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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA (CAMPUS ASSIS-SP) Técnicas Retrospectivas (Projeto) – APS Discente: Marília Cury Ribeiro R.A: T1484C-5 Maio / 2021 1.a. Requalificação no Príncipe Real, Palácio Faria e Casarão – Lisboa / Portugal Ficha técnica: Restauro: Palácio Faria e Casarão – Príncipe Real Localização: Lisboa, Portugal Arquiteto: Eduardo Souto de Moura Área total construída: 3.526m² Status: Restauração concluída em 2017. Imagem 1: Fachada principal do Palácio Faria após restauração – Fonte: Eastbanc, 2021. A construção inicial do Palácio Faria foi iniciada no ano de 1887. Porém, este trabalho refere-se às obras de restauração dessas estruturas. Projetados pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura em parceria com Anthony Lanier, presidente da Eastbanc Portugal, os edifícios situam-se no bairro Príncipe Real, uma das principais áreas verdes do centro de Lisboa. A região em que o Palácio e o Casarão se inserem é caracterizada pela intensa vida cotidiana e diversidade de usos e atrativos aos diferentes públicos, que fazem do bairro um dos mais valorizados atualmente. Nele, pode-se chegar aos locais de serviços e trabalhos a pé, o que intensifica a relação com os espaços públicos existentes. Imagem 2: Bairro Príncipe Real – Fonte: Eastbanc, 2021. Contudo, antes de chegar a essa realidade, Portugal passou por um intenso processo de recuperação urbana. Essas ações foram realizadas como medidas de incentivo a novos investimentos no setor turístico e imobiliário, após a crise econômica de 2008. Naquela época, a maior parte da população teve sua renda congelada, o que resultou numa crise generalizada e, por consequência, na degradação dos espaços públicos e dos prédios históricos por falta de investimento em manutenção e conservação. Mas, com a ocorrência da onda de protestos e revoluções no Oriente Médio e no norte do Continente Africano, Portugal passou a ser considerado uma alternativa turística para os europeus e, mais ainda, aos brasileiros, devido a facilidade com o idioma e ao custo de vida, quando comparado aos outros países europeus. Assim, o Poder Público Municipal estabeleceu algumas áreas passíveis de reabilitação urbana, reduziu entraves burocráticos, aumentou os atrativos para investidores por meio da concessão de benefícios fiscais, facilitou a aprovação das obras de restauração e criou planos para o desenvolvimento do mercado imobiliário, associados a implementação de uma estratégia de reabilitação urbana para acelerar a recuperação dos edifícios das cidades portuguesas. Com isso, os principais centros urbanos foram ressignificados por meio do turismo, o que resultou no fortalecimento da economia do país a partir de 2015. Nesse sentido, o Palácio Faria e do Casarão foram alguns dos edifícios escolhidos para receber os investimentos. Sob encomenda da Eastbanc Portugal, o arquiteto Eduardo Souto de Moura projetou a restauração de ambas as edificações, adequando-as ao novo uso residencial de alto padrão, com a oferta de seis apartamentos, com plantas de 220 a 400 metros quadrados e catorze vagas de garagem, no total. O projeto realizado teve a intenção de devolver as características originais das edificações, mas possibilitando um novo tipo de uso, mais adequado aos interesses do mercado imobiliário. Tal fato é justificado pela Carta de Veneza de 1964, que trata da importância de se conceber um novo uso às edificações, com o objetivo de manter sua conservação e preservá-la devido a sua importância histórica e cultural. Segundo o arquiteto responsável, o projeto realizado buscou preservar o antigo e, ao mesmo tempo, oferecer as comodidades necessárias atualmente, justificando assim, as modificações realizadas. Por sua vez, o Príncipe Real pode ser caracterizado como um conjunto histórico e, segundo a Carta de Washington (1986), todo o conjunto deve ser conservado, para que não se percam as características relativas ao entorno e que também exemplificam aspectos históricos importantes. Sendo assim, foi necessário aos envolvidos e, estende-se essa importância à população, olhar para todo o bairro Príncipe Real e elencar quais aspectos poderiam ser remodelados e quais devem ser mantidos como originalmente. Imagem 3: Edifícios da intervenção no Príncipe Real - Fonte: Jorge da Silva, 2013. Modificado pelo autor. Dessa forma, o Palácio Faria e o Casarão não foram os únicos a serem escolhidos para a requalificação. A Imagem 3 destaca outros espaços destinados à futuras intervenções de conservação e restauração, para possibilitar novos usos e assegurar a manutenção do conjunto. Esta remodelação deve ser realizada com planejamento, após adequado estudo, para que sejam seguidas as recomendações e legislações acerca do patrimônio cultural, de forma que o resultado final não descaracterize a região, para que seja mantida a importância histórica e cultural local. 1.b. 4 Desenhos sobre o enunciado do projeto arquitetônico de técnicas retrospectivas Imagem 4: Quatro desenhos sobre o enunciado do projeto arquitetônico (Parte 01) Fonte: Elaborado pelo autor. Imagem 5: Quatro desenhos sobre o enunciado do projeto arquitetônico (Parte 02) Fonte: Elaborado pelo autor. 2.Diretrizes do projeto de restauro As diretrizes de restauração foram elaboradas com o objetivo de devolver aos edifícios seu valor histórico, por meio da utilização de materiais e técnicas construtivas originais, adaptadas às atuais regulamentações e exigências. Na parte estrutural, optou-se pela realização de um reforço estrutural nos elementos existentes, por meio da inserção de estruturas metálicas, para assegurar maior resistência a terremotos. Do mesmo modo, foram reabilitados os elementos que caracterizam a edificação, como portas, rodapés, cantarias, janelas, pinturas murais e estuques, além de réplicas dos elementos da fachada e da cobertura, para assegurar que fosse restituída a imagem original do Palácio. Imagem 6: Modificações realizadas no Palácio Faria e no Casarão – Fonte: Escola da Cidade, 2021. O piso de madeira nobre, foi removido, tratado e reaplicado, mas de forma que fosse criada uma caixa de ar entre pisos, para promover maior isolamento acústico. Do mesmo modo, as janelas originais foram recuperadas, mas foram inseridas caixilharia dupla em madeira lacada, para auxiliar no bom desempenho acústico local, que atinge o isolamento de até 63dB nos apartamentos. Imagem 7: Detalhe dos acabamentos do Palácio Faria e do Casarão – Fonte: Eastbanc, 2021. Nas cozinhas e sanitários, os mobiliários foram desenhados pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura, possuindo um design único que se relaciona com a proposta da edificação. Os revestimentos e pedras foram feitos em Lioz Amaciada, ressaltando a relação com o local. Também foram inseridas novas instalações de ar-condicionado, oferta de água quente, instalações elétricas e de segurança, para adequarem-se às normas atuais. Desse modo, as principais modificações aconteceram no interior dos prédios, pois o uso dos espaços foi totalmente alterado, devido ao interesse econômico e imobiliário que, agora, existe na região. Imagem 8: Palácio Faria: Fachada antes da intervenção (esquerda) – Fonte: Escola da Cidade, 2021. Imagem 9: Palácio Faria: Fachada depois da intervenção (direita) – Fonte: IRGLUX, 2021. No que se refere à volumetria e fachada, foram restaurados os elementos arquitetônicos que caracterizam as edificações, com apenas algumas alterações, sendo elas: - No Palácio Faria, foram inseridos elementos decorativos em ferro fundido e um novo ambiente, na cobertura, que alterou parte do telhado. - No Casarão, foram retiradas as duas janelas centrais do pavimento térreo e, no lugar, foi inserida apenas uma janela central, emmadeira, assim como nas portas de entrada. Imagem 10: Casarão: Fachada antes da intervenção (esquerda) – Fonte: Escola da Cidade, 2021. Imagem 11: Casarão: Fachada depois da intervenção – Fonte: Escola da Cidade, 2021. Com isso, a intervenção buscou respeitar a volumetria e demais características arquitetônicas do Palácio e do Casarão originais, mantendo-os o mais fiel possível à construção inicial, mas destacando as modificações realizadas, como recomendam as atuais regulamentações de preservação e restauração. Assim, toda a intervenção teve por objetivo devolver às edificações um maior desempenho estrutural, acústico, de acessibilidade e segurança, para a inserção do novo uso de ambos os prédios. 3. Partido arquitetônico do restauro O projeto de restauro realizado no bairro Príncipe Real consiste em revitalizar esse bairro de Portugal, por meio da reestruturação das áreas comuns que trazem vida à região e da restauração de vários prédios históricos ali existentes, considerando as características do espaço quanto conjunto histórico, como estabelecido pela Carta de Washington (1986). Por sua vez, o partido arquitetônico de restauro teve por objetivo principal manter as características originais desses edifícios, por meio de uma mescla de materiais originais restaurados e técnicas e materiais modernos e de alta qualidade nos itens que caracterizam as edificações. Dessa forma, seguindo o recomendado pela Carta de Veneza (1964), as modificações restringem-se a elementos específicos, e mantém seu caráter excepcional, sendo realizada somente nos casos em que foi possível comprovar as características originais, uma vez que ela “termina onde começa a hipótese”. Porém, a pátina não está visível nas duas edificações, pois alguns dos elementos foram restaurados e outros estão escondidos pelo novo forro, inserido para facilitar o novo uso residencial, não estando visível aos usuários. Contudo, ela foi preservada e devidamente documentada como especifica a Carta do Restauro de 1972. Assim, a restauração executada aproxima-se do pensamento de Camillo Boito por equilibrar os elementos a serem mantidos e restaurados, ao mesmo tempo que oferece a possibilidade de modernização e atualização para abrigar um novo uso. Referências bibliográficas DIÁRIO IMOBILIÁRIO. Palácio Faria transforma-se em condomínio de luxo, 2016. Disponível em: <http://www.diarioimobiliario.pt/Habitacao/Palacio-Faria-transforma-se-em-condominio-de-luxo>. Acesso em: 15 de maio de 2021. ESCOLA DA CIDADE. Projetos recentes: Aula inaugural com Eduardo Souto de Moura. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UZtuxv991oo>. Acesso em: 19 de maio de 2021. FARIA PALACE. Um projeto intemporal e singular. Disponível em:<https://www.fariapalace.com/ building.php>. Acesso em: 18 de maio de 2021. IPHAN. Carta do Restauro. Disponível em:<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ Carta%20do%20Restauro%201972.pdf>. Acesso em: 17 de maio de 2021. IPHAN. Carta de Veneza. Disponível em:<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ Carta%20de%20Veneza%201964.pdf>. Acesso em: 17 de maio de 2021. IPHAN. Carta de Washington. Disponível em:<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arqui vos/Carta%20de%20Washington%201986.pdf>. Acesso em: 17 de maio de 2021. MUYLAERT, Beatriz. Como Portugal soube recuperar seu patrimônio histórico, 2021. Disponível em: <https://vejasp.abril.com.br/cidades/brasil-aprender-reabilitacao-urbana-portugal/>. Acesso em: 15 de maio de 2021. RIBEIRO, Alves. Faria Palace, 2019. Disponível em:<https://premio.vidaimobiliaria.com/ candidato/r6y6jjyb/>. Acesso em: 16 de maio de 2021. SEVILHA, Ana Rita. Primeiro projecto da Eastbanc em Portugal tem assinatura de Souto de Moura, 2016. Disponível em:< https://construir.pt/2016/11/09/primeiro-projecto-da-eastbanc-em-portugal-tem- assinatura-de-souto-de-moura/>. Acesso em: 16 de maio de 2021.
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