2004). 
 
3.1 Anorexia Nervosa (AN) 
 
A anorexia ao longo do século XX tem manifestado aumento da incidência em 
mulheres jovens e encontra-se distribuída entre as diferentes culturas (HOEK, 2006). 
É caracterizada por perda de peso auto induzida, distúrbios psicológicos, tais como: 
crenças irracionais, na qual o jejum era praticado como forma de se aproximar 
espiritualmente de Deus, características obsessivo-compulsivas e anormalidades 
fisiológicas. Há uma preocupação anormal com a forma corporal, com o peso e com 
a alimentação e um medo obsessivo de engordar. Mesmo estando emagrecida 
gravemente, a pessoa considera-se acima do peso devido à ocorrência da distorção 
da imagem corporal (THIEL e MELLO, 2005; SAIKALI, 2004). 
Na AN a perda de peso ocorre de forma intencional e os métodos dietéticos 
utilizados são extremamente radicais e restritivos, geralmente os indivíduos iniciam 
uma dieta restringindo os carboidratos e lipídeos por serem considerados calóricos, 
alimentam-se somente de verduras, diminuem o número de refeições e em seguida 
adotam um jejum prolongado (BOSI et al, 2006). 
Segundo Cordás (2004), não ocorre perda real do apetite, mas sim uma 
negação do mesmo. 
A AN é classificada em dois tipos, restritivo ou purgativo, de acordo com o 
comportamento do indivíduo. Na AN restritiva o paciente faz uso de dietas, jejuns e 
exercícios para perda de peso. Na purgativa o paciente faz purgação, como 
autoindução de vômito, uso de diuréticos e laxantes de forma irregular tendo ou não 
episódios de ingestão compulsiva (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000). 
7 
 
 
O indivíduo com AN tem preocupação e cautela excessivas, sensibilidade 
exacerbada, medo de mudanças e gosto pela ordem, traços estes característicos de 
personalidade (BAPTISTA; 2005). Outros sintomas comuns são amenorreia, perda de 
peso em curtos intervalos de tempo, sentir-se culpado (a) ao ingerir algum alimento, 
irritabilidade, hipersensibilidade ao frio e excesso de exercícios físicos entre outros 
(OLIVEIRA et al, 2003; CLAUDINO; BORGES, 2002). 
Homens com AN podem desenvolver aparência feminina (MELIN e ARAÚJO, 
2002). Dunker e Philipi (2003) ao avaliarem alunas de 15 a 18 anos de escolas 
públicas de São Paulo, observaram que aquelas com sintomas de AN possuíam 
aversão a determinados grupos de alimentos, como balas, chocolates em barra, 
refrigerante, macarrão e batata frita, alimentos considerados preferenciais entre o 
grupo sem sintomas de AN. Quanto ao consumo de produtos dietéticos, 26,64% das 
alunas relataram consumi-los frequentemente e 73,36% esporadicamente. Quando 
questionadas sobre o papel da alimentação em suas vidas, 42,01% responderam que 
sentem que o alimento controla suas vidas em graus diferentes de intensidade. 
Este estudo é semelhante ao de Stracieri e Oliveira (2008) que ao verificarem 
o comportamento alimentar associado à ingestão de carboidratos perceberam que os 
alimentos ricos em carboidratos e açúcares são mais evitados pelas pacientes com 
AN devido ao fato destas pacientes acreditarem que este nutriente está associado ao 
ganho de peso. 
As consequências da NA podem ser divididas em cardiovasculares, 
dermatológicas, digestivas e neuroendócrinas (BAPTISTA 2005). No aparelho 
cardiovascular ocorre redução da massa cardíaca, associada a diminuição da pressão 
arterial e frequência cardíaca. Uma das causas da internação do paciente com AN é 
a bradicardia que pode ser intensa e chegar a uma parada cardíaca. 
No trato gastrointestinal a consequência se dá devido ao retardo do 
esvaziamento gástrico e constipação intestinal podendo ocorrer degeneração 
gordurosa do fígado, alterações das enzimas hepáticas e necrose hepática focal 
(CORDÁS; SEGALL, 2004). 
A chamada disfunção hipotalâmica, com a presença da amenorreia, ocorre 
devido à instalação da AN no período pré - puberal, causando a baixa estatura e atraso 
da maturação sexual. 
8 
 
 
A osteopenia também é consequência da AN, sendo secundária ao 
hipogonadismo hipotalâmico, com baixo estrogênio, levando nos casos mais graves a 
compreensão vertebral e fraturas patológicas (NERY et al, 2002). 
Em um estudo Santos et al, (2004) perceberam que por acometer mais 
adolescentes que estão passando por um período de formação do esqueleto, a 
redução da massa óssea é uma das complicações mais graves. 
Um terço dos adolescentes acometidos pela AN tem osteoporose e a incidência 
da osteopenia pode chegar a 90%. 
Caracterizada por anormalidades dos fluidos e eletrólitos (principalmente do 
fósforo) a AN pode levar a complicaçõescardiológicas, hematológicas, neurológicas 
e até a morte súbita. Portanto, deve acontecer um monitoramento dos eletrólitos e 
uma cautelosa alimentação dando ênfase a correção dos eletrólitos (APA, 2000). 
 
3.2 Bulimia Nervosa (BN) 
 
O termo BN vem da união dos termos gregos boul (boi) ou bol (grande 
quantidade), com lemos (fome), ou seja, uma fome muito intensa ou suficiente para 
devorar “um boi”. Este termo foi criado por Russel em 1979. Os portadores de BN 
geralmente se apresentam com leve sobrepeso ou até se mantém próximo ao peso 
(VILELA et al., 2004). 
De acordo com Abreu e Cangelli Filho (2004), a ingestão compulsiva de grande 
quantidade de alimentos e sensação de perda de controle ao se alimentar são 
características da BN. Estes episódios são acompanhados de métodos inadequados 
para o controle de peso como uso de medicamentos, dietas e exercícios físicos 
excessivos e o comer compulsivo. 
Assim como na AN, os bulímicos também apresentam percepção alterada da 
imagem corporal e insatisfação com o próprio corpo (ASSUNÇÃO, 2002). 
O principal sintoma da BN é a compulsão alimentar, estado em que o bulímico 
alterna a exagerada ingestão de alimentos com estratégias para eliminação das 
calorias ingeridas. Dentre estas estratégias pode-se citar: uso de diuréticos, laxantes 
e autoindução de vômitos (ROMARO; ITOKAZU, 2002; APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 
2000). 
9 
 
 
Impulsividade, fácil desmotivação, tendências a extroversão e a modismo, 
baixa autoestima, nível de ansiedade elevado e baixo limiar à frustração são algumas 
das outras características psicológicas dos indivíduos bulímicos (ROMARO; 
ITOKAZU, 2002). 
De fato, os estudos de tais autores concordam com as colocações de Abreu e 
Cangelli Filho (2004) que perceberam em seus estudos que dentre os mecanismos 
para a perda de peso utilizados pelos pacientes bulímicos, a autoindução ao vômito é 
o mais prevalente, estando presente em mais de 90% dos casos. 
O bulímico pode apresentar algumas complicações em diferentes níveis, a 
saber: psiquiátricas: isolamento social, depressão e perda de oportunidades de 
convívio e profissionais; Metabólicas: hipoglicemia, distúrbios hidroeletrolíticos e 
aumento do colesterol; Cardiovasculares: pressão baixa, tonturas e problemas 
cardíacos; Neurológicos: neurite e Gastroenterológicos: lesão do estômago, cáries, 
constipação e obstrução intestinal (APA, 2000). 
 
3.3 Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) 
 
O TCPA é um transtorno caracterizado por episódios de ingestão exagerada e 
compulsiva de alimentos, diferindo da BN devido ao fato das pessoas afetadas não 
forçarem a eliminação dos alimentos ingeridos, fazendo com que geralmente 
desenvolvam sobrepeso ou obesidade (ABREU; CANGELLI FILHO, 2004). 
Os estudos epidemiológicos descrevem uma prevalência de TCAP em 2% da 
população em geral e cerca de 30% nos obesos que procuram tratamento para 
obesidade em serviços especializados. Apesar de estar presente em homens e 
mulheres há uma predominância no sexo feminino na proporção de 3/2 geralmente 
tendo início na adolescência (STEFANO; BORGES; CLAUDINO, 2002; OLIVEIRA; 
FONSECA, 2006) . 
Os pacientes que sofrem de compulsão alimentar vivem em meio de centenas 
de sentimentos conflituosos, episódios de compulsão alimentar, eles, além de 
possuírem sentimentos de autocondenação, medo e raiva são tomados por 
desconfortos físicos (ESPÍNDOLA; BLAY, 2006). 
As principais causas para este distúrbio são desilusões amorosas, fracasso 
emocional ou perda de alguém querido. Como estratégia, esses indivíduos utilizam a 
10 
 
 
comida para preencher tais vazios emocionais. Além disso, a comida é para essas 
pessoas como se fosse um presente, um sinônimo de felicidade, trazendo para os 
mesmos sentimentos de prazer e euforia (FONSECA; OLIVEIRA, 2006). 
A orientação para o tratamento do TCAP deve centrar-se inicialmente na 
redução da frequência dos episódios de compulsão alimentar e complementada com 
medicamentos, psicoterapia e dietas enquadradas na realidade de cada paciente, 
além da incorporação de exercícios físicos da rotina (APPOLINÁRIO, 2004). 
Fonseca e Oliveira (2006) verificaram em pacientes com TCAP os principais 
sintomas, a saber: baixa autoestima em 25% dos casos, seguido de culpa, vergonha 
e inferioridade com um percentual de 15%, e raiva, medo e angústia representaram 
10%. 
Quanto à frequência da percepção do significado da comida para os pacientes, 
60% comem por prazer e 40% para preencher um vazio emocional. A principal 
consequência do TCAP é o ganho progressivo de peso, resultando em obesidade, por 
vezes mórbida. A maioria dos pacientes com TCPA é obesa e apresenta má resposta 
aos regimes de tratamento, podendo estar associado a obesidade em adolescentes 
(APA, 2000). 
Shapira; Goldsmith; McEbroy (2000) relataram que 30% de um grupo de 
adolescentes obesas que procurou tratamento para emagrecer apresentava 
compulsão alimentar. 
O tratamento do TCPA deve envolver uma orientação dietética adequada com 
refeições regulares, psicoterapia cognitivo- comportamental. 
Os maus hábitos alimentares decorrentes do TCAP, principalmente aqueles 
que acarretam a obesidade, produzem problemas de saúde imediatos e também em 
longo prazo, visto que cerca de 60% de adolescentes obesas já sofrem de Hipertensão 
Arterial, hiperlipidemia e/ou hiperinsulinemia (MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000). 
 
3.4 Vigorexia 
 
A Vigorexia enquadra-se entre os transtornos dismórficos corporais e é 
conhecida também como Dismorfia Muscular (CHUNG, 2001). 
O que caracteriza uma distorção de imagem corporal nos indivíduos afetados 
pela Vigorexia é a descrição que estes fazem de sua aparência corporal, 
11 
 
 
apresentando uma musculatura desenvolvida em níveis acima da média da população 
masculina, julgam-se “fracos e pequenos” (GRIEVE, 2007). 
São pessoas extremamente preocupadas com sua massa muscular, o que 
pode levar ao excesso de levantamento de peso, prática de dietas hiperglicêmicas, 
hiperprotéicas e hipolipídicas e fazem uso de esteroides anabolizantes e de 
suplementos proteicos (CAFRI, VAN DE BERG e THOMPSON, 2006). 
Estas pessoas são frequentadoras assíduos de academias que praticam 
exercícios físicos em excesso na busca de um corpo perfeito, passando horas nas 
academias, tornando-se obsessivas pelos exercícios e perfeccionistas consigo 
mesmo (BAPTISTA, 2005). 
A vigorexia afeta com mais frequência homens, mas pode também ser 
detectada em mulheres. Os fatores determinantes para o surgimento da Vigorexia 
podem ser: cognitivos, comportamentais, ambientais, emocionais e psicológicos. Os 
pacientes mais frequentemente afetados pertencem à classe média baixa (GRIEVE, 
2007). 
Assunção (2002), com base em seu estudo, concluiu que para os homens o 
corpo perfeito, representando o ideal de imagem corporal masculina, seria aquela que 
é forte e musculoso. O corpo musculoso tem sido cada vez mais desejado, no entanto 
ainda existem homens que preferiam um corpo esguio, o que pode caracterizar mais 
tarde um quadro de dismorfia muscular ou AN (BRANCO; HILARIO; CINTRA, 2006). 
Com a finalidade de compreender se o uso de anabolizantes está ligado à 
alteração da imagem corporal observou-se que homens avaliados faziam uso desses 
produtos não para fins atléticos e sim com a única finalidade de melhorar a aparência 
pessoal. 
O uso de anabolizantes em longo prazo pode levar a um quadro de dismorfia 
muscular, assim como à alteração na autoestima e na imagem corporal (KANAYAMA, 
2006). 
Na vigorexia, o uso de esteroides, a utilização excessiva de peso durante os 
exercícios, sobrecarrega os ossos, músculos, tendões e articulações, principalmente 
dos membros inferiores (CAMARGO et al, 2008). 
Os transtornos metabólicos ocasionados aos indivíduos com Vigorexia são 
devido à dieta inadequada (rica em carboidratos e proteínas) e o consumo exageradode suplementos proteicos, o que afeta de maneira especial os rins, o colesterol e a 
glicemia dos indivíduos (ALONSO, 2005). 
12 
 
 
Associado a uma série de problemas tanto físicos quanto psiquiátricos 
encontra-se o uso de esteroides anabolizantes. Além de causarem alterações físicas 
ainda contribuem para o desenvolvimento da Hipertensão Arterial, doenças 
coronarianas, hipertrofia prostática, tumores hepáticos, problemas de ereção, 
hipogonadismo, atrofia testicular, alteração da voz, atrofia mamária, hipertrofia do 
clitóris e amenorreia em mulheres, aumento dos pelos corporais e da incidência de 
aterosclerose. Sintomas depressivos quando de sua abstinência, comportamento 
agressivo, quadros psicóticos e hipomania estão entre alterações psiquiátricas 
(HARTENGS; KUIPERS, 2004). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. ETIOLOGIA 
 
13 
 
 
A etiologia dos TAs por ser considerada como multifatorial é de difícil 
interpretação, identificação e manejo. Sabe-se que a interação entre fatores 
genéticos, ambientais, socioculturais, biológicos (somáticos) e psicológicos 
(emocionais) são as principais causas para o desenvolvimento dos TAs. 
No entanto, acredita-se que os fatores externos são mais relevantes em sua 
incidência do que os fatores genéticos (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002). 
Cordás e Claudino (2002) afirmaram que o aumento da prevalência de TAs está 
intimamente ligado a questões sociais, culturais e econômicas do mundo moderno. 
No ocidente isso se dá de modo especial, onde o “belo deve ser magro”, crença esta 
amplamente divulgada pela mídia. No entanto, Shimidt (2003) revela que até o 
momento a pesquisa etiológica nos permite afirmar que estamos diante de patologias 
multifatoriais, porém a genética pode contribuir com aproximadamente 30% a 80% do 
risco de desenvolver tais transtornos, informações estas advindas dos avanços 
biotecnológicos. 
Nos últimos 40 a 50 anos os achados de aumento de incidência desses 
transtornos nos fazem pensar sobre as mudanças socioculturais e o impacto que as 
mesmas exercem e sua colaboração como fatores desencadeantes e de manutenção. 
Em estudos realizados por Strober et al, (2000) com o objetivo de identificar a 
contribuição dos fatores genéticos para o desenvolvimento de TAs, pode-se verificar 
que a incidência de TAs em irmãs de pacientes com TA é de 6%, aproximadamente, 
seis vezes maior que os valores mais altos encontrados em estudos populacionais. 
Estudo realizado com 45 pares de gêmeos observou que a concordância para 
a manifestação do TA em dizigóticos foi de 5%, enquanto que para monozigóticos foi 
de 56%. Estes achados evidenciaram que os fatores genéticos têm um papel 
importante na manifestação dos TAs. 
Entidades de grande importância médico-social relatam que os TAs podem 
comprometer seriamente a saúde dos indivíduos sintomáticos. Atitudes de 
comportamento alimentar problemáticas em relação ao medo da “gordura” são 
bastante encontradas. 
Devido a sua importância epidemiológica, faz-se necessário um rastreamento 
utilizando instrumentos específicos com a finalidade de ampliar estes estudos para 
um processo efetivo na intervenção e prevenção desses transtornos (MAGALHÃES; 
MENDONÇA, 2005). 
14 
 
 
Influência da mídia nos transtornos alimentares A influência da mídia promove 
distúrbios da imagem alimentar e corporal. 
Modelos, atrizes e outros ícones femininos ao longo das décadas vêm se 
tornando mais magras. 
 A mídia gera um impacto negativo nos indivíduos com TAs ao veicular técnicas 
não-saudáveis de controle de peso (indução de vômitos, exercícios físicos rigorosos 
e dietas drásticas) o que faz com que os mesmos sintam-se pressionados para serem 
magros. 
Estudos revelam que adolescentes expostos à mídia em sua maioria são 
insatisfeitos com sua imagem corporal (BECKER et al, 2002). 
O corpo humano sendo tomado com um referencial de status e sucesso a ser 
alcançado passou a ser extremamente valorizado e explorado pela mídia (CONTI; 
GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2006). 
Uma vez que representam ideais de beleza e sucesso, os padrões corporais 
de mulheres magras e homens musculosos vêm influenciando a vida das pessoas 
fazendo com que aumente cada vez mais a divulgação deste padrão de beleza na 
mídia através de comerciais, revistas e cinemas (BRANCO; HILARIO; CINTRA, 2006; 
TRICHES e GIUGLIANI, 2007). 
A indústria corporal encarrega-se de reforçar imagens e criar desejos 
padronizando corpos que por se sentirem fora das medidas, sentem-se insatisfeitos e 
cobrados. 
Parte de nossa sociedade sai em busca de uma aparência física idealizada 
devido à influência que a mídia exerce ao mostrar corpos idealizados e considerados 
atraentes (RUSSO, 2005). 
Adotar técnicas sugeridas que são mostradas como simples e acessíveis, estar 
no padrão midiático do magro, do jovem e do belo, faz com que cada vez o culto ao 
corpo ocorra de maneira crescente. No entanto, surge um paradoxo, a imagem 
corporal real da maioria das pessoas não corresponde à imagem corporal propagada, 
o que faz com que as pessoas se sacrifiquem na busca dos padrões de beleza 
publicados pela mídia, busca esta de um padrão ou modelo dito ideal que leva as 
pessoas à doença e até mesmo a morte (SERRA; SANTOS, 2003). 
Em contrapartida, em pesquisa realizada por Almeida; Nascimento e Quaioti 
(2002) após analisarem 432 horas de programações em três principais redes de 
15 
 
 
televisão do país, concluíram que das 1.395 propagandas veiculadas, 57,8% delas 
eram de alimentos do grupo dos óleos, gorduras e açúcares da pirâmide alimentar. 
O que é mais alarmante é que frutas e vegetais não foram mencionados sequer 
uma vez. 
A indústria cultural através dos meios de comunicação encarrega-se de reforçar 
imagens e criar desejos padronizando corpos. Na contemporaneidade, olhares 
voltam-se ao corpo sendo moldado por atividades físicas, tecnologias estéticas e 
cirurgias plásticas (RUSSO, 2005). 
Nas últimas três décadas, a mídia tem exercido de forma crítica e observadora 
influência sobre o corpo, classificando e rotulando pessoas de acordo com a sua 
imagem corporal, estabelecendo padrões estéticos, cultuando o perfeito e o belo. 
Estes procedimentos não agregam saúde, ao contrário, trazem transtornos 
psicológicos e físicos que agravarão seu quadro de desconforto com sua imagem 
corporal e na procura do corpo idealizado (PORTO; LINS, 2009). 
De acordo com Carrara; Russo e Faro (2009), a sociedade de consumo reflete 
as mudanças corporais ao atribuírem uma valorização a estética corporal, desta 
forma, através dos meios de comunicação a indústria corporal expõe imagens, cria 
desejos padronizando um determinado corpo. 
Os autores ainda afirmam que estes corpos são idealizados, cobrados e 
insatisfeitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. O PAPEL DO PROFISSIONALNUTRICIONISTA NOSTRASNTORNOS 
ALIMENTARES 
 
16 
 
 
Os TAs são considerados doenças complexas, cujo tratamento requer uma 
equipe de especialistas. Dentre estes se destaca o papel do nutricionista, pois ele é o 
único profissional qualificado para que a terapia nutricional seja implementada, no 
entanto, necessita de formação especial e experiência na área, além de saber interagir 
com os demais integrantes da equipe (ADA, 2001). 
Para um nutricionista que trabalha com TAs os atributos mais importantes são: 
conhecimento amplo da ciência da nutrição, habilidade no aconselhamento, no 
comportamento educacional, uma atitude compreensiva e não de julgamento 
(ALVARENGA; LARINO, 2002). 
Os pacientes com TAs são resistentes quanto a aceitação do que é proposto 
para melhorar sua qualidade de vida. Neste âmbito, é essencial que o nutricionista 
entenda que a resistência faz parte do tratamento. 
Os pacientes geralmente negam seu estado psicopatológico e não aceitam a 
mudança, o que faz com que a evolução do tratamento destes torne-selenta. É 
necessário que o nutricionista busque o equilíbrio entre as preferências do paciente, 
levando em conta seus mitos, crenças e medos que os leva a acreditar serem hábitos 
saudáveis (Bighetti et al, 2007). 
A American Dietetic Association (2001) além de reconhecer que as atividades 
do nutricionista são de grande importância no tratamento dos TAs, indica que a 
educação e a intervenção nutricionais sejam integradas ao tratamento e destaca a 
importância do nutricionista na equipe multiprofissional. 
Estudos indicam que os programas de abordagens nutricionais aplicados e 
avaliados apresentaram bons resultados em vários centros de estudo. 
Em um primeiro momento, o atendimento clínico nutricional deve ser com o 
paciente e a família, posteriormente de forma individual. A realização da avaliação e 
seguimento nutricionais, cujas condutas devem estar em sintonia com as outras 
abordagens, é de responsabilidade do profissional nutricionista. Em um contexto de 
compreensão e respeito das dificuldades do paciente, o nutricionista, buscando 
melhor qualidade alimentar, negocia as possíveis mudanças em seus hábitos 
alimentares (BIGHETTI et al, 2007). 
O nutricionista dentro da equipe multidisciplinar ao tratar de pacientes com TAs 
é o único capacitado a propor mudanças no comportamento e consumo alimentar uma 
vez que estes aspectos estão profundamente alterados nos TAs. Estas mudanças 
dividem-se em duas etapas: educacional e experimental. 
17 
 
 
O tratamento nutricional deve ser conduzido com uma detalhada anamnese 
acerca dos hábitos alimentares do paciente e histórico da doença (ALVARENGA, 
2001). 
Avaliar medidas de peso, altura, restrições alimentares, relação com os 
alimentos e crenças nutricionais é de fundamental importância. 
A etapa educacional abrange conceitos de alimentação saudável, 
recomendações nutricionais, fontes dos nutrientes e consequências das purgações e 
restrições alimentares. 
A experimental é mais voltada para a relação que o paciente tem para com os 
alimentos e o seu corpo. Ajudar o paciente com TA a identificar os significados que a 
alimentação e o corpo possuem é de fundamental importância (ALVARENGA, 2001). 
A piora do estado nutricional dos pacientes com TAs é acarretada pelo fato dos 
mesmos possuírem inadequações profundas no consumo, padrão e comportamento 
alimentar, além de diversas crenças equivocadas sobre alimentação. O nutricionista 
ao realizar o tratamento nutricional visa reverter tais alterações promovendo hábitos 
alimentares saudáveis e melhorando a relação do paciente com o alimento. As 
características e objetivos do tratamento diferem para a AN e BN, no entanto, em 
ambas, as principais metas são o aumento do conhecimento nutricional, a 
regularização do hábito alimentar, maior reabilitação nutricional e mudanças mais 
profundas no comportamento alimentar (LATTERZA et al , 2004). 
De acordo com Ednos (2001), na terapia nutricional para TAs é de fundamental 
importância que o nutricionista trabalhe voltado para modificar os comportamentos 
relacionados ao peso e a alimentação. 
A realimentação deve ser feita de forma gradativa envolvendo diretamente o 
paciente e seus responsáveis. 
Os TAs na adolescência são considerados graves pois geram graves 
consequências no desenvolvimento e afetam o desenvolvimento dos adolescentes. 
Estudos nesta área tornam-se relevantes, especialmente quando percebemos 
que a população mais atingida são os adolescentes que necessitam de assistência 
para viverem com uma boa qualidade de vida. 
Torna-se necessário, ainda, a criação de mecanismos regulatórios para a 
veiculação de propagandas que utilizam recursos manipuladores para apelação de 
imagens esteticamente perfeitas. A participação dos profissionais de saúde dentre 
18 
 
 
eles, de modo especial, o nutricionista é de extrema importância para promoção de 
hábitos saudáveis, acabando com comportamentos inadequados. 
O comportamento alimentar se define como "respostas comportamentais ou 
sequenciais associadas ao ato de alimentar-se, maneira ou modos de se alimentar, 
padrões rítmicos da alimentação". Esse tipo de comportamento é influenciado por 
condições sociais, demográficas e culturais, pela percepção individual e dos 
alimentos, por experiências prévias e pelo estado nutricional. 
Entre tais fatores, o impacto sociocultural no padrão alimentar e no 
desenvolvimento de transtornos alimentares (TA) tem sido estudado mais 
frequentemente, avaliando-se os costumes familiarese as informações veiculadas 
pelos meios de comunicação em massa. 
A influência da mídia, fortalecida pela globalização e pela sociedade, foi 
descrita por Anschutz et al e Oliveira e Hutz, que enfatizam a contradição entre o apelo 
ao estilo de vida saudável ao mesmo tempo em que se enaltece o ideal de magreza 
e se incentiva o consumo de alimentos calóricos. 
O resultado dessas contradições é o desenvolvimento de TA, caracterizados 
pela preocupação exacerbada com o peso e a forma. Na busca por esse estereótipo, 
a perda de peso é induzida por métodos inadequados, como jejum e exercício físico 
intenso, e o ganho de massa muscular é estimulado por exercícios físicos excessivos, 
alimentação inadequada e uso de anabolizantes. 
Os TA estão relacionados às complicações clínicas que variam de acordo com 
as características do transtorno, podendo ocorrer déficit de crescimento, queilose, 
erosão dental, periodontites, hipertrofia das glândulas salivares, hipovolemia, 
desequilíbrio hidroeletrolítico e ganho de peso. 
Quando o começo do TA ocorre durante a adolescência, tais transtornos 
prejudicam as relações sociais e familiares, e a idealização suicida torna-se mais 
comum. O início da atividade sexual antes dos 16 anos também é mais frequente em 
adolescentes com TA. Além disso, jovens do sexo feminino com histórico de TA 
apresentam mais chances de aborto ou gravidez. 
Desse modo, o presente estudo procurou discutir as características e os fatores 
de risco associados aos TA em crianças e adolescentes. 
 
 
 
19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. FONTES DE DADOS 
 
A busca pelos artigos foi realizada nas bases de dados PubMed e SciELO, 
combinando-se os termos 'crianças' 'adolescentes', 'comportamento alimentar', 
'transtorno alimentar', 'bulimia' e 'anorexia', nos idiomas português e inglês. Foram 
considerados os artigos publicados entre 2007 e 2011, sendo selecionados 49 
20 
 
 
estudos que analisaram o desenvolvimento do comportamento alimentar e de seus 
transtornos, a anorexia nervosa (AN), a bulimia nervosa (BN) e os TA não 
especificados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7. DESENVOLVIMENTODO COMPORTAMENTOALIMENTAR E DESEUS 
TRANSTORNOS 
 
Compreender o comportamento alimentar requer o questionamento e a reflexão 
acerca da seguinte questão: "Quem come o quê, quando, onde, e por quê?". A 
21 
 
 
discussão advinda desta pergunta se fundamenta em questões de saúde e 
psicológicas, além daquelas que envolvem fatores socioeconômicos e marketing. 
Estudos têm mostrado a influência do ambiente familiar para determinar o 
comportamento de crianças e adolescentes e, consequentemente, o desenvolvimento 
de seus transtornos, pelos quais a criança ou o adolescente tem uma preocupação 
exagerada com o peso e a forma do corpo.Esta relação ficou evidente em um estudo 
multicêntrico europeu desenvolvido com 1.664 crianças e adolescentes. Esse estudo 
mostrou associação negativa entre a manutenção de uma alimentação saudável e o 
desenvolvimento posterior de TA, além de uma relação positiva entre controle 
excessivo, aplicação de regras alimentares rigorosas e individualização da 
alimentação com o surgimento dos TA. 
A individualização das refeições pelos membros da família com consumo de 
alimentos diferentes, em locais e horários distintos,pode ser resultado tanto do 
excesso de atividades dos adolescentes quanto da desordem alimentar no âmbito 
familiar. 
Esses achados estão de acordo com aqueles observados em um estudo com 
10.540 meninas pré-adolescentes. Neste estudo, o hábito de jantar com a família na 
maioria dos dias se associou negativamente ao início do uso de métodos purgativos, 
à compulsão alimentar e à realização de dietas. Ainda quanto ao ambiente familiar, 
pesquisa mostrou que houve maior internalização do ideal de beleza pela criança 
quando a mãe estimulou o emagrecimento. 
Os meios de comunicação em massa exercem forte influência sobre o 
comportamento alimentar tanto em crianças quanto em adolescentes. 
O papel da mídia, do ideal de beleza e da indústria da moda no 
desenvolvimento dos TA ainda não está claro. 
Nesse contexto, um estudo com 245 pré-adolescentes do sexo feminino 
mostrou relação positiva entre o hábito de assistir novelas e canais musicais e a 
restrição alimentar e insatisfação corporal, havendo relação negativa entre o hábito 
de assistir desenhos animados e a restrição alimentar. Também no âmbito da 
comunicação, uma pesquisa com 7.172 adolescentes encontrou associação entre o 
desejo de aparentar uma figura midiática do mesmo sexo com o início de métodos 
purgativos. 
Quanto aos adolescentes, as atitudes alimentares e os TA também estão 
associados à evolução do peso, ao bem-estar psicossocial promovido pelos 
22 
 
 
alimentos, ao forte apelo sociocultural de culto à magreza, ao grupo social ao qual se 
pertence aos fatores socioeconômicose psicológicos familiares. 
De modo geral, os TA são mais frequentemente encontrados no sexo feminino. 
Alguns fatores de risco para o desenvolvimento dos transtornos tornam-se mais 
presentes com o aumento no índice de massa corpórea (IMC), a exemplo da baixa 
autoestima, realização de dietas, déficits interceptivos, medo da maturidade e da 
insatisfação corporal. A preocupação com o peso, a realização de dietas e as 
provocações relacionadas ao peso, tanto quanto o transtorno obsessivo-compulsivo, 
também estão associados aos sintomas de TA. 
Recentemente, uma pesquisa com 53 mulheres com idades entre 14 e 44 anos, 
diagnosticadas com diabetes melito tipo I, mostrou existir uma relação entre essa 
doença e o desenvolvimento de transtornos como a AN e a BN. Os autores concluíram 
que mulheres diagnosticadas com diabetes melito do tipo I com idades de 7 a 18 anos 
estavam mais propícias a desenvolverem os TA. 
Fatores de risco para o desenvolvimento dos TA foram estudados em 652 
adolescentes do sexo feminino. Das adolescentes avaliadas, 25,2% encontravam-se 
em risco e 1,2% mostraram grande possibilidade de desenvolvimento de TA. A 
vontade de emagrecer estava prevalente em 44,5% das meninas e 50,5% delas 
almejavam um peso que as classificariam como abaixo do adequado segundo o IMC. 
Neste estudo, embora o desejo pelo emagrecimento tenha sido independente do nível 
socioeconômico, a prevalência de comportamentos de risco foi superior em indivíduos 
nos estratos mais elevados. 
 
7.1 Anorexia e Bulimia Nervosas 
 
Entre as doenças de etiologia desconhecida que se inter-relacionam estão a 
AN e a BN. Ambas são caracterizadas por padrões anormais de comportamento 
alimentar e controle do peso e por percepções alteradas sobre o próprio peso e corpo. 
Nestes TAs, a preocupação com a alimentação é comum. No estudo de Nunes 
e Vasconcelos, para sete adolescentes com AN e BN a comida remetia a algo 
negativo, como tortura, medo e obrigação. Ainda no mesmo estudo, o consumo 
alimentar foi marcado pela restrição de alimentos categorizados como 'besteiras', tais 
como chocolates e balas, e pelo aumento na ingestão de vegetais e refrigerantes. 
23 
 
 
Caracteriza-se como TA do tipo anorexia o desejo pela magreza, que leva ao 
comportamento alimentar monótono e ritualizadoe à perda de peso significante, 
especialmente em crianças ou adolescentes nos quais a baixa ingestão calórica se 
reflete em atraso no desenvolvimento. 
Os critérios para diagnosticar a anorexia definidos no Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais - IV (DETM-IV) incluem: amenorreia, peso abaixo 
de 85% do mínimo esperado para a idade e altura, distúrbios no reconhecimento do 
próprio peso e medo intenso de ganhar peso. 
A AN restritiva limita a ingestão energética e o consumo de carboidratos e 
lipídios, enquanto no tipo purgativo ocorrem episódios frequentes de compulsão 
alimentar e purgação. 
Os métodos purgativos utilizados são o uso de laxantes, diuréticos e enemas e 
a indução do vômito. 
O estado psicológico nesta condição clínica foi estudado em uma amostra 
representativa de adolescentes dos Estados Unidos da América. Os autores 
concluíram não haver relação entre a AN e as comorbidades mentais, com exceção 
do 'transtorno desafiador opositivo'. Uma vez que as comorbidades mentais são 
altamente prevalentes em adultos anoréxicos, o estudo sugeriu que a ocorrência dos 
TA na adolescência pode ser um fator causal de tais comorbidades da idade adulta. 
Ainda no mesmo estudo, os autores encontraram relação significante entre a BN e a 
depressão, o transtorno bipolar e as desordens relacionadas à ansiedade, como 
fobias sociais e estresse pós-traumático, além de transtornos comportamentais, como 
hiperatividade, déficit de atenção e transtornos de conduta. 
A relação entre anorexia e bulimia tem sido relatada na literatura. Estudo 
prospectivo com 2.881 adolescentes mostrou que o diagnóstico prévio de AN e BN 
esteve presente em 24% dos pacientes com BN subclínica e em 31% daqueles com 
BN clínica. 
O bulímico também sente um grande medo de ganhar pesoe frequentemente 
tem uma visão distorcida do próprio corpo. Esses indivíduos também tendem a 
restringir sua ingestão alimentar, porém, após certo tempo seguindo uma dieta 
restritiva, perdem o controle e têm episódios de compulsão alimentar. Após a 
compulsão, o bulímico procura compensar a alta ingestão calórica. 
A BN pode ser classificada de acordo com o método compensatório adotado 
em purgativa ou não purgativa. 
24 
 
 
O subtipo não purgativo é marcado pela prática de atividade física intensa ou 
por jejuns; já o purgativo, mais prevalente no estudo de Keski-Rahkonen et al, 
caracteriza-se pela indução do vômito ou pelo abuso de laxantes e diuréticos. 
De acordo com o DETM-IV, para que o indivíduo seja diagnosticado com BN 
deve apresentar episódios de compulsão e compensação duas vezes por semana por 
no mínimo três meses. 
A BN foi encontrada com maior frequência na faixa etária de 16 a 20 anos. Os 
autores destacaram que devido à semelhança entre o IMC de bulímicas e não 
bulímicas e à manutenção do peso, o indivíduo pode esconder o transtorno durante 
vários anos. 
O uso de substâncias que causam vício também é relevante em adolescentes 
com TA. Estudo prospectivo com 999 adolescentes concluiu que aqueles com casos 
ainda subclínicas de AN e BN tinham chances duas vezes maiores de chegarem à 
idade adulta dependendo de nicotina, com desordens relacionadas ao consumo de 
álcool ou usando anfetaminas. Outra investigação encontrou relação positiva entre o 
uso de substâncias que causam vício durante a adolescência em casos clínicos de 
BN. 
Ainda, outro estudo observou uma relação fraca, mas positiva, entre consumo 
de álcool e tabagismo com prática de dietas, compulsão alimentar e comportamentos 
extremos para a perda de peso. 
Mesmo que ambas as doenças em geral tenham início durante a adolescência, 
para alguns autores a anorexia pode ser encontrada a partir dos sete anos de idade. 
Os mesmos destacam que, na infância, a AN pode prejudicar ou até 
interromper o desenvolvimento físico e que a incidência no sexo masculino pode ser 
maior antes da puberdade. Por outro lado, a BN é rara antes da adolescência. 
A incidência da AN e da BN na infância é desconhecida devido à tendênciade 
agrupar crianças e adolescentes. Na adolescência, um estudo constatou prevalência 
de 0,3% para AN e de 0,9% para BN, com início, em média, com 12,3 e 12,4 anos, 
respectivamente. Ainda que aparentemente estas prevalências sejam baixas, deve-
se destacar que tais valores podem ser subestimados devido à recusa de indivíduos 
com transtornos em participar de pesquisas. 
No Brasil, poucos são os estudos que determinam prevalências de TA em 
crianças e adolescentes. Em 2008, um trabalho realizado em Florianópolis com 1.219 
adolescentes do sexo feminino de 10 a 19 anos mostrou uma prevalência de AN de 
25 
 
 
15,6% e de insatisfação corporal de 18,8%. Nesse estudo, a presença de AN teve 
relação significante com a insatisfação corporal, sobrepeso, obesidade, com aqueles 
que estudavam na rede pública de ensino e com a faixa etária de 10 a 13 anos. 
Também na mesma cidade, estudo com 258 adolescentes do sexo feminino mostrou 
prevalência de insatisfação corporal de 25,3% e de sintomas de BN e AN de 27,6%. 
 
7.2 Transtornos Alimentares não Especificados 
 
TA não especificados (TANE) são aqueles clinicamente relevantes que não 
preenchem os critérios de classificação para AN ou BN. Ainda que sua prevalência 
seja mais elevada do que a de AN ou BN, o conhecimento sobre prevalências, fatores 
de risco, correlações clínicas e tratamento de tais transtornos é limitado. 
Entre os TANE têm-se AN e BN subclínicas, compulsão alimentar (clínica ou 
subclínica), purgação (clínica ou subclínica), entre outros, incluindo os TANE que não 
se enquadram nos subtipos descritos. 
A frequência de TANE em uma amostra de 281 adolescentes encaminhados 
para o tratamento de TA foi de 59,1%, o que mostra a importância clínica e 
epidemiológica desses transtornos. Neste estudo, 16,4% dos adolescentes foram 
diagnosticados com transtornos purgativos; 16,4%, AN subclínica; 11,7%, BN 
subclínica; e 2,1%, compulsão alimentar. Outros tipos de TANE tiveram prevalência 
de 11%, com casos de purgação, prática exacerbada de exercícios e jejuns de 24 
horas. Na presente amostra, dos pacientes com AN subclínica 67,4% não foram 
diagnosticados devido à ausência de amenorreia, e o restante porque estavam com o 
peso entre 86 e 90% abaixo do mínimo ideal para a idade e a altura. Em relação à BN 
subclínica, 73,5% dos pacientes não completaram os critérios devido à menor 
frequência dos episódios de compulsão alimentar. 
A compulsão alimentar é um TANE que se caracteriza pela ingestão de uma 
quantidade de alimentos maior que a maioria das pessoas ingeriria em um pequeno 
intervalo de tempo, ao menos duas vezes por semana, por seis meses seguidos, 
acompanhado do sentimento de falta de autocontrole. Durante esses episódios, os 
indivíduos sentem uma perda do controle sobre o quê ou o quanto comem e, ao final, 
sentem-se culpados e depressivos. Diferentemente da BN, na compulsão alimentar o 
indivíduo não utiliza métodos para compensar a quantidade exagerada de alimentos 
26 
 
 
ingeridos. Embora muitas vezes não completem os critérios de diagnóstico definidos 
para adultos, a compulsão alimentar é comum em crianças, em especial nas obesas. 
Casos subclínicos de tal transtorno também podem ocorrer, nos quais o 
sentimento de falta de autocontrole está presente na ausência de um consumo 
exagerado. 
Em estudo realizado com adolescentes, a prevalência de casos clínicos de 
compulsão alimentar foi de 1,6% e subclínicos, 2,5%. Em ambos, a idade mediana do 
surgimento dos primeiros sintomas foi 12,6 anos. 
O estresse psicológico pode estar associado ao desenvolvimento de 
compulsão alimentar. 
O afeto negativo e as provocações baseadas no peso foram associados a esse 
transtorno em um estudo com 265 irmãs gêmeas. Os autores sugeriram que 'as 
provocações' fossem as causas do afeto negativo e que este estresse daria início à 
cadeia de eventos que leva à compulsão. 
De acordo com o estudo realizado por Allen et al, restrição alimentar, baixa 
autoestima, depressão e preocupação com o peso, o corpo e a comida são mais 
prevalentes em crianças com compulsão alimentar. 
A relação entre esses sintomas e a compulsão alimentar está diretamente 
relacionada à gravidade do transtorno alimentar, dado observado em estudo com 350 
crianças e adolescentes com sobrepeso. 
Sendo a perda de controle uma das principais características dos TANE, 
algumas investigações abordaram exclusivamente esse aspecto. O estudo realizado 
com 120 crianças, com e sem perda de controle sobre a alimentação, mostrou que 
aquelas com baixo controle sobre a alimentação eram mais impulsivas e 
apresentavam menor auto-orientação, baixo cooperativismo e maior procura por 
novidades. 
O consumo alimentar desses indivíduos também tem despertado o interesse 
de alguns autores. Ao comparar 59 crianças compulsivas com um grupo controle, 
observou-se que o consumo de lipídios e carboidratos foi maior durante os episódios 
de compulsão do que durante as refeições normais do grupo controle. 
Em estudo realizado com 249 crianças e adolescentes, notou-se um aumento 
apenas no consumo de carboidratos, com maior consumo de lanches e sobremesas. 
27 
 
 
Avaliando 259 crianças, pesquisadores também verificaram que nos TANE há 
uma relação entre o consumo alimentar e o humor, ou seja, foi comum utilizar a 
ingestão alimentar para regular o humor. 
Entretanto, outro estudo com 46 meninas de 6 a 12 anos com sobrepeso não 
mostrou relação entre consumo e compulsão alimentar e entre consumo e humor após 
o controle das variáveis de acordo com o IMC. Para outros pesquisadores, a perda de 
controle não foi precedida de emoções negativas e não foram observados estados 
negativos de humor após o episódio compulsivo. 
O transtorno purgativo é um TA pouco estudado. Nele, o indivíduo utiliza 
métodos purgativos, como o vômito e o uso de laxativos e diuréticos, sem que a 
compulsão alimentar necessariamente preceda a purgação. Nos casos clínicos, os 
episódios ocorrem em média duas vezes por semana durante três meses. Nos casos 
subclínicos, o critério de frequência e duração não é atendido 
Grande atenção também tem sido dada aos casos subclínicos de AN e bulimia, 
pois, além de serem mais prevalentes do que os transtornos específicos, estudos 
mostram que, ainda que não preencham os critérios para o diagnóstico do transtorno 
específico ou não tenham um quadro persistente, esses pacientes são caracterizados 
pelos mesmos marcadores de gravidade do que os casos clínicos de AN e BN. 
Um sumário comparativo dos estudos analisados com seus principais achados 
em relação às características do transtorno e ao comportamento alimentar em 
crianças e adolescentes identificou uma semelhança entre idade, causa do transtorno 
e suas consequências. 
Foram encontrados poucos trabalhos nacionais sobre TA na presente 
pesquisa. Considerando a importância do ambiente social no desenvolvimento dos TA 
e as especificidades socioculturais nacionais, os fatores de risco encontrados nos 
trabalhos discutidos podem não se aplicar à realidade brasileira. Da mesma forma, os 
estudos que abordavam os TANE, sejam eles nacionais ou internacionais, foram 
raros, o que pode ter limitado a discussão em torno do tema. 
 
Dentre os fatores de risco para os TA, destacaram-se a mídia e os ambientes 
social e familiar. A influência da mídia e do ambiente social foi associada, 
principalmente, ao culto à magreza. Já no âmbito familiar, o momento das refeições 
mostrou-se fundamental na determinação do comportamento alimentar e no 
desenvolvimento de seus transtornos. 
28 
 
 
Os TA se associaram a problemas nutricionais (déficit no crescimento e ganho 
de peso), à saúde bucal (queilose, erosão dental, periodontites e hipertrofia das 
glândulas salivares) e aos prejuízos sociais. 
Os transtornos alimentares geralmente apresentam as suas primeiras 
manifestações na infância e na adolescência. De uma maneirageral, podemos dividir 
as alterações do comportamento alimentar neste período em dois grupos. 
Primeiramente, aqueles transtornos que ocorrem precocemente na infância e 
que representam alterações da relação da criança com a alimentação. Estas 
condições parecem não estar associadas a uma preocupação excessiva com o peso 
e/ou a forma corporal, mas podem interferir com o desenvolvimento infantil. Aqui 
encontramos o transtorno da alimentação da primeira infância, a pica e o transtorno 
de ruminação. 
O segundo grupo de transtornos tem o seu aparecimento mais tardio e é 
constituído pelos transtornos alimentares propriamente ditos: a anorexia nervosa e a 
bulimia nervosa. De especial interesse para os profissionais envolvidos com o 
atendimento de crianças e adolescentes são as chamadas síndromes parciais de 
anorexia e de bulimia nervosa e a categoria diagnóstica recentemente descrita 
denominada transtorno da compulsão alimentar periódica. 
 
 
7.3 Transtorno da Alimentação da Primeira Infância 
 
É uma dificuldade em se alimentar adequadamente levando a uma perda 
ponderal ou a uma falha em ganhar peso de forma apropriada, iniciando-se antes da 
idade de seis anos. Os sintomas parecem não ser devidos a nenhuma condição 
médica geral, a um outro transtorno psiquiátrico ou à falta de alimentos. O objetivo 
principal do tratamento é a melhora do estado nutricional do paciente. Deve-se 
proceder uma avaliação dos pais e de fatores psicossociais que estejam contribuindo 
para o desenvolvimento e a manutenção do problema. 
 
7.4 Pica 
 
29 
 
 
É a ingestão persistente de substâncias não nutritivas, inadequadas para o 
desenvolvimento infantil e que não fazem parte de uma prática aceita culturalmente. 
As substâncias mais freqüentemente consumidas são: terra, barro, cabelo, alimentos 
crus, cinzas de cigarro e fezes de animais. Atrasos no desenvolvimento, retardo 
mental e história familiar de pica são condições que podem estar associadas. Várias 
complicações clínicas podem ocorrer, principalmente relacionadas com o sistema 
digestivo e com intoxicações ocasionais, dependendo do agente ingerido. 
 
7.5 Transtorno de ruminação 
 
Inclui episódios de regurgitação (ou "remastigação”) repetidos que não podem 
ser explicados por nenhuma condição médica. As principais complicações médicas 
podem ser desnutrição, perda de peso, alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, 
desidratação e morte. O tratamento envolve o acompanhamento clínico das 
complicações e tratamento comportamental.5 
 
7.6 Anorexia nervosa (AN) 
 
Várias alterações do apetite e perturbações da imagem corporal podem ocorrer 
nas crianças em idade escolar, embora os quadros mais típicos de transtornos 
alimentares sejam mais raros. Apesar de cerca de 45% das crianças de ambos os 
sexos em idade escolar quererem ser mais magras e 37% tentarem perder 
peso, somente uma pequena proporção delas desenvolvem um transtorno alimentar. 
Vale ressaltar, no entanto, que alguns traços presentes na idade escolar são 
considerados fatores de risco para o surgimento dos transtornos alimentares na 
adolescência, alertando o profissional de saúde que atende crianças para reconhecer 
e investigar estes traços ainda insipientes. 
A AN ocorre predominantemente em mulheres jovens, com uma prevalência 
pontual de 0,28% e taxas de prevalência ao longo da vida oscilando entre 0,3% e 
3,7%.6 Existem dois picos de incidência: aos 14 e aos 17 anos. 
Evidências sugerem que fatores psicossociais desempenham um importante 
papel na distribuição dos transtornos alimentares. A influência da "cultura do corpo" e 
30 
 
 
da pressão para a magreza que as mulheres sofrem nas sociedades ocidentais 
(especialmente as adolescentes) parece estar associada com o desencadeamento de 
comportamentos anoréticos. Determinadas profissões que exigem leveza para melhor 
desempenho (como ginastas, jockeis, patinadoras, bailarinas) ou esbeltez para 
"comercialização" da imagem (modelos, atrizes) se encontram em risco aumentado 
para o desenvolvimento do transtorno. 
O modelo etiológico mais aceito atualmente para explicar a gênese e a 
manutenção dos transtornos alimentares é o modelo multifatorial que se baseiana 
hipótese de que vários fatores biológicos, psicológicos e sociais estejam envolvidos, 
inter-relacionando-se. 
Na sua forma típica, a AN se inicia geralmente na infância ou na adolescência. 
O início é marcado por uma restrição dietética progressiva com a eliminação de 
alimentos considerados "engordantes", como os carboidratos. As pacientes passam a 
apresentar certa insatisfação com os seus corpos assim como passam a se sentir 
obesas apesar de muitas vezes se encontrarem até emaciadas (alteração da imagem 
corporal). O medo de engordar é uma característica essencial, servindo muitas vezes 
como um diferencial para outros tipos de anorexia secundárias a doenças clínicas ou 
psiquiátricas. Gradativamente, as pacientes passam a viver exclusivamente em 
função da dieta, da comida, do peso e da forma corporal, restringindo seu campo de 
interesses e levando ao gradativo isolamento social. O curso da doença é 
caracterizado por uma perda de peso progressiva e continuada. O padrão alimentar 
vai se tornando cada vez mais secreto e muitas vezes até assumindo características 
ritualizadas e bizarras. 
Segundo o sistema classificatório da última edição do Diagnostic and Statistical 
Manual of Mental Disorders (DSM-IV2), existem dois tipos de apresentação clínica da 
doença: no primeiro, as pacientes apenas empregam comportamentos restritivos 
associados à dieta ("tipo restritivo"); no outro grupo ("tipo purgativo") ocorrem 
episódios de compulsão alimentar e/ou comportamentos mais perigosos, como os 
vômitos auto-induzidos, o abuso de laxativos e de diuréticos. 
A classificação dos transtornos mentais e do comportamento da Classificação 
Internacional de Doenças ¾ 10ª Edição (CID-103) já não distingue tipos de anorexia 
e, portanto, pacientes anoréticas que apresentam episódios bulímicos podem receber 
os dois diagnósticos: anorexia e bulimia. 
31 
 
 
A prática de exercícios físicos é freqüente, sendo que as pacientes chegam a 
realizar exercícios físicos extenuantes com o objetivo de queimar calorias e perder 
peso. Há uma ausência completa de inquietação com sua condição física com 
negação dos riscos. 
Várias complicações médicas podem surgir em decorrência da desnutrição e 
dos comportamentos purgativos, tais como anemia, alterações endócrinas, 
osteoporose e alterações hidroeletrolíticas (especialmente hipocalemia, que pode 
levar a arritmia cardíaca e morte súbita), dentre outras. A associação dos transtornos 
alimentares com outros quadros psiquiátricos é bastante freqüente, especialmente 
com transtornos do humor, transtornos de ansiedade e/ou transtorno de 
personalidade, mesclando os seus sintomas com os da condição básica e 
complicando a evolução clínica. 
O diagnóstico diferencial deve ser feito tanto com doenças físicas como 
psiquiátricas que podem cursar com anorexia e emagrecimento. No entanto, quando 
a causa da anorexia e do emagrecimento é uma doença clínica, a pessoa não 
apresenta as alterações da imagem corporal e o medo de ganhar peso presentes nas 
pacientes com AN. 
Outro diagnóstico diferencial importante e por vezes difícil é com a BN, 
comentado mais adiante. 
A AN de início precoce parece ser o transtorno alimentar mais comum na 
infância. A anorexia pode ter início a partir dos 7 anos de idade e preferencialmente 
em meninas, embora em crianças a prevalência entre meninos parece ser maior do 
que entre adultos jovens. 
Formas mais precoces de transtornos alimentares apresentam uma associação 
importante com comportamento obsessivo (incluindo extrema preocupação com a 
escola) e com sintomas depressivos. 
 As mais freqüentes razões dadas para a recusa alimentar, além do medo de 
engordar ou do desejo de emagrecer,costumam ser: náuseas, dor abdominal, 
sensação de plenitude, perda de apetite ou incapacidade para engolir. 
Quando manifestam claramente sua intenção de controlar a alimentação, 
meninas referem preocupações estéticas, enquanto meninos relatam mais 
preocupação com saúde e condicionamento físico. Apesar das crianças se utilizarem 
menos de métodos purgativos (vômitos e laxativos), elas se exercitam bastante para 
controlar o peso através de esportes ou subindo escadas e fazendo abdominais. 
32 
 
 
Embora nesta faixa etária a perda de peso não seja essencial para o 
diagnóstico, podendo haver apenas redução no ganho de peso esperado para o 
crescimento, a perda de peso pode ser rápida e dramática em virtude dos baixos 
níveis de gordura corporal total em crianças. Nos casos de AN pode haver um 
importante retardo no desenvolvimento, expondo ao risco de osteopenia, osteoporose 
e baixa estatura. 
A AN pode se instalar de forma aguda (com sintomas obsessivo-compulsivos), 
podendo existir uma associação com transtornos neuropsiquiátricos auto-imunes 
desencadeados por infecções estreptocócicas na infância. 
Devido a sua etiologia multifatorial, a AN é considerada uma condição de difícil 
tratamento. A integração das abordagens médica, psicológica e nutricional é a base 
da terapêutica. A constituição de uma equipe multiprofissional é fundamental para o 
sucesso terapêutico e os profissionais envolvidos devem trabalhar de forma integrada. 
A internação hospitalar deve ser considerada para as pacientes com peso 
corporal abaixo de 75% do mínimo ideal, quando estão perdendo peso rapidamente 
ou quando se faz necessária uma monitorização adequada das suas condições 
clínicas. O tratamento ambulatorial deve ser indicado quando a paciente tem um bom 
suporte social, não está perdendo peso rapidamente, encontra-se metabolicamente 
estável e não apresenta os critérios de gravidade descritos acima e que indicam a 
necessidade de uma internação hospitalar. 
Apesar de não existir um agente farmacológico específico para a AN, vários 
medicamentos têm se mostrado úteis. 
O uso de antidepressivos ou ansiolíticos pode ser adequado em pacientes que 
desenvolvem uma comorbidade psiquiátrica associada. O emprego destas 
substâncias em pacientes com AN deve ser cauteloso, tendo em vista as freqüentes 
anormalidades clínicas associadas. 
Os agentes inibidores da recaptação da serotonina (ISRS) parecem mais 
seguros. Existem evidências de que a fluoxetina poderia auxiliar na manutenção do 
peso pós-internação em alguns pacientes. A psicoterapia em suas diversas 
modalidades (cognitivo-comportamental, interpessoal e a terapia de família) ainda é 
um dos pilares centrais do tratamento. 
33 
 
 
 
7.7 Bulimia nervosa (BN) 
 
A BN é extremamente rara antes dos 12 anos. O transtorno é característico das 
mulheres jovens e adolescentes, com prevalência de 1,1% a 4,2% neste 
grupo.6 Fatores de ordem biopsicossocial se encontram relacionados com sua 
etiologia.19 O episódio de compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma surgir 
no decorrer de uma dieta para emagrecer. 
No início, pode se achar relacionado à fome, mas posteriormente, quando o 
ciclo compulsão alimentar-purgação já está instalado, ocorre em todo tipo de situação 
que gera sentimentos negativos (frustração, tristeza, ansiedade, tédio, solidão). Inclui 
um aspecto comportamental objetivo que seria comer uma quantidade de comida 
considerada exagerada se comparada ao que uma pessoa comeria em condições 
normais; e um componente subjetivo que é a sensação de total falta de controle sobre 
o seu próprio comportamento. Estes episódios ocorrem às escondidas na grande 
maioria das vezes e são acompanhados de sentimentos de intensa vergonha, culpa e 
desejos de autopunição. A quantidade de calorias ingerida por episódio pode variar 
enormemente, muito embora em média oscile entre 2 mil e 5 mil calorias. 
O vômito auto-induzido ocorre em cerca de 90% dos casos, sendo, portanto, o 
principal método compensatório utilizado. O efeito imediato provocado pelo vômito é 
o alívio do desconforto físico secundário à hiperalimentação e principalmente a 
redução do medo de ganhar peso. 
A sua freqüência é variável, podendo ser de um até 10 ou mais episódios por 
dia, nos casos mais graves. No começo, a paciente necessita de manobras para 
induzir o vômito, como a introdução do dedo ou algum objeto na garganta. Algumas 
bulímicas mais graves, com vários episódios de vômitos por dia, podem apresentar 
até ulcerações no dorso da mão pelo uso da mesma para induzir a emese, o que se 
chama de sinal de Russell. Com a evolução do transtorno, a paciente aprende a 
vomitar sem necessitar mais de estimulação mecânica. 
Outros mecanismos utilizados pelas bulímicas para controle do peso após uma 
ingestão exagerada são: o uso inadequado (sem prescrição médica) de 
medicamentos do tipo laxativo, de diuréticos, de hormônios tireoidianos, de agentes 
anorexígenos e de enemas. Jejuns prolongados e exercícios físicos exagerados são 
34 
 
 
também formas de controle do peso, mas geralmente geram menos complicações 
clínicas do que as técnicas purgativas descritas acima. 
Na BN, a paciente mantém uma preocupação excessiva com a forma e o peso 
corporal. A classificação do DSM-IV2 distingue dois tipos de pacientes com bulimia 
conforme a utilização de métodos compensatórios mais invasivos (vômitos, laxantes, 
diuréticos, outras drogas) ¾ "tipo purgativo" ¾ ou não (só dieta, jejuns e exercícios), 
classificado no "tipo não-purgativo". 
A CID-103 apresenta critérios diagnósticos muito próximos aos do DSM-
IV,2 ressaltando, entretanto, a possibilidade de negligência do tratamento insulínico 
em diabéticos como uma apresentação especial do quadro, assim como a possível 
ocorrência de um episódio prévio de AN que evoluiu para bulimia. 
As complicações clínicas são decorrentes principalmente das manobras 
compensatórias para perda de peso: erosão dos dentes, alargamento das parótidas, 
esofagites, hipopotassemia e alterações cardiovasculares, dentre outras. Como na 
AN, parece haver uma ocorrência aumentada de transtornos do humor e de 
transtornos de ansiedade em pacientes com BN. Assim, um grande número de 
pacientes com BN (46% a 89%) evidencia um transtorno depressivo associado em 
algum momento de sua evolução clínica. Particular atenção deve ser dada a 
ocorrência de transtornos de personalidade e de abuso de substâncias no diagnóstico 
das pacientes com BN. 
O abuso de álcool e de psicoestimulantes são descritos, mas também podemos 
encontrar o abuso múltiplo de substâncias. 
A bulimia é um diagnóstico diferencial da AN. Diferente da AN do tipo purgativo, 
na BN as pacientes conseguem manter o peso dentro do limiar de normalidade na 
maioria dos casos (cerca de 70%) ou, discretamente abaixo deste (15%), sendo que 
as pacientes restantes podem estar até acima do peso (15%). 
Como na AN, o tratamento da BN deve ser conduzido por uma equipe 
multiprofissional. A necessidade de internação hospitalar nos casos de BN está 
relacionada com a presença de complicações médico-psiquiátricas, de ciclos 
incoercíveis de compulsão alimentar-vômitos, de abuso de laxativos e/ou outras 
drogas e de outros comportamentos de risco. 
Na maioria das vezes, entretanto, o tratamento da BN é extra-hospitalar, 
devendo-se tentar um período inicial de abordagens como a psicoterapia cognitivo-
35 
 
 
comportamental, o aconselhamento nutricional e o uso de psicofármacos, o que pode 
conduzir a uma melhora das pacientes. 
Os estudos utilizando a fluoxetina no controle dos episódios de compulsão 
alimentar têm gerado um grande entusiasmo em relação à eficácia destes agentes no 
tratamento da BN, muito embora pareça improvável que todos os pacientes possam 
permanecer totalmente livres dos episódios de compulsão alimentar. A fluoxetina 
parece indicada em doses mais altas na BN (60 mgpor dia em adultos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8. SÍNDROMES ATÍPICAS OU PARCIAIS DE AN E DE BN 
 
Cerca de 1/3 dos pacientes que procuram tratamento apresentam um conjunto 
de sintomas difícil de classificar como um transtorno alimentar "típico”, também 
chamados de síndromes parciais, AN e BN atípicas (CID-103) ou transtorno alimentar 
não especificado (DSM-IV2). 
Podemos dividir esta categoria em dois grupos. No primeiro, encontram-se 
aqueles quadros clínicos que se assemelham a AN e a BN, mas que não preenchem 
totalmente os seus critérios, ou porque lhes falta um aspecto clínico essencial (por 
exemplo, pacientes que apresentam todos os outros critérios para AN, mas ainda não 
apresentam peso abaixo do limiar diagnóstico, ou que não apresentam a freqüência 
de episódios de compulsão alimentar necessária para o diagnóstico de BN), ou porque 
36 
 
 
não são suficientemente graves para atingir o limiar diagnóstico. Estes quadros 
parciais chegam a ser cinco vezes mais freqüentes que as síndromes completas, e 
autores como Dancyger e Garfinkel (1995), acompanhando quadros parciais, 
observaram que aproximadamente 50% evoluem para quadros completos, sendo 
importante, portanto seu diagnóstico precoce. 
 
8.1 O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) 
 
Os pacientes com o transtorno apresentam os episódios de compulsão 
alimentar, mas não utilizam as medidas extremas para evitar o ganho de peso como 
pessoas com BN. 
A maioria dos pacientes com o transtorno é obesa. A sua prevalência na 
população em geral é em torno de 2%. 
Pessoas com TCAP diferem das obesas sem TCAP no que se refere à 
gravidade da psicopatologia, ao início mais precoce da obesidade, à maior gravidade 
da obesidade e à má resposta aos regimes de tratamento, podendo estar associado 
a obesidade em adolescentes. 
Berkowitz et al relataram que 30% de um grupo de adolescentes obesas que 
procurou tratamento para emagrecer apresentava compulsão alimentar. 
O tratamento do TCAP deve envolver uma orientação dietética adequada com 
refeições regulares, psicoterapia cognitivo-comportamental, o uso de inibidores 
seletivos da recaptação de serotonina ¾ ISRS (fluoxetina, fluvoxamina e sertralina) 
ou o uso de agentes que se encontram em fase inicial de avaliação como a 
sibutramina e o topiramato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
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