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Fonética e Fonologia – PORTUGUÊS / LIBRAS 
Professor(a) Me Paula de Freitas 
Denari 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
1 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. A Linguagem 
 
Objetivo: 
Refletir sobre o conceito de linguagem e signo linguístico 
Introdução: 
Desde que a humanidade percebeu as circunstâncias inerentes à vida em sociedade, 
viu-se diante da necessidade de comunicar aquilo que sente, pensa, observa, registra e 
interpreta do mundo. Todo esse processo de compartilhamento é bastante complexo, e por 
isso o homem criou (e ainda cria) formas dinâmicas de representar sua realidade, 
estabelecendo signos capazes de explicar e sintetizar suas ideias. O conjunto desses 
signos, chama-se LINGUAGEM. 
 
 A criatividade humana estabeleceu então, como já foi dito, linguagens muito 
dinâmicas para comunicar-se, valendo-se de diferentes signos: a imagem, o movimento, o 
desenho, a cor e o ritmo, por exemplo; No entanto, a linguagem que se utiliza da palavra 
como signo é de fato, a mais precisa. É através da palavra que o homem consegue 
expressar por exemplo, a temporalidade de fatos, a especificidade de características, 
sentimentalidades e dilemas. 
 
 Desse modo, é importante a observação de dois tipos de signo: signo não-verbal e 
signo verbal, sendo o primeiro baseado em representações de cores, gestos, movimentos, 
imagens e traços; e o segundo, baseado na palavra. 
 
 Considerando que a comunicação é um fenômeno social, portanto, é natural que as 
sociedades tenham organizado códigos próprios em que as palavras correspondem a 
valores e ideias de sua própria cultura. A esse código que utiliza palavras segundo uma 
determinada lógica e cultura, chamamos LÍNGUA. 
 
Linguagem, portanto, é todo sistema de sinais 
convencionais que nos permite realizar atos de 
comunicação. Língua é o conjunto de sinais baseado em 
palavras. (Ernani e Nicola, 1997). 
 
 
 
 
 
2 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1.2. O ESTUDO DA LÍNGUA 
O estudo de uma língua - entendida aqui como um código sistematizado de palavras, 
organizado segundo as características de um grupo de falantes e utilizado para 
comunicação (vide idioma) – cabe à Gramática Normativa, que se preocupa com a 
representação padrão de uma comunidade, tomando a palavra como objeto de estudo em 
três aspectos: o sintático, o morfológico e o sonoro. 
Este último aspecto (sonoro) é o assunto dessa aula. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONOLOGIA E FONÉTICA 
 A Gramática Normativa estabelece uma área específica para o estudo do aspecto 
sonoro das palavras: a FONOLOGIA. 
 
 
 
 
 
 
 
 FONOLOGIA uma área de estudo que abrange desde a identidade do som até a 
interpretação da substância de um fonema. Essa área, no entanto, surgiu apenas no início 
do século XX, e baseou-se em estudos anteriores, puramente descritivos, sobre a produção 
e a articulação dos sons da fala: a FONÉTICA. 
 
 
3 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Os estudos fonológicos também incorporaram teorias de linguistas do Círculo de 
Praga (1928- 1939) como Nicolai Trubetzkoy e Roman Jakobson (Rússia); de Ferdinand 
de Saussure (Suiça), André Martinet (França) e Émile Benveniste (nascido na Síria). 
 
 A maior parte da literatura que trata de Fonética 
e Fonologia vem tentando fazer uma distinção entre elas 
que não tem convencido aqueles que se aventuram 
nessas áreas. Primeiramente, deve-se dizer que tanto a 
Fonética quanto a Fonologia têm como objeto de estudo 
os sons da fala. Ou melhor dizendo, tanto a fonética 
quanto a fonologia investigam como os seres humanos 
produzem e ouvem os sons da fala. Em segundo lugar, 
deve-se observar que é difícil, senão impossível, fazer 
fonologia sem antes entender de (ou fazer) fonética. É 
preciso, então, conhecer um pouco mais sobre o status 
de cada uma dessas subáreas, sem tentar fazer uma 
distinção simplista de suas funções ou modos de ação. 
(SEARA,2011) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Círculo de Praga foi 
um grupo de críticos literários e 
linguistas estabelecidos na 
cidade de Praga. Seus 
membros desenvolveram 
métodos de estudos 
semióticos e de análise 
estruturalista entre os 
anos 1928 e 1939. Depois da 
segunda Grande Guerra 
 
 
4 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O objeto de estudo da fonologia, portanto, é a produção oral da palavra, que por sua 
vez é a combinação de unidades sonoras que estabelecem, juntas, um significado. 
 Cada unidade mínima de som formador das palavras é chamada de FONEMA. 
 
 
 
 
 
 
 
 Cabe frisar que o fonema não é qualquer som isolado e aleatório. Para ganhar status 
de fonema, em nosso estudo, é preciso que esse som estabeleça distinções significativas 
entre palavras. Observe: 
 
 
 
 
 
 
 
 
As palavras que nomeiam os objetos – COLA, BOLA, MOLA- estabelecem-se e 
diferenciam-se por apenas um som; esses sons distintivos são considerados fonemas. 
 
Fonemas e sua representação 
 
 Para representar os fonemas de uma palavra, utilizam-se tradicionalmente barras 
inclinadas, e símbolos especiais (assunto de outra aula) ao que chamamos de transcrição 
fonética. Para exemplo inicial, observe o procedimento com o uso das barras: 
 
COLA /KOLA/ percebemos aqui os fonemas /K/, /O/, /L/, /A/ 
 
 
 
 
5 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A CLASSIFICAÇÃO DOS FONEMAS 
 
 Os sons que utilizamos para a fala podem ser produzidos de maneiras diferentes, 
mas sempre a partir da corrente de ar emitida pelos pulmões. 
 Os sons que são produzidos pela livre passagem de ar pela boca ou pelo nariz são 
chamados de VOGAIS. 
 
 
 
 
 
 
 
Já os sons produzidos com algum obstáculo (total ou parcial) à passagem de ar são 
chamados CONSOANTES. 
 
 
 Esses obstáculos acontecem pela articulação de dentes, úvula, alvéolos, palato (céu 
da boca), língua e lábios. 
 
 
6 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs ; YEHIA, Hani Camille . Sonoridade em Artes, Saúde 
e Tecnologia. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2009. Disponível em 
fonologia.org. ISBN 978-85-7758-135-1. 
 
CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs ; YEHIA, Hani Camille . Sonoridade em Artes, Saúde 
e Tecnologia. CD-ROM, Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2012. Disponível 
para download em: fonologia.org. ISBN 978-85-7758-135-1. 
 
PASCHOALIN, Maria Aparecida. SPADOTO, Neusa Terezinha. Gramática: teoria 
e exercícios. Ed. Renovada. São Paulo:FTD, 2008. 
 
SEARA, Izabel Christine.Fonética e Fonologia do Português Brasileiro. 
Florianópolis: LLV/CCE/UFSC,2011. 
Disponível em : slideshare.net/tomazinense/fontica-e-fonologia-do-portugus-
brasileiro 
 
 
 
 
 
 
7 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. APARELHO FONADOR E FONAÇÃO 
 
A produção dos sons que usamos para falar chama-se FONAÇÃO e acontece pela 
ação conjunta de órgãos pertencentes ao aparelho digestório e ao aparelho respiratório, 
aliados às pregas vocais (também conhecidas como cordas vocais) e à glote. A esse 
conjunto chamamos APARELHO FONADOR, porque produz som (phono), voz. 
 
 
 
É na laringe que se encontra o órgão que 
desempenha papel bastante complexo na produção dos 
sons da linguagem humana, as cordas vocais, que, de 
acordo com sua tensão e abertura, determinam os modos 
de fonação também conhecidos como qualificadores de 
voz. (MONTEIRO, 2009) 
 
 
A figura a seguirmostra e nomeia os órgãos envolvidos na fonação. Observe: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O FUNCIONAMENTO DO APARELHO FONADOR 
 
 A fonação envolve um mecanismo de funcionamento entre os órgãos do aparelho 
fonador. Alguns desses órgãos têm papel articulatório ativo (movimentam-se durante a 
fonação) e outros órgãos têm papel articulatório passivo (apenas participam da produção, 
mas não se movimentam). 
 
 Você pode observar os órgãos e seus respectivos papéis articulatórios na 
figura a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
papel articulatório ativo papel articulatório passivo 
 
 
9 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A PRODUÇÃO DA FALA 
 
Considerando que a fala é o resultado da articulação dos sons produzidos pelos 
seres humanos com a finalidade de comunicar-se, é imprescindível o entendimento de que 
a voz é parte de uma linguagem. 
Outro aspecto da fala, considera que modo como esses sons são produzidos e 
articulados envolvem um código lógico (sons inteligíveis) segundo a cultura do indivíduo 
falante. Isso significa que todo ser humano produz sons, mas a maneira como esses sons 
são articulados é determinada também pelo idioma utilizado para a comunicação. 
 Para estudarmos a produção da fala é preciso observar os mecanismos de produção 
dos sons e a articulação deles. 
 
A PRODUÇÃO DOS SONS DA FALA 
 Há alguns aspectos que precisam ser considerados para classificar os sons 
produzidos pelo aparelho fonador. A princípio, os sons (fonemas) são classificados como 
vogais ou consoantes. 
 Quanto à produção das vogais observam-se ainda: 
 
✓ o papel das cavidades bucal e nasal 
✓ a intensidade do som 
✓ o timbre do som 
✓ a zona de articulação do som 
 
Quanto às consoantes, observam-se: 
✓ o modo de articulação 
✓ o ponto de articulação 
✓ a vibração das pregas vocais 
✓ o papel das cavidades bucal e nasal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
tônica -é a vogal que sustenta a sílaba tônica. Ex: CAFÉ
subtônica (só aparece em palavras derivadas)- é a vogal que era tônica na palavra 
primitiva, mas perde força na derivada Ex: CAFEZINHO
átona-é a vogal que sustenta as sílabas átonas. Ex: CAFÉ
CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS 
 
 1. Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal na passagem do ar, a vogal pode 
ser oral ou nasal. 
 
 pAto cabEça amIgo pOte cafUné 
 
 
 
 
 
 
 anÃo parEnte Índio Ontem mUndo 
 
 
 
 
 
 
2. Quanto à intensidade do som produzido, a vogal pode ser tônica ou átona (há também 
uma classificação bastante específica de vogal subtônica). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ORAL 
É o som expelido livremente pela boca 
NASAL 
É o som expelido pela boca e pelas fossas 
nasais 
 
 
11 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. Quanto ao timbre do som emitido, uma vogal pode ser aberta ou fechada. 
 
São abertas as vogais a seguir: 
 
 cavalo, mala, sabiá 
 
 
 
chulé, amarelo, cafuné, esperto 
 
 
 
cipó, depósito, paletó, negócio 
 
 
 São fechadas as vogais a seguir: 
 
gelo, cotovelo, apelo, chupeta 
 
 
 
 
 vida, amigo, lápis, galinha 
 
 
 
hoje, barco, bolso, folha 
 
 
 
 
luva, agulha, saúde, junho 
 
Timbre: efeito acústico 
resultante da distância entre o 
dorso da língua e o véu do 
paladar 
 
 
12 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. Quanto à zona de articulação do som, a vogal é classificada como anterior, média 
ou posterior. 
 
 Vogais anteriores - na produção dessas vogais a língua se eleva em direção 
ao céu da boca. 
 
 
 
 
 
 Vogais médias – na sua produção, a língua permanece em repouso. 
 
 
 
 
 
 Vogais posteriores – na sua produção, a língua se eleva em direção ao véu 
palatino (palato mole). 
 
 
 
 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSOANTES 
Segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira de 1959 (e não houve mudança depois 
disso) as consoantes classificam-se: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. Quanto ao modo de articulação: as consoantes podem ser oclusivas ou constritivas. 
 
 
2. Quanto ao ponto de articulação, as consoantes classificam-se em: 
 
 
 
 
 
 
 
oclusivas
na fonação, há um obstáculo total à saída do ar pela 
boca, com uma abertura rápida.
pato, teia, casa, beijo, dia, gato 
constritivas
na fonação, há um obstáculo parcial à saída do ar. 
Subdividem-se em fricativas, laterias e vibrantes
fato, cebola,xícara,lua,carro 
bilabiais
há o contato dos lábios superior e inferior.
sapo, abelha, macaco
labiodentais
há contato do lábio inferior e os dentes incisivos.
fada, vaca 
linguodentais
há aproximação da língua e os dentes superiores.
tela, navio 
alveolares
há aproximação da língua com os alvéolos.
saia, asa, lado, areia 
palatais
acontece a aproximação do dorso da língua com o 
céu da boca (palato duro).
cheiro, gente, pilha, manhã 
velares
acontece a aproximação da parte posterior da 
língua com o véu palatino (palato mole).
louca, fogo, rua 
 
 
14 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. Quanto à vibração das cordas vocais, as consoantes podem ser surdas ou sonoras 
 
 
 
 Surdas: a corrente de ar encontra a glote aberta e passa sem vibrar 
das cordas vocais. 
 PATO, CASO, CEDO, FADA, PICHE 
 
 
 
 
 
 
Sonoras: A corrente de ar encontra a glote fechada, forçando a 
passagem e vibrando as cordas vocais. 
BALA, DINHEIRO, VELA, GELO, AMORA 
 
 
 
4. Quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as consoantes podem ser orais ou 
nasais. 
 
 
Na fonação das consoantes orais, a corrente de ar sai apenas pela 
cavidade bucal 
 
BOLA, LATA, GATO, CARRO, CASA 
 
 
 
Na fonação das consoantes nasais, o ar sai tanto pela cavidade bucal quanto 
pela cavidade nasal. 
 
MEDO, NARIZ, UNHA 
 
 
 
15 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs ; YEHIA, Hani Camille . Sonoridade em Artes, Saúde 
e Tecnologia. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2009. Disponível em 
fonologia.org. ISBN 978-85-7758-135-1. 
 
CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs ; YEHIA, Hani Camille . Sonoridade em Artes, Saúde 
e Tecnologia. CD-ROM, Belo Horizonte: Faculdade de Letras, 2012. Disponível 
para download em: fonologia.org. ISBN 978-85-7758-135-1. 
 
MATTOS, J. S., “Um estudo comparativo entre o sinal electroglotográfico e o 
sinal de voz”, Dissertação de mestrado em Engenharia de Telecomunicações, 
UFF 2008. 
 
MONTEIRO, Maria Perpétua Teles Fonética e fonologia da língua portuguesa / 
Maria Perpétua Teles Monteiro. – Recife: UPE/NEAD, 2009. 63 p.: il. – (Letras). 
 
 
 
 
 
16 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. PROSÓDIA E ENTOAÇÃO 
 
 
“Gosto de sentir a minha língua roçar 
a língua de Luís de Camões 
Gosto de ser e de estar 
E quero me dedicar a criar 
confusões de prosódias 
E uma profusão de paródias 
Que encurtem dores 
E furtem cores como camaleões” 
(Língua, de Caetano Veloso, 1984) 
 
 O estudo da fonação, como vimos na aula anterior, envolve muitos aspectos físicos 
e articulatórios, mas não apenas isso. A produção da fala não pode ignorar fatores culturais 
e ambientais do falante, e desse modo, envolvem-se nessa produção os tipos de fala, os 
sotaques, os ritmos e os acentos do falante: esse é o objeto de observação da Prosódia, 
área de estudo da Fonética que se dedicaà conservação da pronúncia e das variações 
melódicas da fala. 
 
a prosódia está, no cenário de pesquisa atual, 
associada a fatores linguísticos como acento, fronteira 
de constituinte, ênfase, entoação e ritmo, a fatores 
paralinguísticos como marcadores discursivos (e.g., 
“né”, “entendo”, “an-han”) e atitudes proposicionais 
(e.g., “confiante” e “duvidoso”) e sociais (e.g., “hostil” 
e “solidário”), além de tratar de fatores 
extralinguísticos como as emoções. Todos esses 
fatores se combinam com aspectos sociais e biológicos 
indiciais como gênero, faixa etária, classe social, nível 
de escolaridade, entre outros. 
(BARBOSA, 2012) 
 
 
 
17 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Estudar prosódia é observar o acento tônico dos fonemas ou sílabas, 
diferenciando palavras ou registrando corretamente a duração, a intensidade e o tom dos 
fones. 
 Como exemplo de diferenciação de palavras por meio da correta acentuação tônica 
dos fones, lembremos de valido (verbo validar) e válido (adjetivo); Cupido (deus do amor) 
e cúpido (ambicioso); fervido (particípio de ferver) e férvido (quente, ardoroso); em outros 
casos, o conhecimento da prosódia garante a pronúncia correta de palavras como condor, 
rubrica, ruim, austero, avaro, ciclope, filantropo, gratuito. 
Estudar entoação, refere-se a um aspecto mais específico da prosódia, que 
observando a altura e o ritmo da palavra ou da oração alcança melhor e mais variada 
compreensão daquilo que é dito. 
Como exemplo da capacidade de variação significativa a partir do ritmo e da variação 
melódica na produção do fone em uma frase, observe a distinção ocorrida nos enunciados 
a seguir: 
 
Cláudia chegou tarde da festa. 
Cláudia chegou tarde da festa? 
 
 Do ponto de vista fonológico, os dois enunciados utilizam os mesmos mecanismos 
fonação; no entanto, a variação da entoação (melodia, ritmo) realiza sozinha a distinção 
entre assertividade e interrogação entre os dois enunciados. 
 
É a prosódia que molda nossa enunciação 
imprimindo a “o que se fala” um “modo de falar” que 
é dirigido intencionalmente ou não ao ouvinte. 
 (BARBOSA,2012) 
 
 Os estudos de Charles Bally, Ivan Fónagy, Maurice Grammont e Henry Morier 
observaram que existe uma relação dinâmica e multilateral entre o som e o sentido, e 
portanto, existe uma propriedade expressiva da prosódia, em que se consideram aspectos 
atitudinais como a elocução e a postura; e aspectos indiciais como gênero e idade do 
falante; e aspectos afetivos como ansiedade e humor. A essa área de observação 
chamamos Fonoestilística. 
 
 
 
18 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Não há dúvida, de que na matéria fônica se 
escondem possibilidades expressivas. Deve-se 
entender como tal tudo que produza sensações 
musculares e acústicas: sons articulados e suas 
combinações, jogos de timbres vocálicos, melodia, 
intensidade, duração dos sons, repetição, assonância e 
aliterações, silêncios, etc. Na linguagem, essas estas 
impressões fônicas permanecem em estado latente 
enquanto o significado e o matiz afetivo das palavras 
em que figuram sejam indiferentes ou opostos a esses 
valores, mas brotam quando há concordância. Assim, 
junto à fonologia propriamente dita há lugar para uma 
fonologia expressiva, que pode trazer muita luz à 
primeira analisando o que nos diz o instinto: que há 
uma correspondência entre os sentimentos e os 
efeitos sensoriais produzidos pela linguagem. 
 (BALLY, 1941) 
 
Sonoridade das vogais no português do Brasil 
 
 Nas aulas 1 e 2 tratamos da classificação e da produção das vogais em suas 
propriedades primárias. 
 Acrescentaremos a esse conhecimento a noção de sonoridade, que em sentido 
genérico refere-se aos sons e associa-se ao estudo de pronúncia, sotaques, melodia e voz 
(prosódia). 
 Trataremos aqui de vozeamento e desvozeamento, nasalização e tensão. 
 Chama-se vozeamento a vibração das cordas vocais durante a fonação; as vogais 
são fonemas naturalmente vozeados, no entanto, em algumas posições as vogais podem 
sofrer um desvozeamento, ou seja, podem ser produzidas sem a vibração das cordas 
vocais (mais fracas). Esse desvozeamento acontece na pronúncia de vogais em posição 
átona final. Observe: 
ralo leite queijo 
 
 
 
19 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Há vogais que, em função da aproximação com fonemas pronunciados com o véu 
palatino abaixado, são percebidas como nasais. A esse mecanismo chamamos 
nasalização. 
 lama, pinho, dengo 
 
 Tensão é a oposição entre sons vocálicos frouxos (átonos) e tensos (tônicos). 
Observe por exemplo a diferença de tensão nas vogais da palavra sapo e saci. 
 
 Em sapo, a vogal [a] é tensa em relação a vogal [o], que é frouxa. 
 
 Já em saci, a vogal [a] é frouxa em relação a vogal [i] que é tensa. 
 
Encontros vocálicos 
 
 O português brasileiro produz diferentes tipos de segmentos vocálicos (sons de 
vogais seguidos). Esses segmentos podem acontecer na mesma sílaba, ou em sílabas 
diferentes. 
 A fonação de dois ou três sons vocálicos na mesma sílaba chamamos ditongo ou 
tritongo, respectivamente. 
 
 O ditongo é o encontro de dois ( di-) sons vocálicos lado a lado, na mesma sílaba. 
No entanto, um desses sons tem pronúncia mais fraca, e por isso é chamado de semivogal. 
 
 Em um ditongo, os sons vocálicos podem se posicionar de duas maneiras: 
 
 
 
 
 
 
20 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Observe que o segmento pode organizar-se do som mais forte para o som mais fraco 
(vogal + semivogal) ou do som mais fraco para o som mais forte (semivogal + vogal). No 
primeiro caso, denomina-se ditongo decrescente (devido à diminuição do tom na 
fonação), e no segundo caso denomina-se ditongo crescente (devido ao aumento do tom 
na fonação). 
O segmento de três vogais na mesma sílaba chama-se tritongo. No entanto, é 
preciso observar que no português, a vogal é a base fonética de uma sílaba, e portanto, em 
cada sílaba só pode existir uma vogal. Entendamos vogal como som vocálico forte, em 
oposição à semivogal (som vocálico fraco). 
Portanto, a única disposição possível de três vogais na mesma sílaba é: 
 
Há ainda um segmento vocálico em que embora as vogais (sons vocálicos fortes) 
estejam lado a lado na palavra, separam-se em sílabas diferentes (lembre-se de que só 
cabe uma vogal em cada sílaba, portanto, não podem ficar na mesma sílaba. Esse 
segmento denomina-se hiato. Observe: 
 
 
 
 
 
21 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Encontros consonantais 
 
 Assim como ocorrem segmentos de sons vocálicos, o português brasileiro produz 
segmentos de sons de consoantes denominados encontros consonantais, e que podem 
acontecer na mesma sílaba ou em sílabas diferentes. 
 Os segmentos em que os sons consonantais apoiam-se na mesma vogal (toda sílaba se 
apoia em uma vogal) são chamados de encontros consonantais perfeitos. Nesses casos, as 
duas consoantes permanecem lado a lado e na mesma sílaba. Observe: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Os segmentos em que os sons consonantais apoiam-se em vogais diferentes 
(portanto, estão lado a lado na palavra mas separam-se em sílabas distintas) são chamados 
de encontros consonantais imperfeitos. Observe: 
 
 
 
 
 
 
 Ao contrastarmos letra e fonema, é possível observar outro tipo de segmento 
consonantal, ainda que apenas no plano fonético. O segmento fonético representado 
ortograficamente por apenas uma letra chama-se dífono. 
 
 
 
 
 
 
 
22Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
BALLY, Charles. El Lenguaje y la Vida. Tradução de Armando Alonso. Buenos 
Aires, Losada, 1941. 
 
BARBOSA, Plínio A. Conhecendo melhor a prosódia: aspectos teóricos e 
metodológicos daquilo que molda nossa enunciação. Rev. Est. Ling., Belo 
Horizonte, v. 20, n. 1, p. 11-27, jan./jun. 2012. 
Disponível em: 
manualdefoneticaacusticaexperimental.com/assets/barbosa2012-3.pdf 
 
MARTINS, Nilce Santanna. Introdução à estilística. São Paulo. Editora 
EDUSP,.2008. 
 
MONTEIRO, Maria Perpétua Teles Fonética e fonologia da língua portuguesa 
/ Maria Perpétua Teles Monteiro. – Recife: UPE/NEAD, 2009. 63 p.: il. – 
(Letras). 
 
 
 
23 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. ALFABÉTICO FONÉTICO INTERNACIONAL (AFI) - Internacional 
Phonetic Alphabet (IPA) 
 
 Ainda no século XVII, os estudos de fonética levaram os pioneiros da ciência 
linguística a perceberem a necessidade de um registro mais exato da fala, e isso levou-os 
a projetar uma forma especial de representação, diferente do 
registro ortográfico. 
 Em 1886, o francês Paul Passy organizou símbolos em um 
sistema que ficaria conhecido como Associação Fonética 
Internacional e serviu de base para todas as outras versões futuras 
do documento. 
 Essas “versões” desse sistema padronizado de notação são, 
na verdade, revisões que adicionam, melhoram ou eliminam símbolos, reorganizam 
categorias de sons para representar as variações de fones (sons) e adaptar-se a 
características de fala e entoação em cada língua. 
 A última revisão do sistema - agora chamado de AFI (Alfabeto Fonético 
Internacional) ou IPA (International Phonetic Alphabet) – foi feita em 2005. 
 
O princípio geral do AFI é fornecer um símbolo para cada som ou segmento de fala 
distinto. Os símbolos foram criados a partir das letras dos alfabetos grego e romano, 
algumas derivadas e alguns símbolos não pertencem a língua nenhuma. 
 
 O AFI atual organiza seus símbolos em três categorias: letras, diacríticos e marcas 
de prosódia. 
 As letras (107 no total) indicam os sons básicos – vogais e consoantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Os diacríticos são 52 sinais usados sobre ou sob determinadas letras, geralmente para 
lhes dar um valor fonético específico e permitir a correta pronúncia das palavras. Em 
fonética podem indicar uma duração mais longa na fonação, nasalização, maior ou menor 
tensão, vozeamento, etc. 
 
 As marcas de prosódia (símbolos suprassegmentais) indicam velocidade, timbre, 
acento tônico, articulação, fonação, entoação. 
 
 
 
26 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
É possível usar os símbolos do AFI para transcrever os sons da fala sob diferentes 
níveis de precisão: 
 
 Transcrição Fonológica (ampla) - transcreve os símbolos entre barras / /. A 
transcrição ampla apenas registra sons genéricos, considerados diferentes pelos falantes 
de uma mesma língua. Nessa transcrição, os sons em suas sutilezas de dialetos, por 
exemplo, são ignorados, e identifica-se apenas os componentes foneticamente relevantes 
da palavra. 
 
 Transcrição Fonética (restrita) - transcreve os símbolos entre colchetes [ ]. Essa é 
a transcrição mais precisa, em que os sons são descritos detalhadamente, preocupando-
se apenas com a exatidão do som produzido, e considera qualquer alteração como 
relevante. 
 Compare: 
 
 
 
 
Após essa aproximação com os símbolos fonéticos, vejamos alguns exemplos de 
transcrição ampla e restrita, como modelos de estudo. 
 
 
 
 
 
 
Não existe um alfabeto fonético brasileiro, uma vez que o AFI padroniza os símbolos 
para cada som produzido em qualquer idioma. Sendo assim, cada língua utiliza apenas os 
símbolos dos sons que pertencem ao seu conjunto fonético. 
 
 
27 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Revista do GELNE, Natal/RN, Vol. 19 - Número 2: p. 146-158. 
Jul-Dez. 2017 
 
 
28 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
5. FONEMA 
 
Nas aulas anteriores abordamos o som sob seus aspectos articulatórios, e demos 
ênfase à perspectiva da fonética – o fone. 
Essa perspectiva, no entanto, precisa ser ampliada à medida que percebemos que o 
fone é o aspecto físico do som, mas que este carrega consigo o aspecto abstrato quando 
participa da linguagem e compõe significado. 
 Considerando essa abordagem mais ampla do estudo do som, a fonologia defende 
que o fone, ao atribuir um valor distintivo entre palavras e agregar significado ao que se diz, 
ganha o status de fonema. 
 Para compreender melhor, perceba que em Português do Brasil consideramos 
diferentes as consoantes 
 
 
 
 
 Essa diferença, no entanto, não leva em consideração o fato fonético ou aspectos 
articulatórios (ambas têm a mesma fonação vozeada). O que nos leva a considerar 
diferentes símbolos, nesse caso, é o traço distintivo (ainda que seja leve) que se percebe 
em palavras como 
 
 
 
 
 
 
 
 Esse fone com aspecto distintivo chama-se fonema. Ou seja: um fone (som) é 
considerado fonema em caso de contraste que indique mudança de significado. 
 
Um dos objetivos da análise fonêmica e 
estabelecer os sons que tem valor distintivo, ou seja, 
servem para distinguir o significado das palavras 
 (SILVA, 1999) 
 
 
29 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 A partir dos estudos do Círculo de Praga (citado na aula 1), alguns teóricos 
dedicaram-se a observar o fonema e suas possibilidades de interpretação na abordagem 
linguística. Entre essas teorias podemos citar a Fonêmica e a Fonologia Gerativa. 
 Por esses estudos destacam-se Edward Sapir e Leonard 
Bloomfield (Fonêmica) e Noam Chomsky (Fonologia 
Gerativa). 
 Para nossa aula, consideraremos a 
abordagem da Fonologia, que incorpora noções 
dessas teorias e se preocupa com a organização dos 
sons em uma língua. 
 
 
 
Fonema e letra 
 
 A observação dos fonemas nas palavras e sua representação exigem que se 
diferenciem os registros fonológico e ortográfico. O registro fonológico é feito com o uso 
dos símbolos fonéticos do AFI (Alfabeto Fonético Internacional – apresentado na aula 4), e 
o registro ortográfico é feito com o uso das letras do alfabeto em cada língua. 
 Os dois alfabetos – fonético e ortográfico – não têm correspondência exata, uma vez 
que o primeiro está relacionado à fonação, e o segundo relaciona-se a regras gramaticais 
e formação de palavras escritas. 
 Como demonstração da não-correspondência exata entre fonema e letra em 
Português do Brasil, podemos observar casos em que um determinado fonema pode ser 
representado por diferentes letras: 
 
 
 
 
 
E ainda, uma mesma letra pode representar diferentes fonemas: 
 
 
 
30 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 
 Outro fato da não- correspondência entre fonema e letra é o dígrafo: 
ortograficamente, são duas letras lado a lado que representam apenas um fonema. 
Portanto, em Português do Brasil existem palavras com números diferentes de letras e 
fonemas. Nos exemplos a seguir, temos palavras com mais letras que fonemas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vale relembrar que na aula 3 ( ao tratarmosde segmentos consonantais), citamos que 
ao contrastarmos letra e fonema, é possível observar um tipo de segmento fonético em que 
dois fones seguidos são ortograficamente representados por apenas uma letra: o dífono 
– ou seja: existem palavras com mais fonemas do que letras. Relembre: 
 
 
Alofones 
 
No início dessa aula vimos que se considera fonema o fone que é capaz de diferenciar 
significado. 
 Agora, observe: 
 
 
 
31 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
 
A variedade linguística típica em regiões diferentes do Brasil (sotaque) leva os falantes 
a realizarem alguns fones de modo diferente, como é o caso da palavra “coração”, que em 
São Paulo tem o som do “o” pronunciado fechado e em Salvador pronunciado mais aberto, 
como “ó” (vide representação fonológica do exemplo acima). 
 No entanto, essa diferença na realização do fone não constitui mudança de 
significado da palavra. Por isso, essa variação de pronúncia não produz novos fonemas. 
Nesse caso, chamamos essas variantes fonológicas de ALOFONES. 
 
 
A representação dos alofones é feita entre colchetes por tratar-se de uma transcrição 
restrita. 
 
Pares mínimos 
Em Fonologia, para distinguir um fonema de um alofone, observa-se o contraste entre 
os sons por meio de seus pares mínimos. 
 Pares mínimos são palavras que podem causar dúvida na pronúncia mas de 
significado diferente, distintas por apenas uma única diferença fonológica (ou um ponto de 
articulação, ou um vozeamento, por exemplo) 
Alofones são variantes fonológicas de um mesmo 
fonema. 
 
 
32 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Consideramos /p/ e /b/ como 
fonemas, porque são sons distintivos 
de palavras. 
Esses sons são a única diferença 
entre essas palavras, portanto, /p/ e 
/b/ são pares mínimos. 
Arquifonema 
 
 Como já vimos, a representação de variantes sonoras chama-se alofone e é 
representada em uma transcrição restrita. O fonema ao qual se referem essas variantes 
chama-se ARQUIFONEMA e funciona como uma representação genérica dos alofones, ao 
que chamamos de neutralização (usa-se um símbolo “neutro”, que representa qualquer 
um dos alofones possíveis). Relembre o exemplo da transcrição feita da palavra “coração” 
em suas variantes de pronúncia em São Paulo e em Salvador: 
 
 
 
 
Os fonemas vogais do Português do Brasil 
 O estudo fonético-fonológico das vogais nos leva à percepção de um quadro de 
vogais aparentemente complexo. 
 Essa aparente complexidade, na verdade, é o reconhecimento das possibilidades de 
fonação das vogais. 
 
 
33 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 Antes de mais nada, é preciso frisar que trataremos aqui de fonemas vogais, e não 
de letras. Ortograficamente há 5 letras vogais: a, e, i, o, u. Porém, foneticamente 
percebemos 12 fonemas vogais. 
Observe: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Somem-se a esses 7 fonemas orais, mais 5 fonemas vogais nasais: 
 
 
 
 
 Semivogais 
 
 O estudo dos segmentos vocálicos em português do Brasil revela que os sons vogais 
[ i ] e [ u ] nem sempre são pronunciados como tônicos, e portanto não ocupam o papel de 
centro de uma sílaba. 
 Essa pronúncia mais “fraca” acontece sempre que [ i ] e [u] acompanharem outro 
som vogal tônico, formando um ditongo. 
 
 
 
 
 
7 
fonemas 
7 orais +5 nasais = 
12 
 
 
34 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Para a transcrição fonológica desses sons, usa-se [y] para o “i” fraco, e [w] para o 
som de “u” fraco. 
Observe: 
 
 
 
 
 
 
 Além disso, é preciso destacar que em português do Brasil, a pronúncia do “L” em 
final de sílaba ou de palavra é realizada como [w]. Observe: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRAGA & OLIVEIRA, Alzerinda de Oliveira e Marilucia Barros de. Fonética e 
Fonologia. Curso de Licenciatura em Letras UFPA. Belém, PA, Editora : EditRedi 
2014. 
 
CÂMARA JR., Joaquim M. Para o estudo da fonêmica portuguesa. 2.ed. Rio de 
Janeiro: Organizações Simões, 1977. 
 
SEARA, Izabel Christine.Fonética e fonologia do português brasileiro : 2º 
período / Izabel Christine Seara, Vanessa Gonzaga Nunes, Cristiane 
Lazzarotto-Volcão– Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. 
 
 
 
35 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6. PADRÃO SILÁBICO DO PORTUGUÊS DO BRASIL 
 
 
 Cada idioma organiza-se fonologicamente de maneira particular, mas a sílaba é o 
nível inicial dessa organização, já que a sílaba é um conjunto ordenado de fonemas. 
 
As sílabas são o suporte da fala e são 
preenchidas por segmentos fonéticos. 
Cada língua tem um modo especial de 
preencher as sílabas em função das suas 
necessidades estruturais. 
(CAGLIARI, 1981) 
 
 
 Nessa aula abordaremos a organização e os conceitos referentes ao português do 
Brasil, e levando em consideração os estudos de Back (1973) e Mattoso Câmara Jr (1977), 
pioneiros no estudo da Linguística no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
Eurico Back desenvolveu uma teoria própria 
sobre o português do Brasil batizada como 
Gramática Construtural da Língua Portuguesa 
(1972) e seguia os modelos de Sapir, Bloomfield e 
Martinet. 
Joaquim Mattoso Câmara Jr. foi aluno de 
Roman Jakobson nos EUA, e traduziu e publicou o 
livro A Linguagem, de Edward Sapir (em 1954). 
 
A palavra sílaba é uma variação do anglo-saxão, para o francês antigo sillabe; em 
latim sílaba , do grego συλλαβή syllabḗ - pronúncia grega: [sylːabɛ̌ː]- e significa "o que 
é levado em conjunto", referindo-se às letras que são tomadas em conjunto para produzir 
um único segmento sonoro. 
 
 
36 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Algumas noções são essenciais para o estudo da sílaba e serão apresentadas nessa 
aula. Primeiramente é preciso admitir que em português do Brasil a vogal desempenha 
papel indispensável em uma sílaba (note que dissemos vogal, e não semivogal). Por sua 
função essencial, dizemos que a vogal é elemento central e as consoantes e semivogais 
são elementos periféricos. 
 Isso significa que a sílaba se organiza em torno de um fonema vogal. É esse fonema 
vogal que sustenta outros fonemas chamados de periféricos: consoantes ou semivogais. 
Portanto, não existe sílaba sem vogal e em cada sílaba só pode haver uma vogal. Uma 
conclusão correta, portanto, é: se quisermos saber quantas sílabas tem uma palavra, é 
preciso saber quantos fonemas vogais compõem essa palavra. 
 
 
 
Estrutura interna das sílabas 
 
 Quanto à posição dos elementos que constituem uma sílaba, os estudos de 
Chomsky (Princípios e parâmetros da Gramática Universal) sustentam que uma sílaba pode 
ter 3 elementos em sua estrutura: ONSET, NÚCLEO e CODA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Detalhe: Podemos nos referir ao núcleo + coda como RIMA. Nesse caso, o diagrama 
seria: 
 
 
 
O ONSET (também 
pode ser chamado de ataque) 
é a parte que ocupa a posição 
pré- núcleo na sílaba; não é 
A CODA ocupa a posição pós-
núcleo e não é essencial em uma 
sílaba. 
O NÚCLEO é formado somente 
por vogais e se constitui no pico 
silábico. É essencial. 
 
 
37 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Exemplificando: 
 
 coração 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ONSET merece algumas observações que o classificam quanto aos fonemas que o 
compõem. 
Esse elemento silábico pode classificar-se em simples ou complexo (ambos opcionais). 
 Onset simples é aquele formado apenas por uma consoante. 
 
 
 
 
Onset complexo é aquele formado por duas consoantes. 
 
 
 
 
 
Observação: As consoantes (r fraco, lh, e nh) não podemocupar o onset em português. 
Lembre-se de que as palavras nhoque e lhama são empréstimos de outras línguas. 
 
 
CURIOSIDADE: 
A palavra coda vem do latim coda, -ae. Pronuncia-se 
É um substantivo feminino e pode significar: 
1. [Antigo] Parte traseira. = CAUDA, RETAGUARDA 
2. [Fonética] Parte final de uma sílaba, posterior ao núcleo. 
 
 
"coda", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, https://dicionario.priberam.org/coda [consultado em 06-10-2019]. 
 
https://dicionario.priberam.org/coda
 
 
38 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O princípio da sonoridade 
 
 Diversas teorias concordam que a organização interna das sílabas é condicionada, 
de alguma maneira, à sonoridade de seus elementos. 
 Considerando esse princípio de sonoridade, Mattoso Câmara – propõe a seguinte 
organização de sílaba: 
 
“De todos os pontos de vista, resulta como 
denominador comum um movimento de ascensão, 
ou crescente, culminando num ápice (ou centro 
silábico) e seguido do movimento decrescente, 
quer se trate do efeito auditivo, da força expiatória 
ou da tensão muscular, focalizados nas diversas 
teorias. 
Por isso é normalmente a vogal como som 
vocal mais sonoro, da maior força expiatória […] 
que funciona (...) como centro de sílaba” 
 (CÂMARA, 1976) 
 
Tipologia silábica do português 
 
Considerando que sílaba fonética é um conjunto ordenado de fonemas, observemos 
que em português existem maneiras diferentes de ordenar e combinar esses fonemas que 
formam a sílaba. 
 A observação inicial divide as sílabas conforme seu comportamento, e as classifica 
em abertas ou travadas: 
 
 
Sílaba aberta (ou leve) - é a sílaba terminada em vogal CA-FÉ 
 
Sílaba travada (ou pesada) - é a sílaba terminada em consoante AR-TE 
 
 
 
 
39 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Importante frisar que essa aula refere-se à estrutura da sílaba segundo o sistema 
fonológico do português. Cada língua estrutura a sílaba de maneira diferente, e há 
casos em que o núcleo da sílaba pode não ser uma vogal. 
 
 
 
 
 
Vejamos o quadro a seguir que resume a organização dos fonemas dentro das sílabas 
em português (combinações possíveis dentro das sílabas). Considere ( V ) vogal e (C ) 
consoante: 
 
V É 
C+V Casa 
V+C Arte 
C+V+V Paulo 
C+C+V+C Brando 
C+C+V Plano 
C+V+C Turma 
C+C+V+C+C transtorno 
C+C+V+V+C claustro 
C+V+V+C Coimbra 
C+V+V+V Uruguai 
 
Concluindo, vale ressaltar a observação feita por MARTINS , aqui reproduzida: 
 
“Considerar as diferentes estruturas silábicas da língua é importante (...), tendo em vista que 
os aprendizes da escrita precisam conhecer todas elas, a fim de consolidarem seu processo de 
alfabetização. Um outro ponto importante é não confundir a noção de sílaba na fala e na 
escrita. Se, do ponto de vista da escrita, a palavra cha-ve apresenta uma sílaba CCV e outra CV, 
do ponto de vista da fala, apresenta duas sílabas CV, tendo em vista que é pronunciada como “xa-
vi” na maior parte do país. Desse fato é que pode ocorrer uma interferência da fala sobre a escrita 
do aprendiz, de modo que ele grafe duas sílabas CV (“xavi”) e não uma CCV e outra CV para chave. 
Seguindo esse raciocínio, a escrita da palavra xale – que tanto na fala como na escrita 
apresenta a mesma estrutura silábica (duas sílabas CV) – tenderia a ser mais fácil do que a escrita 
O quadro ao 
lado considera os 
estudos de 
BLEVINS (2006), 
em que a autora 
atribui aos fonemas 
semivogais o status 
de vogais, e para a 
estrutura podem 
ser representados 
por seus arquifones 
(vogais). 
Estudos 
apontam que a 
sílaba C+V é a 
mais frequente 
na língua 
portuguesa, por 
isso é 
chamada de 
 SÍLABA 
CANÔNICA. 
 
 
 
40 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
de chave. Acrescenta-se, ainda, a necessidade de reflexão sobre a divisão silábica indicando os 
diferentes critérios que são aplicados na escrita e na fala. Um caso típico é o da regra que indica 
que, na escrita, ao final de uma linha, quando dividimos uma palavra, os dígrafos ‘rr’ e ‘ss’ não 
ficam na mesma sílaba. Assim a palavra ‘carro’, por exemplo, seria dividida como ‘car-ro’. Essa 
divisão, no entanto, não implica que, na fala, a primeira sílaba seja CVC. Aqui, como em vários 
casos de convenções, tem-se um procedimento ortográfico e não fonológico.” 
 
 
 
 
BACK, Eurico; MATTOS, Geraldo. Gramática Construtural da Língua Portuguesa. 
São Paulo: FTD, 1972 
 
BARBOSA, J .M. 1965. Études de Phonologie Portugaise. Lisboa: Junta de 
Investigações Científicas do Ultramar. 2.ème éd.: Évora: Universidade de Évora, 
1983 
 
BARROSO, H. Forma e Substância da Expressão da Língua Portuguesa. Coimbra: 
Almedina,1999. 
 
BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro.4 ed. 
Porto Alegre: EDIPUCRS. 2005 
 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Elementos de fonética do português brasileiro. 
Campinas. Tese (Livre docência) - Universidade Estadual de Campinas.1981 
 
CRISTÓFARO-SILVA, T. Fonética e Fonologia do Português: roteiro de estudo e 
guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2009. 
 
HENRIQUES, Isabel. A importância da sílaba: uma reflexão fonológica. eLingUp 
[Centro de Linguística da Universidade do Porto] Volume 1, Número 1, 2009 
 
MARTINS, Raquel Márcia Fontes. Estrutura Silábica. Lavras: Centro de 
Alfabetização e escrita – Ceale/FaE/; UFLA, disponível em 
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/estrutura-
silabica 
 
SEARA, Izabel Christine. Fonética e fonologia do português brasileiro : 2º 
período / Izabel 
Christine Seara, Vanessa Gonzaga Nunes, Cristiane Lazzarotto-Volcão– 
Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. 
 
VANDRESEN, Paulino. A linguística no Brasil, 2001. Disponível em 
http://comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/linguagem/ling15.htm 
 
 
41 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
7. ASPECTOS DA FONÉTICA E DA FONOLOGIA DA LIBRAS 
 
Objetivo 
Oferecer uma abordagem teórica e uma revisão da literatura na área da fonologia dos 
sinais, em especial, das unidades formacionais do sinal - locação, configuração de mão e 
movimento. 
 
Introdução 
LIBRAS é uma língua natural com toda a complexidade que os sistemas linguísticos 
que servem à comunicação e de suporte de pensamento às pessoas dotadas da faculdade 
de linguagem possuem. Trata-se de uma língua natural visuoespacial surgida entre os 
surdos brasileiros da mesma forma que o Português e as demais surgiram ou se derivaram 
de outras línguas para servir aos propósitos linguísticos de seus usuários. O canal 
visuoespacial não surge como o preferido pela maioria dos seres humanos para o 
desenvolvimento da linguagem, já que a maioria das línguas naturais possui o canal oral-
auditivo como canal de comunicação, mas se mostra como uma alternativa de força e 
importância da manifestação da faculdade de linguagem das pessoas. A linguística não 
pode ignorar as línguas de sinais em sua investigação, pois ao reconhecer essa faculdade 
de linguagem poderá encontrar os verdadeiros universais linguísticos e compará-los com 
especificidades acidentais de cada língua e com restrições devidas à modalidade de língua 
Podemos pensar se as línguas de sinais são línguas verdadeiras ou apenas sistemas 
de comunicação sem gramática, partindo do pressuposto de que as línguas espaço-visuais 
são tão completas, complexas e abstratas quanto as línguas orais-auditivas como o 
Português, o Francês, o Inglês, etc, podemos afirmar que sim. Há alguns aspectos 
morfossintáticos da LIBRAS, que comprovam tal complexidade, começando pela “Estrutura 
Interna dos Sinais”. As línguas de sinais exibem dupla articulação como as línguas orais e 
possuemunidades significativas (morfemas), constituídas a partir de unidades arbitrárias e 
sem significado (fonemas). 
Sob esse aspecto, fonologia das línguas de sinais é um ramo da linguística que 
objetiva identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo 
descrições e explicações. 
 
 
 
 
42 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
7.1. Organização fonológica das línguas de sinais 
 
As línguas de sinais são denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou 
espaço-visual), pois a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas 
mãos. Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, no que 
concerne à modalidade de percepção e produção, o uso do termo fonologia tem sido usado 
para referir-se também ao estudo dos elementos básicos das línguas de sinais. 
Historicamente, entretanto, para evitar subestimar a diferença entre esses dois tipos de 
sistemas linguísticos, Stokoe (1960) propôs o termo Quirema às unidades formacionais dos 
sinais (configuração de mão, locação e movimento) e, ao estudo de suas combinações, 
propôs o termo Quirologia (do grego mão). Outros pesquisadores, incluindo Stokoe em 
edição posterior (1978), têm utilizado os termos Fonema e Fonologia. O argumento para a 
utilização desses termos é o de que as línguas de sinais são línguas naturais que 
compartilham princípios linguísticos subjacentes com as línguas orais, apesar das 
diferenças de superfície entre fala e sinal (Klima e Bellugi,1979; Wilbur, 1987; Hulst, 1993). 
Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se movimentam no 
espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinados pontos (locações) neste 
espaço. 
Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. Um mesmo sinal pode ser 
articulado tanto com a mão direita quanto com a mão esquerda; tal mudança, portanto, não 
é distintiva. Sinais articulados com uma mão são produzidos pela mão dominante 
(tipicamente a direita para destros e a esquerda para canhotos), sendo que sinais 
articulados com as duas mãos também ocorrem e apresentam restrições em relação ao 
tipo de interação entre ambas as mãos. 
 
7.2. O sinal 
 
As línguas de sinais, conforme um considerável número de pesquisas, contêm os 
mesmos princípios linguísticos que as línguas orais, pois têm um léxico (palavras) e uma 
gramática. 
A diferença fundamental entre línguas de sinais e línguas orais, segundo Stokoe e o 
grupo de pesquisadores que se dedicou à investigação das línguas de sinais durante os 
anos de 1960 e 1970, diz respeito à estrutura simultânea de organização dos elementos 
das línguas de sinais. Stokoe (1960) realizou uma primeira descrição estrutural da ASL 
 
 
43 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
(língua de sinais americana), demonstrando que os sinais poderiam ser vistos como partes 
de um todo (fonemas que compõem morfemas e palavras). 
Stokoe propôs um esquema linguístico estrutural para analisar a formação dos sinais 
e propôs a divisão de sinais na ASL em três aspectos ou parâmetros que não carregam 
significados isoladamente, a saber: 
 
(1) a. Configuração de mão (CM) 
b. Locação da mão (L) 
c. Movimento da mão (M) 
 
A ideia de que CM, L e M são unidades que constituem morfemas nas línguas de 
sinais começou a prevalecer. 
Análises dos sinais, posteriores a de Stokoe, incluíram a orientação da mão (Or) e os 
aspectos não-manuais dos sinais: expressões faciais e corporais (Battison, 1974, 1978). 
Esses dois parâmetros foram, então, adicionados aos estudos da fonologia de sinais. 
Durante os últimos 30 anos, fonologistas procuraram estabelecer as unidades 
(parâmetros) dos sinais. A seguir serão apresentadas, detalhadamente, as propriedades de 
cada parâmetro em LIBRAS, isto é, propriedades de configurações de mão, movimentos, 
locações, orientação de mão, bem como dos aspectos não-manuais dessa língua, conforme 
descrição feita por Ferreira Brito (1990, 1995). 
 
7.3. Fonologia da Língua Brasileira de Sinais 
 
A LIBRAS, assim como outras línguas de sinais, é basicamente produzida pelas mãos, 
embora movimentos do corpo e da face também desempenhem funções. Seus principais 
parâmetros fonológicos são locação, movimento e configuração de mão exemplificados na 
figura 
Uma das tarefas de um investigador de uma língua de sinais particular é identificar as 
configurações de mão, as locações e os movimentos que têm um caráter distintivo. Isso 
pode ser feito comparando-se pares de sinais que são minimamente diferentes. 
 
 
 
 
 
44 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
O que é denominado palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas recebe, nas 
línguas de sinais, o nome de sinal, o qual é formado a partir da combinação do movimento 
das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo esse lugar ser 
uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. 
 
I. Configuração de mão (CM): a CM pode permanecer a mesma durante a articulação 
de um sinal, ou pode ser alterada, passando de uma configuração para outra. As 
configurações podem variar apresentando uma mão que pode estar configurada sobre a 
outra que serve de apoio, tendo esta sua própria configuração (por exemplo, esperar); duas 
mãos de forma espelhada (por exemplo, nascer). 
Segundo Ferreira-Brito (1995), existem 46 configurações de mão diferentes para a 
LIBRAS, e elas podem ser diferenciadas quanto às posições, ao número de dedos 
estendidos, ao contato e à contração (mãos fechadas ou compactas) dos dedos. 
 
 
45 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
II. O ponto de articulação (PA) é o local do corpo do sinalizador em que o sinal é 
realizado; assim, uma maior especificação da posição é necessária, já que a região no 
espaço é muito ampla. Esse espaço é limitado e vai desde o topo da cabeça até a cintura, 
sendo alguns pontos mais precisos, tais como a ponta do nariz, e outros mais abrangentes, 
como a frente do tórax 
III. Movimento: para que seja realizado, é preciso haver um objeto e um espaço. Nas 
línguas de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço 
em que o movimento se realiza é a área em torno do corpo do enunciador. O movimento 
pode ser analisado levando-se em conta o tipo, a direção, a maneira e a frequência do sinal. 
O tipo refere-se às variações do movimento das mãos, pulsos e antebraços; ao movimento 
interno dos pulsos ou das mãos (por exemplo, palestra) e aos movimentos dos dedos. 
Quanto à direção, o movimento pode ser unidirecional, bidirecional ou multidirecional. Já a 
maneira descreve a qualidade, a tensão e a velocidade, podendo, assim, haver movimentos 
mais rápidos, mais tensos, mais frouxos, enquanto a frequência indica se os movimentos 
são simples ou repetidos (Ferreira-Brito, 1995; Quadros; Karnopp, 2004). 
 
 
 
BACK, Eurico; MATTOS, Geraldo. Gramática Construtural da Língua Portuguesa. 
São Paulo: FTD, 1972 
 
BARROSO, H. Forma e Substância da Expressão da Língua Portuguesa. Coimbra: 
Almedina,1999. 
 
BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro.4 ed. 
Porto Alegre: EDIPUCRS. 2005 
 
MARTINS, Raquel Márcia Fontes. Estrutura Silábica. Lavras: Centro de 
Alfabetização e escrita – Ceale/FaE/; UFLA, disponível em 
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/estrutura-
silabica 
 
SEARA, Izabel Christine. Fonética e fonologia do português brasileiro : 2º 
período / Izabel 
Christine Seara, Vanessa Gonzaga Nunes, Cristiane Lazzarotto-Volcão– 
Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. 
 
 
 
46 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
8. FONÉTICA E FONOLOGIA NA SALA DE AULA 
 
A reflexão sobreas implicações da Fonética e da Fonologia no processo de ensino e 
de aprendizagem da linguagem se justifica, inicialmente, por remeter à modalidade oral da 
língua, cujo surgimento antecede o da modalidade escrita. Depois, um breve olhar sobre 
tais modalidades nos faz perceber que a escrita não pode ser simplesmente uma forma de 
reprodução da oralidade, dadas as diferenças entre as duas. 
No entanto, vocês aprenderam nas disciplinas de didática alguns autores importantes 
como Vygotsky, Paullo Freire e Piaget. Só que, muitas vezes, em sala de aula, parece que 
nossos dilemas e dúvidas não são sanados por nenhum teórico. Esses questionamentos 
se tornam ainda mais recorrentes quando pensamos na tecnicidade com que ensinamos 
os conteúdos de Fonética e Fonologia, quando ‘transformamos’ a letra ‘p’ – que é como as 
crianças aprendem – em “consoante oclusiva bilabial desvozeada”, como a descreve a 
Fonética. Qual é, de fato, a aplicação desta disciplina? 
Para o professor, é necessário compreender os conceitos de Fonética e de Fonologia, 
a fim de despertar, no educando, o interesse acerca dos fenômenos da linguagem. Não se 
trata, pois, de uma compreensão academicista, mas, antes, formativa, que nos dá 
condições pedagógicas de fazer o outro desvendar os mecanismos de uma atividade que 
nos é própria. 
Veja abaixo um exemplo de exercício de Fonética aplicada em aula extraído da 
internet 
 
Antes de mais nada é interessante perceber que os conteúdos de Fonética e de 
Fonologia perpassam todo o currículo do ensino fundamental, até porque é nessa fase 
 
 
47 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
escolar que se darão com mais ênfase as aquisições da fala e da escrita. No entanto, é 
difícil perceber essa relação, isso só se dará se o professor de língua portuguesa possuir 
essa habilidade em sua formação docente. 
Vejamos de que maneira alguns conceitos dessa disciplina se apresentam no 
currículo: 
• Som e letra: apresentando, de forma adequada, a cada ano, a relação nem 
sempre correspondente entre esses dois elementos, uma vez que temos mais 
de um símbolo gráfico para alguns sons idênticos – caso do s / z / x, por 
exemplo, em uso, leveza e exame. 
• Vogais e consoantes: um dos pontos que mais chocou aos professores é 
passar a ‘saber’ que não temos só cinco vogais, mas sete – se considerarmos 
só as orais – ou doze – se incluirmos nessa conta as nasais. Embora esse 
aspecto sobre as vogais pareça simples, ajudaria as crianças a perceberem 
com mais nitidez questões regionais e variações. 
 Além disso, como é na educação fundamental que os alunos terão os primeiros 
contatos com a escrita e com a leitura, torna-se importante a abordagem de aspectos 
regionais mais recorrentes visando a uma conscientização de que esses traços não fazem 
um registro ‘mais correto’, apenas demonstram características de variação – como 
alçamento, abaixamento, harmonização, palatização, ente outros. 
Não poderíamos deixar de refletir sobre as questões ortográficas, mais 
especificamente os “erros” cometidos pelos pequenos em processo de aprendizagem. 
Quando o educando utiliza X para escrever palavras que apresentam o aludido fone, mas 
que se caracterizam ortograficamente por serem grafadas com CH, ou vice-versa, ele não 
está simplesmente cometendo um erro ortográfico, mas tentando padronizar a escrita 
dessas palavras a partir de seu conhecimento de mundo, a partir de sua percepção sobre 
a relação entre som e letra. 
O grande problema é que, muitas vezes, o professor não se aproveita dessa 
percepção para proporcionar uma reflexão sobre a diferença desses aspectos da 
linguagem: o oral e o escrito. Aliás, Possenti (2011, p. 51) faz uma interessante reflexão 
sobre o erro ortográfico: 
 
Os erros são resultado de tentativas de acertar. As hipóteses de quem escreve são 
certamente equivocadas, mas não são estúpidas. Por exemplo, quem escrever 
ezalstor (por exaustor) erra porque o x de fato representa o som [z] e o som [u] (ou 
melhor, a semivogal [w]) ora é representado na escrita por u, ora por l (compare a 
rima sumiu – Brasil). Seria estranho se os erros não tivessem nenhuma 
regularidade. (POSSENTI, 2011, p. 51). 
 
 
48 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Diante da postura de apenas sinalizar como erro a padronização do aluno, não 
somente se deixa de aproveitar um raciocínio proveniente de seu conhecimento de mundo, 
mas também uma oportunidade de tomar tal padronização como um raciocínio válido em 
uma área de conhecimento, mas que deve ser modificado em outra. Nas palavras de Paulo 
Freire (2011), “não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser 
formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições 
em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos ‘conhecimentos de 
experiência feitos’ com que chegam à escola” (FREIRE, 2011, p. 62). É papel do professor 
conduzir esses conhecimentos, de modo a aproveitá-los da melhor forma no ambiente 
educacional. 
Como podemos observar, há algumas contribuições que os conceitos de Fonética e 
Fonologia podem trazer para o ensino-aprendizagem da língua portuguesa. Afinal, a 
aquisição da escrita e da leitura necessita do conhecimento linguístico, de uma consciência 
fonológica, dos sons e símbolos que compõem a língua materna do aluno, das 
possibilidades de construção silábica, da prosódia, da ortografia, do funcionamento do 
aparelho fonador e da produção dos sons da fala. 
Troca de letras 
 
Outro aspecto importante de ressaltar, principalmente para professores de séries 
iniciais, refere-se à identificação de problemas de aprendizagem de escrita. Sabemos que 
não cabe ao professor o diagnóstico médico, mas é na sala de aula que conseguimos 
identificar que um aluno necessita de auxílio profissional. 
 A maioria dos alunos que apresenta dificuldade na escrita, não tem problemas em 
entender ou falar palavras com sons trocados. Isto é, ao ouvirem, por exemplo, alguém falar 
“pote”, não a confunde com “bote”, assim como, ao se expressarem oralmente, articulam 
bem uma e outra palavra. 
Quando os alunos estão aprendendo as convenções do sistema alfabético é comum 
alguns cometerem trocas entre p e b, t e d, f e v. Essas trocas ocorrem devido ao fato 
desses sons serem muito semelhantes em sua realização no aparelho fonador e, por isso, 
ao escrever surgem dificuldades em diferenciá-los. Tecnicamente, esse grupo de letras 
(P/B, V/F, T/D) é chamado de “pares mínimos”. Segundo Morais, 
 
Esses sons são produzidos expelindo-se o ar do mesmo modo, do mesmo ponto de 
articulação, diferindo apenas porque em um (por exemplo, o /b/) as cordas vocais 
 
 
49 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
vibram, enquanto no outro som (por exemplo, o /p) elas não vibram. (MORAIS: 2003, 
p. 29). 
 
 
Assim, pode-se propiciar ao aluno atividades que o auxiliem a realizar essa análise. 
Ao fazer confronto com as diferentes formas de escrita (FACA e VACA, por exemplo) e ao 
evidenciar as correspondências letras /som o aluno se dará conta de que, em nosso sistema 
de escrita, existe uma única e definida letra para notar o som em questão. 
Alguns linguistas propõem que só se trata duas classes de sons como fonemas 
distintos se comutar essas classes entre si, gerando enunciados diferentes. Por exemplo: 
a classe dos sons representados por /p/ é um fonema distinto de /b/ em português porque 
pato e bato são palavras com sentidos diferentes. Embora tenham várias características 
fonéticas em comum, /p/ e /b/ são fonemas distintos no português porque a diferença entre 
eles é usada na estrutura do idioma para criar enunciados distintos. 
Na escrita o p e b são letras parecidas. Quando a perninha desce é um p, mas quando 
sobe é um b, entãosubir e descer, descer e subir significa lateralidade e espaço. É muito 
fácil para os adultos e complicados para as crianças na educação infantil e no ensino 
fundamental. Uma letra parecida com outro signo gráfico, mas com traçado diferente, pode 
representar, na leitura, um som diferente e, consequentemente, trará outro significado. 
Quando uma criança não aprende a grafar bem, pode ser uma deficiência de percepção 
espacial ou de lateralidade como também uma deficiência cognitiva. Morais, explica que a 
troca de letras, 
 
É a capacidade de a criança reter os movimentos motores necessários à realização 
gráfica. À medida que a criança entra em contato com o universo simbólico (leitura 
e escrita), vão ficando retidos em sua memória os diferentes movimentos 
necessários para o traçado gráfico das letras. (MORAIS: 1986, p. 34). 
 
 
 Lidar com os fatos da língua como fatos da língua, realidades passíveis de serem 
atestadas no convívio social, pode auxiliar o professor a encontrar essas formas de lidar 
com as diferenças, de aproveitar os aspectos culturais em sala de aula. Tal aproveitamento, 
por sua vez, além de proporcionar a valorização dos saberes do educando, também tende 
a proporcionar novas discussões, a motivar o diálogo em sala de aula, a expandir a reflexão 
sobre a linguagem a outros níveis, mediante a identificação de outros aspectos até então 
não reconhecidos 
 
 
 
 
50 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro.4 ed. 
Porto Alegre: EDIPUCRS. 2005 
 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Elementos de fonética do português brasileiro. 
Campinas. Tese (Livre docência) - Universidade Estadual de Campinas.1981 
 
CRISTÓFARO-SILVA, T. Fonética e Fonologia do Português: roteiro de estudo 
e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
51 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
9. ATIVIDADES PRÁTICAS E A RELAÇÃO DA FONÉTICA COM 
OUTRAS ÁREAS 
 
Nessa aula, vamos propor algumas atividades para você refletir sobre seus 
conhecimentos da disciplina e que poderão auxiliá-lo em sua prática docente. 
Quando falamos em Fonética, voltamo-nos claramente para os sons. Assim, fica fácil 
pensar em atividades a partir de áudios e vídeos. No entanto, o texto é capaz de trazer 
essas particularidades, seja na transcrição literal, seja em uma reflexão como fez o ENEM 
em 2010. Observe o texto da prova: 
(ENEM-2010) Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o 
ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a 
pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as 
variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, 
Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do 
que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque 
parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo 
de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês 
doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os 
terminais em al ou el – carnavau, Raqueu… Já os paraibanos trocam o l pelo r. José 
Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer. [Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 
9 maio 1998 (fragmento adaptado).] 
Observem quantas possibilidades poderíamos trabalhar a partir de um texto desse. O 
mais evidente deles seria relativo à Sociolonguística, mas a Fonética e Fonologia também 
está presente. Tanto que a questão esperava uma resposta sobre Fonologia. Falar sobre a 
diferença entre os sons e os falares do Brasil é fundamental para romper com os 
preconceitos que trazemos. 
Outra forma de se trabalhar essas diferenças é por meio do uso de tirinhas. Observe: 
 
 
52 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
Novamente vemos mais de um conteúdo possível, tanto a Semântica como a 
Fonética. Nessa imagem, vemos claramente como a mudança de letra, muda o significado 
de uma palavra e isto só é percebido na escrita ou pelo contexto. Há infinitas possibilidades 
dentro dessa história, mas o interessante é que o texto se constrói a partir de questões 
fonéticas. 
Além do texto e da tirinha, também podemos pensar em como trabalhar a fonética nas 
artes. Especificamente na poesia. 
Poesia Fonética 
A poesia é composta de várias vertentes, um deles é a poesia fonética, que pode ser 
definida através de uma junção de fatores fonéticos específicos da linguagem tradicional, 
que agem sobre os ideais sintáticos e semânticos mais tradicionais. Nesse tipo de estilo, 
várias vezes não existe o uso de palavras, fazendo assim com que haja uma maior 
aproximação com o mundo musical. 
Não é a mesma coisa que poesia sonora, algo que muitas vezes causa confusão nas 
pessoas, no entanto as duas possuem diferenças que, se bem analisadas, irão mostrar que 
as distinções são bastante válidas e de efeitos significativos 
 
 
53 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Na sua origem a poesia possui o fonetismo. A voz é usada, sendo que há muito tempo 
as mesmas eram expressas oralmente, por declamação, sendo que alguns artistas da 
época eram conhecidos por declamar poemas com extrema habilidade. 
No século 20, a poesia foi praticamente usada em forma de música, ou melhor, em 
fonética, pois valorizavam a expressão humana, sendo que a voz trazia mais emoção ao 
que se lia. 
Hoje, podemos encontrar fusão de gêneros e os poemas podem ser declamados em 
forma de música, podem ser multimídia, podem muitas coisas 
 
 
 
Esse é um exemplo de poema que privilegia os aspectos sonoros. Nesse a exploração 
é bem evidente, no entanto há poemas que apenas trabalham as questões sonoras como 
um dos aspectos do texto. Por exemplo, a aliteração e a assonância, repetição de 
consoante e vogal respectivamente. 
 
Fonética e sintaxe 
 
Os estudos da interface entre fonética e sintaxe postula que a produção de uma 
palavra isolada tem uma enunciação característica. No entanto, a enunciação de uma frase, 
enquanto sequência de palavras, não é um mero encadear dessas enunciações isoladas. 
Há autores que defendem que esta representação fonológica estabelece relações de 
interface com a sintaxe, isto significa que, de algum modo, a representação sintática pode 
influenciar a representação fonológica e isso permite perceber por que é que a fonologia da 
frase. 
 
 
54 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Podemos perceber nas frases abaixo: 
(1) Foi embora? Não, está aqui! 
(2) Foi embora! Não está aqui. 
 
Ao mesmo conjunto de palavras estão subjacentes diferentes estruturas sintáticas, o 
que se reflete na sua enunciação. Vejam-se a este propósito os exemplos (1) e (2). 
O que queremos demonstrar é que a colocação ou não da pontuação modifica a 
função dos termos das sentenças e, a partir disso, termos entoação diferente das frases. 
Estes efeitos da sintaxe sobre a fonologia têm vindo a ser estudados, mas também é 
possível a influência contrária e termos princípios fonológicos que restringem o número de 
representações sintáticas. 
 
Fonética e semântica 
 
Com a evolução do latim para o português, ocorreram várias alterações a nível 
fonológico, ou seja, nos fonemas ou sons que constituem as palavras. No entanto, estas 
variações que se verificam no plano fonológico não se devem apenas a esta evolução: 
dentro da própria língua portuguesa continuam a suceder processos evolutivos, muitos 
deles frequentes em registos populares e outros decorrentes da oralidade. 
Entre eles destacamos aqueles de mudançafonética, ou seja, de inserção ou 
supressão de segmentos. Esse processo consiste em inserir novos sons ou fonemas numa 
palavra (no início, no meio ou no final da mesma). 
Prótese – inserção de um fonema no início de uma palavra. 
Ex.: stare > estar 
Epêntese – inserção de um fonema no meio de uma palavra. 
Ex.: creo > creio 
Paragoge – inserção de um fonema no final de uma palavra. 
Ex.: ante > antes 
 Processo de supressão de segmentos 
Processo que consiste em suprimir sons ou fonemas numa palavra (no início, no meio 
ou no final da mesma). 
Aférese – supressão de um fonema no início de uma palavra. 
Ex.: attonitu > tonto 
Síncope – supressão de um fonema no meio de uma palavra. 
 
 
55 Fonética e Fonologia Português / Libras 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Ex.: malu > mau 
Apócope – supressão de um fonema no final de uma palavra. 
Ex.: amore > amor 
Essa modificação, muitas vezes também favorece a mudança de sentido do termo. 
Ao longo dos tempos, as palavras evoluem ao nível fonológico, originando mudanças no 
significante (na parte gráfica e acústica da palavra). Para além desta mudança, também é 
possível verificar um outro tipo de evolução que ocorreu ao nível da semântica – palavras 
cujo significante não se alterou, mas nas quais houve uma modificação no significado 
que está só, solitário – significado inicial 
Ex.: solitariu > solteiro 
 
 
 
BACK, Eurico; MATTOS, Geraldo. Gramática Construtural da Língua Portuguesa. 
São Paulo: FTD, 1972 
 
BARBOSA, J .M. 1965. Études de Phonologie Portugaise. Lisboa: Junta de 
Investigações Científicas do Ultramar. 2.ème éd.: Évora: Universidade de Évora, 
1983 
 
BARROSO, H. Forma e Substância da Expressão da Língua Portuguesa. Coimbra: 
Almedina,1999. 
 
BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro.4 ed. 
Porto Alegre: EDIPUCRS. 2005 
 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Elementos de fonética do português brasileiro. 
Campinas. Tese (Livre docência) - Universidade Estadual de Campinas.1981 
 
CRISTÓFARO-SILVA, T. Fonética e Fonologia do Português: roteiro de estudo e 
guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2009. 
 
HENRIQUES, Isabel. A importância da sílaba: uma reflexão fonológica. eLingUp 
[Centro de Linguística da Universidade do Porto] Volume 1, Número 1, 2009 
 
MARTINS, Raquel Márcia Fontes. Estrutura Silábica. Lavras: Centro de 
Alfabetização e escrita – Ceale/FaE/; UFLA, disponível em 
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/estrutura-
silabica 
 
SEARA, Izabel Christine. Fonética e fonologia do português brasileiro : 2º 
período / Izabel 
Christine Seara, Vanessa Gonzaga Nunes, Cristiane Lazzarotto-Volcão– 
Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. 
 
VANDRESEN, Paulino. A linguística no Brasil, 2001. Disponível em 
http://comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/linguagem/ling15.htm

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