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AULA 04 – PROPRIEDADE (PT 3) 4.3) ACESSÃO Acessão é modo de aquisição da propriedade, criado por lei, em virtude do qual tudo o que se incorpora a um bem fica pertencendo ao seu proprietário. Ou, segundo a lição de Beviláqua, “é o modo originário de adquirir, em virtude do qual fica pertencendo ao proprietário tudo quanto se une ou incorpora ao seu bem” A) Modalidades de Acessão Natural: aluvião, avulsão, álveo abandonado e formação de ilhas Para se qualificar como natural vai depender da participação ou não da atividade humana, pois ela decorre de um evento da natureza Artificial: construções e plantações A quem atribuir a propriedade da coisa acedente à principal? R: Regra geral de que o acessório segue o principal As consequências patrimoniais decorrentes da acessão: Indenização em alguns casos, para evitar enriquecimento sem causa FORMAÇÃO DE ILHAS Aquisição de propriedade IMÓVEL usucapião 1.238 ao 1.244 CC registro do título 1.245 ao 1.247 CC acessão Art. 1.248 ao 1.259 CC O artigo 1.249 prevê que as “ilhas” que se formarem no meio do rio pertencerão, proporcionalmente, aos proprietários ribeirinhos de ambas as margens do rio (rios não navegáveis). Código de Águas – Decreto 24.643/34 Assim, dividindo-se o leito do rio ao meio, por uma linha vertical, a propriedade da ilha pertencerá aos proprietários ribeirinhos na proporção do terreno deles que se projeta para frente do rio. Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes: I - as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram. O artigo 1.249 do Código Civil possui aplicação prática bastante restrita, pois a Constituição Federal prevê que o domínio das águas correntes pertencerá à União ou aos Estados. Assim , “como agora públicas são as correntes, públicas serão as ilhas fluviais que nela se formarem” A única exceção é do inciso III do artigo 1.249 do Código Civil quando a ilha se formar pelo desdobramento do braço do rio à custa do terreno particular. ALUVIÃO São acréscimos, os depósitos e os aterros naturais que o rio anexa vagarosamente às margens de modo sucessível e imperceptível. Pertence aos proprietários dos imóveis ribeirinhos, salvo se for águas públicas. Adquire-se a propriedade pela aluvião quando houver “acréscimo, sucessivo e imperceptível de terras que o rio anexa naturalmente às suas margens”. Neste caso, o proprietário do terreno marginal torna-se dono da área acrescida pela aluvião. Se o terreno aluvial formar-se em frente de prédios de proprietários diferentes, a área será dividida entre eles, na proporção da testada de cada terreno sobre a antiga margem. A aquisição por aluvião deve ocorrer de forma natural, ou seja, o acréscimo do terreno não pode decorrer de ação humana. Por sua vez, os donos dos imóveis beneficiados com a porção acrescida do terreno não possuem nenhuma obrigação de indenizar quem quer que seja. Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização. Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem. - Aluvião própria: acréscimo de terras que o rio deixa naturalmente nos terrenos ribeirinhos. Rio traz a terra (areia, cascalho, etc) - Aluvião imprópria: acréscimo que se forma quando parte do álveo (superfície que a água cobre – leito do rio), descobre-se em razão dos afastamento das águas correntes, muitas vezes em virtude de lesões ambientais (Rio recua) AVULSÃO É a desagregação violenta de uma porção de imóvel para se juntar a outro. Consiste no desprendimento de porção de terra, de forma natural e abrupta, de determinado local que se junta ao imóvel de terceiro. Neste caso, o proprietário do imóvel acrescido pela porção de terra desprendida deverá indenizar o proprietário do imóvel desfalcado, a fim de evitar o enriquecimento sem causa. Se não houver acordo entre as partes no tocante ao valor da indenização, o pagamento deverá ser pleiteado por meio de medida judicial. Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado. Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida. Se houver recusa em pagar a indenização, o proprietário do imóvel beneficiado deverá permitir a remoção da porção do terreno acrescida. O proprietário prejudicado com a área desfalcada deverá pleitear no prazo decadencial de 1 (um) ano o pagamento da indenização. Decorrido o aludido prazo, a área desfalcada será acrescida definitivamente na propriedade do terceiro, sem qualquer obrigação do proprietário bene ficiado de pagar a indenização. ÁLVEO ABANDONADO Álveo significa o leito do rio. Se for particular o rio, o direito dos proprietários ribeirinhos vai até o meio do eixo do rio, de acordo com suas testadas. Assim, se o rio seca ou seu leito é desviado por algum fenômeno natural, a terra que resta no local é do dono do terreno. Não é indenizável por trata-se de força maior. Porém, se o desvio não se der de forma natural, mas sim para atender utilidade pública, a perda do terreno deve ser indenizada. Por ser fenômeno natural existe a possibilidade de o rio voltar ao leito normal. Nesse caso: O proprietário que perdeu o terreno pela invasão do rio, volta a ser dono com o retorno do mesmo ao seu curso natural; Quando decorrer de ação humana (nesse caso não houve acessão por ter sido artificial) continua a pertencer ao expropriante, que indenizou o antigo proprietário Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo. CONSTRUÇÕES DE OBRAS OU PLANTAÇÕES A acessão artificial de móvel a imóvel é verificado nas hipóteses de realização de construção e plantações quando a titularidade das sementes, plantas e materiais de construção não coincidir com a do terreno em que aqueles bens acedem. Sendo o solo a coisa principal, o que se lhe incorpora à superfície passa a pertencer ao dono como parte integrante essencial, adquirindo-se, assim, a propriedade (Nelson Rosenwald e Cristiano Chaves de Farias, 2020) Via de regra, as obras e construções realizadas sobre determinado terreno presumem-se de propriedade do dono do imóvel (art. 1.253). Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume -se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário. Como é possível semear, plantar e construir com sementes e materiais não pertencentes ao próprio solo, o CC enuncia três hipóteses que podem ocorrer: A) semeadura, plantação ou construção é feita em terreno próprio, com materiais alheios; Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio comsementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. B) semeadura, plantação ou construção é feita em terreno alheio com materiais próprios; Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização. Se estava de má-fé poderá ser compelido a repor as coisas no estado anterior e a pagar pelos prejuízos. Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo (acessão inversa) - Para que seja possível construir ou plantar em solo alheio é necessário que o construtor/agricultor esteja na posse do imóvel objeto das acessões. Somente quando o possuidor tiver efetuado construções e plantações com o escusável desconhecimento dos vícios da posse , com base em ato jurídico aparentemente a legitimar a ocupação, poderá pleitear indenização pela perda da coisa em favor do verdadeiro dono, pelo valor atual das acessões. É necessário avaliar se as acessões não constam na relação contratual prévia entre as partes e como são tratadas Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua. C) semeadura, plantação ou construção é feita em terreno alheio, com materiais alheios Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio. Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê -la do plantador ou construtor. - Os materiais passam a pertencer ao proprietário do solo. - Leva-se em conta a boa-fé ou a má-fé para fins de indenização Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente. Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.
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