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Sumário 1. Seguridade Social ...................................................................................... 3 2. Regimes Próprios de Previdência Social – RPPS ..................................... 26 3. Plano de Benefícios .................................................................................. 52 4. Plano de Custeio ...................................................................................... 59 5. Gestão Atuarial ......................................................................................... 63 6. Gestão de Investimentos dos Recursos Previdenciários .......................... 85 7. Responsabilidade Fiscal e Previdenciária................................................209 8. Controle Interno e Externo .......................................................................220 9. Regulação, Fiscalização e Supervisão ....................................................228 10. Certificação Institucional - Pró-Gestão .....................................................239 11. Administração Pública (Licitações e Contratos) .......................................272 12. Critérios do CRP ......................................................................................339 13. Inelegibilidade .........................................................................................363 14. Responsabilidade Disciplinar, Civil e Criminal ........................................368 Bibliografia .....................................................................................................374 Página | 3 Página | 4 1. Seguridade Social 1.1 Conceito. A seguridade social compreende um conjunto abrangente de ações iniciadas pelo poder público e pela sociedade para garantir direitos relacionados à saúde, previdência e assistência social. 1.2 Princípios. UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO: O princípio da universalidade da cobertura e do atendimento pode ser identificado como o objetivo da seguridade social de promover a cobertura de todos indistintamente, propiciando a maior cobertura dos riscos sociais. Este princípio é frequentemente traduzido em expressões inglesas “from the cradle to grave”, popularizada pela imprensa inglesa como síntese do plano elaborado pelo Lord Beveridge, considerado o eixo central da seguridade social. A concepção que esse princípio busca é que os trabalhadores que não possam prover seu próprio sustento por algum infortúnio devem receber proteção social para garantir a sobrevivência deles e de suas famílias, e que o conceito de trabalhador no ordenamento jurídico brasileiro deve ser estendido a todas as pessoas, já que o serviço, principalmente, da saúde, revela cobertura ampla a todos. Esse princípio tem duas dimensões: universalidade de cobertura e universalidade de atendimento. No que se refere à cobertura universal, está relacionada a situações de risco social que possam gerar demanda, todas elas cobertas pela previdência social. No que se refere à universalidade do cuidado, refere-se ao sujeito protegido, o que significa que em um universo seguro, todas as pessoas, indistintamente, são titulares desse direito público subjetivo. Página | 5 Esse princípio está listado no topo dos objetivos da seguridade, pois é sem dúvida o de maior expressão desse instituto, do qual os demais derivam, além de ser, claramente, uma tradução da isonomia. SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DE BENEFÍCIOS E SERVIÇOS: Esse princípio, como o anterior, deve ser analisado sob duas dimensões: seletividade e distributividade, que por sua vez se subdivide em benefícios e serviços. No que diz respeito ao princípio da seletividade, é o meio pelo qual os legisladores escolhem os riscos sociais que a previdência social deve cobrir. É guiado por padrões de justiça e bem-estar social. Devido às restrições orçamentárias e às infindáveis necessidades humanas, esse princípio é guiado por escolhas políticas, cabendo aos legisladores decidir os objetivos e prioridades que serão incorporados à lei. A outra dimensão desse princípio, a distributividade está relacionada à escolha dos destinatários dos benefícios e serviços eleitos pelo legislador para serem protegidos pela seguridade social, sendo aspecto relevante desse princípio que os grupos populares mais necessitados recebam melhores prestações, ou seja, é uma síntese do princípio da isonomia, donde se denota que a distributividade tem por objetivo reduzir desigualdades sociais e regionais. No entanto, convém destacar a diferença entre benefícios e serviços, sendo que o primeiro é fruível individualmente pelo seu titular, ou seja, cada relação jurídica relaciona-se diretamente com uma prestação certa e determinada, já o segundo possui um aspecto coletivo, além do individual, já que os serviços da seguridade social são disponíveis a todos que dela necessitem, de titularidade da coletividade, mas são utilizados de forma individual. UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DE BENEFÍCIOS E SERVIÇOS: Esse princípio ganhou atenção constitucional para corrigir uma injustiça na história do país, que sempre tratou de forma diferente as populações urbanas e rurais, Página | 6 sendo que a seguridade social, a princípio, era destinada à proteção dos trabalhadores urbanos, enquanto o homem do campo era entregue à própria sorte. Desta injustiça histórica surge a responsabilidade socialmente consciente de reverter a desigualdade entre trabalhadores urbanos e rurais, constituindo um regime único do Sistema Nacional da Seguridade Social. Este princípio também deve ser estudado em termos de unidade e equivalência. A uniformidade refere-se diretamente aos benefícios da Previdência Social, do que se pode inferir que, como os riscos são os mesmos, os benefícios devem ser os mesmos independentemente do local de trabalho. Em termos de equivalência, refere-se ao valor dos benefícios, identificando que não podem ser distintos em função das pessoas que são protegidas, devendo as prestações serem aferidas pelos mesmos critérios objetivos. PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS: Ao contrário do que muitos pensam o princípio da irredutibilidade do valor do benefício é um princípio próprio da seguridade social, e não da previdência social e está relacionada à impossibilidade de redução do valor nominal dos benefícios da seguridade social e não à manutenção do seu valor real frente à inflação. Esse erro se justifica, pois muitas vezes as pessoas confundem princípio semelhante próprio da previdência social inserido no artigo 201, §4°, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional n° 20/1998: “§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.”. Essa confusão ocorre com quem vê os benefícios como algo inerente à previdência social, esquecendo-se de benefícios relacionados à assistência social, Página | 7 como: Bolsa Família e a continuidade da concessão de benefícios previstos na Lei Orgânica da Previdência Social (BPC/LOAS). Portanto, deve ficar claro que os princípios aqui discutidos revelam apenas o valor nominal de proibir a redução dos benefícios previdenciários, assim como os princípios gerais de direito que proíbem a frustração das conquistas dos direitos humanos. EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO E CUSTEIO: A equidade na forma de participação e custeio é outro princípio relacionado à isonomia e justiça social. A ideia central desse princípio é que todos os atores sociais devem contribuir para a seguridade social, porém, quem tem condições de pagar mais, contribui mais para a manutenção do sistema e quem tem menos, contribui com menos. Trata-se de encontrar um equilíbrio entre a capacidade financeira de todos quetêm de contribuir e o esforço financeiro que eles necessitam para a manutenção da seguridade social, ou seja, é um meio de impulsionar a redução das desigualdades sociais. Entretanto, isso não exaure o princípio, pois o mesmo pode ser inferido de regra semelhante de direito tributário, mas vai além, e se conecta também na esfera dos contribuintes empregadores aos riscos da atividade econômica, de onde se extrai que as empresas que exercem atividades de maiores riscos, devem pagar mais, sendo o inverso também verdadeiro, já que a empresa que mitiga os riscos de sua atividade pode ter reduzidas certas alíquotas de suas contribuições sociais. O mesmo vale para empresas que tem alta rotatividade de mão de obra e geram mais desemprego, logo, aumentam o risco social e devem contribuir mais. Portanto, a equidade exige a busca constante da “situação equivalente” entre os contribuintes, sendo signo da justiça social, já que determina que o custeio do sistema deve ser efetuado por todos, mas quem pode mais e ou gera maiores riscos sociais, deve contribuir mais. https://jus.com.br/tudo/desemprego Página | 8 PRINCÍPIO DA DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO: Conforme já mencionado no princípio anterior, a sociedade toda é convocada para custear a seguridade, sendo referido pela doutrina que o custeio é tripartite, os trabalhadores, os empregadores e o Estado devem contribuir para o sistema. Na origem da seguridade social, quando ela estava atrelada de modo quase exclusivo ao seguro social, sua base de financiamento estava atrelada à folha de pagamento das empresas. No entanto, com a inclusão de novos benefícios, novos serviços, da saúde e da assistência social para formarem o sistema moderno da seguridade social, percebeu- se que seria inviável a manutenção desse sistema de financiamento, pois geraria um custo muito alto concentrado em uma única fonte, o que dificultaria o desenvolvimento do mercado de trabalho. Isso conduziu o constituinte a perceber que seria necessário diversificar os meios de financiamento do sistema como forma de se adequar à realidade moderna, sem implicar em custos de produção e redução da produtividade, identificando novos signos de riqueza que tragam o financiamento necessário ao sistema, sem afetar a atividade produtiva. Assim, a Constituição Federal definiu como fontes de custeio as contribuições sociais e os recursos provenientes dos orçamentos dos entes federados, em suma, toda a sociedade. Além disso, criou contribuições sobre o lucro e sobre o faturamento das empresas. Esse princípio é expresso pelo artigo 195 da Carta Magna: "Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: Página | 9 a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. § 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União." CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA GESTÃO ADMINISTRATIVA: Esse princípio assegura a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos que administram a seguridade social, pois o objeto desse sistema é de grande interesse para eles, e não apenas ao poder público, por isso a Constituição Federal permite suas participações em deliberações e discussões atinentes ao sistema, tanto nas áreas da saúde, assistência social e previdência social. No campo da previdência social há, ainda, mais uma especifidade, que é a participação na gestão do INSS dos aposentados, que têm assento no Conselho Nacional da Previdência Social, pelo que se diz que a gestão do INSS é quadripartite. Página | 10 Tal princípio não é uma inovação da Carta Magna atual, mas tem origem na criação da Organização Internacional do Trabalho, hoje ligada à Organização das Nações Unidas, mas é mais antiga do que a organização a qual está submetida, já que é criação do pós Primeira Guerra Mundial. No advento dessa organização ficou estabelecido que ela seria dirigida pelos representantes de três atores sociais: os trabalhadores, os patrões e os governos. A atuação democrática da comunidade se dá no âmbito dos Conselhos, que podem ser nacionais ou regionais. Esses conselhos são órgãos superiores de deliberação colegiada e têm a atribuição de emitir resoluções, moções e recomendações, que orientam os serviços a eles ligados. No que cabe à descentralização da gestão, esta define que a gestão deve estar próxima dos atendidos, do contrário, a participação da comunidade apenas no âmbito nacional, não traduzirá verdadeira participação na gestão, pois não se pode dizer que um representante dos patrões do Estado de São Paulo tenha as mesmas experiências sociais de um representante dessa categoria do Estado do Acre, portanto, a descentralização da gestão serve justamente à participação democrática. OUTROS PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL: Evidentemente, como já visto, os objetivos acima estudados constituem em realidade princípios da seguridade social, mas nem de longe esgotam o tema, já que uma infinidade de doutrinadores faz questão de identificar cada vez mais princípios que orientam esse sistema. Como já mencionado, esse breve estudo, nem de longe busca esgotar o tema, pelo que se passará a analisar apenas alguns outros importantes princípios identificados pelos principais doutrinadores, que decorrem dos maiores princípios da Constituição como a dignidade da pessoa humana, isonomia, democracia e equidade, que não são objetos desse estudo, pois constituem não princípios da seguridade, mas princípios gerais de todo o ordenamento jurídico. Desta forma, os princípios escolhidos para serem analisados adiante são: solidariedade, obrigatoriedade, efetividade e preexistência do custeio/regra da Página | 11 contrapartida, que é identificada por muitos como objetivo da seguridade social, mesmo não estando no rol de objetivos explícitos do artigo 194 da Constituição Federal. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE: A solidariedade é um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, estando encartado logo no rol de diretrizes do artigo 3° da Constituição Federal: "Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;”. A seguridade social é a reprodução pura do princípio da solidariedade, onde quem pode contribuir, não o faz para seu próprio benefício, mas para de todos que precisem dos benefícios e serviços desse sistema; é justamente uma forma de combate ao egoísmo das pessoas em prol do estabelecimento de um sistema social justo, que combata às diferenças sociais. A solidariedade traduz exatamente nessa situação: é uma forma de supressão da carência social e econômica de determinados indivíduos, fruto do próprio sistema, por meio da contribuição dos mais afortunados ao sistema de proteção social. Ademais, como já visto, a seguridade social é universal, no sentido de cobrir a todos dos danos selecionados pelo legislador, exigindo a participaçãode todos os atores econômicos no seu custeio, não só dos trabalhadores, mas dos patrões e do governo, dentro das suas respectivas capacidades de financiamento; isso é solidariedade, que é o objetivo não só da seguridade, mas objetivo fundamental do país para a construção de uma sociedade mais justa. Ou seja, é indubitável que a solidariedade, apesar de não expressa como objetivo da seguridade social, é princípio importantíssimo, do qual decorre o próprio sistema da seguridade social. Página | 12 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE: Este princípio decorre da solidariedade, mas mostra que a solidariedade que forma a seguridade social não é opcional, mas obrigatória a todos. Em outras palavras, quem pode contribuir deve, obrigatoriamente, contribuir sem motivo, não sendo permitido a qualquer pessoa renunciar o direito de participação no sistema. Sob o aspecto previdenciário, também se diz que a filiação ao sistema é obrigatória, não cabendo às pessoas, mesmo sem registro formal de trabalho, escolher se participam ou não da previdência, sendo que se auferem renda, são obrigatoriamente filiados à Previdência e sua não contribuição é encarada como sonegação e não opção por não filiação. Em relação à saúde, pelo seu caráter de atendimento universal, também não cabe à qualquer pessoa a renúncia a essa proteção social, para justificar qualquer não pagamento de contribuição social porque a pessoa não usufrui do sistema, ou seja, a vinculação de todos à seguridade, não é opcional, mas obrigatória e visa a garantia de direitos sociais mínimos a todos. PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE: Também conhecido como princípio da suficiência, esse princípio orienta que os benefícios e serviços da seguridade social devam ser suficientes para combater de forma eficaz uma contingência social. Portanto, nenhum benefício pode ser inferior ao salário mínimo, não se podendo colocar nessa lista o auxílio-acidente, pois ele não tem caráter de benefício, mas de indenização por acidente de trabalho. O pai da seguridade social, Lord Beveridge, enquanto economista liberal, também abordava a suficiência sobre outro aspecto, qual seja, aquele de que os benefícios não poderiam ser generosos ao ponto de desestimular o trabalho e a busca de melhores condições de vida por meios próprios, ainda que, devessem garantir o mínimo para o desenvolvimento digno das pessoas. https://jus.com.br/tudo/acidente-de-trabalho Página | 13 PRINCÍPIO DA PREEXISTÊNCIA DO CUSTEIO OU REGRA DA CONTRAPARTIDA: Este princípio destina-se ao equilíbrio econômico financeiro do sistema da seguridade social, impedindo que decisões de ocasião prejudiquem o futuro do sistema através da criação ou aumento súbito de um benefício ou serviço, sem a indicação da correspondente fonte de custeio. Na verdade, trata-se de uma norma destinada a manter o sistema e está consagrada no artigo 195, § 5º, da Constituição Federal. "Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...) § 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total." Essa regra geralmente se aplica não só à seguridade social, mas também se aplica a administração pública de uma forma geral, pois não pode qualquer administrador instituir um gasto qualquer sem apontar e separar os recursos para esse fim, ou seja, é regra de preservação não só da seguridade social, mas de todo governo. A regra da contrapartida, como também é mais conhecido esse princípio, é definida por muitos doutrinadores como um objetivo da seguridade social que não está disposto no rol do artigo 194 da Carta Magna. Sendo encarada como o princípio da garantia dos indivíduos de que o sistema não irá à bancarrota no futuro, ou seja, não Página | 14 seria apenas garantia do próprio sistema e do governo, mas de quem está filiado à seguridade. 1.3 Previdência Social: Artigos 6º e 201 da Constituição Federal. Conceito. Direito Social. ESTRUTURA CONSTITUCIONAL: No nosso ordenamento constitucional, a Previdência Social se encontra disciplinada no âmbito dos artigos 6º. e 201, nos seguintes termos: “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” “Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e idade avançada II - proteção à maternidade, especialmente à gestante III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.” Página | 15 Por sua vez, o art. 202 vem disciplinar, de forma geral, o regime de previdência privada, caracterizado como complementar e organizado de forma autônoma ao Regime Geral de Previdência Social. Diferentemente do RGPS, possui caráter facultativo, prevendo, ainda, a constituição de reservas que garantam o benefício contratado, sendo sua regulação sediada em Lei Complementar, conforme veremos adiante. “Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. § 1° A lei complementar de que trata este artigo assegurará ao participante de planos de benefícios de entidades de previdência privada o pleno acesso às informações relativas à gestão de seus respectivos planos. § 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. § 3º É vedado o aporte de recursos à entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado. Página | 16 § 4º A lei complementar disciplinará a relação entre a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadores de planos de benefícios previdenciários, e as entidades de previdência complementar. § 5º A lei complementar de que trata o § 4º aplicar-se-á, no que couber, às empresas privadas permissionárias ou concessionárias de prestação de serviços públicos, quando patrocinadoras de planos de benefícios em entidades de previdência complementar. § 6º A lei complementar estabelecerá os requisitos para a designação dos membros das diretorias das entidades fechadas de previdência complementar instituídas pelos patrocinadores de que trata o § 4º e disciplinará a inserção dos participantes noscolegiados e instâncias de decisão em que seus interesses sejam objeto de discussão e deliberação.” Além disso, a própria Constituição Federal assegura aos servidores públicos titulares de cargo efetivo na administração pública da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, regime especial de previdência, na forma de seu art. 40. Colocando a estrutura previdenciária brasileira no modelo de três pilares acima, podemos dizer que o RGPS e o RPPS correspondem ao primeiro pilar, fornecendo cobertura previdenciária básica para trabalhadores do setor privado e servidores públicos, respectivamente. Os regimes de previdência complementar, por outro lado, oferecem aos trabalhadores brasileiros acesso ao segundo e terceiro pilares de forma fechada e aberta, respectivamente. CONCEITO Página | 17 Os direitos inerentes à Previdência Social fazem parte dos assim denominados direitos fundamentais sociais, os quais, de acordo com o disposto pelo art. 6º da Constituição Federal de 1988, são os direitos à educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade, à infância e à assistência aos desamparados. Segundo o eminente estudioso José Afonso da Silva, os direitos sociais consistem em: “Prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade.” A FUNÇÃO SOCIAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL A Previdência Social é uma política pública que proporciona benefícios monetários à pessoas em situações de vulnerabilidade, mediante contribuição. As contingências clássicas cobertas por um sistema previdenciário são: idade avançada, invalidez, morte, enfermidade, maternidade, acidente de trabalho, encargos familiares e desemprego involuntário. No Brasil, a última contingência é coberta pelo seguro- desemprego, fora do regime previdenciário. Em resumo, a Previdência tem dois objetivos principais: 1) garantir a reposição de renda dos seus segurados contribuintes, quando não mais puderem trabalhar; 2) suprir a falta de recursos essenciais para as pessoas que, por contingências demográficas, biológicas ou acidentais, não possam participar, por meio do mercado de trabalho, de processo de produção da riqueza nacional e, nessas condições, estejam impossibilitadas de garantir seu próprio sustento. Página | 18 Em princípio, a obrigatoriedade da relação contributiva baseada na participação dos cidadãos no sistema previdenciário (desde que tenham capacidade contributiva) não significa necessariamente que qualquer concessão de benefício deva estar estritamente de acordo com as contribuições monetárias feitas pelo segurado. O conceito de Seguridade Social especifica a possibilidade de haver a instituição de benefícios não-contributivos para o combate à pobreza, quando não há renda monetária a partir da qual possa ser paga uma contribuição prévia e a inclusão de mecanismos redistributivos de renda para compensar grupos ou pessoas que, por algum outro motivo, tenham dado alguma outra contribuição (não-monetária) relevante à sociedade. Um exemplo disto seriam os benefícios rurais no Brasil, a consideração de tempo dedicado aos filhos pelas mulheres, em diversos outros países, para efeito de integralização de tempo de contribuição ou as aposentadorias dedicadas aos ex- combatentes de determinado país. Obviamente, tais benefícios, ao fugirem de uma lógica atuarial estrita, requerem que, nas contas previdenciárias, haja uma explicitação das transferências de renda implicadas e uma definição de uma fonte de financiamento específica e adequada, que não seja a folha salarial tradicional. É importante deixar claro que benefícios “não-contributivos” não são necessariamente “assistenciais”, uma vez que, em geral, há contribuições não monetárias que embasam o direito de sua percepção. O benefício assistencial pressupõe que se documente a incapacidade de, por forças próprias, prover alguém seu próprio sustento. 1.4 Organização da Previdência Social. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL: Dando continuidade à análise dos três regimes previdenciários instituídos na Constituição Federal, observamos inicialmente o Regime Geral de Previdência Social – RGPS que, conforme visto acima, possui caráter contributivo e filiação compulsória, tendo por objetivo a cobertura de eventos de doença, invalidez, morte e velhice; a proteção à maternidade; e ainda, a proteção ao trabalhador desempregado. Página | 19 O ordenamento infraconstitucional básico do Regime Geral de Previdência Social conta com as seguintes normas jurídicas: ▪ Lei Federal n° 8.212, de 24 de julho de 1991 - Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. ▪ Lei Federal n° 8.213, de 24 de julho de 1991 - Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. ▪ Decreto n° 3.048, de 6 de maio de 1999 – Aprova o Regulamento da Previdência Social e dá outras providências. REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL: Os regimes próprios de previdência social encontram sua disciplina básica no art. 40 da Constituição Federal. Os próprios sistemas de seguridade social encontram sua disciplina básica no art. Artigo 40 da Constituição Federal. Embora este tema seja objeto de pesquisa específica em módulos específicos deste programa de formação, achamos conveniente analisar suas principais normas constitucionais em geral: ▪ Cobertura exclusiva a titulares de cargos efetivos ▪ Equilíbrio financeiro e atuarial ▪ Caráter contributivo ▪ Vedação à acumulação de aposentadorias custeadas por RPPSs ▪ Contagem recíproca de tempo de serviço ▪ Observância dos critérios estabelecidos para o RGPS ▪ Aplicação do RGPS para ocupantes exclusivamente de cargos em comissão ou emprego público ▪ Vedação à existência de mais de um regime próprio ou unidade gestora Página | 20 A disciplina infraconstitucional dos RPPS está espalhada diversas normas legais, além de outras regulamentares, expedidas em sua grande maioria pela Secretaria Especial de Previdência Social e Trabalho, antigo Ministério da Previdência Social, órgão ao qual compete a coordenação, a fiscalização e o acompanhamento dos regimes previdenciários de servidores públicos. Entretanto, merece destaque a Lei Federal n° 9.717, de 27 de novembro de 1998, que traz as diretrizes gerais de funcionamentos dos sistemas de previdência no serviço público. Dentre os princípios previstos pela Lei Federal em tela, destacando o do Equilíbrio Financeiro e Atuarial, com realizações de avaliações atuariais quando da instituição do regime e anualmente, ao final de cada exercício; o financiamento mediante recursos dos entes federativos, dos servidores ativos, dos inativos e dos pensionistas; a utilização dos recursos alocados ao RPPS exclusivamente com o custeio de benefícios e despesas administrativas, limitadas ao valor da taxa de administração estabelecida naquela Lei; além da garantia de pleno acesso dos segurados às informações do RPPS, incluindo o direito de participação nas instâncias de deliberação do regime; além de registro individualizado das contribuições vertidas pelo servidor e pelos entes estatais. REGIME DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR O Regime de Previdência Complementar - RPC tem como objetivo proporcionar ao trabalhador uma proteção previdenciária adicional àquela oferecida pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS ou pelo Regime Próprio de Previdência Social – RPPS, para os quais as contribuições dos trabalhadores são obrigatórias. A aderênciaao RPC é optativa e desvinculada da previdência pública (RGPS e RPPS), conforme previsto no art. 202 da Constituição Federal. Nesse contexto, o RPC possui regras específicas estabelecidas pelas Leis Complementares nºs. 108 e 109 de 29/05/2001. No RPC, o benefício de aposentadoria será pago com base nas reservas acumuladas ao longo dos anos de contribuição, ou seja, o que o trabalhador contribui http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp108.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/lcp109.htm Página | 21 hoje formará a poupança que será utilizada no futuro para o pagamento de seu benefício. Esse sistema é conhecido como Regime de Capitalização. O RPC é composto por dois segmentos: aberto, operado pelas Entidades Abertas de Previdência Complementar – EAPC e o fechado, operado pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar – EFPC, cada qual com suas especificidades e características próprias, sendo fiscalizadas por órgãos de governo específico para cada segmento: o fechado pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar – Previc e o aberto pela Superintendência de Seguros Privados - Susep. As EFPC administram planos de benefícios de caráter previdenciário para indivíduos que possuam vínculo empregatício ou associativo com empresas, órgãos públicos, sindicatos e/ou associações representativas. Já o segmento aberto oferece planos de benefícios de caráter previdenciário concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. SEGMENTO FECHADO DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR A EFPC funciona como uma fundação sem fins lucrativos de direito privado ou sociedade civil e é responsável pela administração e funcionamento dos regimes de benefícios previdenciários criados por empresas (iniciantes) para seus empregados (participantes) ou por pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial (instituidores) para seus associados. Para que as atividades das EFPC, usualmente conhecidas como Fundos de Pensão, sejam realizadas em conformidade com os normativos legais, existem órgãos no âmbito do Ministério da Fazenda, que atuam de forma a assegurar maior confiabilidade ao Segmento Fechado de Previdência Complementar, quais sejam: I. Subsecretaria do Regime de Previdência Complementar, órgão singular que possui, dentre suas atribuições, a competência de assistir o Secretário de Previdência na formulação e no acompanhamento das políticas e das diretrizes do regime complementar operado pelas EFPC; http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ Página | 22 II. Superintendência Nacional de Previdência Complementar – Previc, autarquia responsável pela aprovação, acompanhamento, supervisão e fiscalização das atividades das EFPC; III. Conselho Nacional de Previdência Complementar – CNPC, órgão colegiado responsável pela regulação das atividades e operações das EFPC; e IV. Conselho de Recursos da Previdência Complementar – CRPC, órgao colegiado de última instância recursal do segmento para os processos administrativos instaurados pela Previc. A relação das EFPCs com os membros do setor, sejam eles patrocinadores ou fundadores de planos de benefícios, e por mais planos que administrem, não mudará, ou seja, as EFPCs são autônomas com personalidade jurídica própria e os bens não vinculados aos patrocinadores ou fundadores são mistos e segregados por planos de benefícios. A estrutura organizacional para funcionamento de uma EFPC é estabelecida em seu estatuto, sendo composta por, no mínimo: Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Diretoria Executiva. As modalidades dos planos de benefícios previstas na legislação são: Contribuição Definida – CD, Benefício Definido – BD e Contribuição Variável – CV. Cada plano de benefício possui um regulamento, no qual são estabelecidos os direitos e deveres dos participantes, dos assistidos, dos patrocinadores e dos instituidores, além dos benefícios oferecidos e suas respectivas regras de concessão, cálculo e forma de pagamento. Embora não haja obrigatoriedade, normalmente, os planos oferecem além dos Benefícios programados, os Benefícios de Risco. Vale citar, ainda, alguns direitos previstos nos regulamentos dos planos de benefícios, denominados institutos, os quais conferem maior flexibilidade a quem http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ Página | 23 adere a um plano de benefícios, que são: Benefício Proporcional Diferido – BPD, Portabilidade, Resgate e Autopatrocínio. 1.5 Caráter Contributivo e Solidário. Solidariedade é técnica imposta pelo custeio e exigência do cálculo atuarial, não sendo uma instituição típica da Previdência Social. Em princípio, significa a união de pessoas em grupos, universalmente consideradas, contribuindo para a sustentação econômica de indivíduos em sociedade que, por sua vez, em dado momento também contribuirão para a manutenção de outras pessoas, e assim sucessivamente. A contribuição de seguridade social, é espécie tributária que visa à obtenção do financiamento. As contribuições previdenciárias são, manifestamente, espécies de contribuição de seguridade social e, como tais, não objetivam financiar apenas o benefício de aposentadoria daquele que efetua seu recolhimento, mas sim o financiamento da seguridade social como um todo, dentro da qual se encontra a previdência social. O princípio da solidariedade sustenta a ideia de previdência social, pois é através dele que se impede a adoção de um sistema puramente de capitalização em todos os seus segmentos, uma vez que o mais bem-sucedido deve contribuir mais do que o desafortunado. A solidariedade social e a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro fundamentam a instituição da cobrança da contribuição previdenciária não só dos servidores públicos ativos, como também dos inativos e dos pensionistas, que não possuem apenas direitos, mas também obrigações junto ao sistema que os mantém, qual seja o regime próprio a que estão vinculados. Foi a Emenda Constitucional nº 20/98 que trouxe para a redação do caput do artigo 40 da Constituição da República, além da regra geral do equilíbrio financeiro e atuarial, o princípio da contributividade. Esses elementos hoje se encontram tanto em normas constitucionais como infraconstitucionais. http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ http://localhost/sprev/a-previdencia/previdencia-complementar/conceitos/ Página | 24 Através da Emenda Constitucionalnº 41/03, foi instituída a chamada “taxação” dos inativos e pensionistas, o que aparentemente violaria a Constituição Federal por supostamente ferir o direito adquirido daqueles que já se encontravam na situação de aposentados ou pensionistas no momento da edição da referida Emenda. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI da ‘Reforma da Previdência’, que pretendia ver declarada a inconstitucionalidade da cobrança de contribuição previdenciária dos inativos, decidiu, por maioria, pela improcedência da ação em relação ao caput do artigo 4º da Emenda Constitucional nº 41/03. 1.6 Filiação Obrigatória. No âmbito das questões previdenciárias, a filiação é um elemento essencial da relação jurídica de prestação. Ser filiado significa pertencer, fazer parte, ter direitos e obrigações relacionados ao sistema de proteção social. O elo ao seguro social do qual decorrerá direitos e obrigações recíprocos tem origem com a atividade econômica remunerada descrita na norma de direito social. Da condição de segurado da Previdência Social se inicia um liame jurídico estabelecido entre o segurado e o ente segurador a um objeto associativo, o risco assegurado. A partir da interpretação da relação jurídica de natureza previdencial depreende- se que o instituto da filiação está diretamente vinculado à relação jurídica de seguro social, não se manifestando, por conseguinte, nas outras áreas da Seguridade Social como na saúde e na assistência social. Tipos de Filiação A filiação consiste em um instituto típico de Seguro Social. Na Lei 8.213/91, Lei de Benefícios Previdenciários, não há uma referência explícita à filiação como no Decreto 3.048/99 , verbis: Página | 25 Art. 20- Filiação é o vínculo que se estabelece entre pessoas que contribuem para a previdência social e esta, do qual decorrem direitos e obrigações. Parágrafo único. A filiação à previdência social decorre automaticamente do exercício de atividade remunerada para os segurados obrigatórios e da inscrição para o segurado facultativo.” A filiação cria direitos e obrigações para o segurado de acordo com os decretos regulamentares acima mencionados. Assim, surge uma relação jurídica complexa onde o segurado é o sujeito ativo e o sujeito passivo é a entidade gestora da proteção concedida. Duas situações jurídicas podem ser estabelecidas a partir deste vínculo: 1. a primeira, pela concessão das prestações subordinada ao prévio cumprimento de um ato formal, necessário para que a relação seguradora se forme validamente, ou que a concessão seja automática. Este ato formal ou inscrição constitui uma condição requerida para gozar das prestações ao verificar-se o evento previsto; 2. e a segunda, ao contrário da anterior, o direito às prestações se dá independentemente de um ato formal entre o segurado e a entidade. O diferencial da filiação facultativa é o desejo, quer dizer, a vontade de filiar-se ao regime previdenciário. A facultatividade é opção do não segurado obrigatório. A filiação obrigatória ocorre independentemente da vontade do segurado. Se este exerce uma atividade remunerada abrangida pela previdência social, resta automaticamente vinculado ao respectivo regime, promovendo a partir desta ligação jurídica, uma relação de direitos e deveres. Em outras palavras, ao mesmo tempo que o titular do seguro social possui direito subjetivo a uma prestação previdencial, é também, sujeito passivo, devedor da contribuição previdenciária. Página | 26 2. Regimes Próprios de Previdência Social – RPPS 2.1 Organização e Funcionamento dos RPPS. Os RPPS consideram-se instituídos a partir da entrada em vigor da lei que assegurar a concessão dos benefícios de aposentadoria e pensão, independentemente da criação de unidade gestora ou do estabelecimento de alíquota de contribuição, observadas as condições estabelecidas na própria lei de criação, vedada a instituição retroativa. Quando leis diferentes dispuserem de benefícios de aposentadoria e pensão, o RPPS será considerado instituído na data de vigência da lei mais recente que determine a concessão de um desses benefícios. A lei que instituir o RPPS poderá estabelecer que sua entrada em vigor será de noventa dias após a data de sua emissão, que é o intervalo de tempo necessário para a cobrança do segurado, durante o qual são mantidas as relações dos servidores públicos e do regime geral de previdência social - RGPS arrecadação de contribuições. Os servidores titulares de cargo efetivo do ente federativo que não tenha editado lei instituidora de RPPS são vinculados obrigatoriamente ao RGPS. Considera-se em extinção o RPPS do ente federativo que deixou de assegurar em lei os benefícios de aposentadoria e pensão por morte a todos os servidores titulares de cargo efetivo por ter: • vinculado, por meio de lei, todos os seus servidores titulares de cargo efetivo ao RGPS; • revogado a lei ou os dispositivos de lei que asseguravam a concessão dos benefícios de aposentadoria ou pensão por morte aos servidores titulares de cargo efetivo; Página | 27 • adotado, em cumprimento à redação original do art. 39, caput da Constituição Federal de 1988, o regime da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT como regime jurídico único de trabalho para seus servidores, até 04 de junho de 1998, data de publicação da Emenda Constitucional nº 19, de 1998, e garantido, em lei, a concessão de aposentadoria aos servidores ativos amparados pelo regime em extinção e de pensão a seus dependentes. O ente detentor de RPPS em extinção deverá manter ou editar lei que discipline o seu funcionamento e as regras para concessão de benefícios de futuras pensões ou de aposentadorias aos segurados que possuíam direitos adquiridos na data da lei que alterou o regime previdenciário dos servidores, até a extinção definitiva. A extinção do RPPS dar-se-á com a cessação do último benefício de sua responsabilidade, ainda que custeado com recursos do Tesouro. A simples extinção da unidade gestora não afeta a existência do RPPS. 2.2 Normas Gerais. Lei 9.717/98 – Portaria nº. 402/2008. Os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal deverão ser organizados, baseados em normas gerais de contabilidade e atuária, de modo a garantir o seu equilíbrio financeiro e atuarial, observados os seguintes critérios: ➢ realização de avaliação atuarial inicial e em cada balanço, utilizando-se parâmetros gerais, para a organização e revisão do plano de custeio e benefícios; ➢ financiamento mediante recursos provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das contribuições do pessoal civil e militar, ativo, inativo e dos pensionistas, para os seus respectivos regimes; Página | 28 ➢ as contribuições e os recursos vinculados ao Fundo Previdenciário da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e as contribuições do pessoal civil e militar, ativo, inativo, e dos pensionistas, somente poderão ser utilizadas para pagamento de benefícios previdenciários dos respectivos regimes, ressalvadas as despesas administrativas estabelecidas no art. 6º, inciso VIII, desta Lei, observado os limites de gastos estabelecidos em parâmetros gerais; ➢ cobertura de um número mínimo de segurados, de modo que os regimes possam garantir diretamente a totalidade dos riscos cobertos no plano de benefícios, preservando o equilíbrio atuarial sem necessidade de resseguro, conforme parâmetros gerais; ➢ cobertura exclusiva a servidores públicos titulares de cargos efetivos e a militares, e a seus respectivos dependentes, de cada ente estatal, vedado o pagamento de benefícios, mediante convênios ou consórcios entre Estados, entreEstados e Municípios e entre Municípios; ➢ pleno acesso dos segurados às informações relativas à gestão do regime e participação de representantes dos servidores públicos e dos militares, ativos e inativos, nos colegiados e instâncias de decisão em que os seus interesses sejam objeto de discussão e deliberação; ➢ registro contábil individualizado das contribuições de cada servidor e dos entes estatais, conforme diretrizes gerais; ➢ identificação e consolidação em demonstrativos financeiros e orçamentários de todas as despesas fixas e variáveis com pessoal inativo civil, militar e pensionistas, bem como dos encargos incidentes sobre os proventos e pensões pagos; ➢ sujeição às inspeções e auditorias de natureza atuarial, contábil, financeira, orçamentária e patrimonial dos órgãos de controle interno e externo. Página | 29 ➢ vedação de inclusão nos benefícios, para efeito de percepção destes, de parcelas remuneratórias pagas em decorrência de local de trabalho, de função de confiança ou de cargo em comissão, exceto quando tais parcelas integrarem a remuneração de contribuição do servidor que se aposentar com fundamento no art. 40 da Constituição Federal, respeitado, em qualquer hipótese, o limite previsto no § 2o do citado artigo; ➢ Vedação de inclusão nos benefícios, para efeito de percepção destes, do abono de permanência de que tratam o § 19 do art. 40 da Constituição Federal, o § 5º do art. 2º e o § 1º do art. 3º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003. ➢ Aplicam-se adicionalmente aos regimes próprios de previdência social as disposições estabelecidas aos fundos com finalidade previdenciária por eles instituídos. ➢ Os regimes próprios de previdência social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios operacionalizarão a compensação financeira a que se referem o § 9º do art. 201 da Constituição Federal e a Lei nº 9.796, de 5 de maio de 1999, entre si e com o regime geral de previdência social, sob pena de incidirem nas seguintes sanções: • suspensão das transferências voluntárias de recursos pela União; • impedimento para celebrar acordos, contratos, convênios ou ajustes, bem como receber empréstimos, financiamentos, avais e subvenções em geral de órgãos ou entidades da Administração direta e indireta da União; • suspensão de empréstimos e financiamentos por instituições financeiras federais. ➢ O servidor público titular de cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ou o militar dos Estados e do Distrito Federal filiado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40%C2%A719 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40%C2%A719 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art2%C2%A75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art3%C2%A71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc41.htm#art3%C2%A71 Página | 30 a regime próprio de previdência social, quando cedido a órgão ou entidade de outro ente da federação, com ou sem ônus para o cessionário, permanecerá vinculado ao regime de origem. ➢ Os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal não poderão conceder benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de Previdência Social, de que trata a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, salvo disposição em contrário da Constituição Federal. ➢ Fica vedada a concessão de aposentadoria especial, nos termos do § 4º do art. 40 da Constituição Federal, até que a lei complementar federal discipline a matéria. ➢ Fica facultada à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, a constituição de fundos integrados de bens, direitos e ativos, com finalidade previdenciária, desde que observados os critérios de que trata o artigo 1º e, adicionalmente, os seguintes preceitos: • Existência de conta do fundo distinta da conta do Tesouro da unidade federativa; • Aplicação de recursos, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional; • Vedação da utilização de recursos do fundo de bens, direitos e ativos para empréstimos de qualquer natureza, inclusive à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, às entidades da administração indireta e aos respectivos segurados; • Vedação à aplicação de recursos em títulos públicos, com exceção de títulos do Governo Federal; • Avaliação de bens, direitos e ativos de qualquer natureza integrados ao fundo, em conformidade com a Lei 4.320, de 17 de março de 1964 e alterações subsequentes; • Estabelecimento de limites para a taxa de administração, conforme parâmetros gerais; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40%C2%A74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art40%C2%A74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm Página | 31 • constituição e extinção do fundo mediante lei. ➢ No estabelecimento das condições e dos limites para aplicação dos recursos dos regimes próprios de previdência social, o Conselho Monetário Nacional deverá considerar, entre outros requisitos: • A natureza pública das unidades gestoras desses regimes e dos recursos aplicados, exigindo a observância dos princípios de segurança, proteção e prudência financeira; • A necessidade de exigência, em relação às instituições públicas ou privadas que administram, direta ou indiretamente por meio de fundos de investimento, os recursos desses regimes, da observância de critérios relacionados à boa qualidade de gestão, ambiente de controle interno, histórico e experiência de atuação, solidez patrimonial, volume de recursos sob administração e outros destinados à mitigação de riscos. ➢ O descumprimento do disposto nesta Lei pelos Estados, Distrito Federal e Municípios e pelos respectivos fundos, implicará, a partir de 1º de julho de 1999: • Suspensão das transferências voluntárias de recursos pela União; • Impedimento para celebrar acordos, contratos, convênios ou ajustes, bem como receber empréstimos, financiamentos, avais e subvenções em geral de órgãos ou entidades da Administração direta e indireta da União; • Suspensão de empréstimos e financiamentos por instituições financeiras federais. ➢ Os responsáveis pelos poderes, órgãos ou entidades do ente estatal, os dirigentes da unidade gestora do respectivo regime próprio de previdência social e os membros dos seus conselhos e comitês respondem diretamente por infração ao disposto nesta Lei, sujeitando-se, no que couber, ao regime Página | 32 disciplinar estabelecido na Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001, e seu regulamento, e conforme diretrizes gerais. ➢ As infrações serão apuradas mediante processo administrativo que tenha por base o auto, a representação ou a denúncia positiva dos fatos irregulares, assegurados ao acusado o contraditório e a ampla defesa, em conformidade com diretrizes gerais. ➢ São também responsáveis quaisquer profissionais que prestem serviços técnicos ao ente estatal e respectivo regime próprio de previdência social, diretamente ou por intermédio de pessoa jurídica contratada. ➢ Os dirigentes do ente federativo instituidor do regime próprio de previdência social e da unidade gestora do regime e os demais responsáveis pelas ações de investimento e aplicação dos recursos previdenciários, inclusive os consultores, os distribuidores, a instituição financeira administradora da carteira, o fundo deinvestimentos que tenha recebido os recursos e seus gestores e administradores serão solidariamente responsáveis, na medida de sua participação, pelo ressarcimento dos prejuízos decorrentes de aplicação em desacordo com a legislação vigente a que tiverem dado causa. ➢ Os dirigentes da unidade gestora do regime próprio de previdência social deverão atender aos seguintes requisitos mínimos: • não ter sofrido condenação criminal ou incidido em alguma das demais situações de inelegibilidade previstas no inciso I do caput do art. 1º da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, observados os critérios e prazos previstos na referida Lei Complementar; • possuir certificação e habilitação comprovadas, nos termos definidos em parâmetros gerais; Página | 33 • possuir comprovada experiência no exercício de atividade nas áreas financeira, administrativa, contábil, jurídica, de fiscalização, atuarial ou de auditoria; • ter formação superior. ➢ Os requisitos acima transcritos aplicam-se aos membros dos conselhos deliberativo e fiscal e do comitê de investimentos da unidade gestora do regime próprio de previdência social. ➢ Compete à União, por intermédio da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, em relação aos regimes próprios de previdência social e aos seus fundos previdenciários: • A orientação, a supervisão, a fiscalização e o acompanhamento; • O estabelecimento e a publicação de parâmetros, diretrizes e critérios de responsabilidade previdenciária na sua instituição, organização e funcionamento, relativos a custeio, benefícios, atuária, contabilidade, aplicação e utilização de recursos e constituição e manutenção dos fundos previdenciários, para preservação do caráter contributivo e solidário e do equilíbrio financeiro e atuarial; • A apuração de infrações, por servidor credenciado, e a aplicação de penalidades, por órgão próprio, nos casos previstos no art. 8º desta Lei; • A emissão do Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP), que atestará, para os fins do disposto no art. 7º desta Lei, o cumprimento, pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, dos critérios e exigências aplicáveis aos regimes próprios de previdência social e aos seus fundos previdenciários. ➢ A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios encaminharão à Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, na forma, na periodicidade e nos critérios por ela definidos, dados e informações sobre o regime próprio de previdência social e seus segurados. Página | 34 ➢ No caso de extinção de regime próprio de previdência social, a União, o Estado, o Distrito Federal e os Municípios assumirão integralmente a responsabilidade pelo pagamento dos benefícios concedidos durante a sua vigência, bem como daqueles benefícios cujos requisitos necessários a sua concessão foram implementados anteriormente à extinção do regime próprio de previdência social. 2.3 Filiados Obrigatórios. Da Cobertura Exclusiva a Servidor Titular de Cargo Efetivo: O RPPS abrange, exclusivamente, o servidor público titular de cargo efetivo, o servidor inativo e seus dependentes. ➢ Até 15 de dezembro de 1998, data anterior a da publicação da Emenda Constitucional nº 20, o servidor público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão, de cargo temporário, de emprego público ou mandato eletivo poderia estar vinculado a RPPS que assegurasse, no mínimo, aposentadoria e pensão por morte, nos termos definidos em lei do ente federativo. ➢ O aposentado por qualquer regime de previdência que exerça ou venha a exercer cargo em comissão, cargo temporário, emprego público ou mandato eletivo vincula-se, obrigatoriamente, ao RGPS. ➢ O servidor titular de cargo efetivo amparado por RPPS, nomeado para o exercício de cargo em comissão, continua vinculado exclusivamente a esse regime previdenciário, observado o disposto no art. 29, não sendo devidas as contribuições ao RGPS sobre a remuneração correspondente ao cargo em comissão. Página | 35 ➢ Quando houver acumulação de cargo efetivo com cargo em comissão, com exercício concomitante e compatibilidade de horários, haverá o vínculo e o recolhimento ao RPPS, pelo cargo efetivo e, ao RGPS, pelo cargo em comissão. ➢ Não são segurados de RPPS, os notários ou tabeliães, os oficiais de registro ou registradores, os escreventes e os auxiliares, não remunerados pelos cofres públicos. ➢ É vedada a filiação ao RGPS, na qualidade de segurado facultativo, de segurado de RPPS. São filiados ao RPPS, desde que expressamente regidos pelo estatuto dos servidores do ente federativo, o servidor estável, abrangido pelo art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e o admitido até 05 de outubro de 1988, que não tenha cumprido, naquela data, o tempo previsto para aquisição da estabilidade no serviço público. O servidor público titular de cargo efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mantém o vínculo ao regime previdenciário adotado pelo ente do qual é servidor nas seguintes situações: • quando cedido, com ou sem ônus para o cessionário, a órgão ou entidade da administração direta ou indireta de quaisquer dos entes federativos; • quando licenciado; • durante o afastamento do cargo efetivo para o exercício de mandato eletivo em quaisquer dos entes federativos; e • durante o afastamento do país por cessão ou licenciamento com remuneração. A vinculação do servidor público ao RPPS se dará mediante o exercício da atribuição do cargo que ocupa dentro da carga horária prevista na legislação local. Página | 36 Na hipótese de ampliação legal e permanente da carga horária do servidor que configure mudança de cargo efetivo, será exigido o cumprimento dos requisitos para concessão de aposentadoria neste novo cargo. Se houver desempenho, pelo segurado, de atividades ou cargo em outro turno, sem previsão na legislação, o servidor será vinculado ao RGPS pelo exercício concomitante desse novo cargo. 2.4 Benefícios. Rol de Benefícios de acordo com a Emenda Constitucional N° 103 de 2019. O art. 9º da Emenda Constitucional – EC nº 103 de 2019 definiu que o rol de benefícios dos RPPS fica limitado às aposentadorias e à pensão por morte, sendo que os afastamentos por incapacidade temporária e o salário-maternidade serão pagos diretamente pelo ente federativo. “Art. 9º Até que entre em vigor a lei complementar que discipline o § 22 do art. 40 da Constituição Federal, aplicam-se aos regimes próprios de previdência social o disposto na Lei no 9.717, de 27 de novembro de 1998, e o disposto neste artigo. (…) § 2º O rol de benefícios dos regimes próprios de previdência social fica limitado às aposentadorias e à pensão por morte. § 3º Os afastamentos por incapacidade temporária para o trabalho e o salário-maternidade serão pagos diretamente pelo ente federativo e não correrão à conta do regime próprio de previdência social ao qual o servidor se vincula.” Página | 37 Com relação ao salário-família e o auxílio-reclusão, a emenda constitucional 103 de 2019 lhes conferiu natureza de benefício assistencial a ser concedido a servidores de baixa renda, inclusive quando aposentados, não integrando a remuneração destes, estando a cargo do ente federativo o seu pagamento. Com base nesse entendimento, esses benefícios não serão mais incluídos nos custos totais de pessoal, uma vez que os benefícios assistenciais não incluem os custos totais de pessoal para fins de limitação da LRF conforme especificado no Manual de Demonstrações Contábeis. DAS APOSENTADORIAS VOLUNTÁRIAS COMUNS DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DOS ESTADOS, DO DISTRITOFEDERAL E DOS MUNICÍPIOS: A reforma aboliu as regras de elegibilidade para a aposentadoria voluntária comum dos servidores públicos civis nos regimes próprios de previdência social dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Conforme o dispositivo transcrito a seguir, com exceção da idade mínima, cuja fixação exige emenda às respectivas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas, os demais requisitos de aposentadoria deverão ser estabelecidos mediante lei complementar do respectivo ente federativo. Com isso, ficam extintas as exigências de tempo de contribuição, tempo de efetivo exercício do serviço público e tempo de aposentadoria dos cargos efetivos para todos os entes federados. A ausência desses parâmetros na constituição faz com que essa norma constitucional tenha eficácia limitada na concessão de benefícios comuns de aposentadoria voluntária aos servidores públicos e não possa ser aplicada isoladamente. Esse modelo previdenciário federal de desconstitucionalização é de observância obrigatória pelas Constituições dos Estados e pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios, em razão do princípio da simetria federativa. Para resguardar as expectativas legais dos servidores titulares de cargos efetivos, esse que já era, ao tempo da reforma, destinatários das regras constitucionais permanentes do sistema previdenciário próprio, e que permaneceria, neste regime, sujeito a novos requisitos (mais exigentes) para a aposentação, foi Página | 38 adotada uma disciplina jurídica de transição entre o sistema jurídico anterior e o novo sistema de previdência social, tendo em vista o princípio da segurança jurídica e a proteção da confiança do servidor que tenha ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor da EC nº 103, de 2019. Por outro lado, em face da eficácia limitada da norma constitucional permanente de concessão de aposentadoria voluntária (inciso III do § 1º do art. 40 da Constituição), a qual depende de providência legislativa para se concretizar, a reforma estabeleceu disposições transitórias para os servidores federais que venham a ingressar no serviço público em cargo efetivo após a data de entrada em vigor da EC nº 103, de 2019, também aplicáveis aos que já haviam ingressado até a data de sua publicação, se mais vantajosas, com eficácia plena e aplicabilidade imediata enquanto não sobrevier tal complementação legislativa. DAS APOSENTADORIAS VOLUNTÁRIAS ESPECIAIS DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS No entanto, no que se refere à reforma das normas constitucionais sobre aposentadorias voluntárias especiais advinda da EC nº 103, de 2019, elas continuam não autoaplicáveis, já que dependem de lei complementar do respectivo ente federativo para regulamentá-las, ou seja, carecem de integração normativa para viabilizar o exercício do direito que consagram, sendo, portanto, de eficácia limitada. A reforma, portanto, preserva o quadro jurídico anterior à sua promulgação no que concerne, entre outras matérias, à aplicação das normas constitucionais sobre aposentadorias especiais então vigentes, às quais continuam a ter aplicação para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, com a redação citada abaixo, enquanto estes não promulgarem a respectiva reforma previdenciária, devendo obediência aos condicionamentos impostos pela EC nº 103, de 2019, ou seja, à supremacia da Constituição Federal, já que a reforma da Carta do Estado ou da Lei Orgânica do Município, trata-se de Poder decorrente. A preservação do quadro jurídico anterior à promulgação da EC nº 103, de 2019, no que concerne à aplicação das normas constitucionais e infraconstitucionais sobre aposentadorias especiais então vigentes, ainda que pro tempore, também Página | 39 implica a da jurisprudência constitucional do colendo Supremo Tribunal Federal – STF, consolidada sobre a referida matéria. Assim é que a Súmula Vinculante - SV do STF nº 33 continua aplicável aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, quanto à observância da legislação do Regime Geral de Previdência Social como parâmetro de regulamentação infraconstitucional da aposentadoria especial de que trata o art. 40, § 4º, III, da Constituição Federal (na redação anterior à EC nº 103, de 2019), ou seja, nas atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, até a edição de lei complementar do respectivo ente federativo. Para a aposentadoria especial dos servidores com deficiência no âmbito dos regimes próprios de previdência social dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com base no art. 40, § 4º, I, da Constituição Federal (na redação anterior à EC nº 103, de 2019), à míngua de lei complementar federal ou, após a promulgação da EC nº 103, de 2019, de lei complementar estadual, distrital ou municipal regulamentadora dessa matéria, permanece a necessidade de impetração de mandado de injunção para viabilizar o exercício desse direito constitucional. A APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA POR INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO: Com a reforma da Previdência Social, a aposentadoria “por invalidez permanente” passa a denominar-se aposentadoria “por incapacidade permanente para o trabalho”. A EC nº 103, de 2019 constitucionaliza a exigência de avaliações periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão da aposentadoria, bem como a condição de o servidor ser insuscetível de readaptação. Em relação aos Estados, Distrito Federal e Municípios, ante a ausência de disposição transitória, e por força do que prescreve o § 7º do art. 10 da EC nº 103, de 2019, mantém-se o quadro jurídico imediatamente anterior à promulgação da EC nº 103, de 2019, no que concerne à aplicação das normas constitucionais e infraconstitucionais que estavam em vigor sobre a concessão e cálculo da “aposentadoria por invalidez permanente”, com eficácia plena e aplicabilidade Página | 40 imediata, até a edição de lei do respectivo ente federativo. Quando for promovida a reforma dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios referente aos respectivos regimes próprios, deverá ser observado, na edição da lei regulamentadora do benefício de aposentadoria por incapacidade permanente para o trabalho (art. 40, § 1º, I, da Constituição), como vimos, que a EC nº 103, de 2019, constitucionaliza a exigência de avaliações periódicas para verificação da continuidade das condições que ensejaram a concessão dessa aposentadoria, bem como a condição de o servidor ser insuscetível de readaptação. DA REMUNERAÇÃO DO SERVIDOR PÚBLICO NO CARGO EFETIVO, PARA FINS DE CÁLCULO DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA COM BASE NA TOTALIDADE DA REMUNERAÇÃO Nos RPPS dos Estados, Distrito Federal e Municípios o cálculo dos proventos de aposentadoria concedida com fundamento na integralidade, mantém-se regido, quanto à apuração da remuneração, pela lei do respectivo ente federativo, em vigor antes da publicação da EC nº 103, de 2019, isto é, de acordo com o que for prescrito como remuneração do cargo efetivo, a título de vencimentos e vantagens pecuniárias permanentes, com o acréscimo de adicionais de caráter individual e vantagens pessoais permanentes. DAS PENSÕES DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS: Até a edição de lei do respectivo ente federativo subnacional, ou de lei federal (no caso da Polícia Civil do DF), os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão aplicar, para fins de concessão do benefício de pensão por morte, as disposições previstas no art. 2º da Lei nº 10.887, de 18.6.2004, com esta redação: “Lei nº 10.887, de 2004 Art. 2º Aos dependentes dos servidores titulares de cargo efetivo e dos aposentados de qualquer dos Poderes da Página| 41 União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, falecidos a partir da data de publicação desta Lei, será concedido o benefício de pensão por morte, que será igual: I - à totalidade dos proventos percebidos pelo aposentado na data anterior à do óbito, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social, acrescida de 70% (setenta por cento) da parcela excedente a este limite; ou II - à totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo na data anterior à do óbito, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social, acrescida de 70% (setenta por cento) da parcela excedente a este limite, se o falecimento ocorrer quando o servidor ainda estiver em atividade. Parágrafo único. Aplica-se ao valor das pensões, o limite previsto no art. 40, § 2º, da Constituição Federal.” DAS PENSÕES DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS: Para os Estados, Distrito Federal e Municípios, as reformas contemplam regras constitucionais e inconstitucionais anteriores sobre a previdência, que acreditamos se estender ao cálculo dos proventos, assegurando-lhes a continuidade da vigência com eficácia plena e aplicabilidade imediata, até que sejam promovidas alterações na legislação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios referente aos respectivos regimes próprios, quando então a sua eficácia estará exaurida. Portanto, enquanto não existirem as leis dos Estados, Distrito Federal ou Municípios que disciplinam o cálculo dos benefícios de aposentadoria (exceto aquelas relativas à aposentadoria especial dos policiais do distrito federal), esses entes da Federação aplicarão a Lei nº 10.887 de 18 de junho de 2004 Artigo 1º, com a seguinte redação: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art40%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art40%C2%A72 Página | 42 “Lei nº 10.887, de 2004 Art. 1º No cálculo dos proventos de aposentadoria dos servidores titulares de cargo efetivo de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, previsto no § 3º do art. 40 da Constituição Federal e no art. 2º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, será considerada a média aritmética simples das maiores remunerações, utilizadas como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência a que esteve vinculado, correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo, desde a competência julho de 1994 ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela competência. § 1º As remunerações consideradas no cálculo do valor inicial dos proventos terão os seus valores atualizados mês a mês de acordo com a variação integral do índice fixado para a atualização dos salários-de-contribuição considerados no cálculo dos benefícios do regime geral de previdência social. § 2º A base de cálculo dos proventos será a remuneração do servidor no cargo efetivo nas competências a partir de julho de 1994 em que não tenha havido contribuição para regime próprio. § 3º Os valores das remunerações a serem utilizadas no cálculo de que trata este artigo serão comprovados mediante documento fornecido pelos órgãos e entidades gestoras dos regimes de previdência, aos quais o servidor esteve vinculado ou por outro documento público, na forma do regulamento. Página | 43 § 4º Para os fins deste artigo, as remunerações consideradas no cálculo da aposentadoria, atualizadas na forma do § 1º deste artigo, não poderão ser: I - inferiores ao valor do salário-mínimo; II - superiores ao limite máximo do salário-de- contribuição, quanto aos meses em que o servidor esteve vinculado ao regime geral de previdência social. § 5º Os proventos, calculados de acordo com o caput deste artigo, por ocasião de sua concessão, não poderão ser inferiores ao valor do salário-mínimo nem exceder a remuneração do respectivo servidor no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria.” 2.5 Gestão do Regime Próprio. É vedada a constituição de mais de um RPPS e mais de uma unidade administrativa do respectivo regime para servidores em cargos ativos em cada ente federado. Compreende-se por unidade gestora a entidade ou órgão integrante da estrutura da Administração Pública de cada ente federativo, que tenha por finalidade a administração, o gerenciamento e a operacionalização do RPPS, incluindo a arrecadação e gestão de recursos e fundos previdenciários, a concessão, o pagamento e a manutenção dos benefícios. ➢ A unidade gestora única deverá gerenciar, direta ou indiretamente, a concessão, o pagamento e a manutenção, no mínimo, dos benefícios de aposentadoria e pensão concedidos a partir da publicação da Emenda Constitucional no 41, de 2003, de todos os poderes, órgãos e entidades do ente federativo. Página | 44 ➢ A unidade gestora única contará com colegiado ou instância de decisão, no qual será garantida a representação dos segurados. ➢ É facultada aos entes federativos a constituição de fundos integrados de bens, direitos e ativos com finalidade previdenciária. ➢ Aos segurados deverá ser assegurado pleno acesso às informações relativas à gestão do RPPS. 2.6 Utilização dos Recursos Previdenciários. ➢ Os recursos previdenciários, somente poderão ser utilizados para o pagamento dos benefícios previdenciários, salvo o valor destinado à taxa de administração. ➢ Os recursos previdenciários oriundos da compensação financeira de que trata a Lei nº 9.796, de 1999, serão administrados na unidade gestora do RPPS e destinados ao pagamento futuro dos benefícios previdenciários, exceto na hipótese em que os benefícios que originaram a compensação sejam pagos diretamente pelo Tesouro do ente federativo, hipótese em que serão a ele alocados, para essa mesma finalidade. ➢ É proibida a utilização dos recursos previdenciários para custear ações de assistência social, saúde e para concessão de verbas indenizatórias ainda que por acidente em serviço. ➢ Os recursos previdenciários do RPPS em extinção somente poderão ser utilizados para: • pagamento de benefícios previdenciários concedidos e a conceder; • quitação dos débitos com o RGPS; • constituição ou manutenção do fundo previdenciário previsto no art. 6º da Lei nº 9.717, de 1998; Página | 45 • pagamentos relativos à compensação financeira entre regimes de que trata a Lei nº 9.796, de 1999. 2.7 Taxa de Administração: A Taxa de Administração dos custos de despesas recorrentes e de capital exigidas pela organização e funcionamento do órgão ou entidade de administração do RPPS, incluindo a proteção de seu patrimônio, deve observar o disposto na lei do ente federado e os seguintes parâmetros: ➢ financiamento, exclusivamente por meio de alíquota de contribuição incluída no plano de custeio definido na avaliação atuarial do RPPS, da seguinte forma: • apuração, na avaliação atuarial, da alíquota de cobertura do custo normal dos benefícios de aposentadorias e pensões por morte, na forma dos artigos 13, 44 e 47 da Portaria MF nº 464, de 18 de novembro de 2018; • adição à alíquota de cobertura do custo normal, a que se refere a alínea "a", de percentual destinado ao custeio da Taxa de Administração, observados os limites previstos no inciso II do caput, na forma do § 1º do art. 51 da Portaria MF nº 464, de 2018 • definição, no plano de custeio proposto na avaliação atuarial, das alíquotas de contribuição do ente federativo e dos segurados do RPPS, suficientes para cobertura do custo normal e da Taxa de Administração, de que tratam as alíneas "a" e "b", na forma do
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