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1. Crimes x Adm. Pública - func. público - 1. parte

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Direito Penal IV
Prof. Ms. Gabriel frias
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CÓDIGO PENAL (DECRETO-LEI No 2.848/1940) 
PARTE ESPECIAL – TÍTULO XI
ARTS 312 A 359 H
 5 CAPÍTULO
CAPÍTULO I – DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMNISTRAÇÃO PÚBLICA EM GERAL
CAPÍTULO II – DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM GERAL
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CAPÍTULO II A (INCLUÍDO PELA LEI 10.467/2002) – DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMNISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
CAPÍTULO III – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
CAPÍTULO IV – DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINITRAÇÃO EM GERAL
FIGURAS/TIPOS:
 PECULATO - ART 312
 PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM – ART 313
 INSERÇÃO DE DAOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO (LEI 9.983/2000) – ART 313 - A
 MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES (LEI 9.983/2000) ART. 313 - B
 EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO – ART 314
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINITRAÇÃO EM GERAL
FIGURAS/TIPOS:
 EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS – ART 315
 CONCUSSÃO – ART 316
 CORRUPÇÃO PASSIVA – ART 317
 FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO – ART 318
 PREVARICAÇÃO – ART 319
 CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA - ART 320
 ADVOCACIA ADMINISTRATIVA – ART 321
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINITRAÇÃO EM GERAL
FIGURAS/TIPOS:
 VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA – ART 322
 ABANDONO DE FUNÇÃO – ART 323
 EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO – ART 324
 VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL – ART 325
 VIOLAÇÃO DO SIGILIO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA – ART 326
DEFINIÇÃO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO
 Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
        § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.      (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
        § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980)
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
Tratados no Código Penal no título XI. Os crimes praticados contra a Administração Pública estão separados em: 
1. Cometidos por funcionários públicos 
2. Cometidos por particulares
Administração Pública: sentido amplo, abrange os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO
O art. 327 traz o conceito de funcionário público (caput) para fins penais e no § 1.º estabelece o que a lei considerada funcionário público por equiparação. De acordo com o disposto no CP: “considera-se funcionário público, para efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.” 
- Diferença com o Dir. Adm e Const.
CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Observe que, para fins penais, o conceito de funcionário público e administração pública possuem um sentido muito mais amplo do que o que possuem, por exemplo, para o Direito Constitucional e o Direito Administrativo (funcionário público, empregado públicos, cargos em comissão, servidores temporários...)
Lembrando: CF/88  Princípios da Adm Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
CARGO PÚBLICO: criado por lei, dentro da estrutura da administração pública, com denominação e padrão de vencimento próprios, ocupada por servidor público com vínculo estatutário. Ex.: juízes, escreventes.
EMPREGO PÚBLICO: são os contratados regime especial ou vínculo contratual celetista (relação trabalhista), geralmente para situações temporárias como admissão de professor, assistência a emergência de saúde pública. 
FUNÇÃO PÚBLICA: é o conjunto de atribuições que a Administração Pública confere a cada categoria profissional. Denominação residual: todo aquele que presta serviços para a administração, mas não seja ocupante de cargo ou emprego público. Ainda que a função pública seja exercida transitoriamente e sem remuneração, será o agente considerado funcionário público para fins penais. Ex., jurados e mesários eleitorais. 
MÚNUS PÚBLICO: (encargo público) ônus conferido por lei e imposto pelo Estado em que prevalece a atividade privada. Exercem apenas um encargo público. Não são considerados funcionários públicos para fins penais – tutores, curadores inventariante, administrador judicial de massa falida, dirigente sindical. Assim, eventual subtração, valendo-se do encargo legal não seria peculato, mas furto. 
ESTAGIÁRIO - (STJ, REsp 1303748/AC, Min. Sebastião Reis Júnior, 25.06.2012):
Estagiário concursado exerce cargo e, portanto, é considerado funcionário público para os efeitos penais. 
Estagiário informal ou voluntário, estando na repartição pública, exerce função pública – sendo, portanto, considerado funcionário público para os efeitos penais.
 
FUNCIONÁRIO PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO
Segundo o que dispõe o § 1.º do art. 327 do CP, equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. 
1. ENTIDADES PARAESTATAIS: adotou-se uma corrente ampliativa. Considera funcionário público aquele que exerce suas atividades não apenas na administração pública indireta como Autarquias: INSS, Anvisa, Anatel, mas também: 
a) Sociedade Economia Mista: BB, Petrobrás. 
b) Empresas Públicas: Caixa Econômica Federal, BNDS, Correios. 
c) Fundações instituídas pelo poder público: FUNAI. 
Recurso Especial n.º 1.440.431 - RN (2014/0051512-4). DJ 21/11/2017. Considerou entidade paraestatal, para fins penais, entidades privadas que colaboram com o Estado. Por ex.: as empresas que integram serviços sociais autônomos (sistema “s”: SESI, SENAC, SEBRAE); as entidades de apoio (associações e cooperativas), as organizações sociais e as organizações da sociedade civil de interesse público. 
2. Quem trabalha para empresa contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Passaram a responder como funcionários públicos aqueles que exercem atividades tipicamente públicas: 
2.1 Em empresas contratadas: permissionárias ou concessionárias (coleta lixo, energia elétrica, água, transporte coletivo) do serviço público. 
2.2 Em empresas conveniadas. 
ATIVIDADE TIPICAMENTE PÚBLICA
Tanto a empresa CONTRATADA quanto CONVENIADA, deve executar atividade típica da Administração Pública. Se uma empresa é contratada pelo ente público para a execução de serviço de cerimonial ou construção ou a reforma de um edifício público, os seus empregados não responderão como funcionários públicos, haja vista que não se trata de atividade tipicamente pública. 
A distinção fundamental está no interesse em disputa: se a atividade é usufruída pela comunidade (o serviço é da Administração, ainda que realizado indiretamente por particulares), são equiparados a funcionários públicos os seus prestadores; se a atividade, porém, é destinada a atender a demanda da própria Administração (o serviço é para a Administração), não são equiparados os funcionários da empresa privada contratada.
2.1 SOBRE AS EMPRESAS CONTRATADAS: os serviços públicos, em regra, são prestados diretamente pelo Estado e custeados pelos impostos. A segurança e iluminação públicas, por ex., são funções precípuas dos entes públicos e não podem ser delegadas. São serviços públicos propriamente ditos, que atendem a coletividade de forma indiscriminada. 
A execução de algunsserviços públicos podem ser delegados a entes privados (funções públicas concorrentes). Nesses casos, é realizado um procedimento licitatório por parte do Estado para concessão (contrato bilateral) ou permissão (contrato de adesão, unilateral) do serviço público ao particular. Tem-se um ENTE PARTICULAR exercendo o serviço público por delegação. É o caso, por ex., companhias de energia elétrica e abastecimento de água. 
2.2 SOBRE AS EMPRESAS CONVENIADAS: Assim sendo, médicos e administradores de hospitais particulares conveniados ao SUS, que já recebem do Estado pelos serviços prestados e, ao mesmo tempo, cobram de pacientes, podem responder por crime de corrupção passiva ou concussão. Da mesma forma é equiparado o advogado que recebe do poder público para atender o beneficiário da Assistência Judiciária Gratuita (convênio OAB-Defensoria Pública). 
Advogados dativos conveniados à defensoria pública: “Conforme jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, para fins penais, o advogado dativo deve ser equiparado a funcionário público, nos termos do artigo 327 do Código Penal.” (STJ - CC 145485 – p. 20.03.2017). 
Assim, o recebimento de vantagem indevida é conduta que pode tipificar corrupção passiva ou concussão. 
ALCANCE DA EQUIPARAÇÃO 
Para fins penais, a equiparação do § 1.º não deve ser considerada em relação ao sujeito passivo: aplica-se a equiparação apenas ao sujeito ativo (crimes praticados por funcionário público ou equiparado). 
Prevalece a teoria restritiva: a equiparação diz respeito ao sujeito ativo do crime (quem o pratica). 
Ex.: A, empregado de paraestatal, é ofendido por B, no exercício de sua função. Se considerarmos que a equiparação é referente somente ao funcionário público enquanto sujeito ativo, B terá praticado o crime de injúria (teoria restritiva, que prevalece). Se, no entanto, a equiparação do § 1.º, do art. 327, for estendida ao sujeito passivo, B, responderá por desacato, pois ofendeu funcionário público no exercício da sua função (teoria extensiva).
AUMENTO DA PENA
§ 2.º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.
AÇÃO PENAL 
Ação penal pública incondicionada: a tutela penal visa proteger o interesse público, inerente à prossecução do fim último da Administração Pública e o empenho do Estado na repressão de condutas atentatórias ao seu bom funcionamento. Secundariamente, protege também o interesse jurídico particular que pode ser lesado pelo comportamento do agente público. Ex:. peculato, excesso de exação. 
BEM JURÍDICO TUTELADO: Administração Pública, seu patrimônio material e moral (moralidade administrativa, insuscetível de valoração econômica). 
COMPETÊNCIA (Súmula n. 147 do STJ): compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função. 
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA DO FUNCIONÁRIO PÚBLICO: todos os crimes enumerados nesse título são, necessariamente, ilícitos administrativos. O inverso não é verdadeiro: uma infração administrativa não é necessariamente um crime contra a Administração Pública, pois, para isso, requer-se como em qualquer ilícito penal, tipificação expressa.
INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS (penal, civil e administrativa) 
O funcionário público tem tripla responsabilidade: civil, penal e administrativa. A sentença penal repercute no processo administrativo, mas a recíproca não é verdadeira: a decisão prolatada pela autoridade disciplinar encerra uma etapa meramente administrativa, sempre apreciável pelo Poder Judiciário.
Sentença penal condenatória: produz efeitos no processo civil e administrativo, fazendo coisa julgada relativamente à culpa do agente, sujeitando-o à reparação do dano e às punições administrativas. No caso de condenação, não se rediscute a responsabilidade do servidor. Isso porque a probabilidade de justiça é muito maior na esfera penal do que na administrativa, tendo em vista o rigor técnico na apuração de crime, previsto no processo penal. 
Assim sendo, a condenação em processo penal, impede a absolvição administrativa, pois os requisitos exigidos para a imposição da sanção penal são mais rígidos do que para a condenação administrativa. 
Sentença penal absolutória: vincula a decisão em processo administrativo somente se provada a inexistência do fato ou a negativa de autoria. A absolvição penal impede a responsabilização ao funcionário administrativa e civil. 
Em caso de absolvição criminal pela negativa de autoria ou inexistência do fato e já ocorrida a condenação do servidor nas outras esferas pelo mesmo motivo, os efeitos dessa decisão deverão prevalecer. Servidor demitido em processo administrativo e depois absolvido em processo judicial por negativa de autoria ou inexistência do fato, deverá ser reintegrado, inclusive percebendo todos os direitos a que esteve impedido em virtude da demissão.
CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Os crimes praticados por funcionários públicos são chamados de CRIMES FUNCIONAIS. Os crimes funcionais estão inseridos na categoria de CRIMES PRÓPRIOS – ou seja, aqueles que a lei exige uma característica específica do sujeito ativo (elementar) = ser funcionário público, nos termos da lei penal. 
Os crimes funcionais, admitem, ainda, a seguinte classificação:
Funcionais próprios: a exclusão da qualidade de funcionário público torna a conduta atípica: prevaricação, condescendência criminosa.
Funcionais impróprios/mistos: excluindo a qualidade de funcionário público, há desclassificação para crime de outra espécie: peculato (319) = para furto ou apropriação indébita (atipicidade relativa). 
Exemplos:
Crime funcional próprio: PREVARICAÇÃO
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. 
Se não for praticado por funcionário público, a conduta é atípica. 
Crime funcional impróprio: PECULATO
Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo [...]. 
§ 1.º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai [...] valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
- Apropriação indébita (168) ou Furto (155)
COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO
É possível se o particular, ciente da condição de funcionário público do comparsa, contribuiu para a prática do crime. 
O particular responde pela mesma infração penal, pois de acordo com o art. 30, CP, as circunstâncias elementares (neste caso, subjetivas = de caráter pessoal) comunicam-se com os coautores e partícipes. 
EXTRANEUS E INTRANEUS
EXTRANEUS: refere-se ao terceiro. Nos crimes próprios de funcionários públicos, um outro partícipe ou coautor, que não o seja, é denominado extraneus. 
INTRANEUS: refere-se ao funcionário público.
Ex.: No crime de peculato o funcionário que o comete é intraneus e o que, sem ser funcionário o auxilia, é extraneus. 
PROCEDIMENTO ESPECIAL
O art. 514, do Código de Processo Penal prevê, no procedimento dos crimes praticados por funcionário público, a defesa preliminar antes do recebimento da denúncia: Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.
Este artigo precisa ser interpretado juntamente com a Súmula 330, STJ: É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por Inquérito Policial (IP).
Assim sendo, a regra do art. 514 só precisa ser observada se a denúncia se fizer com base em outro tipo de procedimento: sindicância,apuração preliminar, peças de informações.
Obs. 1: os demais atos processuais obedecem ao rito ordinário (qualquer que seja a pena), com exceção das infrações de de menor potencial ofensivo, que seguem o rito sumaríssimo previsto na Lei n.º 9.099/95 – JECRIM (pena em abstrato inferior a 2 anos). 
Obs. 2: atualmente todos os crimes praticados por funcionários públicos são afiançáveis. 
EFEITOS EXTRAPENAIS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA
Art. 92, inc. I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: 
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
A perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo: efeitos não automáticos – não decorrem meramente da condenação. 
Necessitam de declaração expressa na sentença – ou seja, que o juiz justifique a aplicação de tais efeitos nos crimes previstos nos arts. 312 a 326, CP (crimes praticados contra a Administração Pública) ou crimes comuns com abuso de poder.
PERDA DO MANDATO ELETIVO: o art. 55, VI, CF determina a perda do mandato eletivo do senador e deputado federal que sofrer CONDENAÇÃO DEFINITIVA. Esse procedimento aplica-se aos Deputados Estaduais. Embora haja divergência sobre o assunto, a perda decorrente da condenação não é automática – há necessidade de deliberação do Poder Legislativo, por disposição do art. 55, § 2.º, CF/88
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
§ 2.º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
Ex.: Paulo Maluf foi condenado a 7 anos e 9 meses de reclusão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O STF, além de determinar o cumprimento da pena, também condenou, de forma expressa, o deputado à perda do mandato, por não comparecer à 1/3 das sessões. Maia ajuizou no STF uma ação (ADPF) que busca o reconhecimento da prerrogativa do Poder Legislativo de decretar a perda de mandato de parlamentar.
PERDA DO MANDATO ELETIVO de Prefeito, Governador e Presidente da República: a perda é automática, basta que a condenação transitada em julgado seja comunicada à Câmara Municipal, Assembleia Legislativa ou Congresso Nacional para que seja declarada a perda do mandato (é um ato vinculado, sem necessidade de deliberação acerca da perda ou não do mandato). 
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Se um Prefeito é condenado criminalmente a 2 anos de pena privativa de liberdade por crime contra a Administração Pública e a decisão transitada em julgado constar a determinação, fundamentada de que perderá o mandato eletivo, não há necessidade de deliberação - não é necessária nenhuma outra providência adicional além da determinação na decisão condenatória. Tal conclusão está no art. 15, III c/c art. 14, § 3.º, II da CF/88 e art. 92, CP. 
Temer foi denunciado pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot, por corrupção passiva. Temer é o 1.º ex-presidente em exercício do mandato a ser denunciado por um crime comum. Caso a denúncia fosse autorizada pela Câmara (2/3 dos 513 = 342) e aceita pelo STF, seria afastado do mandato por até 180 dias. Se fosse determinada expressamente a perda da função, a decisão do STF seria comunicada ao Congresso apenas para providências. 
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PROGRESSÃO DE REGIME
Art. 33, § 4.º O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. 
STF: julgou constitucional o dispositivo (Informativo 772)
A imposição da devolução do produto do crime não constituiria sanção adicional, mas devolução daquilo que fora indevidamente apropriado ou desviado. Ademais, não seria o direito fundamental à liberdade do condenado que estaria em questão, mas somente, se a pena privativa de liberdade a ser cumprida deveria se dar em regime mais favorável ou não, o que afastaria a alegação quanto à suposta ocorrência de prisão por dívida. 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
O entendimento dominante é de ser incabível reconhecer a atipicidade de conduta, pois nos crimes cometidos por funcionário público o bem jurídico tutelado é a MORALIDADE ADMINISTRATIVA e não os bens da administração pública. Nesse sentido a Súmula 599, STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. 
"É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de não ser possível a aplicação do princípio da insignificância ao crime de peculato e aos demais delitos contra Administração Pública, pois o bem jurídico tutelado pelo tipo penal incriminador é a moralidade administrativa, insuscetível de valoração econômica" (AgRg no AREsp 1019890/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 16/05/2017, DJe 24/05/2017)
O valor da res não pode ser considerado ínfimo quando a administração for sujeito passivo – configura-se reprovabilidade suficiente a justificar a intervenção estatal por meio do processo penal. 
No entanto, existem decisões, minoritárias, em sentido contrário – em que o funcionário foi absolvido (HC 112.388 – peculato furto de um farol de milha no valor de 13 reais). 
Art 312 – PECULATO		
Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, (peculato apropriação) ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio (peculato desvio)
        Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
        § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. (peculato furto)
Art 312 – PECULATO		
Bem jurídico tutelado: moralidade da Adm Pública e indiretamente, seu patrimônio
Delito funcional impróprio  excluída a elementar funcionário público restará outra figura típica
 Embora classificado como crime próprio (exige qualidade especial do sujeito ativo) admite concurso de pessoas.
Admite a tentativa na modalidade dolosa (iter criminis fracionável – instantâneo e plurissibsistente) 
Admite a forma culposa
PECULATO - Art. 312 e 313
DOLOSO: 1. Peculato apropriação (próprio = pressupõe posse) = art. 312, caput, 1.ª parte. – consuma-se com a inversão do animus
2. Peculato desvio (próprio) = art. 312, caput, 2.ª parte. – consuma-se com a efetiva subtração
3. Peculato furto (impróprio = autor não tem prévia posse) = art. 312, § 1.º
4. Peculato mediante erro de outrem = art. 313, § 2.º. 
CULPOSO: art. 312, § 2.º.
PECULATO APROPRIAÇÃO
Art. 312, 1.º parte (próprio)
Caracteriza-se pelo fato do funcionário público apropriar-se de dinheiro, valor, ou qualquer outro bem móvel, público ou particular de que tem a posse em razão do cargo que exerce. 
BEM JURÍDICO TUTELADO: bens móveis, públicos ou particulares e a moralidade administrativa. 
APROPRIAR-SE: o agente tem a posse do bem, mas inverte o ânimo sobre o objeto, passando a atuar como se fosse seu, favorecendo-se da facilidade que o cargo que o agente ocupa proporciona. 
Se usar de fraude: crime de estelionato. Se usar de violência ou grave ameaça: roubo ou extorsão. 
É preciso que o bem, dinheiro ou coisa móvel esteja sob guarda ou custódia da administração pública. Se não estiver: apropriação indébita. 
OBJETO MATERIAL: dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel.
SUJEITO PASSIVO: sempre o Estado podendo, em casos de crimes contra particulares, haver dois sujeitos passivos: o particular e o Estado. 
SUJEITO ATIVO: funcionário público ou pessoas equiparadas, por ser crime próprio. 
Ausente a elementar de funcionário público: apropriação indébita.
Prefeitos Municipais: respondem por crimes específicos,previstos no Decreto-lei n.º 201/67, quando praticam peculato-apropriação ou desvio. 
CONSUMAÇÃO: 
1. Peculato-APROPRIAÇÃO: o crime consuma-se quando o agente pratica uma conduta que enseja a inversão da posse. 
2. Peculato-DESVIO: o crime consuma-se no momento em que o funcionário dá destinação diversa ao bem, dinheiro ou valor, não sendo necessário que obtenha o proveito visado. 
Para Bitencourt não é necessário que ocorra um dano patrimonial à administração pública (crime formal). Já Luiz Régis Prado e Nucci não desvinculam a prática de peculato da corresponde lesão patrimonial (crime material – prevalece este entendimento). Existem decisões nos dois sentido no STJ e STF. 
TENTATIVA: é possível.
Exemplo peculato-apropriação: 
1. Juiz que se apropria de moeda estrangeira que havia sido apreendida nos autos de Ação Penal (dinheiro particular, que estava em sua posse em razão do cargo). 
2. Funcionário público que, de posse do computador da repartição, resolve levá-lo para casa, dar para presentear alguém. Resolveu fazer do bem público, algo privado. 
PECULATO-DESVIO
Art. 312, caput, 2.º parte (próprio)
Caracteriza-se pelo fato do funcionário público desviar dinheiro, valor, ou qualquer outro bem móvel, público ou particular de que tem a posse, em razão do cargo que exerce. 
DESVIAR: alterar o destino do bem que está em seu poder, com o objetivo de se beneficiar ou beneficiar terceiros. 
Em proveito próprio ou de outrem. Se desviar verba pública em proveito da administração pública: desvio irregular de verbas (art. 315, CP). O proveito pode ser material (econômico) ou moral (vantagem política). 
Eventual aprovação do tribunal de contas: não exclui o crime. 
Sujeitos passivo e ativo, bem tutelado, objeto material: igual peculato- apropriação. 
Exemplo peculato-desvio: 
1. Ex-diretor de marketing do BBrasil (empresa economia mista = funcionário público para fins penais), utilizando-se do cargo, desviou valores (privados - fundo Visanet), para o mensalão. 
2. Pagar com dinheiro público de que tenha a guarda em razão do cargo, por serviço não prestado ou objeto não vendido. 
3. Juiz que autoriza transferência de dinheiro de bloqueio judicial para uso próprio.
PECULATO DE USO: é o uso de bem público para fins particulares. A jurisprudência diz que só há crime quando o uso não autorizado do bem público, pelo funcionário, refere-se a bem fungível. Ex.: o funcionário público usa dinheiro público para comprar uma casa. Nessa hipótese, houve consumação no momento da compra; assim, mesmo que posteriormente reponha o dinheiro, irá responder criminalmente pelo PECULATO DESVIO. 
Se o funcionário, porém, usa bem infungível e o devolve posteriormente, não responde pelo crime, pois a lei não pune o mero uso. Ex.: usar trator para fins particulares, usar veículo em seu próprio benefício. Nesse caso, entende-se que não há crime, exceto se o combustível for público (que é fungível). O uso de bem público por funcionário para fins particulares, qualquer que seja a hipótese, caracteriza ato de improbidade administrativa. 
Uso de bem público fungível: há crime de peculato-desvio, mesmo que haja reposição. 
Mero uso de bens infungíveis: não há crime de peculato, apenas ato de improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito (art. 9.º, inc. IV, LIA - Lei n. 8.429/92). 
Prefeitos Municipais: o uso de bem infungível, haverá crime específico. 
PECULATO-FURTO
Art. 312, § 1.º (impróprio)
Se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. 
SUBTRAIR: furtar, tirar, pressupõe que não tem a prévia posse do dinheiro, valor ou bem. 
São duas condutas:
1. SUBTRAIR: o bem deve está sob guarda ou custódia da administração pública. Caso contrário, o crime é de furto. Ex.: abrir o cofre da repartição e subtrair dinheiro, retirar rádio e pneus de automóvel apreendido e à disposição da justiça, ou dinheiro objeto de busca e apreensão (caso seja dinheiro de uma gaveta, e subtraia durante investigação, é furto – pois não está sob guarda da administração). 
2. CONCORRE PARA A SUBTRAÇÃO: funcionário público colabora dolosamente para a subtração (se for culposa = peculato culposo). É hipótese de crime plurissubjetivo. Ambos respondem por peculato-furto (art. 30). Ex.: intencionalmente o funcionário deixa a porta aberta para que alguém entre e furte. Há peculato-furto por parte do funcionário e terceiro (não importa se terceiro é funcionário público ou não). 
CONSUMAÇÃO: no momento em que deixa o local na posse do bem móvel (crime material, ou seja, só se consuma com o resultado).
TENTATIVA: é possível. 
O agente deve valer-se da facilidade que a condição de funcionário público lhe proporciona.
Sujeitos passivo e ativo, bem tutelado, objeto material: igual peculato- apropriação. 
PECULATO CULPOSO
Art. 312:
 § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
        Pena - detenção, de três meses a um ano.
        § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
PECULATO CULPOSO
Art. 312, § 2.º
Quando o funcionário público concorre culposamente para o crime de outrem. Trata-se de participação culposa em ação dolosa alheia:
1. Conduta culposa do funcionário público (negligência ou imprudência).
2. Conduta dolosa de terceiro: aproveita-se da conduta culposa do funcionário público, para praticar um crime dolosamente. 
Não importa se terceiro é funcionário público ou particular. 
Se o funcionário age dolosamente, incorre no peculato-furto (concorre conscientemente para que seja subtraído). 
Não há concurso de pessoas (falta liame subjetivo = vínculo psicológico). 
Deve existir nexo entre as condutas culposa (funcionário público) e dolosa (terceiro). 
Exemplo de peculato culposo: 
1. Policial deixa viatura com portas abertas, sem vigilância, possibilitando o furto de objetos móveis como radiotransmissor e munição. Não se trata de concurso: falta o liame subjetivo. 
2. Diretor esquece a porta aberta e alguém entra no colégio e subtrai vários bens da escola. 
3. Vigia de prédio público que descuida da segurança e concorre para furto de outrem. 
COMPETÊNCIA: JECRIM (Juizado Criminal = pena inferior a 2 anos). 
CONSUMAÇÃO: quando se consuma o crime do terceiro. Para que haja consumação do peculato culposo é necessária a consumação do crime do terceiro. Se o crime do terceiro for tentado, o funcionário público não responde por qualquer ilícito (somente terceiro responde pela tentativa). 
ATENÇÃO: para Luiz Régis Prado mesmo que não ocorra a consumação do crime pelo terceiro subsiste o peculato culposo por parte do funcionário público. 
TENTATIVA: não é possível, pois se trata de crime culposo.
REPARAÇÃO DO DANO (culposo)
Há reparação do dano quando o autor do crime ressarce o prejuízo ou devolve o bem. No peculato culposo, a reparação pode gerar duas consequências (art. 312, § 3.º):
Antes da sentença transitada em julgado: extinção da punibilidade. 
Após o trânsito em julgado sentença: redução de metade da pena imposta. 
REPARAÇÃO NO PECULATO DOLOSO
1. Antes do recebimento da denúncia: Art. 16 (arrependimento posterior) - diminuição da pena de 1/3 a 2/3)
2. Após o recebimento da denúncia e antes da sentença: Art. 65, III, “b” (atenuante genérica).
Obs.: a reparação do dano, mesmo que durante a execução (ou seja, após a sentença), é relevante para progressão do condenado. 
PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM
   
	Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM - Art. 313
APROPRIAR-SE, no exercício do cargo, de dinheiro ou qualquer utilidade quelhe foi entregue mediante erro de outrem. 
Chamado de peculato-estelionato: o funcionário público apropria-se de algo que lhe foi entregue mediante erro, durante o exercício do cargo. 
MODUS OPERANDI: mediante erro de outrem. Existe divergência na doutrina se o funcionário pode ou não ter induzido a vítima a erro. São dois entendimentos neste sentido: 
1. O funcionário público não induz a vítima em erro, mas se aproveita do erro em que a vítima se encontra para poder apropriar-se do bem. Se o agente induz a vítima a erro o crime deve ser o de estelionato, cuja pena, inclusive, é maior (art. 171). 
2. Outra parte da doutrina entende que o erro de terceiro (outrem) pode ter nascido espontaneamente ou provocado pelo funcionário. Os adeptos deste entendimento entendem o funcionário não responde por estelionato, mas pelo crime específico (o peculato é especial em relação ao estelionato). 
O erro pode ser sobre a coisa, a obrigação ou sobre a quem se faz à entrega. 
Se o agente exige a entrega da coisa o crime deve ser o de concussão (art. 316). 
OBJETO MATERIAL: dinheiro ou qualquer utilidade (coisa móvel com valor patrimonial). 
CONSUMAÇÃO: crime material, consumado no momento da apropriação do bem (inversão do animus do agente), quando ciente do erro cometido. 
TENTATIVA: é possível.
BEM JURÍDICO TUTELADO: a moralidade da administração pública, o patrimônio público e particular. 
SUJEITO ATIVO: funcionário público. Crime próprio. Pode haver concurso de pessoas. 
SUJEITO PASSIVO: o Estado e, secundariamente, a pessoa lesada. 
Exemplo peculato mediante erro de outrem: 
1. Particular entrega dinheiro ou qualquer coisa móvel de valor econômico em repartição errada e o funcionário, aproveitando-se do erro de terceiro, apropria-se do valor.
2. Pessoa entrega dinheiro a mais para pagamento de dívida fiscal e o funcionário apropria-se do valor entregue a maior. 
INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO – Art. 313-A
		Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000))
        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO – Art. 313-A
Ocorre quando o funcionário autorizado INSERE ou FACILITA a inserção de dados falsos, ALTERA ou EXCLUI indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano.
As condutas típicas descritas são do funcionário autorizado: 
1. Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos. Nesta hipótese, funcionário responde tanto se insere, quanto se facilita que terceiro insira dados falsos. 
2. Alterar ou excluir indevidamente dados corretos. Não há inclusão, mas a modificação ou retirada indevida de dados verdadeiros do sistema. Necessário que a conduta seja indevida. 
O tipo exige uma finalidade especial: obter, para si ou para outrem, vantagem indevida (qualquer vantagem: lucro, ganho, privilégio) ou causar dano. 
OBJETO JURÍDICO TUTELADO: a preservação de dados e informações da administração pública. 
SUJEITO ATIVO: funcionário autorizado. Possível concurso de pessoas. 
SUJEITO PASSIVO: Estado e particular que venha a sofrer dano em razão da conduta. 
CONSUMAÇÃO: crime formal que se consuma no momento da conduta típica, ainda que o agente não obtenha a vantagem ou case o dano. 
TENTATIVA: é possível. 
Exemplos de inserção de dados falsos em sistemas de informação: 
1. Funcionário público que alterou dados corretos no sistema de dados do DETRAN, modificando a característica do veículo de ônibus para veículo de carga. 
2. Servidora do INSS que inseriu no sistema de informações da autarquia dados falsos relativos a períodos de vínculo empregatício, a fim de beneficiar terceiro. 
3. Eliminar informação de óbito de beneficiário para que continue recebendo aposentadoria. 
MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO
  		Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
        Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
        Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO - Art. 313-B
O funcionário público modifica ou altera, sem autorização ou solicitação de autoridade competente, o sistema de informações ou programa de computador. CAUSA DE AUMENTO: as penas são aumentadas de 1/3 até 1/2 se resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. 
DIFERENÇA Art. 313-A e Art. 313-B
Nesse tipo penal (art. 313-B), o funcionário público modifica o funcionamento do sistema de informações ou do programa de informática (software), enquanto no tipo penal anterior (art. 313-A) a conduta recai sobre os dados constantes do sistema com o fim de causar dano ou obter proveito. Não há crime se funcionário age com autorização ou mediante solicitação da autoridade competente (elemento normativo). 
BEM JURÍDICO TUTELADO: segurança do sistema de informação e programas de informática da Administração Pública. 
SUJEITO ATIVO: diferente do crime anterior, pode ser qualquer funcionário público, autorizado ou não. Possível concurso de pessoas. 
SUJEITO PASSIVO: Estado e o particular que venha a sofrer dano em razão da conduta.
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OBJETO MATERIAL: o sistema ou o programa de informática em si – e não as informações neles contidas. 
CONSUMAÇÃO: crime formal: com a modificação ou alteração do sistema ou do programa de informática. 
TENTATIVA: é possível. 
COMPETENCIA: JECRIM. 
EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO – Art. 314
 		Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.
EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO – Art. 314
Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, se o fato não constitui crime mais grave. 
BEM JURÍDICO TUTELADO: regularidade da atividade do Estado e preservação documentos e livros públicos. 
CONDUTAS TÍPICAS: extraviar (desaparecer, ocultar), sonegar (não apresentar), ou inutilizar (tornar imprestável).
Nas três hipótese a ação deve recair sobre livro oficial ou qualquer documento (público ou privado) que esteja sob a guarda da administração pública. 
SUJEITO PASSIVO: Estado e qualquer particular que sofra dano em razão da conduta.
SUJEITO ATIVO: funcionário público que tenha a guarda do livro ou documento. Poderá haver concurso de pessoas. 
OBJETO MATERIAL: livro oficial ou documento sob guarda do funcionário em razão do cargo, emprego ou função. 
Fernando Capez: o processo judicial também pode ser considerado como objeto material deste crime. 
CONSUMAÇÃO: crime formal, com o extravio, sonegação ou inutilização (total ou parcial) do livro ou documento, independente de prejuízo. 
TENTATIVA: somente é possível nas condutas positivas, ou seja, no extravio ou na inutilização. Sonegação não é possível. 
CRIME SUBSIDIÁRIO: somente se aplica o Art. 314 quando não houve figura típica mais grave.
O próprio tipo penal estabelece que o crime é subsidiário. 
Se destrói documento para obter benefício para o agente ou outrem, responde porsupressão de documento (art. 305). 
Se for agente fiscal: trata-se de crime previsto na Lei n.º 8.137/90.
Se for advogado ou procurador que destrói documento probatório: art. 356.
Exemplo extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento: 
Delegado de polícia que, no exercício do cargo, extravia e sonega documentos do IP, fazendo-o com consciência de que os detinha em razão do cargo. 
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EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS – Art. 315
Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. 
O funcionário não usa as verbas ou rendas públicas em proveito próprio, mas em benefício da própria administração, porém com disposição diversa daquela prevista em lei. 
EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS – Art. 315
 		Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
        Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Destinação legal: o funcionário público deve destinar a verba ou renda pública de acordo com a previsão legal. É uma legalidade estrita; se destinar de forma diversa ao previsto, será crime por emprego irregular de: 
Renda pública: aquelas constituídas por dinheiro recebido pela Fazenda Pública.
Verba pública: destinada à execução de determinado serviço público ou para outra finalidade de interesse público. 
Exemplo de emprego irregular de verbas ou rendas públicas: verba que, pela lei orçamentária, foi destinada para o ensino público acaba por ser repassada para o setor da saúde pública – a administração, pelo princípio da legalidade, fica vinculado à destinação legal. 
Não importa eventual finalidade justa para o emprego irregular, pois sendo destinada por lei, fica vedado qualquer juízo de conveniência e oportunidade. 
É pressuposto que a destinação seja determinada por lei em sentido estrito, sendo vedada a interpretação extensiva, de modo que ficam excluídos decretos, portarias, provimentos e outros atos administrativos. 
Difere-se do peculato-desvio. O peculato depende da demonstração de desvio de recursos públicos em proveito próprio ou de terceiros, de que o agente tenha posse em razão do cargo. 
BEM JURÍDICO TUTELADO: administração pública e a regular destinação de rendas e verbas públicas. 
SUJEITO ATIVO: crime próprio, só podendo ser cometido pelo funcionário público com poder de disposição de verbas e rendas públicas. Admite concurso de pessoas. 
Prefeitos Municipais: aplica-se o disposto no Decreto-Lei n.º 201/67. 
CONSUMAÇÃO: crime formal, que se consuma no momento em que há a aplicação indevida da verba ou renda públicas.
TENTATIVA: Admite-se, pois os atos executórios iniciam-se com a mera destinação ou indicação irregular da verba ou renda pública – se essa destinação for impedida, há tentativa. 
COMPETÊNCIA: JECRIM.
ESTADO DE NECESSIDADE
O emprego irregular de verbas ou rendas públicas não constituirá crime se presentes os requisitos do estado de necessidade (art. 24). Assim, não haverá o delito se o desvio de verbas for realizado para evitar danos decorrentes de calamidades públicas como inundações, epidemias, incêndios. O fato, no caso, é típico, mas não é ilícito, ante a presença daquela excludente da ilicitude.
No artigo 24, conceitua como sendo: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

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